REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.11664123
Fábio Ramos Vidal1
Siomara Dias da Rocha2
Resumo
Este estudo apresenta uma revisão sistemática da literatura com a finalidade de se obter o atual Estado da Arte das técnicas mais aplicadas para especiação de mercúrio em ambientes aquáticos, especialmente as classificadas como águas brancas. Tendo em vista que a aplicação da técnica de Difusão em Filmes Finos (DGT) em águas naturais é complicada devido à redução da adsorção do amostrador tradicional para metais em ambientes com variações de pH e condutividade elétrica. Os resultados obtidos nas bases de dados mostraram que a técnica DGT pode ser estendida para águas brancas com pH mais elevado e alta condutividade elétrica, desde que sejam avaliadas as limitações dela, o que representa uma importante contribuição para a especiação de Hg.
Palavras-chave: Especiação. DGT. Metilmercúrio.
1 INTRODUÇÃO
A região da Amazônia, com sua riqueza inigualável de biodiversidade e serviços ecossistêmicos cruciais, enfrenta um desafio crítico relacionado ao garimpo ilegal. De acordo com Fearnside (2016), a extensão do garimpo na Amazônia tem aumentado acentuadamente nas últimas décadas, resultando em desmatamento, degradação do solo e contaminação dos recursos hídricos. O impacto desse fenômeno não se limita à destruição ambiental, mas se estende a conflitos sociais e a ameaças à subsistência de comunidades locais (ROCHA, 2021).
A pesquisa da concentração de metais em ambientes aquáticos, especialmente a especiação de diferentes formas de mercúrio (Hg), é de grande relevância devido à associação dessas espécies a substâncias húmicas e matéria orgânica em suspensão. Essas substâncias passam por diversas transformações químicas que podem levar à biomagnificação em organismos aquáticos (MENEGÁRIO et al., 2017).
O interesse pelo estudo da distribuição do mercúrio no ambiente, em particular seu ciclo biogeoquímico, é justificado por vários fatores. Isso inclui as concentrações elevadas e a persistência de suas espécies nos ambientes aquáticos, onde muitas vezes são encontradas em tecidos de peixes, que são uma fonte frequente de alimento para as populações ribeirinhas da Amazônia (KASPER et al., 2017; ROCHA, 2021).
O Hg é um dos metais presentes no solo e na água, como um componente natural dos mesmos ou como resultado das atividades humanas, que podem causar graves impactos ambientais. Assim, traços e ultra traços deste elemento podem ser encontrados em águas residuais provenientes de refinarias de petróleo, sendo também susceptíveis de serem fiscalizadas pelos órgãos reguladores para as emissões de mercúrio na atmosfera e em resíduos sólidos ou líquidos, como é feito com as usinas a carvão. Outra fonte associada à produção comercial de mercúrio está intimamente ligada à indústria da mineração, que é a fonte primária de obtenção deste metal e representa cerca de 60 % do fornecimento (IGME, 2003).
A região amazônica abriga uma vasta rede de rios e cursos d’água, muitos dos quais apresentam águas escuras com baixo pH, criando condições favoráveis para a retenção de espécies de mercúrio. Essas condições favorecem a metilação do mercúrio, contribuindo para a formação de metilmercúrio. Além disso, a atividade industrial e de mineração pode levar a um maior impacto ambiental, com possíveis consequências a longo prazo para os cursos de água e a biodiversidade (MENEGÁRIO et al., 2017).
Como medida preventiva e para minimizar os potenciais danos causados pelos efeitos adversos do mercúrio, é fundamental gerenciar os efluentes que contêm mercúrio, evitando condições oxidantes em contato com a água. A identificação da distribuição predominante das espécies de mercúrio no ambiente aquático é fundamental para avaliar as fontes de contaminação. Atualmente, o método instrumental mais utilizado para a determinação do mercúrio é baseado na técnica de geração de vapor a frio acoplada à espectrometria de fluorescência atômica (CV-AFS) (KASPER et al., 2015).
