REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10440196
Tiago Henrique Fontenele de Almeida
Coautora: Prof. Dra. Marcia Brazão e Silva Brandão
RESUMO
A ansiedade é um tema que vem ganhando grande repercussão em todo o mundo, principalmente nos últimos anos, nos quais o índice de pessoas apresentando transtornos de ansiedade cresceu significativamente. Dessa forma, o objetivo deste projeto consiste em propor estratégias de atendimento às demandas de ansiedade identificadas por meio de instrumentos específicos, para mitigar e dirimir os transtornos causados por elevados índices de ansiedade nos estudantes dos cursos técnicos integrados ao ensino médio do IFRR, campus Boa Vista. Por se tratar de um tema atual e que vem ganhando cada vez maior visibilidade, o transtorno de ansiedade está dentro do quadro de doenças mentais que mais atinge a população, principalmente os adolescentes, levando a uma preocupação excessiva ou constante de que algo negativo vai acontecer, tornando-se um problema de saúde mental que atinge 9,3% dos brasileiros, fazendo do país líder no ranking, conforme a Organização Mundial da Saúde. Dentre os ambientes geradores de ansiedade, estudos apontam que as instituições de ensino vem sendo uma fonte causadora desse transtorno, que quando não é identificada e tratada precocemente, pode trazer diversos danos ao indivíduo em fase escolar, estendendo-se para as demais dimensões de sua vida, afetando profundamente seu desempenho e desenvolvimento biopsicossocial. Portanto, como Produto Educacional, desenvolveu-se uma cartilha para auxiliar no manejo da ansiedade no ambiente escolar, oferecendo apoio para melhorar suas estratégias de enfrentamento, que possam estar afetando, além dos seus níveis de desempenho escolar, sua saúde mental e qualidade de vida. Mostrando resultados satisfatórios, onde a maioria dos alunos apresentaram melhoras significativas após a aplicação das técnicas desenvolvidas, que reforçam a importância de abordagens educacionais voltadas para a compreensão e enfrentamento da ansiedade no ambiente escolar. Sendo fundamental a promoção do bem-estar dos alunos e a construção de um ambiente educacional mais saudável e propício ao desenvolvimento integral dos estudantes.
Palavras-chave: Saúde Mental. Estudantes. Qualidade de Vida.
ABSTRACT
The anxiety topic has been gaining significant attention worldwide, particularly in recent years, during which the prevalence of individuals experiencing anxiety disorders has significantly increased. Therefore, the aim of this project is to propose strategies to address anxiety demands identified through specific instruments, in order to alleviate and mitigate the disorders caused by high levels of anxiety among students in the integrated technical high school courses at IFRR, Boa Vista campus. As it is a current and increasingly visible issue, anxiety disorders are among the mental health conditions that affect the population the most, especially adolescents, leading to excessive or constant concern that something negative will happen. This becomes a mental health problem affecting 9.3% of Brazilians, making the country a leader in this ranking, according to the World Health Organization. Among the anxiety-causing environments, studies indicate that educational institutions have been a contributing source to this disorder. When not identified and treated early, it can cause various damages to individuals during their school years, extending to other dimensions of their lives, profoundly affecting their biopsychosocial performance and development. Therefore, as an Educational Product, a handbook has been developed to assist in managing anxiety in the school environment, providing support to improve coping strategies that may affect not only their academic performance but also their mental health and quality of life. Showing satisfactory results, where the majority of students exhibited significant improvements after applying the developed techniques, reinforces the importance of educational approaches focused on understanding and addressing anxiety in the school environment. Promoting students’ well-being and creating a healthier educational environment conducive to the comprehensive development of students is essential.
Keywords: Mental health. Students. Quality of life.
1. INTRODUÇÃO
Adentrar em uma instituição de ensino pode ser um desafio para muitos estudantes, segundo MOURA, et al., (2019) considerando que podem se deparar com excesso de atividades estudantis, falta de motivação para os estudos e a carreira escolhida, a existência de conflitos com colegas e professores, dificuldades na aquisição de materiais e livros, dificuldade em conciliar os estudos com trabalho, problemas familiares, financeiros e sociais. A rotina escolar, em grande parte, modifica a forma de viver dos estudantes, podendo trazer uma série de agentes estressores que podem vir a impactar negativamente a qualidade de vida, como o desenvolvimento do transtorno de ansiedade. As instituições de ensino, são uns dos vários ambientes em que um indivíduo pode desenvolver a ansiedade, trazendo consigo mudanças psicológicas, físicas, mentais e hormonais, de modo que cada um vai reagir de maneira diferente, podendo desencadear as seguintes reações: alterações no apetite, mudanças de comportamento, uso de substâncias que prejudicam a saúde, falta ou excesso de sono, dentre outros (DUTRA, 2021).
Nesse ínterim, evidencia-se que a inserção do indivíduo em uma instituição de ensino muda sua rotina, podendo em alguns casos ser uma fonte de ansiedade, considerando as grandes mudanças cotidianas na vida do estudante. Em meio a pandemia de COVID-19 a ansiedade pode ser ainda mais agravante, pois conforme estudos de Miliauskas e Faus (2020, p.1), “passados os primeiros meses da pandemia, houve um aumento dos casos de depressão, estresse e ansiedade entre os estudantes”. Portanto, a proposta está voltada para estudantes do curso técnico em eletrônica, integrado ao ensino médio do Instituto Federal de Roraima (IFRR), Campus Boa Vista, do segundo e terceiro ano, visando saber o nível de estresse, através de uma ferramenta que possibilita essa identificação (Escala de Ansiedade de Beck), e apresentação de uma cartilha, contendo informações que podem contribuir no combate a esse transtorno. Dessa forma, a pesquisa a ser desenvolvida está inserida na linha de pesquisa “Práticas Educativas em Educação Profissional e Tecnológica (EPT), Macroprojeto 1 – Propostas metodológicas e recursos didáticos em espaços formais e não formais de ensino na EPT”. Vale enfatizar a ausência de obras publicadas, dentro do contexto de Roraima, que tragam evidências empíricas acerca da temática, ou seja, não foram identificados estudos e/ou pesquisas que abordem sobre os níveis de ansiedade em estudantes dos cursos técnicos integrados ao ensino médio no Estado de Roraima. Contudo, a nível nacional, assim como mundial, há uma preocupação sobre esse assunto, considerando a grande amplitude de obras presentes nas bibliotecas virtuais, como: Scielo, Pepsic, Google Acadêmico, dentre outros repositórios e bibliotecas virtuais, onde foi realizado um levantamento sobre a linha de pesquisa, por meio dos descritores: transtorno de ansiedade; ansiedade em estudantes e eventos estressores, buscando assim embasamento teórico que venha atender a esta lacuna local por meio de uma proposta de práticas educativas preventivas no contexto da educação profissional e tecnológica, mais especificamente no IFRR, campus Boa Vista.
Os índices de adolescentes com ansiedade são preocupantes, considerando a pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde2 (OMS, 2021), apontando índices alarmantes da saúde mental dos adolescentes brasileiros, em que 63% relatam ansiedade e 47% pedem acompanhamento psicológico na saúde pública, fato esse que influenciou em baixo rendimento escolar e até mesmo na evasão escolar de muitos estudantes. Desta maneira, justifica-se propor a discussão e trazer medidas de atenção à saúde mental dos estudantes, dada a relevância e o aumento significativo de casos diagnosticados em meio a esta etapa tão importante da vida dos adolescentes, objetivando minimizar as consequências desse transtorno em curto, médio ou longo prazo. Tal proposta vai ao encontro dos pressupostos de Silva e Melo (2020) quando reforçam em sua fala que há atualmente, a necessidade do investimento em pesquisas e programas de intervenção que utilizem estratégias eficazes no controle da ansiedade na população estudantil, para a melhoria do rendimento escolar e da qualidade de vida deste público.
Consiste em um problema que vem ganhando cada vez mais referência atualmente, tal como comentam Gomes e Calixto (2019), ao descreverem que atualmente é cada vez mais necessário compreender as determinações e causas que vem gerando a ansiedade nas pessoas, principalmente entre os adolescentes, tendo em vista que consiste em uma problemática cada vez mais recorrente no cotidiano de milhares de indivíduos nos mais variados setores da sociedade, inclusive nas instituições de ensino. Dessa forma, a criação do produto educacional foi direcionada para os estudantes do curso técnico em eletrônica, integrado ao ensino médio do Instituto Federal de Roraima (IFRR), Campus Boa Vista, do segundo e terceiro ano, visando saber qual o nível de ansiedade e com isso, propor meios de apoio para que a ansiedade não venha interferir na rotina de estudo, nem na qualidade de vida.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
A ansiedade, mesmo se tratando de uma característica comum entre os seres humanos, quando presente de maneira excessiva, pode trazer inúmeras consequências prejudiciais para a saúde mental do indivíduo. Dessa forma, buscando melhor discutir sobre o assunto, será apresentado a seguir o conceito de ansiedade e suas características, os sintomas e os fatores que acabam gerando a ansiedade, possibilitando assim, melhor compreensão sobre como um sentimento natural do ser humano pode se transformar em uma doença e interferir na qualidade de vida da pessoa. Também será explorada, a ansiedade em níveis mais intensos na vida escolar do estudante.
