REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8267110
Erivelton Ferreira Sá1
RESUMO
O racismo que por vezes ainda é tratado como tabu na sociedade brasileira é propagado nas entrelinhas de forma minuciosa e sutil, não deixando, porém, de ser depreciativa e preconceituosa. O humor e especificamente as piadas podem contribuir para a reprodução de estereótipos que ridicularizam, humilham e oprimem a população negra. Por essa razão, este estudo teve como objetivo investigar o modo como o discurso racista se (re)produz nas piadas, adivinhações e peças humorísticas que circulam na Universidade, tomando o negro como tema. Lançamos mão de uma entrevista estruturada com vinte e cinco acadêmicos da Universidade Federal do Oeste do Pará. A interpretação dos dados se deu conforme análise ídeo-central, uma vertente da análise de conteúdo. Obtivemos, então, dez ideias centrais, nas quais o negro aparece como ladrão; sujo e faz sujeira; preguiçoso, trabalha mal e não pode ascender socialmente; o negro como morto de fome; feio; alguém que não tem educação; como alguém que gosta mesmo de se lascar; como ser traiçoeiro, desleal e não se comportar como deveria; o negro como não sendo humano; e por fim, como fetiche sexual. As piadas não são, portanto, textos inocentes, são veículos da ideologia racista, que buscam acentuar as diferenças sociais entre negros e brancos, mantendo a dominação branca e limitando ou impedindo o acesso do negro a serviços como educação, saúde, emprego, dentre outros.
Palavras-chave: Racismo; humor negro; piadas.
1 INTRODUÇÃO
A discussão sobre a questão do racismo no Brasil, muito embora seja muitas vezes colocada em segundo plano e pormenorizada, faz-se necessária tendo em vista que esta ideologia afeta negativamente milhões de brasileiros.
No Brasil o sistema escravista perdurou por quase quatro séculos e suas consequências ainda são sentidas até hoje pela população afrodescendente, na negação de direitos básicos a esses indivíduos, na dificuldade de acesso a serviços de educação, saúde, lazer, saneamento básico, dentre outros. No entanto, o que se observa em nosso país, muitas vezes, é a negação da existência do racismo em nossa população, e que a ideologia racista está restrita a casos mais isolados e de notoriedade na mídia. No entanto, quem sofre diariamente as consequências de uma sociedade estruturalmente racista pode afirmar a existência não só do racismo escrachado, mas ainda de um racismo que propaga-se minuciosamente nas entrelinhas sociais, que se constrói pouco a pouco nas mentes das pessoas, através do aparelhamento de instituições como escolas, de políticas públicas, de ações governamentais e de atitudes cotidianos dos cidadãos.
As piadas que a princípio parecem ser isentas de qualquer forma de preconceito por sua característica lúdica e de descontração podem carregar inúmeras formas de preconceito e humilhação, e contribuir para a perpetuação de opressões. Por esta razão, este estudo visa investigar o modo como o discurso racista se (re)produz nas piadas, adivinhações e peças humorísticas que circulam na Universidade, tomando o negro como tema.
Para alcançar este objetivo realizou-se um estudo de campo de cunho qualitativo, no qual utilizando-se de entrevista composta de duas questões, interrogou-se 25 acadêmicos da Universidade Federal do Oeste do Pará.
2 RACISMO: DA EXPLORAÇÃO ESCRAVISTA À OPRESSÃO DO HUMOR
O Brasil viveu a mais longa escravidão das Américas, durando quase quatro séculos, sendo definitivamente abolida, ao menos no papel, no ano de 1888, isto pelo fato de haverem mudanças no cenário socioeconômico nacional e mundial que levaram a mão-de-obra assalariada a ser mais vantajosa e atraente economicamente do que a mão-de-obra escrava (TAPAJÓS, 2012). Segundo PIOVESAN (2009 apud TAPAJÓS, 2012) nosso país foi o ultimo do “mundo ocidental” a abolir a escravidão.
Da primeira metade do século XVI até meados do século XIX, milhões de seres humanos foram capturados, arrancados do continente africano e trazidos para outras partes do mundo, cerca de 4 milhões para o Brasil, o transporte destes se dava em navios negreiros com péssimas condições de higiene, fazendo com que boa parte destes, na travessia do Oceano Atlântico, acabavam morrendo. Homens, mulheres e crianças eram transportados amontoados como bichos em gaiolas nos minúsculos e escuros compartimentos, conviviam ali com a fome, a sede, o calor, a sujeira, doenças, pessoas agonizantes e mortos em decomposição, estima-se que cerca de 5 a 25% dos negros transportados nos navios negreiros acabavam por falecer ainda em viagem (COTRIM, 2005).
Cotrim (2005) nos expõe que os negros que chegavam vivos ao Brasil, eram acorrentados e marcados com ferro em brasa para identificação. Muitas vezes nos próprios portos eram leiloados e logo iniciaram os trabalhos em diversas atividades, desde trabalhos domésticos, passando por trabalho nos engenhos de cana-de-açúcar, nas lavouras de algodão, café e outros produtos, no artesanato, ou como escravos de aluguel nas cidades. Como recompensa pelo árduo trabalho, recebiam alimentação de péssima qualidade, algumas roupas e moradia precárias nas senzalas, galpões escuros, úmidos e com pouca higiene, onde os negros passavam as noites acorrentados para evitar fugas.
