O ABANDONO EMOCIONAL NA INFÂNCIA E A DEPRESSÃO NA VIDA ADULTA: UMA REVISÃO RELACIONAL DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202411300813


Dinar Braga Feitosa1,
Janiêde de Lima Silva Barbosa2,
Kawana Araújo Meneses Sousa3,
Vinícius Souza Nascimento4


RESUMO

Este artigo investiga a relação entre o abandono emocional na infância e a depressão na vida adulta, com base em uma revisão da literatura. O abandono emocional, caracterizado pela ausência de afeto e suporte emocional por parte dos cuidadores, pode ter resultados duradouros no desenvolvimento psicológico e emocional das crianças. Diversos estudos indicam que essa forma de negligência está associada ao desenvolvimento de transtornos emocionais, como a depressão, ao longo da vida. A revisão explora os mecanismos neurobiológicos e psicossociais que explicam essa relação, destacando como o estresse crônico na infância pode afetar o funcionamento cerebral e aumentar a vulnerabilidade à depressão. São apresentadas ainda estratégias de intervenção e prevenção que visam minimizar as consequências do abandono emocional e promover o bem-estar infantil. Conclui-se que a compreensão dessa relação é fundamental para a elaboração de políticas públicas e práticas clínicas eficazes na prevenção de transtornos emocionais e na promoção da saúde mental.

Palavras-Chave: Abandono emocional, infância, depressão, desenvolvimento infantil, saúde mental.

ABSTRACT

This article investigates the relationship between emotional neglect in childhood and depression in adulthood, based on a literature review. Emotional neglect, characterized by the absence of affection and emotional support from caregivers, can have lasting effects on the psychological and emotional development of children. Several studies indicate that this form of neglect is associated with the development of emotional disorders, such as depression, throughout life. The review explores the neurobiological and psychosocial mechanisms that explain this relationship, highlighting how chronic childhood stress can affect brain function and increase vulnerability to depression. Intervention and prevention strategies are also presented to minimize the consequences of emotional neglect and promote children’s well-being. It is concluded that understanding this relationship is essential for the development of effective public policies and clinical practices to prevent emotional disorders and promote mental health.

Keywords: Emotional neglect, childhood, depression, child development, mental healt

1 INTRODUÇÃO
1.1 Abandono Emocional na Infância: Impactos Psicossociais e Neurobiológicos no Desenvolvimento Humano

O abandono emocional na infância, caracterizado pela ausência de afeto, cuidado e suporte emocional por parte dos cuidadores, representa uma forma de negligência cujos efeitos profundos podem se estender por toda a vida, comprometendo o desenvolvimento psicológico e emocional das crianças. Embora essa negligência emocional seja mais sutil em comparação a outras formas, as suas consequências podem ser devastadoras, influenciando diretamente a saúde mental.

Diversas pesquisas indicam que experiências precoces de negligência emocional estão associadas a um aumento do risco de transtornos mentais na vida adulta, especialmente a depressão. A infância é uma fase crucial para o desenvolvimento de habilidades emocionais, cognitivas e sociais, e a ausência de um ambiente afetivo seguro pode prejudicar a maturação emocional. Crianças expostas ao abandono emocional frequentemente enfrentam maiores dificuldades em lidar com o estresse, estabelecer relacionamentos saudáveis e desenvolver uma autoestima equilibrada, fatores que contribuem diretamente para a vulnerabilidade à depressão na vida adulta.

O estudo do abandono emocional e suas consequências começou a ganhar relevância com os estudos de John Bowlby, na década de 1940, quando ele observou que crianças órfãs ou privadas de cuidados adequados manifestavam ansiedade e insegurança ao serem separadas de seus cuidadores, levando-o a desenvolver a teoria do apego, que descreve a predisposição humana para a formação de vínculos afetivos e o impacto desses vínculos no desenvolvimento emocional infantil. Bowlby definiu que a qualidade do vínculo entre criança e cuidador é essencial para o desenvolvimento psíquico saudável5. Com o avanço da neurociência, estudos recentes reforçam essa importância, indicando que o cérebro humano é biologicamente programado para interações sociais desde os primeiros dias de vida.

A descoberta da Default Mode Network (DMN), uma rede neural voltada à cognição social, evidencia a necessidade inata do ser humano por interação e conexão interpessoal, reforçando a ideia de que o bem-estar emocional depende de experiências de conexão emocional desde a infância6. A privação dessas conexões, quando ocorre, gera um profundo senso de desamparo emocional, que se relaciona diretamente com dificuldades na saúde mental ao longo da vida7.

