NUTRIÇÃO E PREVENÇÃO DA OBESIDADE INFANTIL: UMA REVISÃO ABRANGENTE DA LITERATURA

NUTRITION AND PREVENTION OF CHILDHOOD OBESITY: A COMPREHENSIVE LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202410022056


Claudia Albuquerque Xavier1; Marcela Cardoso de Jesus2; Ronildo Oliveira Figueiredo3; Lillian Tavares de Lima4; Albertiza Jean Souza Cavalcante5


RESUMO

A obesidade infantil é um problema de saúde pública em escala mundial por apresentar altos níveis epidêmicos. Muitas crianças acima do peso têm fácil acesso a alimentos açucarados, massas, sendo feitos pouco consumo de legumes e frutas, resultando em um desequilíbrio entre a ingestão e o gasto de energia. Visando explorar essa temática e estudo tem como objetivo geral revisar na literatura as intervenções nutricionais para prevenção da obesidade infantil. A metodologia corresponde a uma revisão de literatura narrativa, onde foram selecionadas nas bases de PubMed, Scielo, PubMed e Bireme, 16 publicações científicas para análise. As evidências indicam que a obesidade infantil é ocasionada pela combinação de fatores genéticos, ambientais, socioeconômicos e comportamentais, constituindo uma causa multifatorial. Isso contribui para o sedentarismo, doenças crônicas como a diabetes e doenças cardiovasculares. Conclui-se que as intervenções nutricionais são fundamentais para prevenir a obesidade pediátrica e compreendem em hábitos alimentares saudáveis associadas à atividade física. Destaca-se também o papel da escola, da família e de programas educativos nesse processo.

Palavras-chave: Obesidade Infantil. Causa multifatorial. Prevenção. Intervenções Nutricionais.

ABSTRACT

Childhood obesity is a global public health problem due to its high epidemic levels. Many overweight children have easy access to sugary foods and pasta, and consume little vegetables and fruits, resulting in an imbalance between energy intake and expenditure. In order to explore this topic, the general objective of this study is to review the literature on nutritional interventions for preventing childhood obesity. The methodology corresponds to a narrative literature review, where 16 scientific publications were selected for analysis from the PubMed, Scielo, PubMed and Bireme databases. The evidence indicates that childhood obesity is caused by a combination of genetic, environmental, socioeconomic and behavioral factors, constituting a multifactorial cause. This contributes to a sedentary lifestyle, chronic diseases such as diabetes and cardiovascular diseases. It is concluded that nutritional interventions are essential to prevent pediatric obesity and include healthy eating habits associated with physical activity. The role of schools, families and educational programs in this process is also highlighted.

Keywords: Childhood Obesity. Multifactorial Cause. Prevention. Nutritional Interventions.

INTRODUÇÃO

A obesidade infantil é considerada mundialmente como um problema de saúde pública, afetando 155 milhões de crianças em idade escolar. Sua prevalência é maior na América do Sul e no Mediterrâneo oriental (entre 30% e 40%) do que no continente europeu (20-30%), Sudeste Asiático (10-20%), Pacífico Ocidental (10-20%) e África (10-20%) (Wag; Lim, 2012).

A obesidade é considerada uma doença multifatorial e complexa. Embora a genética seja um fator etiológico determinante para o seu desenvolvimento, os genes não explicam na sua totalidade o rápido avanço em nível populacional, entendida assim como uma epidemia (Pereira; Oliveira, 2021). Basicamente, surge do consumo de mais calorias de que são gastas, resultando em ganho de peso excessivo de gordura corporal. Assim, o desequilíbrio calórico pode ser ainda maior em decorrência de uma série de comportamentos obesogênicos (Smith; Fu; Kobayashi, 2020).

O excesso de peso que está na base do sobrepeso e da obesidade tem como causa um desequilíbrio entre a ingestão e gasto energético, produzindo um balanço energético positivo prolongado. Mais de 600 genes foram associados ao risco de desenvolver a obesidade (Fornari; Brusati; Maffeis, 2021).