Cotrim (2005) nos expõe ainda que, quando cometiam infrações, não obedeciam ordens ou pela simples diversão dos senhores de escravos ou de feitores, sofriam vários tipos de castigos físicos, geralmente aplicados em público para servir de exemplo e fazer com que os demais escravos também se intimidassem. “O excesso de trabalho, a má alimentação, as péssimas condições de higiene e os castigos que sofriam deterioravam rapidamente a saúde dos escravos. A maioria morria depois de cinco a dez anos de trabalho” (COTRIM, 2005, p. 219). Por essa razão e a crescente necessidade de mão-de-obra para o trabalho nas lavouras, a demanda por escravos nunca acabava e novos escravos continuavam sendo trazidos constantemente para o Brasil.
Além da violência física, Cotrim (2005) relata que os negros foram vitimas de uma violência simbólica e cultural, tendo em vista que, salvo raras exceções, não podiam desenvolver suas crenças, seus costumes eram repudiados e seus hábitos reprimidos, porém, bravamente a cultura negra sobreviveu, muito pelo fato de ter sido propagada de forma escondida de geração em geração, ou pelo fato de ter sido mascarada com costumes do homem branco.
A abolição da escravidão no Brasil, longe de representar um processo de conscientização da população brasileira, foi nas palavras de Oliveira (2011, p. 24) uma “abolição lenta, gradual e controlada da escravidão que resultou num processo brutal de exclusão e genocídio contra os negros e seus descendentes”. Para Tapajós (2012), a Lei do sexagenários e a lei do ventre livre foram duas formas de tirar a responsabilidade dos senhores de escravos sobre idosos e crianças negras, respectivamente. Darcy Ribeiro (2006) relata que muitos fazendeiros após a lei do ventre livre mandavam abandonar os filhos de suas negras em estradas, pois, já não sendo mais coisas suas, não se viam na obrigação de dar-lhes de comer, vestir e morar. Por sua vez, o mesmo autor afirma que no caso da lei dos sexagenários, os escravos idosos deveriam indenizar seus senhores pela alforria trabalhando para estes por três anos, assim, os senhores continuavam desfrutando dos serviços dos negros libertos por três anos, não se preocupando mais com sua alimentação, saúde, vestuário e moradia.
Santos (2005 apud TAPAJÓS, 2012) afirma que quando da abolição através da Lei Áurea, em 1888, apenas 5% do povo negro no Brasil vivia sob o regime escravista, a maior parte dos afro- descendentes já estavam confinados as favelas, com péssimas condições de moradia e sem acesso à serviços de educação, saúde e saneamento básico. Além disso, Oliveira (2011) nos expõe que dos negros que se tornavam livres, raramente eram inseridos no mercado de trabalho, pois, a população da época culpou os escravos pelo atraso econômico e social do Brasil, apontava-se ainda aos negros características pejorativas como preguiçosos e incompetentes para assumir responsabilidades, Oliveira (2011) relata que paralelo ao processo lento, gradual e controlado da abolição da escravidão, o Estado brasileiro adotou uma politica de incentivo a imigração de trabalhadores brancos europeus, que passaram a ocupar a mão-de-obra escrava negra, foi ainda um política de branqueamento da população brasileira. Florestan Fernandes (1972, p.66 apud TAPAJÓS, 2012, p. 15) nos expõe essa realidade
A vitima da escravidão foi também vitimada pela crise do sistema escravista de produção. A revolução social da ordem social competitiva iniciou-se e concluiu-se como uma revolução branca. Em razão disso, a supremacia branca nunca foi ameaçada pelo abolicionismo. Ao contrário, foi apenas reorganizada em alguns termos, em que a competição teve uma consequência terrível – a exclusão, parcial ou total, do ex-agente da mão-de-obra escrava e dos libertos do fluxo vital de crescimento econômico e do desenvolvimento social.
Desse modo, além da violência física sofrida pelos negros nos longos anos de escravidão e da exclusão econômico em período posterior a Lei Áurea, os negros também foram vítimas de uma brutal violência simbólica e cultural, que os colocava perante a sociedade como seres inferiores, que mereciam ficar a margem do desenvolvimento nacional. Esse processo favoreceu o surgimento e propagação da ideologia racista.
O Racismo para Gomes (2005, p. 52) por um lado é
um comportamento, uma ação resultante da aversão, por vezes, do ódio, em relação a pessoas que possuem um pertencimento racial observável por meio de sinais, tais como: cor da pele, tipo de cabelo, etc. Ele é por outro lado um conjunto de ideias e imagens referentes aos grupos humanos que acreditam na existência de raças superiores e inferiores. O racismo também resulta da vontade de se impor uma verdade ou uma crença particular como única e verdadeira.