Além disso, outras técnicas analíticas são amplamente empregadas, oferecendo alta sensibilidade na detecção de metais, como o Espectrômetro Óptico de Emissão Atômica acoplado à Espectrometria de Massas (ICP-MS) e técnicas hifenadas, como a Cromatografia Gasosa acoplada à Espectrometria de Massas em Tandem (GC-MS-MS). No entanto, para avançar nas pesquisas relacionadas ao mercúrio (Hg), é essencial aprimorar as metodologias que permitam quantificar as espécies tóxicas desse metal de forma rápida, com baixa interferência e boa reprodutibilidade (MENEGÁRIO et al., 2017).
Kasper et al. (2015) observaram que o ciclo do mercúrio na região amazônica enfrenta desafios significativos, incluindo a complexa logística de campo, bem como concentrações naturais que podem ser extremamente baixas. Acesso restrito a certos locais de coleta também dificulta a realização de procedimentos analíticos in loco, e dependendo da espécie química desejada, as amostras podem ter vida útil curta, exigindo transporte rápido para análise.
Bisinoti et al. (2007) destacam que a região amazônica no Brasil é a área mais estudada devido às elevadas concentrações de HgT, com alguns casos de valores superiores a 0,2 μg L-1, que excedem os limites estabelecidos pela legislação ambiental (CONAMA 357/2005) para ambientes de classe II, como os rios amazônicos. No entanto, ainda não se confirmou quais parâmetros limnológicos exercem maior influência na dinâmica do mercúrio e se essa influência varia sazonalmente (BRASIL, 2005).
Rocha (2021) observou que a análise da especiação do mercúrio em ecossistemas aquáticos pode ser desafiadora devido aos níveis extremamente baixos de concentração, exigindo técnicas altamente sensíveis, como a técnica de Difusão em Filmes Finos por Gradiente de Concentração (DGT). Essa técnica oferece a vantagem de coletar amostras in situ, evitando as alterações naturais na distribuição de espécies metálicas na água que ocorrem com as técnicas tradicionais de amostragem e armazenamento (ZHANG e DAVISON, 1995; MENEGÁRIO et al., 2010; CLARISSE et al., 2012; COLAÇO et al., 2014; PELCOVÁ et al., 2014; MENEGÁRIO et al., 2017).
A toxicidade do mercúrio depende de suas diferentes espécies químicas, como o metilmercúrio (a forma orgânica) que é extremamente tóxico, quando comparada com o Hg2+ (forma inorgânica mais comum no ambiente). Devido ao radical orgânico, o metilmercúrio (MeHg) pode entrar rapidamente na corrente sanguínea, causando danos irreparáveis ao sistema nervoso central. Se for acumulado no corpo humano, pode não só afetar o sistema nervoso, como também o sistema cardiovascular, trato digestivo e renal, especialmente em crianças. Além disso, estudos anteriores indicam a existência de mercúrio bioacumulado (especialmente na sua forma MeHg) nos organismos vivos e os efeitos adversos na trajetória do elemento na cadeia alimentar, chegando ao ser humano através da flora e fauna aquáticas, causando problemas na saúde das pessoas que vivem na região exposta (KASPER et al. 2018).
A análise de especiação de mercúrio em um ecossistema aquático torna-se um problema, devido aos níveis muito baixos, o que requer o uso de técnicas altamente sensíveis. Além disso, a determinação é dificultada por aspectos como a preservação e estabilidade das várias espécies durante a amostragem, armazenamento e análise (YU et al., 2003). Neste sentido, são necessárias técnicas analíticas para a determinação das formas específicas de Hg. O emprego da técnica de difusão em filmes finos por gradiente de concentração (DGT), que tem sido utilizada para determinar metais e suas espécies lábeis em águas naturais, é uma das alternativas para conduzir a especiação de mercúrio in situ, evitando assim problemas de preservação e estabilidade das suas várias espécies (ROCHA, 2021).