O abandono emocional pode ter várias causas, como contextos familiares disfuncionais, abuso, negligência, divórcio dos pais, doença mental dos cuidadores, dependência química, ausência física ou emocional dos pais, entre outras. Eventos traumáticos, como violência doméstica, perda de um ente querido ou instabilidade econômica, também são fatores que podem desencadear ou agravar o abandono emocional, comprometendo a capacidade dos pais em fornecer suporte emocional a seus filhos. Aspectos culturais e sociais, como normas rígidas de gênero, o estigma associado à busca de ajuda psicológica e a falta de educação sobre parentalidade positiva, também criam barreiras para o estabelecimento de vínculos afetivos saudáveis entre pais e filhos. A compreensão das causas do abandono emocional é essencial para a identificação precoce e intervenção efetiva, visando à prevenção de seus efeitos duradouros8.

As manifestações do abandono emocional variam, mas frequentemente incluem a ausência de afeto e apoio emocional por parte dos cuidadores. Gestos de carinho, abraços e palavras de conforto são muitas vezes escassos ou ausentes, e os cuidadores podem demonstrar falta de interesse nas atividades cotidianas da criança, como escola e eventos importantes. A falta de comunicação emocional dentro da família e a ausência de diálogo sobre sentimentos, medos e preocupações criam um ambiente de desconexão emocional, o que resulta em sentimentos de isolamento e solidão na criança, aumentando a vulnerabilidade ao abandono emocional (Azevedo et al. 2019; Batista, Pasqualini e Magalhães, 2022). A negligência emocional impacta ainda a capacidade da criança de desenvolver habilidades de vinculação e confiança interpessoal, dificultando o estabelecimento de relações saudáveis ao longo da vida adulta (Azevedo et al., 2019).

As consequências do abandono emocional são evidentes na vida adulta dos indivíduos afetados. Estudos mostram que crianças expostas ao abandono emocional têm maior probabilidade de desenvolver depressão, ansiedade, baixa autoestima e dificuldades de vinculação. Em muitos casos, o abandono emocional afeta o desenvolvimento cognitivo e social, prejudicando a adaptação escolar e as interações sociais da criança (Azevedo et al. 2019; Batista, Pasqualini e Magalhães, 2022). Observa-se também um elo significativo entre o abandono emocional e a depressão na vida adulta, revelando que experiências emocionais precoces impactam profundamente o desenvolvimento humano. A falta de suporte emocional pode gerar padrões disfuncionais de pensamento e comportamento, além de vulnerabilidade ao estresse e dificuldades de regulação emocional, aumentando o risco de desenvolvimento da depressão na fase adulta9

A pesquisa neurocientífica tem avançado na compreensão da relação entre o abandono emocional e a depressão, mostrando que o estresse crônico na infância leva a alterações duradouras na estrutura e função cerebral, afetando áreas relacionadas ao processamento emocional e à regulação do humor, como o córtex pré-frontal e o sistema límbico. Essas mudanças podem aumentar a suscetibilidade à depressão e influenciar a resposta ao tratamento10. Reconhecer a complexa relação entre o abandono emocional e a depressão é essencial para desenvolver estratégias de intervenção e prevenção. O suporte emocional adequado, fornecido na infância, pode atenuar os impactos do abandono emocional e contribuir para a formação de adultos emocionalmente saudáveis e resilientes. Investimentos em programas de apoio familiar, educação parental e intervenções psicossociais são fundamentais para interromper o ciclo intergeracional da depressão e promover o bem-estar emocional ao longo da vida (Cerqueira- Silva e Maria (2018); Silva e Jurdi, 2022).

A prevenção e intervenção do abandono emocional exigem um compromisso coletivo com a promoção do bem-estar infantil. Ao adotar uma abordagem holística, que envolva a família, a comunidade, a escola e os serviços de saúde, é possível criar um ambiente favorável ao desenvolvimento das crianças. Investir em estratégias preventivas e de intervenção precoce beneficia as crianças e suas famílias, além de fortalecer o tecido social, criando um futuro mais promissor para as gerações futuras.

