REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202501070941
Anne Caroline de Sousa Batista;
Claricia Santos da Silva;
Francisco Pinheiro Carvalho;
Orientadora: Profa. M.a Malena Vidal dos Santos
RESUMO
Este estudo analisa o poema ‘No meio do caminho’, de Carlos Drummond de Andrade, publicado em 1930, com foco nas figuras de linguagem e no estilo do autor. A pesquisa busca entender como a estilística textual, que estuda o uso figurado da linguagem, contribui para a expressividade e o significado da obra. O poema, marcado pela repetição da frase ‘no meio do caminho’, sugere paralisação e frustração, refletindo o modernismo brasileiro. O objetivo principal é identificar e analisar as figuras de linguagem presentes, tais como a anáfora e a metáfora, interpretando sua função na construção do significado e da expressividade. A pesquisa é relevante para a compreensão da linguagem poética, fortalecendo o ensino da língua portuguesa e valorizando a cultura literária nacional. O método utilizado é a análise descritiva, com leitura detalhada e contextualização crítica do poema. Espera-se que a pesquisa revele a complexidade do estilo de Drummond e sua intenção comunicativa, demonstrando a importância das figuras de linguagem para a construção de um poema simbólico e subjetivo, aprofundando a compreensão de seu estilo único e das técnicas estilísticas utilizadas para criar uma atmosfera poética impactante.”
PALAVRAS-CHAVE: Carlos Drummond de Andrade, modernismo, análise estilística, figuras de linguagem.
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho se concentra na análise do poema ‘No meio do caminho’, de autoria de Carlos Drummond de Andrade. O poema apareceu pela primeira vez na revista Antropofagia em 1928 e depois em Alguma Poesia em 1930, e é um ícone na literatura do Brasil e na obra do autor. Sua publicação provocou debates acalorados e controvérsias, servindo como um catalisador para o debate acerca dos princípios do modernismo. A aparente simplicidade do poema, marcada pela repetição das palavras ‘no meio do caminho’ e ‘tinha uma pedra’, diferenciava-se da tradição poética anterior, gerando tanto entusiasmo quanto repulsão. A estrutura repetitiva do poema, com seus versos que parecem simples, possibilitou várias interpretações, destacando a subjetividade da vivência poética. A biografia do poema, elaborada por Drummond, evidencia sua percepção da relevância do trabalho para o cenário literário e cultural do Brasil. A resposta a ‘No meio do caminho’ evidenciou a inexperiência da crítica literária daquele período, polarizando opiniões e intensificando a discussão entre modernistas e não modernistas. O trabalho destacou Drummond e solidificou sua posição como um dos principais poetas do modernismo no Brasil, um movimento que transformou a literatura do país, como ficou evidente na Semana de Arte Moderna. O poema ‘Uma pedra no meio do caminho’, objeto deste estudo, foi inicialmente publicado na revista Antropofagia, ligada ao movimento de vanguarda que culminou na Semana de Arte Moderna de 1922. Posteriormente, em 1930, foi incluído em seu livro Alguma Poesia, marcando sua estreia literária com uma seleção diversificada de poemas que refletem as experiências e inquietações do autor no início de sua carreira. Este poema se destaca pela escolha das palavras e a estrutura do poema que contribuem para a sua força estilística. O uso de uma linguagem simples e direta, combinada com a repetição insistente da frase ‘no meio do caminho’, cria um ritmo marcante que reflete a sensação de paralisação e frustração do eu lírico. Drummond nasceu em 31 de outubro de 1902, em Itabira, no estado de Minas Gerais. Graduou-se em Farmácia e, ao longo de sua carreira explorou uma variedade de temas em sua poesia, além de ter incursões em outros gêneros literários, como crônicas e ensaios. Recebeu diversos prêmios e honrarias, incluindo o Prêmio Jabuti e o Prêmio Machado de Assis. O autor faleceu em 17 de agosto de 1987, deixando um legado literário significativo que continua a influenciar escritores e leitores em todo o mundo.
