NEUROPLASTICITY ASSOCIATED WITH AEROBIC PHYSICAL EXERCISES
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10127645
Beatriz Nunes Deseyvan Rodrigues1;
Ana Roberta de Sousa Araujo2;
Romeu Amaral Alves Lima do Vale3;
Eliziane das Chagas dos Santos Rios4.
RESUMO
A neuroplasticidade ou plasticidade neural é uma propriedade do Sistema Nervoso Central (SNC) de desenvolver alterações morfofisiológicas frente aos estímulos externos. A prática de exercício físico, especialmente aeróbica quando executada em intensidade moderada e frequente, apresenta-se como um fator neuromodulador do tecido nervoso, remodelando as estruturas cerebrais e gerando impactos positivos para a saúde cerebral, como o fortalecimento e aumento da cognição, neuroproteção contra patologias e melhora da qualidade de vida. Este estudo objetivou avaliar a influência do exercício aeróbico no processo de neuroplasticidade e de que forma este afeta a cognição humana. Dessa forma, por meio de uma revisão bibliográfica sistematizada, selecionou-se 26 artigos no PubMed, SciELO e Google Scholar através dos critérios de inclusão “publicações entre 2013 e 2023”, “revisões sistemáticas de literatura, ensaios clínicos randomizados, livros e teses de doutorado”, “textos completos” e “inglês e português”. Excluiu-se 78 trabalhos que não atendiam aos objetivos desta pesquisa, que estavam incompletos ou repetidos nas plataformas de busca. A partir disso, observou-se a correlação entre o exercício aeróbico, dentre as práticas de esforço físico, e a mudança na conformação do mapa cortical. Isto se deu pela liberação de neuromoduladores, como o Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro (BDNF), de neurotransmissores (GABA e dopamina), e de hormônios (cortisol), advindos das mudanças fisiológicas geradas pelo exercício físico. Conclui-se, portanto, que com base nos estudos atuais, o córtex cerebral busca acompanhar os estímulos dados a ele e que o exercício físico é uma peça-chave para a melhora cognitiva.
Descritores: Neuroplasticidade. Exercício físico aeróbico. Cognição. BDNF.
ABSTRACT
Neuroplasticity or neural plasticity is a property of the Central Nervous System (CNS) to develop morphophysiological changes in the face of external stimuli. The practice of physical exercise, especially aerobics when performed at moderate and frequent intensity, presents itself as a neuromodulating factor of nervous tissue, remodeling brain structures and generating positive impacts on brain health, such as strengthening and increasing cognition, neuroprotection against pathologies and improved quality of life. This study aimed to evaluate the influence of aerobic exercise on the neuroplasticity process and how it affects human cognition. Thus, through a systematic bibliographic review, 26 articles were selected from PubMed, SciELO and Google Scholar using the inclusion criteria “publications between 2013 and 2023”, “systematic literature reviews, randomized clinical trials, books and theses doctorate”, “complete texts” and “English and Portuguese”. 78 works were excluded that did not meet the objectives of this research, that were incomplete or repeated on search platforms. From this, a correlation was observed between aerobic exercise, among physical exertion practices, and the change in the conformation of the cortical map. This was due to the release of neuromodulators, such as Brain-Derived Neurotrophic Factor (BDNF), neurotransmitters (GABA and dopamine), and hormones (cortisol), arising from the physiological changes generated by physical exercise. It is concluded, therefore, that based on current studies, the cerebral cortex seeks to follow the stimuli given to it and that physical exercise is a key part of cognitive improvement.
Keywords: Neuroplasticity. Aerobic Physical Exercices. Cognition. BDNF.
1 INTRODUÇÃO
Durante o processo evolutivo, humanóides, como os Australopithecus, adaptaram-se ao estresse cardiovascular diante das situações de luta ou fuga, o que desencadeou tanto modificações nos músculos esqueléticos e cardíacos, quanto neuroanatômicas frente a esse novo acontecimento.
