NUTRIÇÃO PARA CRIANÇAS DE BAIXA RENDA

NUTRITION FOR LOW-INCOME CHILDREN

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410111308


Adrielly Roberta Barros Guimarães1
Geovanna Glória da Costa1
Lillian Tavares de Lima2
Ronildo Oliveira Figueiredo2


Resumo

As abordagens apresentadas neste estudo são voltadas para apresentar a desnutrição em crianças de baixa renda, a fim de relatar uma breve contextualização sobre a desnutrição infantil grave e seus meios de prevenção. A metodologia aplicada neste artigo de revisão de literatura foi baseada na coleta de obras literárias dos últimos 6 anos (2019 – 2024) visando responder a problemática interposta neste estudo sobre a desnutrição infantil em crianças de baixa renda. A busca para os artigos e demais relatórios literários usados neste estudo ocorreu através das bases de dados: Pubmed, Medline, Scopus e SciELO, delimitados através da busca entre os meses de janeiro de 2019 a setembro de 2024, usando os seguintes descritores: Estratégias, Desnutrição Grave Infantil e Baixa Renda. Os resultados obtidos na análise de dados apontam para a necessidade de uma abordagem mais holística, fundamental para garantir equidade e ambientes saudáveis, ou seja, para alcançar soluções permanentes sustentáveis no mundo real para crianças que sofrem com desnutrição. Por fim, conclui-se que são necessárias intervenções sistemáticas e políticas que criem sistemas alimentares saudáveis, sustentáveis e diversos em regiões de baixa renda, sendo necessário uma transformação maciça do sistema alimentar obrigatória para combater as mudanças econômicas e salvar o futuro das crianças.

Palavras-chave: Estratégias. Desnutriçāo Grave. Infantil. Baixa Renda.

ABSTRACT

The approaches presented in this study are aimed at presenting malnutrition in low-income children, in order to report a brief contextualization of severe child malnutrition and its means of prevention. The methodology applied in this literature review article was based on the collection of literary works from the last 6 years (2019 – 2024) in order to respond to the problem posed in this study on child malnutrition in low-income children. The search for the articles and other literary reports used in this study took place through the databases: Pubmed, Medline, Scopus and SciELO, delimited through the search between the months of January 2019 and September 2024, using the following descriptors: Strategies, Child Severe Malnutrition and Low Income. The results obtained in the data analysis point to the need for a more holistic approach, which is fundamental to ensure equity and healthy environments, that is, to achieve permanent sustainable solutions in the real world for children suffering from malnutrition. Finally, it concludes that systematic and policy interventions are needed to create healthy, sustainable

Keywords: Strategies. Severe malnutrition. Infantile. Low income.

1  INTRODUÇÃO

As principais formas de desnutrição infantil ocorrem predominantemente em crianças menores de 5 anos de idade que vivem em locais de baixa e média renda e incluem atrofia e peso abaixo do recomendado, dos quais são comumente referidos como desnutrição aguda grave. Aqui, o termo “desnutrição grave” será utilizado para descrever essas condições, a fim de refletir melhor as contribuições da pobreza crônica, más condições de vida com déficits generalizados em saneamento e higiene, uma alta prevalência de doenças infecciosas e insultos ambientais, insegurança alimentar, mau estado nutricional materno e fetal e ingestão nutricional na infância e na primeira infância (Danso; Appiah, 2023).

Crianças com desnutrição grave têm um risco aumentado de doença grave e morte, principalmente por doenças infecciosas agudas. Os padrões internacionais de crescimento são usados para o diagnóstico de desnutrição grave e fornecem pontos finais terapêuticos. Assim, combater a desnutrição é uma grande prioridade global de saúde que é relevante para vários dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas e é destacada diretamente na Meta de “Fome Zero” que visa “acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhorar a nutrição e promover a agricultura sustentável” (ODS, 2024).

Várias formas de desnutrição são reconhecidas, incluindo atrofia, que é caracterizada por crescimento linear reduzido, perda de peso (incluindo perda de peso moderada e perda de peso grave, também conhecido como marasmo), que é caracterizada por baixa massa de tecido corporal e outras anormalidades fisiológicas e kwashiorkor, que é caracterizado por edema periférico difuso (Christian et al., 2023).