A técnica de difusão em filmes finos por gradiente de concentração (Diffusive Gradients in thin Films – DGT) desenvolvida recentemente, em comparação com outras técnicas analíticas, apresenta uma série de vantagens, como: sua simplicidade; capacidade de amostragem in situ; pré-concentração das espécies de interesse; amostragem multielementar; e sua capacidade de fornecer concentrações médias no tempo, quando utilizado por longos períodos (dias e semanas) em amostras de concentração variável, além da independência das medidas realizadas com as variações do fluxo hídrico do sistema estudado, o qual permite seu emprego em qualquer sistema aquático, seja em rios, mares ou lagoas sem a necessidade de medidas adicionais (ZHANG & DAVISON, 1995; Manual Técnico de Informações DGT Research).
Considerando o exposto nos parágrafos anteriores, a aplicação da técnica DGT torna-se uma ferramenta útil e eficaz para determinar o grau de poluição efetivo das fontes de água próximas às regiões de mineração, servindo como base para a tomada de decisão das instituições governamentais e outras organizações para garantir boa qualidade dos recursos hídricos, uma adequada qualidade de vida das comunidades vizinhas, com foco no desenvolvimento sustentável.
Este estudo de revisão sistemática da literatura teve como objetivo apresentar as principais abordagens e conceitos relacionados ao emprego da técnica DGT na detecção in situ das espécies de mercúrio (HgT e MeHg orgânico) em ambientes aquáticos na região da Amazônia. A pesquisa se norteou no estudo da distribuição de mercúrio em ambientes aquáticos, especialmente na região da Amazônia, com foco na concentração de metais e efeitos da contaminação por mercúrio na biodiversidade.
Nesse sentido, a problemática deste estudo está centrada no seguinte questionamento: Será que é possível aplicar a técnica DGT (Diffusive Gradients in Thin Films) para quantificação de mercúrio lábil e metilmercúrio em ambientes aquáticos? Adicionalmente, um breve estudo bibliométrico foi aplicado para medição e avaliação da produção científica a respeito do tema apresentado e da problemática norteada neste trabalho através do uso de métodos estatísticos e matemáticos para descrição dos aspectos da literatura e do comportamento autoral.
2 METODOLOGIA
A estratégia de busca envolveu o uso das seguintes bases de dados de pesquisa: Web of Science (WoS), Compedex, e Science Direct, devido à sua abrangência e relevância nas áreas correlatas da geologia, química e engenharias. As strings de busca utilizadas inicialmente, para obtenção de um contexto mais geral da área foram:
- WoS: (mercury speciation techniques OR mercury analysis OR Methylmercury speciation OR mercury speciation OR determination of mercury OR MeHg OR HgT speciation) AND (DGT OR Diffusive Gradients in Thin Films OR Thin Film) AND (water OR river OR white water).
- Compedex: (((((mercury speciation techniques OR mercury analysis OR Methylmercury speciation OR mercury speciation OR determination of mercury OR MeHg OR HgT speciation) AND (DGT OR Diffusive Gradients in Thin Films OR Thin Film) AND (water OR river OR white water)) WN ALL)) AND (({ja} WN DT) AND ((2023 OR 2022 OR 2021 OR 2020 OR 2019 OR 2018 OR 2017 OR 2016 OR 2015 OR 2014) WN YR))).
- ScienceDirect: (Methylmercury speciation OR MeHg OR determination of Methylmercury) AND (DGT OR Diffusive Gradients in Thin Films OR Thin Films) AND (river OR white water).