De acordo com Carmo e Simionato (2012), estados de ansiedade envolvem reações fisiológicas desagradáveis; postura tensa; expressão facial cansada; dores de cabeça; distúrbios estomacais etc.; envolvendo componentes fisiológicos, comportamentais e cognitivos. A frequência e a intensidade desses componentes, em contextos específicos, são parâmetros fundamentais na caracterização da ansiedade. E essas reações que se apresentam em ocasiões específicas impedem o aluno de apresentar um bom desempenho nas tarefas, prejudicando-o tanto nas situações em que ocorre a ansiedade quanto em tarefas que deverão ser realizadas posteriormente, como um exame de vestibular, ou até mesmo nas situações vivenciadas no dia a dia (CARMO, 2011).
Sarason (1978), um dos importantes estudiosos na área de ansiedade em situação de testagem, descreve como característico de respostas ansiosas:
• a situação é vista como difícil, desafiadora e ameaçadora;
• o indivíduo vê a si mesmo como ineficiente ou inadequadamente preparado para manejar a tarefa;
• o indivíduo foca nas consequências indesejáveis de um desempenho ruim;
• preocupações autodepreciativas são fortes e competem com a atividade cognitiva relevante para a tarefa; e
• o indivíduo antecipa o fracasso e a perda de respeito pelos outros.
2.1 CONCEITOS SOBRE ANSIEDADE
Atualmente, muitas discussões em torno da saúde mental têm sido levantadas, visando principalmente melhorar a qualidade de vida dos indivíduos. Dentre os assuntos, a ansiedade vem despertando atenção, pois mesmo sendo algo normal entre os humanos, quando acontece de maneira mais repetitiva, pode trazer sérias consequências. Para melhor compreender sobre tal assunto, torna-se indispensável o conhecimento dos conceitos que os autores trazem sobre o tema. A ansiedade é uma resposta natural do ser humano ao meio em que vive, sendo experimentada por todas as pessoas. De acordo com Martins e Cunha (2021), a ansiedade é um importante sinal de alerta, cuja função consiste em prevenir o indivíduo contra possíveis perigos à sua integridade física ou situações emocionalmente dolorosas.
Numa conjuntura geral, a ansiedade pode ser conceituada como um sentimento próprio do ser humano, ou seja, algo natural, de modo que se sente principalmente quando situações de medo, estresse ou apreensão são vivenciadas, sendo respondida pela ansiedade a esses eventos. Para Noronha (2021), a ansiedade é benéfica para o ser humano em algumas situações, pois possibilita deixar a mente e corpo em alerta e preparados para enfrentar situações de perigo.
Contudo, deve-se compreender que a ansiedade se relaciona a uma reação emocional quase sempre momentânea, captada pela consciência decorrente de alguma situação vivenciada pelo indivíduo, o que despertará nele comportamentos diversos. Sousa (2020, p. 14), explica que a ansiedade é um sentimento de: “Inquietação que pode se traduzir em manifestações de ordem fisiológica, como agitação, movimentos precipitados, hiperatividade e de ordem cognitiva, como atenção e vigilância redobrada a determinados aspectos do meio”.
Pode-se dizer que a ansiedade consiste em uma situação normal para o ser humano, sendo necessária, cujo sentimentos abrange desde medo, apreensão, como também preocupação. Entretanto, esses sentimentos podem se tornar descontrolados, se tornando um transtorno que atinge de maneira negativa o indivíduo (BRITO; FERREIRA, 2019). Quando os sentimentos passam a trazer consequências negativas para o indivíduo, a ansiedade passa a ser considerada patológica. Dessa forma, mesmo se tratando de algo natural do ser humano, dependendo da intensidade e da constância, a ansiedade pode se tornar excessiva, extrema ou irracional, e antes que era considerada como adaptativa passa a se tornar disfuncional, ocasionando certo sofrimento e interferindo na capacidade do indivíduo de lidar com acontecimentos da vida cotidiana (SOUSA, 2020).
Nesse ínterim, Silveira et al. (2020) definem a ansiedade como uma necessidade de querer fazer algo. Para esses autores, consiste em um sentimento desagradável, principalmente entre os jovens adolescentes, pois se caracteriza a sentimentos de apreensão negativa, com a presença de uma determinação fisiológica e psíquica, apresentadas por comportamentos que podem interferir negativamente na vida do indivíduo. Assim, evidencia-se que “[…] quando as reações da ansiedade passam a ser extremas, seja em intensidade ou em frequência, ela deixa de ser considerada normal e benéfica e passa a se tornar patológica” (MARTINS; CUNHA, 2021, p. 5). Com base nisso, a ansiedade vem ganhando destaque nos últimos anos, tendo em vista que muitos indivíduos estão apresentando maior intensidade e/ou frequência da ansiedade.
Quando ocorre o aumento da frequência ou intensidade da ansiedade, a mesma pode ser caracterizada como um tipo de transtorno, ou seja, um problema de saúde. O próprio Ministério da Saúde, em suas pesquisas, aponta que desde 2017, o Brasil lidera o ranking, tendo o maior índice de pessoas com transtornos de ansiedade em todo o mundo, já sendo quase 17 milhões de brasileiros com a qualidade de vida comprometida (NORONHA, 2021). Além disso, Gadilha (2019) em suas pesquisas aponta ainda que muitos brasileiros desencadeiam outras patologias intensas decorrente da ansiedade, sem contabilizar os que ainda não têm um transtorno diagnosticado, mas que já sofrem muito em virtude disso.
Com a pandemia da COVID-19, essa problemática ganhou ainda mais notoriedade, pois em decorrência das medidas que precisaram ser tomadas, como o isolamento social, contribuíram para o agravamento da ampliação de pessoas que passaram a ter o transtorno de ansiedade, bem como outros transtornos mentais (SILVA, 2022). Entretanto, há vários outros fatores que podem desencadear a ansiedade em níveis mais elevados, trazendo consequências patológicas, tal como discutido a seguir.
2.2 SINTOMAS E FATORES DA ANSIEDADE
Tal como visto anteriormente, a ansiedade é algo natural do ser humano, entretanto, pode acontecer de sua ocorrência ser em grau maior e com mais frequência. Em situações assim, a ansiedade começa a causar considerável sofrimento emocional, na qual Sousa (2020) comenta que os acontecimentos da vida cotidiana do indivíduo interferem de maneira negativa, pois a capacidade de lidar com situações simples se tornam cada vez mais dificultosas, gerando uma série de reações fisiológicas, comportamentais e psicológicas, todas presentes ao mesmo tempo.
Nessa mesma linha de pesquisa, Martins e Cunha (2021) comentam que as manifestações da ansiedade se diferem de um indivíduo para o outro, sendo que os sintomas físicos podem compreender: diarreia, suor excessivo, vertigem, perda dos sentidos, tremores, irritação gástrica, alteração na frequência urinária, palpitações, agitação, dentre outros e quando se apresenta os sintomas de ordem afetiva e comportamental também podem incluir excesso de vigilância, apreensão, insegurança, irritabilidade, sentimento de desamparo, nervosismo etc.
Assim, os sintomas se expressam tanto na parte fisiológica, como também psicológica do indivíduo. Os sintomas físicos mais comuns de pessoas com ansiedade são: cefaleia, dores musculares, dores ou queimação no estômago, taquicardia, tontura, formigamento e sudorese fria. Já os sintomas psicológicos podem se expressar como: insônia, dificuldade em relaxar, angústia constante, irritabilidade aumentada e dificuldade em concentrar-se (SOUSA, 2020).
Alguns grupos possuem maior probabilidade em apresentar algum tipo de transtorno, como explica Sousa (2020), ao comentar que muitas crianças e jovens tem ansiedade em níveis mais elevados, causando um efeito negativo significativo no funcionamento diário, além de criar impacto na trajetória do desenvolvimento e interferir na capacidade de aprendizagem, no desenvolvimento de amizades e nas relações familiares.
