O AUTODIAGNÓSTICO DE TDAH EXPRESSADO NO TWITTER

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10184812


Leticia Debiazi1
Camila Meneguzzi2


RESUMO

Este artigo tem como objetivo analisar o autodiagnóstico expresso no Twitter. O autodiagnóstico é considerado quando uma pessoa, autorrótula com um transtorno ou psicopatologia. Para que o estudo fosse possível, utilizou-se uma metodologia de registros arquivísticos, consistindo em utilizar conteúdos públicos, independentemente de sua fonte. Assim, os tweets são considerados registros arquivados, onde o usuário teve a livre escolha de Tweetar. sobre o tema. Foram analisados 100 tweets de forma quantitativa e qualitativa, utilizando fundamentos teóricos disponíveis no Google Acadêmico, blogs digitais e jornais. Todas as fontes empregadas neste trabalho foram consideradas valiosos devido às suas fontes confiáveis. A decisão de usar blogs e jornais foi tomada porque o assunto é considerado recente e pouco explorado na literatura. No entanto, em relação aos artigos já publicados, observa-se uma evolução, demonstrando-se ainda mais relevante este assunto. Foi possível identificar que o autodiagnóstico traz consigo riscos tanto para quem possui o transtorno quanto para quem faz o autodiagnóstico, podendo levar à automedicação, ou seja, ao uso indevido de medicamentos. No decorrer deste estudo, abordou-se a questão do modo como as pessoas diagnosticadas com o transtorno podem interpretar seus próprios sintomas, subestimando ou minimizando os sintomas, ou por outro lado, pode haver uma tendência a superestimar os sintomas de TDAH ao fazer diagnósticos em amigos e colegas. Nesse contexto, as interpretações errôneas podem levar à crença de que esses sintomas não estão associados ao TDAH, mas sim a fatores como preguiça ou falta de educação. Sendo assim, este estudo argumenta sobre os riscos causados pela prática do autodiagnóstico em TDAH. Dessa forma, conclui-se que o autodiagnóstico é, por vezes, uma ferramenta para a autoaceitação de comportamentos subjugados, considerando-os aceitáveis como transtorno. Também se percebe os riscos para quem faz o autodiagnóstico com o transtorno, uma vez que isso pode levar a danos físicos e psicológicos. Portanto, este estudo traz reflexões sobre o autodiagnóstico em TDAH.

Palavras-chave: Autodiagnóstico 1. Transtorno do Déficit de Atenção 2. Twitter 3. Saúde Mental 4.

ABSTRACT

This article aims to analyze self-diagnosis expressed on Twitter. Self-diagnosis is considered when a person labels themselves with a disorder or psychopathology. The study is possible, because, an archival records methodology was used, consisting of using public content, regardless of its source. Thus, tweets are considered archived records, where the user had the free choice to Tweet. About the subject. 100 tweets were analyzed quantitatively and qualitatively, using theoretical foundations available on Google Scholar, digital blogs and newspapers. All sources employed in this work were considered valuable due to their reliable sources. The decision to use blogs and newspapers was made because the subject is considered recent and little explored in the literature. However, in relation to the articles already published, an evolution can be observed, making this subject even more relevant. It was possible to identify that self-diagnosis brings with it risks both for those who have the disorder and for those who self-diagnose, which can lead to self-medication, that is, the misuse of medications. In the course of this study, the question was addressed of how people diagnosed with the disorder may interpret their own symptoms, underestimating or minimizing symptoms, or on the other hand, there may be a tendency to overestimate ADHD symptoms when making diagnoses in friends and colleagues. In this context, misinterpretations can lead to the belief that these symptoms are not associated with ADHD, but rather with factors such as laziness or lack of education. Therefore, this study argues about the risks caused by the practice of self-diagnosis in ADHD. Therefore, it is concluded that self-diagnosis is sometimes a tool for self-acceptance of subjugated behaviors, considering them acceptable as a disorder. It is also clear that there are risks for those who self-diagnose the disorder, as this can lead to physical and psychological harm. Therefore, this study brings reflections on self-diagnosis in ADHD.

Keywords: Self-diagnosis 1.  Attention Deficit Disorder  2.  Twitter 3.  Mental Health 4.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO………………………………………………………………………………………………………………………1
2. DESENVOLVIMENTO…………………………………………………………………………………………………………3
2.1 DIAGNÓSTICO TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE………..3
2.2 OS IMPACTOS DO AUTODIAGNÓSTICO EXPRESSADO
NA PLATAFORMA TWITTER………………………………………………………………………………………………. 6
3. METODOLOGIA………………………………………………………………………………………………………………..10
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES…………………………………………………………………………………………11
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS………………………………………………………………………………………………..16
REFERÊNCIAS………………………………………………………………………………………………………………………17
1.   INTRODUÇÃO   

A Internet surgiu nos Estados Unidos durante a década de 1960 com o propósito de manter uma comunicação ágil entre suas bases. Com o passar do tempo, esse avanço tecnológico foi compartilhado com o mundo, ganhando popularidade gradualmente devido à capacidade de possibilitar comunicações rápidas entre computadores. À medida que a tecnologia continua evoluindo, novas formas de comunicação surgiram, especialmente por meio da World Wide Web, desencadeando uma transformação significativa na maneira como as pessoas interagem umas com as outras (Rodrigues; Silveira; Correa, 2020).

