O DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES DENTRO DOS TRANSTORNOS DO NEURODESENVOLVIMENTO ATRAVÉS DOS PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA (ABA)

REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/th10247052359


Yandre Karoline Costa Mourão1


RESUMO – O objetivo deste trabalho elucida estudos acerca das manifestações dos transtornos do neurodesenvolvimento, como o TEA em suas áreas afetadas: área social, área de comunicação e área do comportamento e, como os princípios da Análise do Comportamento pode ajudar esses indivíduos trazendo mais qualidade de vida. O estudo de campo foi desenvolvido em um Núcleo de Educação Infantil (NEI) no município de Marabá – PA, em caráter quantitativo e qualitativo. O prognóstico mostrou-se favorável a todos os envolvidos, após a intervenção através do método ABA. Portanto, foi possível conhecer as dificuldades enfrentadas nas escolas em relação as abordagens necessárias. Este estudo de campo contribuirá para a disseminação dos benefícios conquistados nodesenvolvimento de habilidades dentro dos transtornos do neurodesenvolvimento através dos princípios básicos da análise do comportamento aplicada(ABA).

PALAVRAS-CHAVE: Análise do Comportamento Aplicada; Neurodesenvolvimento; Ensino Aprendizagem. 

1         INTRODUÇÃO

O presente artigo aborda o desenvolvimento de habilidades dentro dos transtornos do neurodesenvolvimento através dos princípios básicos da análise do comportamento aplicada (ABA), onde o estudo de campo foi desenvolvido em um Núcleo de Educação Infantil (NEI) no município de Marabá – PA, em caráter quantitativo e qualitativo. Conhecer como as funções nervosas funcionais e como os bebês já nascem com o sistema nervoso quase formado e que através de estímulos externos, esse sistema irá passar por uma maturação e realizar processos cognitivos muito mais habilitados, o trabalho foi elaborado com o objetivo de contribuir aos demais educadores algumas reflexões pertinentes dentro da Análise do Comportamento, intervenções que modificam comportamentos inadequados, em função de melhorias no âmbito social e verbal em que o aluno está inserido.

A instituição em que foi baseada esse estudo, será denominada como “Masha”, possuem 15 alunos diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA), confirmados com laudos médicos, e 07 alunos em fila de espera para atendimento com os profissionais qualificados para investigação, além de mais 02 alunos observados que possam ser autistas, pelo comportamento inadequado e algumas limitações apresentadas durante a observação entre o relacionamento com outras crianças, ambos os pais não aceitam que os filhos possam ter algum distúrbio, transtorno ou dificuldade de aprendizagem e busquem uma especialização médica.

O desenvolvimento de habilidades dentro dos transtornos do neurodesenvolvimento, como o autismo, ocorre de maneira muito diferente, afetando o sequenciamento de habilidades e padrões de comportamentos adequados. Sabemos que na educação, muitos professores da sala regular enfrentam dificuldades na abordagem com essas crianças com comportamentos inadequados, e diante do cenário, vê-se que o choque da realidade nas escolas, principalmente as públicas, veem-se crianças não terem uma intervenção adequada na idade certa. Através das observações no âmbito escolar e algumas práticas específicas, junto com profissionais mais experientes, que concretizamos nossa formação baseada no contexto real da atuação.

Conforme explicita BEZERRA (2020, p. 10) “[…] as intervenções comportamentais são as que podem ser mensuradas, pois tornam possível analisar o comportamento antes e depois dos procedimentos de intervenção”.