Dentro desse contexto, Martins e Cunha (2021) comentam que metade das doenças mentais se inicia por volta dos 14 anos de idade, ou seja, entre o segmento dos adolescentes, não recebendo o tratamento adequado, pois em grande parte sequer são diagnosticadas, apesar da grande presença de comorbidades, sendo que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2022), um em cada cinco adolescentes sofre de problemas relacionados à saúde mental, destacando ainda que metade de todas as condições de saúde mental começa aos 14 anos de idade, mas a maioria dos casos não é detectada nem tratada. Dessa forma, percebe se que os transtornos de ansiedade estão entre as psicopatologias mais frequentes da infância e da adolescência.
Pesquisas voltadas a ansiedade em estudantes nos últimos anos do ensino médio/técnico confluem com o pensamento de Silveira et al. (2020), que entre os adolescentes, por estarem passando por um período natural de transição de idade, dos estudos e também do mercado de trabalho, passam a sofrer cobranças internas e externas, principalmente quanto ao seu futuro, seja pessoal social ou profissional, o que contribui diretamente no desencadeamento do transtorno de ansiedade.
É preciso atenção e cuidado com os sintomas, pois muitos transtornos de ansiedade são persistentes e, segundo Sousa (2020), quando não são corretamente identificados e tratados, aumentam a probabilidade de problemas na idade adulta. Dessa forma, Grolli (2017) complementa ao dizer que eventos significativos presentes na adolescência, como a conclusão do ensino médio, a escolha profissional e a entrada no mundo adulto, marcam o processo final dessa etapa, trazendo consigo aumento na intensidade de alguns sentimentos. Com base nisso, estudantes podem apresentar patologias associadas à saúde mental, sendo a ansiedade a mais comum, interferindo no desempenho escolar, social e familiar do estudante. Sendo assim, realiza-se a seguinte discussão a respeito da ocorrência da ansiedade entre estudantes, tratando sobre os fatores que podem ocasionar e as consequências geradas ao estudante diante da manifestação.
2.3 A ANSIEDADE NO ÂMBITO ESTUDANTIL
Nos últimos anos, houve um aumento considerável de casos relacionados à saúde mental, agravando-se com a pandemia COVID-19 que alterou a vida de muitas pessoas. Muitas escolas tiveram que interromper as aulas presenciais e adotar novos métodos, como as aulas remotas, para evitar a disseminação do vírus.
As diversas mudanças decorrentes da pandemia da COVID-19 geraram medo e desencadearam maior desconforto emocional e consequências psicológicas, que vão desde respostas de angústia, como ansiedade, depressão, e abuso de substâncias, até mudanças comportamentais, como dificuldade para dormir e alterações alimentares (SILVA; ROSA, 2021). Para Santos (2021), mesmo antes da pandemia, muitos estudantes já apresentavam algum tipo de transtorno, sendo o medo, ansiedade e estresse os principais, fazendo com que a saúde mental se tornasse foco não só dos especialistas da área de saúde, mas da sociedade como um todo, pois o sofrimento psíquico do estudante não se limita a ele próprio, e sim no seu meio social.
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS,2021), no período da adolescência, é estimado que entre 10% e 20% dos adolescentes vivenciam problemas relacionados à saúde mental. No entanto, geralmente são diagnosticados e tratados de forma inadequada. Os transtornos mentais, nessa etapa da vida, podem ser negligenciados tanto por falta de conhecimento ou até mesmo falta de conscientização sobre as questões que envolvem o sofrimento e saúde mental, bem como pelo estigma que impede os jovens de procurarem ajuda.
Para Sousa (2020), há muitas incertezas presentes no meio estudantil e conforme vai havendo a transição dos estudantes, que vão avançando nas séries escolares, geram neles mudanças pessoais, sociais, contextuais, que exigem maior autonomia e geram expectativas, aumentando assim os níveis de ansiedade. As séries do ensino médio são marcadas por muitos desafios, na qual os estudantes vivenciam mudanças e adaptações constantes, como explica Brito e Ferreira (2019), ao comentar que um desses desafios é a expectativa após a conclusão do ensino médio, pois não sabem o que os esperam, podendo ser destacados três pontos principais: construção de uma carreira/identidade profissional; dificuldades nos relacionamentos com colegas e professores e o estresse pessoal estando vinculado a características individuais e traços de personalidade.
Há uma preocupação quanto a saúde mental dos estudantes, pois um elevado nível de ansiedade resulta em uma queda na qualidade de vida, levando-o a desmotivação, além de modificar a forma como o indivíduo interage no seu processo educacional, já que as condições psicológicas são determinantes para o processo de aprendizagem (BRITO; FERREIRA, 2019). Para estudantes que estão realizando os cursos técnicos integrados ao ensino médio, Soares (2020) comenta que há fatores que acabam contribuindo para transtornos de ansiedade, principalmente no primeiro e último ano, em que os estudantes lidam com vários fatores antigênicos e estressantes como provas, currículo com um número excessivo de disciplinas, conteúdo denso, estudo em tempo integral, dificuldades de adaptação devido à mudança de cidade para estudar, pressões em relação ao bom desempenho escolar por parte da família, além de terem que lidar com as mudanças físicas, sociais e psicológicas típicas da adolescência. Isso pode ocorrer, segundo Bessa (2021), pelo fato dos cursos técnicos e profissionalizantes integrados ao Ensino Médio exigirem dos estudantes maior responsabilidade dentro da escola, na sociedade e no mercado de trabalho. Dessa forma, Nascimento (2022) comenta que estudantes adolescentes estão propícios aos transtornos de ansiedade por inúmeros fatores, desde questões socioculturais, financeiras, como também familiares, interferindo não apenas no seu rendimento escolar, mas na sua qualidade de vida, já que nem sempre são diagnosticados e recebem tratamento.
Numa perspectiva geral, Silveira et al. (2019) comentam que os adolescentes que cursam o ensino médio, principalmente os dos cursos técnicos integrados ao ensino médio, estão apresentando grandes níveis de ansiedade, desestabilizando a concentração e a memória, trazendo dificuldades e insucesso escolar. Nessa mesma linha de pensamento, Dutra (2021) comenta que uma escola de nível médio profissionalizante possui uma grade curricular e uma carga horária semanal passíveis de desencadear sintomas de ansiedade nos jovens estudantes, principalmente das instituições públicas, tendo em vista que muitos são de famílias de baixa renda e tem que conciliar os estudos com trabalho. Gadelha (2019) comenta que vícios, cobrança de professores, hábitos individuais e responsabilidades que o estudante cumpre, alteram o desempenho escolar, pois alteram a capacidade de raciocínio, memorização e interesse do indivíduo em relação ao processo evolutivo da aprendizagem.
A preocupação com a saúde mental dos estudantes vem aumentando, principalmente entre os jovens, visto que se trata de um segmento que está mais suscetível aos transtornos mentais e de ansiedade. Por esse motivo, Martins e Cunha (2021) comentam que o ambiente escolar, comum à grande parte do público juvenil, tem se tornado fonte de observação no que se refere à saúde mental, já que é um meio onde as falhas adaptativas causadas pelos transtornos mentais geralmente são mais evidentes.
A ansiedade passa a interferir não só o desempenho escolar do estudante, mas sua qualidade de vida, pois esses transtornos podem trazer comportamentos como agressividade, irritabilidade e tendência ao isolamento, prejudicando o rendimento escolar, bem como contribuindo para as ausências às aulas e para a evasão escolar (MARTINS; CUNHA, 2021). A própria escola, em alguns casos, acaba gerando no aluno níveis mais elevados de ansiedade a tal ponto de se tornar uma patologia, com situações mal conduzidas. Ferreira et al. (2018) explica que a situação que mais deflagram essas reações está associada com as avaliações: “[…] as manifestações decorrentes dessa perturbação podem surgir no momento crucial de uma prova, um dia ou uma semana antes, ou desde o momento em que se sabe da necessidade de realizá-la”. Para Sousa (2020), situações em que o estudante manifesta a ansiedade pode ser tanto a nível cognitivo, como pensamentos recorrentes de incapacidade, como por meio de somatização, como dores de barriga ou de cabeça, ideia que corrobora com o pensamento de Carneiro Flor et al. (2022):
… a ansiedade só pode ser considerada patológica, quando a intensidade, duração e frequência estão aumentadas e associadas ao prejuízo no desempenho social, educacional ou profissional do indivíduo. É necessária uma avaliação para verificar o diferencial entre preocupações, medos e timidez apropriados ao desenvolvimento normal com um diagnóstico de transtorno de ansiedade que deve ser feito, levando em conta o quanto de prejuízo que tais sintomas causam no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes na vida dos adolescentes. (Carneiro Flôr et al., págs. 7 e 8, 2022)
Numa perspectiva geral, os estudantes com transtornos de ansiedade, geralmente, apresentam dificuldade para se concentrar nas aulas e assimilar os conteúdos ministrados pelo professor, o que acarreta uma aprendizagem pouco satisfatória. Somado a isso, ainda pode se ter os sentimentos negativos, estes podem tomar conta dos pensamentos dessa pessoa, dificultando seu foco no aprendizado (NORONHA, 2021). Sendo assim, fica evidente as consequências negativas geradas pela ansiedade, estando intimamente ligada ao desempenho no processo de formação e na realização das atividades. Gadelha (2019) complementa essa linha de pensamento, ao comentar que no transtorno de ansiedade, há um excessivo estado de excitação, com sentimentos de medo, incerteza ou apreensão, sendo o problema mais comum de saúde mental entre os estudantes.
