O DESEMPENHO DA FISIOTERAPIA NASTÉCNICAS DE NEUROMODULAÇÃO NÃO INVASIVA DIANTE DO TRATAMENTO EM INDIVÍDUOS COM AVC ISQUÊMICO.

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202504061612


Bianca Alves Linhares
Bruna Maria dos Santos Silva
Camila Campos do Nascimento
Giovanna Farias dos Santos
Kaillanny Mendonça Leite
Orientador(a): Prof. Leandro Teodoro da Silva


1. INTRODUÇÃO 

O AVC isquêmico é uma das principais causas de incapacidade no mundo, levando a prejuízos motores, cognitivos e sensoriais significativos (Ministério da saúde, 2023). Diante dessa realidade, a fisioterapia tem buscado novas abordagens para otimizar a reabilitação, sendo a neuromodulação não invasiva (NNI) uma técnica promissora. Entre as modalidades de NNI mais utilizadas estão a estimulação magnética transcraniana (EMT) e a estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC), que atuam na modulação da excitabilidade cortical e promovem a neuroplasticidade (Lefaucheur et al., 2020). 

Estudos indicam que a NNI pode potencializar os efeitos da reabilitação fisioterapêutica ao estimular a reorganização neural e facilitar a recuperação das áreas afetadas pelo AVC. No entanto, foi constatado que ainda existem lacunas em relação à padronização de protocolos de tratamento, assim como a necessidade de estudos de longo prazo para confirmar a eficácia dessas intervenções e identificar possíveis efeitos adversos (Mackay, C. D. e Newham, D. J. 2018). 

As técnicas de neuromodulação não invasiva, em conjunto com a fisioterapia, apresentam um grande potencial para o tratamento de indivíduos com AVC isquêmico (AVCI). A associação das técnicas, podem acelerar o processo de recuperação funcional, reduzir limitações motoras e melhorar a qualidade de vida, embora sejam necessários mais estudos para consolidar a prática clínica (Mansour, A. R. e Moustafa, A. A. 2016).

A neuromodulação juntamente com técnicas fisioterapêuticas, como por exemplo, cinesioterapia, treinos de marcha e atividades cognitivas, agregam em uma melhora significativa em pacientes pós AVCI, as quais demonstram promoção de recuperação funcional nestes (DU et al., 2019; GEIGER et al., 2017; KOCH et al., 2019). 

Diante disso, é necessário aprofundar o conhecimento sobre o desempenho da fisioterapia em combinação com essas técnicas de neuromodulação não invasiva, verificando a eficácia e os limites dessas intervenções. Castillo et al. (2016) sugere que a integração dessas técnicas no tratamento de pacientes com AVC isquêmico pode representar um avanço significativo na reabilitação, especialmente em casos em que a recuperação motora é mais desafiadora. 

Palavras-Chave: Fisioterapia, Neuromodulação (NNI), AVCI, AVC, Reabilitação e Tratamento. 

2. OBJETIVOS 

2.1 OBJETIVO GERAL 

Analisar o desempenho da fisioterapia nas técnicas de neuromodulação não invasiva no tratamento de indivíduos com AVC isquêmico. 

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 

Descrever os efeitos das técnicas de neuromodulação não invasiva aplicadas pela fisioterapia no tratamento de pacientes com AVC isquêmico. 

Relatar os benefícios da associação das técnicas de neuromodulação e da fisioterapia na reabilitação de pacientes acometidos com AVCI.

3. METODOLOGIA 

O presente trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica com características narrativas. Para realizar a pesquisa da literatura foram consultadas 4 bases de dados: United states national library of medicine (PubMed), Scientific electronic library (SciELO), ScienceDirect e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Como método de busca utilizou os seguintes descritores, em inglês e português: “Stroke” OR “AVC isquêmico”, “Transcranial Magnetic Stimulation” OR “Estimulação Magnética Transcraniana”, “Transcranial Direct Current Stimulation” OR “Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua”. Foram incluídas publicações de 2006 a 2024, que abordem o uso de duas técnicas de neuromodulação não invasiva (TMS, tDCS) associada à fisioterapia em pacientes com AVC isquêmico. Desta forma, foram utilizados 5 artigos. Como critério de exclusão, estudos que não envolvam diretamente pacientes com AVC isquêmico ou que tratem de outros tipos de neuromodulação fora do escopo da fisioterapia, artigos publicados em outros idiomas e fora do período acima pré-estabelecido, foram excluídos.

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 

4.1 Desempenho da Fisioterapia nas Técnicas de Neuromodulação Não Invasiva

As técnicas de NNI, como a ETCC e a EMT, utilizam correntes elétricas ou campos magnéticos para modular a atividade cerebral de forma não invasiva. Quando combinadas com a fisioterapia, essas técnicas potencializam a plasticidade cerebral, facilitando a recuperação de funções motoras prejudicadas pelo AVC isquêmico. 