A ABA baseia-se em procedimentos de ensino estruturado de forma intensiva, na qual é necessário de 30 a 40 horas de terapia semanais, cujo atendimento ocorre de forma individualizada, ou seja, apenas o profissional e o indivíduo. No decorrer da intervenção a interação social vai sendo promovida. É necessário que a pessoa esteja sempre motivada para a realização das atividades, de forma que são utilizados alguns itens motivacionais chamados de reforçadores, ou seja, elementos que podem estimular e favorecer uma resposta desejada. (BEZERRA, p. 23, 2020)

O objetivo deste trabalho elucida estudos acerca das manifestações dos transtornos do neurodesenvolvimento, como o TEA em suas áreas afetadas: área social, área de comunicação e área do comportamento e, como os princípios da Análise do Comportamento pode ajudar esses indivíduos trazendo mais qualidade de vida. 

A Análise Aplicada do Comportamento tem como objetivo, na intervenção com pessoas diagnosticadas como autistas, desenvolver repertórios de habilidades sociais relevantes e reduzir repertórios inadequados, servindo-se, para isso, de métodos baseados em princípios comportamentais. (GOULART; ASSIS, 2002)

A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica utilizando-se de conhecimentos vindo de SKINNER, BEZERRA, SILVA e outros autores, artigos publicados e materiais didáticos utilizados pela FAVENI.

No primeiro momento do desenvolvimento objetiva explicitar o método ABA e delimitar a fundamentação teórica, além das diferentes perspectivas do comportamento inadequado presente em crianças com transtornos do neurodesenvolvimento. Sabemos que para montar um plano de intervenção eficaz é de suma importância ter o conhecimento acerca dos conceitos e características dos possíveis diagnósticos. Para que pudéssemos coletar dados para a pesquisa do campo de estudo, utilizamos nas observações alguns documentos para análise, como o Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola, laudo médico das crianças observadas além da conversa informal com os próprios sujeitos da instituição concedente. Logo em seguida, apresentamos algumas formas de intervenções e estratégias em ABA para a mudança de comportamento inadequado para comportamento adequado. Concluímos com a importância de uma capacitação dos diferentes segmentos da sociedade em que a criança está inserida para uma evolução da Inclusão e seu desenvolvimento em diversas atividades, principalmente as escolares em que a escola repense sua prática pedagógica para a promoção dessas crianças.

2         DESENVOLVIMENTO

Esse trabalho foi desenvolvido a partir de estudos bibliográficos, reunindo e analisando a fundamentação teórica acerca da Análise do Comportamento Aplicada (ABA) para crianças com Transtorno do Espectro Autista, bem como realizado um estudo de campo com 03 crianças cuja aplicação do método ABA em 10 sessões pode modificar o comportamento inadequado para o comportamento adequado.

Conforme CRESWELL apud SILVA (2021, p. 3) “Com enfoque qualitativo, essa abordagem é interpretativa com o investigador geralmente envolvido em uma experiência sustentada e intensiva com os participantes”.

A pesquisa bibliográfica para aplicação em campo é de suma importância para se obter êxito nas intervenções em ABA, pois abrange um leque de conhecimentos tanto teórico quanto prático.

É sabido que a análise do Comportamento aplicado, ABA/ACA é uma abordagem da psicologia, usada para compreender o comportamento, e vem sendo amplamente utilizada no atendimento de pessoas com o desenvolvimento atípico, onde suas intervenções derivam dos princípios do comportamento e tem como objetivo aprimorar comportamentos socialmente relevantes. (LEAR, 2004 apud SILVA, 2021, p.3)

Diante disso, buscamos analisar como as intervenções em ABA pode ter proporcionado melhorias nos comportamentos destas crianças. A metodologia utilizada teve como foco a regulação dos comportamentos inadequados, embasadas por teóricos que já nos trazem caminhos e materiais formulados nas intervenções.

Baseado nesta especificidade da ABA, temos que as questões comportamentais se constituem em entraves ao aprendizado do sujeito com TEA, seja em família ou na escola, justificando, assim, a utilização da metodologia que tenha como foco a regulação destes comportamentos. (BEZERRA, p. 10, 2020)

Durante os estudos de Leo Kanner em 1943 e de Hans Asperger em 1944, concluíram que os indivíduos estudados apresentavam características semelhantes e graus distintos de Autismo. Porém, ainda continuam estudos nas identificações dos fatores ligados ao espectro. O certo é que, atualmente, graças ao avanço da ciência e de pesquisas acerca do tema e disseminação de informações entre a população, temos mais casos diagnosticados e as intervenções sendo aplicadas mais cedo na identificação precoce, trazendo assim mais benefícios para estas crianças. 

