O CONHECIMENTO DAS MODALIDADES ESPORTIVAS NA FORMAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA ESPORTIVO: PARA ALÉM DA ANATOMIA – RELATO DE EXPERIÊNCIA DA LAFDE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202508231447


Taanni Cajueiro Andrade
Raislla de Medeiros Santos
Orientador: Paulo Rogério Cortêz Leal*


RESUMO

O presente artigo é um relato de experiência sobre as atividades desenvolvidas pela Liga Acadêmica de Fisioterapia Desportiva (LAFDE), grupo de estudos do curso de Fisioterapia da AGES, em Jacobina – BA, criado com o objetivo de integrar teoria e prática no processo de formação acadêmica. As vivências ocorreram em diferentes modalidades esportivas — jiu-jitsu, pilates, crossfit, balé e boxe — proporcionando aos estudantes a compreensão das demandas biomecânicas específicas de cada prática, bem como dos desafios enfrentados por atletas e não atletas praticantes. Durante as atividades, foi possível identificar padrões recorrentes de lesões, discutir a relevância da prevenção e aprimorar o raciocínio clínico. Observou-se, ainda, que a execução de determinados movimentos técnicos exigia nível de preparo físico específico, configurando-se tanto como desafio quanto como oportunidade de aprendizado. Como resultado, verificou-se que a integração entre teoria e prática favorece a construção de um conhecimento essencial à formação do fisioterapeuta esportivo, possibilitando uma atuação mais qualificada e eficaz, voltada à prevenção, reabilitação e otimização do desempenho atlético.

Palavras-chave: fisioterapia desportiva; modalidades esportivas; lesões; biomecânica; formação acadêmica; prevenção; raciocínio clínico.

ABSTRACT

This article is an experience report on the activities carried out by the Academic League of Sports Physiotherapy (LAFDE), a study group from the Physiotherapy program at AGES, in Jacobina – BA, created with the purpose of integrating theory and practice in the academic training process. The experiences took place in different sports modalities — jiu-jitsu, Pilates, cross training, ballet, and boxing — providing students with an understanding of the specific biomechanical demands of each practice, as well as the challenges faced by athletes and non-athlete practitioners. Throughout the activities, it was possible to identify common injury patterns, discuss the importance of prevention, and enhance clinical reasoning. It was also observed that the execution of certain technical movements required a specific level of physical conditioning, representing both a challenge and an opportunity for learning. As a result, it was found that the integration of theory and practice fosters the development of essential knowledge for the training of sports physiotherapists, enabling a more qualified and effective practice focused on prevention, rehabilitation, and performance optimization.

Keywords: sports physiotherapy; sports modalities; injuries; biomechanics; academic training; prevention; clinical reasoning.

1. INTRODUÇÃO

As lesões esportivas são recorrentes em diferentes modalidades, tanto no contexto recreativo quanto no alto rendimento. Sua incidência varia de acordo com a intensidade da exposição, os gestos técnicos específicos e as demandas biomecânicas próprias de cada prática. Esses fatores tornam o acompanhamento fisioterapêutico essencial, não apenas para prevenir e monitorar riscos, mas também para otimizar o processo de reabilitação e garantir a continuidade da prática esportiva.

Compreender profundamente as modalidades esportivas, suas técnicas, padrões de movimento e exigências físicas é um diferencial na prática do fisioterapeuta esportivo. A atuação fundamentada nesse conhecimento permite, não só um tratamento mais assertivo, mas também a elaboração de estratégias de prevenção individualizadas, ajustadas às particularidades de cada esporte.

A Liga Acadêmica de Fisioterapia Desportiva (LAFDE) do curso de Fisioterapia da AGES JACOBINA – BA, foi criada em 1 de julho de 2024, com o intuito de proporcionar aos alunos uma experiência prática e integrada com o universo esportivo. Seu objetivo foi ampliar as oportunidades de aprendizado prático, abordando os diversos aspectos da fisioterapia esportiva, desde a prevenção até a reabilitação de lesões. Por meio da interação direta com diferentes modalidades esportivas, os estudantes têm a oportunidade de vivenciar as exigências biomecânicas e físicas específicas de cada esporte, o que contribui significativamente para a formação de futuros profissionais mais preparados e capacitados para atuar em contextos reais de atendimento esportivo.