As alterações sofridas pelo tecido nervoso foram fundamentais para o contínuo recrutamento das áreas cerebrais para tais atividades posteriormente, via aprendizado e memória proporcionados pela cognição. Pode-se inferir que o exercício aeróbico funcionou como um fator estimulante para essa plasticidade cerebral. (VORKAPIC-FERREIRA et al., 2017).
A neuroplasticidade é a capacidade do tecido nervoso de se alterar em sua morfologia em resposta à experiência e como forma de adaptação a condições mutantes e estímulos repetidos. Por ela ocorre a proliferação de neurônios, síntese de fatores neurotróficos, gliogênese e sinaptogênese (SILVERTHORN, 2017).
O estudo acerca da relação entre exercício físico e neuroplasticidade é de fundamental impacto, visto que há potencialização dos sistemas musculoesquelético e da cognitivo (HÖTTING; RÖDER, 2013), se feito a longo prazo e constantemente. Saber os benefícios da atividade física e como isso se relaciona com a cognição traz conhecimento que ajudam na qualidade de vida e mudança de mentalidade da população.
A exemplo disso, outro estudo importante, de coorte transversal, mostrou que indivíduos praticantes de atividades físicas regulares obtinham maiores níveis acadêmicos e socioeconômicos devido o efeito da melhora cognitiva relacionada ao exercício físico (HÖTTING; RÖDER, 2013).
Logo, analisar tal fenômeno se faz imprescindível para entender a como esses fenômenos se relacionam. Partindo das informações reunidas durante as pesquisas nos artigos selecionados, e levando em consideração os resultados expostos por tais, a presente pesquisa apresentada reúne todos os dados no intuito de responder ao seguinte objetivo: avaliar o impacto do exercício físico na neuroplasticidade, bem como entender os benefícios e as modificações advindos dessa prática no corpo humano.
2 MATERIAL E MÉTODOS
Este é um estudo de caráter descritivo feito a partir de uma revisão sistemática, conduzido seguindo as diretrizes e recomendações contidas na declaração PRISMA 2020. Com base nisso, utilizou-se dos descritores em ciência de saúde (DeCS), a fim de eleger os trabalhos mais pertinentes a pesquisa, a saber: Neuroplasticity, neurogenesis, physical exercise, aerobic exercise and cognition, estes em inglês, bem como seus correspondentes em português.
Os critérios de inclusão para selecionar trabalhos pertinentes ao presente estudo foram: data de publicação (entre 2013 a 2023); tipo de artigo (revisões sistemáticas de literatura, ensaios clínicos randomizados, livros e teses de doutorado); textos completos; e de idioma inglês ou português. Os critérios de exclusão foram: artigos que divergiam do objetivo deste trabalho; estudos incompletos; e artigos iguais repetidos em base de dados diferentes.
Após a seleção inicial através dos critérios de inclusão e exclusão, pesquisou-se trabalhos nas plataformas PubMed, SciELO e Google Scholar, sendo feito, inicialmente, a leitura dos títulos e resumos. Posteriormente, os selecionados foram lidos na íntegra, com o intuito de retirar informações dos resultados e conclusões que embasassem a discussão deste estudo.
Dos 91 trabalhos encontrados em tais plataformas, dentro das quais se aplicou os critérios de inclusão e exclusão, 13 foram selecionados e 78 excluídos. Do PubMed foram obtidos 48 artigos, sendo selecionados apenas 9, dos quais 39 foram excluídos. Do SciELO encontrou-se apenas 5 artigos, em que todos foram excluídos, pois não preencheram os critérios de inclusão. Já do Google Scholar, obteve-se 38 resultados, em que 4 foram selecionados e 34 excluídos. Dessa forma sistemática, determinou-se 13 artigos selecionados e 78 excluídos.
Por se tratar de uma revisão bibliográfica, o presente estudo não necessita da aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), conforme a Resolução 466/12/CNS.