A pesquisa se inicia investigando a estilística textual e as figuras de linguagem presentes no poema “No meio do caminho” de Carlos Drummond de Andrade, apresentando questões que servem como fundamentos para estudo. Um exemplo disso é a análise do papel das figuras de linguagem na construção do significado e da expressividade do poema. Além disso, examina-se como a aplicação da estilística textual e a análise das figuras de linguagem nesse poema específico ampliam a interpretação literária, considerando a subjetividade do eu lírico. Adicionalmente, ressalta-se como os efeitos emocionais das figuras de linguagem, tais como metáforas, anáfora e metonímias, contribuem para a criação da atmosfera poética em “No meio do caminho”.
Analisar o poema “No meio do caminho” é crucial devido à sua relevância histórica e literária. O poema, um marco do modernismo brasileiro, gerou debates que impulsionaram a discussão sobre os novos princípios estéticos da época. A análise detalhada da sua estrutura, da repetição da linguagem coloquial e do uso de figuras de linguagem, como metáforas, anáforas e metonímias, permite uma compreensão profunda da expressividade do poema e da intenção de Drummond. Essa investigação estilística e interpretativa contribui para a valorização da literatura nacional, aprimora o ensino da língua portuguesa e possibilita uma leitura mais completa e enriquecedora da obra, revelando como o autor, com aparente simplicidade, criou um poema de grande impacto simbólico e subjetivo. Além disso, a análise fomenta o debate sobre as diferentes formas de interpretação e a complexidade da experiência poética.
O objetivo principal é identificar e analisar as figuras de linguagem presentes no poema “No meio do caminho”, de Carlos Drummond de Andrade, investigando seus efeitos estilísticos e seu papel na construção do significado e expressividade da obra. Para alcançar esse objetivo, a pesquisa se propõe a mapear as figuras de linguagem utilizadas, classificando-as e analisando sua frequência. Em seguida, investigará como essas figuras contribuem para a sonoridade, o ritmo e a expressividade do
poema, examinando seus efeitos na atmosfera poética e na transmissão da mensagem. A análise também buscará interpretar como as figuras de linguagem auxiliam na construção do significado do poema, considerando a subjetividade do eu lírico e as diversas possibilidades interpretativas. Além disso, a pesquisa contextualizará a obra, examinando-a no âmbito da produção de Drummond e do modernismo brasileiro, considerando sua importância histórica e sua relação com as vanguardas artísticas. Através da análise estilística e das figuras de linguagem, o estudo pretende ampliar a interpretação do poema, revelando camadas mais profundas de significado e possibilitando uma compreensão mais completa da obra. Por fim, o estudo examinará o efeito emocional dessas figuras, identificando como elas influenciam a experiência do leitor e auxiliam na memorização e na capacidade comunicativa do poema.
Em sua obra “Introdução à Estilística: A Expressividade na Língua Portuguesa”, Nilce Sant’Anna Martins, conceitua a estilística e seu objeto: o estilo, aborda o tema da expressividade na Língua Portuguesa, trazendo ao público o resultado de suas pesquisas sobre estilística nos diversos níveis da língua: nível do som, da palavra, da frase, e do enunciado. Cada nível é tratado de forma bem exaustiva, com vários subníveis, e com bastante exemplos, análise de textos de autores diversos, e ainda vem com uma extensa sugestão de textos para a análise estilística. A autora tece uma análise minuciosa, fornecendo uma visão abrangente e profunda do tema, possui uma análise cuidadosamente estruturada, com base em argumentos sólidos e convincentes. A força da argumentação nos leva a concordar com os posicionamentos da autora e a buscar aplicar suas pesquisas em nosso trabalho.
A dissertação de José Ferreira da Silva e Liebert de Abreu Muniz, “o uso das figuras de linguagem onomatopeia e metáfora na construção de sentido em grande sertão: veredas, de guimarães rosa” por exemplo, analisa o uso de figuras de linguagem em “Grande Sertão: Veredas”, destacando sua importância na construção de sentido e na singularidade da obra de Guimarães Rosa. Eles realizam uma breve identificação e análise de algumas figuras de linguagem, concluindo que, apesar do uso pouco convencional por Guimarães Rosa, estas são essenciais para a construção de sentido da obra e para evidenciar aspectos singulares da escrita do autor.