Embora ela possa ser uma ferramenta poderosa para a comunicação e o conhecimento, também pode ter efeitos negativos na vida humana, como a superficialidade das conexões, a ansiedade e o isolamento. Conforme Bauman (2013), é importante refletir sobre os efeitos da internet na vida humana e pensar em formas de usá-la de maneira mais consciente e responsável. A internet tem sido uma ferramenta importante para a disseminação de informações sobre saúde mental. No entanto, a internet tem espaço aberto para promover o autodiagnóstico de TDAH, o que pode levar a resultados imprecisos e potencialmente perigosos (Wolraich et al., 2019).

Sendo assim, a promoção do autodiagnóstico de TDAH pela internet tem sido uma problemática, uma vez que o diagnóstico clinico é complexo e requer uma abordagem multidisciplinar. Torna-se importante educar as pessoas sobre os riscos do autodiagnóstico e promover o acesso a informações precisas e baseadas em evidências. Para mais, é necessário incentivar o encaminhamento ou a busca por profissionais de saúde mental específicos para avaliação e tratamento de TDAH e outras condições de saúde mental (Bazolli, 2018).

O Twitter é uma plataforma usada por jovens, especialmente para entretenimento e busca de informações em tempo real. Compartilhando opiniões, pensamentos e sentimentos para interagir com pessoas de interesses semelhantes, muitas vezes gerando debates sobre temas atuais relevantes (Tufekci, 2017).

Segundo o Jornal BBC News Brasil (2023), em 24 de julho Elon Musk, dono da plataforma Twitter desde outubro de 2022, juntamente com o CEO Linda Yaccarino, anunciou a mudança de logotipo e nome da empresa Twitter para X e XCorp através de tweets e postagens no blog próprio da companhia. No dia anterior, foram realizadas discussões sobre a possibilidade dessas alterações. Porém, o aplicativo continua com o mesmo viés de comunicação por meio de postagens públicas e discussões, como mencionado anteriormente.

Existem informações aprofundadas na internet, não é necessário permanecer em conteúdos rasos e simplificados. O filósofo Cortella (2016) destaca que a internet pode ser uma ferramenta valiosa para a educação, desde que seja utilizada de forma crítica e consciente. Sendo necessário saber utilizá-la a internet com sabedoria. Segundo Tenente (2023), jornalista do jornal G1, alguns estudos publicados em 2021 pela Associação Canadense de Psiquiatria analisaram os 100 vídeos com mais visualizações que falavam dos sintomas de TDAH e concluíram que metade deles continham dados falsos. Desses vídeos apenas 21% eram úteis para informar o público sobre o transtorno.

O objetivo desse estudo é apresentar para o meio acadêmico informações sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade e os riscos associados ao autodiagnóstico. Considerando que os estudos disponíveis abrangem contextos do transtorno. Porém, poucos estudos consideram a propagação do autodiagnóstico com informações imprecisas, principalmente nas redes sociais. Este estudo chama atenção para uma rede social de modo especial, o Twitter. Neste contexto, o estudo se torna relevante no âmbito científico para fortalecer a busca por profissionais envolvidos para o diagnóstico preciso. Caso não seja relevado com precisão, pode levar a população a fazer o  uso de medicamentos de forma prejudicial.

Dessa forma, esta pesquisa promove uma reflexão sobre o autodiagnóstico, utilizando análise qualitativa e quantitativa de dados disponíveis no Twitter, por meio do método arquivístico, direcionado ao público de jovens e adultos usuários da plataforma. Idades e gêneros não foram mensurados ou foram usados como critério de classificação ou exclusão, logo, a amostra de população usada nesta pesquisa é amostragem aleatória simples.

É importante salientar que, embora o nome da empresa Twitter tenha sido alterado para XCorps, este estudo foi iniciado antes dessa mudança. Além disso, não foram utilizados conteúdos após as alterações, e, portanto, este trabalho irá manter o nome antigo, sendo ele Twitter.

2. DESENVOLVIMENTO
2.1 DIAGNÓSTICO TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE.

O Diagnóstico do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, na maior parte das vezes, é realizado por uma equipe multidisciplinar, incluindo médicos, psicólogos e outros profissionais especializados em saúde mental. Psiquiatras e neurologistas utilizam tanto a CID-10 (Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde) quanto o DSM-IV (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) para orientar a avaliação. O CID-10 é uma classificação médica padronizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O processo de diagnóstico envolve uma avaliação detalhada, com a coleta de informações de diversas fontes e a utilização de critérios específicos com base em diretrizes médicas reconhecidas, como o CID F90.0 (classificação usada pelos médicos ao dar um diagnóstico em TDAH) e o DSM-IV (Wolraich et al., 2011).

Destaca-se que, para o diagnóstico médico do TDAH, o DSM por si só não é suficiente, devido à necessidade de interpretação subjetiva, para considerar o contexto e a cultura em que o indivíduo está inserido. Portanto, é essencial adotar uma abordagem multidisciplinar, envolvendo profissionais como psiquiatras, psicólogos e neuropsicólogos, a fim de garantir uma avaliação abrangente (Effge et al., 2017).

Isso ocorre porque o diagnóstico é predominantemente clínico e inclui uma avaliação minuciosa. Segundo Graeff (2008), o diagnóstico através da psicologia deriva de demanda clínica que envolvem uma série de técnicas e instrumentos, tais como entrevistas, escalas e testes psicológicos com uma investigação minuciosa neutra das histórias de vida do cliente. Isso inclui as preocupações atuais do paciente, histórico médico e psiquiátrico, uso de medicações, inclusive em suas condições acadêmicas, psicológicas, físicas, profissionais e intelectuais, relacionamentos interpessoais, familiares, professores educadores e pessoas do seu ciclo social em sua adaptação psicossocial.