Existem cenários microambientais como escola, ambientes de trabalho, contexto familiar e comunidade, os quais são influenciados por setores macroambientais, como o sistema de saúde e a indústria alimentícia. Assim, verifica-se que indivíduos inseridos em um ambiente mais permissivo com relação aos hábitos alimentares não-saudáveis são mais propensos a adotar comportamentos sedentários (Pereira; Oliveira, 2021). Pode contribuir para o surgimento doenças cardiovasculares, doenças crônicas com a diabetes e problemas de saúde mental (Umekar; Joshi, 2024).

Para tanto, os mecanismos de desenvolvimento da obesidade pediátrica não são totalmente compreendidos devido as suas múltiplas causas. Fatores ambientais, culturais e socioeconômicos exercem grande influência na sua prevalência em todo o mundo por atingir níveis epidêmicos (Sahoo et al., 2015).

Diferentes fatores de risco para obesidade pediátrica foram descritos, destacando-se os pais obesos, baixas condições socioeconômicas, alto peso ao nascer para idade gestacional, alimentação artificial com fórmula, ingestão excessiva de proteínas, recuperação precoce da adiposidade, comportamentos pouco saudáveis e sedentarismo (Gato-Moreno et al., 2021).

O comportamento e preferências alimentares relacionados à dieta e à saúde são estabelecidos na primeira infância e continuam na fase adulta. Com isso, a prevalência de distúrbios metabólicos como obesidade, pressão arterial elevada e dispilidemia está aumentando em decorrência da ingestão alimentar desequilibrada entre crianças e adolescentes como alimentos adoçadas com açúcar, alimentos ricos em energia e alimentos processados (Kim; Lim, 2019). Assim, a obesidade infantil aumenta as chances de a criança desenvolver até a fase adulta distúrbios metabólicos, cardiovasculares, neurológicos, hepáticos, ortopédicos, pulmonares e renais (Sahoo et al., 2015).

A prevenção da obesidade infantil precisa ser direcionada para a promoção de mudanças comportamentais do indivíduo desde o início da vida, passando pela adolescência e a idade adulta. Isso envolve aspectos da instituição familiar e escolar, a mídia, políticas públicas de saúde a sociedade como um todo (Fornari; Brusati; Maffeis, 2021).

Em vista disso, este estudo tem como objetivo geral revisar na literatura sobre intervenções nutricionais para prevenção da obesidade infantil. E os objetivos específicos elencados foram: a prevalência do sobrepeso e obesidade na população infantil; apontar as estratégias de intervenção que tiveram os resultados mais satisfatórios na prevenção e controle da obesidade pediátrica.

2 METODOLOGIA

Este estudo compreende uma revisão de literatura narrativa, onde as buscas foram feitas nas seguintes bases de dados: PubMed, Scielo e Bireme. Os descritores incluídos foram: obesidade, sobrepeso, tratamento e prevenção.

Os critérios de inclusão definidos para a seleção dos artigos foram: todas as evidências científicas publicadas nos idiomas português e inglês no período de 2017 a 2024, textos completos apresentando dados referentes à obesidade infantil e suas estratégias de prevenção no âmbito da nutrição.

Os critérios de exclusão para a seleção dos artigos foram: artigos que não contemplam a área da saúde, mais especificamente de nutrição; estudos com resumo não acessível na base científica; os artigos não disponíveis na íntegra ou que apresentam conteúdos não científicos.

A busca bibliográfica teve três etapas: primeiramente a busca pelo título, em seguida a leitura flutuante dos resumos e finalmente, a seleção dos artigos com texto completo que abordavam o tema deste estudo.

Figura 1 – Processo de identificação e seleção dos artigos científicos

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta seção são apresentadas as publicações científicas correspondentes ao período de 2017 a 2024 que abordam os efeitos da nutrição na redução e prevenção da obesidade infantil. Seguem os dados no quadro 1.