Além disso, ressaltam a reinvenção da língua e a riqueza vocabular, que permitem ao leitor vivenciar as emoções presentes na narrativa. Estamos em concordância de pensamento com o autor pois é essa análise que contribui para a profundidade da experiência do leitor que procuramos expor em nosso trabalho.
Já o artigo de Fabio André Coelho e Lúcia Deborah de Araújo “análise de textos e estilo – por uma leitura desacostumada na teoria e na prática” enfatiza a relevância da Estilística na interpretação de textos escolares, defendendo que o estilo amplia as possibilidades de compreensão e interação dos estudantes com a leitura, especialmente no contexto literário. Os autores defendem que o trabalho a partir do estilo permite a leituras mais amplas, possibilitando que os leitores iniciantes adentrem o universo significativo construído pelo autor, estabelecendo assim uma relação produtiva com o texto, especialmente com o texto literário. O artigo propõe uma abordagem que visa ampliar as possibilidades de interpretação dos textos, especialmente no contexto escolar, utilizando o estilo como ferramenta para desenvolver habilidades de leitura e interpretação dos estudantes. Concordamos, pois, torna- se claro e evidente que, com essa abordagem, o estilo se torna essencial para desenvolver habilidades de interpretação.
Outro exemplo, é a dissertação de Laíra de Cássia Barros Ferreira Maldaner, “Uma ideia toda azul: as figuras de linguagem como recursos linguístico-expressivos” na qual destaca a expressividade dos contos de fadas de Marina Colasanti, ressaltando a utilização de figuras de linguagem e a harmoniosa articulação entre realidade e fantasia. Além disso, aborda reflexões sobre narrativas orais, teorias referentes aos contos populares, literatura infantil e a harmoniosa articulação entre realidade e fantasia, revelando sentidos universais inerentes ao ser humano em todas as épocas nos contos de Marina Colasanti.
A dissertação também acerta ao abordar as reflexões sobre narrativas orais, teorias relacionadas aos contos populares e à literatura infantil, aspectos que enriquecem ainda mais a compreensão da profundidade e da universalidade dos temas tratados por Colasanti. É inegável que os contos de Marina Colasanti conseguem transcender as barreiras do tempo e tocar em sentidos universais que ressoam com os leitores de todas as épocas. Sendo assim, pelo mesmo ponto de vista da autora, acreditamos que, empregar as figuras de linguagem e criar uma harmoniosa interação entre realidade e fantasia realmente torna qualquer texto fluído.
2. ABORDAGENS TEÓRICAS
O referencial teórico deste estudo abrange obras e autores que exploram a estilística textual e figuras de linguagem, fornecendo as bases para a interpretação do poema “No Meio do Caminho” de Carlos Drummond de Andrade.
No campo da estilística e das figuras de linguagem, a obra “Introdução à Estilística: A Expressividade na Língua Portuguesa” de Nilce Sant’Anna Martins estabelece uma base sólida para a compreensão da estilística como disciplina, explorando os diferentes níveis da língua e demonstrando como as figuras de linguagem contribuem para a construção de sentidos e efeitos estéticos. As gramáticas de Evanildo Bechara e José Carlos de Azevedo serão consultadas para identificar e classificar as figuras de linguagem presentes no poema.
Complementando essa base, o artigo “Análise de textos e estilo – por uma leitura desacostumada na teoria e na prática” de Fabio André Coelho e Lúcia Deborah de Araújo destaca a importância da estilística na interpretação de textos, enquanto a dissertação de José Ferreira da Silva e Liebert de Abreu Muniz examina o papel das figuras de linguagem na obra de Guimarães Rosa. A dissertação de Laíra de Cássia Barros Ferreira Maldaner, por sua vez, analisa as figuras de linguagem nos contos de fadas de Marina Colasanti, oferecendo um panorama diversificado sobre o uso dessas figuras em diferentes contextos literários.