Os resultados foram inicialmente combinados a fim de obter um panorama inicial da temática deste trabalho. Inicialmente os critérios de inclusão utilizados foram:
- Trabalho publicado no intervalo 2014 – 2023 (10 anos)
- Adequação aos termos de busca
- Trabalhos publicados em periódicos e com o trabalho disponível
Com o auxílio do software Mendeley, excluiu-se trabalhos duplicados e fora dos critérios iniciais de inclusão. Assim, foram encontrados 227 trabalhos, incluídos pós critérios iniciais de inclusão, sendo destes, 127 encontrados na WoS, 68 na Compedex e 86 na Science Direct.
Posteriormente, foram selecionados trabalhos que incluíam a temática voltada para os ambientes de rios amazônicos de algum modo, isto é, trabalhos que incluíam, entre os termos utilizados e já mencionados, os termos relacionados aos rios ou águas amazônicas utilizando a técnica DGT. O baixo número de resultados ressalta a importância do uso de técnicas avançadas e promissoras como o DGT para detecção de mercúrio e metilmercúrio em águas amazônicas.
Optou-se pela abordagem quali-quantitativa, na qual foi realizada uma análise bibliométrica inicial de publicações acadêmicas que abordam as interações entre técnicas DGT voltadas para especiação de mercúrio. O referencial teórico é uma etapa fundamental na elaboração de um trabalho científico, pois permite situar o problema de pesquisa no contexto das teorias e conhecimentos existentes sobre o assunto. A pesquisa parte da premissa de que estudo de detecção de metais pesados como mercúrio e metilmercúrio tem sido um tópico de interesse. Posteriormente, analisou-se o estudo qualitativo a partir dos resultados extraídos pós filtros de inclusão-exclusão, e dentro do contexto de rios brasileiros, e Amazônia.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Figura 1, a seguir, apresenta as etapas utilizadas para o processo de revisão sistemática utilizado neste trabalho.
Figura 1. Passos da revisão sistemática.
Fonte: Autor, 2024.
3.1 Contexto Geológico Regional do rio Madeira
O contexto geológico da bacia do rio Madeira, na Região Norte do Brasil, é notável por sua complexidade e diversidade, contribuindo para a formação das águas brancas do rio. As águas brancas do rio Madeira são um tipo de água fluvial caracterizada por sua tonalidade leitosa, devido à presença de sedimentos em suspensão. Este fenômeno está intrinsecamente relacionado à geologia e às características naturais da região.
A região do rio Madeira está situada na bacia sedimentar amazônica, uma vasta área geológica coberta por uma extensa camada de sedimentos que se acumulou ao longo de milhões de anos. Essa camada de sedimentos é composta por uma variedade de rochas sedimentares, como arenitos, argilitos e calcários. À medida que a água flui através dessas rochas, ela interage com os sedimentos, dissolvendo minerais e elementos químicos, como cálcio, magnésio e sílica. Essa interação geológica é uma das razões pelas quais as águas do rio Madeira são ricas em minerais e têm uma tonalidade leitosa característica.
Além disso, a região da bacia do rio Madeira é conhecida por sua intensa atividade de erosão. As chuvas sazonais e os afluentes que drenam áreas com diferentes tipos de solo e vegetação contribuem para a erosão do solo. Como resultado, sedimentos finos, argilas e matéria orgânica são carregados para o rio. A interação entre esses sedimentos, minerais dissolvidos e a água do rio é um dos fatores que conferem às águas do rio Madeira sua cor branca.
O regime pluviométrico da região, com estações de chuvas intensas e secas, também desempenha um papel crítico na composição das águas do rio Madeira. Durante as chuvas, a erosão do solo é acentuada, resultando em um aumento da concentração de sedimentos na água. Durante a estação seca, as águas ficam mais claras, mas ainda carregam uma carga significativa de sedimentos. A complexa interação entre os processos geológicos, erosão, solos, vegetação e chuvas molda as características das águas brancas do rio Madeira. Essas águas são vitais para a região, sustentando uma biodiversidade rica e fornecendo recursos naturais essenciais para as comunidades locais.