Conforme a pesquisa realizada por Bittencourt (2018), os níveis mais altos de sintomas ansiosos ocorrem entre o sexo feminino, com 66,4% entre as mulheres e 33,6% nos homens. Em estudo realizado em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou que o universo feminino é o mais afetado: 3,6% dos homens apresentam o problema, enquanto no caso das mulheres o número dobra, chegando a 7,7%. Entre adolescentes, um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP, 2018), apontou que 10% de todas as crianças e adolescentes terão problemas com algum tipo de transtorno de ansiedade, sendo divulgado ainda números alarmantes dos distúrbios referentes à ansiedade, que já atingem 9,3% da população brasileira., que de acordo com os dados do censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022 correspondem a aproximadamente 18,91 milhões de pessoas, mesmo sendo um problema cada vez mais recorrente na sociedade atual, deve-se enfatizar que a ansiedade pode ser controlada para que não venha trazer consequências negativas para a vida do indivíduo. Entretanto, Noronha (2021) explica a importância de se buscar um profissional para fazer a avaliação corretamente, tendo em vista os transtornos trazem semelhanças. A respeito disso, Sousa (2020) comenta que é preciso fazer um diferencial entre preocupações, medos e timidez apropriados ao desenvolvimento normal com um diagnóstico de transtorno de ansiedade que deve ser feito levando em conta o quanto de prejuízo que tais sintomas causam no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes na vida do indivíduo.
Esse diagnóstico do transtorno de ansiedade, segundo Martins e Cunha (2021), deve levar em consideração a extensão do sofrimento e do comprometimento dos sintomas nas esferas social e ocupacional da pessoa, pois caso contrário, Grolli (2017) reforça que as consequências podem acompanhar o indivíduo ao longo de sua vida. No que concerne aos estudantes, as escolas devem aprofundar as investigações acerca deste fenômeno, buscando se estabelecer estratégias de enfrentamento e métodos de intervenção efetivos, conforme alguns projetos de Lei, conforme menciona Brandão (2022), que fala sobre a Política Nacional de Atenção Psicossocial nas Comunidades Escolares, com propostas que prevê ações do Poder Público que garantam a oferta de serviços de atenção psicossocial para a comunidade
escolar. Instala-se, nesse sentido, o desafio de as instituições educacionais pensarem em iniciativas e intervenções, principalmente psicopedagógicas, que visem minimizar os impactos negativos sobre a saúde mental de seus estudantes (MARTINS; CUNHA, 2021). Para que isso seja enfrentado, cada estudante deve buscar e receber ajuda de forma que consiga combater a ansiedade e, com isso, melhorar seu bem-estar no ambiente escolar (FERREIRA, et al. 2018).
3. METODOLOGIA
Apresenta-se aqui a metodologia utilizada em relação aos procedimentos técnicos para a coleta de dados, que segundo Marconi e Lakatos (2000, p.33) “depende dos vários fatores relacionados com a pesquisa, ou seja, a natureza dos fenômenos, o objeto da pesquisa, os recursos financeiros, a equipe humana e outros elementos que possam surgir no campo da investigação”.
3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA
A pesquisa foi classificada como bibliográfica, considerando a necessidade do levantamento de obras já publicadas que tratam a respeito da ansiedade, desde conceitos, bem como as fases, sintomas e fatores que contribuem para o surgimento desse transtorno. Nesse sentido, Appolinário (2011) comenta que esse tipo de pesquisa consiste na análise de documentos e obras já publicadas, não apenas em livros impressos, mas atualmente têm-se utilizado bastante fontes disponibilizadas em ambientes virtuais, de modo que tem como objetivo a revisão de literatura de um dado tema ou determinado contexto teórico.
Com isso, o processo de busca se deu em arquivos digitais publicados nas seguintes bases de dados: Portal de Periódicos da Google Acadêmico, Capes, SCIELO, por se tratar das principais bibliotecas virtuais que disponibilizam gratuitamente um grande acervo de obras digitais e simplicidade no processo de busca, que ocorreu dentro do lapso temporal entre os anos de 2019 a 2023, delimitando assim estudos mais recentes sobre o tema, não extrapolando o período de 05 anos, utilizando como palavras-chave: Saúde Mental. Ansiedade. Qualidade de Vida Estudantil. A pesquisa se classifica ainda como um estudo de caso, considerando que nas palavras de Goode e Hatt (1975), o estudo de caso permite investigar, em profundidade, o desenvolvimento, as características e demais aspectos constitutivos de qualquer unidade social: um indivíduo; um núcleo familiar; um grupo social; uma empresa pública ou particular etc. Oliveira (2002, p. 50) destaca a competência do estudo de caso enquanto método suficiente para identificar e analisar as múltiplas ocorrências de um mesmo fenômeno, em vários casos.
Portanto, essa observação vai ao encontro do objetivo desta pesquisa, que busca identificar a gravidade da ansiedade entre os estudantes dos cursos técnicos integrado ao ensino médio de uma instituição de ensino no município de Boa Vista/RR, o Instituto Federal de Roraima, considerando as vantagens do estudo de caso, conforme afirma Gil (2010), a) sua capacidade de estimular novas descobertas, em virtude da flexibilidade do planejamento e da própria técnica; b) a possibilidade de visualização do todo, de suas múltiplas facetas; e c) a simplicidade de aplicação dos procedimentos, desde a coleta até a análise de dados.
3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA
A população desta pesquisa foram os estudantes de nacionalidade brasileira, não indígenas, dos cursos técnicos integrados ao ensino médio do IFRR, campus Boa Vista, que estejam regularmente matriculados no ano de 2023.1, do curso de Eletrônica do 2º ano e do 3º ano, respectivamente com 29 e 21 alunos. A participação dos estudantes se deu de forma voluntária, de modo que antes da aplicação do instrumento, eles foram informados sobre a natureza da pesquisa e seus métodos e, após eventuais esclarecimentos de dúvidas dos participantes, se fez necessário ter o termo de assentimento dos pais e o assentimento da instituição assinado.
A amostragem correspondeu aos estudantes adolescentes dentro da faixa etária de 15 a 17 anos. A escolha dessa população foi proposicional, considerando que a adolescência é uma fase de transformação do indivíduo, tanto físicas, emocionais, como sociais, causando diversas inseguranças e expectativas, aumentando assim a possibilidade de apresentar o transtorno de ansiedade. Segundo Rego (2021), os adolescentes são um grupo vulnerável e apresentam com grande frequência, medo, insegurança e preocupação, além de ser uma fase da vida em que se desenvolve um conjunto de mudanças evolutivas na maturação física e biológica, ajustamento psicológico e social.
Portanto, participaram dessa pesquisa os estudantes de 15 a 17 anos que estavam regularmente matriculados no curso técnico em eletrônica, integrado ao ensino médio do IFRR, campus Boa Vista do 2º e 3º ano. Todas as informações obtidas com esta pesquisa estão protegidas através das questões éticas e de privacidade, preservando a identidade dos sujeitos, além da necessidade de ser assinado com antecedência, o termo de assentimento dos pais, tendo em vista que o público-alvo são menores de idade. Os estudantes foram comunicados sobre a proposta e objetivos da pesquisa em sala de aula, onde a participação foi voluntária. Sendo a pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética de Pesquisa em Seres Humanos (CEP), por meio do número CAAE:69166623.8.0000.5621 constante no Anexo C.
3.3 CRITÉRIO DE INCLUSÃO
Participaram da pesquisa, os alunos do curso técnico em eletrônica, integrado ao ensino médio do Instituto Federal de Roraima (IFRR), Campus Boa Vista, do segundo e terceiro ano, com idade entre 15 e 17 anos, que estavam regularmente matriculados no Instituto Federal de Roraima – Campus Boa Vista.
