O CONTO DA AIA E O DESRESPEITO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NOS REGIMES DITATORIAIS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7396013


Luiz Fernando Mendes*


Resumo:

O objetivo deste estudo é demonstrar como os direitos fundamentais são afetados na  utopia “O Conto da Aia” e nas sociedades que vivem sob governos autoritários através de um  comparativo. A partir da leitura da obra “O Conto da Aia”, foi possível observar várias  violações de direitos humanos e fundamentais que ocorreram na narrativa, de maneira  especial aos direitos das mulheres. A metodologia utilizada neste estudo foi a revisão  bibliográfica, fazendo uma análise do livro O Conto da Aia, no intuito de levantar  informações e dados qualitativos. Ao concluir o estudo, vislumbra-se que no Conto da Aia,  por meio do governo ditatorial as mulheres passaram a ser um patrimônio da nova sociedade,  sujeitas aos novos costumes e crenças, são consideradas somente objetos para atender às  demandas do novo governo que dá ordens sem qualquer resistência. Dessa forma, fortalece-se  a reflexão a respeito de até que ponto está perpetuando uma cultura que preconiza a  inferioridade da mulher, e que a impossibilidade de imaginar um futuro diferente não é apenas  uma particularidade do gênero, porém do mesmo modo a reeducação da sociedade em face de  uma cultura patriarcal. 

Palavras-chave: Conto da Aia. Direitos Fundamentais. Distopia. Regimes ditatoriais. 

Abstract:

The aim of this study is to demonstrate how fundamental rights are affected in the utopia “O Conto da Aia” and in societies that live under authoritarian governments through a  comparative. From the reading of the work “O Conto da Aia”, it was possible to observe several violations of human and fundamental rights that occurred in the narrative,  especially the rights of women. The methodology used in this study was the bibliographic review,  analyzing the book O Conto da Aia, in order to gather information and qualitative data. At the conclusion of the study, it can be seen that in Conto da Aia, through the dictatorial government,  women became a heritage of the new society, subject to new customs, and beliefs, they are considered only objects to meet the demands of the new government that gives orders without any resistance. In this way,  reflection is strengthened on the extent to which a  culture that advocates women’s inferiority is perpetuating, and that the impossibility of imagining a  different future is not only a gender particularity but also there-education of society in the face of a patriarchal culture. 

Key-words: Handmaid’s Tale. Fundamental rights. Dystopia. Dictatorial regimes. 

INTRODUÇÃO 

O desrespeito aos direitos fundamentais ainda é um fato presente nas sociedades. Esse  problema esbarra na própria existência com dignidade do ser humano, pois ter sua liberdade  cerceada e sua identidade suprimida é o mesmo que negá-lo a existência. Esse mal é ainda  mais escandaloso nos países que são governados por regimes ditatoriais, e aqui faço uma  ressalva, o intuito desse trabalho não é ser tendencioso a nenhum governo especifico e nem a  nenhuma ideologia política, é destinado somente a apresentar e demonstrar como os direitos  fundamentais sob governos autoritários não são garantidos e como isso afeta a vida das  pessoas, com uma abordagem técnica e cientifica, com base em dados e fatos, e fazer um  comparativo usando da brilhante obra de Margaret Atwood – The Handmaid’s Tale  (traduzido: O Conto da Aia). Diante do apresentado levantou-se o seguinte problema: Como  os direitos fundamentais são afetados na utopia “O Conto da Aia” e nas sociedades que vivem  sob governos autoritários? 

Assim, perante as questões evidenciadas, teve-se como objetivo geral demonstrar  como os direitos fundamentais são afetados na utopia “O Conto da Aia” e nas sociedades que  vivem sob governos autoritários através de um comparativo. O objetivos específicos foram  apresentar a utopia “o conto da aia” e dos governos ditatoriais: histórico e características;  demonstrar a importância dos direitos fundamentais e analisar o desrespeito aos direitos  fundamentais pelos governos ditatoriais e no conto da Aia 

A metodologia utilizada neste estudo foi a revisão bibliográfica na qual consiste na  pesquisa em livros e artigos científicos sobre o tema direitos humano-fundamentais e regimes  ditatoriais, fazendo uma análise do livro de ficção O Conto da Aia, no intuito de levantar  informações e dados qualitativos que corroborem com a tese defendida neste trabalho. 

1 DA UTOPIA “O CONTO DA AIA” E DOS GOVERNOS DITATORIAIS:  HISTÓRICO E CARACTERÍSTICAS 

Originalmente publicado em 1985, O Conto da Aia, (The Handmaid’s Tale) da autora  canadense Margareth Atwood, ganhou prêmios e indicações no mesmo ano do  Governor General’s, e o Arthur Clarke em 1987 em meio outros prêmios. O trabalho da autora Margareth Atwood foi publicado em 25 países, e traduzido para mais de 35 idiomas e  adaptado em séries de TV, filmes e óperas. Seu compromisso com a causa da liberdade e da  igualdade de direitos se reflete em seu trabalho (BARROS et al., 2020).  

Segundo Visentin (2019, p. 06), “o Conto da Aia tem a capacidade de ser classificado  como um estado distópico, local ou imaginado em que as pessoas vivem em qualidades de  extrema exploração, desespero ou escassez; antiutopia”, é um obra de ficção especulativa a  respeito de mundos que diferentes do mundo real de diversas e importantes formas. A história  acontece no contexto de uma economia inserida na região da Nova Inglaterra dos Estados  Unidos da América, um estado teocrático e totalitário estabelecido por fundamentalistas  cristãos que tomaram o poder depois dos ataques que levaram à morte do presidente e  membros do congresso norte-americano. 