Além do mais, o profissional da psicologia que estiver investigando o processo precisa ter conhecimento teórico e técnico acerca do assunto para que seja possível refletir sobre o processo e obter uma visão ampla do paciente. Isso é fundamental para elaborar um plano de intervenção adequado, realizando um diagnóstico diferencial, avaliando as comorbidades (ansiedade, depressão, transtorno de humor, dificuldade de aprendizagem). Sendo assim, são levados em consideração os critérios clínicos definidos no Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM). Podem ser utilizados questionários, como o SNAP-IV, como ferramenta de apoio na avaliação (Burns et al., 2017).  O SNAP-IV é uma ferramenta embasada no DSM-IV (APA, 2014). São perguntas estruturadas usadas para definir o conhecimento dos familiares e professores sobre o paciente investigado.

Nesse sentido, a base utilizada para diagnóstico inicial de sintomas e critérios é o DSM-IV (APA, 2014), nele contempla uma série de critérios para o diagnóstico de TDAH. Embora sejam baseados em manifestações do comportamento presentes na infância, o manual se estende para as demais fazes da vida. O transtorno é caracterizado por uma tríade de sintomas: desatenção, impulsividade e/ou hiperatividade de forma persistente, que interferem no desenvolvimento ou funcionamento no dia a dia.

A desatenção e desorganização manifestam-se na dificuldade de permanecer atento em uma ou mais atividades durante um determinado período de tempo considerado longo. A hiperatividade caracteriza-se pelo excesso de atividades motoras e/ou incapacidade de ficar sentado, podendo também se manifestar pelo esgotamento dos outros com suas atividades. Já a impulsividade consiste por muitas vezes em tomadas de decisões rápidas, muitas vezes sem levar em conta as consequências para o próprio sujeito e para os envolvidos (APA, 2014).

Barkley (2011), em “Vencendo o TDAH”, publicado pela editora Artmed, propõe o livro como um guia para adultos com o transtorno, focando aprofundar os estudos, desenvolver potencialidades e reforçar a necessidade de buscar ajuda com profissionais qualificados da área. Em seu estudo listam-se 9 sintomas para desatenção e 9 sintomas para hiperatividade e impulsividade em adultos. Sendo que, é necessário que haja, no mínimo, cinco sintomas persistentes por mais de seis meses em cada um dos nove sintomas. Também é considerado essencial ter histórico na infância para o diagnóstico.

Os sintomas de desatenção incluem frequentemente: não manter o foco em atividades importantes, esquece detalhes importantes, não conseguir seguir orientações de outras pessoas, parecer não ouvir quando fala com alguém, desorganização com as atividades, esgotamento mental rápido, inquietude em atividades longas, perder documentos ou coisas importantes, distrair-se com estímulos externos e esquecido com os compromissos diários de rotina (Barkley, 2011 p. 229, 230).

Já os sintomas de impulsividade e hiperatividade frequentemente: agitação das mãos e/ou os pés, dificuldade de permanecer parado na cadeira, não conseguir permanecer sentado em situações que espera-se que se permaneça sentado, inquietação que pode resultar em comportamentos inadequados, dificuldade de praticar atividades prazerosas com tranquilidade, constantemente em movimento, falar mais que o necessário, responde antes que interlocutor termine de formular a frase, inquietação ao esperar sua vez em atividades ou, até mesmo de falar, interrompe ou insere-se em atividades que outras pessoas estão fazendo ou conversando (Barkley, 2011 p. 229, 230).  

Embora seja comum associar o TDAH e às crianças devido à facilidade de percepção durante o desenvolvimento infantil, pois desde cedo é possível identificar as dificuldades fonéticas e metalinguísticas que afetam diretamente na leitura e escrita, essas dificuldades são observadas e acompanhadas pelos professores de perto (Cunha, 2013). Entretanto, é um transtorno que se estende para a vida adulta, para Silva (2014), 70% dos casos diagnosticados na infância permanecem na vida adulta. Isso afeta a qualidade de vida caso não sejam diagnosticadas e devidamente orientadas, prejudicando independente do grau de escolaridade, nível cultural, situação financeira e gênero.

Além disso, o avaliador nas entrevistas deve considerar o desenvolvimento infantil, boletins escolares, os sintomas devem ser constantes desde a infância. Ainda, devem estar atentos à possibilidade de que os sintomas possam estar relacionados a outros transtornos, relacionados à fatores psicossociais desencadeantes, como consequência de um ambiente familiar conturbado, sistema de ensino inadequado ou, ainda, abuso de substâncias, (Graeff, 2011). Portanto na avaliação e necessário descartar hipóteses físicas de análise especifica, ou até mesmo outras psicopatologias ou transtornos.

Diante do exposto, torna-se fundamental ter mais que uma hipótese diagnóstica em consideração para ser descartada por meio do uso de instrumentos diferentes que excluem outras psicopatologias. Recursos como escalas, testes psicológicos e neuropsicológicos devem ser usados para investigar a atenção, concentração e memória de curto e longo prazo. Uma das principais dificuldades reside na falta de testes físicos para descartar fatores biológicos, neurológicos ou psicológicos que possam comprovar de forma definitiva a presença do TDAH (Burns et al, 2017).