3.4 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS
O instrumento utilizado foi a Escala Beck (BAI), também conhecida como Inventário Beck de Ansiedade ou Escala de Ansiedade de Beck. Foi originalmente desenvolvido por Beck, Epstein, Brown e Steer, em 1988 e adaptado por Jurema Alcides Cunha em 2001, apresenta bons coeficientes de fidedignidade e validade. A Escala de Ansiedade de Beck é constituída por 21 itens, que são afirmações descritivas de sintomas de ansiedade. Tais afirmações foram consideradas pelos estudantes dos cursos técnicos integrados ao ensino médio do IFRR, campus Boa Vista, em relação a si mesmo, utilizando uma escala Likert de quatro pontos. As opções de respostas se correlacionam aos seguintes níveis crescentes de gravidade: 0 = Absolutamente não; 1 = Levemente: não me incomodou muito; 2 = Moderadamente: foi muito desagradável, mas pude suportar; e, 3 = Gravemente: dificilmente pude suportar.
A escolha do instrumento foi escolhida cuidadosamente, pois conforme Vanzeler (2020), o diagnóstico correto do transtorno de ansiedade, tanto em função da gravidade quanto das comorbidades, deve gerar expectativa de um bom prognóstico, fornecendo informações adequadas sobre o grau da ansiedade, curso e prevalência, para que se tenha embasamento de oferecer possibilidades de tratamento. Nesse ínterim, o instrumento consistiu em um inventário que mediu a intensidade da ansiedade entre os estudantes do curso técnico em eletrônica integrado ao ensino médio do Instituto Federal de Roraima (IFRR), Campus Boa Vista, do segundo e terceiro ano. Também se realizou a identificação sociodemográfica, que foi especialmente desenvolvida para esse estudo. As características pessoais são importantes determinantes dos níveis de ansiedade experimentados por uma pessoa, pois tal como afirma Costa et al. (2019, p. 24), “não são propriamente os estressores que determinam se o impacto será grande ou pequeno, mas sim a vulnerabilidade individual às pressões que, por sua vez, encontra-se atrelada à estrutura psicofísica de cada um”. Com isso, a pesquisa se embasou na Resolução nº 510/16 que versa sobre as normas aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais.
A coleta de dados com os participantes deste estudo foi conduzida em três fases distintas, cada uma delas desempenhando um papel crucial na análise abrangente dos níveis de ansiedade. O primeiro estágio compreendeu a aplicação da Escala de Ansiedade de Beck (Apêndice A), uma ferramenta reconhecida para aferir os níveis individuais de ansiedade entre os participantes. Em seguida, foram implementadas as dinâmicas e atividades delineadas na cartilha, cuidadosamente elaborada com base nos resultados obtidos na etapa anterior, visando oferecer estratégias educacionais eficazes. Por fim, realizou-se a avaliação do produto educacional desenvolvido, utilizando um questionário detalhado, o qual está disponível no Apêndice B do presente estudo. Essa abordagem em múltiplas etapas permitiu uma análise mais aprofundada dos efeitos e eficácia do produto educacional proposto.
3.5 TRATAMENTO DE DADOS
A utilização da Escala de Ansiedade de Beck é constituída por 21 itens, e para cada item o estudante deverá responder como se sente, em que as enumerações de 0 até 3 representam a intensidade que sentem, possibilitando ao final um score 5 que permitirá saber qual nível de ansiedade, tal como representa o quadro 01:
Quadro 01: representação da pontuação de acordo com a gravidade da ansiedade
Conforme demonstra o quadro 01, a escala consiste em 21 itens onde o estudante respondeu a pontos que questionaram como ele se sentia, exemplo, se apresentava tremores nas mãos, dificuldade de respirar, dentre outros que são apresentados no Apêndice A, de modo que para cada questão existem quatro possíveis respostas (0, 1, 2 ou 3), devendo representar a que se assemelhava mais com o estado mental do indivíduo. Com os itens respondidos, realizou-se a somatória, possibilitando assim obter o score total e assim identificar o nível de ansiedade do estudante.
Os dados coletados foram submetidos a um minucioso processo de análise, possibilitando a visualização clara e detalhada do panorama da pesquisa. Por meio dessa abordagem, foi possível identificar a distribuição e a representatividade de cada resposta fornecida pelos participantes em relação aos itens avaliados.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O estudo em questão, expôs a natureza complexa da ansiedade, fenômeno na esfera da saúde mental, evidenciando suas múltiplas manifestações e os impactos adversos que pode exercer sobre os indivíduos. De acordo com Soares, Monteiro e Santos (2020) a ansiedade, embora seja uma reação natural do ser humano, assume uma relevância preocupante quando ultrapassa os limites do normal, interferindo de maneira negativa na qualidade de vida das pessoas.
Ao longo desta pesquisa, constatou-se que a ansiedade, quando se intensifica, pode transformar-se em um transtorno prejudicial à saúde mental, afetando não apenas a esfera individual, mas também influenciando o desempenho acadêmico, sobretudo entre os estudantes, corroborando com o pensamento de Grolli, Wagner e Dalbosco (2017), em seu estudo sobre sintomas depressivos e de ansiedade em adolescentes do ensino médio.
Após a análise dos dados, os resultados alcançados correspondem diretamente ao objetivo específico proposto nesta dissertação. Essa etapa envolveu uma análise descritiva detalhada, na qual foram examinados os percentuais relativos a cada item respondido pelos participantes.
Ao realizar essa análise descritiva, destacou-se a relevância de cada item na percepção e nas respostas dos participantes. Tal procedimento permitiu uma compreensão mais aprofundada e detalhada do contexto investigado, fornecendo feedbacks valiosos sobre as tendências, padrões e preferências presentes nos dados coletados.
Os níveis detalhados de ansiedade de acordo com as respostas dos alunos do segundo ano do ensino médio, encontram-se dispostos logo abaixo, no gráfico 01.
Gráfico 01: Representação do nível de ansiedade dos escolares do curso técnico em eletrônica integrado ao ensino médio do IFRR, Campus Boa Vista, do segundo ano.
Fonte: O autor, 2023.
O gráfico 01 faz uma representação do perfil de ansiedade que os escolares se encontravam no momento da aplicação do questionário. Observou-se, portanto, que um quantitativo de 19% do público apresentou grau mínimo de ansiedade e 5% de ansiedade leve, mostrando que cerca de 24% dos alunos encontravam-se em um nível baixo de ansiedade. Por outro lado, temos indícios que de a ansiedade moderada e grave estão em um patamar bastante preocupante, já que juntas elas somam cerca de 76% isso caracteriza um índice elevado e fora do padrão de normalidade desses escolares, em acordo com o pensamento de Carneiro Flôr et al. (2022) de que estes índices elevados podem acarretar em vários sintomas, tais como: dormência ou formigamento; sensação de calor; tremores nas pernas; incapacidade de relaxar; medo que aconteça o pior; ficar atordoado ou tonto; palpitações/aceleração do coração; falta de equilíbrio; sentimento de terror; nervosismo; sensação de sufocamento; tremores involuntários; medo de perder o controle; dificuldade de respirar; medo de morrer; assustado; indigestão ou desconforto abdominal; sensação de desmaio; rosto afogueado e suor (não devido ao calor), dentre outros sintomas.
No gráfico 02, que vem a seguir, estão representados os níveis de ansiedade entre os estudantes do terceiro ano do curso técnico em eletrônica integrado ao ensino médio do IFRR, Campus Boa Vista.
Gráfico 02: Representação do nível de ansiedade do curso técnico em eletrônica integrado ao ensino médio do IFRR, Campus Boa Vista, do terceiro ano.
Fonte: O autor, 2023.
O gráfico 02, caracterizado pelos alunos do terceiro ano do ensino médio do curso técnico em eletrônica do Instituto Federal de Roraima, campus Boa Vista, tiveram os seguintes resultados: 14% do público apresentou grau de ansiedade mínima e 24% ansiedade leve, mostrando que cerca 38% dos alunos encontram-se em um nível baixo de ansiedade. Em contrapartida, temos indícios de que a ansiedade moderada e grave também apresentava um patamar bastante preocupante, já que juntas elas somavam cerca de 62%. Abrindo também um alerta na escala de avaliação da ansiedade.