3 RESULTADOS
Formou-se um banco de dados reunidos de forma ordenada e direcionada, a fim de reunir e organizar informações pertinentes dos 13 artigos selecionados, que estavam de acordo com os critérios de inclusão. No Quadro 1 estão representados os documentos que obedeceram esses critérios e contém as seguintes informações: autor/ano, título do estudo, tipo do estudo e objetivos dos autores.
Quadro 1: Dados dos estudos selecionados para a pesquisa de acordo com autor/ano, título, método e objetivos dos trabalhos.
AUTOR/ANO | TÍTULO | MÉTODO | OBJETIVOS |
FERNANDES et al., 2020. | Effects of Physical Exercise on Neuroplasticity and Brain Function: A Systematic Review in Human and Animal Studies. | Estudo clínico randomizado. | Avaliar os efeitos de diferentes tipos de protocolos de atividade física nos componentes da neuroplasticidade e da função cerebral. |
FERNÁNDEZ-RODRÍGUEZ et al., 2021. | Immediate effect of high-intensity exercise on brain-derived neurotrophic factor in healthy young adults: A systematic review and meta-analysis. | Revisão sistemática de literatura. | Demonstrar como o exercício de alta intensidade pode causar aumento imediato nos níveis de BDNF comparado às outras modalidades de exercício. |
GHEYSEN et al., 2018. | Physical activity to improve cognition in older adults: can physical activity programs enriched with cognitive challenges enhance the effects? A systematic review and meta-analysis. | Revisão sistemática de literatura. | Associar a atividade física com exercícios cognitivos para promover ganhos maiores na neuroplasticidade e na redução do declínio cognitivo com a idade. |
HASAN et al., 2016. | Defining Optimal Aerobic Exercise Parameters to Affect Complex Motor and Cognitive Outcomes after Stroke: A Systematic Review and Synthesis. | Revisão sistemática de literatura. | Busca evidenciar que o exercício aeróbico aumenta marcadores da neuroplasticidade e protege a lesão tecidual a nível neuronal, que terá benefícios no complexo motor e cognitivo. |
HORTOBÁGYI, et al., 2022. | The impact of aerobic and resistance training intensity on markers of neuroplasticity in health and disease. | Revisão sistemática de literatura. | Determinar os efeitos da atividade física aeróbica de alta vs. baixa intensidade e treinos de resistência na função motora e cognitiva, ativação cerebral, estrutura cerebral e agentes da neuroplasticidade nos jovens e idosos, e em pacientes com doenças neurodegenerativas. |
LEHMANN et al., 2020. | Colocalized White Matter Plasticity and Increased Cerebral Blood Flow Mediate the Beneficial Effect of Cardiovascular Exercise on Long-Term Motor Learning. | Revisão sistemática de literatura. | Explicar como o exercício cardiovascular é uma estratégia de intervenção promissora para elevar parâmetros humorais, de cognição e de habilidades motoras na população doente e saudável. |
MAAS et al., 2016. | Relationships of peripheral IGF-1, VEGF and BDNF levels to exercise-related changes in memory, hippocampal perfusion and volumes in older adults. | Revisão sistemática de literatura. | Avaliar os níveis de condicionamento físico, relaxamento/alongamento muscular progressivo (no grupo controle), medição dos níveis de fator de crescimento e cortisol e a cognição através de testes. |
MACHADO et al., 2021. | Relationships between physical activity and school performance in higher education students. | Revisão sistemática de literatura. | Analisar a relação entre atividade física e a performance acadêmica em estudantes de nível superior. |
MOON et al., 2016. | Running-induced systemic Cathepsin B secretion is associated with memory function. | Revisão sistemática de literatura. | Demonstrar como um fator muscular secretor, a proteína Cathepsin B (CTSB), pode incrementar nos resultados cognitivos da corrida. |
NASCIMENTO-CASTRO et al., 2017. | Exercício físico e neuroplasticidade hipocampal: Revisão de literatura. | Revisão sistemática de literatura. | Busca evidenciar como o exercício físico voluntário melhora muitos aspectos da função cerebral, associando-se à melhora no processo de plasticidade estrutural e sináptica do hipocampo, devido à alta reatividadde desta estrutura ao exercício físico. |
NAUER et al., 2019. | Improving fitness increases dentate gyrus/CA3 volume in the hippocampal head and enhances memory in young adults. | Revisão sistemática de literatura. | Esta revisão busca evidenciar a relação entre o exercício aeróbico e a neuroplasticidade hipocampal que interativamente impacta na memória hipocampo-dependente. |
RAMOS et al., 2018. | Educação Física e o Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro (BDNF) na Aprendizagem Escolar | Revisão sistemática de literatura. | Verificar a relação do exercício físico e o BDNF na aprendizagem. |
VORKAPIC-FERREIRA et al., 2017. | NASCIDOS PARA CORRER: a importância do exercício para a saúde do cérebro. | Revisão sistemática de literatura. | Apresentar uma atualização sobre a temática de exercício físico e saúde mental. |
Fonte: AUTOR, 2023.