Os profissionais da psicologia têm à disposição uma lista de testes psicológicos e neuropsicológicos aprovados pelo SATEPSI. Os avaliadores devem usar testes que estão disponíveis no site com a nomenclatura favorável para o processo diagnóstico e fundamentar detalhadamente na literatura científico-psicológica em seus laudos, considerando as normativas vigentes do Conselho Federal de Psicologia. Esses testes devem ser aprovados para uso no país em que o paciente nasceu, levando em conta as condições socioeconômicas e culturais (Resolução CFP 009/2018, p. 02).

Diante da complexidade mencionada para realizar um diagnóstico, existe também o movimento contrário. Segundo Pombo (2017), ao fazer uma busca rápida pela internet, é possível encontrar em revistas ou sites da internet reportagens e testes que incentivam a descobrir se alguém tem algum transtorno psiquiátrico, ou se alguém próximo os possui. Um dos exemplos é o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), que, com extrema facilidade, pode levar a um autodiagnóstico de transtorno psiquiátrico.

 2.2 OS IMPACTOS DO AUTODIAGNÓSTICO EXPRESSADO NA PLATAFORMA TWITTER.

Segundo o Blog Vida Saudável (2023), que publica conteúdo do Hospital Israelita Albert Einstein, o autodiagnóstico pode ser considerado quando alguém pesquisa na internet os sintomas de determinada patologia e se identifica com ele, diagnosticando-se assim de acordo com o “Dr. Google”.

De acordo com a segunda edição do estudo conduzido pelo Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade dirigido por Leonardi (2018), constatou-se que 40% dos brasileiros realizam autodiagnóstico médico por meio da internet. Os dados trazem ainda mais informações, decrescente que a faixa etária com a maior proporção de autodiagnóstico na internet é de 25 a 34 anos, com 54,97%, seguida pelos jovens de 16 a 24 anos, com 52,77%. Esses autodiagnósticos são mais comuns entre pessoas com ensino superior completo, representando 63% do total, e pertencentes às classes socioeconômicas altas e médias, que atingiram 55% dos casos.

Em outras palavras, os jovens que possuem formação acadêmica de nível superior e boas condições socioeconômicas são os que mais realizam autodiagnósticos na internet. Uma das funções da internet é divulgar informações que influenciam o comportamento das pessoas. No entanto, é importante considerar que a disseminação de informações falsas ou meias verdades é comum no cenário atual. Grande parte da população considera as redes sociais e outros meios de comunicação como fontes de informação (Brzozowski e Caponi, 2017).

O diagnóstico, mesmo feito por médicos, é realizado de maneira subjetiva. No caso de uma autoavaliação diagnóstica, há o risco de não considerar a individualidade e a periodicidade de maneira fidedigna e neutra. Pode-se avaliar apenas um curto período de tempo com base nos fatores descritos em um vídeo ou post breve. Observa-se que todos os seres humanos experimentam em algum momento da vida, sensações parecidas com os sintomas de TDAH, como a dificuldade de concentração após um evento traumático, assemelhando ao transtorno, ou a crença de estar com depressão devido à uma intensa tristeza após vivenciar um processo de luto (Pombo, 2017).

Dessa forma, na internet, ocorrem discussões que incluem autorrelatos de identificação com transtornos. Existem várias razões para os usuários compartilharem essas informações nas redes sociais:  para oferecer ou procurar apoio, para combater o estigma da doença mental ou talvez para oferecer uma explicação para certos comportamentos (Coppersmith et al., 2015).  

Uma das plataformas mais utilizadas é o Twitter, conforme Tufekci (2017), o micro blog é especialmente relevante quando se trata de entretenimento e busca de informações em tempo real, permitindo que usuários compartilhem opiniões, pensamentos e sentimentos para interagir com pessoas de interesses semelhantes. Isso pode gerar debates sobre temas atuais relevantes. Os usuários têm a possibilidade de publicar mensagens de textos próprios, com até 160 caracteres, que ficam acessíveis para todos usuários da sua rede. Segundo Silva (2011), 20,5% das pessoas que usam essa rede social são brasileiras, e a cada segundo são publicados cerca de 600 tweets globalmente.  Cabe ressaltar que, conforme mencionado anteriormente, o nome da empresa foi alterado para X. Porém, essas mudanças não impactaram nesta pesquisa, e, portanto, mantemos as solicitações dos materiais já publicados. 

Os debates nessa plataforma abrangem diversos temas, incluindo o autodiagnóstico. De acordo com a revista de Dráuzio Varela (2023), existem alguns motivos pelos quais as pessoas buscam o autodiagnóstico. Uma das especulações é a modernidade em que vivemos e a alta demanda por desenvolvimento profissional. Receber algum diagnóstico é favorável, pois justifica o baixo rendimento no trabalho quando comparado com os demais profissionais, e as pessoas podem se sentir pressionados.


“[…] nessa jornada, quando percebem dificuldades ou meras diferenças em seu desempenho comparado ao que observam ao seu redor, as pessoas passam a buscar motivos que justifiquem a suposta improdutividade que estaria os impedindo de funcionar no seu melhor desempenho” (Dráuzio Varela prod Gibaile, 2023).

No movimento contrário, tal ato do autodiagnóstico pode ocorrer devido a uma incompreensão por parte das pessoas que cercam os indivíduos que recebem diagnósticos. se dar através de uma incompreensão da população que cercam os sujeitos que recebem diagnósticos. Uma pesquisa acadêmica realizada por Sá (2023) com professores de uma universidade revelou que esses educadores possuíamos conhecimentos teóricos sobre TDAH, seus sintomas e características. No entanto, para uma compreensão mais profunda, os professores da universidade passaram por uma série de experiências vivenciais, promovendo assim uma reflexão profunda. Essas vivencias permitiram que os professores percebessem, por meio da pesquisa algumas falas de estigmatização.