3.2 Estado da Arte
A primeira etapa foi realizada a partir da análise dos trabalhos inicialmente coletados, conforme descrito na seção anterior. Utilizando a linguagem de programação Python e o software VOSViewer, analisamos os dados relacionados principalmente às palavras-chave dos trabalhos selecionados, e posteriormente, das palavras utilizadas nos resumos e título dos trabalhos. Os mecanismos de visualização dispostos no VOSViewer auxiliam na identificação da evolução do campo temático, fornecendo uma visão geral, identificando os principais segmentos auxiliares às linhas de especiação de mercúrio e metilmercúrio usando DGT.
Com a unificação das palavras-chave, podemos identificar as principais palavras-chave relacionadas à temática buscada a partir das strings de busca, conforme pode ser visualizado na Figura 2. Nela, é apresentado o grafo de conexões das palavras-chave, no qual cada nó (os desenhos circulares nos gráficos) representa uma palavra-chave com pelo menos 3 citações nos trabalhos selecionados, e cada aresta (ou conexão) representa que um par de palavras-chave aparece em pelo menos 1 trabalho, juntos. Além disso, as cores indicam proximidade com a média de vezes que determinada palavra-chave aparece em relação ao ano. Em resumo, quanto mais próximo de amarelo, então a palavra-chave tende a aparecer em trabalhos mais recentes, ao contrário dos trabalhos mais próximos do azul, que indicam palavras-chave menos utilizadas recentemente. Adicionalmente, o tamanho do nó (tamanho do círculo) indica o número de vezes que uma palavra-chave ocorreu, ou seja, quanto maior, mais vezes aquela palavra-chave ocorreu. Os resultados indicam que mais recentemente os trabalhos têm se relacionado com áreas como sedimentos, rios, água e poluição de rios, demonstrando o potencial mais recente da descoberta e especiação de mercúrio com ambientes sustentáveis. Além disso, podemos perceber no canto inferior direito, que a técnica DGT está relacionada principalmente ao mercúrio e metilmercúrio e em consonância com águas e rios, assim como as técnicas de thin films.
Figura 2. Grafo de conexão entre as palavras-chave com pelo menos 3 citações.
Fonte: Autor, 2024.
O resultado anterior corrobora com a tendência da especiação e descoberta de metais pesados como mercúrio em ambientes de sustentabilidade como solos e águas. A dispersão de trabalhos também fortalece essa tendência, conforme visualizado na Figura 3.
Figura 3. Dispersão de artigos encontrados por ano.
Fonte: Autor, 2024.
A partir das mesmas palavras-chave, utilizamos uma técnica de descoberta de tópicos a partir de aprendizagem de máquina com o intuito de compreender os tópicos possíveis relacionados aos trabalhos encontrados. Isso auxilia na compreensão dos tópicos relacionados aos trabalhos encontrados, o que pode ser útil na etapa seguinte de inclusão/exclusão de trabalhos. Para isso, foi aplicado o NMF (Non-negative Matrix Factorization) usando a biblioteca litstudy, disponível no repositório Github. Os resultados demonstram que os tópicos dos trabalhos encontrados estão divididos principalmente nos tópicos de monitoramento e especiação (Tópico 2 e 5), na detecção e determinação de mercúrio e metais e os principais termos relacionados à detecção (Tópicos 4, 8 e 10). Os resultados demonstraram que poucos tópicos estão relacionados a ambientes aquáticos e práticos, isto é, cenários reais. O resultado corrobora os resultados descritos na Figura 4, no qual ambientes como solo, rios e água estão relacionados a trabalhos mais recentes.
Figura 4. Tópicos relacionados aos trabalhos coletados conforme a biblioteca litstudy.
Fonte: Autor, 2024.