Este relato busca refletir sobre as práticas realizadas dentro da LAFDE, abordando como a vivência em diferentes modalidades esportivas contribui para o desenvolvimento do raciocínio clínico dos alunos e a construção de um conhecimento aprofundado sobre as demandas biomecânicas e os riscos associados a cada esporte. Através dessa experiência, foi possível analisar como a liga fortalece a formação acadêmica, preparando os estudantes para enfrentar os desafios da prática fisioterapêutica esportiva.

De forma mais específica, pretende-se descrever como a experiência prática e o estudo dirigido das modalidades contribuíram para o desenvolvimento do raciocínio clínico dos participantes, especialmente na identificação dos riscos biomecânicos e padrões lesivos mais comuns. Essa aproximação entre teoria e prática amplia a capacidade de atuação tornando-a mais qualificada para o futuro fisioterapeuta esportivo, capacitando-o assim para uma atuação mais científica e eficiente.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A Liga Acadêmica de Fisioterapia Desportiva (LAFDE) foi criada com o objetivo de promover a fisioterapia desportiva, ampliando as oportunidades de aprendizado prático para os alunos em diferentes níveis — técnico, científico, social e colaborativo. A Liga visa estimular a saúde e o bem-estar da população, proporcionando uma interação constante com a realidade da profissão. Seu propósito é preparar os estudantes não apenas para aplicar técnicas de fisioterapia desportiva, mas também para transmitir conhecimento, desenvolver projetos e atuar em benefício da comunidade, oferecendo uma formação profissional completa e integrada. 

A atuação do fisioterapeuta esportivo exige mais do que o domínio da anatomia e da fisiologia. É essencial compreender os gestos motores específicos de cada modalidade esportiva e suas respectivas demandas físicas, pois esses elementos influenciam diretamente os padrões de sobrecarga e os mecanismos de lesão. Esse entendimento favorece a adaptação de protocolos de prevenção e reabilitação, resultando em intervenções mais precisas e eficazes (Scoggin et al., 2014; Koutedakis & Jamurtas, 2004).

A biomecânica desempenha papel central ao relacionar a execução do gesto esportivo com a ocorrência de lesões. No ballet por exemplo, os movimentos como o en dehors (rotação externa dos membros inferiores), saltos e rotações impõem elevada exigência sobre tornozelo, quadril e coluna (Steinberg et al., 2011). Por sua vez, em modalidades de contato, como o jiujitsu, destacam-se lesões articulares decorrentes de torções, especialmente em ombros e joelhos (Scoggin et al., 2014). No boxe, as lesões mais comuns são os traumas em punho e ombro, além de concussões (Loosemore et al., 2015). Em atividades de alta intensidade, como o CrossFit, estudos relatam maior prevalência de lesões em ombros, coluna lombar e joelhos, frequentemente associadas ao levantamento de peso e aos movimentos explosivos (Aune & Powers, 2017; Moran et al., 2017; Rodríguez et al.,2022). 

Nesse contexto, o Pilates se apresenta como uma estratégia de intervenção transversal às diversas modalidades esportivas, atuando tanto na prevenção quanto na reabilitação de lesões. Seus princípios — como concentração, controle, centralização, fluidez, precisão e respiração — favorecem o aprimoramento do condicionamento físico, a melhora da performance e a consciência corporal (Latey, 2001). Estudos indicam que o Pilates pode auxiliar atletas de alto rendimento e praticantes recreativos na manutenção da estabilidade articular, no ganho de flexibilidade e no fortalecimento do core, fatores essenciais para reduzir a sobrecarga biomecânica e aumentar a eficiência dos movimentos (Wells et al., 2012).  Além disso, como recurso terapêutico, o Pilates pode ser integrado a programas de fisioterapia desportiva para acelerar a recuperação funcional, restaurar padrões de movimento e preparar o atleta para o retorno seguro à prática esportiva.

Esse mapeamento de riscos permite que o fisioterapeuta atue de forma estratégica, antecipando cenários de lesão, monitorando as cargas de treino e planejando o retorno seguro ao esporte (Hreljac, 2004). Assim, a função do fisioterapeuta vai além da reabilitação; ela inclui a prevenção de lesões, a promoção da saúde e a otimização do desempenho atlético, fatores que contribuem para a longevidade esportiva e a redução de afastamentos (Reid et al., 2017).

