REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10160100
RAYLLEN Araújo Frota¹
GESSIANE Rodrigues De Sousa Santos ²
JOIZA Maria De Oliveira Santana ³
RESUMO
O presente artigo tem por finalidade expor as vivências e rotinas no estágio supervisionado no 10° período pela acadêmica do curso de Psicologia no Centro Universitário São Lucas, Afya. Localizado em Porto Velho, Ro. A prática ocorreu no maior hospital de Urgência e Emergência do Estado de Rondônia. A metodologia empregada consistiu em um Relato de experiência. Os resultados obtidos mostraram a importância do acolhimento como instrumento de humanização para pacientes e seus familiares durante a internação hospitalar. Dado o exposto, conclui-se a relevância do psicólogo como fomentador de práticas pautadas na humanização e reconhecimento dos aspectos subjetivos e emocionais que envolvem o adoecimento.
Palavras chave: Psicologia da Saúde e Hospitalar. Urgência e Emergência. Acolhimento.
ABSTRACT
The purpose of this article is to expose the experiences and routines in the internship supervised in the 10th period by the Psychology course student at Centro Universitário São Lucas, Afya. Located in Porto Velho, Ro. The practice took place in the largest Urgency and Emergency hospital in the State of Rondônia. The methodology used consisted of an experience report. The results obtained showed the importance of welcoming as an instrument of humanization for patients and their families during hospitalization. Given the above, the relevance of the psychologist as a promoter of practices based on humanization and recognition of the subjective and emotional aspects that involve illness is concluded.
Keywords: Health and Hospital Psychology, Urgency and Emergency, Reception
1 INTRODUÇÃO
O presente relato tem por objetivo apresentar as experiências de estágio curricular no maior Hospital de Urgência e Emergência do Estado de RO, no qual foi possível compreender a importância do acolhimento no ambiente hospitalar. Será abordada também a relação da Psicologia da Saúde com a Psicologia Hospitalar e como elas se diferenciam. Em ênfase na atuação com o paciente internado em conjunto a família/acompanhante e a forma de trabalho com a equipe multiprofissional em prol do bem-estar durante a internação. Em outro momento, será relatada a diferença do setting terapêutico no âmbito hospitalar para o setor clínico e por fim, as considerações finais acerca dessa vivência.
Ao contrário da Psicologia da Saúde, que se concentra nas áreas primária e secundária, a psicologia hospitalar aborda apenas as secundária e terciária. E a atuação dos profissionais não está limitada apenas ao espaço físico hospitalar, pois também prestam serviços no caso de desospitalização como Home Care. O psicólogo no contexto hospitalar, atua em instituições de saúde, utilizando-se de sua prática, promovendo melhor qualidade psíquica e comportamental de pacientes, familiares e também da equipe multidisciplinar.
Um serviço psicológico hospitalar deve ter como objetivo contribuir para o aprimoramento dos padrões científicos, profissionais e éticos da psicologia da saúde paralelamente ao desenvolvimento de atividades de ensino, de pesquisa científica e assistenciais.
A psicologia da saúde é uma área mais ampla. Nesse sentido, Safiro (2004) afirma que:
“As funções dos profissionais de Psicologia da Saúde estão se expandindo à medida que o campo amadurece. A maioria dos psicólogos da saúde trabalham em hospitais, clínicas e departamentos acadêmicos de faculdades e universidades onde eles podem fornecer ajuda direta e indireta aos pacientes. Na atuação clínica, podem fornecer atendimento para pacientes com dificuldades de ajustamento à condição de doente, como por exemplo, na redução de sentimentos de depressão no paciente internado. Pode-se também ensinar aos pacientes métodos psicológicos para ajudá-los a manejar ou gerir os problemas de saúde, como aprender a controlar as condições de dor”.
Na clínica, o ambiente é mais acolhedor, confortável e convidativo à conversa. Por outro lado, no ambiente hospitalar o espaço não é exclusivo do atendimento psicológico, com a circulação de enfermeiros, técnicos e médicos exercendo suas funções.
