THE NURSE’S CHALLENGE IN AMAZONAS IN THE PREVENTION OF UTERINE CERVICAL CANCER: FACTORS THAT INFLUENCE ON NOT PERFORMING THE PAPANICOLAOU TEST
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7940336
Bianca Laura Plantamura1
Pamella Katyuscia Santos da Silva2
Thatyana Borges Machado3
Katiana Maia Fernandes4
RESUMO
Introdução: o câncer cérvico-uterino é uma neoplasia que se dá pelo crescimento desordenado de células do colo do útero. Dentre os tipos de câncer, o do colo do útero está entre os de maior incidência na população feminina brasileira, principalmente na região Norte, com ênfase no Estado do Amazonas. Objetivo: identificar quais os fatores que influenciam as mulheres a não realização do exame Papanicolau, sobretudo no Amazonas. Método: revisão integrativa de literatura nas bases de dados eletrônicos Scientific Electronic Library Online (SciELO), Acervo+ index base e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Utilizou-se 06 artigos, no período de 2018 a 2021. Resultados: dentre os diversos fatores analisados, os que mais influenciam a não realização do exame Papanicolau são: o medo, a vergonha, a falta de informação, a falta de conhecimento, as questões socioeconômicas, além das dificuldades de acesso aos serviços de saúde. Conclusão: é notória a necessidade de investimentos em estratégias para o controle do câncer de colo do útero e de medidas educativas, tanto para a população quanto para os profissionais de saúde, a fim de maximizar as ações de prevenção e promoção da saúde, de modo a diminuir os números alarmantes do câncer de colo uterino, no Brasil e na região Norte.
Palavras-chave: Neoplasia do Colo do Útero. Enfermagem. Exame Papanicolau. Amazonas.
ABSTRACT
Introduction: uterine cervical cancer is a neoplasm caused by the disordered growth of cells in the cervix. Among the types of cancer, cervical cancer is among those with the highest incidence in the Brazilian female population, mainly in the North region, with emphasis on the State of Amazonas. Objective: to identify the factors that influence women not to undergo the Papanicolaou test, especially in Amazonas. Method: integrative literature review in the electronic databases Scientific Electronic Library Online (SciELO), Acervo+ index base and Virtual Health Library (VHL). Six articles were used, from 2018 to 2021. Results and discussion: among the various factors analyzed, those that most influence the failure to undergo the Papanicolaou test are: fear, shame, lack of information, lack of knowledge, socio economic issues, in addition to difficulties in accessing health care services. Conclusion: the need for investments in strategies for the control of uterine cervical cancer and educational measures is notorious, both for the population and for health professionals, in order to maximize prevention and health promotion actions, to reduce the alarming numbers of uterine cervical cancer in Brazil and in the North region.
Keywords: Uterine Cervical Neoplasm. Nursing. Papanicolaou test. Amazonas.
INTRODUÇÃO
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer pode ser definido como o crescimento descontrolado de células anormais que invadem e danificam os tecidos, ocorrendo devido às modificações nos genes responsáveis pelo crescimento e reparos celulares. Essas mudanças resultam da interação entre fatores genéticos e ambientais, tais como alimentação, obesidade, tabagismo, contato com substâncias carcinogênicas e exposição a tipos específicos de vírus, bactérias e parasitas (INCA, 2022).
Essa patologia é um importante problema de saúde pública em países desenvolvidos e em desenvolvimento, que vem sofrendo um aumento de maneira considerável em todo o mundo, principalmente a partir do século passado. É responsável por mais de seis milhões de óbitos anualmente, representando cerca de 12% de todas as causas de morte no mundo (BRASIL, 2013).
A ocorrência dos diferentes tipos de câncer varia de acordo com as características de cada região, o que ressalta a importância do estudo geográfico e de suas variações com relação à doença, para monitoramento e controle eficazes (VAZ et al., 2020). Dentre os tipos de carcinomas, o de colo do útero é o terceiro mais frequente na população feminina do Brasil, atrás apenas do de mama e do colorretal (INCA, 2022).
Segundo o INCA (2022), a estimativa para 2023 de novos casos de neoplasia de colo de útero pode chegar à marca de 17.010, representando, em média, 13,25 casos a cada 100 mil mulheres brasileiras. Essas altas taxas estão relacionadas, principalmente, aos locais com baixos índices de desenvolvimento. A região Norte
representa o maior índice de casos de câncer do colo do útero, apresentando uma taxa de 16,77/100.000 mulheres. Essa alta incidência está associada, principalmente, ao estado do Amazonas, com estimativa de 610 novos casos, representando, em média, 27,63 a cada 100 mil mulheres amazonenses (INCA, 2022; VAZ et al., 2020).