É importante se atentar, que, embora a ansiedade seja natural e faça parte da gama de emoções humanas, pode variar significativamente em intensidade e frequência, especialmente durante a adolescência. Por se tratar de um período de transição e transformação, as manifestações de ansiedade podem ser particularmente desafiadoras e impactantes. Corroborando com o entendimento de Petersen (2011):
Embora a ansiedade seja uma emoção dentre tantas outras vivenciadas pelos indivíduos, sua intensidade e frequência poderão variar conforme o período de vida em que a pessoa se encontra. Sendo a adolescência uma fase complexa, muitas vezes o indivíduo pode manifestar mudanças no humor e dificuldades de ordem emocional que se não trabalhadas podem estar associadas ao desenvolvimento de outras psicopatologias na vida adulta, como a depressão, transtornos de ansiedade, uso de substâncias psicoativas e desajustamento escolar ou social. (PETERSEN, 2011, p. 41).
Já o gráfico 03 traz o comparativo entre os alunos do 2º e 3º ano, e como os níveis de ansiedade se manifestam em cada grupo.
Gráfico 03: Comparação entre os grupos do curso técnico em eletrônica integrado ao ensino médio do IFRR, Campus Boa Vista, do segundo e terceiro.
Fonte: O autor, 2023.
O gráfico 03 mostrou diferenças significativas entre o segundo e o terceiro ano em relação aos níveis e graus de ansiedade. Observando a relação do Grau Mínimo de ansiedade, pode-se verificar que a variação percentual (delta de percentual – ∆%) ou seja, a diferença é significativa de ∆ % – 26 %, já a Ansiedade Leve teve sua variação do delta de percentual de ∆% – 380, aumentando seu quantitativo expressivamente, revelando uma diferença bem significativa através do delta de percentual (∆%). Na Ansiedade Moderada, foi elucidado um aumento de ∆% – 47%, realçando que os alunos possuíam elevação na classificação do moderado e em contrapartida a diminuição da Ansiedade Grave diminuída em relação ao segundo ano, isso revela uma diminuição expressiva para a ansiedade dos escolares de ∆% de – 40 %. Os gráficos apresentados acima são uma representação da fase inicial da pesquisa, na qual foi administrado o instrumento de avaliação dos níveis de ansiedade entre os estudantes, a Escala de Ansiedade de Beck (Apêndice A). Posteriormente, foram realizadas as atividades propostas na cartilha, a qual surgiu como um Produto Educacional a partir da análise dos dados obtidos na primeira etapa. Na fase subsequente, observada nos gráficos de 04 a 11 a seguir, foram registrados os resultados após a aplicação deste Produto. Isso foi conduzido por meio de um questionário específico, detalhado no Apêndice B deste estudo.
A seguir estão representados os gráficos com os resultados apresentados de acordo com as respostas dos alunos, após as aplicações dos instrumentos de avaliação. O gráfico 04, elucida os resultados de como os alunos avaliaram as atividades realizadas, voltadas para o entendimento dos sintomas e causas que levam à ansiedade.
Gráfico 04: Como você avalia a eficácia das atividades propostas em melhorar sua compreensão sobre os sintomas e causas da ansiedade?
Fonte: O autor, 2023.
As respostas encontradas no gráfico 04, mostraram que 80% dos discentes consideraram excelentes as propostas apresentadas no Produto Educacional, que puderam esclarecer e melhorar sua compreensão em relação às causas e sintomas relacionados à ansiedade. Comprovando que as ações desenvolvidas trouxeram melhorias significativas no andamento escolar dos participantes.
O gráfico 05, logo abaixo, expressa como os participantes autoavaliaram o seu nível de ansiedade após a aplicação do produto.
Gráfico 05: Após a sua participação nas atividades propostas, como você classificaria o nível de ansiedade que você sente agora?3
Fonte: O autor, 2023.
As respostas expressas no Gráfico 5, revelaram que 55% dos participantes relataram não possuir nenhum sintoma de ansiedade após a participação nas atividades propostas no produto educacional. O que comprova o êxito do produto juntamente aos conteúdos, técnicas e demais procedimentos nele implementados. Nos demais, 28% afirmaram apresentar um nível de ansiedade leve e 18% classificaram como moderado.
O sexto gráfico, mostra de acordo com as respostas dos participantes, como a cartilha apresentada ajudou na diminuição dos sintomas de ansiedade que eles apresentavam.
Gráfico 06: O quanto a cartilha contribuiu para o alívio dos seus sintomas de ansiedade?
Fonte: O autor, 2023.
Na questão da contribuição da cartilha para melhoria e alívio dos sintomas da ansiedade tivemos os seguintes resultados: 78% dos alunos manifestaram que a cartilha contribuiu consideravelmente para o alívio dos sintomas em questão, outros 11% afirmaram ter contribuído bastante. 8% classificaram como bom e 3% como pouco eficaz. Os resultados corroboram a eficácia potencial da cartilha como um recurso valioso no apoio à redução dos sintomas de ansiedade entre os alunos. Esta constatação não apenas valida a relevância da cartilha como uma ferramenta promissora no enfrentamento da ansiedade, mas também sugere sua capacidade de ser incorporada de maneira efetiva em ambientes educacionais para oferecer suporte emocional e psicológico aos estudantes.
Gráfico 07: Quais técnicas ou estratégias das atividades propostas você achou mais útil para lidar com a ansiedade?
Fonte: O autor, 2023.
O gráfico 07, mostrou que 40% dos alunos relataram “Círculo de Gratidão e Mindfulness”, 27% “Exercício de Escrita Terapêutica”, 15% “Círculo de Apoio para a Ansiedade”, 11 % “O Barco da Ansiedade” e 7% “História Coletiva de na Superação de Desafios”. O que revela que diferentes estratégias propostas para lidar com a ansiedade foram recebidas de maneira variada pelos alunos. Sendo importante oferecer diferentes técnicas para manejar a ansiedade, reconhecendo que as preferências individuais e a eficácia podem variar. É fundamental adaptar abordagens diversas para atender às necessidades individuais dos alunos.
Conforme o gráfico 08, que revelam um percentual elevado de participantes que consideram que as atividades impactam positivamente na forma que lidam com as situações estressantes.
Gráfico 08: Você acredita que as atividades propostas tiveram impacto positivo em sua capacidade de lidar com situações estressantes?
Fonte: O autor, 2023.
O Gráfico 08 está relacionado à capacidade dos alunos em lidar com situações estressantes depois da aplicação do produto educacional. 86% dos estudantes acreditam que as atividades propostas trouxeram sim impactos positivos em lidar com o estresse no dia-dia. 11% expressaram não ter trazido impacto algum no dia-dia e 3% não foram capazes de opinar. A alta porcentagem de alunos que relataram impactos positivos indica que as atividades propostas na cartilha foram percebidas como úteis e relevantes para o enfrentamento do estresse diário. Isso pode indicar que as estratégias abordadas foram efetivas na promoção de habilidades de gerenciamento de estresse, fornecendo aos alunos ferramentas práticas e aplicáveis para lidar com situações desafiadoras.
De acordo com o gráfico a seguir, a maioria dos estudantes recomendariam as técnicas e dinâmicas abordadas para outros alunos que também enfrentam problemas relacionados à saúde mental e ansiedade.
Gráfico 09: Você recomendaria essas dinâmicas trabalhadas para outros alunos do ensino médio que enfrentam problemas de ansiedade?
Fonte: O autor, 2023.
No gráfico acima a questão foi se os alunos recomendariam as dinâmicas trabalhadas para outros alunos do ensino médio que enfrentavam problemas de ansiedade. 86% assinalou que consideravelmente recomendariam as dinâmicas para outros estudantes, 12% assinalou bastante e 2% moderadamente, o que dá uma excelente orientação sobre a importância desse instrumento norteador da ansiedade. A alta porcentagem de alunos que demonstram uma pré disposição positiva em compartilhar essas dinâmicas com outros estudantes reflete a confiança e a percepção positiva sobre a utilidade e eficácia das estratégias propostas. Sugerindo que eles identificaram benefícios significativos ao lidar com a ansiedade e acreditam que essas atividades podem ser benéficas para outros colegas que enfrentam desafios semelhantes, sendo de extrema importância na promoção da saúde mental e no suporte emocional dentro do ambiente escolar.
O gráfico 10, pondera sobre o percentual de melhora na qualidade do sono dos participantes, após a realização das atividades propostas.
Gráfico 10: Você nota uma melhora na qualidade do seu sono depois da sua participação nas atividades e dinâmicas propostas?
Fonte: O autor, 2023.
O gráfico 10 verificou se os participantes notaram uma melhora na qualidade do seu sono após a participação nas atividades e dinâmicas propostas do produto. Diante da pergunta, 64% afirmaram terem notado uma melhora significativa na qualidade do sono após a participação das atividades propostas. 30% afirmaram ter tido melhora moderada e 6% não foram capazes de opinar. Os resultados apontam de maneira geral para uma percepção positiva dos participantes em relação à melhoria da qualidade do sono após a participação nas atividades propostas. A constatação de que uma parcela significativa dos participantes observou melhorias substanciais destaca o potencial impacto positivo dessas estratégias na promoção de hábitos saudáveis de sono e na melhoria do bem-estar dos indivíduos envolvidos.