Desse modo, os atendimentos podem ser interrompidos a qualquer momento, por ser um ambiente dinâmico. É válido ressaltar, o fato desse ambiente ter muitas pessoas, pois o sigilo fica prejudicado e consequentemente torna o atendimento desafiador.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Psicologia da Saúde
A Psicologia da Saúde é um âmbito psicológico recente, criado na década de 70, com o objetivo de entender e agir sobre a interligação entre os comportamentos e doenças e comportamento e saúde. Conforme Miyazaki; Domingos; Caballo (2001):
“Ela busca compreender o papel das variáveis psicológicas sobre a manutenção da saúde, o desenvolvimento de doenças e seus comportamentos associados. Além de desenvolver pesquisas sobre cada um desses aspectos, os psicólogos da saúde realizam intervenções com o objetivo de prevenir doenças e auxiliar no manejo ou no enfrentamento das mesmas”.
Tem como finalidade a compreensão de intervenções psicológicas auxiliando no bem-estar da população e do indivíduo, focando na atenção primária, secundária e terciária. Assim, proporcionando melhoria na qualidade de vida.
Foram criados historicamente dois paradigmas no campo da saúde que afetam diferentes conceitos e comportamentos, ou seja, um modelo biomédico de saúde e um modelo biopsicossocial. O modelo biomédico é uma perspectiva que considera doenças específicas da biologia, ou seja, a patologia é causada por determinados patógenos que causam anormalidades e/ou desequilíbrios no organismo. Então, nesse conceito, saúde é ausência de doença. Logo, um psicólogo será um assistente médico especializado. ajustando o comportamento ao físico
O modelo psicossocial biológico, baseia-se num modelo em que rompe com o modelo linear de saúde e causalidade, e assume como principal solução os eventos biológicos como causadores de doenças na tecnologia médico-farmacológica. Fatores psicológicos, biológicos e sociais são considerados compostos e interligados ao processo saúde-doença, constituindo-se em importantes indicadores de como as pessoas e os grupos enfrentam o processo de adoecimento e adesão às prescrições médicas.
Desse modo, para Teixeira (2004) “ela é a prática dos conhecimentos e das técnicas psicológicas à saúde, às doenças e aos cuidados de saúde, visando a promoção e manutenção da saúde e a prevenção da doença”. Por ser um ramo muito amplo, o psicólogo da saúde pode cuidar clinicamente de pessoas saudáveis ou doentes em diferentes contextos e se envolver em investigação e pesquisas tanto na formação quanto no ensino e treinamento. Assim, o psicólogo da saúde pode atuar em hospitais, clínicas, em pesquisas e departamentos acadêmicos de faculdades, universidades, entre outros.
Consequentemente, o aumento de interesse pela atuação neste ramo específico surge da carência de interpretar e raciocinar sobre o processo saúde/doença numa dimensão psicossocial e de entender e explorar os contextos do indivíduo ou grupos, visíveis a variadas condições de saúde inadequadas e também a várias doenças.
2.2 Psicologia Hospitalar
Psicologia Hospitalar é a área que compreende o tratamento dos aspectos psicológicos que envolvem a doença. Simonetti (2004, p.15), enfatiza que:
“Diante da doença, o ser humano manifesta subjetividades: sentimentos, desejos, pensamentos e comportamentos, fantasias e lembranças, crenças, sonhos, conflitos e o estilo de adoecer. Esses aspectos podem aparecer como causa da doença, como desencadeador do processo patogênico, como agravante do quadro clínico, como fator de manutenção do adoecimento, ou ainda como consequência desse adoecimento”.
Assim, a finalidade da Psicologia Hospitalar é elaborar simbolicamente o adoecimento, isto é, ajudar o paciente a atravessar a experiência do adoecimento através de sua subjetividade.
Nesse sentido, o psicólogo trabalha auxiliando o paciente para que ele a passe pela experiência de adoecimento, que costuma ser angustiante e dolorosa atuando de forma com que amenize tal sofrimento. Não englobando apenas os sintomas emocionais, mas qualquer outra forma de manifestação da doença, ou, causas psicossomáticas, causas físicas e psicológicas. Diante disso, o atendimento deve ser bem pontual, visto que, o ambiente hospitalar é altamente dinâmico, no qual o paciente pode ser transferido, receber alta ou até vir a óbito.
