O CONSUMO DOS MEDICAMENTOS UTILIZADOS NO TRATAMENTO DA DEPRESSÃO E ANSIEDADE NOS ÚLTIMOS 3 ANOS NA CIDADE DE SANTA LUZIA D’OESTE – RO.

THE CONSUMPTION OF MEDICATIONS USED TO TREAT DEPRESSION AND ANXIETY IN THE LAST 3 YEARS IN THE CITY OF SANTA LUZIA D’OESTE – RO.

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202501191244


Kennedy da Silva Oliveira1;
Igor Gilmar Kruguel2;
Eglin Thais da Penha Gonçalves3


Resumo

O presente artigo de caráter observacional, descritivo e retrospectivo tem como objetivo avaliar dados de prescrição e dispensação de medicamentos antidepressivos e ansiolíticos, esses dados foram obtidos através do sistema G-MUS da farmácia básica de Santa Luzia d’ Oeste, utilizando a seguinte filtragem: data do período (01/01/2022 a 31/10/2024) e classes terapêuticas usadas na terapia da depressão e ansiedade, após  a análise de todos os dados coletados foi aferido que durante todo o período foram atendidos cerca de 9.751 pacientes na farmácia básica, sendo que os medicamentos mais prescritos foram: amitriptilina, fluoxetina e escitalopram, dessa forma, podemos considerar que a prescrição e a dispensação dos medicamentos possui um perfil semelhante à de outros municípios brasileiros, com apenas alguns diferenças no fármaco mais prescrito.

Palavras-chave: Antidepressivos. Ansiolíticos. Consumo.

This observational, descriptive and retrospective article aims to evaluate prescription and dispensing data for antidepressant and anxiolytic medications. These data were obtained through the G-MUS system of the basic pharmacy in Santa Luzia d’Oeste, using the following screening: data from the period (01/01/2022 to 10/31/2024) and therapeutic classes used in the therapy of depression and anxiety, after analyzing all the data collected, it was determined that During the entire period, around 9,751 patients were served in the basic pharmacy, with the most prescribed medications being: amitriptyline, fluoxetine and escitalopram, thus, we can consider that the prescription and dispensing of medications has a profile similar to that of other Brazilian municipalities , with only a few differences in the most prescribed medication.

 Keywords: Antidepressants. Anxiolytics. Consumption.

1 INTRODUÇÃO

Os transtornos depressivos e ansiosos têm se tornado uma grande preocupação em diversas partes do mundo, refletindo instantaneamente na qualidade de vida das pessoas afetadas e provocando uma série de consequências sociais e econômicas. Com o aumento no número de casos nas últimas décadas, é importante realizar uma análise mais profunda sobre suas causas e efeitos. Vale considerar que tais desordens são consideradas umas das principais causas de incapacidade no país e elas incluem: depressão, ansiedade, transtorno afetivo bipolar, transtorno de personalidade borderline, entre outros. Atualmente, com o grande avanço da ciência e dos estudos voltados à saúde mental e sua manutenção, os tratamentos com os psicofármacos demonstram cada vez mais eficácia, menores ocorrências de efeitos adversos e consequentemente, uma melhoria na vida dos pacientes que são submetidos a tais tratamentos.

Os psicofármacos são substâncias quimicamente ativas, sendo de origem natural ou sintética, e seu emprego provoca alterações estruturais e funcionais do organismo, podendo remodelar o comportamento mental, induzindo o indivíduo a um estado depressivo, de excitação ou até mesmo alterando os seus padrões de comportamento e personalidade. A Política Nacional de Medicamentos (PNM) visa implementar o uso racional, tendo em vista que o uso de psicofármacos, bem como de outras classes farmacológicas, tem a capacidade de provocar efeitos adversos e até mesmo gerar dependência física e/ou psíquica, caso seu uso seja prolongado e contínuo, o que corrobora com o surgimento de graves problemas de saúde pública.