4 DISCUSSÃO
4.1 Neurônio, uma célula fundamental ao SNC
O neurônio é uma das células do Sistema Nervoso Central (SNC) (Figura 1) que antes era considerada a unidade funcional deste sistema. Atualmente, esta unidade funcional é, na verdade, uma imensa rede de conexões sinápticas entre unidades neuronais (SILVERTHORN, 2017).
Estas formam verdadeiros circuitos que se comunicam entre si através de sinalizadores determinando funções específicas. Tais sinalizadores são mensageiros que transitam de uma unidade neuronal para outra, seja para inibir ou excitar a unidade pós sináptica (SILVERTHORN, 2017). Podem ser liberados por neurônios ou advir pelo o fluxo sanguíneo que irriga o tecido cerebral (DAS NEVES e DA SILVA, 2019).
Os neurônios, em si, têm a capacidade de se auto-organizar, são flexíveis e ajustáveis a novas situações proporcionadas pelo ambiente interno do cérebro e pelo ambiente social-interacional externo (Morais; Melo; Oliveira, 2015). Por isso, pode-se afirmar que o cérebro humano é evoluído em relação aos demais animais devido a capacidade de se modelar, com exatidão, frente a estímulos sensoriais e experiências do habitat, ou seja, a capacidade de ser plástico (SILVERTHORN, 2017).
Além disso, ressalta-se a importância de que alguns neuromoduladores, como o Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro (BDNF), são responsáveis por manter a sobrevivência dos neurônios, promovendo seu crescimento, remodelações de seus dendritos e promovendo a função plástica. Pelo fato dessas células não armazenarem glicogênio (um tipo de reserva energética), os astrócitos (outra célula do tecido nervoso) fornecem o lactato que só é metabolizado na presença de BNDF. Isto promove energia para a ativação neuronal e a continuidade da função nervosa (RAMOS et al., 2018).
Figura 1 – Esquema representativo de um neurônio.
Fonte: Moreira, 2013.
4.2 O tecido nervoso é plástico
Plasticidade neural ou neuroplasticidade é uma propriedade do SNC de desenvolver alterações estruturais como forma de adaptação frente a experiências, estímulos repetidos e mudanças ambientais. Essas interferências causam alterações na organização estrutural e funcional do cérebro, como a formação de novas sinapses (conexões entre os neurônios) e a reconfiguração de redes neurais (RELVAS, 2023; LEHMANN et al., 2020).
É através dessa plasticidade cerebral que há criação de comportamentos cognitivos – como memória, pensamento, linguagem, percepção e atenção -, e afetivos – ligados aos sentimentos e emoções (SILVERTHORN, 2017).
A memória é um dos pilares da cognição, ela é capaz de adquirir, reter e evocar informações que fazem o conteúdo aprendido ser refeito e consolidado, via plasticidade, quando lembrado (CHAVES, 2023). Além disso, na aprendizagem se tem a habilidade de integrar o conhecimento ao alterar as estruturas das células nervosas com a formação de novas terminações sinápticas ou amplificação das já existentes (SALES, 2013).