2 METODOLOGIA

Este estudo consistiu em uma revisão de literatura focada no tema do abandono emocional na infância e sua possível relação com a depressão na vida adulta. A revisão incluiu uma análise qualitativa e quantitativa de estudos e pesquisas previamente publicados sobre o tema. Para identificar e acessar os artigos científicos relevantes, foram utilizadas bases de dados como PubMed, Scopus e Scielo. As buscas empregaram palavras-chave específicas, como “abandono emocional na infância”, “depressão” e “impacto psicológico”, entre outras, a fim de garantir uma cobertura ampla e representativa da literatura disponível (Sousa, Oliveira, Alves, 2021).

Após a seleção dos artigos, foi realizada uma análise crítica e sistemática da literatura, a fim de identificar informações relevantes sobre o abandono emocional na infância, a depressão na vida adulta e a possível relação entre ambos. Foram avaliados aspectos como a metodologia dos estudos, os principais resultados e as conclusões, para determinar a qualidade e a relevância das pesquisas selecionadas (Cavalcante, Oliveira, 2020).

Por fim, os dados foram sintetizados e interpretados com o objetivo de fornecer uma visão abrangente e detalhada da relação entre o abandono emocional na infância e a depressão na vida adulta. As principais tendências, lacunas de conhecimento e sugestões para futuras pesquisas foram destacadas na análise dos resultados (Silva et al., 2021).

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Figura 1 – Ciclo do abandono emocional e depressão

Fonte: Imagem produzida pelos autores.

A revisão de literatura revelou evidências consistentes sobre a relação entre o abandono emocional na infância e o desenvolvimento da depressão na vida adulta. Os estudos analisados demonstraram que a falta de suporte emocional e afeto por parte dos cuidadores tem um resultado notável no desenvolvimento psicológico e emocional das crianças, com consequências duradouras que se manifestam principalmente em forma de transtornos mentais, como a depressão (Batista, Pasqualini e Magalhães, 2022).

A maioria dos estudos destacou que crianças submetidas ao abandono emocional enfrentam dificuldades em suas interações sociais e emocionais, incluindo baixa autoestima, dificuldades em estabelecer relações saudáveis e comportamentos disfuncionais. A vulnerabilidade ao estresse e a dificuldade de regulação emocional surgiram como características comuns nessas crianças, contribuindo para a predisposição à depressão em fases posteriores da vida (Azevedo et al., 2019).

Os resultados também apontaram para mecanismos neurobiológicos que reforçam a relação entre o abandono emocional e a depressão. Estudos que utilizaram neuroimagem demonstraram que o estresse crônico e a ausência de suporte afetivo na infância geram alterações nas áreas cerebrais responsáveis pelo processamento emocional e pela regulação do humor, especialmente no córtex pré-frontal e no sistema límbico. Essas alterações podem aumentar a suscetibilidade à depressão e outros transtornos de humor, evidenciando a influência duradoura do abandono emocional no funcionamento cerebral (Costa, 2023).

Os artigos revisados que exploraram diretamente a relação entre o abandono emocional e a depressão na vida adulta indicaram uma correlação entre essas duas variáveis. Indivíduos que experimentaram negligência emocional durante a infância apresentaram taxas mais altas de depressão ao longo da vida, comparados àqueles que cresceram em ambientes com suporte emocional adequado. A severidade dos sintomas depressivos parece estar associada ao grau de abandono vivenciado, sugerindo uma relação proporcional entre a intensidade da negligência e o impacto na saúde mental (Azevedo et al., 2019).

Desta forma, os estudos revisados também apontaram que intervenções precoces e programas de apoio familiar podem mitigar os efeitos do abandono emocional. Iniciativas voltadas para fortalecer o vínculo entre pais e filhos, além de estratégias de parentalidade positiva, mostraram-se eficazes na redução da vulnerabilidade a transtornos emocionais. O acesso a serviços de suporte psicológico e social durante a infância também foi identificado como um fator-chave para prevenir consequências mais graves na vida adulta, como a depressão (Batista, Pasqualini e Magalhães, 2022).

A revisão de literatura sobre o abandono emocional na infância e sua possível relação com a depressão na vida adulta revelou importantes compreensões que reforçam a compreensão desse fenômeno. As evidências sugerem que o abandono emocional durante os anos formativos da infância pode ser um precursor importante para o desenvolvimento de transtornos emocionais e psicológicos, especialmente a depressão. A literatura revisada aponta para duas frentes principais de investigação: os aspectos neurobiológicos e os aspectos comportamentais do abandono emocional e sua relação com a depressão (Rodrigues e Delfino, 2023).

