REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7936776
Thiago Melanias Araújo de Oliveira1
Laura Vilela Buiatte Silva2
Adelzí Auto Alves Júnior4
Amanda Barbosa Ribeiro3
Danielle Blasczak Mosquetta8
Laís Celi Mendes Rezende9
Marihá Thaís Trombetta5
Moreno Coelho Cyríaco6
Trycia Tibiriçá Oliveira7
Yanina Jesus Sobolow de Souza10
Lara Cândida de Souza Machado11
RESUMO
INTRODUÇÃO: Considera uma das principais doenças que atinge os brasileiros, o número de casos de tuberculose tem se mostrado instável nos últimos anos no país. OBJETIVOS: Analisar a incidência e prevalência da tuberculose no Brasil de 2015-2022. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo ecológico epidemiológico com base nos dados disponibilizados no Sistema de Informação de Agravos de Notificações (SINAN) contidos no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Mediante a isso, foram computados para análise, o número de casos de tuberculose entre os anos de 2015 e 2022. RESULTADO E DISCUSSÃO: O número de casos de tuberculose se mostrou bastante heterogêneo no período analisado e nas regiões do país, mostrando áreas e períodos com maior incidência da doença e mortalidade, analisando faixa etária e sexo. CONCLUSÃO: Medidas públicas são necessárias para a diminuição de casos de tuberculose, visto que o estudo apresentou um considerável número de casos no Brasil.
ABSTRACT
INTRODUCTION: Considering one of the main diseases that affect Brazilians, the number of cases of tuberculosis has been unstable in recent years in the country. OBJECTIVES: To analyze the incidence and prevalence of tuberculosis in Brazil from 2015-2022. METHODOLOGY: This is an ecological epidemiological study based on data available in the Information System for Notifications of Diseases (SINAN) contained in the Department of Informatics of the Unified Health System (DATASUS). RESULT AND DISCUSSION. Therefore, the number of cases of tuberculosis between the years 2015 and 2022 were computed for analysis. with higher incidence of disease and mortality, analyzing age group and sex. CONCLUSION: Public measures are necessary to reduce tuberculosis cases, since the study presented a considerable number of cases in Brazil.
INTRODUÇÃO
A tuberculose é uma patologia de abrangência clínica variada e fisiopatologia importante, que deve ser considerada no âmbito das afecções respiratórias, sendo uma doença infectocontagiosa. A transmissão ocorre, por via de regra, de pessoa para pessoa através de aerossóis causada pelo agente Mycobacterium tuberculosis – Bacilo de Kock (BK) (SILVA, 2016). O homem é o seu principal reservatório. Ao longo dos séculos, a doença ganhou variados nomes e foi entendida de forma distinta pelos profissionais da saúde e sociedade em geral. Entender a tuberculose perpassa por conhecer os dogmas da ciência que foram empreendidos ao longo do processo metodológico (GONÇALVES, 2000).
Algumas concepções de outrora relacionavam a tuberculose ao comportamento amoral, leviano e degradante, fruto de um crescimento urbano exagerado (Gonçalves, 2000). Outros dogmas, de maneira subversiva, relacionavam o tuberculoso a um símbolo romântico do ponto de vista artístico; um perfil sensível, poético, levado à distinção. Conquanto a história tenha delegado a tuberculose um papel de protagonismo perante fatos sociais, atualmente, ela permanece um grave problema de saúde pública (GONÇALVES, 2000). Devido a sua epidemiologia estar relacionada a precárias determinantes sociais, tais como baixo acesso a imunização, é relativo padrão nutricional e higiênico; direitos esses inalienáveis ao indivíduo, segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948.
A doença se apresenta de modo que o quadro clínico decorre da necessidade da resposta imunológica do indivíduo combater a instalação do processo infeccioso de modo resoluto, a fim de que não haja uma sobrecarga das células envolvidas, o que provoca a complicação de situações clínicas (SILVA, 2016). A infecção, quando em fase primária, pode permanecer assintomática, assim como causar sintomas inespecíficos, como febre e astenia. Pacientes com uma evolução mais importante do quadro clínico podem apresentar tosse – acompanhada ou não de hemoptise – anorexia, e febre caracterizada no período vespertino (PASCHOAL, 2018).
