REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8002213
Alessandra Nascimento Pontes1
Eduarda Karoliny dos Santos Costa2
Jandson de Oliveira Soares3
Stephany Karolyne de Oliveira Santos4
RESUMO
Saber que está acometido com uma patologia oncológica produz impacto emocional tanto no indivíduo, quanto na família. Como em qualquer outra circunstância, sabe-se que a família é muito importante no processo de tratamento do paciente. Assim, o estudo tem como objetivo compreender a dinâmica familiar frente a condição do paciente. Para tanto, a pesquisa analisou a convivência de uma paciente e sua família, a partir de um relato de experiência. A partir da entrevista, os resultados mostraram que houve mudanças na organização familiar após o adoecimento, também, durante todo o tratamento. O apoio familiar é fator crucial para a recuperação do paciente, já que há uma necessidade de flexibilização de cada membro que está próximo do indivíduo doente. Resta confirmado, portanto, que a união familiar é muito serve de esteio para o paciente apoiar-se, enquanto busca sua cura.
Palavras-chave: Câncer; Tratamento; Apoio familiar.
ABSTRACT
Knowing that you are affected by an oncological pathology has an emotional impact on both the individual and the family. As in any other circumstance, it is known that the family is very important in the patient’s treatment process. Thus, the study aims to understand the family dynamics in view of the patient’s condition. Therefore, the research analyzed the coexistence of a patient and her family, based on an experience report. From the interview, the results showed that there were changes in the family organization after the illness, also during the entire treatment. Family support is a crucial factor for the patient’s recovery, as there is a need for flexibility from each member who is close to the sick individual. It remains confirmed, therefore, that the family union is very useful for the patient to support himself, while he seeks his cure.
Keywords: Cancer; Treatment; Family support.
1 INTRODUÇÃO
O presente estudo, tem como objeto abordar um tema de grande relevância, qual seja, o binômio família-paciente e o conhecimento das influências do adoecimento frente ao câncer. E se dará a partir de um relato de experiência, tendo como motivação estudar o paciente acometido com essa patologia e sua vivência no que diz respeito aos diferentes sentimentos e reações que terminam por alcançar seus familiares.
Atualmente, o câncer, seja ele de qualquer ordem, a maioria dos casos seja uma doença tratável, contudo, mas a partir de um diagnóstico positivo já é possível verificar um grande impacto tanto para o paciente, bem como, para as pessoas que convivem com ele. A grande problemática reside no fato de que a condição patológica do paciente desencadeia, não só nele, mas em todos que o cercam, uma sensação de medo e insegurança ante às informações novas a serem processadas (SILVA et al., 2019).
Desde o momento do diagnóstico de pacientes oncológicos, se inicia com ele os questionamentos acerca do que está por vir, se entendendo à família as repercussões da condição daquele que foi acometido pela doença, já que, geralmente, há uma relativa dependência entre o paciente e seus familiares. Não se trata apenas da condição patológica em si, mas também, dos efeitos colaterais advindos do processo de tratamento, bem como, todo o desgaste físico e psicológico que todos enfrentam (BORGES et al., 2017).
O acompanhamento de uma pessoa doente, por si só, já gera desgaste, todavia, em se tratando de uma doença que deixa certo estigma, como é o caso do câncer, os desgastes sofridos no enfrentamento da patologia, na busca de garantir ao paciente acesso aos recursos de saúde, pode desenvolver a vulnerabilidade emocional e psicológica, tanto nos pacientes, quanto nas pessoas que deles cuidam (MORENO GONZÁLEZ, 2019).
O adoecimento do paciente, sempre acarretará a desestabilização no contexto dinâmico da estrutura familiar, o sofrimento que o diagnóstico oferece alcança seus integrantes, já que a família é a base do indivíduo e a saúde daqueles que compõem família é de suma importância para manutenção do equilíbrio, por isso, o apoio familiar é de suma relevância para a pessoa que se encontra enferma (SATO, 2020).