Adicionalmente analisamos a frequência do DGT nos trabalhos relacionados conforme pode ser visualizado na Figura 5. Nela podemos verificar que, uma quantidade significativa do uso de técnicas como DGT nos trabalhos coletados. Embora tenhamos utilizado o termo DGT, ele também pode aparecer com seu nome completo ou através de outras técnicas relacionadas aos filmes finos.
Figura 5. Proporção de trabalhos que utilizaram a técnica DGT.
Fonte: Autor, 2024.
No grupo de grafos relacionados ao corpus de texto presente nos títulos e abstracts dos trabalhos coletados, foram identificadas algumas outras relações. A Figura 6 apresenta o grafo de relação entre palavras e presentes nos abstracts e títulos, quando o número de ocorrências deles é maior que 10. Pelo grafo apresentado, podemos identificar 3 grandes grupos, em verde, vermelho e azul, no qual o primeiro grupo, em verde, identifica mais relacionada a parte mais técnica do método de detecção por filmes finos, o segundo, identificando os metais de especiação e os ambientes de detecção como mercúrio e metilmercúrio, e metais tóxicos, assim como os termos relacionados ao ambiente como sedimentos, a biodisponibilidade e o uso de gradientes difusivos na técnica de filme fino, elemento que faz a principal ponte para o terceiro grupo, que está relacionado ao modo como é realizado o método DGT, através das camadas de difusão, os géis e a implantação dos dispositivos DGT.
Figura 6. Grafo de relação entre palavras dos resumos e títulos.
Fonte: Autor, 2024.
Além disso, uma análise crítica foi realizada sobre os resultados dessa pesquisa. Ao analisar os trabalhos estudados, percebeu-se que a maioria deles enfatiza que a maioria dos passos dos experimentos de especiação é realizada no laboratório. No entanto, alguns também sugerem abordagens metodológicas que levam em consideração as espécies químicas do mercúrio, com o objetivo de minimizar a manipulação da amostra.
A principal motivação se deve ao fato de que os autores justificam que essas técnicas são as mais aparentes e quando utilizadas na amostragem in situ tornam-se mais acessíveis de serem aplicadas. No entanto, todos os autores pesquisados enfatizam as diferenças entre os processos aplicados em ambientes reais e em como eles são facilmente aplicados em laboratório, o que não retrataria a dificuldade da técnica relacionada a cada ambiente que podem influenciar os processos químicos complexos, tais como: condições de temperatura, ferramentas utilizadas e as complexas interações químicas associadas a esses processos.
Desse modo, e com o intuito de especificar trabalhos mais relacionados à região amazônica, outros filtros de inclusão foram utilizados: trabalhos relacionados a rios amazônicos ou região amazônica. A principal razão é para adequar o trabalho apresentado às principais temáticas abordadas neste trabalho: as principais transformações químicas que podem levar à biomagnificação de mercúrio em organismos aquáticos, e as concentrações elevadas de mercúrio em regiões ribeirinhas da região amazônica? Os trabalhos filtrados e suas principais contribuições são destacados no Quadro 1.
Quadro 1. Principais trabalhos incluídos na versão final do trabalho.
Autores/ano | Tipos de amostras | Variáveis avaliadas | Técnicas empregadas | Vantagens |
Colaço et al. (2014) | Águas do Rio Negro e Solimões | Determinar mercúrio Hg e Hg²⁺ | Agarose-P81 DGT | Uso de uma nova técnica DGT com a membrana P81 |
Tafurt-Cardona et al. (2015) | Água do rio negro | Alumínio (Al), Cádmio (Cd), Cobalto (Co), Cobre (Cu), Manganês (Mn), Níquel (Ni) e Zinco (Zn) e Metilmercúrio (MeHg) | DGT | capacidade de amostragem in situ e técnica passiva |
Menegário et al. (2017) | Nenhum, trabalho de review | Metais pesados como: Cd(II), Pb(II), Cu(II), Ni, Zn, Mn, Fe, Al, Co, Cr, U, V, Mo, e As | Abordagens utilizando a técnica DGT: procedimentos de fracionamento, variação da Espessura do gel e discriminação de colóides e nanopartículas | A técnica DGT permite a amostragem seletiva de espécies metálicas, medida de concentração ponderada pelo tempo, permitindo a estabilização e pré-concentração dos analitos alvo, medição simultânea de múltiplos parâmetros de elementos e amostragem in situ minimizando perturbações ambientais |
Fonte: Autor, 2024.