No cenário internacional, um marco importante foi o projeto Sports Physiotherapy for All (SPA), lançado em 2005 pela International Federation of Sports Physical Therapy (IFSPT). O documento definiu quatro papéis centrais para o fisioterapeuta esportivo: (1) cuidador clínico, responsável pela prevenção, atendimento agudo e reabilitação; (2) educador, orientando estilos de vida ativos e seguros; (3) pesquisador/inovador, que integra evidências científicas e desenvolve novas abordagens; e (4) líder interdisciplinar, promovendo ética, profissionalismo, gestão e colaboração no contexto esportivo (IFSPT, 2005).

Contudo, mudanças recentes no cenário esportivo mundial, como o aumento da carga competitiva, a ampliação do número de modalidades, a incorporação de tecnologias de monitoramento e o fortalecimento de pautas relacionadas à inclusão, têm motivado questionamentos sobre a atualidade dessas competências. Verschuren e Constantinou (2023) argumentam que aspectos emergentes, como a análise de dados biomecânicos, a telemedicina e a atuação em ambientes esportivos diversos, ainda não estão plenamente contemplados pelas diretrizes de 2005, reforçando a necessidade de revisão e expansão do documento.

No campo da formação, o desenvolvimento de competências específicas em fisioterapia esportiva requer não apenas uma sólida base teórica, mas também experiência prática em diferentes modalidades, avaliação biomecânica direcionada, planejamento de programas de prevenção e reabilitação, além de uma comunicação efetiva com equipes multiprofissionais. Iniciativas acadêmicas, como ligas estudantis e projetos de extensão, são fundamentais para aproximar os estudantes da realidade do esporte e favorecer a construção dessas habilidades desde a graduação (Silva et al., 2016).

3. RELATO DE EXPERIÊNCIA 

Uma das principais atividade da LAFDE consistiu na realização de práticas esportivas, nas quais os alunos tiveram a oportunidade de vivenciar diversas modalidades. Esses momentos proporcionaram uma imersão no cotidiano de atletas, permitindo que os estudantes compreendessem as exigências físicas e biomecânicas de cada prática. As modalidades abordadas foram: Jiu-jitsu, com ênfase em defesa pessoal e competição, conduzido pelos professores Thiago Andrade e Jeane Rios, que permitiu aos alunos perceber os tipos de lesões mais comuns e os padrões de movimento de risco, além das adaptações necessárias para reduzir a sobrecarga articular; Pilates clássico, ministrado pela fisioterapeuta Ana Bartira, que abordou os princípios fundamentais do método, desde a criação por Joseph Pilates até os fundamentos do Pilates Mat básico, permitindo aos estudantes compreender como o controle postural, a respiração, a concentração e a centralização de força influenciam na prevenção de lesões e na melhoria da consciência corporal; Crossfit, com foco no movimento “toes to bar”, coordenado pelo professor Valdinei de Freitas, que permitiu vivenciar as exigências biomecânicas de atividades de alta intensidade, unindo coordenação, controle e força para uma execução segura; Ballet, com a bailarina Bárbara Dias, que destacou os cuidados necessários para a execução de movimentos como saltos, rotações e amplitude de movimento, ressaltando a exigência física específica para os bailarinos; e Boxe, com o professor Michel Nascimento, que trouxe insights sobre os aspectos biomecânicos e de resistência de esportes de combate, enfatizando a importância de uma execução correta dos movimentos, postura adequada e a atenção às forças envolvidas nos golpes.

Essas experiências práticas foram escolhidas para proporcionar uma compreensão profunda das especificidades de cada modalidade, permitindo que os alunos experimentassem, de forma direta, os gestos e movimentos dos atletas, além de compreenderem os riscos e desafios físicos envolvidos. Ao participar dessas atividades, os membros da LAFDE puderam observar as lesões comuns, os padrões de movimento e as demandas específicas de cada esporte. Essa imersão foi crucial para um aprendizado mais completo, enriquecendo a formação acadêmica e proporcionando uma visão mais abrangente da fisioterapia desportiva.

Além disso, essas vivências foram fundamentais para o desenvolvimento do raciocínio clínico, permitindo que os estudantes aprimorassem sua capacidade de identificar padrões biomecânicos lesivos e potenciais riscos. Com isso, puderam melhorar sua percepção sobre as necessidades específicas de cada modalidade esportiva, especialmente no que se refere à prevenção de lesões.