Para o bem da verdade, desde o momento da revelação do diagnóstico oncológico, a participação da entidade familiar é fundamental, posto que o paciente carece do amparo e acolhimento dos seus entes, cujo papel é indispensável na manutenção do equilíbrio. Não que seja uma tarefa fácil, ante o enfrentamento das dúvidas e anseios daquilo que não se pode prever, no entanto, já está pacificado na literatura atual, que o apoio familiar é de notada importância no processo de tratamento e cura, do paciente acometido com o câncer (ANTONELO, 2020).
Não bastasse o acometimento da doença que afeta a forma física do indivíduo, quando se trata do câncer, o psicológico da pessoa sofre de maneira significativa, dada a incerteza no tratamento e possibilidade de restabelecimento do paciente. É sabido que o diagnóstico dessa patologia câncer costuma gerar grande impacto na saúde mental de qualquer pessoa, mesmo mais fortes. Assim, o apoio da família é imprescindível para a manutenção da saúde mental do paciente, ao longo do tratamento (SATO, 2020).
A união familiar é necessária diante de um diagnóstico oncológico, pois a família também é afetada diretamente a partir da notícia de que um dos seus entes está diante de uma patologia tão complexa e de futuro incerto. Algumas pesquisas dão conta de que a cooperação familiar é tão relevante quanto o próprio tratamento do câncer (SILVEIRA, 2018).
Normalmente, o paciente oncológico é estigmatizado pela sociedade, não bastasse, na maioria das vezes, a falta de resultado positivo no tratamento e todos os procedimentos dolorosos aos quais se submete ao longo de sua jornada em busca da cura. Há um grande negativismo diante do câncer e o impacto que o indivíduo sofre ao tomar conhecimento de que fora acometido pela patologia, por si só já lhe proporciona grande desolação, por isso, o papel da família é importante, especialmente na fase inicial, para que doente saiba que não está sozinho (DOSSENA; ZACHARIAS, 2023).
Quando se trata do indivíduo que se descobriu acometido por uma patologia oncológica, há a necessidade de que o suporte familiar se faça presente, para que além da doença, o paciente não venha desenvolver outras mazelas, especialmente as mentais. Pois é grande o número de pessoas que se veem à mercê de uma doença psicológica quando da descoberta de um câncer, já que se trata de uma condição demasiadamente difícil de se aceitar (TARABAY, 2022).
Observa-se, que não se trata de uma tarefa fácil, nem cômoda, para a família, quando se trata de um enfrentamento de um câncer, mas a entidade familiar deve conscientizar-se de que todo apoio é necessário para que o paciente percorra todo o processo sem desistir, para que o indivíduo se mantenha firme no tratamento. É notório que esse apoio faz toda a diferença na vida de qualquer paciente que esteja lutando contra uma doença, bem como, na sua recuperação, de maneira mais rápida (SANTOS, 2017).
Naturalmente, quando uma pessoa descobre que está com câncer, ela não sabe como agir no início, muitas das vezes, senão na maioria, é comum não saber o que fazer em um primeiro momento, mas, se ele se sentir apoiado no seio familiar, a sua ótica sobre a patologia se expande, de maneira que ele se sente mais motivado para travar o combate que se inicia em prol da sua saúde e recuperação mais breve (SILVA, 2019).
A família é fonte de apoio em qualquer circunstância que um indivíduo venha enfrentar, mas, em se tratando de uma condição patológica onde o paciente se vê imerso em um mar de incertezas e dúvidas, o apoio familiar é, decerto, o pilar para que a pessoa possa se apoiar e seguir em frente, buscando uma recuperação e normalização de sua vida. A família é, sem dúvida, a base emocional do ser humano, já que uma estrutura familiar sólida, traz conforto e alento até nos momentos mais difíceis (MORENO GONZÁLEZ, 2019).
Seja na fase inicial, ou no decorrer do processo de tratamento, a família do paciente acometido por uma patologia oncológica, é necessária para que este venha se ajustar a sua condição e desenvolva confiança para enfrentar a doença de maneira mais positiva, já que é certo que o olhar que se tem diante de determinadas situações no enfrentamento de alguma doença, é o diferencial para a pronta recuperação (SILVA, 2019).