A obra “O Conto da Aia” mostra uma sociedade privada de liberdade, na qual as  mulheres não são nem donas do próprio corpo, sendo incapazes de decidir sobre qualquer  coisa que lhes diga respeito, tendo apenas obediência a uma predeterminação a respeito das  quais nem mesmo foram consultadas. 

Quanto aos governos ditatoriais, tem-se que uma ditadura é aquela que não é  democrática ou antidemocrática, ou é um governo administrado por um indivíduo ou entidade  política sem participação popular ou cuja participação ocorre de forma muito limitada. Na  ditadura, o poder existe exclusivamente em uma instância, ao contrário das democracias, onde  o poder existe em várias instâncias, como legislativo, executivo e judiciário. A ditadura é uma  forma de autoritarismo. As ditaduras consistem em ser de direita, esquerda, militares,  religiosas e monárquicas e outras, e, até mesmo usar recursos democráticos como nas  eleições, para disfarçar sua natureza autoritária (BEZERRA, 2018). 

Nesse sentido, Rousseau (2010) argumenta que isso deve ser feito mesmo com o  propósito único de proteger a segurança pública. O autor evidenciava que a suspensão  temporária das leis não evitaria a atuação dos legisladores, visto que o próprio ditador tinha a  capacidade de suspender determinadas leis, no entanto não poderia de maneira nenhuma  legislar, preparar novas normas. Assim, Rousseau viu a ditadura romana original como uma  medida técnica para manter a carta da república e do Estado, para manter o status quo. 

Blume (2022) enfatiza que determinadas ditaduras podem até usar alguns instrumentos  democráticos para mascarar seus governos como legalidade. Via de regra, essas ferramentas são rigorosamente controladas para impedir que expressem divergências em relação às  políticas e visões do regime oficial. Como a ditadura pode ser caracterizada de diferentes  maneiras, os grupos podem ser assinalados como o regime e o que o promovem. Apresenta-se a seguir algumas das mais conhecidas a seguir: Ditadura Militar, Ditadura Fascista, Ditadura  do proletariado. 

A Ditadura Militar, é caracterizada pelo autoritarismo militar, redução ou repressão de  direitos constitucionais, oficiais da pressão do processo político, protegidos e censurados à  imprensa arbitrário do poder. Com o objetivo primordial de extinguir a ameaça comunista e  restaurar a ordem em todas as esferas da sociedade, o regime é impulsionado por atos  conhecidos como atos institucionais (SILVA, 2014). 

Souza (2015) revela que o modelo autoritário foi instalado no Brasil pelo golpe militar  de 1964 tem características da fase da ditadura instaurada que a maioria dos estudiosos,  correspondendo à fase da “ditadura vergonhosa”, momento da luta pela confirmação ou  reconhecimento do regime de governo. Em outras palavras, através do uso de instituições  normativas, há uma luta interminável entre regimes como um caminho ou atalho que pode ser  reconhecido ou aceito coletivamente. 

Bobbio et al.(2012) descrevem então a ditadura fascista como um movimento político,  econômico e social. Desenvolveu-se em determinados países europeus no período após  Primeira Guerra Mundial. Contratados em países que enfrentavam graves crises, como Itália e  Alemanha. No entanto, o conceito é repetidas vezes referido nas configurações atuais  políticas. Em geral, o fascismo é um regime autoritário cujas principais características são a  concentração de poder nas mãos de um líder de governo, o emprego da violência e o  imperialismo. Esse líder precisaria ser cultuado e tinha todo o poder par adotar qualquer  disposição sem consulta prévia a representantes da sociedade. O fascismo também defende  uma glorificação da coletividade nacional em prejuízo das culturas de outros países. 

Por conseguinte, Lenine (2012) divulga que a Ditadura do proletariado foi um marco  empregado por Karl Marx e Friederich Engels e em seguida por Vladimir Lenin, para delinear  o Estado da classe trabalhadora no decorrer da transição ao comunismo, depois a derrubada  do estado burguês. Para Marx, a vivência das classes sociais encontrava-se unida a etapas  particulares do desenvolver de produção. A batalha de classes induziria fundamentalmente à  ditadura do proletariado que, por sua vez, estabelecia exclusivamente um passo em direção à eliminação de todas as classes e à sociedade sem divisões, o comunismo. Portanto, a ditadura  do proletariado seria um período transitório que esvaneceria quando se extinguisse do mesmo  modo a razão da opressão, ou melhor, o predomínio da burguesia. 

Um dos principais países que ainda adota o modelo autoritário é a “China”, desde  1949, possuindo um modelo de Estado Comunista, o ditador Xi Jinping governa desde 2013.  A China é avaliada com uma ditadura clássica. Além do controle rígido do Estado relacionado  à política, a censura a qual já foi muito repreendida, em épocas presente está mais liberada,  como a mídia, à escolha dos filmes que podem ir aos cinemas. Na China, existe somente o  Partido Comunista e as eleições são realizadas dentro dele, pois os membros do partido são os  exclusivos que podem se candidatar e votar. Na China, há um processo eleitoral predominado  pelo Partido Comunista Chinês (PCC), e toda a estrutura dos três poderes está nas mãos da  elite política. 