Por sua vez, o Preconceito racial diz respeito diz respeito ao julgamento negativo e prévio dos membros do grupo racial negro, de sua cultura e religião. Sua característica principal é inflexibilidade, pois tende a ser mantido independente dos fatos apresentados que vão contra e o contestem (GOMES, 2005). Por sua vez, para Gomes (2005) a discriminação Racial é a adoção de práticas racistas e a efetivação do preconceito, ou seja, o ato de distinguir, diferenciar e discernir um indivíduo pelo fato dele pertencer ou ter características físicas que o assemelham ao negro. Enquanto o racismo e o preconceito racial se encontram no âmbito da ideologia, doutrina e julgamento, das crenças e concepções de mundo, a discriminação é a adoção de práticas que os efetivam.
Mas de fato, o que se entende por raça? Para Barbujani (2007) o termo raça foi utilizado a princípio referindo-se a existência de raças biológicas na espécie humana, resultantes de um processo de isolamento geográfico possibilitando alterações gênicas proporcionando a criação de raças geográficas ou subespécies, mas que poderiam ainda se cruzar e gerar descendentes férteis caso a barreira geográfica tivesse fim, mas com um intervalo de tempo muito longo de separação poderiam dar origem a duas espécies diferentes. Essa teoria Darwiniana foi utilizada para a raça humana sustentada por inúmeros estudos, sem, no entanto, haver estudos contundentes que a concretizassem, ou fatos confiáveis que a testasse como verídica. Em algumas ocasiões, segundo Barbujani (2007), ocorreram fraudes científicas na tentativa de comprovar essa teoria.
Hoje, porém, se pode afirmar contundentemente, baseado em evidências biológicas concretas, a não existência de raças na espécie humana. Muito pelo contrário, Barbujani (2007) afirma que apesar de aparentemente sermos bastante diferentes e cada um não ser igual ao outro, somos geneticamente muito parecidos, havendo apenas inúmeras variações gênicas bem localizadas.
Usaremos aqui o termo raça conforme as observações feitas por Gomes (2005), no qual o termo é utilizado para retratar a complexidade existente nas relações entre negros e brancos no Brasil. Uma nova interpretação, não mais baseada em fatores biológicos, mas na reinterpretação do termo, baseada em fatores sociais e políticos, baseado na construção de uma identidade racial negra, entendida como “uma construção social, histórica, cultural e plural”. Implica a construção do olhar de um grupo étnico/racial ou de sujeitos que pertencem a um mesmo grupo étnico/racial, sobre si mesmos, a partir da relação com o outro”. Porém, o racismo no Brasil não se efetiva apenas por fatores culturais de negros, mas também, pelas relações feitas na sociedade entre os integrantes desse grupo e os aspectos físicos observados na estética corporal dos indivíduos deste.
No Brasil, quando discutimos a respeito dos negros, vemos que diversas opiniões e posturas raciais têm como base a aparência física para determiná-los como “bons” ou “ruins”, “competentes” ou incompetentes”, “racionais” ou “emotivos”. Isso de fato é lamentável, mas infelizmente existe! Quem já não ouviu em sua experiência de vida frases, piadinhas, apelidos voltados para as pessoas negras, que associam a sua aparência física, ou seja, cor da pele, tipo de cabelo, tipo de corpo, a um lugar de inferioridade? (GOMES, 2005, p. 45-46).
Segundo Gomes (2005), aprendemos tudo isso nas relações sociais, na família, escola, igreja, círculo de amizades, relacionamentos afetivos, trabalho e outros, pois, o preconceito não é inato, nenhuma criança nasce preconceituosa, aprende-se a sê-lo. Mas, por que aprendemos a sermos racistas e a inferiorizar o negro devido sua aparência e/ou atributos físicos de sua ascendência africana?
[…] porque vivemos em um país com estrutura racista onde a cor da pele de uma pessoa é mais determinante para o seu destino social do que o seu caráter, a sua história, a sua trajetória. Além disso, porque o histórico da escravidão ainda afeta negativamente a vida, a trajetória e a inserção social dos descendentes de africanos em nosso país. Some a isso o fato de que, após a abolição, a sociedade, nos seus mais diversos setores, bem como o Estado brasileiro não se posicionaram política e ideologicamente de forma enfática contra o racismo. Pelo contrário, optaram por construir práticas sociais e políticas públicas desconsideravam a discriminação contra os negros e a desigualdade racial entre negros e brancos como resultante desse processo de negação da cidadania aos negros brasileiros. Essa posição de “suposta neutralidade” só construiu ainda mais para aumentar as desigualdades e o racismo. (GOMES, 2005, p. 46).
Em um país de estrutura racista, o racismo enquanto ideologia propaga-se nas entrelinhas sociais, e mesmo quando um indivíduo acredita não estar sendo preconceituoso, isso pode estar ocorrendo. Um dos mecanismos utilizado para a propagação da ideologia racista é o humor. Embora nem todos os temas humorísticos pareçam ser ofensivos e/ou preconceituosos, é possível apontar certas temáticas tratadas no humor que visam abordar negativamente determinados grupos étnicos, classes sociais, grupos de orientação sexual diferente da heteronormativa, grupos religiosos etc. Para Freitas (2007) seria o caso, por exemplo, das piadas sobre os negros no Brasil, pois, “(re)produzem um discurso racista e, por isso, preconceituoso, contribuindo para a constituição de uma identidade negativa referente ao afro-descendente” (FREITAS, 2007, p. 12). Magalhães (2008, p. 75) faz colocações a cerca da natureza do humor.
