O ATENDIMENTO DA FISIOTERAPIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PERSPECTIVA PSICOMOTORA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7393915


Flavia Camila Fumagali dos Santos1
Ingridy Botini da Silva2
Jaqueline Huber Pinheiro3
Cristiane Gonçalves Ribas4


RESUMO

Introdução: Estudos apontam que existem lacunas na formação dos profissionais de educação infantil, formados em pedagogia, onde os mesmos não têm o conhecimento necessário para realizar uma intervenção, quando se faz necessário, no processo de desenvolvimento motor, ajudando as crianças a não pular etapas, pois, muitas vezes eles não sabem o quão é importante passar por todas elas. Este estudo tem como objetivo mostrar a importância de compreender o desenvolvimento motor típico e o processo de aprendizagem psicomotor da criança, pois esta é a base para entender se a criança se encontra no seu processo natural e esperado de evolução ou se ela tem algum atraso no seu desenvolvimento. Metodologia: A amostra foi constituída por 17 crianças de ambos os gêneros, na faixa etária de 12 a 24 meses, regularmente matriculadas no local de estudo. Utilizando a escala de desenvolvimento motor (Adaptação de Vítor da Fonseca), as crianças foram avaliadas no pré e pós intervenção, obtendo assim resultados positivos. Resultados: dos 12 (doze) exercícios realizados, o grupo I apresentou uma melhora em 83,3% (oitenta e três por cento) deles e o grupo II apresentou uma melhora em 75% (setenta e cinco por cento) deles. Conclusão: Realizar a intervenção fisioterapêutica dentro da escola tem grande papel para minimizar os riscos de atraso do desenvolvimento, o fisioterapeuta pode atuar auxiliando as professoras a entender, respeitar e estimular todas as etapas da criança para que assim a mesma se desenvolva dentro do esperado para sua faixa etária de idade.

PALAVRAS-CHAVE: Estimulação, psicomotricidade, infantil, motor, educação infantil, habilidades motoras.

ABSTRACT

Introduction: Studies show that there are gaps in the training of early childhood education professionals, trained in pedagogy, where they do not have the necessary knowledge to carry out an intervention, when necessary, in the process of motor development, helping children not to skip steps , because often they don’t know how important it is to go through all of them. This study aims to show the importance of understanding the typical motor development and the child’s psychomotor learning process, as this is the basis for understanding if the child is in its natural and expected process of evolution or if it has some delay in the its development. Methodology: The sample consisted of 17 children of both genders, aged between 12 and 24 months, regularly enrolled at the study site. Using the motor development scale (Adaptation by Vítor da Fonseca), the children were evaluated before and after the intervention, thus obtaining positive results.Results: of the 12 (twelve) exercises performed, group I showed an improvement of 83.3% (eighty-three percent) of them and group II showed an improvement in 75% (seventy-five percent) of them. Conclusion: Carrying out the

physical therapy intervention inside the school has a great role to minimize the risks of developmental delay, the physical therapist can act helping teachers to understand, respect and stimulate all stages of the child so that it develops within the expected for your age group.

KEYWORDS: Stimulation, psychomotricity, children, motor, early childhood education, motor skills.

INTRODUÇÃO

A fisioterapia está normalmente associada, pelos pacientes e indivíduos, somente com o processo de reabilitação. A fim de desconstruir essa ideia fixa e ressaltar a importância da fisioterapia, com um enfoque no processo educacional, esse trabalho foi proposto.

A importância e necessidade de profissionais da saúde em um ambiente escolar se incluem para que uma estimulação seja feita de forma adequada ao desenvolvimento da criança. Cardoso e lima 2009, nos dizem, que um ambiente sem estimulação, inibidor ou até mesmo inadequado pode ocasionar consequências negativas no neurodesenvolvimento de crianças.

Os anos iniciais são de extrema importância no desenvolvimento motor e neurológico. Durante a introdução da educação escolar pode-se observar um enfoque nos âmbitos pedagógicos para o desenvolvimento de habilidades como aprender a contar, ler e escrever.