No que se refere à poesia de Carlos Drummond de Andrade, o livro “Drummond- a estilística da repetição” de Guilherme Mendonça Teles investiga o uso da repetição como recurso estilístico na obra do autor, contribuindo para a compreensão de uma das características marcantes de sua poética. A fortuna crítica sobre Drummond, incluindo Antonio Candido e outros críticos, será consultada para contextualizar o poema “No Meio do Caminho” dentro de sua produção poética e do Modernismo brasileiro.
Expandindo a análise para escolha de palavras, o artigo “O Léxico de Drummond”, de Elis de Almeida Cardoso, oferece uma perspectiva valiosa para a compreensão do vocabulário empregado pelo poeta e sua relação com a construção de significado e expressividade. Cardoso evidencia a riqueza e variedade do léxico drummondiano, que abrange diferentes registros e níveis de linguagem, ressaltando a importância de uma análise que leve em consideração essa diversidade e suas funções dentro do contexto da obra.
A autora também destaca a criação de neologismos por Drummond, evidenciando sua busca constante por novas formas de expressão e sua originalidade no uso da linguagem. A análise lexical, portanto, deve estar atenta a esses neologismos e sua contribuição para a expressividade poética. Outro aspecto importante abordado por Cardoso é a relação entre a estilística do vocabulário de Drummond e sua criatividade. Ao considerar a amplitude e a inventividade do léxico do poeta, a identificação de diferentes registros, neologismos e escolhas lexicais específicas oferece ricas ideias sobre a expressividade de seus poemas.
Em síntese, o artigo de Cardoso demonstra a relevância da análise do léxico e das figuras de linguagem no estudo da obra de Drummond. Ao investigar como a escolha das palavras contribui para a construção de significado e a expressividade do poema, o estudo oferece uma base sólida para a análise do vocabulário drummondiano e sua relação com a estilística e a construção de sentido em obras como “No Meio do Caminho”.
A respeito da análise do poema “No Meio do Caminho” será enriquecida pela perspectiva de Igor Rossoni em seu artigo “No rumo(r) do poema: estudo de um Drummond”. Rossoni argumenta que a repetição e o estranhamento são elementos chave para desvendar a potencialidade do texto poético. Ele destaca a ambiguidade da expressão “no meio do caminho”, que oscila entre a indeterminação e a determinação, abrindo espaço para a plurissignificação. O autor também analisa a repetição da palavra “pedra” como um obstáculo simbólico que representa a necessidade de “lapidar” a palavra em sua forma bruta para que ela se torne um signo motivado, carregado de múltiplos significados. A estrutura do poema também é examinada por Rossoni, que a divide em três estrofes e evidencia a repetição de elementos como as letras “N” e “T” no início dos versos. Rossoni conclui que a aparente simplicidade do poema esconde uma profunda consciência do fazer poético, onde repetição, estranhamento e ambiguidade se unem para criar uma obra multifacetada e inesgotável.
O artigo “As metáforas eróticas de Carlos Drummond de Andrade” se mostra bastante relevante para este projeto de pesquisa, pelas seguintes razões: Primeiro por se tratar de uma proposta semelhante, onde se analisa o uso de figuras de linguagem em poemas de Carlos Drummond de Andrade, especialmente o uso de metáforas e seus efeitos estilísticos. Em segundo, por trazer em sua fundamentação teórica três importantes abordagens que servem como subsídio para qualquer projeto dessa natureza: a estilística léxica, o neologismo semântico e a metáfora no discurso literário. A estilística léxica trata do processo de escolha linguística e como estas escolhas definem os efeitos de estética e de expressividade. O neologismo semântico se dá quando um significante assume um novo significado, como ocorre no caso das metáforas. Não há como falar de estilo, efeito de sentido e expressividade sem abordar o uso da linguagem no discurso literário, o que para Ullmann (1977, p. 281) é “o mais potente artifício lexical utilizável com propósitos emotivos e expressivos”.