Humor […] é cognição, pensamento, emoção, percepção, subversão. Eu digo que o humor exige inteireza, totalidade e integração de elementos operando simultaneamente: língua, meta emoção, conhecimento empírico e epistemológico, percepção e atividade mental. Corroboro os autores pesquisados quanto às suas várias idéias de que: o humor é ambigüidade irresolúvel e o riso é um afeto que resulta do súbito aniquilamento da tensão de uma expectativa.
Tratando do riso, Freitas (2007) afirma que se trata de um gesto social que pune a rigidez, ri-se do que é involuntário e desajeitado, dos vícios, dos desvios de comportamento social, dos exageros da rigidez social e etc.
Uma vertente em particular do humor mostra-se em grande parte responsável por esse papel de perpetuação e transmissão do racismo, trata-se do denominado “humor negro”, “O humor negro é o que mostra graça no que chamamos de ‘desgraça’” (KUPERMANN, 2000 apud FREITAS, 2007, p. 16).
As piadas que retratam ou descrevem caracteres e tipos sociais privilegiam aqueles que apresentam um certo “desvio” em relação ao que a sociedade prescreve como “normal” ou correto, seja por uma questão moral, caso das piadas de políticos, por exemplo, seja por uma questão de exclusão histórica, caso das piadas sobre mulheres e negros. (FREITAS, 2007, p. 23-24).
Para Freitas (2007) o humor negro, as piadas criam uma tensão, uma ameaça de correção, uma humilhação suave em forma de trote, que mesmo sendo leve, não deixa de ser temida, essa é a função social do riso, corrigir. A função de “intimidar humilhando” parece estar presente nas piadas sobre negros. Trata-se de um riso racista. Não existe inocência no riso racista, o que há, é o riso da insensibilidade, um riso de brancos, que persistem em alegar sua superioridade. “Por meio das piadas, o racismo adquire formas, às vezes, mais sutis e refinadas, mas igualmente depreciativas e prejudiciais aos cidadãos de pele negra” (FREITAS, 2007, p. 25).
As piadas nesse sentido não devem ser entendidas como meros textos inocentes de humor com leve toque de leviandade, ou como sendo neutras e imunes a propagação de preconceitos. Mas sim consideradas como parte do aparelho opressor e veículo de propagação da ideologia racista.
3 METODOLOGIA
Esta pesquisa se enquadra na abordagem qualitativa, pois esta “parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade” (CHIZZOTTI, 2006, p. 79).
Com base em seus objetivos, esta investigação classifica-se como descritiva, pois, segundo Gil (2009, p. 42) “as pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis […]”.
Com base nos procedimentos utilizados no decorrer da pesquisa, esta investigação, pode ser classificada como pesquisa de campo, pois, “é aquela em que o pesquisador, através de questionário, entrevistas, protocolos verbais, observações, etc., coleta seus dados, investigando os pesquisados em seu meio” (PRESTES, 2003, p. 27).
Participaram do estudo 25 acadêmicos da Universidade Federal do Oeste do Pará, selecionados aleatoriamente no campus Rondon desta instituição, para a participação na pesquisa não se utilizou qualquer distinção racial, mesmo que por autodeterminação dos indivíduos.
Como instrumento de coleta de dados se utilizou uma entrevista composta de duas perguntas, a primeira era, você já contou ou já ouviu alguma piada, adivinhações, ou outra peça humorística que utiliza negros como alvo da sátira? E a segunda foi, você poderia nos contar uma/ ou algumas destas piadas, adivinhações, ou outra peça humorística que envolva indivíduos negros?
A Entrevista para Marconi e Lakatos (2007), é uma conversação efetuada face-a-face, que proporciona ao entrevistador as informações necessárias, a partir de roteiro de entrevistas previamente elaborado. Para Fonseca, a classificação da entrevista em estruturada, “consiste de perguntas determinadas, isto é, apresenta uma série de perguntas conforme um roteiro pré-estabelecido” (2007, p. 37).
As piadas relatadas pelos entrevistados foram interpretadas conforme a análise de conteúdo desenvolvida por Bardin (1977), pois, segundo Marconi e Lakatos (2007), permite a descrição sistemática e objetiva dos dados obtidos e para Prestes (2003), é onde, a partir da observação, podemos classificar, interpretar, registrar e analisar os fenômenos.
Dentre os tipos de análise de conteúdo temos a análise temática. A análise temática consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação cuja presença ou frequência signifiquem alguma coisa para o objetivo analítico visado, o que irá auxiliar a organizar categorias temáticas para melhor delinear a análise dos dados produzidos (MINAYO, 2006).