Resta demonstrada, portanto, a importância da participação da família no acompanhamento do paciente oncológico e isso pode ser visto através de estudos que apontam para a necessidade do apoio familiar ao indivíduo acometido pelo câncer, sendo esse fator necessário para que a sua recuperação de maneira mais rápida e positiva (SILVEIRA, 2018).
Justifica-se o presente trabalho pela necessidade das pesquisadoras de relatar a referida experiência, no sentido de ajudar outras pessoas que passam pelo mesmo processo, com o objetivo de minimizar as consequências da terapêutica.
Para tanto, levanta-se o seguinte questionamento: Qual a relação entre o binômio família-paciente e o conhecimento das influências do adoecimento frente ao câncer?
Objetiva-se, a partir do presente estudo, descrever a relação entre o binômio família-paciente e o conhecimento das influências do adoecimento frente ao câncer.
2 MÉTODO/METODOLOGIA
Trata-se de um estudo qualitativo e do tipo relato de experiência. Descrevendo as características vivenciadas pelas enfermeirandas durante o estágio curricular obrigatório na Unidade Docente Assistencial Rosa Maria Medeiros, conta com uma área de abrangência de 6 microáreas e 6 Agentes Comunitários de Saúde e atende uma população de 3.986 cidadãos ativos.
O relato de experiência é um instrumento de pesquisa descritivo que reflete uma ação ou conjunto de ações que abordam uma situação encontrada em um campo profissional de interesse da comunidade científica. O estágio que deu origem à redação deste relatório decorreu de março de 2023 a maio de 2023.
O relato de experiência trata-se de um texto que tem a propositura de descrever de forma precisa determinada experiência, visando contribuir relevantemente, para dada área de atuação. Ele descreve aquilo que o autor ou equipe faz, a partir da vivência profissional, contribuindo para a discussão e proposição de novas ideias acerca de determinado assunto, buscando sua respectiva melhoria (ESCRITA ACADÊMICA, 2023).
Nesse mesmo pensamento, Moretti (2020, p. 1) assevera que, “o relato de experiência tem a finalidade de descrever uma experiência vivida que pode contribuir com a construção de conhecimento na área de atuação. ”
O estudo foi motivado pela vivência de um familiar cuidador onde as principais questões foram levantadas a partir das percepções deste. Os encontros sempre foram realizados por meio de diários de campo para relatar precisamente todos os procedimentos e situações vivenciadas.
3 RESULTADO E DISCUSSÃO
O estudo teve como base, um relato de experiência vivenciado 2 (duas) acadêmicas de enfermagem que experimentaram a vivência com uma paciente acometida por uma patologia oncológica, desde o início, quando foi descoberta, até o processo de cura e superação da doença.
A paciente relatou que começou a sentir dores em baixo do braço, na região da axila, que a incomodava ao se deitar. Ela então, foi investigar e descobriu que tinha um tipo de câncer chamado linfoma de Hodgkin.
O Linfoma de Hodgkin representado pela sigla HL, se dá através da proliferação de células malignas do sistema linfático. Pode ocorrer de forma localizada ou disseminada, se trata de um tipo raro de câncer cujo surgimento ocorre a partir de linfócitos B e normalmente atinge os linfonodos causando um aumento persistente e indolor destes gânglios linfáticos (HORTA et al., 2020).
Para fazer essa descoberta, a investigação foi se aprofundando e ela passou por vários médicos, chegando por fim na onco-hematologista, especialista em oncologia e hemácias, a descoberta se deu através de um exame chamado Pet-Scan. No caso da paciente, relatada nesse estudo, a médica que a avaliou era bastante experiente nesse ramo oncológico, então, para dirimir as dúvidas, ela solicitou uma biópsia, para que se tivesse um diagnóstico mais preciso.