A Rússia, desde 1991 o Modelo República Socialista Federativa prevalece, e tem  como Ditador Vladimir Putin (desde 2000), assumindo gradualmente o controle da liberdade  de imprensa, nomeou governadores sem eleições e perseguiu (ou matou) seus oponentes.  Alternando em meio a cargo presidencial e primeiro-ministro, está no poder há 22 anos, ainda  havendo denúncias de fraude nas últimas eleições, mas ele foi eleito ainda assim. Desde 2000,  Putin ocupa cargos governamentais na Federação Russa, como presidente ou primeiro-ministro e uma das características de seu governo foi a implementação de um projeto de luta  contra a oligarquia russa, que ao mesmo tempo apoiava o capitalismo corporativo e dominava  a produção nacional. 

Coreia do Norte, país comunista modelo desde 1948, ditador Kim Jong Un (desde  2011). Considerado o país mais fechado e isolado do mundo. A Coreia do Norte tem o regime  mais autoritário do mundo. O poder é controlador pelo Partido Comunista e forças armadas.  Com a economia em dificuldades, o país foi ajudado pela China, Japão e Coreia do Sul para  sobreviver. O penúltimo ditador do país, Kim Il-sung, morreu em 1994 e foi proclamado  “Presidente Eterno da República”. Seus sucessores devem corresponder ao título de Chefe de  Estado. Na Coreia do Norte são concretizadas eleições e os seus mais elevados representantes  delineiam o país como um Estado socialista auto suficiente, entretanto por todo o mundo este  é vastamente avaliado como uma ditadura, considerado como totalitário e Estalinista, não  sendo essa correspondente com veracidade (RIBEIRO, 2021). 

A Venezuela, segundo Ramos (2020), não se tornou uma ditadura em um dia para  outro. A ditadura venezuelana começou com a eleição de Hugo Chávez em 1998 e a posse de  seu governo em 1999, e desde então os militares passaram a tomar postos extraordinários no  governo. A democracia enfraqueceu-se gradualmente para consolidar o poder de esquerda  centralizado e ditatorial. Adesão à política chavista (autoritarismo, censura, perseguição de  opositores, regime ditatorial). Com a sustentação de militares nos pontos principais do  governo, pode-se proferir que Maduro deu continuidade à ditadura militar socialista divulgada  por Chávez, o qual recebeu ajuda política do exército venezuelano ao governo.  

Cuba, a ditadura cubana deu início antes de Fidel Castro em 1952, posteriormente um  golpe militar de Fulgêncio Batista inserindo um regime de exceção na ilha caribenha e seu  governo foi determinado pela violência, e em resposta a esse governo, em 1959, sob a  liderança de Fidel Castro e Ernesto “Che” Guevara, a ilha passou pela famosa Revolução  Cubana que pôs fim ao então regime ditatorial vigente. No entanto, o que se viu depois dessa  revolução não foi o que se esperava, foi quando Fidel Castro implantou uma ditadura  autoritária, e seu governo foi caracterizado como corrupto e violento (ZIMERMANN, 2021).  

Segundo Zimermann (2021), a ditadura cubana é a mais fatal das Américas, segundo  dados da ONG Arquivos Cubanos. O identificador de mortes ou desaparecimentos no  decorrer do regime foi de 65 por 100.000 habitantes, em com 30,9 para o segundo ditador  argentino. Ao analisar o número de mortes ou desaparecimentos por ano sob ditaduras, ilha  ocupa o terceiro lugar com 143,6, pessoas, ficando atrás somente dos regimes argentino  (1280,1) e chileno (180,2). Ainda após a morte de Fidel Castro em 2011, Cuba prosseguiu em  uma direção contra os direitos democráticos, quando Miguel Díaz-Canel chegou ao poder  para manter a ditadura da ilha. 

2 DIREITOS HUMANOS E FUNDAMENTAIS NA PERSPECTIVA DO LIVRO O  CONTO DA AIA 

A partir da leitura da obra “O Conto da Aia”, foi possível observar várias violações de  direitos humanos e fundamentais ocorreram na narrativa. O conto da Aia admite que seja  identificado distintas violações de direitos humanos, de maneira especial aos direitos das  mulheres. A partir do sistema de castas do novo regime, as mulheres perderam sua identidade como seres humanos e passaram a ser associadas apenas às funções que desempenhavam.  Funções que restringe seus direitos de ir e vir, é severamente controlado pela estrutura do  regime. Mesmo as esposas de mais alto escalão entre as mulheres de Gileade só podiam sair  em algumas circunstâncias, como parto, execuções em massa ou quando uma delas adoecesse  (VISENTINI, 2019). 

Holanda e Xerez (2021) argumentam que um sistema de exceções geralmente coloca  um ponto final com a liberdade de expressão, direitos políticos e os direitos de ir e vir. O  controle crescente acaba transformando a vida das pessoas em uma eterna vigilância, que  depois se reflete em outras áreas. No entanto, os homens, ainda que tenham tido sua liberdade  limitada, ainda tinham alguns direitos, prosseguiu a trabalhar, ocupar cargos públicos e  possuir propriedades. 

Segundo Lima Júnior e Hogemann (2019), em o conto da aia pode-se ver mais do que  uma cadeia de crueldades físicas e psicológicas praticadas pela nova ordem contra as pessoas  em geral. É muito claro que a personalidade da mulher são mutiladas, desconstruídas, por  meio de um processo de domesticação do anseio e determinação de papéis sociais, patriarcado  e estratificado. Um bom exemplo é a perda da identidade pessoal, um direito personalíssimo  muito importante para configurar a adequada manifestação psicológica e individual das  mulheres na sociedade em que vivem. 