Estudos recentes demonstram que a ETCC impacta positivamente a excitabilidade cortical em áreas motoras, promovendo uma maior reorganização neural após o AVC (SILVA, J. A.; PEREIRA, R. T). A combinação da ETCC com exercícios terapêuticos pode amplificar os ganhos motores, resultando em uma recuperação mais rápida e eficaz. 

A EMT também tem mostrado sucesso na modulação da atividade cortical em hemisférios lesionados e não lesionados, com resultados promissores na melhora da função motora (OLIVEIRA, M. C.; SOUZA, L. F). A associação dessas técnicas com protocolos de reabilitação fisioterapêutica individualizados tem se mostrado eficaz na restauração de funções motoras e cognitivas em pacientes com AVC isquêmico. 

4.2 Efeitos da Neuromodulação Não Invasiva Aplicada pela Fisioterapia

A principal contribuição da NNI para a reabilitação do AVC é a promoção da neuroplasticidade, um fenômeno crucial para a recuperação após lesões cerebrais. A fisioterapia, por meio de exercícios específicos de fortalecimento, coordenação e equilíbrio, potencializa a reorganização neural e sináptica. A ETCC, ao estimular regiões motoras lesadas, aumenta a eficácia dos exercícios motores, melhorando o desempenho funcional (LIMA, R. S.; COSTA, P. F.; ALMEIDA, J. P). 

A EMT, aplicada ao córtex motor, demonstrou melhorar o controle motor em pacientes com hemiparesia pós-AVC, sendo mais eficaz quando associada a intervenções fisioterapêuticas. Além disso, a NNI tem mostrado promover melhorias cognitivas, especialmente na atenção e memória, áreas frequentemente afetadas em pacientes com AVC (MARTINS, T. R.; GONÇALVES, A. F.). 

4.3 Benefícios da Associação das Técnicas de Neuromodulação e da Fisioterapia

A combinação das técnicas de NNI com intervenções fisioterapêuticas têm demonstrado resultados superiores em comparação ao tratamento fisioterapêutico isolado. A sinergia entre NNI e fisioterapia resulta em uma recuperação mais rápida e eficiente, potencializando o aprendizado motor e a reorganização cortical. 

A ETCC, aplicada de forma bilateral ou unilateral, pode restaurar o equilíbrio entre os hemisférios cerebrais após um AVC, facilitando a recuperação motora (SILVA, J. A.;

PEREIRA, R. T.). A EMT mostrou efeitos positivos na função motora de membros superiores, especialmente em pacientes com comprometimento moderado a grave. Essas intervenções, quando combinadas, reduzem a espasticidade, melhoram a mobilidade funcional e aumentam a independência dos pacientes, promovendo uma significativa melhora na qualidade de vida. 

A fisioterapia, ao integrar métodos como a ETCC e a EMT, tem demonstrado um potencial significativo na melhora da função motora e na promoção da neuroplasticidade. Essas técnicas modulam a excitabilidade cortical, aumentando a eficácia dos exercícios terapêuticos realizados durante a reabilitação. Essa combinação resulta em melhores resultados funcionais e na qualidade de vida dos pacientes, ressaltando a importância de uma abordagem multidisciplinar. 

A NNI, como a tDCS, tem mostrado efeitos positivos na recuperação da força muscular e na funcionalidade. Estudos indicam que a aplicação de tDCS durante sessões de fisioterapia melhora a força do membro afetado e a coordenação motora, na cinesioterapia, por exemplo, a tDCS pode ser aplicada antes das sessões para potencializar a resposta muscular, facilitando exercícios que ajudam a fortalecer o quadríceps e melhorar a estabilidade (LIMA, R. S.; COSTA, P. F.; ALMEIDA, J. P.). 

Durante os treinos de marcha, a estimulação pode contribuir para um melhor controle postural, enquanto nas atividades cognitivas, a EMT pode estimular áreas cerebrais responsáveis pela memória e atenção, promovendo uma recuperação mais integrada, a prática de exercícios funcionais, como a marcha assistida, é ainda mais eficaz quando realizada após a aplicação de tDCS, acelerando a recuperação da marcha e da funcionalidade do paciente. 

Exercícios como agachamentos assistidos e atividades de equilíbrio, como o uso de plataformas instáveis, não apenas fortalecem a musculatura das pernas, mas também melhoram a propriocepção e reduzem o risco de quedas (LEFAUCHEUR, J. P. et al). O treinamento de marcha, integrado com feedback visual e estimulação cortical, ajuda os pacientes a recuperar a capacidade de andar de forma mais eficiente. Essa abordagem multidisciplinar não só melhora os resultados motores, mas também contribui para o bem-estar psicológico dos pacientes, incentivando a adesão ao tratamento e promovendo uma recuperação mais eficaz (BAEKEN, C. et al).