A tuberculose pode se apresentar nas formas pulmonar, extrapulmonar ou ambas. A forma pulmonar tem maior incidência e é mais expressiva no âmbito salutar coletivo, tendo como principal manifestação clínica a tosse seca ou produtiva por três semanas ou mais (NOGUEIRA et al., 2012). Ademais, outros sinais e sintomas incluem febre vespertina, sudorese noturna, anorexia e emagrecimento (NOGUEIRA et al., 2012). Em crianças menores de 10 anos, a irritabilidade também é frequentemente relatada (Ministério da saúde secretaria de atenção à saúde departamento de ações programáticas estratégicas, 2019).
Quando a tuberculose é extrapulmonar, os sinais e sintomas dependem dos órgãos acometidos. Em primeira instância, a tuberculose pleural é a forma mais comum de TB extrapulmonar e é caracterizada pela tríade: astenia, emagrecimento e anorexia, além de febre, tosse seca e dor torácica pleurítica ( Ministério da saúde secretaria de atenção à saúde departamento de ações programáticas estratégicas, 2019). A tuberculose ganglionar periférica geralmente é crônica e se manifesta através de tumefação dos linfonodos, principalmente cervicais (BETHLEM, 2012). Outrossim, a tuberculose das vias aéreas superiores cursa com rouquidão, disfonia e tosse crônica produtiva, sendo majoritariamente uma complicação da TB cavitária avançada; e a TB esquelética, a qual acomete coluna vertebral, quadris e joelhos, é caracterizada por dor lombar, dor à palpação e sudorese noturna ( Ministério da saúde secretaria de atenção à saúde departamento de ações programáticas estratégicas, 2019).
Sob um viés secundário, a TB também pode acometer o sistema geniturinário, manifestando-se através de polaciúria, disúria, noctúria e hematúria macroscópica sem dor (BETHLEM, 2012). O acometimento gastrointestinal possui como mecanismo patogênico a deglutição de escarro com disseminação direta e manifesta-se por febre, anorexia, emagrecimento e sudorese noturna (PAULA, 2019). Por fim, a TB pericárdica ocorre por progressão direta de um foco primário no interior do pericárdio, reativação de um foco latente ou ruptura de um linfonodo adjacente abaixo da carina, nesses casos, a dor retroesternal e atrito pericárdico são frequentes (CAMPOS, 2006).
A infecção pelo primeiro contato do indivíduo com o Bacilo de Koch, e sua evolução à doença, não é uma etapa fixa. Esse acontecimento simultâneo, é definido por tuberculose primária, uma subdivisão da tuberculose pulmonar. Ela acomete em sua maioria a população infantil, e caracteriza-se por ser assintomática e normalmente, não transmissível (BATISTA, C. P. 2021).
Por tratar-se de uma TB pulmonar, o órgão mais acometido não poderia ser outro, a não ser o pulmão. O lobo médio e inferior, são apontados por JAMESON, J. L. et al. (2020), como sendo as regiões de maior acometimento, já que afirma abrigarem a maior parte do ar inspirado. Suas poucas manifestações clínicas, também se relacionam ao pulmão, como a dor pleurítica, que pode ser acompanhada por febre.
Após a infecção da TB primária, nódulos de Ghon podem ser encontrados na periferia pulmonar. Eles são provenientes do processo de cicatrização espontânea da lesão primária, resultando em pequenos nódulos calcificados (SILVA M.E.N, et al. 2018). Estes, frequentemente são acompanhados por linfadenopatia hilar ou paratraqueal, causadas pelo acometimento dos vasos linfáticos. Por outro lado, a população infantil com maior comprometimento da imunidade inata, e adultos imunocomprometidos, podem não alcançar o processo de cicatrização, evoluindo para uma TB primária progressiva (JAMESON, J. L. et al. 2020).
A tuberculose secundária diz respeito a re-infecção derivada de fontes externas ou da reativação de micobactérias que tenham permanecido no interior de macrófagos pulmonares – muitas vezes o patógeno fica protegido dessa forma por anos. Nesse sentido, a reativação da infecção oculta depende de fatores como envelhecimento, má alimentação, estresse e desordens hormonais (BOMBARDA et al., 2001)
A Tuberculose Pulmonar Secundária, frequentemente, evolui para infecções crônicas que causam destruição dos tecidos pulmonares. Através de radiografia, os tecidos pulmonares degenerados podem ser visualizados. Ademais, vale salientar que bactérias podem ser isoladas de escarros somente em pacientes com extensa destruição tissular BOMBARDA et al., 2001).