Na obra o Conto da Aia em particular, o direito à liberdade de religião é abolido, as  mulheres já não têm o direito de possuir qualquer propriedade, não podem mais sair para  trabalhar, não podem mais ler nem escrever. As Aias só podem sair para comprar  mantimentos e estão sempre em duplas, pois não podem ir sozinhas. Entretanto são  constantemente monitoradas e vigiadas pelos considerados Guardiões, nessas saídas. 

Concedido as mulheres também fazer exames médicos mensais e são autorizadas a assistir e  participar das execuções coletivas do regime (ATWOOD, 2017).De acordo com Holanda e  Xerez (2021), o procedimento de intervenção em a capacidade de intervir na autonomia  individual, impõe papéis de gênero e acaba por afastar a favorável vontade das mulheres, que  só podem cumprir os papéis estabelecidos pelo regime Gillead. A todas as mulheres é negado  o acesso a direitos básicos, como propriedade privada, trabalho e dinheiro. Uma das primeiras  medidas implementadas pelo regime foi limitar a saída das mulheres para trabalhar fora de  casa, bloquear o acesso aos recursos financeiros, impedindo que as contas das mulheres sejam 

movimentadas por elas próprias, e essas passam a ser operadas por seus maridos ou parentes  próximos do sexo masculino. As contas foram congeladas foram deserdadas e tudo foi  confiscados, as mulheres ficaram sem direitos, sem nada, somente podiam servir. 

Portanto, após o golpe, o novo governo do mesmo modo proíbe o direito de  manifestação. E também o direito de voto não existe mais. Consequentemente, o direito à  liberdade manifestação, direitos políticos em geral, deixou de existir para todas as pessoas.  Em um governo religioso fundamentalista, a liberdade religiosa é uma das primeiras garantias  a serem excluídas, que faz com que quem não se converte a denominação religiosa do poder,  se tornava inimigo do Estado e punível com a morte (HOLANDA; XEREZ, 2021). Nas  sociedades totalitárias, a determinação estatal de papéis definidos pelo gênero e a  despersonalização atribuída às mulheres, principalmente às Aias e Martas, indicam uma perda  da autonomia da vontade e do direito à autodeterminação como ser humano (ATWOOD,  2017). 

A seguir, Leclaire e Lacroix (2010) mostram que as mulheres perdem o próprio direito  de continuar com seu nome. Assim, as Aia passam a ser chamadas pelos nomes do  Comandante a qual servem, como Offred. Contudo, as aias passam a usar outrosnomes a  partir do momento em que começam a servir a outros comandantes. Compete lembrar que os  direitos da personalidade promulgam a projeção de relevantes direitos fundamentais do ser  humano, os quais são consagrados na Constituição Federal. Esses estabelecem uma esfera  protetora inicial para a personalidade e tudo o que ela expressa, especialmente, porém não  exclusivamente, nas relações pessoais. Relacionam-se com a compreensão do conceito de  situação jurídica subjetiva de uma pessoa. “Em suma, sua destruição, representa um ataque  aos direitos e à própria interpretação moral, ou ao agente moral de um ser” (PERLINGIERI,  2013, p. 106). 

Segundo Lima Júnior e Hogemann (2019), o mesmo procedimento é adotado para  todas as mulheres em posição reprodutiva ou aias. Há, por exemplo, Ofglen, Orwarren e  muitos outros onde os nomes foram trocados pela nova ordem com o verdadeiro apelido de  propriedade, que se traduz na posse do corpo, da vida e da identidade pessoal dessas mulheres  por seus comandantes. O direito ao nome é um dos primeiros e mais importantes indicadores  da personalidade de uma pessoa na sociedade. Um nome distingue uma pessoa de outra, a  perda desse marcador confirma o simbolismo do poder e predomínio, sinal de dominação sobre o próprio corpo, que imediatamente está sendo retirado o traço pessoal, tornando-se  assim, um objeto.  

Na visão de Atwood (2017) a violação do direito à autonomia da vontade se expressa  de forma extrema na perda do direito ao próprio corpo. A perda de direitos, reflete uma  modificação gradual no status moral. Se decompõe de um pessoa para algo. Não há como  ultrapassar as barreiras da violação dos direitos fundamentais sem proceder, direta ou  indiretamente, a alertar o estado moral da pessoa. Portanto, a mulher, nesta sociedade, de fato,  torna-se um objeto disposto em diversas circunstâncias. 

3 O DESRESPEITO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS PELOS GOVERNOS DITATORIAIS E NO CONTO DA AIA 

Os Direitos Fundamentais são a base dos princípios sociais e jurídicos da Sociedade,  tanto para o seu funcionamento quanto para sua proteção. Consistem em ser não são apenas  Direitos institucionalizados, são atributos exclusivos e importantes da vida humana, portanto,  seu valor e função devem ser protegidos em todos os momentos. Não considerar sua aplicação  desta lei em detrimento de uma lei separada em virtude de sua promulgação e função política  geral é, no mínimo, inconstitucional. Uma das particularidades dos Direitos Fundamentais é a  sua história, ou seja, os Direitos Fundamentais são o produto da mudança social, moldada ao  longo do tempo e por meio de mudanças legais e sociais (CARAPUNARLA, 2013). 