Quadro 1 – Artigos selecionados que apresentam evidências científicas sobre a importância da nutrição na redução e prevenção da obesidade infantil.

AutorTítuloAnoBase de dadosTipo de IntervençãoSíntese
GATO-MORENO, Mario et al.Early Nutritional Education in the Prevention of Childhood Obesity  2021PUBMEDIntervenção educacionalUma intervenção de educação nutricional foi conduzida com pais de crianças de 3 a 4 anos de escolas públicas na província de Málaga. O estudo constatou que houve uma melhora no IMC das crianças, principalmente aquelas com IMC mais alto par sua idade, favorecendo a prevenção da obesidade.
SOL, Yu et al.The Effectiveness and Cost of Lifestyle Interventions Including Nutrition Education for Diabetes Prevention: A Systematic Review and Meta-Analysis2017PUBMEDIntervenção NutricionalO estudo compreendeu uma meta-análise para sintetizar a eficácia, o custo e relação custo-efetividade das intervenções no estilo de vida, incluindo a educação nutricional para redução da obesidade.
FORNARI, Elena; BRUSATI, Marco; MAFFEIS, Claudio.Nutritional Strategies for Childhood Obesity Prevention.2021PUBMEDIntervenção Nutricional e EducacionalA promoção do aleitamento materno, a diminuição do teor de proteína dos leites formulados e a dieta dos primeiros 12 a 24 meses, envolvendo a família e a escola em intervenções que integram atividade e dieta saudável, consistem em estratégias promissoras para a redução da obesidade
MOORE, Theresa MH et al.Interventions to prevent obesity in children aged 5 to 11 years old.2024PUBMEDIntervenção NutricionalO estudo indica que as intervenções que buscam prevenir a diabetes a partir da conciliação da alimentação saudável e níveis de atividade física.
UMEKAR, Sayali; JOSHI, Abhishek.Obesity and Preventive Intervention Among Children: A Narrative Review.2024PUBMEDIntervenção Nutricional e ComportamentalO estudo constatou que intervenções combinadas trazem resultados significados para redução de IMC de crianças de 5 a 11 anos. Isso envolve atividade física e dieta saudável.
SMITH, Justin D; FU, Emily; KOBAYSH, Marissa.Prevention and Management of Childhood Obesity and its Psychological and Health Comorbidities2020PUBMEDIntervenção Nutricional e EducacionalO estudo verificou que hábitos alimentares saudáveis, estilo de vida, atividade física e padrões do sono são favoráveis para redução de peso em crianças.
DENOVA-GUTIÉRREZ, Edgar et al.Overview of Systematic Reviews of Health Interventions for the Prevention and Treatment of Overweight and Obesity in Children. Nutrients.2023PUBMEDIntervenção Nutricional e ComportamentalAs intervenções para crianças entre a 12 envolveram atividade física e dieta saudável. A combinação da atividade física com nutrição gerou mudanças comportamentais nas crianças.
PFEIFFLÉ, Shawna et alCurrent Recommendations for Nutritional Management of Overweight and Obesity in Children and Adolescents: A Structured Framework.2019PUBMEDIntervenção nutricionalO estudo enfatiza o papel do nutricionista no tratamento da obesidade entre crianças e adolescentes, analisando as recomendações mais comuns para o manejo nutricional do sobrepeso e obesidade pediátricos.
DUNNCANSON, K. et al.Impact of weight management nutrition interventions on dietary outcomes in children and adolescents with overweight or obesity: a systematic review with meta-analysis.2020BIREMEIntervenção nutricionalOs resultados do estudo indicam que o controle e prevenção da obesidade entre crianças e adolescente compreende na adoção do componente dietético que busca redução de ingestão total de energia.
KIM, Jieun; LIM, HyunjungNutritional Management in Childhood Obesity2019PUBMEDIntervenção Nutricional e ComportamentalO estudo demonstra que a importância do gerenciamento nutricional para mudanças de padrões alimentares de crianças e adolescentes, levando-se em consideração os fatores de risco para combater o sobrepeso e obesidade.
SILVA, Gabriela Pap da; ALMEIDA, Sebastião de Sousa; COSTA, Telma Maria Braga.Influência familiar no estado nutricional e hábito alimentar de crianças de seis a nove anos2021ScieloIntervenção Nutricional e ComportamentalA preocupação com o peso da criança foi maior entre os responsáveis das crianças acima do peso. Houve também uma maior pressão para comer entre os responsáveis com crianças com baixo peso ou peso normal.
MACEDO et al., 2014A importância da nutrição na prevenção da obesidade infantil2024Scielo O estudo verificou que alimentos ultra processados estão cada vez mais acessíveis para as crianças, principalmente os fast food, o que contribuir para o aumento da obesidade infantil.
YIN, Zenong et alStudy protocol for a cluster randomized controlled trial to test “¡Míranos! Look at Us, We Are Healthy!” – an early childhood obesity prevention program.2019PUBMEDIntervenção Nutricional e EducacionalO estudo apresentou um programa de prevenção da obesidade infantil em crianças latinas de baixa renda em idade pré-escolar. envolveu o aspecto educacional e nutricional da criança.  
RODRÍGUEZ et al., 2020Efficacy and acceptability of a web platform to teach nutrition education to children.2020ScieloIntervenção educacionalA plataforma da web demonstrou ser uma ferramenta eficaz para aumentar o conhecimento nutricional das crianças.
FRUH, Sharon et al.A practical approach to obesity prevention: Healthy home habits2021PUBMED O estudo demonstrou que estabelecer hábitos saudáveis pode reduzir o risco da obesidade e sobrepeso infantil, podendo ter efeitos duradouro até na fase adulta.
Fonte: Próprias autoras (2024).