Para qualquer patologia, um diagnóstico rápido pode ser considerado um sinônimo de cura, por isso, assim como todas as áreas da medicina, aquelas que estão relacionadas ao tratamento do câncer, deve ser precisa, para que venha ajudar na recuperação do paciente. É o caso da onco-hematologia, uma área da medicina que tem apresentado grandes avanços, contribuindo para bons resultados, aumentando expressivamente a sobrevivência e a qualidade da vida dos pacientes (SILVA et al., 2020).
Quando se trata de saúde, sabemos a importância de ter o hábito de fazer exames periódicos que possam identificar alguma doença, atuando de forma preventiva. Descobrir uma patologia no início é ter mais chance de cura. Estamos conscientes, de que nessa abordagem a paciente procedeu de maneira correta.
É sabido que, quando se trata de qualquer tipo de câncer, as pessoas tendem a se assustarem e até mesmo se desesperarem, dadas a agressividade que a doença, por si só, traz para o paciente, mas também, todo percurso até a duvidosa recuperação. O medo, em um primeiro instante, é a única certeza que o indivíduo tem, depois o desespero e, por fim, a desolação (SALVETTI, 2020).
Ao ser questionada de qual sua reação ao descobrir a doença, a paciente respondeu que foi um susto muito grande, porque sempre foi muito cautelosa com sua saúde e passava por exames de rotina a cada e 4 (quatro) ou 5 (cinco) meses e tinha mais ou menos esse tempo desde seus últimos exames, que por sinal, estavam todos sem alteração.
O indivíduo estar em uma fase da vida onde está tudo bem com sua saúde e de repente ser surpreendido com a notícia de que tem uma doença responsável por causar a morte de muita gente, de fato é algo amedrontador. Qualquer outra doença, já é algo complicado de se saber, quanto mais uma condição oncológica que pode colocar em risco a sua existência. Muitas são as sensações experimentadas por pacientes com câncer, mas o medo, certamente, é a pior delas (LACERDA ET AL., 2020).
Ela disse que não acreditava que estava com a patologia, já que não tinha muito tempo do seu último check up. Ela se descobriu com a doença em um grau bastante elevado, no grau 3 (três), se fosse o grau 4 (quatro), seria metástase, mas que a médica foi uma excelente profissional e correu contra o tempo para salvar sua vida. Mas o medo foi grande, quando ela questionou à médica onde estava o tumor e esta lhe mostrou o exame com o seu corpo infestado da doença, em todas as partes de seu corpo tinha nódulos. Foi aí que ela foi tomada pelo medo e pensou que morreria, já que seu corpo estava tomado pela doença.
Quando o paciente se ver acometido por uma patologia tão grave, é natural que tenha medo de morrer, já que o índice de mortalidade em decorrência do câncer, é algo expressivo, sendo considerada, no Brasil, a segunda maior causa de mortalidade, se tornando uma questão de saúde pública. Mas, quanto ao medo da morte, é uma questão subjetiva, varia em cada paciente, vai depender da condição psicológica de cada um (DALL’ AGNOL STAVINSKI et al., 2020).
A comunicação do prognóstico e do diagnóstico vem margeada de problemas, pois, em se tratando de doenças que são fatais, não é uma tarefa agradável para o médico fazer esse comunicado, já que informar ao paciente que o mesmo foi acometido pela doença, traz um impacto psicológico muito grande, sendo necessária uma maior prudência quando for informar sobre a patologia (CAMPAGNE, 2019).
No caso da paciente abordada, esta informou que a maneira como sua médica contou-lhe sobre a doença, fez toda a diferença, porque ao receber o diagnóstico, em um primeiro momento, a paciente se espantou e achou que morreria, mas a experiência da profissional da saúde lhe trouxe esperança de recuperação.
Foi quando ela foi informada que o linfoma atacava a corrente linfática e que naquele momento ele não estava fora dela, não estava em outros órgãos e que teria tratamento, foi nesse momento que a paciente disse que pôde respirar, já que havia questionado quanto à possibilidade de cura e a médica lhe informou que se ela suportasse o tratamento e o fizesse direito, teria 80% de chance, ela informou que o grande desafio era justamente o tratamento, que era muito agressivo.