Essa capacidade complexa do SNC se mantém durante toda a vida e não está limitada à primeira infância como se acreditava. Segundo Passos (2019), a neuroplasticidade se desenvolve em estágios ou níveis, como pode ser visto no fluxograma (Figura 2):
Figura 2 – Fluxograma dos estágios ou níveis da plasticidade cerebral.
Entretanto, a diferença de como é regulado a neuroplasticidade nos indivíduos varia com a idade. Por exemplo, no período perinatal e primeira infância, as condições que desencadeiam a neuroplasticidade estão sempre ativas, isto é, em constante modificações corticais. No outro extremo, indivíduos mais velhos só terão esse benefício se seus comportamentos e hábitos convergirem e estimularem novas conexões sinápticas, alterando o mapa cortical (MERZENICH, 2014).
Essas alterações cerebrais, por conseguinte, promovem o crescimento de novas terminações e botões sinápticos, o que aumenta as áreas sinápticas funcionais (MACHADO et al., 2021). Portanto, o mapa cortical é modificável diante da aquisição de uma nova habilidade motora, bem como sua prática e a experiência resultante dela. Tal acontecimento foi demonstrado num estudo onde indivíduos começaram a praticar aulas de piano ou braille e se analisou a reorganização cortical com aumento das áreas motoras musculares (SALES, 2013).
4.3 Neuroplasticidade e exercício físico
4.3.1 Modificações cerebrais advindas do exercício físico
O ser humano está diariamente respondendo a estímulos à sua volta e isso está correlacionado com a neuroplasticidade, dado que esses estímulos possuem a capacidade de remodelar as estruturas cerebrais. Com isso, fibras nervosas são alteradas em sua conformação celular e novos circuitos são formados. A expansão das árvores dendríticas e aumento da superfície de contato entre os neurônios é, desse modo, promovida (BONFIM, 2019).
Segundo Scianni et al. (2019), a atividade física funciona como um fator estimulante que induz modificações cerebrais trazendo benefícios (Figura 3) tanto para pessoas saudáveis quanto para indivíduos que passam por reabilitação após lesão cerebral.
Figura 3 – Efeitos do exercício físico no cérebro.
Isto se dá porque a atividade física irriga o tecido nervoso com uma cascata de substratos estimulantes ora advindos do fluxo sanguíneo cerebral, ora produzidos no próprio cérebro, segundo DAS NEVES e DA SILVA, 2019 citam em seu trabalho:
O exercício físico aumentaria o fluxo sanguíneo cerebral e, consequentemente, de oxigênio e outros substratos energéticos; exercícios aeróbicos aumentariam a atividade de enzimas antioxidantes de forma semelhante ao que acontece em outros tecidos, como no músculo esquelético, aumentando a capacidade de defesa contra os danos provocados por espécies reativas oxigênio; aumento da liberação de diversos neurotransmissores, tais como norepinefrina e seus precursores, serotonina e β-endorfinas, após uma sessão aguda de exercícios; aumento da densidade vascular córtex cerebral, da capilarização e do número de conexões dendríticas; melhora na função executiva central (associada ao lobo frontal) em seres humanos com maior nível de condicionamento físico; melhora do humor e do condicionamento físico refletem na melhora de qualidade de vida; melhora na memória, atenção, raciocínio, etc. (Idem ibidem, p.166)
Nesse sentido, neuromoduladores e fatores de crescimento (ou neurotrofinas) são os principais que mexem no SNC. Os primeiros agem modificando a sensibilidade neuronal aos estímulos recebidos, que podem ser excitatórios ou inibitórios, enquanto os segundos impulsionam a manutenção, desenvolvimento e função do SNC (RAMOS, 2016; FERNANDES et. al., 2020).
