O CORO COMO ATIVIDADE EDUCACIONAL: PERSPECTIVAS E DESAFIOS NA ATIVIDADE CORAL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7301989


Danison D’ Johnson Alves Da Silva;
Jairo Aurélio de Deus Sousa
Orientação do Prof. Dr. Ednardo Monteiro Gonzada do Monti


RESUMO: O presente artigo tem como objetivo principal apresentar os desafios referentes a pratica coral no âmbito educacional. Neste sentido, trata-se de um levantamento bibliográfico, através da análise de pesquisas que tratam sobre a presença do canto e da atividade coral como elemento de relevância educacional. Como questionamento principal, viabiliza a seguinte questão: como perceber a relevância da atividade coral no âmbito educacional, visto que este tipo de atividade possui características que conduzem para uma prática de performance. Assim, este trabalho se justifica pela importância de perceber a prática coral como atividade que ultrapassa as funções puramente musicais, integrando outras contribuições para os que participam dela, seja o regente ou corista. Para a discussão teórica destacam-se as ideias de autores como Belotti (2014), Figueiredo (2005), Fucci amato (2007), Specht (2007).

Palavras- chave: Prática Coral; Regente- Educador (a); Corista; Educação Musical

ABSTRACT: The present article has as the main goal to present the challenges of choral practices in educational perspectives. So that, it was made a bibliographic research through analyzing researches which approach the singing teaching and learning and choral activity as an important educational aspect. As the main question, it is asked: how to perceive the importance of choral activity in education, considering its performance characteristics. Therefore, that paper is justified for importance to understand the choral practice as activity which exceed only music function, involving others contributions both conductor as singer. For theory discussion, it is taken authors as Belotti (2014), Figueiredo (2005), Fucci amato (2007), Specht (2007).

Keywords: Choral Practice; Conductor- Educator; Choral Singer; Music Education.

INTRODUÇÃO

O aprofundamento na compreensão dos diversos aspectos relacionados a prática coral como atividade educacional viabiliza a possibilidade de apresentar os desafios e as perspectivas que envolvem este tipo de atividade nos diferentes níveis educacionais e espaços de realização desta modalidade de atividade musical. Assim, relaciona-se algumas temáticas que envolvem o ensino do canto, como: a técnica vocal, o educador-regente, os diversos tipos de formação para coro ou grupos de canto, aponta-se como problemática principal o seguinte questionamento: como direcionar os desafios que envolvem a atividade coral considerando os diversos espaços onde se inserem a pratica do coro como atividade educacional.

Entretanto, perceber a atividade coral como relevante contribuição no âmbito educacional requer discutir os aspectos sociais, educativos, culturais, terapêuticos além dos aspectos musicais como sonoridade, interpretação, técnica vocal, e a relação entre o canto e o corpo.

Para tanto, o presente artigo tem como objetivo principal apresentar os principais desafios e as perspectivas envolvidas na realização da atividade coral na educação musical.Considerando os diversos espaços e realização da prática coral como ferramenta educacional, acredita-se na importância de perceber e discutir como esta pratica se dimensiona a partir das características próprias dessa atividade. Para a realização desta pesquisa, utilizou-se o levantamento bibliográfico de pesquisas e obras que discutem e apresentam a prática coral no âmbito educacional, destacando autores como Belotti (2014), Figueiredo (2005), Fucci amato (2007), Specht (2007).

Deste modo ressalta os pontos a serem discutido, sendo eles: 1-a utilização do canto na educação musical como alicerce para a prática do canto coral; 2- a utilização da prática coral no âmbito educacional; 3- regente coral ou/e educador musical?: a qualificação profissional como elemento relevante na formação musical do coro.

Através da abordagem de cada tópico, pretende-se apresentar os diversos aspectos que constituem e que caracterizam a prática coral no âmbito educacional, além de sua contribuição como atividade de integração social entre os participantes desta atividade musical.

1. A UTILIZAÇÃO DO CANTO NA EDUCAÇÃO MUSICAL COMO ALICERCE PARA A PRÁTICA DO CANTO CORAL

A utilização da voz como meio de expressão viabiliza a pratica do canto como uma relevante ferramenta no âmbito musical. A presença da melodia com sentido fraseológico ou até mesmo improvisado pode afetar os estados emocionais, sentimentais e afetivos do indivíduo.