Por mínima que seja a chance de sobrevivência, o paciente oncológico apega-se a ela. Pois em alguns casos, é a única coisa que lhe resta. A esperança de que pode melhorar é o refúgio do paciente com câncer, já que a doença, por si só, já traz dúvidas e medos. Quando só há esperança de melhoria, o paciente tem uma maneira de pensar positiva, facilitando o processo de cura (FERNANDES FERREIRA et al., 2020).
As patologias oncológicas, já estigmatiza o paciente desde o prognóstico, já que o câncer é uma doença, que em alguns casos, não há cura e isso provoca medo e desolação em quem recebe a notícia de uma patologia tão agressiva, tanto no processo, quanto no tratamento, já que muitos morrem, justamente, por não suportarem o referido tratamento. Mas é importante frisar, que não é só o paciente que sofre com conhecimento da doença, mas sua família também. O sofrimento é coletivo (FREIRE, 2018).
Quando a paciente foi questionada de como foi a recepção e o comportamento de seus familiares ao saber da doença, ela disse que sua família foi muito importante nesse momento, pois, apesar de terem se surpreendido e se assustado, não fizeram muito alarde e a incentivaram iniciar o tratamento imediatamente, deram força a ela, até porque, no mesmo dia do diagnóstico, a médica já solicitou a sua internação e a família lhe deu todo apoio. Isso com certeza trouxe segurança e esperança para a paciente.
Muitas das vezes, e até naturalmente, o paciente ao ser informado que está com câncer, tende a perder a esperança e se vê imerso a incertezas, ele não sabe o que o futuro lhe reserva e com isso vem à depressão. Mas, essa condição também é aumentada no processo de tratamento, já que a quimioterapia é um procedimento bastante agressivo e deixa o paciente muito debilitado. O paciente sofre muito, fisicamente, ao longo da quimioterapia e com isso, por contas das moléstias do como, tais como fadiga e falta de apetite, dentre outras, o fator psicológico aflora, e com ele, a depressão (CORBO, 2020).
Sobre esse aspecto, a paciente falou que no processo de quimioterapia, ela recebia o tratamento a cada 15 dias e ao retornar, não tinha forças. Ela sentia muitas dores no corpo, náusea, falta de apetite e um grande desânimo. Segundo ela, não conseguia nem mensurar o que sentia. Ela conta, ainda, que quando se aproximava do dia da quimioterapia, lhe batia uma tristeza e se sentia deprimida. A paciente alegou que na metade do tratamento, ela já se sentia bastante cansada e desanimada, porque já tinha perdido peso e energia, pois chegou a acreditar que não conseguiria.
O processo quimioterápico acarreta grande impacto funcional no paciente, já que a exposição à quimioterapia traz efeitos colaterais das substâncias utilizadas, além de o paciente com câncer está constantemente suscetível a várias condições complicadas de ordem física e respiratória, pela aplicação do procedimento (PAIVA et al., 2021)
Como já foi dito, o apoio da família é um fator decisivo no processo de recuperação do paciente. O tratamento do câncer é muito agressivo e fragiliza muito o paciente, tanto em termos físicos como psicológicos, já que é muito doloroso e demorado, mas o apoio familiar traz força para que o paciente não desista e percorra o caminho até a cura de forma menos dolorosa e mais suave, fazendo com que ele tenha condições de suportar o seu processo de recuperação (SALDANHA, 2019).
Perguntou-se a paciente se ela recebeu apoio familiar e ela respondeu que sua família lhe deu muito apoio, de todas as maneiras. Seus pais e irmãos foram cruciais em seu processo de recuperação. Mas, a corrente se estendeu por todos os demais familiares que se fizeram bastantes presentes ao longo do tratamento. Afirma que fizeram várias visitas em sua casa, sempre estiveram por perto, de alguma forma. Recebeu muito apoio, até de pessoas que ela sequer imaginou. Assim, seus familiares foram de grande valia em seu processo de cura.