Veja o que BEZERRA nos mostra em seu artigo (2020, p. 15):

As possíveis razões para o grande aumento na prevalência estimada do autismo e das condições relacionadas são: 1) a adoção de definições mais amplas de autismo (como resultado do reconhecimento do autismo como um espectro de condições); 2) maior conscientização entre os clínicos e na comunidade mais ampla sobre as diferentes manifestações de autismo (e.g., graças à cobertura mais freqüente da mídia); 3) melhor detecção de casos sem retardo mental […] 5) a compreensão de que a identificação precoce (e a intervenção) maximizam um desfecho positivo (estimulando assim o diagnóstico de crianças jovens e encorajando a comunidade a não “perder” uma criança com autismo, que de outra forma não poderia obter os serviços necessários); e 6) a investigação com base populacional (que expandiu amostras clínicas referidas por meio do sistemático “pente-fino” na comunidade em geral à procura de crianças com autismo que de outra forma poderiam não ser identificadas) (KLIN, 2006 apud BEZERRA, p.15, 2020).

As pesquisas destes grandes autores se tornam de grande valia para a compreensão desses transtornos do neurodesenvolvimento e como devemos prosseguir nas intervenções adequadas para os indivíduos dentro desse espectro. quanto mais exatidão há no diagnóstico, maiores são as possibilidades e alternativas assertivas de tratamento (BEZERRA, p. 16, 2020).

O Transtorno de Espectro Autista é classificado em níveis, graus de suporte. Uns não apresentam comorbidades visíveis, ou seja, aparentam fisicamente como uma criança típica, porém, afetados nas três áreas de desenvolvimento: linguagem verbal, interação social e as altas habilidades. Porém, em outras crianças, já se tornam evidentes características em seus comportamentos, em níveis variados. 

Vale ressaltar que não só os indivíduos do espectro autista que podem apresentar comportamentos inadequados, dentro do DSM-V também temos outros tipos de transtornos que podem apresentar esses comportamentos, observe:

Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, transtorno da conduta, transtorno de oposição desafiante ou transtorno do espectro autista. Indivíduos com qualquer um desses transtornos com início na infância podem ter explosões de agressividade impulsivas. Em geral, os indivíduos com TDAH são impulsivos e, como resultado, poderão ter também explosões de agressividade impulsivas. Embora pessoas com transtorno da conduta possam ter explosões de agressividade impulsivas, a forma de agressividade caracterizada pelos critérios diagnósticos é proativa e predatória. A agressividade no transtorno de oposição desafiante caracteriza-se principalmente por ataques de raiva e questionamentos verbais com figuras de autoridade, enquanto as explosões de agressividade impulsivas no transtorno explosivo intermitente são respostas a um amplo grupo de provocações e incluem violência física. (AMERICAN PSYCHIATNC ASSOCIATION – DSM-V, p. 469, 2014, grifo do autor)

O trabalho realizado através da ABA em indivíduos que apresentam comportamentos inadequados, promove ressignificação destes na comunidade em que fazem parte. Pois já é comprovado cientificamente que o tratamento é considerado eficaz. Quando olhamos na perspectiva da educação inclusiva, estes indivíduos possuem direitos e garantias que reformulam o nosso pensar e o nosso trabalho na prática pedagógica. 