Para melhor apresentar e analisar os dados desta pesquisa utilizaremos a análise ídeo-central, que segundo Teixeira (2009, p. 2)
[…] é uma modalidade de análise temática que visa evidenciar ideias centrais ou ideias-chave nucleares dos discursos; ideias que emergem das respostas obtidas questão-por-questão. Ao final da análise, poder-se-á reunir as ideias-chave, ressignificando-as, reagrupando-as e/ou reorganizando-as em outros núcleos de sentido.
Queremos com isso, facilitar tanto a análise por parte dos pesquisadores, quanto facilitar a apresentação dos dados e o entendimento por parte dos leitores.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Em relação a pergunta número um: você já contou ou já ouviu alguma piada que utiliza negros como alvo da sátira? Todos os indivíduos relataram que já ouviram e já contaram piadas envolvendo negros. Dessa forma, esses dados corroboram com os estudos de Freitas (2007), no sentido de que os negros são sim alvo de piadas, que por vezes depreciam suas imagens, e propagam mesmo que discretamente o racismo como ideologia.
Quanto à questão dois, se os entrevistados poderiam contar alguma, piada, adivinhação, ou outra peça humorística que envolvesse negros, quatro dos vinte e cinco entrevistados disseram que no momento não recordavam de nenhuma. Em relação aos demais entrevistados obtivemos dez ideias centrais, nas quais o negro aparece como ladrão; sujo e faz sujeira; preguiçoso, trabalha mal e não pode ascender socialmente; o negro como morto de fome; feio; alguém que não tem educação; como alguém que gosta mesmo de se lascar; como ser traiçoeiro, desleal e não se comporta como deveria; o negro como não sendo humano; e por fim, como fetiche sexual. Estas ideias centrais serão expostas e discutidas abaixo.
A ideia de que negro é sujo e faz sujeira é observada nas piadas relatadas em 15 falas, sendo a piada mais comum encontrada nesse estudo citada por onze entrevistados (E2, E3, E5, E10, E11, E13, E15, E18, E22, E23, E25), é que “Preto quando não suja na entrada, suja na saída”, associando o negro a sujeira e ao fato deste sujar ao entrar ou sair em um estabelecimento, seja ele qual for, outra piada no mesmo sentido visualizada na fala do entrevistado 9 é “preto quando não caga na entrada, caga na saída”, a expressão cagar esta associada ao fato de sujar de fezes o ambiente, no mesmo sentido a piada contada pelo E12- “Por que preto é igual a papel higiênico? Porque quando não está no rolo, tá na merda”, reafirmando o fato da merda representar alegoricamente a suposta sujeira do negro. Outro ponto observado nessa categoria é de que a piada contada pelo entrevistado 19 afirma que pessoas do grupo étnico preto fedem, “por que o preto fede? Pra cego também ter preconceito”, e termina afirmando que o fato do negro supostamente feder é para que deficientes visuais que não podem ver as características físicas do negro, poder associa-lo à raça negra, possam identificá-los pelo mal cheiro. Do mesmo modo ocorre na piada do E25, “Qual a semelhança entre um preto e uma buceta? Os dois tem cabelo enrolado, lábios grandes, depois de lavados continuam fedendo e gostam de levar pau”, afirmando características físicas do grupo negro e afirmando que dentre estas características está o fato de continuar fedendo mesmo após ter tomado banho, ter se lavado. Os estudos de Bergson (2004 apud CHINEN, 2010) também trazem essa caracterização da apresentação do negro no humor como sujo, fedido e mal lavado.
A Ideia Central de que o negro é ladrão pode ser observada em seis falas de entrevistadas sendo verificada quatro piadas distintas, três entrevistados relataram a mesma piada E1, E5 e E20- “Por que o Kinder Ovo é preto por fora e branco por dentro? Porque se fosse preto por dentro ele roubava o brinquedinho”. O kinder ovo é um doce da marca kinder caracterizado por ser de chocolate ao leite por fora e chocolate branco por dentro com um brinquedo de plástico no interior, a raiz preconceituosa na piada esta no fato de associar o chocolate ao leite que é escuro à cor de pele do negro, mas o escarnio da piada reside no fato de associar ao negro a figura de ladrão. Da mesma forma ocorre na piada contada pelo entrevistado E2- “Por que preto gosta de boxe?- Porque tem um assalto a cada três minutos”. Na adivinhação, a palavra assalto que no boxe refere-se ao tempo de duração da luta, na piada, refere-se a assalto, furto, neste caso a piada indica que o negro gosta de roubar por gostar de assaltos. Na fala do entrevistado 8- “O médico branco estava realizando o parto de um bebe negro, quando o bebe nasceu, o médico ficou dando palmada no bumbum do menino mesmo depois de ter chorado. A enfermeira perguntou porque o médico fazia aquilo, e ele respondeu, que era pro filho da puta do bebe devolver o relógio dele”, refere-se ao fato preconceituoso de que a criança negra, já nasce roubando. Já na piada contada pelo entrevistado 9- “Porque preto é igual a papel higiênico? – Porque quando não está no rolo, tá na merda”, a palavra rolo denota confusões que envolvem negócios ilícitos. Em todos os casos, a piada e o humor negro são utilizados como forma de associar a figura do negro a de criminoso, de ladrão. Este fato corrobora com os estudos de Freitas (2007) onde elementos alegóricos do humor são utilizados como forma de perpetuação do racismo e propagação minuciosa dessa ideologia. A autora ressalta que a associação entre o negro e o crime é incitado pela mídia que corriqueiramente trata o negro como problema social apresentando este relacionado ao crime, às drogas e a marginalidade.