Quando o indivíduo se vê acometido por uma doença, que em um primeiro momento, é tida como incurável, ele certamente tentará se agarrar em alguma coisa, em algo ou alguém, que lhe sirva de base para se sustentar no processo de tratamento. E como é sabido, o câncer é uma das doenças que mais provoca medo naqueles que se veem acometidos com a patologia e nem sempre a esperança da cura, por si só, é suficiente para o paciente, ele buscará um apoio, para se manter firme na luta. Logo, pensamento positivo e focar em algo, ou alguém, tem papel importante na recuperação do paciente, para que este não desista no meio do caminho (SILVA, et al., 2019).
A paciente, foi questionada acerca do que a ajudou no processo de recuperação e ela prontamente respondeu, que foi a força e a fé, mas também o foco. Pois seu foco era recuperar-se o mais breve possível para estar com sua filha, já que é divorciada, e à época, a criança tinha apenas 7 (sete) anos, então ela se apegou ao fato de que se algo acontecesse com ela, quem cuidaria de sua filha?
A fé, em vários aspectos da vida humana tem sido o combustível para o indivíduo prosseguir nas situações mais complexas. Não é diferente quando se trata da descoberta de uma doença que pode ceifar a vida. As pessoas, na maioria dos casos, quando se descobrem doentes, tendem a se tornarem mais fervorosas, para que a fé lhe sirva de fortalecimento no percurso, até a recuperação (MONEGO, 2020).
Ela pediu a Deus forças para que ela pudesse passar pelo tratamento, que por sua vez, foi doloroso, pois muitas das vezes ela não queria comer e tinha muita vontade de vomitar, por conta das aplicações de quimioterapia. Mesmo sem conseguir comer e muita náusea, ela se forçava a ingerir o alimento, pois ela estava sempre focada na filha, em seu bem-estar e suas necessidades. Ela relata, ainda, que no processo de quimioterapia, ela chegou a conviver com pessoas que passaram pelo mesmo tratamento, mas que não sobreviveram, justamente porque não conseguiram se alimentar.
O paciente oncológico, quase sempre está em constante enfrentamento do medo. Vive um sentimento de impotência ante a condição que se encontra e por conta dessa condição, busca refúgio na religiosidade e a espiritualidade, já que fisicamente e psicologicamente, há um esgotamento (MENDONÇA et al., 2020).
A queda de cabelo começou a partir da terceira dose de quimioterapia. Para uma pessoa vaidosa isso foi bem frustrante, pois sempre cuidei do meu cabelo. Por cair muito, tive que cortar, pois já não era possível manter do jeito que estava. Seria menos frustrante não ter cabelo nenhum, do que ver o cabelo caindo, sem poder fazer nada.
A queda de cabelo em pacientes submetidos à quimioterapia é bastante comum e pode variar no estágio inicial da queda. Mas sempre irá cair. Eis que se trata de um dos efeitos colaterais do processo quimioterápico e assim como todos os outros, é difícil de ser enfrentado. O cabelo feminino, na sociedade atual, é visto como um símbolo da identificação da mulher e para a paciente em tratamento por quimioterapia, a inevitável queda, acarreta um abalo considerável em seu estado emocional (MONTEIRO, 2021).
O indivíduo, desde sua formação, não foi criado para viver só, sendo assim, a base familiar é um elemento muito forte, quando se trata da recuperação de um paciente com câncer. O fator psicológico é decisivo ao longo desse tratamento e ter equilíbrio para suportar, na maioria das vezes, o paciente carece do apoio familiar, sendo o pilar para o paciente perseguir sua recuperação, não que seja um caminho curto e fácil, mas se o indivíduo estiver apoiado em sua família, o processo torna-se mais suportável (BINOTTO; SCHWARTSMANN, 2020).