A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva tem como objetivo assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, orientando os sistemas de ensino para garantir: acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino; transversalidade da modalidade de educação especial desde a educação infantil até a educação superior; oferta do atendimento educacional especializado; formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão; participação da família e da comunidade; acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informação; e articulação intersetorial na implementação das políticas públicas. (BRASIL, 2008, p. 14)

BEZERRA (2020, p. 18) diz que “O ingresso desse público nas instituições escolares causa olhares instigantes e até mesmo temerosos, não por aversão ao indivíduo, mas por vezes, pelo desconhecimento do caso”. Por este e outros motivos que precisamos dispor de estratégias adequadas para estes indivíduos. 

Na observação realizada, foi notado as dificuldades da professora regente com os 03 alunos estudados, primeiro pelo fato de que não possui suporte com professor auxiliar, segundo pelo fato de não possuir formação específica para trabalhar com as crianças atípicas, e terceiro fato de segurar as pontas em uma turma superlotada. O seu trabalho pedagógico, apesar de fazer o melhor que consegue, ainda se torna insuficiente por ter dificuldades em aplicar as atividades e não possuir auxílio de um mediador ou sala de AEE para a construção de um plano individualizado para essas crianças. 

Outro ponto pertinente observado, é que a Secretaria de Educação contrata estagiários formandos em pedagogia por um órgão terceirizado, porém, pela alta demanda, a contratação está em escassez por não ter estudantes interessados no estágio remunerado ou mesmo por falta de matrículas nos próprios cursos de licenciaturas. E que ainda, por aqueles, que aceitam o estágio, não possuem formação e conhecimento necessários para lidar com os comportamentos inadequados das crianças que possuem os transtornos especificados no DSM-5. E outro fator bem intrigante…, àqueles que passam por essa experiência de lidarem com as crianças que estão neste espectro, acabam desistindo do curso e do estágio, por não se adequarem ao processo de formação; uns por sentirem medo, outros despreparo e agressões por parte destes alunos. No entanto, nós sabemos que estes alunos não o fazem por mal, mas por estarem desregulados na área do comportamento. Agora imaginem, 03 alunos desregulados em uma sala, com apenas a professora titular, sem professora auxiliar, em uma sala superlotada, e sem condições tanto materiais como de suporte com os demais alunos. É lastimável. 

Na coleta e análise dos dados observados, através de uma conversa informal com a professora regente e feita as observações na instituição de toda a equipe. 

A professora titular tem formação recente em Pedagogia, porém, não tem especialização. Logo que se formou, passou no concurso da área, e já assumiu uma sala neurodiversificada. Na época da observação, a professora atuava há 03 meses com carga horária de 200 horas mensais. Antes de assumir o concurso, trabalhava em outra área divergente a da educação, ou seja, não tinha experiência nenhuma com sala de aula ou com criança atípica.

Dentre os alunos, na turma de Maternal III, há 03 alunos atípicos. O primeiro denominado de “Morpho” tem 03 anos de idade do sexo masculino, não-verbal, diagnosticado com autismo. É um aluno que gosta de ficar isolado dos demais colegas, não olha quando é chamado pelo nome e quando ficamos frente a frente com ele, não sustenta o olhar. Não emite expressões faciais. Não demonstra interesse em brincadeiras coletivas. O segundo denominado de “Alfa” tem 04 anos de idade do sexo masculino, também diagnosticado com autismo, suporte 3, se incomoda com barulhos, colocando as mãos nos ouvidos e agredindo os colegas, diante de muitos estímulos sensoriais. Apresenta estereotipias quando está desregulado, deitando-se no chão e balançando-se com os músculos contraídos, durante 15 a 20 minutos, a cada meia hora. O terceiro denominado de “Blue”, da mesma faixa etária, do sexo masculino, diagnosticado com Transtorno do déficit deatenção e hiperatividade (TDAH), apresenta impulsividade e hiperatividade, dificuldades nas relações sociais e atitudes agressivas. Os três alunos observados precisam constantemente de mediações de um adulto para realizar as atividades e é onde que chega ao ponto de a professora não conseguir abarcar as reais necessidades destes pelas dificuldades de apoio, pois relata que possui problemas de disciplina e de comportamentos dos alunos, chegando muitas vezes ao final da aula sem conseguir aplicar o que planejou naquele dia.