O câncer do colo uterino (CCU) ocorre através da desordem na replicação do epitélio de revestimento do útero. Apresenta-se em dois principais tipos, sendo eles: carcinoma epidermóide, que acomete o epitélio escamoso, ou seja, a região da ectocérvice, parte externa do colo do útero. Também, o adenocarcinoma, que acomete o epitélio glandular, região endocérvice, parte interna, sendo esse mais raro. Ambos estão associados à infecção persistente por tipos oncogênicos do Papiloma Vírus Humano (HPV) (BRASIL, 2013).
Alguns fatores favorecem o desenvolvimento dessa neoplasia, sendo o principal deles a infecção pelo Papilomavírus Humano tipos 16 e 18, principalmente quando associado a outros fatores alarmantes, como tabagismo, imunossupressão, múltiplos parceiros, uso de contraceptivos orais e iniciação precoce da vida sexual (BRASIL, 2013; INCA, 2022).
O enfermeiro, na atenção primária, torna-se protagonista para controlar e prevenir o CCU, sendo responsável pela realização da consulta de enfermagem, a coleta do exame preventivo e exame clínico das mamas, solicitar exames complementares e prescrever medicações, conforme protocolos e outras normativas técnicas estabelecidas pelos gestores, observadas as disposições legais da profissão
(COFEN, 2011).
Diante do exposto, este trabalho visa responder a seguinte questão norteadora: quais os fatores que levam as mulheres a não realização do exame Papanicolau, discutindo o enfrentamento do enfermeiro no Amazonas na prevenção do câncer do colo do útero?
METODOLOGIA
A metodologia empregada refere-se a uma Revisão Integrativa de Literatura, que consiste na avaliação e na síntese de evidências sobre determinados acontecimentos. As evidências fundamentadas a partir desse tipo de estudo proporcionam observar a construção e a elaboração de intervenções efetivas na
assistência em saúde, em enfermagem, durante diferentes ciclos da vida (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).
A busca dos estudos ocorreu no período de fevereiro a abril de 2023. Os materiais foram coletados nas bases de dados eletrônicos Scientific Electronic Library Online (SciELO), Acervo+ index base e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), usando os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): neoplasias do colo do útero e enfermagem, teste de Papanicolau.
Ao todo, foram encontrados 85 artigos e, para isso, foram usados os seguintes critérios de inclusão: artigos publicados nos últimos 04 anos (2018 a 2021), que apresentassem em sua discussão considerações sobre os fatores que influenciam a não realização do exame Papanicolau. E como critérios de exclusão foram usados: trabalhos que estavam fora do ano de publicação e que faltavam a compatibilidade com o tema.
Portanto, com a utilização desses critérios, foram selecionados, ao todo, 06 artigos e 79 foram excluídos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Mediante a busca dos artigos, respeitando os critérios de inclusão e exclusão, alcançou-se a totalidade de 06 artigos, os quais contribuíram com os resultados estabelecidos para a temática desta revisão. Estes artigos encontram-se descritos de acordo com os autores; o título e o ano; objetivo; e fatores que influenciam a não realização do exame, conforme o quadro 1:
Quadro 1: Artigos selecionados para os resultados
Autores | Título/Ano | Objetivo | Fatores que influenciam a não realização do exame |
Carvalho, Altino e Andrade | Título: Motivos que influenciam a não realização do exame de Papanicolau segundo apercepção de mulheres. Ano: 2018 | Analisar os motivos que influenciaram um grupo de mulheres a não realizarem o exame Papanicolau mesmo após iniciarem a atividade sexual. | Falta de profissionais capacitados, atendimento ruim, cuidados prévios que antecedem o exame, falta de disponibilidade de tempo e vergonha. |
Onofre, Vieira e Bueno | Título: Principais fatores que dificultam a adesão ao exame de citologia oncótica: uma revisão de literatura Ano: 2019 | Analisar os principais fatores que dificultam a adesão ao exame de citologia oncótica. | Medo, vergonha, cultura, baixa renda, baixa escolaridade, falta de vínculo do profissional com o paciente, falta de preparo do profissional, desconhecimento sobre a patologia, o exame e o seu próprio corpo. |
Nascimento, Nascimento e Araújo | Título: Fatores associados à não adesão do exame de colpocitologia oncótica cervical na atenção primária Ano: 2021 | Identificar fatores que levam mulheres a não aderirem ao exame preventivo, que pode ser realizado na atenção primária à saúde. | Falta de informação, medo, vergonha, questões culturais e condições socioeconômicas da mulher. |