Os estudos neurobiológicos indicam que o estresse crônico gerado pela negligência emocional pode provocar mudanças permanentes no cérebro, afetando áreas essenciais para o processamento emocional, como o córtex pré-frontal e o sistema límbico, incluindo a amígdala e o hipocampo (Costa, 2023). Tais alterações estruturais e funcionais podem prejudicar a capacidade do indivíduo de regular emoções, aumentar a sensibilidade ao estresse e gerar padrões de comportamento desadaptativos, fatores esses que estão diretamente ligados à vulnerabilidade ao desenvolvimento de depressão na vida adulta. O modelo de apego de Bowlby (2002) também corrobora esses achados ao destacar que a qualidade dos vínculos formados na infância é determinante para o desenvolvimento emocional, sendo a falta de suporte afetivo um fator de risco para o aparecimento de transtornos emocionais, como a depressão.

Por outro lado, os aspectos comportamentais explorados nos estudos revisados sugerem que o abandono emocional contribui para a formação de padrões disfuncionais nas relações interpessoais e no desenvolvimento de habilidades emocionais. A ausência de demonstrações de afeto, comunicação emocional e envolvimento parental adequado compromete a construção da autoestima e a capacidade de estabelecer vínculos saudáveis. Crianças que experimentam abandono emocional tendem a desenvolver comportamentos de isolamento, agressividade ou apatia, fatores que podem evoluir para sintomas depressivos em fases posteriores da vida (Azevedo et al., 2019; Batista, Pasqualini e Magalhães, 2022).

Estudos comportamentais e neurobiológicos convergem ao indicar que o abandono emocional cria um ambiente psicológico adverso para a criança, limitando suas habilidades de enfrentamento e resiliência emocional. Ao longo da vida, essa vulnerabilidade se traduz em uma maior predisposição à depressão. A relação entre os fatores neurobiológicos e comportamentais é clara: enquanto as alterações cerebrais comprometem o processamento emocional, os padrões comportamentais disfuncionais reforçam uma dinâmica de isolamento e baixa autoestima, ambos fatores precursores de quadros depressivos (Rodrigues e Delfino, 2023).

A importância das intervenções precoces foi amplamente discutida nos estudos revisados. Estratégias de parentalidade positiva, programas de apoio familiar e acesso a serviços psicossociais são cruciais para mitigar os efeitos negativos do abandono emocional. O suporte adequado pode ajudar a reverter ou amenizar as alterações neurobiológicas e comportamentais que contribuem para o desenvolvimento da depressão (Cerqueira-Silva e Maria, 2018). O investimento em políticas públicas que visem fortalecer a relação pais-filhos e promover ambientes familiares saudáveis é essencial para interromper o ciclo intergeracional de abandono emocional e transtornos emocionais.

Quadro Comparativo dos Artigos Sobre Aspectos Neurobiológicos e Comportamentais Relacionados À Depressão
Autor(es)Título do ArtigoAspectos NeurobiológicosAspectos Comportamentais
Costa (2023)Neurociência e aprendizagemAlterações no córtex pré-frontal e sistema límbico causadas pelo estresse crônico na infância (Costa, 2023).Ausência de suporte afetivo resultando em isolamento social e apatia (Costa, 2023).
Bowlby (2002)Apego e perda: apego – a natureza do vínculoTeoria do apego: vínculo afetivo inadequado gera impacto no desenvolvimento emocional e neural (Bowlby, 2002).Baixa capacidade de resiliência emocional e formação de padrões comportamentais desadaptativos (Bowlby, 2002).
Azevedo et al. (2019)O cuidado na infância, família e negligência afetiva: reflexões sobre um desenvolvimento satisfatórioEstresse crônico afeta as conexões neurais, prejudicando a regulação do humor (Azevedo et al., 2019).Negligência emocional leva ao desenvolvimento de agressividade e dificuldade de vinculação (Azevedo et al., 2019).
Rodrigues e Delfino (2023)Dinâmica familiar e depressão infantil: uma análise de sinais, fatores de risco e intervenções psicoterapêuticas na idade escolarImpactos neurobiológicos do abandono emocional predispõem à depressão na vida adulta (Rodrigues e Delfino, 2023).Dificuldades emocionais e comportamentais aumentam a vulnerabilidade à depressão (Rodrigues e Delfino, 2023).
Batista, Pasqualini e Magalhães (2022)Estudo sobre emoções e sentimentos na educação infantilAusência de suporte emocional gera maior vulnerabilidade a desequilíbrios emocionais (Batista, Pasqualini e Magalhães, 2022).Formação de comportamentos disfuncionais como isolamento, apatia ou agressividade (Batista, Pasqualini e Magalhães, 2022).
Araújo e Moucherek (2022)Abandono afetivo na infância e danos psicológicos: uma revisão integrativa da literaturaRevisão da literatura destaca alterações neurobiológicas ligadas ao abandono afetivo (Araújo e Moucherek, 2022).Danos psicológicos na infância geram comportamento emocionalmente instável na vida adulta (Araújo e Moucherek, 2022).
Barros, Formiga e Vasconcelos (2021)Uma reflexão teórica sobre a confiança nas relações interpessoais  em ambientes organizacionaisFatores estressores gerados pela negligência afetam áreas do cérebro ligadas à confiança e ao processamento emocional (Barros, Formiga e Vasconcelos, 2021).Reflexão teórica sobre como a falta de confiança nas relações interpessoais pode ser fruto de negligência afetiva na infância (Barros, Formiga e Vasconcelos, 2021).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo revisou a literatura sobre a relação entre o abandono emocional na infância e o desenvolvimento da depressão na vida adulta, destacando os aspectos neurobiológicos e comportamentais envolvidos. A análise dos estudos revisados permitiu confirmar que o abandono emocional tem grandes resultados sobre o desenvolvimento emocional, psicológico e social das crianças, com consequências que se estendem à vida adulta. Crianças privadas de afeto e suporte emocional durante sua formação estão mais propensas a desenvolver transtornos de humor, com destaque para a depressão.