Ajuriaguerra J. 1983 (apud. MALUF; MORAES -2015) cita que esse processo de desenvolvimento é dividido em três fases, a primeira delas ocorre uma organização de tonicidade da base motora da criança e de sua propriocepção. A segunda fase é quando o bebê passa a interagir não somente com o seu corpo, tendo uma integração cinestésica, temos uma consciência em relação aos movimentos que ele realiza. Na última fase temos a tonicidade e os movimentos alinhados, sendo realizados de forma automática de acordo com a necessidade do bebê.

Esse primeiro ano do indivíduo é, em grande medida, definidor de seu potencial futuro para a aprendizagem. Nos anos seguintes, até que se completem seis, o desenvolvimento progressivo de habilidades psicomotoras lhe permitirá trabalhar com representações do mundo e assim estará pronto para dar início ao processo de alfabetização formal. Dessa visão geral inicial, resulta clara a importância da educação psicomotora, desde a educação infantil e nas séries iniciais, até que o processo de alfabetização e introdução ao raciocínio lógico-matemático se complete (MORAES; MALUF, 2015, p 85).

O intuito deste trabalho é mostrar a importância de um profissional de fisioterapia dentro da educação infantil para dar qualidade de movimento para as crianças, pois esta é uma era não há muito estímulo motor, as crianças não correm, não brincam, e apenas ficam em frente de telas, e, isso pode ser prejudicial em muitos quesitos como: desenvolvimento de coordenação motora ampla, controle de esfíncter, controle postural fortalecimento, alongamento, equilíbrio e propriocepção.

Com isso, o objetivo do trabalho é mostrar a interação da fisioterapia durante, principalmente, a última fase de desenvolvimento, inserindo a mesma em um ambiente escolar promovendo a conciliação entre o aprendizado psicopedagógico e o desenvolvimento motor. O trabalho visa também verificar se a fisioterapia contribui no processo de aprendizagem na educação infantil, junto com um maior conhecimento a respeito da psicomotricidade, entender a atuação da fisioterapia, compreender o processo de aprendizagem típico associado com entender o desenvolvimento motor assimilando com o processo de plasticidade cerebral e o conhecimento de patologias que podem influenciar no desenvolvimento motor e psicomotor típico

MATERIAIS E MÉTODOS

Para a realização do projeto, foi realizado o contato com o CEI AMAR e o diretor do mesmo concedeu a devida autorização para a execução do mesmo. Ocorreu uma reunião com os responsáveis para explicar sobre o andamento do projeto, os alunos que os responsáveis autorizaram a participação trouxeram assinado o TCLE (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido).

O processo de implementação do trabalho ocorreu ao longo de quatro meses ( março a junho de 2022) e contemplou duas avaliações, uma no começo e outra no fim dos atendimentos com aquele grupo, sendo aplicado duas vezes semanais em contexto Escolar ( CEI AMAR) com horários e dias programados. Os exercícios realizados foram baseados na avaliação de Vítor da Fonseca específica de 1 a 2 anos para o estímulo de desenvolvimento psicomotor das crianças.

O delineamento do estudo é composto de avaliação, intervenção e reavaliação. A pesquisa foi realizada no Centro de Educação infantil – Assistência ao menor para amparo e recuperação (CEI AMAR) – R. Capistrano de Abreu, 395 – Boa Vista, Curitiba – PR, 82540-320.

Os critérios de inclusão foram crianças de 12 a 24 meses, sendo de ambos os gêneros e que estavam matriculadas e frequentando o CEI AMAR no primeiro semestre de 2022 e as quais os pais assinaram o TCLE (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido)

Foram adotados como critérios de exclusão: crianças que os responsáveis não assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), crianças que faltaram mais de 25% nos dias letivos no CEI, crianças com idade menores de 12 meses e maiores de 24 meses.