A classificação atual da desnutrição é baseada no tamanho do corpo ou na presença de edema, o que não indica a etiologia ou déficits nutricionais precisos em um indivíduo. Assim, essa classificação pode efetivamente rastrear e identificar a desnutrição, mas não aborda todas as deficiências nutricionais específicas que uma criança possa ter ou a variabilidade biológica entre as crianças. Tais diferenças não têm efeito nas atuais estratégias de gerenciamento empírico que visam abordar as deficiências predominantes de macronutrientes e micronutrientes e tratar possíveis infecções (Black; Lutter; Trude, 2020).

O termo “desnutrição aguda grave” substituiu a “desnutrição proteína-energia”, que foi usado para descrever crianças com desgaste grave e edema nutricional. Neste artigo, foi concentrado e utilizado o termo composto “desnutrição grave” para se referir à perda grave de peso e para refletir melhor a natureza de longa data dos insultos infecciosos e ambientais combinados que podem ocorrer em tais casos (Bayih; Arega; Motbainor, 2022).

É importante enfatizar a etiologia multifatorial da desnutrição grave e sua forte associação com a mortalidade, bem como a coexistência frequente de diferentes tipos de desnutrição na mesma criança ao longo do tempo3 e que tal concorrência exacerba ainda mais a mortalidade. De fato, a maioria das crianças com perda de peso grave ou kwashiorkor também são atrofiadas (Corsi; Mejía-Guevara; Subramanian, 2019).

Portanto, este estudo de revisão se concentrou em uma faixa etária da primeira infância, na qual se pôs em destaque a vulnerabilidade nessa faixa etária e os hábitos alimentares criados ainda nesta idade, imunidade e outros.

2  REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Desnutrição Infantil

Embora as definições de caso de desnutrição grave para fins epidemiológicos, biológicos e clínicos se concentrem na antropometria, a desnutrição é um problema funcional e tem sido definida como um estado resultante da falta de absorção ou ingestão de nutrição que leva à composição corporal alterada, diminuição da massa celular, levando à diminuição da função física e mental física e comprometimento do resultado clínico da doença (Corsi; MejíaGuevara; Subramanian, 2019).

A deficiência de micronutrientes ou “fome oculta” é um componente importante da desnutrição. Deficiências de micronutrientes podem existir em todas as faixas etárias e em qualquer faixa socioeconômica. Assim, a deficiências de ferro, folato, vitamina A, iodo e zinco estão entre as deficiências de micronutrientes mais comuns e difundidas entre mulheres e crianças em locais de baixa e média renda e muitas dessas deficiências de micronutrientes coexistem (Bayih; Arega; Motbainor, 2022).

Embora as deficiências de macro e micronutrientes possam causar desenvolvimento mental e físico subótimo, infecções recorrentes e retardo de crescimento e deficiências de micronutrientes também podem resultar em resultados adversos ao nascer, incluindo bebês com baixo peso ao nascer. Até o ano de 2019, aproximadamente 20 milhões de bebês nasceram com baixo peso ao nascer a cada ano e há evidências crescentes das conexões entre o crescimento lento da altura no início da vida e a saúde prejudicada e o desempenho educacional e econômico no final da vida (Abebe; Haki; Baye, 2019).

O baixo peso ao nascer em bebês pode contribuir para o ciclo vicioso da desnutrição, já que o estado nutricional materno, especialmente a estatura materna, foi relatado como inversamente associado à mortalidade da prole, baixo peso e atrofia na infância e infância (Debela; Gehrke; Qaim, 2021). Além disso, a importância da ingestão adequada de micronutrientes pode ser observada em crianças nascidas de mães com quantidades suficientes de iodo durante a gravidez, pois essas crianças tendem a completar um terço ou meio ano a mais de escolaridade do que crianças nascidas de mães com quantidade inadequada de iodo durante a gravidez (Debela; Gehrke; Qaim, 2021).

No mais, considera-se importante salientar que, para avaliar o índice de desnutrição no público infantil, pode-se utilizar a antropometria, na qual é usada para avaliar a desnutrição grave e verificar os déficits funcionais. A antropometria é, portanto, um proxy e não uma medida direta de desnutrição, onde é importante ressaltar que não existe uma medição de “padrão ouro” para o diagnóstico de desnutrição grave (Black; Lutter; Trude, 2020).

Figura 1 – Criança diagnostica da com desnutrição grave infantil.