Silva et al. | Título: A importância do exame Preventivo de Câncer de Colo de Útero e os fatores relacionados a não adesão Ano: 2021 | Identificar o perfil das mulheres atendidas em uma Unidade Básica de Saúde, a periodicidade de realização do PCCU e os fatores que influenciam a não adesão ao exame. | Desconhecimento da importância e necessidade da realização frequente do exame de rastreamento, falta de tempo, vergonha, desinteresse, dificuldade de acesso ao serviço de saúde, medo do procedimento e por medo de descobrir o câncer. |
Marques e Pedrozo | Título: Fatores associados a recusa do exame citopatológico por mulheres atendidas em Unidades Básicas de Saúde no Brasil Ano: 2021 | Identificar, através da literatura pertinente, os principais motivos pelo qual o exame citológico ainda possui baixa procura na Atenção Básica. | Idade mais avançada, medo e falta de informações. |
Gomes et al. | Título: Fatores que interferem na não adesão de mulheres ao teste de Papanicolau: revisão integrativa Ano: 2021 | Identificar os fatores que interferem na não adesão de mulheres ao Teste de Papanicolau. | Baixa escolaridade, não possuir companheiro, baixa renda, mulheres mais jovens, cor da pele não branca, histórico de uso de tabaco, álcool e outras drogas, estado de desnutrição, desemprego, vergonha ou medo do procedimento, difícil acesso ao teste, acreditar que está bem de saúde, comportamento negativo de saúde, sofrer violência física ou sexual pelo companheiro, falta de conhecimento sobre o exame, nunca ter ido ou ir pouco a consulta de enfermagem/médica/ginecológica. |
Fonte: Elaborado pelas autoras (2023)
A importância do exame Papanicolau na prevenção do câncer de colo do útero
Foi em 1928 que Georgios Papanikolaou, médico grego, publicou o primeiro estudo de sua nova descoberta, um exame capaz de detectar precocemente células cancerígenas no colo do útero, porém, a inovadora descoberta foi contestada pela comunidade científica da época, sendo validada apenas em 1943. Com o passar dos anos, o exame Papanicolau foi ganhando cada vez mais visibilidade e credibilidade, tornando-se imprescindível para o rastreamento e diagnóstico precoce do CCU, atuando com alta eficácia na prevenção e controle de lesões cancerígenas que ocorrem na região cérvico-uterina (MORAIS et al., 2021; CHANDRASEKHAR; KRISHNAMURTI, 2018).
Esse exame é a principal estratégia para detecção de lesões e a realização de diagnósticos precoce, antes mesmo da apresentação de sintomas. É fundamental que os serviços de saúde orientem em relação ao que é e a importância do exame Papanicolau, pois sua realização periódica permite a identificação de lesões iniciais, contribuindo para a redução da mortalidade do câncer do colo do útero (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011).
No ano de 2019, os estados do Pará e Amazonas apresentaram os dados mais alarmantes de toda a região Norte, foram registrados 194 óbitos decorrentes do câncer do colo uterino, no hospital de referência Fundação Centro de Controle do Câncer do Amazonas. Nesse mesmo ano, no Estado do Amazonas, a realização do exame Papanicolau proporcional a estimada apresentou um déficit de -65,36% comparado ao que seria necessário ser realizado anualmente (SOUSA et al., 2021).
Segundo a World Health Organization (WHO), a detecção precoce é o principal meio para rastrear neoplasias no estágio inicial, proporcionando um melhor prognóstico da doença e tornando-se indiscutível a orientação acerca dessa prevenção (WHO, 2022).
Principais fatores que influenciam a não adesão do exame Papanicolau
Dentre os diversos fatores que influenciam a não adesão do exame descrito nos artigos, apontam-se como os principais: medo, vergonha, desinformação, fatores culturais e socioeconômicos. Outros fatores citados que implicam na não adesão ao exame são a ausência de vínculo do profissional com a paciente e o desconhecimento da gravidade que é a patologia, além de não conhecerem a anatomia do próprio corpo (NASCIMENTO; NASCIMENTO; ARAÚJO, 2021; ONOFRE; VIEIRA; BUENO, 2019). Outro fator relevante citado pelas autoras possui relação com as barreiras de acesso por conta da geografia da região e, com isso, a falta de poder aquisitivo para locomoção até alguma unidade de referência, que por muitas das vezes fica localizada em outro município ou até mesmo na capital do estado (CARVALHO; ALTINO; ANDRADE, 2018; NASCIMENTO; NASCIMENTO; ARAÚJO, 2021). A falta de interesse para realização do exame Papanicolau se dá por conta das mulheres não enxergarem a importância de terem esse autocuidado, por não apresentarem sintomas relacionados à doença ou até mesmo não terem algum histórico familiar. Essa falsa percepção compromete a assiduidade das mulheres com relação ao seu autocuidado, podendo causar até a descontinuidade da assistência (SILVA et al., 2021).