A duração da pesquisa foi de quatro meses, duas vezes na semana, sendo às terças e às quintas, no período de 14:00 as 15:00hrs. Nos dois primeiros meses foram avaliados um grupo de dez alunos e nos dois meses seguintes foram acompanhados outro grupo com dez alunos distintos para que os resultados pudessem ser comprados.

O instrumento utilizado foi a escala de desenvolvimento motor (Adaptação de Vítor da Fonseca) (anexo I) A Ficha de Evolução foi criada pelas pesquisadoras para acompanhamento semanal dos responsáveis (anexo II),

Os exercícios propostos foram os seguintes.

1. Sobe e desce escadas em reptação.

Crianças devem subir em reptação em uma plataforma de degraus, e ao chegar ao topo, virar-se para descer em reptação e marcha para trás.

2. Passa da posição de sentado à de pé.

Crianças devem passar da posição de sedestação à posição ortostática e acertar um cesto com a bola

3. Faz rolar uma bola por imitação

Criança em pé com bola à sua frente, realizar apoio unipodal e chutar a mesma com um dos pés, visando acertar o “gol”.

4. Sobe para uma cadeira normal, volta-se e fica sentado.

Posicionar uma cadeira de tamanho normal à frente da criança para que ela possa subir na mesma, realizando força nos MMSS, fletindo e levantando os MMII para subir, depois realizar o movimento de voltar-se e ficar sentado.

5. Anda autonomamente.

O circuito será composto por uma linha reta de aproximadamente 1 metro, após ao fim do primeiro metro uma curva para a direita e o circuito seguirá por aproximadamente mais um metrô que terminará com uma nova curva, desta vez para a esquerda, até o fim do circuito A largura de todo o circuito será de 45 centímetros.

6. Desce escadas em reptação e em marcha atrás

A criança deve descer uma plataforma de degraus em reptação e em marcha atrás conforme ass orientações das terapeutas.

7. Senta-se sozinho numa pequena cadeira.

As crianças devem sentar em uma pequena cadeira que estará encostada na parede.

8. Põe-se de cócoras e volta à posição de pé.

As pesquisadoras irão indicar às crianças como deve ser realizado o movimento, sendo quando for falado a palavra “morto” as crianças deveriam ficar na posição de cócoras, e quando falado a palavra “vivo” a criança volta a posição de pé.

9. Empurra e desloca brinquedos enquanto anda.

As crianças deslocam uma caixa com brinquedos até o local indicado.

10. Utiliza o cavalo de balanço ou a cadeira de balanço.

As crianças deverão subir no cavalo, se segurar e realizar o movimento de inclinação anterior e posterior do tronco

11. Sobe escadas com ajuda.

As crianças devem subir as escadas apoiando as mãos nos papéis colados na parede para auxílio e orientação visual.

12. Dobra-se pela cintura para apanhar objetos, sem perder o equilíbrio.

As crianças devem se dobrar pela cintura, pegar a bola e atacar a mesma no alvo.

RESULTADOS

Para a elaboração do projeto foi dividido as crianças em dois grupos, o primeiro com nove crianças e o segundo com oito crianças, ambos os grupos foram realizados 12 (doze) encontros em um período de três meses cada, no primeiro semestre de 2022.

Foi considerado o comparecimento de 50% (cinquenta por cento) nas atividades para que entrasse na análise em questão. A porcentagem se deu por conta das intercorrências do COVID-19, onde devido a pandemia, as crianças ficaram isoladas e tiveram comprometimento em sua imunidade, ficando mais propensas a doenças respiratórias, algumas até sem um diagnóstico exato.

O boletim epidemiológico 23 assinala que na faixa etária de 0 a 19 anos foram notificados 33.886 casos de SRAG hospitalizados até a semana epidemiológica (SE) 29— correspondendo a 8% dos casos de SRAG hospitalizados no país. Dentre os quais, 4670 casos foram confirmados por COVID-19 (14%), 55% foram do tipo não especificado e 23% ainda permanecem em investigação etiológica(FIOCRUZ, 2019, p. 9 ).