Fonte: Vitolo (2008).

Assim, diferentes medidas antropométricas avaliam diferentes aspectos e durações do déficit funcional subjacente, e algumas se relacionam mais de perto com a composição corporal e os resultados clínicos do que outras (Danso; Appiah, 2023).

2.2 Determinantes da Desnutrição Grave em Crianças

A perda de tecido muscular e adiposo que caracteriza o desperdício pode ser causada por uma ingestão inadequada de proteínas e energia resultante da insegurança alimentar, má alimentação e doenças é fator determinante para diagnosticar uma criança com desnutrição grave (Christian et al., 2023).

No entanto, a desnutrição grave raramente é causada por um único fator e geralmente surge de uma interação entre fatores sociais, políticos e econômicos, a presença de infecções crônicas e inflamação (tanto no intestino quanto sistemicamente). Em algumas circunstâncias, questões de gênero, como a falta de empoderamento feminino, são importantes impulsionadores da desnutrição (Manongga; Yutomo, 2021).

Assim, crianças com desnutrição grave são comuns em condições de deslocamento populacional, conflito e escassez de alimentos, o que piora os efeitos de muitos dos fatores de risco para a desnutrição e está associada a estratégias corretivas ineficazes. Assim, durante a fome de curto prazo (ou seja, até vários dias de jejum), os ácidos graxos livres (FFAs) e os corpos cetônicos são oxidados principalmente usando as reservas de gordura disponíveis do tecido adiposo, e as proteínas miofibrilares podem ser decompostas em aminoácidos, que podem ser convertidos em glicose (através da gluconeogênese) (Hirvonen; Headey, 2019).

Após vários dias de fome (quando a gordura corporal foi esgotada), as proteínas miofibrilares são amplamente decompostas para manter os processos metabólicos essenciais. A regulação de curto prazo da oxidação e síntese de macronutrientes depende da insulina e do glucagon, enquanto a regulação a longo prazo desses processos é mediada por outros hormônios, como hormônio do crescimento, hormônios tireoidianos, catecolaminas e corticosteróides (Danso; Appiah, 2023).

Além disso, a liberação de citocinas na caquexia, especialmente a liberação do fator de necrose tumoral pode influenciar negativamente a composição corporal através de uma redução no apetite e na ingestão de alimentos, e efeitos catabólicos diretos no músculo esquelético e no tecido adiposo (Danso; Appiah, 2023).

O aumento da ativação da via ubiquitina-proteassoma é o principal processo que degrada as proteínas miofibrilares em condições cacéticas. A autofagia também tem sido implicada no desgaste muscular e a autofagia contínua pode ser prejudicial para as células musculares, removendo componentes celulares importantes para o metabolismo e contração muscular, como as mitocôndrias (Bayih; Arega;  Motbainor, 2022).

No que diz respeito ao Kwashiorkor, apesar do conhecimento de longa data, os mecanismos fisiopatológicos subjacentes são mal compreendidos. Em seu relatório, o Central Statistical Agency (2019) documentou que crianças com kwashiorkor eram alimentadas principalmente com uma dieta de milho monótona que era deficiente em aminoácidos essenciais, como lisina e triptofano.

Figura 2 – Criança com Kwashiorkor.

Fonte: Silva (2008).

No entanto, poucos estudos identificaram quaisquer deficiências nutricionais específicas associadas ao desenvolvimento de kwashiorkor, e os estudos normalmente não revelaram grandes diferenças na ingestão de grupos alimentares entre crianças que desenvolveram kwashiorkor em comparação com aquelas que não desenvolveram ou com aquelas que desenvolveram ematrofia (Christian et al., 2023).

Apesar de inúmeras hipóteses, a etiologia do edema, que é a marca registrada do kwashiorkor, permanece indefinida. Além disso, o grau de hipoalbuminemia e recuperação após o manejo nutricional em crianças com kwashiorkor se correlaciona mal com o grau de edema ou a velocidade de sua resolução. Assim, permanece controvérsia em relação à contribuição de outros fatores além da hipoalbuminemia para o desenvolvimento de edema em crianças com Kwashiorkor (Dewey, 2019).