Outro trabalho que também incluiremos como referencial teórico é o artigo de Maria Cláudia Martins Parente, em seu trabalho intitulado “O Domínio da Estilística: Num Convite a Pesquisas e Criações Autônomas”, explora a falta de tradição em pesquisas estilísticas, tanto na crítica literária quanto na Ciência da Expressão. Inicialmente, o estudo apresenta conceitos e referências essenciais sobre a Estilística, fundamentando-se em teóricos como Monteiro (2005), Câmara Júnior (1997) e Guiraud (1970). Posteriormente, com base em uma pesquisa de campo realizada com duas professoras de Língua Portuguesa de uma escola da rede estadual, uma do ensino fundamental e outra do ensino médio, discute as razões pelas quais a Ciência da Expressão não é amplamente acessível ou dominada pelos alunos. É sugerido caminhos para solucionar as questões levantadas, promovendo a Ciência Estilística como uma fonte valiosa de recursos linguísticos que enriquecem diversos gêneros textuais e libertam escritores das restrições da gramática normativa. Além disso será utilizado como sustentação teórica o trabalho de Maria Teresa Gonçalves Pereira, uma tese intitulada “Recursos Linguístico-Expressivos da Obra Infanto-Juvenil de Ana Maria Machado”, investiga os aspectos estilísticos e linguísticos presentes nos textos da renomada autora Ana Maria Machado. Sob a orientação da Professora Doutora Célia Therezinha Guidão da Veiga Oliveira, Pereira desenvolveu seu estudo no Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A escolha do corpus foi realizada pela própria autora, Ana Maria Machado, que selecionou os textos com maior potencial para uma análise aprofundada. A tese aborda a literatura infanto-juvenil, uma área que, apesar de sua crescente inclusão nos currículos universitários e sua presença em cursos e resenhas literárias, ainda não recebe a devida atenção e valorização no contexto cultural. A pesquisa de Pereira visa destacar a importância e a qualidade literária das obras de Ana Maria Machado, que, conforme a própria autora afirma, são destinadas não apenas às crianças, mas a todos os leitores, cumprindo plenamente seu papel como literatura.
O artigo “Os precursores filosóficos da teoria cognitiva das metáforas” é uma análise da teoria cognitiva das metáforas, de George Lakoff e Mark Johnson, feita pelo linguista Olaf Jäkel, que se dedicou a reformulá-la e sistematizá-la, para fins de compará-la com outras teorias percussoras de outras áreas. Para isto, ele resume as afirmações principais de Lakoff e Johson em nove teses, dentre as quais pode-se destacar, por sua relevância para este projeto, a que diz que a metáfora tem três funções básicas: ela serve para a explicação, a compreensão e a exploração do mundo social, e que sua base se encontra em nossas experiências sensoriais e motoras.
O autor destaca ainda que Lakoff e Johnson diferenciavam três tipos de metáforas, que seriam responsáveis pela nossa estruturação da experiência: A metáfora estrutural, a orientacional e a ontológica.
A publicação pode dar robustez a este projeto de pesquisa, sobretudo por tratar da mais importante figura de linguagem utilizada em obras literárias, a metáfora, figura que se faz presente também no poema objeto deste projeto de pesquisa.
3. PERCURSO METODOLÓGICO
Este estudo utiliza uma metodologia descritiva para examinar o poema “No meio do caminho”, de Carlos Drummond de Andrade, concentrando-se na sua estilística textual e nos recursos de linguagem utilizados. A abordagem descritiva tem como objetivo detalhar as propriedades do poema, investigando como a linguagem aparentemente simples se torna complexa por meio do emprego de artifícios estilísticos como metáforas, metonímias e outras figuras de linguagem. A avaliação detalhada dessas figuras procura entender como Drummond as combina para formar um ambiente único e comunicar sua mensagem de maneira marcante. Esta perspectiva descritiva, crucial na análise de fenômenos literários, possibilita estabelecer conexões entre as opções linguísticas do escritor e a expressividade do trabalho, oferecendo uma compreensão mais detalhada do poema.