Segundo o Conselho Federal de Farmácia (CFF), nos últimos dois anos o Brasil registrou um aumento de 18,6% no uso de medicamentos psicotrópicos. O presente dado possui extrema relevância e reitera o grande crescimento no consumo de medicamentos voltados à saúde mental, o que gera uma enorme preocupação pois o uso indiscriminado de tais substâncias podem acarretar efeitos adversos severos, comprometendo a saúde dos pacientes. Os tratamentos estabelecidos a partir das Unidades Básicas de Saúde (UBS) estão aumentando significativamente nas últimas décadas, principalmente após a Reforma Psiquiátrica Brasileira, que teve como um de seus objetivos incluir os cuidados com a saúde mental no sistema de atenção primária. A Unidade Básica de Saúde (UBS) funciona como uma porta de entrada para o Sistema Único de Saúde (SUS) e a prevalência de transtornos mentais aumenta constantemente, portanto é importante analisar os perfis de prescrições visando identificar quais os medicamentos mais utilizados pela população e averiguar a eficácia da intervenção realizadas na unidade em questão. O presente estudo possui como objetivo realizar um levantamento de dados que visam mensurar o consumo de medicamentos controlados utilizados no tratamento de depressão e ansiedade na farmácia básica do município de Santa Luzia D’Oeste no estado de Rondônia (RO).

2 METODOLOGIA

Este é um estudo descritivo, observacional e retrospectivo de caráter qualitativo que foi realizado no município de Santa Luzia D’Oeste, no interior do estado de Rondônia. Este município possui uma população estimada de 7.419 pessoas segundo o último senso do IBGE, os dados foram obtidos por meio do sistema G-MUS utilizado na farmácia básica de Santa Luzia d’Oeste (FBS), os dados coletados correspondem ao período 01/01/2022 até o dia 31/10/2024, sistema nos permite mensurar as quantidades de comprimidos dispensados  para cada paciente, as classes terapêuticas (CT) mais prescritas e o tempo de duração de cada tratamento, evitando assim o comprometimento dos dados pessoais dos pacientes. Foram selecionados todos os medicamentos que possuem indicação para tratar a depressão, ansiedade ou que tratam ambas as fisiopatologias concomitantemente. Com a finalidade de obtermos os dados realizamos as seguintes etapas de filtragem.

Na primeira etapa buscamos selecionar todas as classes terapêuticas (CT) que poderiam ser utilizadas no tratamento dessas fisiopatologias e estas foram: benzodiazepínicos, inibidores seletivos da receptação da serotonina (ISRS), antidepressivos tricíclicos, inibidores seletivos da recaptação de serotonina e noradrenalina (ISRSN) e outras,  após isso filtramos o dados para obter a quantidade de comprimidos prescritos e o tempo de uso desses medicamentos, mesmo que a dispensação tenha ocorrido apenas uma vez neste período de tempo na FBS. Na segunda etapa os dados obtidos foram digitados em uma planilha do Excel visando comparar o consumo e a dispensação dos medicamentos através desses anos, e verificar os resultados da pesquisa.

3 RESULTADOS

Após a análise de todos os dados coletados identificamos que durante todo o período foram atendidos cerca de 9.751 pacientes na farmácia básica, sendo que todos faziam uso de pelo menos um antidepressivo. No ano de 2024 foram atendidos 2939 pacientes, um aumento relevante de 17,32% em relação ao ano de 2022 e 17,23% se compararmos com 2023, já em 2023 cerca de 2507 pacientes tiveram suas demandas atendidas pelos farmacêuticos da FBS, um aumento de 0,079% em relação ao ano anterior no qual 2505 prescrições foram dispensadas. Os medicamentos mais prescritos foram: Amitriptilina, com 719 prescrições, seguido da fluoxetina, com 709 prescrições, escitalopram, com 316 prescrições, esses foram os ativos mais prescritos, no entanto foram dispensados outros princípios ativos como a nortriptilina, sertralina, clomipramina e a paroxetina.