Entretanto:

O elemento sonoro fundamental e mais natural da expressão humana é a voz. Desde a mais tenra idade, nos balbucios, nas manifestações de alegria, dor, clamor e outros e até os mais elaborados modos da fala e da expressão musical, o homem teve na voz o elemento fundamental da expressão humana. (BELOTTI, 2014, p. 38)

Historicamente, a voz humana foi considerada um instrumento fundamental e de referência aos demais instrumento na pratica musical, no entanto, neste sentido

“A organologia mostra que os instrumentos melódicos surgem como clones da voz humana. Na história, durante muito tempo, a voz foi o mais perfeito e acabado instrumento musical, servindo de modelo para os outros instrumentos, que quase sempre se restringiam a dobrar a melodia cantada”. (SPECHT, 2007, p. 36).

Além disso,

A voz é o único “ instrumento “ que tem o privilégio de unir o texto à música. Porém, o canto visto como instrumento apresenta como principal característica a tentativa de aproximação da voz a um instrumento melódico, cuja qualidade está no timbre (muitas vezes determinado pelo estilo bel canto, na duração do som, na intensidade e na altura (SPECHT, 2007, p. 36 )

No âmbito o canto individual e a utilização da voz como meio relevante para vivência musical se fazem presente nas ideias e nos métodos de educadores como Kodály, Dalcroze, entre outro, assim:

O canto, individual ou em grupo, é indicado para o contato direto com a música, e na opinião destes educadores musicais, representa uma proposta acessível a todos que contribui de forma eficiente para o desenvolvimento musical. Assim, as considerações sobre a presença do canto coral na escola a partir do pensamento de Villa Lobos e Kodály, bem como o uso da voz, diante das ideias de Willems e Orff, aplicam-se como possibilidades de efetivar a presença da música no contexto escolar. (NAJLA, p. 16).

No método Kodály a utilização da voz se apresenta como elemento fundamental para vivência musical portanto

“ a proposta de Kodály é essencialmente estruturada no uso da voz (…) ´para Kodály e seus colaboradores, o cantor envolve três tipos de materiais musicais: i. canções e jogos infantis cantados na língua materna; ii. Melodias folclóricas nacionais (com futuro acréscimo de melodias de outras nações); iii. temas derivados do repertório erudito ocidental.

Neste sentido, destaca-se o canto instrumental e o canto falado e/ou com a presença de um texto, mais comumente chamado de canção. A utilização do canto instrumental implica no uso do recurso da voz sem a necessidade de um texto. No caso da canção, música e poesia se apresentam como expressão através da voz. No entanto, a utilização da voz como meio e forma de expressão se faz presente desde a infância influenciando na exteriorização dos aspectos emocionais do indivíduo:

O aspecto emocional é de suma relevância no que se refere à exteriorização da voz. Deve-se levar em conta que a criança é um ser pensante, constituída de sentimentos, capaz de perceber as constantes mutações do mundo que a cerca. Não se pode pensar que o mundo da criança é um faz de conta sem fim, onde se misturam, na sua fantasia, duendes, fadas e bruxas. O universo infantil é habitado também por pessoas de sua estima e de grande significação para ela. (BELOTTI, 2014, p. 39)

Pode se perceber na citação acima, mesmo se tratando de uma faixa etária especifica, neste caso o da criança, o fato de que a exteriorização da voz possibilita o reconhecimento dos estados emocionais do indivíduo, sendo a compreensão destes estados, fator de relevância para a organização de uma proposta educacional que contenha o trabalho do canto como principal tema.

Ressalta-se, ainda, que a prática do canto constitui-se numa atividade permanente na educação infantil, principalmente, presente nas cantigas de roda, nos mimos, acalanto, parlendas e brincos.

De acordo com Brito:

É lugar-comum dizer que a voz é o nosso primeiro instrumento! Instrumento natural que é meio de expressão e comunicação desde o nascimento. O bebê chora para comunicar desconforto, fome ou necessidade de ser levado ao colo, de ser acarinhado, ninado. Está atento para ouvir os sons vocais ao redor e responder a eles, à voz da mãe, do pai ou de qualquer adulto responsável por seus cuidados. O contato que o bebê estabelece com os adultos e a possibilidade de imitar, inventar sons vocais e responder a eles são muito importantes para o seu desenvolvimento afetivo, cognitivo, e obviamente, musical.

