NÍVEL DE CONHECIMENTO DOS FISIOTERAPEUTAS INTENSIVISTAS SOBRE O ELETROCARDIOGRAMA NO ESTADO DO PIAUÍ.

KNOWLEDGE LEVEL OF INTENSIVE PHYSIOTHERAPISTS ABOUT THE ELECTROCARDIOGRAM IN THE STATE OF PIAUÍ.

NIVEL DE CONOCIMIENTO DE LOS FISIOTERAPEUTAS INTENSIVOS SOBRE EL ELECTROCARDIOGRAMA EN EL ESTADO DE PIAUÍ.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7957774


Karen Raielly de Melo Santos1
Maria Luiza Araújo Soares Frazão2
Eric da Silva3


Resumo

O eletrocardiograma (ECG) é um exame de baixo custo, simples, não invasivo e amplamente usado na prática clínica e tem a importância de trazer em seus gráficos uma simples análise dos ritmos normais e anormais do coração. Objetivo: Avaliar o nível de conhecimento dos fisioterapeutas intensivistas sobre o eletrocardiograma no estado do Piauí. Métodos: Tratou-se de um estudo transversal qualitativo, prospectivo e descritivo, realizado com 32 fisioterapeutas da ASSOBRAFIR que atuassem no estado do Piauí, os participantes responderam um questionário on-line com 13 perguntas de múltipla escolha sobre o assunto. Resultados: Em relação aos índices percentuais de acertos obtidos pelos fisioterapeutas que trabalham nas UTIs, nas questões sobre eletrofisiologia cardíaca houve uma média de acertos de 75%, já nas questões sobre as principais alterações eletrocardiográficas houve uma média de 45% de acertos. Apesar da maioria dos fisioterapeutas deste estudo apresentarem um bom conhecimento sobre eletrofisiologia cardíaca, uma parte considerável demonstrou um déficit com relação ao conhecimento mais aprofundado sobre as principais alterações encontradas no ECG. Conclusão: Os fisioterapeutas intensivistas demonstraram um nível de conhecimento básico sobre eletrocardiograma, constatando que os mesmos não reconhecem as alterações mais comuns do ECG na prática clínica, mesmo que a totalidade da amostra possua especialização em Fisioterapia em Terapia Intensiva. É indiscutível que o aprimoramento contínuo e permanente é essencial para a capacitação dos referidos profissionais, entretanto os resultados desse estudo mostraram que essa formação não necessariamente contribui num número elevado de acertos no que diz respeito ao conhecimento sobre o eletrocardiograma.

Palavras-chave: Eletrocardiograma. Fisioterapia. Terapia intensiva.

Abstract

The electrocardiogram (ECG) is a low-cost, simple, non-invasive test that is widely used in clinical practice and has the importance of bringing in its graphs a simple analysis of normal and abnormal heart rhythms. Objective: To evaluate the level of knowledge of intensive care physiotherapists about the electrocardiogram in the state of Piauí. Methods: This was a qualitative, prospective and descriptive cross-sectional study, carried out with 32 physiotherapists from ASSOBRAFIR who worked in the state of Piauí, participants answered an online questionnaire with 13 multiple-choice questions on the subject. Results: Regarding the percentage rates of correct answers obtained by physiotherapists working in the ICUs, the questions about cardiac electrophysiology had an average of 75% correct answers, while the questions about the main electrocardiographic alterations had an average of 45% correct answers. Although most of the physiotherapists in this study had good knowledge about cardiac electrophysiology, a considerable part showed a deficit in terms of deeper knowledge about the main alterations found on the ECG. Conclusion: Intensive care physiotherapists demonstrated a basic level of knowledge about electrocardiography, noting that they do not recognize the most common ECG alterations in clinical practice, even if the entire sample has specialization in Physical Therapy in Intensive Care. It is indisputable that continuous and permanent improvement is essential for the training of these professionals, however the results of this study showed that this training did not necessarily contribute to a high number of correct answers with regard to knowledge about the electrocardiogram.