5. CONCLUSÃO 

A proposta do trabalho elaborado teve por base realizar uma revisão de literatura, que por conseguinte reforça o potencial das técnicas de neuromodulação não invasiva (NNI), como a Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) e a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC), quando associadas à fisioterapia no tratamento de pacientes com AVC isquêmico. Essas intervenções integradas demonstram ser eficazes na promoção da recuperação funcional, tanto motora quanto cognitiva, ao melhorar a neuroplasticidade e facilitar o aprendizado motor. Exercícios como agachamentos assistidos e atividades de equilíbrio, aliados à estimulação cortical, promovem não só a recuperação física, mas também contribuem para o bem-estar psicológico dos pacientes, incentivando sua adesão ao tratamento e acelerando o retorno à independência funcional. No entanto, ainda há a necessidade de mais estudos que padronizem os protocolos de NNI e avaliem seus efeitos a longo prazo, consolidando seu uso na prática clínica.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

BAEKEN, C. et al. Diretrizes baseadas em evidências sobre o uso terapêutico da estimulação magnética transcraniana repetitiva (rTMS). Clinical Neurophysiology, v. 131, n. 2, p. 474-528, 2020. 

BOLGONINI, N.; PASCUAL-LEONE, A. Neuromodulação usando estimulação magnética transcraniana e estimulação transcraniana de corrente direta na recuperação do AVC. Archives of Physical Medicine and Rehabilitation, v. 96, n. 4, p. S144-S155, 2015.

CARROLL, T. J.; RIEK, S.; CARSON, R. G. Confiabilidade das propriedades de entrada-saída da via corticoespinal obtidas por estimulação magnética e elétrica transcraniana. Journal of Neuroscience Methods, v. 113, n. 2, p. 123-132, 2019. 

CASTILLO, E. M.; DUARTE, J. A.; DEGROOT, C. Neuromodulação na reabilitação de pacientes com AVC: uma revisão. Journal of Stroke and Cerebrovascular Diseases, v. 25, n. 3, p. 375-383, 2016. 

DU, et al. Neuromodulação não invasiva no equilíbrio em pacientes após acidente vascular cerebral: revisão sistemática. Revista Contemporânea, v. 4, n. 5, p. 2019.

FERREIRA, A. M.; ALMEIDA, T. P. A importância da associação entre neuromodulação e fisioterapia na reabilitação do AVC. Revista Brasileira de Reabilitação, v. 29, n. 1, p. 75-82, 2023. DOI: 10.1590/2316-7114.2023.23. 

HUMMEL, F. C.; COHEN, L. G. Estimulação cerebral não invasiva: uma nova estratégia para melhorar a neuro-reabilitação após o AVC. The Lancet Neurology, v. 5, n. 8, p. 708-712, 2006. 

LEFAUCHEUR, J. P. et al. Diretrizes baseadas em evidências sobre o uso terapêutico da estimulação magnética transcraniana repetitiva (rTMS). Clinical Neurophysiology, v. 131, n. 2, p. 474-528, 2020. 

LIMA, R. S.; COSTA, P. F.; ALMEIDA, J. Efeitos da combinação de tDCS e fisioterapia na reabilitação de AVC isquêmico. Revista de Terapia Ocupacional, v. 34, n. 2, p. 130-139, 2023. DOI: 10.1590/0101-7902.2023.56. 

MARTINS, T. R.; GONÇALVES, A. F. Avaliação da eficácia do tDCS em pacientes com sequelas de AVC. Fisioterapia em Movimento, v. 35, n. 1, p. 87-95, 2022. DOI: 10.1590/1679-695x.2022.45. 

OLIVEIRA, M. C.; SOUZA, L. F. Neuromodulação não invasiva e recuperação motora em AVC isquêmico: uma revisão sistemática. Journal of Neurophysiology, v. 126, n. 4, p. 1234-1245, 2022. DOI: 10.1152/jn.00123.2022. 

SILVA, J. A.; PEREIRA, R. T. Efeitos da estimulação transcraniana de corrente direta na reabilitação de pacientes pós-AVC. Revista Brasileira de Fisioterapia, v. 25, n. 3, p. 211-219, 2021. DOI: 10.1016/j.rbfi.2021.02.007. 

VEERBEEK, J. M. et al. Qual é a evidência para a fisioterapia pós-AVC? Uma revisão sistemática e meta-análise. PLoS ONE, v. 9, n. 2, e87987, 2014.