Muitos esquemas terapêuticos foram adotados para obtenção de um tratamento satisfatório, como a monoterapia que foi o principal esquema terapêutico adotado com cerca de 96,35% do total de prescrições realizadas no período, enquanto isso as associações correspondem à apenas 2,65% do total de dispensações, sendo que as associações mais prescritas foram: fluoxetina e amitriptilina, escitalopram e amitriptilina, amitriptilina e sertralina, além disso foi identificado outros 25 esquemas terapêuticos diferentes, compondo dessa forma o restante da prescrições identificadas. Outro aspecto importante analisado foi a frequência de retirada dos medicamentos na unidade, definimos como uma frequência ideal o quantitativo de 6 dispensações no período de um ano para cada paciente, considerando que cada dispensação poderia conter a quantidade de comprimidos para um tratamento de 60 dias de duração, no entanto em muitos casos apenas 3 dispensações ocorriam no período de um ano ou até menos, esse aspecto pode ser uma problemática que deve ser abordada a diante.

4 DISCUSSÃO

Como citado anteriormente a cidade possui uma população pequena de cerca de 7.419 pessoas, segundo estimativas, aproximadamente 75% da população brasileira utilizam os serviços do SUS (NETTO, 2012, p. 2 apud IBGE, 2009), dessa forma podemos inferir com os dados obtidos durante este trabalho cerca de 5564 pessoas usam o sistema de saúde regularmente no município, se levarmos em consideração a média do quantitativo de pessoas que foram atendidas no período estudado cerca de 58,41% de todos os usuários da rede de saúde do município utilizam algum tipo de antidepressivo ou ansiolíticos, semelhante a outros achados na literatura. Esses dados se mostram preocupantes pois o consumo de psicotrópicos está acima da média de diversos municípios brasileiro, além disso como os resultados mostram a quantidade de pacientes que fazem o uso de psicofármacos aumentou consideravelmente nos últimos 3 anos. O aumento pode ser relacionado à maior disseminação de conhecimento científico que pode ter sido impulsionada com o maior acesso as tecnologias como a internet.

A amitriptilina e a fluoxetina foram os medicamentos mais prescritos e dispensados na UBS o que também pode ser encontrado em diversos outros estudos na literatura, mas a ampla utilização dessas substâncias pode trazer uma preocupação quanto ao uso em idosos, como observa Torres (2020, p.43)

“Diretriz canadense para tratamento de depressão em idosos institucionalizados, indica como primeiras escolhas para o tratamento de depressão: citalopram, escitalopram, sertralina, venlafaxina, mirtazapina, bupropiona e duloxetina, nenhum deles presente na relação brasileira”

Uso desse medicamento em pacientes idoso pode trazer inúmeros riscos, pois os seus efeitos adversos mais comuns são: Síncope, hipotensão ortostática, redução da função motora e efeito sedativo, essas reações adversas podem levar a um risco elevado de quedas para essa faixa etária, outro fator importante encontrado no resultado foi baixa prescrição de escitalopram no ano de 2023 e em seguida um aumento de 300% na prescrição desse medicamento no ano seguinte levantando a hipótese de que pode ter ocorrido a troca de princípio ativo pela incidência dos efeitos adversos supracitados. Todos os medicamentos citados aparecem como os mais prescritos em diversos estudos na literatura, sendo a dupla fluoxetina e amitriptilina alcançam facilmente a mais da metade das dispensações para o tratamento da depressão.

A associação de medicamentos é uma estratégia utilizada para aprimorar os efeitos de um medicamento desejado, podendo aumentar as chances de sucesso do tratamento, “O uso concomitante de vários medicamentos, enquanto estratégia terapêutica, e o crescente número destes agentes no mercado são alguns dos fatores que contribuem para ampliar os efeitos benéficos da terapia.” (SECOLI, 2021, p.01), no entanto essa estratégia não pode ser utilizada em uma grande parte de pacientes, como os idosos e pacientes com doenças crônicas, afinal a maior parte deles são pacientes polimedicamentados, pois os riscos de interações medicamentosas aumentam exponencialmente podendo resultar em efeitos indesejados maléficos aos pacientes, por esse motivo apenas 259 (2,65%) pacientes foram submetidos a associações medicamentosas no coorte de tempo estudado.