Keywords: Electrocardiogram. Physiotherapy. Intensive therapy.

Resumen

El electrocardiograma (ECG) es una prueba no invasiva, simple y de bajo costo, muy utilizada en la práctica clínica y tiene la importancia de traer en sus gráficos un análisis simple de los ritmos cardíacos normales y anormales. Objetivo: Evaluar el nivel de conocimiento de los fisioterapeutas de cuidados intensivos sobre el electrocardiograma en el estado de Piauí. Métodos: Este fue un estudio transversal cualitativo, prospectivo y descriptivo, realizado con 32 fisioterapeutas de ASSOBRAFIR que actuaban en el estado de Piauí, los participantes respondieron un cuestionario en línea con 13 preguntas de opción múltiple sobre el tema. Resultados: En cuanto a los porcentajes de aciertos obtenidos por los fisioterapeutas que laboran en las UCI, las preguntas sobre electrofisiología cardíaca tuvieron un promedio de 75% de aciertos, mientras que las preguntas sobre las principales alteraciones electrocardiográficas tuvieron un promedio de 45% de aciertos. Aunque la mayoría de los fisioterapeutas de este estudio tenían buenos conocimientos sobre electrofisiología cardíaca, una parte considerable presentaba déficit en cuanto a un conocimiento más profundo de las principales alteraciones encontradas en el ECG. Conclusión: Los fisioterapeutas de cuidados intensivos demostraron un nivel básico de conocimiento sobre electrocardiografía, notando que no reconocen las alteraciones del ECG más comunes en la práctica clínica, a pesar de la totalidad de la muestra tener especialización en Fisioterapia en Cuidados Intensivos. Es indiscutible que la superación continua y permanente es fundamental para la formación de estos profesionales, sin embargo, los resultados de este estudio demostraron que esa formación no necesariamente contribuyó para un elevado número de aciertos en cuanto al conocimiento sobre el electrocardiograma.

Palabras clave: Electrocardiograma. Fisioterapia. Terapia intensiva.

Introdução

As doenças cardiovasculares são atualmente a principal causa de morte no Brasil e no mundo, as estimativas demonstram que mais pessoas morrem anualmente por essas enfermidades do que por qualquer outra causa (OPAS, 2021). 

O eletrocardiograma (ECG) é um exame de baixo custo, simples, não invasivo e amplamente usado na prática clínica e tem a importância de trazer em seus gráficos uma simples análise dos ritmos normais e anormais e até mesmo diagnósticos complexos (SAFFI et al., 2018).

O ECG é obtido através de um eletrocardiógrafo que registra a atividade elétrica do coração num papel quadriculado e milimetrado com um eixo horizontal representando o tempo em milissegundos (ms) e outro vertical representando a voltagem em milivolts (mV), o registro é a diferença de potencial elétrico que é captada por eletrodos posicionados sobre a superfície corpórea de um indivíduo (REIS et al, 2013). O traçado do ECG se faz por meio de ondas que possuem características exclusivas de duração, amplitude e configuração (SOUTO, 2016).

Na monitorização eletrocardiográfica são usados eletrodos que podem ser colocados no tórax do paciente ou nos membros superiores e inferiores de acordo com as derivações. O exame possui 12 derivações que identificam a função de condução elétrica do miocárdio a partir de diversos ângulos, 6 no plano frontal das extremidades colhidas nos membros, 6 no plano horizontal no precórdio (FERRO et al., 2021). A monitorização feita na terapia intensiva se dá através de um monitor multiparamétrico, onde os eletrodos são fixados na pele com um sistema de 3 ou 5 cabos, que permite o registro das 6 derivações periféricas e 1 das precordiais (DIAS, 2016).