Se tratando de regime ditatorial, o que ocorreu no Brasil, discutido a seguir, o regime  ditatorial instaurado entre os anos de 1964 e de 1985 não agiram de modo diferente, como  aconteceu em diferentes países. De fato, foi impassível aos direitos fundamentais do povo  brasileiro ao estabelecer, através da legalização da força desempenhada pelas armas, um  governo totalitarista. Contudo, no ano de 1937, Getúlio Vargas deu um golpe de Estado,  amparado pelos militares, para continuar no poder, instituindo o chamado “Estado Novo”  (ROCHA, 2016). 

Para Carone (2012) a Constituição de 11 de novembro de 1937 estabeleceu um Estado  autoritário, o Estado Novo, concedendo vastos poderes ao Presidente da República, pondo-o  como autoridade suprema do Estado; limitou o poder do Congresso e a independência do  Judiciário; tirou a independência dos Estados-Membros; fez a dissolução da Câmara dos Deputados, do Senado e das Assembleias Estaduais; ele restabeleceu a pena de morte; os  partidos políticos são anulados; a liberdade de imprensa não existe; entre outras medidas de  ditadura. Existiu até um ato solene de queimar as bandeiras dos Estados, para mostrar o  domínio do poder central e a unidade nacional, fazendo uma alegação de que os Estados  seriam representados, a partir daquele dia, com a bandeira nacional. 

Conforme Gonçalves (2016), o regime ditatorial, em seu processo, age contra a  liberdade individual, penalizando e perseguindo os “inimigos” do regime. No entanto, muitas  obras governamentais foram recebidas com grande reação dos trabalhadores, como foi o caso  ao criar a CLT – Consolidação das Leis do Trabalho. Este momento é nomeado de ”  Redemocratização ” ou “Quarta República” já que veio depois do regime ditatorial do Estado  Novo, e foi uma experiência de introduzir a democracia. 

Houve uma onda de democracia em todo o mundo depois do final da Segunda Guerra  Mundial. No entanto, o final da guerra levou à guerra fria, causando grande inconstância  política no mundo, na América Latina e especialmente, no Brasil. Esse momento foi  implantado por uma nova Constituição, refletida na Constituição de 1934, com inclusão dos  direitos fundamentais. Assim, em nível brasileiro, a Ditadura Militar (1964 a 1985) pode ser  vista como um exemplo de massacre sobre os direitos fundamentais (GROFF, 2010). 

Os direitos fundamentais sofreram limitações com os Atos Institucionais. Herkenhoff  (2010, p. 81) diz “os Atos n. 1 e 2 são incompatíveis com a franquia contida na Declaração  Universal dos Direitos Humanos”. O regime militar se tornou mais intenso a partir do ano de  1968. Em 1968 foi caracterizado no Brasil pela forte repressão imposta pelo regime militar,  devido à intensidade dos protestos populares contra o regime. Assim, houve um  endurecimento do regime, que enfatizou os limites da liberdade e segurança individual e  coletiva. O célebre AI-5 (Ato Institucional nº 5) simboliza essa alteração de regime.  Bonavides (2012, p. 87) alega que a centralização parece ter chegado ao limite no Estado  Novo: “entretanto uma repetição mais violenta aconteceu mais tarde, no decorrer dos dez anos  em que durou o AI-5”. Jamais havíamos ficado tão perto de institucionalizar o Leviatã de  Hobbes, que nestes anos de dúvida e reflexão”. 

A violência perpetrada pelos militares é tão terrível que membros do regime se  estabeleceram como um Grupo Secreto, responsável por sequestros e assassinatos. Entre 1968  e 1978, com a implementação da Lei Institucional nº 5, foi promovida a chamada “Anos de Chumbo”. O Estado de Exceção tornou-se mais forte e para sempre, os meios de  comunicação, os sistemas de pesquisa e os métodos de ensino foram todos controlados.  Prisão, tortura, sequestro, assassinato e desaparecimento forçado são armas contra quem não  aceita o regime (FIQUEIREDO, 2015). 

A violência é, verdadeiramente, uma forma de propiciar o regime ditatorial, porém  ainda requer uma base forte e insana, formada por seus seguidores. Portanto, o regime militar  continua e como tem evidenciado o aniquilamento dos direitos humanos, dos direitos  fundamentais, não é somente o desígnio, porém também um dos pontos do governo, uma  maneira de dominar toda e qualquer pergunta da legalidade constitucional de suas ações  (CARAPUNARLA, 2013). 

Se faz indispensável para a ditadura, fazer a reafirmação do seu comando, não  somente pelo temor, porém ainda pela destruição das estruturas sociais e políticas. O Super  Poder Executivo é uma característica das ditaduras militares que visam manter o controle  total, daí explica Fachin (2012, 94), “A Constituição dá forças para o Poder Executivo  (características dos regimes ditatoriais) e, como resultado, enfraquece os poderes do  Legislativo e do Judiciário”. O Presidente da República encerrou provisoriamente o  Congresso Nacional, revogou a autoridade parlamentar e os direitos políticos, os juízes foram  aposentados, com inclusão dos ministros do Supremo Tribunal Federal e colocou a  concentração poderes favorecendo a União e em dano de Estados e Municípios”. 