Após as dinâmicas os professores e pesquisadores registraram-se por escrito e compartilharam relatos em rodas de conversa. A partir dessas interações, ficou evidente que havia discursos relacionados aos sintomas, como a ideia de que a falta de atenção era uma escolha. Alguns acreditavam que bastava ao aluno se esforçar um pouco mais e receber algum incentivo para permanecer atento, considerando isso como uma escolha e não um déficit (Sá, 2023).

Muitas vezes, os jovens costumam não considerar em si e/ou em amigos os comportamentos associados ao Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, como características de um distúrbio. Isso significa que eles possivelmente não dão importância à dificuldade de manter a atenção, considerando, por exemplo, a falta de vontade de realizar as tarefas (Coutinho et. all., 2009). O TDAH pode afetar negativamente diversas características do desempenho acadêmico de jovens e adultos, resultando em dificuldades para: manter o foco e a atenção durante as aulas, realizar tarefas de casa e enfrentar desafios em provas, além de apresentar problemas com a organização e a gestão do tempo (Barkley, 2011). No entanto, “O TDAH é frequentemente subestimado e negligenciado, com seus sintomas muitas vezes atribuídos a outros fatores, como preguiça, falta de disciplina ou falta de vontade.” (Barkley e Costa 2015).

Esta subestimação e negligencia de diagnósticos formais ou informais fazem com que pessoas que têm TDAH busquem estratégias para não sofrerem com o sentimento de incompreensões, por exemplo, em sala de aula, podendo desfrutar como estratégia uma prática metacognitiva de monitoramento. Isso significa que esses estudantes demonstram uma capacidade frequente de reconhecer quando não compreendem completamente o conteúdo que estão estudando. Ao ler um texto, podem sentir a necessidade de parar e reler para melhorar seus entendimentos, o que beneficia o processo de aprendizagem de maneira geral, independentemente de qualquer condição específica. Ao pausar e reler o material, os estudantes podem aprimorar seu entendimento, tornando a aprendizagem mais significativa. Essa é uma estratégia valiosa que pode ser adotada por todos os estudantes, pois contribui para o aprendizado mais eficaz e aprofundado (Gorrere e Santos, 2020).

Independentemente disso, é preciso ter cautela nas estratégias adotadas por conta própria, uma vez que o autodiagnóstico por meio das informações encontradas na internet pode ser perigoso e não confiável, causando erros e consequências prejudiciais à saúde mental e física. Além disso, o autodiagnóstico pode causar confusão com outros transtornos mentais que apresentam sintomas semelhantes ao TDAH, como transtornos de ansiedade, depressão, transtorno bipolar, entre outros (APA, 2014). O diagnóstico quando não assertivo, tem potencial para levar à automedicação, uso inadequado de medicamentos e atraso no tratamento correto do transtorno, o que pode piorar os sintomas e diminuir a qualidade de vida dos indivíduos (Barkley, 2011).

Caso seja realizado o diagnóstico de forma imprecisa ou incorreta, existem riscos à saúde indivíduo. O uso indevido de medicamentos para o TDAH em pessoas sem o transtorno pode levar a efeitos adversos graves, como aumento da pressão arterial, taquicardia, distúrbios do sono, ansiedade e risco de dependência (Melo et al., 2021).

O principal medicamento usado em adultos e jovens, principalmente para o tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), é o Dimesilato de Lisdexanfetamina. Ele funciona como um estimulante do sistema nervoso central, ele ajuda a aumentar a atenção e reduzir a impulsividade e a hiperatividade. O início da ação ocorre após duas horas da administração do medicamento de ação prolongada, o que significa que a liberação da Dextroanfetamina é gradual e contínua ao longo do dia, proporcionando uma cobertura terapêutica consistente e duradoura (Comiran, 2015).

Como qualquer medicamento, especialmente para atuar no sistema nervoso central (psicotrópico e psicoestimulante), pode ser potencialmente viciante se usado de maneira inadequada ou abusiva, podendo piorar sintomas de ansiedade, depressão e outros problemas psiquiátricos. Este é um medicamento que pode interagir com outros medicamentos, incluindo antidepressivos e medicamentos para pressão arterial. Já os sintomas gastrointestinais (náuseas, vômitos e dores abdominais), que podem ser amenizados em até duas semanas. No entanto, se esses sintomas não cessarem, o paciente deve ser orientado a procurar o médico para fazer a troca da medicação ou prescrever um medicamento protetor para o estômago. As filas do sus não dão conta de fazer avaliações psicologia e quando conseguem, existe preferência para o público infantil, sendo muito difícil dar conta das filhas (Comiran, 2015).

3.     METODOLOGIA

O estudo consiste em uma pesquisa que analisa registros arquivísticos de forma qualitativa e quantitativa, baseados em artigos científicos de plataformas digitais, livros, acerca do tema proposto. Registros arquivísticos são documentos públicos e privados que descrevem comportamentos observáveis, incluindo documentos de identificação e publicações em redes sociais, como o Twitter (Shaughnessy, Zechmeister E Zechmeister, 2012, p. 119). O Twitter permite que sejam expressos pensamentos, opiniões, emoções e fatos de suas vidas, são chamados de “tweets”, podendo incluir fotos, vídeos, texto e links. De acordo com Boyd e Ellison (2008, p. 211), o Twitter é uma plataforma que permite aos usuários “compartilhar pensamentos, notícias, informações e opiniões em tempo real”.