Segundo a Diretriz de interpretação de eletrocardiograma de repouso da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) os eletrocardiogramas devem ser interpretados por profissionais que trabalham com urgências e esses devem ter a habilidade de definir, reconhecer e compreender as bases fisiopatológicas de algumas anormalidades eletrocardiográficas como arritmias, sobrecargas, áreas eletricamente inativas, alterações da repolarização e marcapassos. A observação de traçados prévios pode auxiliar alguns diagnósticos, como infartos antigos e agudos, isquemias, aneurisma ventricular, mecanismos das taquicardias supraventriculares, embolismo pulmonar, derrame pericárdico, distinção entre taquicardia ventricular e supraventricular, troca de eletrodos e outros distúrbios eletrolíticos, por isso se faz necessária a constante qualificação sobre esse método diagnóstico (GUIMARÃES et al., 2003).

No processo de reabilitação do paciente cardíaco, o profissional fisioterapeuta deve se basear na avaliação do quadro clínico e hemodinâmica do doente para um atendimento adequado e deve ficar atento a toda e qualquer alteração fisiológica. Dessa forma, o conhecimento do traçado eletrocardiográfico é essencial para a monitorização eficaz antes, durante e após a sua intervenção. Hoje o fisioterapeuta intensivista é membro fundamental da equipe multiprofissional e suas contribuições influenciam na sobrevida de muitos pacientes, sendo indispensável sua presença nos serviços de saúde de alta complexidade e emergências como Unidades de Terapia Intensiva-UTIs e Unidades de Pronto Atendimento-UPAs (REGENGA, 2014).

Contudo, ainda são escassos os estudos disponíveis na literatura sobre o tema em questão, e esses se fazem necessários para responderem as dúvidas sobre o conhecimento dos fisioterapeutas intensivistas acerca da interpretação das alterações mais comuns do exame eletrocardiográfico. Visando preencher essa lacuna, o objetivo do estudo é avaliar qualitativamente o nível de conhecimento dos fisioterapeutas intensivistas sobre o eletrocardiograma no estado do Piauí.

Método

A presente pesquisa foi inicialmente submetida para análise pelo comitê de ética em pesquisa (CEP) do Centro Universitário Santo Agostinho (UNIFSA) pela plataforma Brasil. O projeto foi submetido para avaliação no dia 14 de dezembro de 2022 contendo o número 66116022.8.0000.5602 e foi aprovado no dia 23 de janeiro de 2023 com o parecer de número 5.861.281.

Trata-se de um estudo transversal de caráter qualitativo, prospectivo e descritivo, onde os participantes a serem incluídos na pesquisa foram 32 fisioterapeutas inscritos e associados na ASSOBRAFIR (Associação Brasileira de Fisioterapia Cardiorrespiratória e Fisioterapia em Terapia Intensiva) e fisioterapeutas que atuassem no estado do Piauí. Foram excluídos fisioterapeutas sem nenhuma experiência nas áreas de Terapia Intensiva, UPAs, reabilitação pulmonar ou cardiovascular e fisioterapeutas sem acesso à internet ou que se recusaram a participar da pesquisa. Os participantes foram selecionados por meio de cálculo de amostragem simples e o recrutamento foi feito aleatoriamente por sorteio no Microsoft Office Excel 2019, os indivíduos foram colocados em apenas um grupo. 

O material para a coleta de dados foi um questionário de 13 questões de múltipla escolha sobre eletrofisiologia cardíaca e as principais alterações eletrocardiográficas elaboradas pelos pesquisadores, a coleta de dados foi realizada a partir do dia 6 de março de 2023 em ambiente eletrônico através de um formulário do aplicativo “Google Forms” enviado via e-mail do participante. O link foi enviado de forma individual para cada participante que antes de responder a pesquisa teve que concordar com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). 

Após a coleta, os dados foram resumidos em tabelas com valores de porcentagem e análises de tendência central. Foram utilizados os programas Microsoft Office Excel, Microsoft Office Word nas suas últimas versões.