No mais, crianças com desnutrição grave são altamente suscetíveis a infecções com risco de vida, que é uma consequência de uma imunodeficiência secundária. De fato, a apresentação de crianças com desnutrição grave aos serviços médicos pode ser devido a uma infecção grave, em vez de apenas à presença de desnutrição. Existem vários mecanismos potenciais de disfunção imunológica em indivíduos com desnutrição (Derso; Campolo; Alibrandi, 2023).

A integridade da barreira da mucosa respiratória e gastrointestinal é frequentemente prejudicada em crianças com desnutrição, e os efeitos dessa deficiência são agravados pela disfunção entérica subclínica crônica em estreita associação com alterações na microbiota intestinal (Baye; Laillou, 2023).

Crianças com desnutrição grave têm níveis aumentados de marcadores de ativação imune sistêmica, como as citocinas pró-inflamatórias, que alteram o eixo do fator de crescimento semelhante à insulina do hormônio do crescimento e resultam em perda de peso e falência do crescimento linear. Alterações neste eixo também são observadas em outras condições inflamatórias infantis, como artrite juvenil e doença inflamatória intestinal (Black; Lutter; Trude, 2020).

A ativação imunológica sistêmica na desnutrição grave pode ser causada por infecção aguda e crônica, enteropatia inflamatória, translocação de componentes microbianos do lúmen intestinal ou da mucosa para a circulação e respostas imunes desreguladas. Outras alterações no sistema imunológico na desnutrição grave incluem disfunção das células T e reduções na atividade microbicida de neutrófilos, o número de células dendríticas, preparação e apresentação do antígeno e níveis de proteína na cascata do complemento (Alemu et al., 2020).

A atrofia tímica, a hiporresponsividade das células T e a proliferação prejudicada das células T podem resultar da ativação imunológica crônica e/ou das demandas metabólicas das células T por glicose, aminoácidos e hormônios reguladores mediados nutricionalmente, como a leptina. Embora algumas anormalidades no sistema imunológico possam ser resolvidas com a reabilitação nutricional, a reversão da suscetibilidade à infecção e a redução da ativação imunológica não foram bem caracterizadas (Alemu et al., 2020).

Além do mais, a desnutrição grave também pode afetar muitos aspectos do metabolismo dos macronutrientes e da função endócrina. Em contraste com a perda grave, que está associada a uma resposta induzida pela fome da perda de gordura subcutânea e da perda muscular, especula-se que kwashiorkor esteja associado a uma resposta metabólica desadaptativa; acredita-se que uma dieta rica em carboidratos e baixa em proteínas leve a uma resposta glicolítica contínua e catabolismo proteico que é inadequado para atender às necessidades de aminoácidos necessários para manter as vias essenciais de síntese de proteínas (Dewey, 2019).

Deste modo, a degradação de proteínas demonstrou ser menor em crianças com kwashiorkor do que em crianças com perda de desgaste grave e naquelas em estado recuperado. Além disso, concentrações reduzidas de aminoácidos essenciais e alguns não essenciais foram relatadas, e esses déficits foram ainda mais pronunciados em crianças com Kwashiorkor (Derso; Campolo; Alibrandi, 2023).

METODOLOGIA 

Este estudo trata-se de uma revisão de literatura, fundamentada na coleta de obras publicadas nos últimos seis anos (2019-2024), com o objetivo de responder à problemática abordada neste trabalho, que trata da desnutrição infantil em crianças de baixa renda.

A busca para os artigos e demais relatórios literários usados neste estudo ocorreu através das bases de dados: Pubmed, Medline, Scopus e SciELO, delimitados através da busca entre os meses de janeiro de 2019 a setembro de 2024, usando os seguintes descritores: Estratégias,

Desnutriçāo Grave Infantil e Baixa Renda.

Para a pesquisa, os operadores booleanos na língua inglesa: “OR” e “AND” foram utilizados para delimitar a busca por palavras chaves nas bases de dados, substituindo a utilização da vírgula entre os descritores. 

Para garantir que a seleção de estudos fosse compatível com as problemáticas interpostas neste estudo, aplicou-se um conjunto de critérios de elegibilidade, onde foram delimitados para a integração dos artigos os seguintes critérios:

  1. Estudos que foram publicados como uma obra completa, exceto resumos, parte de anais, e outros; 
  2. Estudos que apresentassem uma intervenção nutricional em crianças;
  3. Estudos que avaliaram a desnutrição infantil de modo geral e delimitados para crianças de baixa renda; e
  4. Estudos que contextualizará a desnutrição a nível celular e seus efeitos metabólicos.