Seguindo a abordagem das pesquisas descritivas, o presente estudo se enquadra no tipo de pesquisa descritiva, que tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada obra literária, no caso, o poema “No meio do caminho”. A pesquisa descritiva busca analisar e descrever as características do fenômeno em estudo, estabelecendo relações entre as variáveis linguísticas presentes no texto. No contexto deste trabalho, será realizada uma análise detalhada das figuras de linguagem utilizadas por Carlos Drummond de Andrade, explorando como esses recursos contribuem para a construção do significado e da expressividade do poema.
Conforme definido por Gil (2002), as pesquisas descritivas são essenciais para a compreensão detalhada de fenômenos sociais, populacionais ou organizacionais, sendo frequentemente requisitadas por diferentes instituições e entidades. Por meio de uma precisa coleta de dados, utilizando técnicas padronizadas como a análise de fontes bibliográficas permite aos pesquisadores contextualizar o problema de pesquisa, identificar lacunas no conhecimento existente e fundamentar teoricamente sua abordagem de pesquisa.
A pesquisa descritiva foi escolhida devido à sua capacidade de proporcionar uma análise minuciosa das características do texto literário em estudo, permitindo uma compreensão mais aprofundada do estilo e das figuras de linguagem presentes na obra de Carlos Drummond de Andrade. Além disso, esse tipo de pesquisa permite estabelecer relações entre os elementos textuais e sua função estilística, contribuindo para uma interpretação mais completa do poema.
4 ANÁLISE DO POEMA “NO MEIO DO CAMINHO”
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
O poema “No meio do caminho”, de Carlos Drummond de Andrade, originalmente publicado na Revista Antropofagia em 1928 e depois em Alguma Poesia (1930), é um expoente da poesia modernista no Brasil. A simplicidade aparente esconde uma intrincada estrutura estilística que favorece a expressividade e o sentido do trabalho. A análise subsequente tem como objetivo desvendar os artifícios estilísticos utilizados por Drummond, baseando-se em obras que investigam a estilística e as figuras de linguagem.
O recurso mais marcante em “No meio do caminho” é a anáfora, a repetição da frase “No meio do caminho” no início de cada verso. Essa repetição não é mera coincidência, mas sim uma escolha estilística deliberada que estrutura o poema e intensifica seu significado. A anáfora cria um ritmo hipnótico, quase monótono, que imita a sensação de estar preso em um ciclo vicioso, sem progresso. Esse ritmo contribui para a atmosfera de paralisia e indecisão que permeia o poema, transmitindo a angústia do eu lírico diante do obstáculo. De acordo com Teles (2020), em Drummond: a estilística da repetição, a repetição não é apenas um recurso estilístico, mas um componente que estrutura o poema e estabelece significados. A repetição da frase inicial gera um sentimento de imobilidade, como se o eu lírico estivesse estagnado nesse ponto de transição, incapaz de progredir ou voltar atrás. A repetição também gera um efeito de estranheza, removendo a expressão “no meio do caminho” de sua utilização diária e elevando-a a um nível simbólico.
Drummond utiliza um vocabulário simples e direto, buscando palavras do cotidiano, o que é uma característica marcante de sua poética. A escolha por palavras como “pedra” e “tinha” desmistifica a linguagem poética, trazendo a reflexão para o plano da experiência concreta. No entanto, essa aparente simplicidade esconde um profundo refinamento estilístico. Como aponta Cardoso (1987) em “O léxico de Drummond”, a seleção lexical do autor é sempre intencional e carregada de significados, mesmo quando utiliza termos banais. A palavra “pedra”, por exemplo, ganha força simbólica, representando um obstáculo, uma interrupção no fluxo da vida.