Conforme os dados acima podemos perceber que a porcentagem de crianças com comprometimentos respiratórias foi significativa, afetando o dia a dia escolar e com isso a porcentagem de comparecimento no projeto em questão.

Abaixo acompanhamos o resultado e análise de exercícios e grupos correspondentes.

Exercício I – “Sobe escadas em reptação”

Grupo I
AVALIAÇÃO INICIALPorcentagem em relação aos alunos
Realizavam o exercício71,4 %
Não realizavam o exercício28,5%
AVALIAÇÃO FINAL
Realizavam o exercício100%
Não realizam o exercício0%
Grupo II
AVALIAÇÃO INICIALPorcentagem em relação aos alunos
Realizam o exercício85,7%
Não realizavam o exercício14,2%
AVALIAÇÃO FINAL
Realizavam o exercício85,7%
Não realizavam o exercício14,2%

Exercício II- “Passa a posição de sentado à de pé”

Grupo I
AVALIAÇÃO INICIALPorcentagem em relação aos alunos
Realizam o exercício57,1%
Não realizavam o exercício42,8%
AVALIAÇÃO FINAL
Realizam o exercício100%
Não realizavam o exercício0%
Grupo II
AVALIAÇÃO INICIALPorcentagem em relação aos alunos
Realizam o exercício100%
Não realizavam o exercício0%
AVALIAÇÃO FINAL
Realizam o exercício100%
Não realizavam o exercício0%

Exercício III- “Faz rolar uma bola por imitação”

Grupo I
AVALIAÇÃO INICIALPorcentagem em relação aos alunos
Realizam o exercício85,7%
Não realizavam o exercício14,2%
AVALIAÇÃO FINAL
Realizam o exercício85,7%
Não realizavam o exercício14,2%
Grupo II
AVALIAÇÃO INICIALPorcentagem em relação aos alunos
Realizam o exercício57,1%
Não realizavam o exercício42,8%
AVALIAÇÃO FINAL
Realizam o exercício100%
Não realizavam o exercício0%

Exercício IV- “Sobre para uma cadeira normal, volta-se e fica sentado”

Grupo I
AVALIAÇÃO INICIALPorcentagem em relação aos alunos
Realizam o exercício71,4%
Não realizavam o exercício28,5%
AVALIAÇÃO FINAL
Realizam o exercício100%
Não realizavam o exercício0%
Grupo II
AVALIAÇÃO INICIALPorcentagem em relação aos alunos
Realizam o exercício42,8%
Não realizavam o exercício57,1%
AVALIAÇÃO FINAL
Realizam o exercício100%
Não realizavam o exercício0%

Exercício V- “Andar autonomamente”

Grupo I e Grupo II
AVALIAÇÃO INICIALPorcentagem em relação aos alunos
Realizam o exercício100%
Não realizavam o exercício0%
AVALIAÇÃO FINAL
Realizam o exercício100%
Não realizavam o exercício0%

Exercício VI- “Descer escadas em reptação e em marcha atrás”

Grupo I
AVALIAÇÃO INICIALPorcentagem em relação aos alunos
Realizam o exercício57,1%
Não realizavam o exercício42,8%
AVALIAÇÃO FINAL
Realizam o exercício100%
Não realizavam o exercício0%
Grupo II
AVALIAÇÃO INICIALPorcentagem em relação aos alunos
Realizam o exercício14,2%
Não realizavam o exercício85,7%
AVALIAÇÃO FINAL
Realizam o exercício71,4%
Não realizavam o exercício28,5%

Exercício VII- “Senta-se sozinho numa pequena cadeira”

Grupo I
AVALIAÇÃO INICIALPorcentagem em relação aos alunos
Realizam o exercício57,1%
Não realizavam o exercício42,8%
AVALIAÇÃO FINAL
Realizam o exercício100%
Não realizavam o exercício0%
Grupo II
AVALIAÇÃO INICIALPorcentagem em relação aos alunos
Realizam o exercício42,8%
Não realizavam o exercícioNão realizavam o exercício
AVALIAÇÃO INICIAL
Realizam o exercício71,4%