Diante do exposto, a psicologia hospitalar atua em diferentes níveis de tratamento, tendo como principal função avaliar e acompanhar as complicações psicológicas de pacientes submetidos ou prestes a se submeter a procedimentos médicos com o objetivo de promover e/ou restabelecer a saúde física e mental. O psicólogo hospitalar pode atuar em hospitais comuns, auxiliando o paciente a enfrentar diagnósticos, a preparar o paciente para procedimento cirúrgicos e a lidar melhor com novas rotinas.
É importante mencionar que a psicologia hospitalar também trabalha no processo da terminalidade, ou seja, em doenças que ameaçam a continuidade da vida e a perda da capacidade para decidir sobre o próprio corpo, sendo submetido a uma nova rotina na qual precisa se adaptar. Durante a internação é preciso lidar com a espera, seja pelo horário de receber a visita dos familiares, pela alimentação, hora do banho, visita do médico, espera pela hora do medicamento, são processos que comprometem a autonomia. Além disso, o paciente tem que conviver com incapacidade produtiva no trabalho, separação da família, da casa, e dos demais fatos relacionados à sua vida que foram interrompidos, assim passando por diferentes formas de perdas, ou seja, a própria internação hospitalar é considerada um processo de perda.
Para Simonetti (2004), estas perdas podem ser destacadas como imaginárias ou reais. Entende-se que as imaginárias estão relacionadas com a perda nas relações afetivo-sociais e em alguns casos, alterações na funcionalidade do corpo. E as reais são constituídas pela perda de algum órgão ou membro, perda financeira relacionada ao custo da hospitalização, perda temporária do emprego devido às faltas, perda da autonomia, entre outras.
Dessa maneira, os pacientes internados podem relembrar e reviver aspectos relacionados à morte de um ente querido, ou até mesmo medo da dor e da própria morte. Ao adoecer, os pacientes percebem que não possuem controle do próprio corpo, como acreditavam, e por isso a dor e as dificuldades apresentadas pelo corpo produzem pensamentos relacionados à finitude (GOIDANICH; GUZZO, 2012). Mediante a tais pensamentos, torna-se inevitável que o paciente apresente sentimentos relacionados ao processo de luto.
Portanto, o psicólogo no contexto hospitalar tem diversas funções. Dentre elas, a mais importante é a escuta, que não se limita apenas ao que é dito, mas também ao não dito, com o objetivo de compreender a demanda do paciente e intervir de forma assertiva. Observa-se que o atendimento pautado na educação, atenção, interesse e agilidade de respostas às solicitações, contribuem para o bem-estar do paciente, seus familiares e visitantes. Mezomo (2001, p.13) descreve que:
“a humanização não resulta apenas na aplicação de recursos materiais. Ela pode ser conseguida também através de atitudes”.
Desse modo, conforme o autor supracitado, um olhar humano, uma escuta atenta, faz total diferença no atendimento, pois gera satisfação, segurança e a confiança que o paciente necessita ao buscar um serviço de saúde. E ao sentir-se acolhido, este irá expressar-se com mais facilidade para o profissional, sobre as suas angústias e os problemas que o estão afligindo. Assim, o profissional pode ter mais informações para poder intervir. Logo, acolher no contexto da unidade de saúde, significa demonstrar hospitalidade, ouvir, compreender e mostrar solidariedade na resposta às solicitações. O cumprimento permite o encontro, a presença, a conexão e a construção de vínculo entre familiares, pacientes hospitalizados e equipes de saúde.
2.2.1 O Papel do psicólogo em conjunto ao paciente e a família/acompanhante
O psicólogo não mantém contato apenas com o paciente, mas também com a família/acompanhante. Esse acompanhamento com a família é muito importante para que o psicólogo oriente, avalie possíveis crenças ou pensamentos distorcidos que possam ocorrer diante a condição do paciente internado, além disso, a relação do paciente e a família com a equipe, também são fatores que podem influenciar no tratamento.