Acreditamos que com apoio da gestão escolar e da família, conseguimos ajudar essas crianças, porém, nem todas as escolas possuem um relacionamento mútuo no trabalho pedagógico. Segundo a professora entrevistada, ela não tem recebido apoio da gestão escolar, chegando em muitas vezes, ter que solicitar auxílio em sala, e nenhum profissional do apoio pedagógico se manifestar em contribuir, ou seja, acabando em não conseguir executar um trabalho que contribua no desenvolvimento destes alunos. Visto que é um direito deles em ter acesso à educação e um dever de todos os envolvidos colaborar para que avancem no seu desenvolvimento. Aí eu me pergunto: será mesmo que a inclusão tenha ocorrido como está descrito na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação? Ou, essa inclusão tenha sido camuflada pela segregação desses sujeitos?

Nas intervenções em ABA, vale ressaltar que, existem várias formas de desenvolver e promover os reforçadores nas crianças com TEA. Para a obtenção do sucesso, é necessário conhecer as peculiaridades, seus gostos, sua forma de agir, suas estereotipias, a participação da família e da escola, bem como os profissionais atuantes em suas terapias.

Intervenções comportamentais devem, não somente produzir mudanças socialmente importantes no comportamento, mas estas mudanças devem persistir através do tempo, dos ambientes e pessoas diferentes daquelas inicialmente envolvidas na intervenção. Uma intervenção que melhora a comunicação de uma criança com autismo na clínica, por exemplo, demonstra generalidade se a criança também consegue se comunicar com os pais, professores ou outras pessoas, em casa, na escola ou na comunidade, durante e após o término da intervenção. (CAMARGO, RISPOLI, p. 646, 2013)

O autor nos mostra que para se ter um bom prognóstico, a intervenção deverá ser intensiva e ser estendida para todo o círculo social do indivíduo, seja ele familiar, escolar, amigos e/ou profissionais envolvidos na intervenção. E conforme BAER et. al. (2009) apud CAMARGO, RISPOLI (2013, p. 641), “ABA é caracterizada pela coleta de dados antes, durante e depois da intervenção para analisar o progresso individual da criança e auxiliar na tomada de decisões em relação ao programa de intervenção e às estratégias”. Ou seja, por ser uma intervenção bem estruturada e aplicação individualizada, o seu sucesso entre crianças com TEA, respondem bem por planejamentos e rotinas. (SCHOEN, 2003 apud CAMARGO, RISPOLI, 2013, p. 641).

SKINNER (1953) apud CAMARGO, RISPOLI (2013, p.641), nos ensina que os comportamentos são aprendidos e influenciados por estímulos antecedentes e reforçados por suas consequências, ou seja, comportamentos adequados são reforçados por atenção ou recompensa de acordo com a singularidade da criança (exemplo, pode-se oferecer no momento do comportamento esperado na intervenção, um jogo ou brinquedo que a criança gosta). Por outro lado, comportamentos inadequados são reforçados por reprimendas, ou seja, a criança não recebe aquilo que gosta (exemplo, o brinquedo ou desenho, ou elogio esperado).

Portanto, ABA investiga as variáveis que afetam o comportamento humano, sendo capaz de mudá-los através da modificação de seus antecedentes (o que ocorreu antes e pode ter sido um possível gatilho para a ocorrência do comportamento) e suas consequências – eventos que se sucederam após a ocorrência do comportamento, e que podem ter sido agradáveis ou desagradáveis determinando a probabilidade de que ocorram novamente (SUGAI, LEWIS-PALMER; HAGANBURKE, 2000 apud CAMARGO, RISPOLI, 2013, p. 642).