Exercício VIII- “Põe-se de cócoras e volta à posição de pé”

Grupo I
AVALIAÇÃO INICIALPorcentagem em relação aos alunos
Realizam o exercício71,4%
Não realizavam o exercício28,5%
AVALIAÇÃO FINAL
Realizam o exercício100%
Não realizavam o exercício0%
Grupo II
AVALIAÇÃO INICIALPorcentagem em relação aos alunos
Realizam o exercício57,1%
Não realizavam o exercício42,8%
AVALIAÇÃO FINAL
Realizam o exercício100%
Não realizavam o exercício0%

Exercício IX- “Empurra e desloca brinquedos enquanto anda”

Grupo I
AVALIAÇÃO INICIALPorcentagem em relação aos alunos
Realizam o exercício85,7%
Não realizavam o exercício14,2%
AVALIAÇÃO INICIAL
Realizam o exercício100%
Não realizavam o exercício0%
Grupo II
AVALIAÇÃO INICIALPorcentagem em relação aos alunos
Realizam o exercício85,7%
Não realizavam o exercício14,2%
AVALIAÇÃO FINAL
Realizam o exercício85,7%
Não realizavam o exercício14,2%

Exercício X- “Utiliza o cavalo de balanço ou a cadeira de balanço”

Grupo I
AVALIAÇÃO INICIALPorcentagem em relação aos alunos
Realizam o exercício57,1%
Não realizavam o exercício42,8%
AVALIAÇÃO FINAL
Realizam o exercício100%
Não realizavam o exercício0%
Grupo II
AVALIAÇÃO INICIALPorcentagem em relação aos alunos
Realizam o exercício57,1%
Não realizavam o exercício42,8%
AVALIAÇÃO FINAL
Realizam o exercício100%
Não realizavam o exercício0%

Exercício XI- “Sobe escadas com ajuda”

Grupo I
AVALIAÇÃO INICIAL
Porcentagem em relação aos alunos
Realizam o exercício85,7%
Não realizavam o exercício14,2%
AVALIAÇÃO FINAL
Realizam o exercício100%
Não realizavam o exercício0%
Grupo II
AVALIAÇÃO INICIALPorcentagem em relação aos alunos
Realizam o exercício57,1%
Não realizavam o exercício42,8%
AVALIAÇÃO FINAL
Realizam o exercício100%
Não realizavam o exercício0%

Exercício XII- “Dobra-se pela cintura para apanhar objetos, sem perder o equilíbrio”

Grupo I
AVALIAÇÃO INICIALPorcentagem em relação aos alunos
Realizam o exercício28,5%
Não realizavam o exercício71,4%
AVALIAÇÃO FINAL
Realizam o exercício71,4%
Não realizavam o exercício28,5%
Grupo II
AVALIAÇÃO INICIALPorcentagem em relação aos alunos
Realizam o exercício57,1%
Não realizavam o exercício42,8%
AVALIAÇÃO FINAL
Realizam o exercício71,4%
Não realizavam o exercício28,5%

DISCUSSÃO

A intervenção da fisioterapia na psicomotricidade a partir de 12 meses contribui para o desenvolvimento psicomotor das crianças conforme descrito por Cardoso e Lima,( 2019, p. 7) “A intervenção psicomotora deve ser utilizada no contexto educacional, pois contribui para o desenvolvimento ideal da criança”, sendo assim, este estudo realizou a intervenção com 14 (quatorze) crianças que foram divididas em 2 (dois) grupos, G1 e G2 os quais continham 7 (sete) crianças cada, que receberam atendimentos duas vezes na semana, com duração de 50 (cinquenta) minutos, durante 12 (doze) semanas. A intervenção era divida em três momentos, o primeiro momento consistia em um acolhimento e conversa sobre quais exercícios iriam ser realizados; em seguida eram realizados de 2 (dois) a 3 (três) exercícios de psicomotricidade ampla; o último momento um relaxamento. Foi realizada avaliação no pré e pós intervenção.