Os resultados apresentados para os principais autores incluídos no Quadro 1, demonstram o potencial da técnica DGT para ambientes regionais, especialmente in situ, ao mesmo tempo que demonstra a falta de produção científica utilizando a técnica em ambientes aquáticos amazônicos. Como evidenciado por Menegário et al. (2017), a técnica utilizada como base deste trabalho é importante para coleta de informações em ambientes aquáticos com o mínimo de perturbação do ambiente, fornecendo uma representação mais precisa dos analitos presentes. Além disso, os trabalhos avaliados demonstram que a técnica DGT fornece uma medida de concentração ponderada no tempo, permitindo a estabilização e pré-concentração dos analitos alvo, ajudando a entender como a biodisponibilidade dos metais muda em diferentes matrizes, como águas ricas em carbono orgânico dissolvido (DOC) (MENEGÁRIO et al., 2017). Isto é particularmente importante para quantificar metais em concentrações ultratraços em ambientes fluviais e aquáticos. Quando comparados aos resultados macro, isto é, quando analisados em relação aos resultados encontrados para aplicação do DGT para especiação de mercúrio e metilmercúrio, ainda percebe-se a falta de estudos científicos relacionados à região amazônica.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A revisão sistemática da literatura revelou que, embora haja um interesse crescente na aplicação da técnica DGT para a especiação de mercúrio, ainda há uma lacuna significativa de estudos específicos voltados para a região amazônica. Trabalhos como os de Colaço et al. (2014), Tafurt-Cardona et al. (2015) e Menegário et al. (2017) destacam o potencial dessa técnica para ambientes regionais, mas evidenciam a necessidade de mais pesquisas para compreender plenamente a dinâmica do mercúrio nos ecossistemas aquáticos amazônicos.
A pesquisa bibliométrica realizada mostrou uma tendência recente de estudos voltados para a especiação de mercúrio em ambientes aquáticos e sustentáveis, com um foco crescente em técnicas avançadas como a DGT. No entanto, a aplicação prática dessa técnica na Amazônia ainda é limitada, e há uma necessidade urgente de expandir esses estudos para fornecer dados mais robustos que possam embasar políticas públicas e medidas de mitigação eficazes.
Além das considerações técnicas, é fundamental ressaltar a importância da educação ambiental e do engajamento das comunidades locais na prevenção da contaminação por mercúrio. Iniciativas que visem a redução do garimpo ilegal e a promoção de práticas sustentáveis são essenciais para proteger a biodiversidade e a saúde humana na região amazônica.
Em conclusão, a técnica DGT apresenta-se como uma ferramenta valiosa para a especiação de mercúrio em ambientes aquáticos, especialmente na complexa e ecologicamente rica região amazônica. O avanço das pesquisas nesta área é crucial para compreender melhor a distribuição e os impactos do mercúrio, permitindo a implementação de medidas eficazes para proteger este ecossistema vital e as comunidades que dele dependem.
REFERÊNCIAS
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1 Discente do Curso Superior de Engenharia de Bioprocessos – Fundação Centro de Pesquisa e Inovação Tecnológica – FUCAPI, Manaus – AM. e-mail: fvidalquimico@gmail.com
2 Docente do Curso Superior de Engenharia de Bioprocessos – Fundação Centro de Pesquisa e Inovação Tecnológica – FUCAPI, Manaus – AM. Doutora em Química (PPGQ/UFAM). e-mail: siomararocha.quimica@gmail.com