No último gráfico, que vem a seguir, revela em números percentuais como as atitudes dos alunos mudaram na escola após participarem das atividades.
Gráfico 11: Sua atitude em relação à escola e ao aprendizado mudou após sua participação nas atividades e dinâmicas propostas?
Fonte: O autor, 2023.
O gráfico 11, mostra as respostas relacionadas à atitude dos escolares em relação ao aprendizado após as atividades e dinâmicas propostas posterior a aplicação do produto. 76% dos participantes assinalaram ter havido uma significativa mudança em relação às atitudes escolares. 16% afirmaram que suas atitudes mudaram bastante e 8% acreditaram ter mudado um pouco suas atitudes em relação à escola. A interpretação desses dados sugere que as atividades propostas foram eficazes na promoção de mudanças positivas nas atitudes dos alunos em relação à escola e ao aprendizado. A expressiva maioria dos participantes destacou uma mudança significativa, indicando que as dinâmicas implementadas foram bem-sucedidas em estimular uma postura mais positiva e engajada em relação ao ambiente educacional. Esses resultados apresentam evidências consistentes de que o Produto Educacional aplicado foi bem-sucedido em sua proposta de abordar a ansiedade entre os alunos do ensino médio, oferecendo ferramentas eficazes para melhorar o entendimento, reduzir sintomas, promover habilidades de enfrentamento e influenciar positivamente várias esferas da vida escolar e pessoal dos participantes.
O produto educacional consiste, então, em um instrumento psicológico, contribuindo com o processo de informações e entendimento da atual situação de ansiedade e avaliação dos adolescentes matriculados no ensino médio integrado, e que poderá ser o ponto de partida para o manejo de demandas relacionadas às melhorias educacionais e práticas de ensino e estudos no ensino médio integrado, voltadas para a saúde mental, por profissionais que atuam nos ambientes escolares.
5. PRODUTO EDUCACIONAL
5.1 DESCRIÇÃO DO PRODUTO EDUCACIONAL
O produto Educacional produzido é uma cartilha de orientação que poderá ser utilizada pelos profissionais da educação dos cursos ofertados nos cursos técnicos integrados ao ensino médio do IFRR, campus Boa Vista. A cartilha foi confeccionada a partir das informações obtidas pelos estudantes utilizando um instrumento da Escala de Ansiedade de Beck que permite identificar o transtorno de ansiedade. Com a identificação desses estudantes, foi desenvolvida uma cartilha com propostas de intervenção que visam atender as demandas apresentadas. Nessa premissa, a identificação ocorrerá por meio da Escala de Ansiedade de Beck, que se refere a uma escala de autorrelato que mede a intensidade dos sintomas da ansiedade, onde os testes de fidedignidade (confiabilidade) demonstraram excelente replicabilidade e consistência dos escores. A sua validade também se mostrou satisfatória ao serem consideradas as relações observadas entre os escores e os atributos reais que o teste estava mensurando (ANDRADE, 2020).
5.2 FORMATO
A cartilha foi disponibilizada em formato impresso, assim como digital, juntamente com a Escala de Ansiedade de Beck.
5.3 OBJETIVO
Após a identificação e análise dos distintos níveis de ansiedade entre os alunos, foi desenvolvido o produto educacional em questão para abordar e auxiliar no manejo da ansiedade, que consiste em uma cartilha elaborada com informações, estratégias e técnicas direcionadas para que os estudantes possam lidar de forma mais eficaz com os desafios relacionados à ansiedade. O propósito principal dessa cartilha é não apenas promover um ambiente escolar mais equilibrado e estável, mas também contribuir ativamente para a formação integral dos alunos. Tendo em vista que o cuidado com a saúde mental é um elemento fundamental para o desenvolvimento pleno, acadêmico e pessoal dos estudantes.
É importante ressaltar que esse recurso educacional, desenvolvido de maneira específica para atender às necessidades identificadas, pode ser integrado e complementado por outras práticas educativas e pedagógicas adotadas pelos profissionais de educação. Dessa forma, busca-se potencializar os resultados positivos no manejo da ansiedade e na promoção do bem estar dos estudantes, não somente no ambiente escolar, mas também em suas vidas cotidianas.
5.4 CONTEÚDO
Os conteúdos abordados compreendem tanto as esferas físicas quanto psicológicas, que permitem a identificação dos níveis de ansiedade entre os estudantes. Possibilitando uma reflexão mais abrangente sobre os aspectos cognitivos associados à ansiedade.
A cartilha apresenta conceitos de ansiedade, fundamentados tanto pela Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto pela psicologia, proporcionando uma compreensão mais clara e concisa sobre quando a ansiedade se torna prejudicial. Além disso, oferece orientações gerais, incluindo a importância da aceitação, estímulo para manter rotinas saudáveis, evitar excessos e promover atividades físicas. Também oferece dicas sobre como identificar e lidar com os gatilhos de ansiedade, incentiva a busca por redes de apoio, entre outros aspectos relevantes.
Na cartilha, são detalhados os principais sintomas, sejam eles físicos ou psicológicos, juntamente com formas de lidar com esses sintomas. Ela também destaca algumas técnicas úteis para o manejo da ansiedade.
Adicionalmente, a cartilha inclui a Escala de Ansiedade de Beck, ferramenta que pode ser utilizada por profissionais da educação para avaliar os níveis de ansiedade entre os estudantes com os quais trabalham.
Por fim, são apresentadas dinâmicas destinadas não só aos profissionais de educação, mas também aos alunos, visando a redução dos níveis de ansiedade e o desenvolvimento de habilidades para lidar com ela, tanto no ambiente escolar quanto fora dele.
5.5 PRODUTO NA EPT
O produto educacional oriundo da avaliação dos níveis de ansiedade entre os estudantes após a aplicação da Escala de Ansiedade de Beck, corrobora com a abordagem da Educação Profissional e Tecnológica (EPT), indo além do mero ensino técnico para incorporar aspectos sociais e emocionais. Destinada a identificar e abordar transtornos de ansiedade entre os estudantes dos cursos técnicos integrados ao ensino médio, essa ferramenta elucida o compromisso da EPT em preparar os alunos de forma abrangente para o ambiente profissional e a vida em geral.
Ao enfatizar a Saúde Mental na Educação Técnica, especialmente ao focar na identificação e intervenção de transtornos mentais, como a ansiedade, dentro do contexto dos cursos técnicos integrados ao ensino médio, destaca-se a importância de considerar não apenas o desenvolvimento técnico, mas também a saúde mental dos estudantes. Na EPT, a formação profissional deve ser holística, incorporando a abordagem de aspectos emocionais e psicológicos para promover um desenvolvimento integral.
É relevante salientar que a elaboração deste Produto Educacional não se limita a identificar problemas, mas busca também, oferecer propostas de intervenção para atender às demandas identificadas. Além de apontar questões, seu foco principal reside em oferecer soluções práticas. Refletindo diretamente no pressuposto da EPT em não apenas identificar lacunas de conhecimento ou habilidades, mas também em fornecer um suporte efetivo na superação dos obstáculos enfrentados pelos alunos.
Essa cartilha, além de abordar a ansiedade, busca promover ações concretas que possam ser implementadas no ambiente escolar para melhorar o bem-estar mental dos estudantes. Representada nos pilares da EPT, demonstrando a preocupação e o compromisso com a saúde emocional dos alunos, além de contribuir para um ambiente educacional mais acolhedor e favorável ao aprendizado e crescimento pessoal.
5.6 ELABORAÇÃO DO PRODUTO
A primeira etapa da elaboração do produto, consistiu na pesquisa bibliográfica, que, por sua vez, desempenha um papel crucial na compreensão dos complexos fatores que influenciam o bem-estar emocional e o desempenho acadêmico dos alunos do ensino médio, especialmente no contexto da ansiedade. Buscando de maneira mais aprofundada em uma variedade de fontes, como artigos científicos, livros e estudos, essa pesquisa buscou identificar os gatilhos, sintomas e impactos causados pela ansiedade neste grupo específico de estudantes. A análise da literatura existente possibilitou a abordagem detalhada dos fatores que desencadeiam a ansiedade entre os alunos do ensino médio. Que podem ser os mais diversos possíveis, incluindo pressões acadêmicas, transições escolares, problemas de autoestima, relacionamentos interpessoais e influências socioeconômicas. Além disso, permitiu examinar estratégias de enfrentamento, intervenções ou programas que se mostraram eficazes na redução dos níveis de ansiedade e na promoção da saúde mental dos estudantes. Esta investigação foi crucial para orientar educadores, e profissionais que atuam no ambiente escolar, para a implementação de abordagens mais eficazes visando apoiar os alunos no manejo da ansiedade.