Os movimentos aprendidos durante os primeiros seis anos da infância caracterizam a base para as aprendizagens numa fase posterior. As habilidades motoras que a criança adquire numa fase inicial são aperfeiçoadas na idade adulta (BESSA; PEREIRA, 2002, p. 58)

Todos os exercícios apresentados utilizam para a sua realização a habilidade de equilíbrio estático e equilíbrio dinâmico. Com isso um dos enfoques dos exercícios foi o trabalho com o estímulo para a melhora desses equilíbrios e o melhor resultado na avaliação final. Essa melhora observada na tabela 1 se dá principalmente por esse trabalho realizado. Foi possível observar durante a aplicação do projeto que exercícios em que utilizavam o equilíbrio dinâmico das crianças, foram os quais as mesmas apresentaram maiores dificuldades. Com isso foi realizado um trabalho maior das pesquisadoras para o melhor controle dinâmico, em que foi notório o resultado positivo principalmente nos exercícios III, VIII e XI.

As habilidades de coordenação motora e de equilíbrio devem ser avaliadas e desenvolvidas basicamente na infância, pois a aprendizagem motora posterior vai necessitar destas habilidades básicas numa fase adulta (BESSA; PEREIRA, 2002, p. 58)

Para a realização dos exercícios I; II; IV; V; VI; VII; IX; XI e XII, uma das habilidades motoras é a noção de espaço, esta habilidade proporciona a criança entender o espaço que seu corpo ocupa ambiente e a função dele, estes exercícios de psicomotricidade proporcionam a elas o treino desta habilidade para que ocorra a mudança de posicionamentos e um deslocamento seguro. Segundo LORENZATO (2006), a noção de espaço da criança começa quando ela percebe objetos ao seu redor através da imagem visual, e então toma a iniciativa de pegá-lo e percebe o espaço que aquele objeto ocupa no ambiente, percebendo assim que ela também é um objeto no espaço. Quando aprimorada a noção espacial das crianças através dos exercícios, como os citados acima, podemos notar a melhora na realização de atividades psicomotoras.

Castrogiovanni (2000 p.5), nos diz que quando a criança começa a engatinhar e interagir com objetos próximos ela irá ter sua noção de espaço ampliada, com isso foi observado no projeto que crianças que possivelmente “pulam” a etapa do engatinhar ou não o fizeram da maneira correta tiveram uma maior dificuldade de estar realizando de maneira satisfatória os exercícios que solicitam uma maior habilidade espacial. Quando observado as crianças que possuíam maior dificuldade nesses exercícios eram mais estimuladas a observar e entender o seu corpo no espaço.

Para os exercícios III; V; VI; IX foi necessário a utilização da noção de tempo, esta habilidade junto a noção espacial é necessária para o indivíduo se situar enquanto ao seu corpo no espaço. Conforme diz BESSA; MACIEL (2017 p12.), “A orientação no tempo adequado, fará com que o movimento se encaixe no espaço e seja possível executar o seu deslocamento ou de um objeto”

Nos anos introdutórios de aprendizagem a criança compreende várias noções, e os exercícios citados acima trouxeram duas habilidades em conjunto, trabalhando uma noção de espaço e uma noção de tempo. Por exigir duas habilidades distintas foi possível observar uma maior dificuldade, sendo mais notória no segundo grupo principalmente por se tratar de crianças que iriam completar dois anos somente no segundo semestres. Com isso podemos usar a citação de Ribeiro (2001, p. 58 apud RAMOS, 2012, p.5) a qual afirma que

A criança deve ser levada a compreender a existência dos diferentes espaços-tempos ocupados, partindo sua aprendizagem dos espaços próximos aos mais distantes. Mostrando também que os diferentes espaços que ela ocupa não são só seus e que o lugar, uma vez ocupado, modifica-se com o tempo.