Resultados

A tabela 1 apresenta os dados demográficos dos profissionais fisioterapeutas que participaram do estudo. Participaram da pesquisa 32 fisioterapeutas onde a maioria dos participantes relatou ter 10 anos ou mais de tempo de atuação na área de terapia intensiva (50%), dos quais 59% apresentaram curso na área de terapia intensiva, 3% na área de cardiorrespiratória, 31% na área de ventilação mecânica, e 6% em outro ou nenhum curso. 100% dos participantes referiram possuir especialização na área de terapia intensiva. 

Tabela 1 – Dados demográficos dos profissionais fisioterapeutas.

Variáveln(%)
Tempo de atuação
1-3 anos413%
4-6 anos619%
7-9 anos619%
10 anos ou mais1650%
TOTAL32100%
Possui especialização em terapia intensiva
Sim32100%
Não00%
TOTAL32100%
Possui curso na área:
Terapia intensiva1959%
Cardiorespiratória13%
Ventilação mecânica1031%
Outro/nenhum26%
TOTAL32100%

Fonte: Dados da pesquisa (2023)

Em relação ao questionário, abrangiam-se 10 perguntas, sendo 4 referentes a eletrofisiologia cardíaca, no qual envolviam perguntas sobre as derivações precordiais e periféricas do ECG, sobre a condução do estímulo elétrico referente a despolarização atrial e ventricular, sobre o ritmo sinusal e a forma de medi-lo através do traçado eletrocardiográfico. A tabela 2 mostra as respostas referente à eletrofisiologia. 

Tabela 2 – Descrição das respostas dos fisioterapeutas em relação à eletrofisiologia. 

Questõesn(%)
Quais são as derivações do ECG?
Acertos2681%
Erros69%
TOTAL32100%
Qual o significado da onda P e do complexo QRS?
Acertos3197%
Erros13%
TOTAL32100%
Oque é ritmo sinusal?
Acertos1547%
Erros1753%
TOTAL32100%

Fonte: Dados da pesquisa (2023)

Na tabela 3, há a exibição das respostas dos profissionais pesquisados referentes às questões sobre as interpretações das principais alterações encontradas no eletrocardiograma. 

Tabela 3 – Descrição das respostas dos fisioterapeutas em relação a interpretações eletrocardiográficas.

Questõesn(%)
Alteração eletrocardiográfica: Fibrilação atrial
Acertos2063%
Erros1238%
TOTAL32100%
Alteração eletrocardiográfica: Flutter atrial
Acertos1341%
Erros1959%
TOTAL32100%
Alteração eletrocardiográfica: Taquicardia ventricular monomórfica
Acertos1856%
Erros1444%
TOTAL32100%
Alteração eletrocardiográfica: Fibrilação ventricular e conduta adequada
Acertos1753%
Erros1547%
TOTAL32100%
Alteração eletrocardiográfica: Bloqueio atrio-ventricular de 1° grau
Acertos1134%
Erros2164%
TOTAL32100%
Alteração eletrocardiográfica: Bloqueio atrio-ventricular de 2° grau tipo II
Acertos1444%
Erros1856%
TOTAL32100%
Alteração eletrocardiográfica: Bloqueio de ramo direito
Acertos825%
Erros2475%
TOTAL32100%

Fonte: Dados da pesquisa (2023)

Discussão

O eletrocardiograma é um exame simples feito rotineiramente que permite uma análise da atividade elétrica do coração através de gráficos que apresentam ondas, segmentos e intervalos e possui grande importância para diagnósticos de patologias cardíacas que podem eventualmente identificar situações de risco de morte súbita (PASTORE et al., 2016).

A identificação precoce de alterações eletrocardiográficas é de extrema importância, pois assim é possível agir com agilidade no manejo e na conduta de pacientes cardíacos. Desta forma uma boa análise sobre o eletrocardiograma é a base fundamental para sua interpretação e para isso o profissional necessita conhecer a fisiopatologia da atividade cardíaca. Com isso, o conhecimento eletrocardiográfico abrange profissionais da saúde, sendo um deles o fisioterapeuta (MARCOLINO et al., 2017).