Por consequência, é fundamental que haja a humanização no âmbito hospitalar, visto que o paciente pode acabar encontrando alguma resposta para suas angústias e receios com relação ao seu estado atual, e até mesmo fazendo com que ele encare de forma mais positiva o processo de internação, contribuindo assim para sua melhora. Além disso, tal acolhimento e empatia ajudará a fortalecer vínculos entre paciente, familiar e profissional. De acordo com Chiattone (2003, p. 32):
“No hospital, o psicólogo hospitalar também estará realizando avaliação e atendimento psicológico aos familiares, apoiando-os e orientando-os em suas dúvidas, angústias, fantasias e temores. Junto à família, o psicólogo deverá atuar apoiando e orientando, possibilitando que se reorganize de forma a poder ajudar o paciente em seu processo de doença e hospitalização. Não se pode perder de vista a importância da força afetiva da família. Ela representa os vínculos que o paciente mantém com a vida e, é, quase sempre, uma importante força de motivação para o paciente na situação de crise”.
A intenção do profissional é restabelecer o equilíbrio que fora privado ao paciente internado e seus familiares decorrente do quadro de doença. Logo, o psicólogo prioriza o reconhecimento do paciente como uma pessoa, muito além da sua patologia. Por conseguinte, no estágio realizado, observou-se que é essencial que haja esse acompanhamento não só com o paciente em si, mas também com o familiar/acompanhante ou visitante que estiver auxiliando nos cuidados do paciente, além de ser também uma mudança de rotina para ambos, pois ao estar junto do paciente, este pode presenciar crises de ansiedade, humor deprimido, que sejam decorrentes do quadro de internação. Torna-se imprescindível o suporte ao familiar que estiver com seu ente querido internado, seja em estado terminal ou não, visto que o sofrimento atravessa tanto o paciente quanto seus familiares. Diante disso, ambos necessitam desse acolhimento.
2.2.2 O trabalho do psicólogo com a equipe multiprofissional
Em uma equipe multiprofissional, o psicólogo atua como mediador na relação entre os profissionais da equipe e na relação da equipe com o paciente e familiares. Enfatizando a importância de prestar atenção aos aspectos emocionais do indivíduo. Também buscando junto a equipe, humanizar a situação do paciente durante a internação. O vínculo entre o paciente e a equipe multiprofissional deve ser considerado no manejo psicológico. A relação precária entre paciente e a equipe de saúde pode acarretar mais sofrimento do que o esperado para determinados quadros. Tavares; Vendrúscolo; Kostulski; Golçalvez (2012) refletem que:
“o psicólogo precisa auxiliar a equipe de saúde para conscientização da importância do trabalho multidisciplinar, onde poderá ajudar a equipe a entender claramente suas funções, objetivos, facilitar a comunicação entre paciente, familiares e equipe. O psicólogo precisa comunicar seu saber científico e as percepções do paciente para a equipe de saúde, expressando a necessidade de visualizar o paciente em sua singularidade, e assim inserir ações humanizadas”.
É relevante ressaltar, que nem sempre o psicólogo tem abertura dentro do contexto hospitalar. Pois, tal resistência ou desconhecimento de alguns profissionais, dificultam o acesso às funções do psicólogo quanto com os pacientes, familiares, acompanhantes e até mesmo com a própria equipe. É enfático afirmar que:
“O psicólogo enfrenta dificuldades para trabalhar em equipe multidisciplinar em virtude de dois fatores limitadores. Um deles é o reduzido número de psicólogos e, por conseguinte, a limitação de tempo, indicados nas dificuldades em conciliar o acompanhamento às visitas médicas, a discussão de casos e o atendimento psicológico. O outro é a pouca disposição dos chefes de serviços em conceder espaço ao trabalho de equipe”. (TONETTO; GOMES, 2007, p.45)
Todavia, o que irá definir o enfoque do atendimento psicológico, será a trajetória hospitalar do paciente. Logo, podendo ser ambulatorial, enfermaria, pré ou pós-operatório.
2.2.3 Setting hospitalar x setting clínico
No ambiente hospitalar o setting terapêutico é específico, no qual o psicólogo deve adaptar sua forma de atuar, visto que, o ambiente e as condições hospitalares são diferentes do setting clínico. Destarte, no ambiente hospitalar, o espaço não é exclusivo do atendimento psicológico, há a circulação de outros profissionais exercendo suas funções, e, desta maneira, podem interromper os atendimentos a qualquer momento para os cuidados de saúde.
Outro fator desafiador para o atendimento psicológico no setting hospitalar é que frequentemente o paciente encontra-se em uma enfermaria coletiva, sendo necessário o atendimento neste ambiente entre vários outros pacientes. Desse modo, a confidencialidade por vezes é limitada.