A integração entre teoria e prática foi decisiva para proporcionar uma formação mais sólida e alinhada às exigências do campo da fisioterapia desportiva. A vivência direta com os aspectos técnicos e biomecânicos das modalidades preparou os alunos para enfrentar os desafios do campo profissional com maior segurança e competência.

Dificuldades Encontradas

Durante a realização das atividades práticas nas diferentes modalidades esportivas, observou-se que nenhuma delas é completamente isolada ou autossuficiente. Cada esporte exige um conjunto específico de habilidades e um nível adequado de preparo físico, o que se refletiu diretamente nas experiências dos participantes da Liga.

Diversos desafios foram encontrados na execução de movimentos técnicos específicos, pois muitos deles demandavam um nível de condicionamento físico que nem todos possuíam no início das atividades. A adaptação a esses gestos técnicos e as exigências biomecânicas de cada modalidade, como as posições exigidas no jiu-jitsu, os saltos no ballet e os movimentos explosivos no CrossFit, evidenciaram a importância do preparo físico adequado para a execução correta e segura dos movimentos.

Entretanto, essas dificuldades também se configuraram como oportunidades de aprendizado. À medida que os estudantes se dedicaram ao aprimoramento das habilidades motoras específicas de cada prática, foi possível superar as limitações iniciais e, mais importante, se descobrir dentro das modalidades. A superação dos desafios físicos e técnicos proporcionou uma compreensão mais profunda das demandas de cada esporte, além de fortalecer o senso de resiliência e adaptação.

Essa vivência prática não só expôs as limitações físicas individuais, mas também permitiu reconhecer a importância da construção gradual de força, flexibilidade e coordenação, aspectos essenciais para a prevenção de lesões e para o desempenho no esporte. Ao final, a superação dessas barreiras foi essencial para o crescimento dos futuros fisioterapeutas esportivos, proporcionando uma visão mais ampla das exigências físicas e biomecânicas no contexto esportivo.

4. DISCUSSÃO 

O estudo de lesões esportivas e o papel da fisioterapia desportiva são temas essenciais para a promoção da saúde e do desempenho atlético, especialmente considerando a diversidade de modalidades esportivas e suas características biomecânicas únicas. A análise das práticas realizadas pela Liga Acadêmica de Fisioterapia Desportiva (LAFDE) revela como a integração entre o conhecimento teórico e a experiência prática pode aprimorar a formação dos futuros fisioterapeutas esportivos, permitindo-lhes atuar de maneira mais precisa e eficaz na prevenção e tratamento de lesões.

As modalidades esportivas abordadas neste estudo – jiu-jitsu, pilates, crossfit, ballet e boxe – oferecem um panorama abrangente das diversas exigências físicas e biomecânicas enfrentadas pelos atletas, e, ao mesmo tempo, apresentam desafios distintos em termos de prevenção de lesões. O entendimento das demandas específicas de cada esporte, como as forças envolvidas, os padrões de movimento e os tipos de lesões mais comuns, é fundamental para a adaptação de intervenções fisioterapêuticas que atendam às necessidades de cada atleta de forma individualizada. A imersão dos estudantes em atividades como o jiu-jitsu e o boxe, por exemplo, proporcionou uma vivência direta dos mecanismos de lesão e permitiu que os futuros profissionais compreendessem melhor a importância da postura e da execução técnica adequada. Por outro lado, a prática do pilates e do ballet ressaltou a relevância do controle postural, da flexibilidade e da consciência corporal na prevenção de lesões, especialmente em modalidades que exigem movimentos complexos e repetitivos.

A experiência prática proporcionada pela LAFDE permitiu que os alunos se familiarizassem com as lesões mais comuns em cada modalidade e os padrões biomecânicos que as desencadeiam, reforçando a importância de uma análise detalhada dos gestos esportivos. Esse conhecimento é essencial para a construção de protocolos de prevenção personalizados, que considerem não apenas os riscos biomecânicos, mas também as particularidades de cada indivíduo. Além disso, a interação com diferentes modalidades esportivas contribuiu significativamente para o aprimoramento do raciocínio clínico dos estudantes, favorecendo a tomada de decisões mais assertivas durante o processo de avaliação e intervenção.