Os aspectos neurobiológicos, evidenciados em vários estudos, mostram que o estresse crônico gerado pelo abandono emocional resulta em alterações estruturais e funcionais no cérebro, especialmente nas áreas relacionadas ao processamento emocional e à regulação do humor, como o córtex pré-frontal e o sistema límbico. Essas alterações aumentam a vulnerabilidade à depressão, tornando difícil para o indivíduo lidar com o estresse e as adversidades da vida adulta.

Por outro lado, os aspectos comportamentais demonstram que o abandono emocional compromete a formação de habilidades emocionais saudáveis e a capacidade de desenvolver relações interpessoais seguras. Comportamentos desadaptativos como isolamento, agressividade e apatia, frequentemente observados em crianças emocionalmente negligenciadas, são precursores de quadros depressivos na vida adulta.

Este estudo reforça a necessidade de intervenções precoces para atenuar os efeitos do abandono emocional na infância. Programas de apoio familiar, educação parental e suporte psicossocial são fundamentais para proporcionar um ambiente afetivo seguro para as crianças, reduzindo assim os riscos de transtornos emocionais no futuro. Políticas públicas voltadas para a promoção da saúde mental e o fortalecimento dos laços familiares podem contribuir para a prevenção da depressão como também no combate aos efeitos intergeracionais do abandono emocional.

A compreensão da relação entre o abandono emocional e a depressão na vida adulta oferece importantes contribuições para a psicologia e para as políticas públicas de saúde mental. Investir na proteção emocional das crianças, por meio de intervenções efetivas e suporte adequado, é um grande passo para reduzir a incidência de transtornos mentais na população adulta e promover o bem-estar social. As futuras pesquisas devem continuar explorando as interações entre os aspectos neurobiológicos e comportamentais, buscando identificar estratégias preventivas que possam minimizar os danos causados pelo abandono emocional.


5 John Bowlby (2002)

6 Bastin et al. (2016)

7 Barros, Formiga e Vasconcelos (2021)

8 Cantalice (2022); Luz (2020); Fiorelli e Mangini (2021)

9 Santos et al. (2023)

10 Costa (2023)


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1Acadêmica de Psicologia da Faculdade UNINASSAU – Palmas – TO. E-mail: divabrafei41@gmail.com

2Acadêmica de Psicologia da Faculdade UNINASSAU – Palmas – TO. E-mail: janylima_6@hotmail.com

3Acadêmica de Psicologia da Faculdade UNINASSAU – Palmas – TO. E-mail: araujokawana19@gmail.com

4Bacharel em Psicologia (CEULP/ULBRA) e Especialista em Análise do Comportamento Aplicada (ABA) para TEA – Transtorno do Espectro Autista (CENSUPEG), Psicoterapias Comportamentais de Terceira Geração (IPOG) e Desenvolvimento Infantil (CBI of Miami). E-mail: viniciusnpsico@gmail.com