O uso da voz como instrumento e como meio para prática coral como formação musical e educacional relaciona-se com a técnica vocal que possibilita o aprimoramento do uso da voz como recurso musical. Neste sentido:

A técnica vocal trabalha a voz cantada visando ao aprimoramento de suas qualidades sonoras. As qualidades da voz podem ser modificada voluntariamente pelo cantor e também podem acontecer ao mesmo tempo ou isoladamente. No canto, elas dependem da duração, motivo pelo qual é preciso desenvolver uma tonicidade e uma agilidade muscular que possibilitem essa exigência. (BELLOTTI, p. 23)

Contudo, enfatiza-se que cada indivíduo possui características próprias no ato de cantar, de interpretar, nos aspectos timbristicos, bem como a uma tessitura vocal especifica, assim, acredita-se ser relevante que o professor- regente esteja atento a esse no sentido de estar redimensionando a realização do trabalho coral, além disso “No ensino do canto, sabe-se que nenhuma voz é igual á outra, porem existe um processo de classificação, de enquadramento para poder viabilizar o trabalho e, sobretudo, não prejudicar o aluno, permitindo um desenvolvimento vocal saudável e produtivo” (idem, p. 25).

A pratica do canto, seja individual ou coletiva, viabiliza uma relação de interdependência entre as contribuições do professor de canto e/ou professor-regente e o próprio aluno (a) de canto ou corista. Neste sentido, é possível ressaltar que o aluno (a) de canto se situa num ponto de autonomia e de auto-crítica em relação ao seu trabalho vocal e as diferentes formas de aprimorar as suas qualidades vocais através do controle auditivo através de uso de técnica apropriada (SPECHT, 2007, p. 36), assim:

A voz cantada é trabalhada visando a um aprimoramento de suas qualidades. E, como já se disse antes, as qualidades da voz podem ser modificadas voluntariamente pelo cantor e também podem acontecer simultânea e isoladamente. No canto, elas dependem da duração, motivo pela qual é preciso desenvolver uma tonicidade e uma agilidade muscular que possibilite em essa exigência. É frequente o cantor modificar a qualidade de sua voz através do controle auditivo.

Outro aspecto relevante no ensino do canto é a classificação vocal, que se realiza, principalmente, com vozes adultas. Assim aponta-se a necessidade do professor- regente possuir formação adequada para este tipo de atividade, considerando, as possíveis dificuldades e reconhecimento da classificação vocal de um indivíduo, além da mudança e classificação vocal de acordo com tipo de repertório e de escola de canto a ser utilizada, à saber, a italiana, alemã, francesa, brasileira, dentre outras.

Para Bellotti:

A classificação vocal é sempre uma tarefa delicada para o professor de canto, uma vez que tanto os homens como as mulheres podem ter vozes graves, medias e agudas. É a partir dessa classificação que os vocalises e o repertorio serão definidos. Existem vozes que podem ser imediatamente classificadas, mas a grande maioria só é possível de classificação após meses de trabalho técnico. Em geral, os professores de canto, intuitivamente, confiam no seu ouvido, na facilidade do aluno para o grave ou para o agudo, na tessitura e no timbre (p. 25).

Portanto, a relevância de um trabalho vocal direcionado pelo professor de canto ou professor-regente no ensino de canto para uma prática coral do corista ou cantor (a) requer um processo de ensaio-aprendizagem que viabilize o aprimoramento da técnica vocal, de repertório, de uma classificação vocal adequada ao corista e de uma autonomia por parte do aluno (a) de canto em direção a uma prática que tanto professor (a) como aluno (a) contribuíam como agente ativos na vivência musical.

2. A UTILIZAÇÃO DA PRÁTICA CORAL NO AMBITO EDUCACIONAL

A educação musical se constitui como área de atuação e do conhecimento científico propiciando a realização de diversas práticas musicais, sejam instrumentais e /ou de canto, assim o coro se apresenta como relevante forma de ensino e aprendizagem, através de propostas educacionais que valorizem a integração do ser e a sua educação estética musical.