A segunda etapa da pesquisa compreendeu a aplicação presencial da “Escala de Ansiedade de Beck” entre os alunos matriculados nos 2º e 3º anos do curso Técnico de Eletrônica Integrado ao Ensino Médio do IFRR – Campus Boa Vista. Este questionário composto por 21 itens foi cuidadosamente administrado e preenchido pelos estudantes. A aplicação da “Escala de Ansiedade de Beck” proporciona insights valiosos sobre os níveis de ansiedade neste grupo específico, indicando a necessidade de intervenções e suporte emocional.
Na etapa seguinte as respostas foram minuciosamente analisadas para mensurar e identificar os níveis individuais de ansiedade de cada aluno participante, onde a maioria dos estudantes apresentaram níveis considerados elevados de ansiedade, o que enfatiza a importância de medidas para lidar com essa questão. Esta etapa forneceu uma base inicial de dados para dar continuidade à pesquisa.
Com base nos dados coletados, foi elaborado o Produto Educacional intitulado “CARTILHA DE ORIENTAÇÃO E PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO PARA O TRANSTORNO DE AN SIEDADE”. Este material, desenvolvido com informações relevantes da pesquisa, oferece orientações abrangentes sobre a ansiedade e estratégias para lidar com esse transtorno.
Após a elaboração do produto educacional, houve a aplicação efetiva deste material junto às turmas. Posteriormente, realizou-se uma avaliação detalhada com os alunos envolvidos em todas as etapas do processo. Esta avaliação teve como objetivo verificar a pertinência, eficácia, aderência à realidade vivenciada, clareza, compreensão e a efetividade das técnicas oferecidas para lidar com a ansiedade, entre outros aspectos relevantes. Essa fase conclusiva do estudo proporcionou insights valiosos sobre a eficácia do produto e suas contribuições para o bem estar dos alunos.
Após concluídas todas as etapas anteriores observou-se que é possível e extremamente necessário criar ambientes escolares mais inclusivos, acolhedores e propícios ao desenvolvimento integral dos estudantes do ensino médio, confirmando a linha de raciocínio de Martins e Cunha, 2021:
Nesse sentido, instala-se o desafio de as instituições educacionais pensarem em iniciativas e intervenções, principalmente pedagógicas, que visem minimizar os impactos negativos sobre a saúde mental de seus estudantes. Sabe-se, porém, que as responsabilidades dessas instituições são apenas parte de uma conjuntura maior, permanece ainda, dentre outros, o viés particular, subjetivo de cada estudante frente aos transtornos de ansiedade e da saúde mental como um todo. (Martins e Cunha, 2021, pág. 58)
5.7 APLICAÇÃO DO PRODUTO
O Produto Educacional foi concebido para ser inicialmente implementado entre os alunos do Ensino Médio Integrado no Campus Boa Vista do IFRR, por meio da orientação dos profissionais de educação, visando apoiá-los no manejo da ansiedade e na promoção da saúde mental dos adolescentes dentro do ambiente escolar. É importante destacar que esse produto pode ser adaptado e ampliado para atender outras unidades e comunidades onde se torne igualmente relevante e benéfico. A Escala de Ansiedade de Beck poderá́ ser aplicada em conjunto com o produto, onde após os estudantes responderem aos 21 itens, e depois de uma análise, permite uma mensuração dos níveis de ansiedade entre os escolares daquele ambiente. O Produto Educacional, após ter sido aplicado e validado pela banca com os ajustes necessários, será depositado no Repositório do IFRR, e será registrado como produto vinculado à dissertação de pesquisa em EPT.
5.8 AVALIAÇÃO DO PRODUTO
Na prática escolar, a Escala de Ansiedade de Beck pode ajudar os profissionais da educação e da saúde mental a identificar padrões específicos de pensamentos ansiosos, auxiliando o desenvolvimento de intervenções terapêuticas mais direcionadas e eficazes. Além disso, na pesquisa científica, a escala é um auxílio confiável para estudar a ansiedade em diversas populações e condições, contribuindo para avanços no entendimento e tratamento desse fenômeno complexo.
No entanto, é importante reconhecer que a escala não deve ser utilizada isoladamente, mas sim como parte de uma avaliação mais abrangente. Contextos culturais, individuais e outros fatores podem influenciar a experiência da ansiedade, e, portanto, a interpretação dos resultados deve ser cuidadosa e contextualizada. Em resumo, a Escala de Ansiedade de Beck é uma ferramenta valiosa e versátil, proporcionando uma abordagem estruturada e mensurável para a avaliação da ansiedade. Sua aplicabilidade abrange tanto o cenário clínico quanto o acadêmico, contribuindo para uma compreensão mais profunda desse aspecto fundamental da saúde mental.
O Produto Educacional criado para auxiliar no manejo da ansiedade no ambiente escolar demonstrou ser uma ferramenta valiosa e eficaz para lidar com os desafios enfrentados pelos alunos. A implementação desse recurso, como a cartilha desenvolvida, mostrou resultados positivos ao oferecer estratégias para gerenciar e reduzir a ansiedade entre os estudantes dos cursos técnicos integrados ao ensino médio. A maioria dos alunos evidenciou melhorias significativas após a aplicação das técnicas propostas, demonstrando a eficácia do produto na promoção do bem-estar mental e na qualidade de vida dos alunos.
Os resultados satisfatórios obtidos após a aplicação das técnicas propostas reforçam a necessidade e a eficácia de intervenções educacionais direcionadas à compreensão e enfrentamento da ansiedade no ambiente escolar. Essas abordagens são fundamentais não apenas para melhorar o desempenho acadêmico dos alunos, mas também para promover um ambiente escolar mais saudável e propício ao desenvolvimento integral dos estudantes.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa evidencia a urgência de políticas preventivas e ações voltadas à saúde mental dos estudantes, ressaltando a necessidade do suporte psicossocial dentro do ambiente escolar. Estratégias de intervenção, identificação precoce e acesso a profissionais qualificados são elementos cruciais para enfrentar a ansiedade, promovendo um ambiente educacional saudável e o bem-estar dos alunos.
Com base nos resultados, recomenda-se a realização de estudos longitudinais para acompanhar a evolução dos níveis de ansiedade ao longo do tempo e investigar intervenções específicas para promover a saúde mental no ambiente escolar. Ampliar a pesquisa para outros cursos e instituições também é essencial para comparar os níveis de ansiedade entre diferentes contextos acadêmicos e identificar fatores associados ao transtorno em diversos grupos de estudantes.
A pesquisa proposta emerge como um instrumento vital para compreender a prevalência e os níveis de ansiedade entre estudantes de cursos técnicos integrados ao ensino médio. Sua relevância reside não apenas na identificação dos níveis de ansiedade, mas também na possibilidade de implementação de medidas efetivas para melhorar a qualidade de vida e promover a saúde mental dos jovens, contribuindo para uma sociedade mais saudável e resiliente.
Após a análise minuciosa dos dados obtidos, confirma-se que a pesquisa atendeu ao objetivo de compreender e manejar a ansiedade neste grupo específico de alunos. Através dessa análise, foi possível verificar a preocupante situação dos níveis de ansiedade prévios à intervenção do Produto Educacional, já os resultados pós-intervenção demonstraram um impacto positivo significativo, com relatos expressivos de redução nos sintomas de ansiedade após a participação nas atividades propostas. A avaliação da eficácia das atividades revelou que a maioria dos alunos considerou as propostas excelentes, destacando o impacto positivo do material educacional no entendimento e na conscientização sobre a ansiedade.
Os resultados exitosos evidenciam que o Produto Educacional não apenas abordou eficazmente a ansiedade, mas também influenciou positivamente diversas esferas da vida dos alunos. Ao oferecer ferramentas práticas e estratégias adaptadas, a iniciativa promoveu um ambiente escolar mais equilibrado e propício ao crescimento pessoal e acadêmico.
Portanto, a pesquisa se mostrou uma intervenção valiosa, não só na identificação e compreensão dos níveis de ansiedade, mas também na promoção do bem-estar emocional e desenvolvimento integral dos estudantes no ambiente educacional. Sua realização contribui para fortalecer o desenvolvimento profissional dos envolvidos e traz reflexões sobre a articulação entre pesquisa e elaboração de produtos educacionais no contexto do Mestrado Profissional e da EPT.
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