Os estudos realizados por Gato-Moreno et al. (2021) demonstraram que a redução do escore z do índice de massa corporal (zBMI) no  grupo de intervenção (GI), após um ano gerou um importante benefício em relação ao grupo controle (GC). A disponibilidade de uma amostra nas escolas envolvidas no estudo facilitou a obtenção de uma intervenção de prevenção custo-efetiva, incluindo 70% das crianças da província de Málaga com 3 anos de idade.

A análise de subgrupo indicou que as intervenções nutricionais beneficiaram particularmente crianças com escore z do índice de massa corporal (zBMI) maior que a mediana da amostra total, revelando um escopo não apenas impediu um aumento no zBMI, mas também contribuiu para reduzir esses valores. Diante disso, verifica-se que a primeira infância (3-6 anos) é um período-chave para o desenvolvimento de hábitos e onde o sobrepeso e a obesidade começam a surgir (Gato-Moreno et al., 2021).

Na pesquisa realizada por Sol et al. (2017) verificou-se que os participantes que receberam intervenção com educação nutricional apresentaram uma redução de 2,07 kg no peso em  12 meses com tamanhos de efeito ao longo do tempo, com variação pequena (0,17, IC 95% 0,04 a 0,30; P=0,012; I 2 = 86,83%, IC 95% 80,42% a 91,14%) a médio (0,65, IC 95% 0,49 a 0,82; P<0,001; I 2 =98,75%, IC 95% 98,52% a 98,94). Quanto as  alterações nos níveis de glicemia e hemoglobina A1c tiveram variações de pequeno a médio. Constatou-se por meio da meta-regressão que houve uma perda de peso relativa maior em intervenções feitas por nutricionistas do que naquelas fornecidas por não nutricionistas.

Desta forma, ficou evidenciado que as intervenções no estilo de vida são eficazes na redução do peso corporal e dos resultados relacionados ao controle da glicose. Intervenções feitas por nutricionistas, comparadas aos outros profissionais apresentaram melhores resultados quanto a redução de peso (Sol et al., 2017).

Nos estudos realizados por Fornari, Brusati e Maffeis (2021), a amamentação foi considerada um efeito protetor sobre a redução do sobrepeso e a obesidade. Implicou em uma diminuição de 13% na probabilidade de ganho de peso excessivo durante a infância e a idade adulta. Destaca-se também a hidrólise das proteínas do leite, que é uma característica dos leites formulados que apresenta possíveis efeitos protetores.