Os “tweets”, ou seja, as publicações na plataforma, são registros contínuos que permitem que o pesquisador registre seus pensamentos de forma sistematizada, de acordo com a sua frequência, permitindo uma avaliação qualitativa. De acordo com Machado (2003), uma pesquisa qualitativa busca entender como as pessoas dão significado à sua realidade e como interpretam suas experiências. Os autores Shaughnessy, Sechmeister e Zechmeister, (2012, p. 110) “é um processo rigoroso e sistemático de identificação, avaliação e analise critica de literaturas relevantes sobre um tema especifico” em conjunto com a rede social Twitter.

A pesquisa realizou uma amostragem aleatória simples, envolvendo usuários jovens e adultos de qualquer gênero, etnia, ou idade na rede, desde que expressem temas relacionados ao autodiagnóstico do TDAH, podendo contribuir para o processo de construção do artigo. Dessa maneira foram selecionados 100 “tweets”, ou seja, expressões manifestadas no Twitter, com a seguintes palavras chaves:  TDAH” “Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade”, “vi um vídeo” AND “TDAH” e “Acho que tenho TDAH”. No período de fevereiro de 2019 até setembro de 2023. Busca-se a partir disso avaliar os conteúdos de forma qualitativa e quantitativa as quais abordam falas, relacionadas com o autodiagnóstico.

4.    RESULTADOS E DISCUSSÕES

Antes de tudo, contextualiza-se aqui: este material contem transcrições literais. Para facilitar a identificação do leitor, após a reprodução do Tweet, será utilizada a sigla “SIC”, do advérbio latino “sic erat scriptum”, significando “assim estava escrito”. Essa marcação é feita em uma citação que foi transcrita exatamente como foi encontrada ou relatada, indicando que o referido foi transcrito da forma ou maneira como se apresenta, no mesmo grau ou intensidade com que foi informado (Maia e Palomo, 2012).

Em resumo o autodiagnóstico praticado no Twitter refere-se à tendência de como as pessoas compartilham seus sintomas e preocupações de saúde na plataforma de mídia social, buscando obter opiniões ou diagnósticos informados por outros usuários. Essa prática levanta várias questões em relação à validade, confiabilidade e ética do diagnóstico.

O Twitter abre espaço para interagir com pessoas que antes nunca eram vistas. Os usuários podem ter um perfil público ou privado, onde pode seguir e ser seguidos. No caso do perfil público, não é necessário ter nenhuma confirmação para ser seguido. Sem ao menos ser seguido por aquele perfil, pode-se ver os tweets (textos ou frases curtas compartilhadas na rede) de um usuário com o perfil público (Tufekci, 2017).

A partir disso, foram encontrados 100 tweets relacionados à pesquisa. Destes, 88 tweets tiveram relação direta ao autodiagnóstico e seus impactos. As amostras deste trabalho foram coletadas na rede social Twitter. Optou-se por agrupar as informações em tabelas para analisar em uma melhor visualização das informações encontradas.

A tabela abaixo demostra a forma com que foram encontradas as expressões com os critérios estabelecidos nesta pesquisa. A barra de pesquisas do Twitter, permite a busca por critérios específicos, alinhando-se a essa necessidade e possibilitando aos usuários refinar suas consultas para obter resultados mais relevantes. Além disso as redes sociais são espaços complexos de comunicação, e a busca por critérios específicos pode ajudar os usuários a filtrar conteúdos relevantes em meio a uma vasta gama de interações online (Recuero,2014).

Sobre os totais de tweets encontrados pelos critérios de pesquisaQuantidade
Total de Tweets encontrados com o critério: “Acho que tenho TDAH”.45
Total de Tweets encontrados com o critério: “Vi um vídeo” AND “TDAH”.15
Total de Tweets encontrados com o critério:  “TDAH”.37
Total de Tweets encontrados com o critério: “Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade”.04

Fonte: Elaboração dos Autores (2023).

Assim, a tabela a cima mostra o total de tweets encontrados de acordo com os critérios estabelecidos para a pesquisa. No entanto, selecionar os tweets que fazem parte da pesquisa, e também, é fundamental. A tabela abaixo amplia a visão do leitor sobre os tweets desclassificados.

Sobre os tweets desclassificados para a pesquisaQuantidade
Tweets considerados ofensivos06
Tweets considerados sarcásticos03
Tweets que não se enquadravam na proposta do estudo01

Fonte: Elaboração dos Autores (2023).

Logo a tabela abaixo demonstra os tweets selecionados e os motivos pelos quais foram selecionados para o estudo.

Especificação dos tweetsQuantidade
Tweets que acreditam ou acham que tem TDAH36
Tweets de usuários criticando quem faz autodiagnóstico pela internet21
Tweets expressando fazerem testes online de TDAH e achando ou acreditando que tem TDAH11
Tweets indicado quem faz autodiagnóstico procurar profissionais da saúde08
Tweets de usuários expressando sentirem que o TDAH está sendo banalizado ou estigmatizado na internet07
Tweets alertando os riscos de autodiagnóstico03
Tweets expressando que não irão fazer autodiagnóstico03
Tweets expressando critérios diagnósticos em português01
Tweets expressando critérios diagnósticos em inglês01

Fonte: Elaboração dos Autores (2023).