Segundo Groff (2010), no ano de 1984, apareceu o movimento “Diretas Já”, que  apoiava a ratificação no Congresso Nacional da Emenda Constitucional que previa a eleição  direta do Presidente da República. Entretanto, foi somente com a Constituição de 1988 que as  eleições se tornaram diretas em todos os níveis. Porém, a oposição, que defendiam as diretas  já, venceu a eleição indireta para Presidente da República, no ano de 1984, escolhendo  Tancredo Neves como presidente e José Sarney como vice-presidente. No entanto, Tancredo  morreu antes que pudesse assumir o cargo e se tornar vice-presidente, pois foi o primeiro  Presidente civil em 20 anos de ditadura. Isso marcou o começo de uma nova era política no  Brasil, a Nova República. 

A ditadura militar no Brasil é marcada por ser um período de exceção, onde todas as  formas de arbitrariedade são realizadas pelo governo em nome da segurança nacional. A  ditadura ficou caracterizada por prisão arbitrária, cassação, expurgo, tortura, execução, desaparecimento de mortos e ainda bombardeios (SAFATLE, 2014). 

Carneiro e Cioccari (2015) explicam que o aparato de repressão da ditadura ocorreram  dos mais variados mecanismos. O primeiro método foram os Atos Institucionais, uma  assistência jurídica que permite aos militares seguir e prender todos aqueles analisados como  inimigos do regime. Por exemplo, o Ato Institucional (AI-1) possibilitou que a ditadura  prendessem de forma indiscriminada pessoas em lugares como navios e estádios de futebol,  ao mesmo tempo em que retiram pessoas dos serviços públicos. 

Com o AI-1, 4.841 pessoas ficaram sem seus direitos políticos e 1.313 militares foram  postos na reserva. Além do mais, dezenas de juízes foram expurgados e 41 deputados foram  destituídos de seus poderes. Sindicatos, como a Liga Camponesa, e organizações estudantis,  como a UNE, igualmente suportaram à repressão governamental. Com o tempo, o direito do  povo de nomear o presidente foi anulado através do AI-2, estabelecido no fim de 1965, e o  AI-3 pôs um sistema bipartidário no Brasil (TORELLY, 2017). 

Sobre a ditadura, as historiadoras Schwarcz e Starling (2015, p. 48) alegam que “no  Brasil, a tortura política não é resultado de ações incidentais de pessoas sem equilíbrio, e  nessa comprovação habitam o escândalo e a dor”. É uma máquina de matar projetada para  seguir o conceito de luta: aniquilar com o inimigo antes que ele seja capaz de lutar. As  maneiras de tortura praticadas pela ditadura são abundantes, e os procedimentos de tortura  usados por soldados e agentes do Exército são todos instruídos pelos militares franceses. 

Vale ressaltar que a tortura por palmatória foi utilizada até que a área ficasse em carne  viva; O uso de animais também é usado quando muitas vítimas são postas em casas com  animais selvagens e agressivos, como cobras. Da mesma forma, o afogamento é usado quando  o indivíduo no pau de arara é imersa na água para se afogar, colocando água na boca e no  nariz. O período de afogamento pode ser combinados com sessões de choques elétricos e  muitos outros métodos de tortura usados pelas ditaduras (SILVA, 2015). 

Portanto, Costa et al (2014) citam que durante os vinte e um anos de ditadura, várias  formas de protesto foram organizadas na sociedade brasileira. Em primeiro lugar, é de suma  importância mencionar a função das manifestações de massa que ocorreram entre os anos de  1964 a 1968. Por exemplo, o Rio de Janeiro foi cenário de grandes manifestações que foram  severamente reprimidas pela ditadura. O plano político é caracterizado pelo autoritarismo,  cancelamento dos direitos constitucionais, repressão política, prisão e tortura de opositores e aplicação da censura diante da mídia.

Safatle (2014) alerta que também há protestos antigovernamentais nos meios políticos,  dois dos quais se destacam. Nos primeiros anos da ditadura, houve a Frente Ampla,  movimento político fundado por Carlos Lacerda, político que apoiou fervorosamente o golpe,  porém teve seu rompimento com o regime quando as eleições presidencial do ano de 1965  foram canceladas. Outra manifestação de resistência política ocorreu no ano de 1968, quando  os deputados brasileiros se opuseram a penalizar Márcio Moreira Alves, deputado que fazia  uma denúncia sobre o Exército de ser o “valhacouto dos torturadores”. A força da oposição  contra à ditadura é um dos motivos utilizados pelos militares para fortalecer o regime com o  AI-5. 

A seguir, com a consolidação do regime, a partir do ano de 1968, apareceu no Brasil  uma nova forma de resistência à ditadura: a resistência armada. O grupo que disseminou à  resistência armada era formado, em sua maior parte, por componentes de classe média e  estudantes, que não apoiavam o autoritarismo do regime e não enxergavam outra saída porque  o governo não deixou que protestassem pacificamente senão lançar-se à resistência armada  (COSTA et al., 2014). 

Carneiro e Cioccari (2015) relatam que a resistência armada concretizou várias ações,  como atentados a bomba, como o ataque à embaixada dos Estados Unidos no ano de 1968.  Existiu ainda ataques e sequestros são feitos por componentes desses grupos como maneira de  combater a ditadura. Entre os nomes destacados da resistência armada estão Carlos  Marighella e Carlos Lamarca. A repressão da ditadura de grupos que agiam no começo dos  anos 1970 fez com que a resistência armada desaparecesse no país. 