A adesão ao tratamento pode ser definida como a prescrição, dispensação e uso adequado de um ou mais medicamentos por um determinado tempo, afim de atingir as metas de saúde definidas para o sucesso terapêutico do tratamento. Para que o paciente tenha uma aderência adequada os profissionais de saúde devem auxiliar o paciente tirando as suas dúvidas quanto a importância e ao uso correto dos medicamentos, podemos citar o farmacêutico como uma importante figura que auxilia na adesão ao tratamento, pois no momento da dispensação há uma oportunidade de realizar a atenção farmacêutica na qual deve tirar as dúvidas do paciente quanto ao tratamento, verificar possíveis interações medicamentosas, reações adversas e o uso inadequado dos mesmos, aumentando assim as chances do paciente aderir ao tratamento corretamente. Um dado extremamente importante encontrado na pesquisa é a frequência de dispensação dos medicamentos controlados na UBS, como citado anteriormente foi definido que 6 dispensações no período de um ano seria a quantidade ideal de dispensações a serem realizadas, como comentado por Souza (1999, p.03)

“Se o episódio anterior ocorreu há menos de dois anos e meio, o tratamento por pelo menos cinco anos pode ser necessário. Alguns grupos recomendam que a duração do tratamento do 1o episódio seja de 12 meses após a melhora, 2o episódio de dois a três anos, e o 3o episódio de cinco anos ou mais.”

Dessa forma podemos inferir que pode estar ocorrendo uma redução na adesão ao tratamento dos pacientes da UBS, pois a baixa taxa de dispensação no período nos mostra isso, vale ressaltar que a redução na adesão também pode estar sendo afetada por fatores externos como a dificuldade de acesso ao sistema de saúde que por sua vez pode fazer com que os pacientes procurem a iniciativa privada que está fora do espectro do nosso estudo.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, podemos considerar que a prescrição e a dispensação dos medicamentos possui um perfil semelhante à de outros municípios brasileiros, com apenas alguns diferenças no fármaco mais prescrito, além disso as associações utilizadas também possuí um padrão que pode ser comparado com outros artigos citados neste estudo. Um ponto de alerta é a prescrição de medicamentos e/ou associações potencialmente sedativas para idosos, aumento o risco de queda ou desmaio, sendo assim um canal de diálogo deve ser aberto entre a equipe farmacêutica e os prescritores tendo como objetivo elaborar uma diretriz de prescrição de medicamentos psicotrópicos para pacientes potencialmente sensíveis outro assim a extensa divulgação também deve ser um objetivo a ser cumprido.

O farmacêutico deve assumir o protagonismo de suas funções, pois ao ser o último profissional de saúde a entrar em contato com o paciente há uma janela de oportunidade para que a sua atuação possa evitar erros no uso dos medicamentos, interações medicamentosas indesejadas e reações adversas que estão passando despercebidas pelo paciente. A sua principal ferramenta para ajudar o paciente deve ser a atenção farmacêutica e o acompanhamento farmacoterapêutico do paciente durante todo o processo de cuidado, realizando dessa forma um cuidado integral e centrado no paciente, pois o seu extenso conhecimento sobre os medicamentos pode ser decisivo na conclusão de um tratamento bem sucedido ou uma falha terapêutica.

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1Discente da residência multiprofissional em saúde da família da prefeitura municipal de Santa Luzia D’Orste, secretaria municipal de saúde – SEMUSA e-mail: kennedyoliveira23@gmail.com

2Discente da residência multiprofissional em saúde da família da prefeitura municipal de Santa Luzia D’Orste, secretaria municipal de saúde – SEMUSA e-mail: igorg.krugel@gmail.com

3Docente da residência multiprofissional em saúde da família da prefeitura municipal de Santa Luzia D’Orste, secretaria municipal de saúde – SEMUSA, pós graduada em análises clínica email: eglinthaisfarmaceuyica@gmail.com