Dessa forma, SKINNER (1978) apud CAMARGO, RISPOLI (2013, p. 642), considera que estes princípios do método ABA mensura os comportamentos e as ações dos indivíduos, mostrando-nos onde podemos intervir e conduzir os comportamentos que são importantes nas relações sociais.

Portanto, enquanto uma abordagem científica, ABA utiliza princípios derivados de investigações científicas e demostra experimentalmente, através de dados empíricos consistentes, a eficácia dos procedimentos utilizados nas intervenções. (CAMARGO, RISPOLI, 2013, p. 642).

Há ainda estudos experimentais em curso, em que analistas do comportamento vêm desenvolvendo novas formas e estratégias de abordagens através da ABA. Sendo eles “aqueles relacionados à habilidades acadêmicas, sociais e habilidades adaptativas de vida diária” (CAMARGO, RISPOLI, 2013, p. 642)

[…] a pesquisa atual tem enfatizado e demonstrado empiricamente que métodos baseados em técnicas de reforçamento positivo, que são consequências que motivam e aumentam a probabilidade de comportamentos desejáveis e adequados ocorrerem novamente, são mais efetivas e produzem melhoras mais significativas e duradouras do que métodos de punição, devendo portanto serem utilizadas em detrimento destes últimos (CAMERON, PIERCE, 1994; MAAG, 2001 apud CAMARGO, RISPOLI, 2013, p. 642-643).

A aplicação da intervenção ABA nos alunos observados durante as 10 sessões, obteve um prognóstico favorável em comparação ao início da observação. Confira o relato na íntegra da mãe de “Morpho”:

O desenvolvimento dele está sendo bem notório, as estereotipias já digamos que ele não tem mais. Sorria com mais frequência ( pra câmera, lembrando não gostava ), já está interagindo um pouco, sendo que antes essa interação não existia, já está mostrando sentimos ( abraços, beijos…) . A alimentação, ainda regeita algumas coisas, porém melhorou bastante. 

Ah não poderia deixar de relatar que ele agora já pega nos lápis pra pintar,sendo que antes os rejeitava .

Nossa eu só tenho a agradecer a Deus e a vc por ser paciente e ser uma grande profissional. E acreditar nas capacidades do meu pequeno. Grata mesmo.

Minha flor essa relato é pouco, pois o “Morpho” já aprendeu muito mais. 

A mãe de “Alpha” também relatou melhorias no comportamento dele, após algumas semanas, “Alpha” diminuiu a frequência de suas estereotipias e obteve um grande avanço na leitura das letras do alfabeto e seu contato com a professora, demonstrando abraços e afagos. O “blue”, tem melhorado em suas impulsividades na hora das brincadeiras coletivas, sempre em busca de auxílio com a professora na intervenção dos conflitos, chamando-a para o grupo, parou de demonstrar atitudes agressivas perante os colegas. Dando ênfase que, mediante as intervenções aplicadas, não seria possível sem o apoio familiar. O diálogo em parceria com as mães das crianças antes, durante e após as intervenções, podemos perceber o empenho delas e cooperar com as aplicações dos reforçadores positivos durante as estratégias domiciliares. O contentamento das mães estendeu-se para a gestão da escola, em que toda a equipe percebeu a mudança de comportamento das três crianças em questão.

O objetivo final de uma intervenção considerada aplicada é tornar as pessoas mais independentes e socialmente ajustadas. Portanto, uma intervenção baseada na ABA deve ter validade social, isto é, deve vir ao encontro das necessidades dos indivíduos e da sociedade que devem estar satisfeitos com os procedimentos e resultados obtidos (WOLF, 1978 apud CAMARGO, RISPOLI, 2013, p. 645).