Desde o fim da década de 70, as ditaduras começaram a se mover em direção à  abertura, porém à primeira vista essa abertura sugere ser uma norma democrática, na verdade  é um regime de abertura controlada para trazer os governos complacentes em benefício do  Exército sem a necessidade de um presidente militar (SCHWARCZ; STARLING, 2015). 

No entanto, para Schwarcz e Starling (2015), esse procedimento falhou  miseravelmente, pois aqueles que se opuseram à ditadura encontraram uma nova vida e  aguardaram o final da ditadura militar no Brasil. A ascensão da oposição e o desgosto público  com a grande crise que afetou a economia brasileira a partir dos anos 80 levaram ao fracasso  do projeto de abertura da ditadura.

A partir dos anos de 1979, várias medidas foram seguidas para causar maior abertura  na política brasileira. Foi estabelecida uma anistia, uma lei possibilitando que todos os  exilados retornassem ao Brasil e remitindo todos os delitos feitos no decorrer a ditadura.  Existiu ainda o retorno do pluripartidarismo, levando ao aparecimento de novos grupos  partidários no Brasil. Outra norma evidente dessa abertura controlada é a anulação do Ato  Institucional nº5, que ocorreu no ano de 1979. Durante os anos 80, o último presidente  ditatorial, João Figueiredo, teve um fracasso no projeto militar de implantação de uma  abertura controlada. A mobilização popular, ligada à mobilização política, acabou com a  ditadura (NAPOLITANO, 2017). 

Safatle (2014) cita que a mudança para a democracia no Brasil foi realizada com  bastante cautela. Essa mudança foi feita de modo bem conservador, e isso foi demonstrado  pelo fato de que o primeiro presidente civil, depois de 21 anos de ditadura, foi eleito por  eleições indiretas, desde que a Emenda das Diretas já havia sido perdida. Hoje em dia, ainda  os agentes do governo fizeram delitos e todos os modos de transgressões contra os Direitos  Humanos não tiveram julgamento e condenação. Isso se deveu em grande parte à Lei de  Anistia, que absolveu delitos realizados por influentes da ditadura.  

Em relação a supressão de direitos fundamentais, com a concentração de poder de  Gilead corrompida, a concentração ficou do poder julgamento nas mãos daqueles que  interpretam as doutrinas sagradas, deixando as pessoas suscetíveis a atos negligentes com  relação aos direitos humanos básicos. Se tratando de um estado totalitário, não tem poder  maior do que o seu texto governante, que é teoricamente e praticamente nulo no ordenamento  jurídico (SANTOS; SOARES, 2021) 

A supressão dos direitos e liberdades fundamentais na história da Aia revela uma  sociedade vitimizada onde a humanidade é privativa das condições humanas, ambientais,  materiais e econômicas para viver como espécie. O Conto da Aia é um caso do que pode  ocorrer quando o fascismo, combinado com o fundamentalismo religioso, se torna um sistema  de poder. Na República de Gilead, o presidente e os membros do parlamento foram mortos, e  o estado de emergência militar foi pronunciado pelo exército, acompanhado da paralisação da  constituição, checagem de imprensa e envolvimento de qualquer transeunte por razões de  segurança. A distopia conta um governo autoritário estabelecido a partir do povo, com baixo  padrão de vida (ATWOOD, 2017).

Segundo Santos e Soares (2021) posto que em Gilead, os cidadãos estavam vivendo  sem os direitos básicos. Uma vez que está claramente evidenciado em termos de liberdades  das pessoas que vivem em situações degradadas, pode-se ver claramente a alteração dos  direitos básicos no caso da AIA. Quando este sistema furta a existência dos cidadãos e os  coloca em situações terríveis. Portanto, o sistema e o funcionamento do sistema estatal,  porém, sem seu otimismo, as teorias que dirigem os direitos humanos de forma distorcida  tornam perigosas as condições de vida naquela área. 

A virada da história estava dependendo em grande parte dos espaços onde as mulheres  e a religião ocupavam naquele espaço. O machismo e a inferiorização de personagens  femininas podem ser vistos de diferentes maneiras: sua responsabilidade como uma das  razões da destruição do planeta (olho inaceitável e um ataque aberto à liberdade e  comportamento das mulheres); restrições de direitos e práticas cotidianas, leia por exemplo);  todos os papéis refletem em atividades domésticas ou sexuais. 

Segundo Sméra (2019), mulheres e minorias não possuíam mais direitos, não  trabalhavam, não tinham bens, dinheiro ou estudo. Além disso, as políticas alheias para as  pessoas são desconhecidas e carecem de garantias sobre as condições básicas de vida, as  mulheres também tinham que transferir contas bancárias, cartões de crédito, cartões de débito  e bens muito diferentes para seus maridos ou parentes do sexo masculino, ficando sem poder  econômico, independência financeira e ficando totalmente dependente dos homens. O  mercado de trabalho foi bloqueado para eles, são divididos em turmas e proibidos de estudar,  com a repreensão dos livros e jornais. 

A religião, por outro lado, é uma importante base que explica toda a ordem social  (saudações básicas como “bendito seja o fruto” e ” Que o senhor possa abrir”) e as terríveis  práticas penais, referindo-se à Lei de Talião ou uma cópia dela chamada “Cerimônia”. A  característica que mais afeta a desigualdade de gênero é a presença de um Estado  confessional, ou seja, um estado com uma religião oficial. O dogma religioso cristão sustenta  a política e a sociedade de Gileade e força as mulheres à submissão. O Conto da Aia” critica o  fundamentalismo religioso embutido na teocracia de Gileade. “Parece que a igreja não está  ligada ao estado, mas o estado está voltando à moralidade dos tempos bíblicos. Em Gilead, a  religião torna-se uma ferramenta usada pelos Comandantes para tomar o poder e impor uma  ideologia conservadora (BORDIGNON, 2018).