A prática coral acompanha a formação musical em diversos níveis. São comuns as práticas corais infantis e infanto-juvenis em escolas regulares e escolas de música, assim como os cursos superiores que formam bacharéis e licenciados em música normalmente incluem algum tipo de prática coral. Parece haver uma compreensão de que tal prática tem um papel a desempenhar na formação musical dos indivíduos (FIGUEIREDO, p. 363)

Neste sentido, percebe-se a prática coral benefecia não somente, individuos inseridos na esfera da educação musical, seja em escolas especializadas ou escolas de educação básica, como também como meio de integração social através da convivência em grupo, bem como atividade para indivíduo que exercem funções em ambientes fora do eixo educacional.

No Brasil, uma das primeiras propostas no intuito de musicalizar as crianças e jovens foi a implantação do Canto Orfeônico pelo compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos, assim, segundo o próprio compositor ressaltando a importância ato de cantar (com finalidades) no âmbito educacionais afirma que:

É indispensável orientar e adaptar, nesse sentido, a juventude dos nossos dias, e começarmos este trabalho (de educar musicalmente) muito cedo com as gerações mais novas, sobretudo as crianças de cinco a quatorze anos. Seu fim não é o de criar artistas nem teóricos de música senão cultivar o gosto pela mesma e ensinar a ouvir. Todo mundo tem capacidade para receber ensinamentos, pois sendo capaz de emitir esses sons para falar, pode emiti-los também para cantar; (PAZ, p. 14)

A inserção e participação do indivíduo no compartilhamento de uma vivencia musica coletiva se fortalece através da pratica do coro:

Salienta-se que os trabalhos desenvolvidos dentro do coral desempenham importante papel na criação de uma nova leitura da realidade musical, não veiculada pelos meios de comunicação, na qual o conhecimento de novos repertórios e de uma nova prática de lazer produz efeitos colaterais para o indivíduo criar interesse para ouvir outros corais, assistir a concertos e participar outros eventos de natureza artística, redefinindo o seu papel e a sua posição na sociedade. (FUCCI AMATO, 2007, p. 92, 93).

Com relação ao coro no âmbito educacional, “A educação musical dentro do canto coral pode ser concebida a partir da ampliação do entendimento das possibilidades de desenvolvimento musical e vocal individual, o que certamente reflete na qualidade da produção musical do coro e permite o cultivo de expectativas de realização em nível crescente de execução. (FUCCI AMATO, 2007, p. 91). ”

Assim, o elemento fundamental da prática do coro, parte do ato de cantar, como meio de expressão, afetivo e intelectual, valorizando os aspectos psicológicos, físicos, culturais e espirituais.

As funções da atividade coral podem ser bastante diversas. O objetivo de cantar em coral pode estar relacionado ao desenvolvimento de habilidades técnicas, por exemplo, abrangendo questões de leitura musical, percepção de elementos sonoros, técnica vocal e assim por diante. A prática coral também pode contribuir para a ampliação do universo sonoro dos participantes através da realização de repertório diversificado. E também pode relacionar-se a experiências de performance em grupo através de apresentações públicas dos trabalhos realizados. Todas estas funções, e outras que poderiam ser agregadas, podem ser observadas em diversos tipos de corais (FIGUEIREDO, 2005, p. 363).

No entanto, a prática coral pode ser realiza em diferente em diferentes níveis educacionais, desde a educação infantil à educação superior, assim:

A prática coral acompanha a formação musical em diversos níveis. São comuns as práticas corais infantis e infanto-juvenis em escolas regulares e escolas de música, assim como os cursos superiores que formam bacharéis e licenciados em música normalmente incluem algum tipo de prática coral. Parece haver uma compreensão de que tal prática tem um papel a desempenhar na formação musical dos indivíduos (FIGUEIREDO, 2005, p. 363).

É necessário enfatizar que abordagem nos diferentes níveis contemplem aspectos didáticos- pedagógicos específicos as características do nível escolar do grupo, assim a prática coral realizada com alunos do Ensino Fundamental I e com alunos (as) de graduação em Educação Musical, se dariam de forma diferenciada, já que, mesmo se tratando de prática, os públicos possuem caracteristicas diferentes.

Observa-se que, mesmo quando o objetivo final da prática coral não seja musicalizar o indivíduo e sim oportunizar a integração, as relações interpessoais e a terapia grupal, contudo, a ideia de se cantar com uma boa emissão da voz, precisão rítmica e entoação agradável tráz ao ensaio motivos suficientes para a prática de atividades que redundem numa melhor apresentação do grupo.