Também foi visto que mulheres em faixas etárias mais avançadas possuem uma falsa percepção de que não necessitam mais realizar o exame, seja por não manterem mais vida sexual ativa ou por estarem na menopausa, porém mesmo com essas questões, o exame ainda se torna indispensável, devendo ser realizado uma vez a cada ano ou conforme necessário (GOMES et al., 2021; MARQUES; PEDROZO, 2021).
O papel do enfermeiro no Amazonas frente a prevenção do CCU
É imprescindível o papel do enfermeiro frente às ações preventivas do câncer do colo uterino. Essas ações se dão através da coleta satisfatória, segura e confortável do exame Papanicolau, educação em saúde voltadas para a conscientização a respeito da importância do exame, a busca ativa do público-alvo, identificando seus perfis socioeconômicos, assim como suas culturas. Um dos motivos citados na influência da não adesão do exame preventivo foi a falta de conhecimento, diante disso, torna-se indispensável a disseminação de informações esclarecedoras sobre o procedimento em si e sua importância na prevenção do CCU, de modo a tornar favorável a adesão das mulheres na realização do exame (NASCIMENTO, 2021).
Tratando-se do enfermeiro que atua no Amazonas, todos os cuidados que precedem a realização do exame se tornam essenciais, levando em consideração as particularidades da região (VAZ et al., 2020).
O estado do Amazonas enfrenta um grande desafio relacionado às desigualdades regionais, afetando principalmente a população residente em áreas ribeirinhas ou que sejam mais afastadas dos centros urbanos. Devido a essas questões geográficas, ocorre uma dificuldade no acesso dessa população aos serviços de saúde. Nesse contexto, torna-se crucial a incrementação das políticas públicas voltadas a essas cidades localizadas mais distantes da área urbana (GAMA et al., 2018; VAZ et al., 2020).
CONCLUSÃO
Os resultados obtidos no presente estudo apontam que dentre todos os tipos de câncer, o do colo do útero é uma das neoplasias mais incidentes no Brasil, destacando-se na região Norte, sobretudo no estado do Amazonas. Assim, é importante reavaliar a questão para evitar maiores problemas de saúde pública.
O estudo mostra que dentre todos os fatores que influenciam a não adesão do exame Papanicolau, os principais e mais relatados foram: medo, vergonha, falta de informação, falta de conhecimento, questões socioeconômicas, além das dificuldades de acesso aos serviços de saúde. Diante disso, é de suma importância a atuação do enfermeiro no papel da prevenção, fortalecendo a atenção primária. No geral, os resultados sugerem que a prevenção primária é a alternativa mais viável ao combate do CCU. Dentre essas, estão as ações educativas realizadas pelo enfermeiro a fim de inteirar a população feminina acerca da importância e necessidade da realização do exame Papanicolau, além da relevância em relação a conhecer as particularidades de cada região, cultura e crenças. Quanto à prevenção secundária, essa está mais relacionada ao rastreamento precoce de quaisquer lesões pré cancerígenas através do exame Papanicolau.
É notória a necessidade de investimentos em estratégias para o controle do câncer de colo do útero e de medidas educativas, tanto para a população quanto para os profissionais de saúde, a fim de maximizar as ações de prevenção e promoção da saúde, visando diminuir os dados alarmantes de câncer cérvico-uterino no Brasil e na região Norte.
REFERÊNCIAS
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1Acadêmica de Graduação em Enfermagem da Universidade Nilton Lins (UNL), Manaus, Amazonas, Brasil.
2Acadêmica de Graduação em Enfermagem da Universidade Nilton Lins (UNL), Manaus, Amazonas, Brasil.
3Orientadora. Enfermeira Especialista em Urgência e Emergência, Pós-Graduada em Docência do Ensino Superior e Docente da Universidade Nilton Lins (UNL), Manaus, Amazonas, Brasil.
4 Coorientadora. Enfermeira Especialista em UTI Neo e Pediátrica, Ginecologia e Obstetrícia. Pós graduada em Docência do Ensino Superior e Docente da Universidade Nilton Lins (UNL), Manaus, Amazonas, Brasil.