O desenvolvimento do raciocínio clínico, como destacado no estudo, é um aspecto crucial da formação do fisioterapeuta esportivo. A capacidade de identificar padrões lesivos e antecipar riscos é uma habilidade que vai além da simples aplicação de técnicas de reabilitação, abrangendo uma abordagem preventiva que é fundamental para a longevidade do atleta. Neste contexto, a fisioterapia desportiva assume um papel proativo, não apenas auxiliando na recuperação das lesões, mas também na manutenção da saúde física e na otimização do desempenho atlético.

Além disso, a experiência prática também reforça a importância do trabalho interdisciplinar. A interação com professores e profissionais de diferentes áreas, como instrutores de modalidades esportivas e fisioterapeutas especializados, permite que os estudantes compreendam a complexidade do trabalho em equipe e a necessidade de uma abordagem integrada para o cuidado do atleta. O papel do fisioterapeuta, portanto, não se limita à reabilitação das lesões, mas se estende à promoção da saúde e à educação sobre práticas de treino seguras, a fim de evitar a sobrecarga e o surgimento de novas lesões.

A literatura revisada corrobora a importância desse tipo de abordagem. Estudos como os de Scoggin et al. (2014) e Koutedakis & Jamurtas (2004) reforçam a relevância do conhecimento biomecânico na prevenção de lesões e na adaptação de programas de reabilitação. As evidências científicas destacam que a personalização dos tratamentos, aliada à compreensão detalhada dos gestos esportivos, aumenta significativamente a eficácia das intervenções fisioterapêuticas. Além disso, a evolução das tecnologias de monitoramento, como apontado por Verschuren e Constantinou (2023), sugere que os fisioterapeutas esportivos devem estar cada vez mais preparados para utilizar essas ferramentas no acompanhamento dos atletas, promovendo uma abordagem mais precisa e informada.

É válido observar, também, que a formação acadêmica em fisioterapia desportiva precisa estar em constante atualização, especialmente em relação às novas demandas do cenário esportivo global. O aumento da carga competitiva, a diversidade de modalidades esportivas e o advento de tecnologias de monitoramento exigem uma constante revisão dos protocolos de atuação e do desenvolvimento de novas estratégias de intervenção. Nesse sentido, iniciativas como a LAFDE desempenham um papel fundamental ao proporcionar aos estudantes uma formação prática alinhada às necessidades atuais do mercado de trabalho.

Por fim, a vivência prática na LAFDE demonstra que a fisioterapia desportiva vai além do conhecimento técnico e biomecânico. Ela envolve uma compreensão holística do atleta, considerando seus aspectos físicos, técnicos, psicológicos e sociais. O futuro fisioterapeuta esportivo deve ser capaz de integrar esses múltiplos fatores, oferecendo um atendimento que não só trate lesões, mas também promova o bem-estar, otimize o desempenho e garanta a continuidade da prática esportiva com segurança.

A integração entre teoria e prática, portanto, é um dos pilares que sustenta a formação do fisioterapeuta esportivo. A vivência direta nas modalidades esportivas e a análise dos gestos técnicos, como evidenciado neste estudo, contribui de forma decisiva para a construção de um profissional mais capacitado, seguro e preparado para enfrentar os desafios do campo da fisioterapia desportiva.

5. CONCLUSÃO 

Em síntese, a prática esportiva, embora seja uma promotora fundamental da saúde e do bem-estar, apresenta riscos inerentes que exigem uma atenção especializada e uma abordagem multiprofissional. O fisioterapeuta esportivo, ao compreender as particularidades de cada modalidade – incluindo a epidemiologia das lesões, os gestos técnicos e as demandas físicas – está melhor capacitado para atuar de forma preventiva, interventiva e reabilitadora, contribuindo para a saúde e o desempenho atlético. A experiência prática proporcionada pela Liga Acadêmica de Fisioterapia Desportiva (LAFDE) se revela como um componente crucial dessa formação, oferecendo aos estudantes uma vivência direta das exigências biomecânicas dos esportes, além de permitir a observação dos padrões de risco e a aplicação do raciocínio clínico em contextos reais.

A integração entre teoria e prática fortalece a formação acadêmica, proporcionando uma visão holística do atleta, que abrange não apenas os aspectos físicos e técnicos, mas também os fatores psicológicos e sociais envolvidos na prática esportiva. Este aprendizado integrativo é vital para a construção de estratégias de prevenção e reabilitação personalizadas, alinhadas às especificidades de cada esporte e aos desafios individuais dos atletas. Além disso, permite uma atuação consciente e eficaz em diferentes contextos profissionais, desde o atendimento clínico até o acompanhamento em ambiente competitivo.