Gráfico 1- Porcentagem de evolução

O gráfico acima apresenta as porcentagens de evoluções de acordo com os exercícios realizados e os grupos em questão. Podemos observar que o grupo 2 foi o grupo que melhor apresentou uma evolução, tendo uma porcentagem maior principalmente em exercícios que utilizam as habilidades motoras de equilíbrio e noção de espaço. Nos exercícios I, II, e IV podemos observar que não houve nenhuma alteração em ganho pois as crianças do grupo em questão já possuíam a habilidade avaliada, a qual ao longo das atividades foram aperfeiçoadas. Já no exercício V podemos notar que não houve nenhuma evolução apresentada nos grupos, encontramos essa explicação pois de acordo com o ministério da Saúde, no décimo mês uma criança já deve ser capaz de começar a andar autonomamente, como as crianças avaliadas já estavam entre 12 à 24 meses já possuíam a habilidade esperada.

Para os exercícios em que foi observado que o grupo possuía uma maior autonomia para realização foram feitas poucas repetições apenas para aperfeiçoamento e dado um enfoque maior nas habilidades que ainda não haviam sido adquiridas.

CONCLUSÃO

Com base nas análises de dados vemos que o primeiro grupo que recebeu os estímulos apresentou maior quantidade de habilidades na primeira avaliação, as mesmas foram aperfeiçoadas ao longo da pesquisa, diferente do segundo grupo que na primeira avaliação apresentaram maior dificuldades motoras, que ao longo da pesquisa foram trabalhadas e obtidas como mostra a segunda avaliação, este fator pode ser explicado pela diferença de alguns meses de idade entre um grupo e outro.

O estudo mostrou que a fisioterapia na educação infantil, trabalhando com estímulo precoce, vem a aperfeiçoar e ensinar novas habilidades motoras para as crianças, ter um fisioterapeuta dentro da escola se faz necessário pois o movimento de coordenação motora ampla traz benefícios para questões cognitivas e autonomia, facilitando a aprendizagem e coordenação motora fina sendo essas essencial no processo de alfabetização.

A literatura constata que quando os estímulos motores são ignorados e/ou não aperfeiçoados na primeira infância, trazem prejuízos para vida adulta, pois se faz necessário passar por todas as etapas motoras para obter um bom conhecimento corporal, autonomia, equilíbrio, noção de tempo e espaço.

REFERÊNCIAS

CARDOSO, katia virginia viana; LIMA, sarah amaral-INTERVENÇÃO PSICOMOTORA NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA– Rev.Bras Promç Saúde-2019-32:9300. Disponivel em < https://ojs.unifor.br/RBPS/article/view/9300/pdf >

FIOCRUZ. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. COVID-19 e Saúde da Criança e do Adolescente. Ago., 2020. Disponível em:<https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencaocrianca/covid-19-saude-crianca-e- adolescente>.

LORENZATO, Sergio. Coleção formação de professores: Educação Infantil e percepção matemática. Campinas SP: autores Associados. 2006.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Diretrizes de estimulação precoce : crianças de zero a 3 anos com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2016. 184 p. : il. ISBN978-85-334-2434-0

NAVES, Laila Maria de Sousa – Noções espaciais e brincadeiras como mediação da aprendizagem na educação infantil [manuscrito;Laila Maria de Naves- 2021 APUD – CASTROGIOVANI, A.C; COSTELLA, R. Z. Porto Alegre: EDIPUCRS,2006

MALUF, maria fernanda de matos; MORAES, sonia- psicomotricidade no contexto da neuroaprendizagem: contribuições à ação psicopedagógica– 2015- Rev.associação brasileira de psicopedagogia. Vol 32 ed.97

VOOS, mariana callil- O papel do fisioterapeuta na inclusão escolar na educação infantil-Fisioter. Pesqui. 23 (4) • Dez 2016

MURTA, Agnes Maria Gomes et al. cognição, motricidade, autocuidados, linguagem e socialização no desenvolvimento de crianças em creche. Rev Bras Crescimento Desenvolvimento Hum, Minas Gerais, v. 21, p. 220-229, 2011.