A diversidade de repertório também se constitui num aspecto imprescindível para a realização do canto coral nos diferentes níveis, sendo que o repertório deve estar associado as experiência musicais e culturais do alunos (as), a sua faixa- etária, bem como a características da instituição musicai, ou seja, o trabalho do coro em conservatórios poderá ter objetivos diferentes de uma mesma prática realizada em uma escola de ensino regular.

O desenvolvimento musical, de um modo geral, também está associado à prática coral na medida em que diversos conceitos musicais são desenvolvidos e exercitados ao longo do trabalho coral. A variedade de repertório propicia o contato com estilos diversificados que conservam suas particularidades em termos de interpretação musical. Há repertórios que enfatizam a execução polifônica, outros reforçam a idéia da melodia acompanhada, e assim por diante. Cada época tem suas especificidades, e a experiência com repertório diversificado só pode enriquecer a vivência de quem participa de um grupo coral (FIGUEIREDO, 2005, p. 365b).

Os aspectos sócios- culturais se encontram no repertório a ser utilizado, pois de fato, na relação entre música coral, a poesia e seus elementos constituem de aspecto indissociável para a pratica do canto coral, assim:

O coral desvela-se assim como uma extraordinária ferramenta para estabelecer uma densa rede de configurações sócio-culturais com os elos da valorização da própria individualidade, da individualidade do outro e do respeito das relações interpessoais, em um comprometimento de solidariedade e cooperação. Todos essas interfaces inerentes ao desenvolvimento do trabalho de educação musical em corais contribuem para a inclusão e integração social (FUCCI AMATO, 2007, p. 80).

Resumindo a prática coral no âmbito educacional, ressalta-se que:

O canto coral se constitui em uma relevante manifestação educacional musical e em uma significativa ferramenta de integração social. Os trabalhos com grupos vocais nas mais diversas comunidades, empresas, instituições e centros comunitários pode, por meio de uma prática vocal bem conduzida e orientada, realizar a integração (entendida como uma questão de atitude, na igualdade e na transmissão de conhecimentos novos para todas as pessoas, independente da origem social, faixa etária ou grau de instrução, envolvendo-as no fazer o “novo”) entre os mais diversos profissionais, pertencentes a diversas classes socioeconômicas e culturais, em uma construção de conhecimento de si (da sua voz, de cada um, do seu aparelho fonador) e da realização da produção vocal em conjunto, culminando no prazer estético e na alegria de cada execução com qualidade e reconhecimento mútuos (enquanto fazedores de arte e apreciados por tal, por exemplo, em apresentações públicas).Além disso, os conhecimentos adquiridos pelos participantes do coral influenciam na apreciação artística e na motivação pessoal de cada um, independentemente de sua faixa etária ou de seu capital cultural, escolar ou social ( FUCCI AMATO, 2007, p. 77).

No presente tópico analisou-se a importância da prática coral na educação musical de um modo geral, observando da possibilidade do trabalho coral em diferentes níveis e espaços educacionais. Além disso, acredita-se que o coro constitui-se numa ferramenta relevante no trabalho de educação musical que valorize os aspectos culturais e individuais do ser, no sentido de possibilitar uma educação musical e estética.

3. REGENTE CORAL OU/E EDUCADOR MUSICAL?: A QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL COMO ELEMENTO RELEVANTE NA FORMAÇÃO MUSICAL DO CORO

A prática coral requer a formação de um profissional qualificado para atuar como coros, em espaços educacionais, favorecendo assim, a realização de um trabalho didático- pedagógico que contemplem conhecimentos inerentes a pratica do canto coral e da possibilidade de trabalhar de forma pluridisciplinar, multidisciplinar e interdisciplinar.

Assim:

O canto coral configura-se como uma prática musical exercida e difundida nas mais diferentes etnias e culturas. Por apresentar-se como um grupo de aprendizagem musical, desenvolvimento vocal, integração e inclusão social, o coro é um espaço constituído por diferentes relações interpessoais e de ensino-aprendizagem, exigindo do regente uma série de habilidades e competências referentes não somente ao preparo técnico musical, mas também à gestão e condução de um conjunto de pessoas que buscam motivação, aprendizagem e convivência em um grupo social (FUCCI AMATO, 2007, p. 75).