Ainda se tratando da Tuberculose Pulmonar Secundária, é importante compreender que a patologia se dá pela reativação endógena, e costuma ser encontrada nos segmentos apicais e posteriores dos lobos superiores. A gravidade do prejuízo parenquimatoso é bem variável, desde pequenos infiltrados até um processo cavitário extenso (BOMBARDA et al., 2001).
A tuberculose é causada por um bacilo álcool-ácido resistente (BAAR) denominado Mycobacterium tuberculosis, ou Bacilo de Koch (BK). O principal órgão acometido é o pulmão, mas além dele podem ser afetados outros locais, como ossos, rins e meninges. A transmissão do bastonete se dá através de partículas infectadas, principalmente por aerossóis e pelas gotículas de Flugge, que são eliminadas por meio da fala, espirro ou tosse. Tais gotículas contaminadas podem ser barradas pelo sistema respiratório do hospedeiro, ou podem ultrapassar tais barreiras e chegar aos alvéolos pulmonares, onde acabam sendo fagocitadas por macrófagos (KOZAKEVICH.; SILVA.,2022).
Destaca-se a importância de diferenciar infecção de forma ativa da tuberculose, uma vez que após a primeira exposição ao bacilo os indivíduos imunocompetentes são capazes de controlar a replicação do BK e continuarem saudáveis (tuberculose latente) e podem desenvolver a doença anos depois (tuberculose pós-primária), mas em caso deficiência do sistema imunológico do hospedeiro há evolução da infecção logo após a exposição configurando a tuberculose primária e com início da resposta imunológica (KUMAR et al., 2010)
A partir disso, a bactéria passa a se multiplicar dentro dessas células e pode se disseminar via linfática e hematogênica afetando outros locais como trato gastrointestinal, ossos, meninges e pericárdio (KUMAR et al., 2010). Ademais, o BK pode permanecer em período de latência por vários anos e fazer a reativação quando há problemas no sistema imune do hospedeiro, principalmente decorrentes de doenças que causam a imunodeficiência, como o vírus do HIV. Quando os bacilos contaminados são inalados, acabam sendo apresentados por linfócitos TCD4+ pelo complexo de histocompatibilidade principal II (MCH II), a fim de gerar uma resposta imune e manter controle sobre o organismo(RABAHI, 2012). No entanto, a resposta imunológica do hospedeiro é a responsável por gerar inflamação granulomatosa e dano tecidual, resultando na formação do granulomas e necrose caseosa as quais causam as repercussões clínicas e sintomatológicas (KUMAR et al., 2010).
Além disso, o BK utiliza de algumas substâncias para auxiliar nesse controle da atividade inflamatória, como o ESAT-6, que inibe a produção de interleucina 2, e o interferon, gama que inativa a apoptose celular. Dessa maneira, a resistência ao bacilo depende do tipo de resposta imune que o hospedeiro apresenta em relação ao patógeno, já que os principais mecanismos de defesa incluem as estruturas já citadas, como as interleucinas, IFN-γ, além de linfócitos T e os próprios macrófagos (OLIVEIRA; PETRO.,2017).
OBJETIVOS
Analisar os casos de Tuberculose, de forma epidemiológica, de 2015-2022 no Brasil.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo ecológico de abordagem quantitativa do quadro de prevalência de tuberculose no Brasil de 2015 a 2022. Utilizou-se para a pesquisa dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificações (SINAN) contidos no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Mediante a isso, foram computados para análise, o número de casos de tuberculose entre os anos de 2015 e 2021, no Brasil, notificados e registrados no TABNET. Foram considerados como critérios de inclusão, estar notificado no SINAN e possuir caso confirmado de dengue, com base nas normas do Sistema de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde.