Ainda de acordo com os autores intervenções realizadas no ambiente escolar envolvendo o público infantil apresentou efeitos positivos e eficazes contra a obesidade, o que envolveu a realização de atividade física e adesão de uma dieta saudável (Fornari; Brusati; Maffeis, 2021).

Na pesquisa feita por Moore et al. (2024), constatou-se que as intervenções que visam prevenir a obesidade em crianças de 5 a 11 anos, envolvem estratégias de mudança de comportamento, as quais buscam promover uma alimentação saudável, associada a atividade física, diminuindo assim, a ingestão de energia ou aumentando seu gasto respectivamente.

De maneira mais detalhada, as crianças que receberam intervenções para mudar seus níveis de atividade sozinhas ou em combinação, associada a uma estratégia para modificar seus hábitos alimentares reduziram seu  índica de massa corporal (IMC) em comparação com crianças que não receberam nenhuma estratégia (Moore et al., 2024).

Nos estudos de Umekar e Joshi (2024), verificou-se que, o estilo de vida e a educação não fundamentais para combater a obesidade infantil. Além da dieta e da atividade física, a introdução de outros fatores como comportamentos psicológicos e regulação do sono, é considerada como eficaz em programas de controle de peso.

Nos achados de Smith, Fu e Kobayashi (2020), as estratégias de intervenção para prevenção da obesidade infantil ocorrem em diversos contextos. Isso se deve na sua maioria aos fatores de risco inerentes aos níveis familiar, escolar e comunitário/social. Conforme as evidências apresentadas por Lee e Yoon (2018), fatores genético, biológicos e socioambientais (família, escola e comunidade) exercem um papel muito importante na prevenção da obesidade entre crianças e adolescentes.

Assim, as intervenções eficazes correspondem aquelas em que há participação ativa dos pais na educação em saúde, reuniões de grupo, sessões de atividade física ou terapia comportamental (Smith; Fu; Kobayashi, 2020).

As evidências sugerem que a intervenção multicomponente combinando atividade física com orientação nutricional e mudança comportamental pode ser mais eficaz na redução do sobrepeso e obesidade infantil, impactando positivamente na saúde da criança (Denova-Gutiérez et al., 2023).

O estudo Denova-Gutiérrez et al. (2023) identificou a importância das intervenções escolares que integram atividade física e dieta saudável, gerando mudanças significativas no IMC, peso corporal e adiposidade. A respeito disso, Faienza et al. (2020) corrobora destacando em seus estudos que hábitos alimentares saudáveis ajudam a aumentar o desempenho da atividade física, vistos como ferramentas terapêuticas em crianças para prevenir a obesidade e o risco de diabetes durante a fase adulta.

As evidências identificadas por Pfeifflé (2019) enfatizam a importância do nutricionista no tratamento da obesidade de crianças e adolescentes. As estratégias de prevenção consistem nas recomendações voltadas para o manejo nutricional do sobrepeso e obesidade pediátricos a partir das diretrizes mais comuns.

Os estudos verificaram que a maioria das diretrizes visavam o tratamento médico do sobrepeso e obesidade infantil, deixando um espaço reduzido para abordar o manejo nutricional. Apenas 17% das recomendações eram comumente para 30% ou mais das diretrizes (Pfeifflé et al., 2019).

Nos estudos feitos por Duncanson et al. (2020), constatou-se mudanças estatísticas significativas nos resultados alimentares. Os grupos de intervenção alcançaram reduções maiores na ingestão de média total de energia em ≤6 meses (−194 kcal dia −1 , intervalo de confiança de 95% = −275,80 a −112,90 kcal dia −1 , P  < 0,001) e até 12 meses (−112 kcal dia −1 intervalo de confiança de 95% = −218,92 a −5,83 kcal dia −1 ) P  = 0,038), aumentos na ingestão de frutas e/ou vegetais ao longo de 2 a 12 meses ( n =  34, intervalo de +0,6 a +1,5 porções dia −1 ) e reduções no consumo de bebidas adoçadas com açúcar ( n =  28, intervalo −0,25 a −1,5 porções dia −1 ) no acompanhamento de 4 a 24 meses.