Em quatro piadas foram encontrados elementos da associação do negro como preguiçoso, que trabalha mal e que não pode ascender socialmente. A expressão cômica utilizada pelo entrevistado 6 “Não vai fazer serviço de preto né?”, denota que o serviço realizado por negros seria um serviço mal feito, que não merece ser copiado ou servir de exemplo. A adivinhação do indivíduo E7, “quando preto sobe na vida? Quando explode o barraco”, do indivíduo E24 “por que na África não tem cartomantes? Porque preto não tem futuro” e do E16,
“Um dono de banco decidiu substituir os caixas humanos por caixas eletrônicos por acreditar que eles renderiam mais. No primeiro dia de trabalho chegou no banco e encontrou quatro caixas jogando futebol, cinco lutando capoeira, três bêbados e dez sambando e preparando o carnaval. Ele queria o que? Ninguém mandou comprar caixa preto”
demonstram respectivamente que é negado ao negro a ascensão social, e que serviços como jogador de futebol, lutador de capoeira e sambista ligados ao negro, como se indivíduos negros só servissem para a realização destas atividades e não outras atividades econômicas. Este fato pode ser explicado por fatores históricos, pois, conforme Oliveira (2011) foi negado ao negro após a abolição da escravidão o acesso ao mercado de trabalho, e posteriormente sua inserção se deu em atividades que necessitavam de pouco aprimoramento técnico profissional. Essa maior presença de negro em serviços com baixa remuneração que necessitam de pouca escolaridade e que por sua vez acompanham condições de trabalho precarizada, com salários inferiores à média dos salários da população branca, sem garantias de direitos trabalhistas, muitas vezes em trabalhos informais, sem carteira assinada ou em empregos terceirizados, o que permite uma maior exploração da mão-de-obra negra e um aumento no lucro dos patões (MARIANO; AYRES, 2013).
A ideia central do negro como indivíduo feio está presente em duas piadas relatadas por três indivíduos, os indivíduos E1 e E10 relataram que “quando preto é bonito? Quando chega atrasado no trabalho e o chefe diz: bonito, hein?” já o entrevistado 19 apresentou a piada “como faz pra transar com preto? Coloca o saco na cabeça porque o que importa tá lá embaixo”, ambas as piadas referem-se a depreciação das características do negro como indivíduo desprovido de beleza. A ideia de que as características físicas do negro são feias e que as do branco são bonitas são corriqueiras em nossa sociedade e advém do estabelecimento de um padrão de beleza europeu, onde o que se considera bonito são pessoas, altas, dos olhos claros e cabelos lisos, muito diferentes das características dos negros brasileiros. Cavalleiro (2005) em sua pesquisa em instituições de Ensino no Estado de São Paulo, demonstrou que já na infância as crianças aprendem a serem preconceituosas e estabelecerem as características negras como desprovidas de beleza.
As peças de humor relatadas pelo indivíduo E3 “como encher dois mil negros dentro de um fusca? Joga um pão lá dentro” e “como tirar dois mil negros de dentro de um fusca em um segundo? Joga dois pães fora”. Trazem a ideia central do negro como um ser faminto, que em um ato de servir-lhe comida obedeceria a qualquer mandado de alguém. Esta visão remonta ao fato de que historicamente no tempo de escravidão negros deveriam obedecer às ordens de seus senhores de escravos sem contrariá-los em troca de sua alimentação, moradia e alguns trapos (COTRIM, 2005).
Na sociedade a ideia da educação como veículo de ascensão social é muito presente por fatores historicamente construídos, as falas do entrevistado 6 “quando preto vai à escola? Quando estão construindo” e do entrevistado 12 “por que na África não tem cartomantes? Porque preto não tem futuro”, trazem a luz a ideia central de que o negro não necessita de educação pois não teria um futuro, não necessitaria de realizações. E ainda de que negros só frequentam a escola para construí-la, essa afirmativa desmascara um fator histórico em nosso país que foi a negação do acesso aos negros à educação, ainda hoje o acesso de negros e brancos a educação ainda é extremamente desigual. Segundo dados do IPEA (2004) a taxa de analfabetismo entre brancos no Brasil era de 8% enquanto que era de 18% entre negros. No mesmo ano brancos estudavam em média 6,9 anos e negros apenas 4,7 anos. Em 2002, somente 28,2% dos jovens negros de 15 a 17 anos frequentavam o Ensino Médio, a taxa entre o brancos era de 52,4%, duas vezes maior. Quanto ao Ensino Superior a desigualdade era ainda maior, em 2002, 15,5% do jovens brancos de 18 a 24 anos tinham acesso a universidade, entre os jovens negros da mesma faixa etária a taxa era quatro vezes menor, apenas 3,8% (IPEA, 2004).