O fisioterapeuta possui uma função extremamente importante na reabilitação cardíaca, pois através da sua avaliação é possível identificar as limitações do paciente, propondo um tratamento que se baseou na análise funcional e clínica capaz de fazer com que o paciente retorne às suas atividades diárias. Como um profissional integrante da equipe multidisciplinar em unidades de terapia intensiva, é necessário que o fisioterapeuta tenha uma boa qualificação, com uma adequada formação prática e teórica, para garantir a efetividade e segurança no tratamento dos pacientes (GOLDBERGER; SAPERIA, 2020). 

Essa pesquisa foi realizada com 32 participantes, sendo esses somente fisioterapeutas intensivistas, de acordo com os resultados das questões demográficas dos profissionais sobre o tempo de formação, a presente pesquisa demonstra que 13% dos profissionais estão formados no período de 1 à 3 anos e 50% de 10 ou mais, a maioria dos profissionais do estudo possuem uma experiência considerável trabalhando no ambiente da terapia intensiva. 

Todos os profissionais deste estudo relataram possuir especialização em terapia intensiva, ou seja, 100%. O reconhecimento da especialidade profissional da Fisioterapia em Terapia Intensiva foi alavancado pelo crescimento e pelo desenvolvimento da prática assistencial deste profissional, a evolução científica e reconhecimento da fisioterapia por parte da equipe multiprofissional e sociedade civil são de extrema importância para a valorização do fisioterapeuta intensivista (ALVES, 2012). 

Dentre os pesquisados, 59% realizaram curso na área de terapia intensiva. De acordo com a ASSOBRAFIR, é importante levar em consideração que a prescrição e execução de atividades, mobilizações e exercícios físicos são de domínio do fisioterapeuta. Nas UTIs estes profissionais carregam um papel indispensável na atenção a pacientes críticos, dessa maneira é necessária à atenção às mudanças científicas e aprimoramento dos conhecimentos, tendo uma constante atualização (RUSSO et al., 2012). 

Em relação aos índices percentuais de acertos obtidos pelos fisioterapeutas que trabalham nas UTIs, nas questões sobre eletrofisiologia cardíaca houve uma média de acertos de 75%, já nas questões sobre as principais alterações eletrocardiográficas houve uma média de 45% de acertos. Apesar da maioria expressiva dos fisioterapeutas deste estudo apresentarem um bom conhecimento sobre eletrofisiologia cardíaca, ainda uma parte considerável demonstrou um déficit com relação ao conhecimento mais aprofundado sobre as principais alterações encontradas no ECG. 

VICTOR et al. (2017), realizaram uma pesquisa semelhante com fisioterapeutas nas Unidades de Terapia Intensiva de hospitais das cidades de Santos e Guarujá (SP) através de um questionário com objetivo de investigar o nível de conhecimento sobre eletrocardiograma e demonstrou em seus resultados que nas perguntas referentes à eletrofisiologia houve 63,33% de acertos e 36,65% de erros e as perguntas referentes à interpretações eletrocardiográficas chegaram a 62,07% de acertos, demonstrando uma porcentagem menor de erros nas questões sobre alterações eletrocardiográficas comparada aos resultados encontrados no presente estudo, revelando que há uma falta de conhecimento mais aprofundado sobre o ECG, tendo a necessidade de aprimoramento profissional sobre o exame. Um conhecimento adequado desse exame reflete no atendimento eficaz do paciente cardíaco, pois o conhecimento do traçado eletrocardiográfico é essencial e de grande importância no manejo eficaz, precoce e rápido para garantir um bom prognóstico, além de beneficiar vítimas dentro e fora dos hospitais, evitando óbitos e sequelas graves (WANGENHEIM, 2014). 