Todos os artigos e demais obras que não se enquadraram em um dos seguintes critérios de elegibilidade foram exclusas deste estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÕES Mecanismos de Ação e Prevenção da Desnutrição Grave em Crianças

Dada a alta morbidade e mortalidade associadas à desnutrição grave, preveni-la é um dos objetivos mais importantes da saúde global. No entanto, a prevenção permanece indescritível nos ambientes mais empobrecidos e humanitários, e requer programas que abordem a desnutrição materna e infantil de forma holística (Bayih; Arega; Motbainor, 2022).

Na maioria dos casos, essa conquista exigiu uma combinação de crescimento econômico, o uso de programas do setor público focados na redução de desigualdades e investimentos em intervenções sensíveis à nutrição (aqueles que afetam diretamente a nutrição, como amamentação e programas de apoio à alimentação complementar) e intervenções específicas da nutrição (aqueles que afetam indiretamente a nutrição, como a melhoria da agricultura e as redes de segurança social) (Corsi; Mejía-Guevara; Subramanian, 2019).

Desse modo, nenhuma intervenção individual reduziu efetivamente as taxas de desnutrição grave ou atrofia para crianças individuais e são necessários pacotes de abordagens de saúde pública. Esses pacotes devem incluir melhor acesso a água potável, saneamento e higiene, melhor produtividade agrícola para minimizar a insegurança alimentar, vacinas universais oportunas, acesso precoce e eficiente a instalações de saúde primária e cuidados para doenças agudas, uma ênfase na amamentação exclusiva e contínua e atenção à alimentação complementar eficaz (Ahmed et al., 2021).

É provável que cada abordagem afete a desnutrição em geral e, por sua vez, afete as taxas de desnutrição grave. Assim, apesar de vários países reduzirem as taxas de desnutrição em geral, foram relatados efeitos inconsistentes de programas verticais sobre a desnutrição infantil. Em consequência, o maior e mais abrangente ensaio de pesquisa que testou o uso de pequenas quantidades de suplementos nutricionais contendo lipídios não mostrou benefícios significativos em relação ao atrofiamento ou ao desperdício e mostrou apenas benefícios modestos (Randell; Grace; Bakhtsiyarava, 2021).

A mesma intervenção teve um efeito melhor no atrofiamento e na perda de peso nesse estudo, mas, notavelmente, este ensaio também incluiu o tratamento para diarreia e malária.

Esses dados, portanto, enfatizam a importância das intervenções além da terapia nutricional apenas em populações de risco.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma confluência de crises impacta o mundo desde muitas décadas, como as pandemias de obesidade, desnutrição e mudanças climáticas, representando graves ameaças à saúde infantil.

Fatores como a nutrição, saúde e o ambiente estão intimamente ligados ao longo da vida, sendo fatores desencadeantes para enfraquecer os sistemas alimentares de crianças de baixa renda e, consequentemente, para exacerbar a insegurança alimentar desse público-alvo. Portanto, compreende-se que desde muito tempo existem desigualdades a adentradas na nutrição infantil, nas quais desencadeiam grandes questões sociais, econômicas e de saúde pública.

A partir dessa análise, sugere-se que uma abordagem mais holística é fundamental para garantir equidade e ambientes saudáveis, ou seja, para alcançar soluções permanentes sustentáveis no mundo real para crianças que sofrem com desnutrição. Do mesmo modo, é possível verificar que a nutrição precoce, ambientes alimentares e fatores socioeconômicos devem ser considerados como base para aumentar ainda mais as iniciativas em andamento.

Por fim, são necessárias intervenções sistemáticas e políticas que criem sistemas alimentares saudáveis, sustentáveis e diversos em regiões de baixa renda, sendo necessário uma transformação maciça do sistema alimentar obrigatória para combater as mudanças econômicas e salvar o futuro das crianças.

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1 Discentes do Curso Superior de Nutriçāo da Universidade Nilton Lins, Campus Manaus/AM. e-mail: 

2 Docentes do Curso Superior de Nutriçāo da Universidade Nilton Lins, Campus Manaus/AM. e-mail:  and diverse food systems in low-income regions, and that a massive transformation of the food system is required to combat economic change and save children’s futures.