A ideia central de que negro tem/gosta mesmo é que/de se lascar esta presente em quatro peças humorísticas. Nas duas primeiras, E25- “Qual a semelhança entre um preto e uma buceta? Os dois tem cabelo enrolado, lábios grandes, depois de lavados continuam fedendo e gostam de levar pau”; E11- “O que é uma kombi com cinco pretos caindo do abismo? Um desperdício. Na kombi cabem 15”; na primeira a expressão pau e na segunda o fato de caírem em um precipício, estão relacionados ao ato de apanhar e sofrer, fato vivido rotineiramente pelos negros escravos no período de escravidão (COTRIM, 2005), demonstram ainda um discurso de ódio, aversão e morte aos negros claramente característicos do racismo (GOMES, 2005). Na terceira e quarta E16- “O que preto tem mais que o branco? Tem mais é que se lascar” e E16- “Por que não nascem negros de inseminação artificial? Porque preto tem é que se foder mesmo” demonstram um sentimento de que o negro tem que sofrer, se dar mal, também fazendo alusão ao sofrimento negro vivenciado historicamente, e a quarta que o negro tem que se reproduzir naturalmente, através de relações sexuais, estes dados corroboram com os estudos de Freitas (2007) que estudando os conteúdos intrínseco nas peças de humorísticas também observou a falsa ideologia de que o negro gosta de sofrer.
A ideia de coisificação do negro e do negro como não humano é verificado como em seis piadas seguintes: E7- “Por que preto não erra? Porque errar é humano”; E23- “O que é, o que é, um preto, dentro de um fusca em Mojuí? Nada! Porque preto não é gente, fusca não é carro e Mojuí não é cidade”; E23- “O que é, o que é, um preto tirando cara ou coroa? Nada! Porque preto não é gente e moeda não é dinheiro”; E20- “Quando preto é gente? Quando está no banheiro, alguém bate à porta, e ele responde: Tem gente”; E10- “O que acontece quando um negão pisa num monte de merda? Aumenta o monte”; E19- “Qual a maior serventia do negão? Servir como pau de selfie”. Tratar o negro como objeto nos remete aos tempos de escravidão, quando estes eram comercializados como serem desprovidos de condição humana, tratados como coisas (COTRIM, 2005).
A ideia central do negro como traiçoeiro, desleal e não se comportar como deveria, faz-se presente nas falas de seis entrevistados, apresentadas em três piadas, E2, E5, E10, E22- “Ovelha negra da família”; E22- “O papa e um pastor estavam estudando a bíblia, decidiram ver quais dos apóstolos de Jesus eram negros e quais eram brancos. Concluíram, que onze eram brancos e um preto. Não sei como eles descobriram, só sei que Judas só podia ser preto”; E25- “Não pode dar confiança pra preto, se dá o pé ele quer logo o braço”. Demonstram a ideia de que o negro é um ser que não merece confiança de seus semelhantes, que não obedece as regras sociais, que pode trair seus companheiros e amigos.
Seis piadas E15- “Negro hoje em dia só aceita ser escravo se for sexual”; E15- “Mano, sabe me dizer se aquela morena toca pagode? Não sei, por quê? Porque se ele não tocar eu toco no pandeiro dela”; E19- “Qual a maior serventia do negão? Servir como pau de selfie”; E19- “Como faz pra transar com preto? Coloca o saco na cabeça porque o que importa tá lá embaixo”; E19- “Negão tem o pau grande”; E19- “Se transar com negão pode preparar a cadeira de rodas”. Tais piadas apresentam o negro como objeto sexual, como alvo de fetiches, como seus corpos estivessem à disposição de pessoas brancas para servir-lhes sexualmente e saciar seus desejos carnais. Cotrim (2005) nos expõe que era comum senhores de escravos tomarem para si negras e despojá-las, usa-las como objetos sexuais, por sua vez, era bem mais raro suas senhoras relacionar-se com escravos do gênero masculino, pelo fato de terem que resguardar a honra da família e do esposo, mas isso não quer dizer que não sentissem vontade de tomarem para si escravos para utilizá-los para saciar seus desejos, pode vir daí então essa fetichização dos corpos de negros e negras.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise do conteúdo presente nas piadas que circulam pelos corredores da universidade que constituíram o objeto deste estudo, permitiu constatar que tais piadas depreciar a imagem do negro, humilham e inferiorizam estes indivíduos. As piadas não são, portanto, textos inocentes de humor cujo conteúdo deva ser apontado como irrelevante. São, pois, veículos de ideologias. No caso das piadas que tematizam o negro, buscam acentuar as diferenças étnicas e raciais entre brancos e negros e não a igualdade democrática, pois perpetuam e proliferam o discurso da ideologia e cultura branca dominante que busca limitar ou evitar o acesso do negro à educação, ao mercado de trabalho, à direitos socialmente garantidos, às condições dignas de vida.
REFERÊNCIAS
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TEIXEIRA, Elizabeth. Análise Ídeo-Central. Belém, 2009. 1 folder.