Ademais, “o psicólogo precisa saber como manejar os atendimentos, mantendo a postura diante das dificuldades que surgirem. O psicólogo deve ainda, conhecer a doença do paciente a quem ele presta atendimento, além de sua evolução e prognóstico” (ROMANO,1999; ISMAEL,2005).
Na clínica, o ambiente é mais acolhedor, confortável e convidativo à conversa. Consultas fixas com prazos pré-determinados para sessão, tudo bem prático e mais fácil de cumprir. Além disso, o tempo de atendimento também é diferente. No hospital, os atendimentos são de caráter breve e pontual, dependendo de vários fatores.
Sendo assim, nota-se a importância desse profissional identificar tais diferenças e se adaptar a elas, manejando da melhor forma possível em prol da contribuição na melhora significativa do paciente.
3. ENLACE TEORIA X PRÁTICA
3.1 Descrição do local
O estágio foi realizado no maior hospital de Urgência e Emergência do Estado de RO. O referido hospital também é referência tanto no âmbito de atenção ambulatorial, oferece serviços médicos em diversas especialidades, do diagnóstico à terapêutica, através de procedimentos de assistência ao tratamento clínico e cirúrgico de média e alta complexidade, atende pessoas pelo SUS, não só do Estado de Rondônia, como também do Acre, Amazonas, Mato Grosso e até Bolívia.
3.2 Relato de caso
Maitê (fictício), 38 anos, divorciada, mãe de 3 filhas, diarista. Procedente de Cacoal/ Ro. Internada há 5 dias devido ao diagnóstico de neoplasia na bexiga. Acompanhada pela filha mais velha.
Foi realizado um único atendimento e por solicitação da equipe de enfermagem. Que perceberam a paciente com humor depressivo. Na avaliação psicológica realizada, a paciente estava orientada em tempo e espaço com os aspectos cognitivos preservados. Receptiva ao atendimento. Relatou perda de autonomia (condizentes com o quadro atual), alteração na alimentação e na qualidade do sono, frustração e afirmou que compreendia seu diagnóstico e tratamento, no entanto estava triste pois não sabia que iria ser internada. Apresentou humor hipotímico e frustração pela necessidade de internação. Pois, segundo ela, seu intuito era realizar consulta de rotina para agendamento de cirurgia.
Diante o discurso da paciente foi realizada uma ambientação sobre o funcionamento do hospital e informações sobre a enfermaria. A paciente queixou-se da má qualidade do sono devido aos ruídos no ambiente. Em relação à alteração na alimentação, a intervenção pautou-se na psicoeducação para conscientizar a paciente sobre a importância da alimentação. Além disso, realizou-se acolhimento, escuta terapêutica e avaliação psicológica no contexto hospitalar. Ao final do atendimento a paciente apresentou melhora no humor.
Com relação a perda de autonomia que a paciente afirmou sentir, é válido ressaltar que nessas situações geralmente o paciente tem esse sentimento de ruptura, pois há uma alteração brusca na sua rotina. Diante disso, infere-se que no caso de Maitê o humor hipotímico estava relacionado à frustração por ter sido surpreendida com a notícia de necessidade imediata de internação. A paciente possuía histórico de internações anteriores e estava aguardando transferência para fazer cirurgia no Hospital de referência da Capital. Desse modo, ao retornar para o segundo atendimento, a paciente havia sido transferida.
4 RELEVÂNCIA DO ESTÁGIO E ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
O estágio foi de grande relevância, o qual possibilitou aprimorar os conhecimentos e adquirir ainda mais aprendizados, assim podendo articular a teoria com a prática.
É válido ressaltar que durante a experiência acadêmica, especificamente no estágio do 8° período atuei no Hospital Geral de referência da capital, pude acompanhar diversos pacientes provenientes do Hospital de urgência/ emergência que iniciaram os primeiros cuidados nesta unidade, que de acordo com suas demandas eram encaminhados para os tratamentos específicos em diferentes hospitais. Através dessa experiência me despertou o interesse no conhecimento da atuação em urgência e emergência.