Ao ser questionada acerca de quem mais apoiou desde o diagnóstico até o fim do tratamento, a paciente falou que sua mãe, foi de grande importância no processo, pois a acompanhou ao longo do tratamento e em cada quimioterapia e ainda, cuidou de sua filha pequena, já que ela precisou ir morar com sua mãe.
O apoio familiar é sempre um alento para o paciente em enfrentamento de doenças, principalmente, quando se teme pela vida. O paciente oncológico padece de vários sofrimentos, que vão dos aspectos físicos aos psicológicos, estando sempre com limitações para a vida cotidiana, daí a importância da presença da família, pois todo apoio é válido e necessário (SILVA, 2020).
Mas também, seu irmão, pois ele sempre a levava para onde ela precisasse, não importava a hora, bem como, seu padrasto, que tomou a responsabilidade de levar sua filha no colégio ou a qualquer outro lugar. Seu pai, embora morasse longe, sempre esteve ao seu lado, a acompanhando o tempo todo e ainda, sua irmã mais nova, que se ocupou, junto com sua mãe, em cuidar de sua filha e a acompanhar em cada visita ao hospital.
A família é uma instituição cuja fundação está nos preceitos de união e companheirismo, sendo assim, no ápice da necessidade humana, a entidade familiar, na maioria dos casos, é recurso indispensável para a superação do indivíduo que esteja enfrentando dificuldades, especialmente, quando se trata do enfrentamento de alguma doença.
4 CONCLUSÃO
A partir do presente relato de experiência, foram reveladas mudanças na organização familiar da paciente após o seu adoecimento com o câncer, bem como, durante todo seu tratamento. Percebeu-se a flexibilização da família para fornecer apoio e proteção à paciente, ao longo de seu processo de recuperação. Mas isso só foi possível porque a estrutura familiar era sólida.
Atravessar um processo de tratamento contra o câncer, não é tarefa fácil para o paciente, tampouco para a família. Mas no caso do relato que foi realizado a partir da fala da paciente, foi perceptível que os familiares foram capazes de se unirem e mudaram suas rotinas para juntos, poder enfrentar as dificuldades e os desafios pertinentes à doença e o processo de tratamento da paciente.
A presença da família contribuiu para a recuperação da paciente, pois deu a ela a esperança da recuperação e a fé de que seria possível sua cura, pois tinham muitas pessoas a apoiando ao longo do trajeto. A entidade familiar, o caso em estudo, contribuiu de forma positiva para que a paciente lutasse por sua vida, já que se sentia amparada e com isso sua força aumentava.
Como na maioria dos casos, o adoecimento da paciente não apenas a impactou, mas também alcançou seus familiares mais próximos, chegando, também, a alcançar outros parentes fora de sua convivência, mas que se fizeram presentes ao longo do processo de recuperação. Então, houve um equilíbrio dinâmico entre a organização familiar e a paciente, diante da sua condição patológica.
Importante observar, que toda a família tinha sua própria rotina, cada membro com seus afazeres e responsabilidade, mas com o conhecimento da doença, mudaram completamente a dinâmica familiar, onde a paciente precisou morar com sua mãe, já que tinha uma filha pequena que precisava de cidadãos, que naquele momento, ela estava impossibilitada de cuidar, pois já estava sendo cuidada, também.
Logo, o relato de experiência demonstrou que papéis e hábitos precisaram ser mudados, para que a paciente tivesse um melhor acompanhamento e apoio, o que foi de grande relevância para sua breve recuperação. Assim, a conclusão desse relato, limita-se apenas a paciente estudada, contudo, busca-se contribuir para uma visão mais acertada acerca do impacto que o adoecimento com câncer trouxe para a paciente e seus familiares, desde quando soube da doença, até o término de seu tratamento.
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1Dourado em Distúrbio do Neurodesenvolvimento. Instituição: Centro Universitário Cesmac.
2Graduanda do Curso de Enfermagem da Faculdade Centro Universitário Cesmac;
3Especialista em Urgência, Emergência e UTI Instituição: Centro Universitário Cesmac
4Graduanda do Curso de Enfermagem da Faculdade Centro Universitário Cesmac.