As intervenções voltadas para redução da obesidade em crianças e adolescentes tem como um de seus componentes principais a dieta, demonstrando um impacto considerável na diminuição da ingestão total de energia (Duncanson et al., 2020).

As evidências apresentadas por Kim e Lim (2019) demonstram que a educação nutricional nas escolas envolvidas (pais e crianças) compreendeu na realização de treinamento presencial, uso de livro para orientações, sessões semanais de nutrição para os participantes. De forma mais abrangente, buscou-se abordar o estilo de vida com foco na obesidade entre crianças e adolescente, suas causas e planejamento para reduzir a inatividade.

O estudo verificou comportamentos alimentares pouco saudáveis, com níveis baixos de consumo de frutas e legumes e um aumento significativo de sucos e refrigerantes açucarados, fast food, massas, batata fritas, que contém altos níveis de lipídios e/ou açucares simples (Kim; Lim, 2019). Na pesquisa feita por Sahoo et al. (2015), demonstrou-se que a ingestão excessiva de açúcar, principalmente refrigerantes, aumento das porções dos alimentos e o declínio das atividades físicas contribuem para as crescentes taxas de obesidade infantil.

Os resultados do estudo realizado por Silva, Almeida e Costa (2021) demonstraram que os níveis de adesão das crianças e seus responsáveis aos passos da alimentação saudável foram semelhantes (67,1% das crianças e 86,3% dos responsáveis demonstraram adesão média). Quase a metade dos cuidadores que apresentaram alta adesão estavam acima do peso e esses indivíduos podem estar consumindo a quantidade de alimentos de forma inadequada e não no fator qualidade.

Constatou-se que, os responsáveis pelas crianças exercem grande influência no estado nutricional e nos hábitos alimentares das crianças, devendo ser os enfoques centrais nos processos de intervenção nutricional, visando a prevenção e o tratamento da obesidade pediátrica (Silva; Almeida; Costa, 2021).

Conforme Macedo et al. (2024), a obesidade infantil é um problema de saúde pública em escala mundial. Tem como principais fatores a baixa renda familiar, hábitos alimentares inadequados, acesso constante a alimentos ultraprocessados, bebidas prontas para consumo ricos em açúcares e empobrecidos de nutrientes.

O referido estudo destaca também a correlação da obesidade infantil com a inatividade física, fatores biológicos, genéticos e psicológicos, os quais afetam o comportamento alimentar da criança (Macedo et al., 2024). Em um estudo realizado por Styne et al. (2017), foi possível constatar resultados similares. Nos Estados Unidos, a obesidade pediátrica é influenciada por fatores genéticos, ambientais e socioeconômicos que começa no útero e estende na fase da infância e adolescência. Com isso, estão suscetíveis a comorbidades e complicações de saúde a longo prazo. Sua prevenção dever ser feita por dieta adequada, atividade física e modificação do estilo de vida.

Em um estudo transversal multicêntrico no qual teve a participação de crianças de ambos os secos, de 1 a 6 anos, buscou-se coletar dados demográficos, socioeconômicos e alimentares. Constatou-se padrões alimentares dentro e forma do ambiente escolar. O padrão tradicional foi associado à baixa renda e apresentou alta qualidade nutricional. E o padrão “duplo” foi associado à baixa renda e a alta ingestão de alimentos açucarados com alto valor glicêmico (Vieira et al., 2017).