PERUZZOLO, Dani Laura; SOUZA, Ana Paula Ramos. Uma hipótese de funcionamento psicomotor como estratégia clínica para o tratamento de bebês em intervenção precoce. Scielo. São Carlos, 2017. 8 p. Disponível em: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2017/12/876100/1621-7577-2- pb.pdf. Acesso em: 13 set. 2021

BALK, Rodrigo De Souza et al. Análise do desenvolvimento motor e da atenção de crianças submetidas a um programa de intervenção psicomotora. ConsSaude, Rio Grande do Sul, v. 17, p. 187 – 195, 18 mai 2018

MENDONÇA, João Guilherme Rodrigues; RODRIGUES, Marlene. Psicomotricidade: o discurso do corpo na escola. EDUCA – Revista Multidisciplinar em Educação, Porto Velho, v. 5, n. 11, p. 216-226, mai/ago, 2018..

RAMOS, Andreia Ruth; LOPES, Késia Claudino; MARTINS, Nilvania Vieira- a construção das noções espaço-temporais na educação infantil: situações pedagógicas– Campina Grande, REALIZE Editora, 2012

ANEXO I

GRUPO ETÁRIO: 1 – 2 ANOS

Data da observaçãoComportamento S.NAquisiçãoObservações
46. Sobe escadas em reptação.
47. Passa da posição de sentado à depé.
48. Faz rolar uma bola por imitação.
49. Sobe para uma cadeira normal,volta-se e fica sentado.
50. Põe 4 argolas num suporte cilíndrico.
51. Tira um prego colorido de umaplaca perfurada.
52. Põe um prego colorido numa placacolorida.
53. Constrói torre de três blocos.
54. Faz riscos com um lápis ou comuma caneta.
55. Anda autonomamente.
56. Desde escadas em reptação e emmarcha atrás.
57. Senta-se sozinho numa pequeninacadeira.
58. Põe-se de cócoras e volta à posição de pé.
59. Empurra e desloca brinquedosenquanto anda.
60. Utiliza o cavalo de balanço ou acadeira de balanço.
61. Sobe escadas com ajuda.
62. Dobra-se pela cintura para apanharobjetos, sem perder o equilíbrio.
63. Imita o gesto circular.

ANEXO II

Ficha de avaliação fisioterapêutica – Psicomotricidade pediátrica

Nome:  

Data de nascimento: / /

Idade:

Nome do responsável:  

Telefone para contato ( )

Diagnóstico Fisioterapêutico:  

ESCALA DE DESENVOLVIMENTO MOTOR (ADAPTAÇÃO DE VITOR DA FONSECA, 1978)

GRUPO ETÁRIO: 1 – 2 ANOS

Data da observaçãoComportamentoAquisição S.NObservações
01. Sobe escadas em reptação.
02. Passa da posição de sentadoà de pé.
03. Faz rolar uma bola porimitação.
04. Sobe para uma cadeiranormal, volta-se e fica sentado.
05. Anda autonomamente.
06. Desde escadas em reptaçãoe em marcha atrás.
07. Senta-se sozinho numapequena cadeira.
08. Põe-se de cócoras e volta àposição de pé.
09. Empurra e deslocabrinquedos enquanto anda.
10. Utiliza o cavalo de balançoou a cadeira de balanço.
11. Sobe escadas com ajuda
12. Dobra-se pela cintura paraapanhar objetos, sem perder o equilíbrio.

1, 2, 3Acadêmica da Graduação em Fisioterapia do Centro Universitário UniDomBosco, Curitiba, Paraná,Brazil.

4Profa. Dra. da Graduação em Fisioterapia do Centro Universitário UniDomBosco. Pesquisadora do Laboratório de Delineamento de Estudos e Escrita Científica, Centro Universitário Saúde ABC, Santo André, São Paulo, Brazil