3         CONCLUSÃO

As características comportamentais do autismo, nos trazem muitas dúvidas nas abordagens que iremos adotar, portanto, a Análise do Comportamento Aplicada é um campo da ciência baseada na evidência. E estes indivíduos necessitam de uma metodologia eficaz, como a ABA, para ajudá-los nesse processo de desenvolvimento. Há quatro décadas que esta metodologia vem sendo aplicada e estudada no Brasil e tem revelado prognósticos favoráveis nas terapias realizadas por profissionais que aplicam o método ABA.

Durante o desenvolvimento do trabalho, a leitura das leis que asseguram à inclusão foi indispensável, além de observar os objetivos de alcance após as intervenções, bem como as expectativas de toda a família e a gestão da escola em relação a essas três crianças estudadas. 

Portanto, foi possível conhecer as dificuldades enfrentadas nas escolas em relação as abordagens necessárias, a angústia da professora em ter que lidar com a superlotação e sua inexperiência no momento, pois ela estava iniciando a carreira (literalmente), e assim, mostrar as fundamentações teóricas estudadas e aplicadas as metodologias durante as 10 sessões de terapia ABA, visando modificar o comportamento destas crianças, tanto no âmbito social, comportamental e cognitivo, além de desenvolver habilidades que antes não eram estimuladas, tal como atenção, linguagem, empatia, autocuidado, entre outros. Após toda a análise, a abordagem desenvolvida durante o estudo de campo, torna-se validado para as crianças, jovens e/ou adultos dentro do espectro autista, lembrando da importância da constância e da aplicação intensiva, pois percebemos que os métodos regulares usados na maioria das escolas, não são suficientes.

Deparamo-nos na dificuldade de aplicar a ABA, junto com outras crianças em sala de aula regular, pela sua superlotação, gritos, choros de outras crianças, que acarretavam muitas das vezes desregulação comportamental.

Enfatizo ainda, que tal método para se tornar eficaz, o profissional precisa ser habilitado, capacitado e conhecedor de todo arcabouço teórico que fundamenta a abordagem ABA. 

Acreditamos que este estudo de campo contribuirá na disseminação da Análise do Comportamento e que outros profissionais desenvolverão novas formas de pesquisa e estratégias, para que assim, toda a comunidade que engloba os indivíduos com TEA, proporcionem a ampliação do conhecimento a aplicação deste método com intuito de ajudá-los no seu desenvolvimento.

REFERÊNCIAS

AMERICAN PSYCHIATNC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtorno. DSM-5. [American Psychiatnc Association, traduç . Maria Inês Corrêa Nascimento … et al.]; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli… [et al.]. – . e . Porto Alegre: Artmed, 2014. xliv, 948 p.; 25 cm. ISBN 978-85-8271-088-3.

BEZERRA, Francisca Suêndia. A análise do comportamento aplicada (ABA) como abordagem de ensino para a pessoa com transtorno do espectro do autismo (TEA). Monografia em Licenciatura de Pedagogia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte.Caicó – Rio Grande do Norte. 42 páginas. 2020.

BRASIL, Ministério da Educação. Política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf. Acesso em: 30 de jul. 2023.

CAMARGO, Siglia Pimentel Hoher; RISPOLI, Mandy. Análise do comportamento aplicada como intervenção para o autismo: definição, características e pressupostos filosóficos. Revista Educação Especial | v. 26 | n. 47 | p. 639-650 | set./dez. 2013. 

GOULART, Paulo; ASSIS, Grauben José Alves de. Estudos sobre autismo em análise do comportamento: aspectos metodológicos. Rev. bras. ter. comport. cogn.,  São Paulo ,  v.4, n.          2, p.          151-165, dez.           2002          .                 Disponível                   em<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151755452002000200007&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  30  jul.  2023.

SILVA, Laysa Sinara Torres da. Contribuição do Método ABA para o desenvolvimento cognitivo e pedagógico da criança com autismo. 2021. 27f. Trabalho Acadêmico (Graduação em Licenciatura em Pedagogia) – Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade Acadêmica de Educação a Distância e Tecnologia, Gravatá, 2021.


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