O poema é construído sobre a ambiguidade do termo “no meio do caminho”, que pode se referir tanto a um local físico quanto a um estado emocional. Conforme destaca Rossoni (2000) em “No rumo(r) do poema: estudo de um Drummond”, a indefinição entre indeterminação e determinação permite a possibilidade de múltiplas interpretações. A metáfora do “caminho” representa a trajetória da vida, a procura por um propósito e a batalha contra as dificuldades. Portanto, a ambiguidade não é um defeito, mas uma ferramenta que instiga o leitor a diversas interpretações e a uma reflexão mais aprofundada sobre sua própria existência.
A “pedra” que aparece no poema se configura como uma poderosa metáfora. Ela não é apenas um objeto físico, mas também um símbolo de impedimento, de dificuldade, de algo que impede o progresso. Segundo Martins (2008), em Introdução à estilística: a expressividade na língua portuguesa, o uso de metáforas é fundamental para a expressividade e a afetividade do texto poético. A pedra, no poema de Drummond, ganha uma dimensão simbólica que ressoa com as dificuldades e os desafios que encontramos ao longo da vida.
O ritmo do poema, caracterizado pela repetição e pela curta duração dos versos, ajuda a estabelecer um ambiente de lentidão, hesitação e dúvida. A sensação de estagnação é intensificada pela aliteração, que repete sons consonantais como “n” e “t”. Segundo Bezerra e Silva (2007) em “O ritmo do texto poético”, o ritmo desempenha um papel crucial na formação do sentido e na expressão do poema. “No meio do caminho” destaca-se pelo ritmo lento, quase monótono, que intensifica a sensação de confinamento do eu lírico.
O poema está inserido no cenário do modernismo no Brasil, caracterizado pela procura de uma linguagem mais informal, a exaltação do dia a dia e a ruptura com os formatos convencionais da poesia. A opção por versos livres, a falta de rimas e a repetição incomum da frase inicial refletem essa influência modernista, que buscava novas maneiras de se expressar e maior liberdade na criatividade.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise estilística do poema “No meio do caminho”, escrito por Carlos Drummond de Andrade, expôs a complexidade escondida na aparente simplicidade do trabalho. Ao analisar os artifícios linguísticos utilizados pelo escritor, tais como a repetição, a seleção de palavras, a ambiguidade, a metáfora, o ritmo e a influência do modernismo, conseguimos desvendar as diversas camadas de significado e a expressividade que fazem do poema um ícone da literatura do Brasil.
A repetição constante da expressão “no meio do caminho” mostrou não ser apenas um artifício estilístico, mas um componente estrutural que intensifica o conceito principal de paralisia e indecisão. O emprego de palavras do dia a dia, como “pedra” e “tinha”, desmistifica a poesia, trazendo a reflexão para o âmbito da experiência tangível. Contudo, essa simplicidade aparente esconde um aprofundado refinamento estilístico, onde a escolha dos termos é sempre intencional e repleta de simbolismo.
A ambiguidade do termo “no meio do caminho”, que oscila entre um local físico e uma condição emocional, fomentou a multiplicidade de interpretações do poema, instigando o leitor a diversas interpretações e a uma reflexão mais aprofundada sobre sua própria existência. A metáfora da “pedra” como barreira e a aliteração, que intensifica o sentimento de estagnação, também se revelaram instrumentos estilísticos eficazes na elaboração do sentido da obra.
A análise também destacou a inserção do poema no contexto do modernismo brasileiro, com a procura por uma linguagem mais descontraída e a quebra com os formatos tradicionais da poesia. A escolha por versos livres, a falta de rimas e a repetição incomum da frase inicial evidenciam essa influência modernista, que procurava novas formas de se comunicar e mais liberdade na expressão criativa.
Em resumo, a avaliação estilística demonstrou que “No meio do caminho” vai além de ser apenas um poema. Trata-se de um trabalho que, apesar de sua aparente simplicidade, discute assuntos universais como a paralisia, a indecisão e a procura por propósito na trajetória da vida. A habilidade singular de Carlos Drummond de Andrade em manipular a linguagem, convertendo palavras do dia a dia em símbolos que ecoam com a vivência do leitor e instigam a reflexão. Esta análise nos leva a uma interpretação mais profunda e enriquecedora do poema, desvendando a complexidade presente em sua essência.
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