No estágio do 9° período tive a oportunidade de realizar esse desejo, sendo possível acompanhar as terapêuticas de forma inicial e integrada. E no 10° período foi dado continuidade no estágio nesta unidade. Logo, fiquei imensamente grata por poder acompanhar o início desse processo e ter uma outra visão do contexto hospitalar.
Sendo, a atuação na unidade de emergência, ambiente no qual é cercado de várias fantasias e do risco iminente de morte, onde pacientes e familiares podem não apresentar reações adaptativas adequadas. Nessa unidade a atuação é significativa e diferenciada em situações críticas como traumas, patologias de origem cerebrais e cardiovasculares, violência, óbitos, morte encefálica, más notícias e cuidados paliativos, ou seja, um ambiente dinâmico com demandas diversas.
Assim, observou-se na prática o que fora visto em teorias e o quanto o profissional da psicologia pode contribuir na minimização do sofrimento e o impacto na vida do paciente internado e seus familiares, no qual faz total diferença ter um suporte psicológico ali, principalmente, para aqueles que estão a mais tempo internados, também os que estão sem acompanhantes e os que ficam pelos corredores do hospital tidos como “esquecidos”. É interessante mencionar também o quanto é gratificante poder ver a evolução do paciente durante o atendimento, por mais breve que seja. Visto que, a vivência de um trauma/ adoecimento traz uma ruptura no processo de vida do indivíduo e no equilíbrio do seu sistema familiar.
4.1 Desafios encontrados, habilidades e competências desenvolvidas
Um desafio encontrado, consistiu na interrupção do atendimento psicológico por outros profissionais que precisavam realizar medicações e procedimentos nos pacientes. Diante disso, o trabalho psicoterapêutico era retomado após o paciente receber o atendimento da equipe de saúde. É importante para o psicólogo se adaptar a esse modelo de setting, no qual a urgência é o corpo, e as questões subjetivas e emocionais são secundárias ao estado orgânico do sujeito enfermo.
Quanto às habilidades, posso citar o fato do atendimento ser de forma breve, no qual foi necessário adaptação e aprimoramento dessas habilidades, objetivando realizar o atendimento com começo, meio e fim, já relembrando a diferença do contexto na clínica. Além disso, por ser muito dinâmico, por diversas vezes, após o atendimento e confecção da evolução em prontuário, o paciente já havia recebido alta ou transferido para outra unidade de saúde. Então, tais habilidades foram se desenvolvendo e também se adaptando aos manejos de acordo com cada setor, paciente e também profissional, essas experiências enriqueceram muito quanto ao meu aprendizado pessoal e futuro profissional.
É de competência do discente participar dos estágios e também das supervisões. Dessa forma, as supervisões eram realizadas semanalmente com duração de quatro horas, com o intuito de oferecer atividades teóricas e um espaço de relato dos atendimentos com a orientação da supervisora, que nos conduzia as possibilidades de intervenções e manejo das relações com a instituição hospitalar, em propósito de orientar a adequar intervenções que deveriam ser breve e pontuais. Assim, foi fundamental a supervisão, pois a docente também indicava leituras, temas e técnicas que auxiliaram no atendimento, as quais foram utilizadas na prática, através da escuta terapêutica e acolhimento ao paciente e acompanhante/família.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, a finalidade deste relato foi de expor as vivências e rotina durante o estágio nos diferentes setores do hospital, no qual foi de grande pertinência para o aprendizado acadêmico. Tal experiência proporcionou a compreensão da importância do trabalho do psicólogo nesse contexto, que baseia- se nas relações com os outros e permite o reconhecimento da complexidade e importância da atuação qualificada na área da saúde, bem como o impacto psicológico da doença e hospitalização.
Conclui-se que, a prática oportunizou grandes aprendizados através dos desafios superados, do contato com pacientes, familiares e equipe profissional, sendo possível aprimorar os conhecimentos acerca da atuação da psicologia no âmbito hospitalar. Esse processo favoreceu a aplicação da prática de forma ética, empática e humanizada, como também no desenvolvimento de competências aprimoradas em campo.
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1 Graduanda do 10o período de psicologia
2 Orientadora – Psicóloga clínica, esp. em tanatologia e neurociências
3 Orientadora – professora, psicóloga clínica esp. em urgência e emergência.