O Conto da Aia, marca que a sociedade anterior à República de Gilead foi quase  destruída pela fartura de escolha humana, o que torna a crítica à autonomia uma das colunas  da dignidade humana. Proteger as mulheres desse modo não seria através de ações positivas,  de acordo com os direitos humanos, porém pela destruição dos direitos das mulheres. Assim,  os mecanismos usados para proteção das mulheres devido à sua suposta vulnerabilidade  enfatizam a falta de igualdade e a discriminação de gênero. A estrutura social e política da  República de Gilead desumanizam as mulheres, porque as mulheres se tornam apenas meios  de reprodução. Os corpos das mulheres são monitorados por um país dirigido por homens. As  Aias possuem somente a função de reproduzir e as Marthas são usadas apenas para cuidar da  casa (SMÉRA, 2019). 

As mulheres não têm direitos nem independência. Eles são privados de tudo o que lhes  garante uma vida sadia e plena de acordo com o conceito de direitos humanos, incluindo o  direito à sexualidade e à reprodução. Em Gilead, os procedimentos de controle de gravidez e  aborto são removidos e demonizados, destruindo e até demonizando o controle da  contraceptivos e o aborto, e muito mais, construindo o conceito de que não é profícuo ou  moral para uma mulher fazer outra coisa senão procriar, proibindo certas formas de  relacionamento e legitimando as relações extraconsensuais, objetificam o corpo da mulher e o  colocam a serviço do Estado (CAMPOS; OLIVEIRA, 2014). 

Conforme Sméra (2019), o corpo das Aias não lhes pertence, mas é somente uma  ferramenta para realizar uma prática divina que mostra a nova expressão do desejo dos  homens: a justificação religiosa. Usar argumentos religiosos para controlar o corpo de uma  mulher é semelhante à queima de bruxas na Idade Média da Inquisição e à demonização da  feminilidade. Em uma distopia, o controle do corpo se manifesta no vestuário unificado das  mulheres e seu tratamento como característica do Estado, onde as mulheres são separadas da  família e vinculadas somente à residência do Comandante. 

Santos e Soares (2021) mostram que em Gilead as ações de todos são controladas e  quem descumprir as normas é severamente punido com apedrejamento (como na Bíblia) ou  deportação para campos de refugiados onde são levados resíduos nucleares. Assim, a  população da República de Gileade passa a habituar-se em um processo mental confuso de  experiências humilhantes como abusos físicos e em constante competição dessas mesmas  ações quando sua mentalidade procura a salvação de seu bem-estar psicológico, muitas das vezes, utilizamos nossa mente não para revelar acontecimentos, entretanto para escondê-los,  mesmo que nem sempre seja de propósito. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Após chegar ao término deste estudo evidencia-se que a obra o Conto da Aia nos  mostra o sofrimento de forma impactante, com capacidade de deixa o leitor revoltado porque  os direitos humanos mais fundamentais são violados, falta de liberdade, de escolha, de viver  na função de uma nação que divide as mulheres em casta, crueldades cometidas em nome da  religião e comandantes governando como bem entendem, tirando das mulheres a sua escolha  e direitos básicos as quais já nem possuíam. 

O Conto da Aia”, de Margaret Atwood, descreve um Estado que mantém um regime  ditatorial sobre as mulheres, sua liberdade, seus corpos e, especialmente, sua fertilidade.  Embora dos absurdos da distopia, suas raízes históricas não podem ser negadas na sociedade e  relações de poder para com as mulheres O país sai do regime democrático e passa a vigorar  um regime totalitário nas mãos dos homens. Observa-se que o governo se tornou um  instrumento de controle estatal, e esse controle é exercido sobre as mulheres, especificamente  sobre sua sexualidade e reprodução. 

Assim, é preciso eliminar a noção ultrapassada de que o papel da mulher na sociedade  é cuidar da casa, dos filhos e do marido. As mulheres vêm lutando por seus direitos e por um  lugar na sociedade, apesar das dificuldades que as mulheres estão tendo para ter seu espaço e  lutar por seus direitos. Felizmente, a obra é ficcional, no entanto é importante estar atento para  que seja, de fato, apenas uma obra ficcional, uma vez que na sociedade atual, há descrições da  obra que não podem ser ignoradas e que nos convenham como uma alerta. 

Ao concluir o estudo, vislumbra-se que no Conto da Aia, por meio do governo  ditatorial as mulheres passaram a ser um patrimônio da nova sociedade, sujeitas aos novos  costumes e crenças, não podendo escolher como querem viver ou com quem se relacionarem,  são consideradas somente objetos para atender às demandas do novo governo que dá ordens  sem qualquer resistência. Dessa forma, fortalece-se a reflexão a respeito de até que ponto está  perpetuando uma cultura que preconiza a inferioridade da mulher, e que a impossibilidade de  imaginar um futuro diferente não é apenas uma particularidade do gênero, porém do mesmo modo a reeducação da sociedade em face de uma cultura patriarcal. 


REFERÊNCIAS 

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*Discente do Curso de Direito do Centro Universitário de Anápolis – UniEVANGÉLICA campus Ceres. E mail:luizfernando367@hotmail.com