Para uma interpretação do ECG é necessário conhecer seus componentes básicos, as ondas: P, Q, R, S e T, seus intervalos e complexos, que junto das outras unidades representam eventos elétricos e passagem dos impulsos elétricos dos átrios para os ventrículos (ZIPES et al., 2022). É fundamental que o fisioterapeuta intensivista saiba fazer a interpretação e descrição geral do ECG, pois somente assim poderá ser feita uma interpretação correta para identificar as alterações e possíveis repercussões clínicas esperadas (SANTOS; FIGUINHA; MASTROCOLA, 2017).

Com relação à metodologia deste estudo, a pesquisa apresenta como limitação o fato de que não foi possível alcançar a quantidade exata da amostra que foi calculada para a população utilizada, a quantidade alvo era de 65 fisioterapeutas intensivistas e a quantidade alcançada foram de 32 fisioterapeutas intensivistas, o ponto positivo é que foi utilizada amostra aleatória, mas com um grupo específico de profissionais, ou seja, o objetivo era avaliar o nível de conhecimento sobre o ECG de uma categoria específica de profissionais que trabalham com cuidados intensivos. Ao considerar que os profissionais entrevistados são associados na ASSOBRAFIR e apenas do estado do Piauí espera-se que esses achados sirvam para gerar uma reflexão acerca da necessidade de atualização dos fisioterapeutas do referente estado para que haja uma maior qualidade na avaliação e consequentemente na conduta adequado dos pacientes atendidos nas UTIs. 

Outro fator limitante na pesquisa foi a utilização de um instrumento que não foi validado, ainda que sua formulação tenha sido estruturada na importância sobre esse tema na literatura em questão. 

Constatamos uma necessidade de uma atenção maior dos profissionais visto que identificar as principais alterações cardíacas à beira leito através dos traçados do ECG se torna essencial no suporte ao paciente crítico. O fisioterapeuta como membro que integra a equipe multidisciplinar em unidades de terapia intensiva deve apresentar uma qualificação apropriada para garantir a segurança e a efetividade no suporte e tratamento desses pacientes. 

Conclusão

Em virtude do atual estudo, nota-se que os fisioterapeutas atuantes nas unidades de terapia intensiva demonstraram um nível de conhecimento básico sobre eletrocardiograma, constatando que os mesmos não reconhecem as alterações mais comuns do ECG na prática clínica, mesmo que a totalidade da amostra possua especialização em Fisioterapia em Terapia Intensiva. É indiscutível que o aprimoramento contínuo e permanente é essencial para a capacitação dos referidos profissionais, entretanto os resultados desse estudo mostraram que essa formação não necessariamente contribui em um número elevado de acertos no que diz respeito ao conhecimento sobre o eletrocardiograma.

Diante disso, foi limitante a escassez de pesquisas realizadas sobre o assunto em questão. Nessa perspectiva, vimos uma necessidade de mais pesquisas sobre esse tema para gerar uma reflexão acerca da necessidade de atualização dos fisioterapeutas sobre o eletrocardiograma e sua importância no manejo clínico dos pacientes que necessitam de suporte intensivo. 

REFERÊNCIAS

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ZIPES, D., et al. Gordon. Braunwald Tratado de Doenças Cardiovasculares. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2022. 2064 p.


1Acadêmica de fisioterapia do Centro Universitário Santo Agostinho (UNIFSA). Avenida Aquiles Wall Ferraz, 5699 – Bairro Santa Izabel, Teresina-PI, CEP: 64069-020, e-mail: karen1234santos@gmail.com
2Acadêmica de fisioterapia do Centro Universitário Santo Agostinho (UNIFSA).  Residencial Nova Alegria II, 3567, Parque Sul, Teresina, Piauí, CEP: 64036-750, e-mail: marialuizaa163@gmail.com
3Fisioterapeuta. Mestre em engenharia biomédica pela UNIVAP-SP. Docente no Centro Universitário Santo Agostinho (UNIFSA).  BR 343, nº 9525, Condomínio Terras Alphaville, Rua 9, Lote AP22, Teresina – PI, CEP: 64074-000, email: ericfisio@ibest.com.br