Assim, com a pesquisa melhor explicada de como ocorreu, inicia-se a discussão dos tweets e expressões de autodiagnóstico em TDAH. Os dados coletados demonstram que jovens e adultos apresentam queixas de sintomas com impactos significativos em suas vidas cotidianas. Sendo assim, o objetivo aqui é argumentar a autoavaliação do transtorno expresso no Twitter com base nos materiais coletados, levando em conta os critérios diagnósticos do DSM-IV. 

Em contrapartida, alguns pesquisadores e clínicos argumentam que o TDAH é raro em adultos e sugerem que os sintomas geralmente desaparecem com o tempo. No entanto, existe uma inconsistência nos materiais publicados acerca do transtorno, pois a variação nos resultados sobre a persistência do TDAH em adultos é atribuída, em grande parte são diferentes definições de persistência (Dias, Nazar e Coutinho, 2007). Alguns autorrelatos chamam atenção para a quantidade de sintomas destacados, como, por exemplo: “MANO EU VI UM VIDEO SOBRE TDAH E PROCRASTINACAO EU TO MUITO ASSUSTADA ME ABRIU O OLHO PRA MUITA COISA” (SIC). Em outra postagem do mesmo usuário “eu to achando que tenho tdah e não é nem brincadeira” (SIC). Alguns estudos consideram que adultos tem TDAH apenas aqueles que apresentam seis ou mais sintomas de uma das dimensões sintomáticas (desatenção e hiperatividade-impulsividade), levando também em conta o período da infância e adolescência (Dias, Nazar e Coutinho, 2007).  

Por outro lado, alguns tweets vêm demonstrando criticidade em relação ao movimento de autodeclaração por parte de outros usuários da rede social: “Toda vez que alguém diz ter TDHA eu tenho vontade de perguntar se foi autodiagnóstico ou a pessoa realmente foi num medico😶.” (SIC). Um diagnóstico realizado por um médico ou psicólogo serve para descartar as hipóteses de TDAH caso os sintomas não sejam provedores do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade ou qual requer outro tipo de atenção. No caso do TDAH, compreender se existe outra comorbidade associada é crucial para determinar, que existe outro tipo de tratamento e mapear os pontos fortes e fracos a serem desenvolvidos exatamente onde devem ser enfrentados (Barkley, 2011).

Vale ressaltar o argumento do DSM-5 que os sintomas precisam persistir pelo mesmo nos últimos 6 meses e, quando avaliados em adultos, se faz necessário considerar a infância, além de ter no mínimo 6 critérios para diagnósticos de hiperatividade e 6 critérios de diagnóstico em dificuldade de manter atenção. (APA, 2014). Diagnósticos mesmo que feitos por profissionais, que não levam em conta contexto família, falta de limites dos pais na criação, a metodologia insuficiente e sem eficácia por parte dos professores, duração e persistência dos sintomas para critérios diagnósticos, são considerados superficiais e ineficientes (Almeida, 2019).

O uso de informações provenientes de várias fontes da internet pode ter consequências prejudiciais; no entanto, também apresenta vantagens importantes. Isso permite que os usuários ou consumidores tomem decisões mais bem fundamentadas, além de oferecer maior autonomia e liberdade de escolha no que diz respeito a procurar ou não profissionais de saúde (Moretti, 2012). Assim como encontrado no tweet a seguir: “-Aí, é que sabe, eu tenho TDAH, -Serio, ce foi quando no médico? -Vi um vídeo no tiktok e me identifiquei, -A.” (SIC) Por outro lado, tal prática, quando usada com cautela após identificar uma semelhança de sintomas com o transtorno ou psicopatologias, é aconselhável um encaminhamento para profissionais qualificados para a avaliação e tratamentos adequados (Barkley, 2011).

Sendo assim, os cuidados para o autodiagnóstico devem ser redobrados, como alguns usuários também expõem: (em anexo imagem de um post do Instagram supostamente descrevendo mulheres com TDAH) comenta,” se você tem TDAH ou algum dos outros transtornos como ansiedade, depressão, TOC, autismo, borderline, bipolaridade, Tourette, procure ajuda. Seja algum neurologista, psiquiatra ou psicólogo, alguém q entenda realmente o q vc sofre e passa por causa do transtorno e possa te ajudar, terapia tbm ajuda bastante. Coach sensacionalista de Instagram mtas vezes só atrapalha do q ajuda justamente por romantizarem ou glamorizarem o transtorno. Mas se vc tem TDAH ou algum outro transtorno q atrapalha a sua vida, procure ajuda. O post serviu de alerta! pq mta gente não tem TDAH e tem essas mesmas características citadas na imagem, e acabam se autodiagnosticando sem ter TDAH pq viram essa postagem e acharam legal, então meu ponto foi esse, espero q tenham entendido (SIC).

O tweet acima fala sobre nem todos os sintomas ditos nas redes sociais serem provenientes de um transtorno, assim como o neurologista do Hospital Sírio-Libanês em entrevista com Luiza Tenente repórter do G1 de São Paulo (2023), alerta que manifestar alguns sintomas não tem conexão necessariamente com TDAH. Podem ser apenas traços de personalidade. Só é considerado um transtorno ou psicopatologia quando há impacto importante na qualidade de vida da pessoa.

Ao mesmo tempo em que usuários divulgam os sintomas de doenças, a mídia abre espaço para outros dizerem ao leitor como pode se diagnosticar, encorajando-os a fazerem declarações imprecisas com transtornos ou psicopatologias (Pombo, 2017). Como pode-se observar em tweets semelhantes “FIZ UM TESTE ONLINE E ACABEI DE TER CERTEZA, TENHO TDAH!!!!!!” (SIC), é importante mencionar que esse e outros tweets tinham em anexo links de acessos para diferentes questionários para realizar o autodiagnóstico em TDAH, fazendo assim uma propagação de análise de si. Segundo a Associação Brasileira de Déficit de Atenção, estima-se que apenas 70% dos casos de TDAH não são diagnosticados corretamente.