A intervenção por meio da realização do programa consiste no primeiro estudo de prevenção da obesidade pré-escolar utilizando uma abordagem integrada, envolvendo múltiplos cenários com crianças pequenas de baixa renda nos Estados Unidos. A avaliação compreendeu nas atividades durante o ar livre, mudanças ambientais domiciliares, tempo de instrução fitness para pré-escolares e satisfação os componentes da intervenção (Yin et al., 2019). Sobre esse tipo de intervenção, os achados de Hoelsher (2022) indicam que a prevenção de sobrepeso e obesidade pediátrica envolve estratégias abrangentes que envolvam programas nutricionais, acesso a alimentos saudáveis e que tenham apoio de políticas públicas que possam impactar de forma positiva a saúde das gerações futuras.

As atividades foram adaptadas para abordar as dificuldades enfrentadas por crianças e famílias que vivem em comunidades de baixa renda e predominantemente latinas. As intervenções baseiam-se em teorias sociais, educativas, cognitivas e comportamentais (Yin et al., 2019).

Os estudos realizados por Rodriguéz et al. (2020) comprovaram que para os profissionais envolvidos, a ferramenta da web é um método eficaz para promover o ensino de conteúdos de educação nutricional. A plataforma e os jogos que ela inclui facilitaram as informações para as crianças, incentivando-as a aderir hábitos alimentares mais saudáveis.

De modo geral, a plataforma da internet “MEAL” demonstrou ser bastante eficaz no desenvolvimento da educação nutricional para crianças, o que envolveu professores de escolas primárias e nutricionistas. Os benefícios da implementação deste programa podem ser refletidos em uma melhoria na qualidade vida deste público, havendo uma redução nos custos da saúde para o sistema público de saúde. Assinala-se a importância das dietas e padrões alimentares na redução da obesidade infantil (Rodriguéz et al., 2020).

Nos estudos realizados por Fruh et al. (2021), constatou-se que diante do aumento da obesidade infantil nos Estados Unidos, assim como em outros países, é fundamental ter um estilo de vida saudável que envolva toda a família. É importante realizar intervenções nutricionais, associadas a atividade física e padrões de sono. Isso ajudará na redução do comportamento sedentário, estimulando assim, um estilo de vida saudável entre as crianças e suas respectivas famílias.

4 CONCLUSÃO

Com este estudo foi possível verificar na literatura que a obesidade infantil é uma epidemia global, considerada um grave problema de saúde pública. Atualmente, crianças estão propensas a aumento de peso devido a adesão de comportamentos e hábitos alimentares inadequados como massas, excesso de açúcares e pouco consumo de frutas e legumes. Com isso, aumenta a probabilidade de desenvolverem até a fase adulta doenças crônicas e cardiovasculares.

Os estudos comprovaram que a infância é o período ideal para reduzir a obesidade, seja por meio das intervenções nutricionais, associadas a orientações educacionais e mudanças comportamentais.

As intervenções nutricionais promoveram um estilo de vida mais saudável entre as crianças, apresentando redução de peso e controle da glicemia. Destaca-se também a amamentação como importante fator nutricional para combater a obesidade pediátrica.

As estratégias de intervenções nutricionais envolvem contextos educacionais e familiares, bem como jogos educativos e programas com diretrizes que recomendam uma dieta adequada para o público infantil. Assim, o estilo vida, atividade física e alimentação saudável contribuem significativamente para a prevenção da obesidade infantil.

Apesar do aumento significativo de evidências científicas, estudos precisam ser ampliados para compreender melhor os fatores que contribuem para obesidade infantil para posteriormente determinar intervenções terapêuticas mais adequadas e seguras que possam reduzir e prevenir esse problema de saúde pública.

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1Discente de Nutrição – Universidade Nilton Lins Manaus, Amazonas, Brasil

2Discente de Nutrição – Universidade Nilton Lins Manaus, Amazonas, Brasil

3Docente do curso de Nutrição – Universidade Nilton Lins Manaus, Amazonas, Brasil

4Docente do curso de Nutrição – Universidade Nilton Lins Manaus, Amazonas, Brasil

5Docente do curso de Nutrição – Universidade Nilton Lins Manaus, Amazonas, Brasil