Refletindo sobre o papel do regente e as diferentes características que representam o trabalho com o coro, como a técnica vocal, a socialização entre os integrantes, enfatiza-se a relevância do regente atuar como um profissional que exerce além da função de regência, atuando como educador, assim:

Pode se dizer que o regente, além da regência propriamente dita, encontra nos cantores com os quais trabalha o seu instrumento de performance. Assim, mais do que em qualquer outra área de atuação, portanto, a prática docente precisa estar presente nesta relação, pois um coral depende de orientação equilibrada para atingir níveis satisfatórios de execução musical. A excelência na performance, portanto, estaria estreitamente vinculada ao propósito da atividade (JUNIOR).

Neste sentido, o regente direciona a sua atuação, não apenas para a performance e para a prática de repertório, mas realizando um trabalho focado no ensino-aprendizagem da vivência musical como meio de formação educacional:

Daí, a questão da educação musical ser realmente fundamental para o regente de coros, independentemente do fato de ser professor ou não, pois para ele, ao contrário do que ocorre com o instrumentista que não pretende atuar na docência, cuja relevância, neste caso, é secundária, o ensino e a aprendizagem são basilares enquanto mecanismos inerentes à sua função, justamente por serem os únicos meios capazes de transformar os sujeitos envolvidos no respectivo processo. (D’ assumpçã)

Entretanto, com relação a qualificação, percebe-se os desafios da realização da prática coral nas escolas e da necessidade uma qualificação do profissional:

Além disso, a importância crescente que a prática vocal em conjunto tem na formação musical dos indivíduos, principalmente nesses tempos em que a escola já não desempenha essa função, é notável e merece destaque por parte de todos os setores da sociedade. Todavia, a busca pela excelência dessas práticas ainda constitui um desafio à atuação de universidades e profissionais dedicados ao tema, no sentido de desenvolver projetos de (re)qualificação profissional dos responsáveis pelo trabalho educativo-musical, habilitando-os para um ensino de qualidade e, conseqüentemente, para melhor manusearem essa significativa ferramenta de desenvolvimento de múltiplas habilidades e competências que é o canto coral (FUCCI AMATO, 2007, p.93).

Portanto, segundo a mesma autora:

O regente de um coral deve atuar com a perspectiva de realizar um trabalho de educação musical dos integrantes de seu grupo. Para a condução de um trabalho artístico que envolve um grupo diversificado como um coral, faz-se necessária a capacidade de estabelecer critérios, motivar cada um de seus integrantes, liderá-los e levá-los a uma meta estabelecida. A partir desse processo, pode-se gerar e difundir conhecimentos musicais e vocais, estimulando a propriocepção e o aumento da qualidade de vida dentro de uma comunidade. (FUCCI AMATO, 2007, p. 76, 77)

Neste sentido, o regente de coro realiza, também, o papel de educador musical visto que a prática coral se caracteriza por uma atividade eminentemente coletiva, e que envolve além da prática canto, a aquisição de conhecimento musicais, o trabalho motivacional constante para a continuidade do grupo, e a formação cultural através da contextualização do repertório a ser apreendido.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Discutir sobre os desafios e as perspectivas da prática coral no âmbito educacional impõe a necessidade de compreender essa prática por meio das suas características e dos profissionais que atuam seja como regente seja como corista. Enfatiza-se que participar de um grupo coral não significa apenas cantar um determinado repertório, mas que neste processo de prática musical, outros aspectos se encontram envolvidos tais como: a integração social; a motivação dos participantes; a educação estética-cultural através do repertório escolhido, e a aprendizagem dos elementos musicais, de percepção musical, de leitura de partitura, de teoria musical, de história da música e de técnica vocal.

Para tanto, acredita-se tornar relevante a contribuição não- hierárquica entre regente-professor e corista-educando, cuja atuação de ambos se apresentam como elementos fundamental para uma prática musical em constante processo de aperfeiçoamento e de ressignificação em cada vivência através do canto.

REFERÊNCIAS

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SPECHT, Ana Claúdia. O ensino do canto segundo uma abordagem construtivista; investigação com professoras de educação infantil. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007.