Dar nome e razão neurobiológica pode ser considerado libertador. Antes, tudo que se julgava e culpava em si era apenas consequência de escolhas e decisões equivocadas vinham acarretados de censuras, julgamento próprio. No entanto, para Barkley (2011), antes de fazer um diagnóstico com profissionais da saúde mental, é praticamente impossível ter a certeza que você é portador do TDAH, pois somente um profissional qualificado da área da saúde tem o treinamento e julgamento capaz de manusear os critérios diagnósticos entre as nuances variam graus menores e maiores da população geral dos adultos.

Além do mais, existem outros transtornos que variam de grau leve, moderado e grave, podendo causar diferentes formas de problemas de atenção, concentração e memória. Portanto, uma avaliação profissional requer vários passos. Por vezes, as perguntas podem parecer repetitivas e cansativas; no entanto, a avaliação precisa abranger vários pontos de vista no mesmo critério para que nenhum dos sintomas seja negligenciado (Barkley, 2011).

Como exemplo disso, observou-se um tweet comentando sobre a desconfiança de profissionais; segundo ela, por ser funcional em alguns âmbitos da vida, não recebeu o diagnóstico anteriormente. “o que vocês acham que autodiagnóstico é? vocês acham que é só: nossa, vi um vídeo no TikTok que falava que quem esquece a chave é TDAH, eu com certeza sou TDAH, né assim não, gente. autodiagnóstico é um processo longo, geralmente a pessoa passa um bom tempo pesquisando sobre pô o processo de diagnóstico é caro, longo, cansativo. às vezes, mesmo que você tenha vários traços, médicos não validam a possibilidade pq você “”é funcional”” e diagnosticam com mil coisas e passam tratamentos errados ou sem necessidade com base em falta de informação e preconceitos galera bate tanto na tecla que “”ah mas se todo mundo falar que é neurodiverso, vai atrapalhar pessoas diagnosticadas a conseguir seus direitos”” que direitos? eu tenho laudo desde 2021, sigo descobrindo diagnósticos/comorbidades e atualizando ele e mesmo assim sou” (SIC). Uma pesquisa realizada por Salgado, Rezende e Reis (2021), mostra indivíduos que buscam informações sobre TDAH na internet podem se sentir mais ansiosos e estressados, além de apresentar uma tendência maior a se autodiagnosticarem.

Há muita discordância entre as pessoas quando se trata do que significa “autodiagnóstico”. Alguns acreditam firmemente que o autodiagnóstico é uma conclusão definitiva e inquestionável, enquanto outros veem a pratica de se diagnosticar de forma mais flexível, levando como uma suposição inicial ou uma maneira de entender melhor a si mesmo, para eles, o autodiagnóstico é algo temporário que pode prever a necessidade de ajuda de um profissional de saúde.

5.   CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora o Twitter permita a troca de informações e experiências, é crucial ter cautela ao confiar no autodiagnóstico feito nas redes sociais e no Google. Não há garantia de precisão ou confiabilidade nas informações compartilhadas, o autodiagnóstico realizado nas redes sociais ou por outros meios de autoavaliação, pode ser prejudicial, já que os sintomas podem ser confundidos com diversas condições médicas ou psicológicas, levando a erros e potenciais prejuízos para a saúde mental e física da pessoa.

Os sintomas também apresentam uma ampla variabilidade em termos de manifestações e gravidade. Além disso, exames ou avaliações clínicas não podem ser realizadas por meio de mensagens curtas e simplificadas, precisa considerar fases da vida e ambientes cruciais. O autodiagnóstico de TDAH nas redes sociais pode resultar em sobrecarga de informações, propiciando subestimação, superestimação e busca por aprovação social, aprovação de condutas julgadas erradas, podendo gerar ansiedade e pressão social.

Independentemente da confirmação do diagnóstico, há um sofrimento presente nessas experiências. Torna-se, importante criar alternativas que acolham toda a população dependente exclusivamente do SUS (Sistema Único de Saúde). Apesar de suas limitações, é possível implementar estratégias como redes de apoio que promovem a autonomia em vez da desinformação. As redes sociais também podem ser ferramentas úteis neste sentido de grupos de apoio online, fornecendo estratégias de enfrentamento e acolhimento.

O diagnóstico adequado do TDAH é crucial para garantir o tratamento adequado, que pode incluir psicoterapia e medicação controlada com orientações de cuidados de dosagem. Essas abordagens controlam os sintomas do TDAH, enquanto a terapia comportamental visa melhorar as habilidades sociais e de comunicação. É essencial ressaltar que o diagnóstico do TDAH deve seguir critérios específicos e diretrizes clínicas recomendadas por organizações profissionais, como a American Psychiatric Association.

Os resultados deste estudo têm potencial para orientar os profissionais de saúde sobre a importância de abordar as especificidades do autodiagnóstico na internet, fornecendo insights valiosos para pesquisas futuras sobre o tema.

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Leticia Debiazi – Acadêmica do 9° Período do curso de Psicologia do Centro Universitário – UNIVEL1
Camila Meneguzzi – Especialista, docente orientadora do curso de Psicologia do Centro Universitário – UNIVEL2