Portanto, iniciativas como a LAFDE desempenham um papel essencial na formação de fisioterapeutas esportivos, enriquecendo sua experiência acadêmica e capacitando-os a atuar com maior competência, visão crítica e sensibilidade diante das necessidades dos atletas. A formação proporcionada por essas experiências práticas não apenas eleva o nível de conhecimento técnico, mas também contribui para o desenvolvimento de profissionais mais preparados para garantir a saúde, o desempenho e a longevidade dos atletas, tornando-os aptos a enfrentar os desafios e transformações do cenário esportivo contemporâneo.

6. REFERÊNCIAS 

AUNE, Kyle T.; POWERS, Jeffrey M. Injuries in an extreme conditioning program: a case series. Orthopaedic Journal of Sports Medicine, v. 5, n. 7, p. 1–6, 2017.

HRELJAC, Alan. Impact and overuse injuries in runners. Medicine and Science in Sports and Exercise, v. 36, n. 5, p. 845–849, 2004.

INTERNATIONAL FEDERATION OF SPORTS PHYSICAL THERAPY (IFSPT). Sports Physiotherapy for All (SPA) Project: competencies for sports physiotherapists. 2005. Disponível em: https://ifspt.org. Acesso em: 20 ago. 2025.

KOUTEDAKIS, Yiannis; JAMURTAS, Athanasios. The dancer as a performing athlete: physiological considerations. Sports Medicine, v. 34, n. 10, p. 651–661, 2004.

LOOSEMORE, Mike et al. Boxing injuries by anatomical location: a systematic review. British Journal of Sports Medicine, v. 49, n. 14, p. 907–912, 2015.

MORAN, Ryan N. et al. CrossFit and the epidemiology of musculoskeletal injuries. Journal of Sports Rehabilitation, v. 26, n. 4, p. 1–8, 2017.

REID, Duncan et al. The role and scope of practice of sports and exercise medicine in New Zealand. BMJ Open Sport & Exercise Medicine, v. 3, n. 1, p. e000272, 2017.

RODRÍGUEZ, Ángel; et al. CrossFit training and injuries: a systematic review. Sports Health, v. 14, n. 1, p. 58–68, 2022.

SCOGGIN, Joseph F. et al. Assessment of injuries during Brazilian jiu-jitsu competition. Orthopaedic Journal of Sports Medicine, v. 2, n. 2, p. 1–7, 2014.

SILVA, Juliana et al. Ligas acadêmicas: uma proposta de integração ensinoserviço-comunidade. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 40, n. 3, p. 445– 453, 2016.

STEINBERG, Noa et al. Injuries in female dancers aged 8–16 years. Journal of Athletic Training, v. 46, n. 2, p. 197–204, 2011.

VERSCHUREN, Olivier; CONSTANTINOU, Demetris. Updating competencies in sports physical therapy: reflections on the SPA framework. International Journal of Sports Physical Therapy, v. 18, n. 2, p. 285–292, 2023.

SILVA, A. M. C.; OLIVEIRA, R. R.; PEREIRA, M. G.; et al. Perfil da Fisioterapia Esportiva nas Instituições de Ensino Superior do Brasil. Fisioterapia e Pesquisa, 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/fp/a/QdywT78SX5YJv5sfXNYSsmH/?lang=pt. Acesso em: 20 ago. 2025. 

BAHR, R.; KROSSHAUG, T. Understanding injury mechanisms: a key component of preventing injuries in sport. British Journal of Sports Medicine, v. 39, n. 6, p. 324–329, 2005. Disponível em: https://bjsm.bmj.com/content/39/6/324. Acesso em: 20 ago. 2025.

LATEY, P. The Pilates method: history and philosophy. Journal of Bodywork and Movement Therapies, v. 5, n. 4, p. 275-282, 2001.

WELLS, C.; KOLT, G. S.; BIALOCERKOWSKI, A. Defining Pilates exercise: a systematic review. Complementary Therapies in Medicine, v. 20, n. 4, p. 253-262, 2012.


*Liga Acadêmica de Fisioterapia Desportiva – LAFDE
Faculdade AGES, Jacobina -BA