APÊNDICE A- Peças humorísticas que tratam do negro
Quadro 1- Peças humorísticas que tratam do negro | ||
IDEIA CENTRAL | Q.*¹ | FALAS REPRESENTATIVAS*² |
Negro é ladrão | 6 | E1, E5, E20- “Por que o Kinder Ovo é preto por fora e branco por dentro? Porque se fosse preto por dentro ele roubava o brinquedinho.” E2- “Por que preto gosta de boxe?- Porque tem um assalto a cada três minutos.” E8- “O médico branco estava realizando o parto de um bebe negro, quando o bebe nasceu, o médico ficou dando palmada no bumbum do menino mesmo depois de ter chorado. A enfermeira perguntou porque o médico fazia aquilo e ele respondeu que era pro filho da puta do bebe devolver o relógio dele.” E9- “Por que preto é igual a papel higiênico? – Porque quando não está no rolo, tá na merda.” |
Negro é sujo e faz sujeira | 15 | E2, E3, E5, E10, E11, E13, E15, E18, E22, E23, E25-“Preto quando não suja na entrada, suja na saída” E9- “Preto quando não caga na entrada, caga na saída” E12- “Por que preto é igual a papel higiênico? Porque quando não está no rolo, tá na merda. E19- “Por que o preto fede? Pra cego também ter preconceito.” E25- “Qual a semelhança entre um preto e uma buceta? Os dois tem cabelo enrolado, lábios grandes, depois de lavados continuam fedendo e gostam de levar pau.” |
Negro preguiçoso, trabalha mal e não pode ascender socialmente | 4 | E6- “Não vai fazer serviço de preto né?” E7- “Quando preto sobe na vida? Quando explode o barraco”. E16- “Um dono de banco decidiu substituir os caixas humanos por caixas eletrônicos por acreditar que eles renderiam mais. No primeiro dia de expediente chegou no banco e encontrou quatro caixas jogando futebol, cinco lutando capoeira, três bêbados e dez sambando e preparando o carnaval. Queria o que? Ninguém mandou comprar caixa preto” E24- “Por que na África não tem cartomantes? Porque preto não tem futuro.” |
Negro é morto de fome | 2 | E3- “Como encher dois mil negros dentro de um fusca? Joga um pão lá dentro.” E3- “Como tirar dois mil negros de dentro de um fusca em um segundo? Joga dois pães fora.” |
Negro é feio | 3 | E1, E10- “Quando preto é bonito? Quando chega atrasado no trabalho e o chefe diz: bonito, hein?” E19- “Como faz pra transar com preto? Coloca o saco na cabeça porque o que importa tá lá embaixo” |
Negro não tem educação | 2 | E6- “Quando preto vai à escola? Quando a está construindo.” E12- “Por que na África não tem cartomantes? Porque preto não tem futuro.” |
Negro tem/gosta mesmo é que/de se lascar | 4 | E25- “Qual a semelhança entre um preto e uma buceta? Os dois tem cabelo enrolado, lábios grandes, depois de lavados continuam fedendo e gostam de levar pau.” E11- “O que é uma kombi com cinco pretos caindo do abismo? Um desperdício. Na kombi cabem 15.” E16- “O que preto tem mais que o branco? Tem mais é que se lascar.” E16- “Por que não nascem negros de inseminação artificial? Porque preto tem é que se foder mesmo.” |
Negro não é humano | 6 | E7- “Por que preto não erra? Porque errar é humano.” E23- “O que é, o que é, um preto, dentro de um fusca em Mojuí? Nada! Porque preto não é gente, fusca não é carro e Mojuí não é cidade.” E23- “O que é, o que é, um preto tirando cara ou coroa? Nada! Porque preto não é gente e moeda não é dinheiro.” E20- “Quando preto é gente? Quando está no banheiro, alguém bate à porta, e ele responde: Tem gente.” E10- “O que acontece quando um negão pisa num monte de merda? Aumenta o monte.” E19- “Qual a maior serventia do negão? Servir como pau de selfie” |
Negro, fetiche sexual | 5 | E15- “Negro hoje em dia só aceita ser escravo se for sexual” E19- “Qual a maior serventia do negão? Servir como pau de selfie” E19- “Como faz pra transar com preto? Coloca o saco na cabeça porque o que importa tá lá embaixo” E19- “Negão tem o pau grande” E19- “Se transar com negão pode preparar a cadeira de rodas” |
Negro é traiçoeiro, desleal e não se comporta como deveria | 6 | E2, E5, E10, E22- “Ovelha negra da família”. E22- “O papa e um pastor estavam realizando um estudo da bíblia, decidiram ver quais dos apóstolos de Jesus eram negros e quais eram brancos. Concluíram, que onze eram brancos e um preto. Não sei como eles descobriram, só sei que Judas só podia ser preto.” E25- “Não pode dar confiança pra preto, se da o pé ele quer logo o braço”. |
*1. Quantitativo de falas que se encaixaram na ideia chave. *2. Fala representativa da ideia central | ||
Fonte: Dados trabalhados pelo autor |
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