As variáveis analisadas foram: casos confirmados de tuberculose no Brasil de 2015 a 2022. Foram excluídos da pesquisa os casos de tuberculose não notificados e registrados no SINAN, os casos registrados nos anos anteriores a janeiro de 2015 e nos anos posteriores a dezembro de 2022. A análise de dados foi feita e organizada em gráficos, a partir do software Microsoft Excel®, contendo as quantidades de casos de tuberculose em cada região, mas considerando casos de todo o período delimitado. Isso foi feito para em um segundo momento descrever em forma de texto uma comparação em porcentagem dos principais anos em que ocorreram oscilações nos números de casos em todo o Brasil. No que concerne às normas éticas de pesquisa, não se aplica para um estudo ecológico.
RESULTADO E DISCUSSÃO
A incidência da tuberculose no Brasil se mostrou bastante oscilante de 2016 a 2022, isso se deve às medidas públicas de combate à doença e a adesão da população às campanhas de prevenção e tratamento. Foram registrados em 2016 foi de 86.207, em 2017 de 90.594, demonstrando uma elevação, em 2018 foram computados 94.541, em 2019 foram notificados 95.988 casos da doença, em 2020 foram registrados 86.553, em 2021 91.889 e em 2022 49.506. Tais dados são evidenciados no Gráfico 1 (DataSus, 2022).
Gráfico 1
Fonte: DataSus
Analisando as 5 regiões do Brasil é possível verificar uma maior prevalência da doença na região Nordeste. A região Norte apresentou 70.036 casos de Tuberculose entre 2016-2022, enquanto a região Nordeste apresentou mais que o dobro de casos com 155.338, já a região Sudeste registrou 270.235 casos da doença, a região centro-oeste foi a área que apresentou o menor número de casos com 27.719, e por fim a região Sul registrou 71.927 de 2016 a 2022 Gráfico 2 (DataSus, 2022).
Gráfico 2
Fonte: DataSus
A tuberculose é mais comum em pacientes que possuem doenças que atingem diretamente o sistema imunológico como vírus da imunodeficiência humana (HIV). Estudos realizados demonstram a correlação entre essas duas infecções demonstram que pessoas com HIV têm 28 vezes mais chances de contrair tuberculose. O número de casos de Tuberculose de 2016-2022 foi de 595.298 casos enquanto de pessoas que tem HIV e Tuberculose foi de 61.413 casos Gráfico 3 (DataSus,2022)
Gráfico 3
Fonte: DataSus
De acordo com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação, foram diagnosticados, em território brasileiro, um total de 680.730 casos de TB desde 2015 até 2022, sendo 79.605 casos na região Norte, 177.556 casos no Nordeste, 289.723 casos no Sudeste, 82.951 no Sul, 31.713 no Centro-Oeste e 23 casos foram registrados como ignorados. O ano de maior incidência foi 2019 (95,988 casos) e o de menor incidência, 2022 (49,506 casos). Em relação ao gênero, foram registrados 475.870 casos correspondentes ao sexo masculino, 204.800 ao feminino e 60 casos foram registrados como ignorados. Em relação a faixa etária, os mais afetados foram os indivíduos com idade de 25 a 34 anos (147.993 casos), seguidos de 35 a 44 anos (123.243), 15 a 24 anos (111.252), 45 a 54 anos (98.422), 55 a 64 anos (73.499), 65 ou + anos (59.448). Por fim, os indivíduos que possuem idade de 0 a 14 anos foram os menos afetados (17.158) (DataSus, 2022).
A tuberculose é uma doença predominantemente masculina, devido ser mais comuns homens não procurarem o sistema de saúde com mais frequência a doença pode passar despercebida e quando descoberta já estar em grau avançado. O número de casos de homens com tuberculose é de 416.866 de 2016 a 2022, já o número de mulheres é 178.357 Gráfico 4 (DataSus, 2022).
Gráfico 4
Fonte: DataSus
CONCLUSÃO
A tuberculose é uma doença ainda de grande incidência no Brasil, por ser altamente contagiosa, apresenta um número de casos significantes na população do país. Por se tratar de uma doença de notificação compulsória, os dados do estudo apresentado se mostram fidedignos a realidade do Brasil, sendo necessário mediadas públicas, principalmente voltadas a atenção básica para o combate e erradicação da doença.
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1Médico pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, Brasil
2,3,4,5,6,7,8,9Graduando em Medicina pela Universidade de Rio Verde (UniRv), Rio Verde, Goiás, Brasil.
10Enfermeira, pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, docente efetiva do curso de Medicina da Universidade de Rio Verde (UniRv), Rio Verde, Goiás, Brasil.