Segundo RAMOS et al. (2018), o BDNF é uma proteína produzida majoritariamente no hipocampo, cerebelo e córtex cerebral pelos neurônios sensoriais, sendo que na região hipocampal a síntese predomina nos dendritos pós sinápticos. Além disso, funciona como marcador biológico de alterações na memória e na cognição.
BDNF é um fator de crescimento que se eleva diante do exercício físico aeróbico e se apresenta nas áreas hipocampais, região responsável pela memória, e é um fator primordial no aprendizado motor (PENNA, 2021). Devido sua função glutamatérgica (excitatória), ele é capaz de aumentar a neurogênese e fortalecer sinapses, ou seja, mesmo num cérebro adulto é possível influenciar a produção de novos neurônios via estímulo físico (CARDOSO, 2022; FERNÁNDEZ-RODRÍGUEZ, 2022; RAMOS et. al, 2018).
Recentemente, evidenciou-se também que o fator de crescimento derivado de plaquetas C (PDGF-C) desempenha um papel na promoção do crescimento dos vasos sanguíneos e na sustentação da sobrevivência neuronal (MAASS, 2016). Ademais, há um elemento segregado pelo músculo, a proteína catepsina B (CTSB) que desempenha um papel crucial nos benefícios cognitivos e neurogênicos associados à prática de corrida. Em seres humanos, as variações nos níveis de CTSB mostraram correlação com a aptidão física e a função de memória dependente do hipocampo, indicando que a catepsina, originária da atividade física muscular, pode influenciar positivamente a cognição (MOON, 2016).
De acordo com estudos de neuroimagem descritos por RAMOS et. al. (2018), NAUER et. al. (2019) e FERNANDES et.al. (2020), o hipocampo sofreu aumento de volume após realização de exercícios aeróbicos. Estes autores correlacionam, portanto, que a capacidade cognitiva aumenta quando se compara tal variável entre participantes sedentários e ativos, e que a região com maior regulação robusta foi a do giro denteado (GD) no hipocampo. O estilo de vida, então, com aptidão aeróbica resulta em maiores níveis cognitivos e de realização acadêmica.
De modo geral, a associação do exercício físico e as mudanças no mapa cortical são evidentes, a exemplo do aumento do volume do hipocampo, aumento da vasoelasticidade, da integridade da substância branca, do aumento da densidade da substância cinzenta e do aumento do fluxo cerebral (NAUER et. al., 2019; LEHMANN et al., 2020).
4.3.2 Liberação de neurotransmissores na prática aeróbica e a melhora da qualidade de vida
Outros neuromoduladores do SNC são os neurotransmissores, como KAMADA et al., (2018) elencou no seu trabalho, são eles:
- Gaba: Importante no controle das atividades cerebrais (atuam nas sinapses);
- Dopamina: Tem ação no controle do movimento, atenção, cognição e motivação;
- Norepinefrina: Ativa o sistema nervoso central, afetando o estado de alerta, a vigilância e a concentração;
- Glutamato: Fundamental para a neuroplasticidade;
- Serotonina: Controla a liberação de hormônios, atua na regulação do sono e do apetite. Alterações nos seus níveis interferem no aprendizado, no humor e em estados de ansiedade e depressão.
Advindo de tais mudanças no tecido cortical, o exercício aeróbico passa a se relacionar com melhoras cognitivas em jovens e idosos que concluíram terem uma melhor aptidão física associada a melhores funções executivas e processos visuo espaciais. Estudos recentes propuseram que o exercício aeróbico protege o cérebro contra a demência ou retarda o declínio cognitivo relacionado à idade (RAMOS et. al., 2019).
E mesmo em fases mais avançadas da vida, a realização de exercícios físicos em conjunto com atividades cognitivas pode propiciar um estímulo eficaz à neuroplasticidade (GHEYSEN, 2018).
Portanto, a influência benéfica do exercício aeróbico sobre a remodelação do cérebro é notável. Os neurotransmissores desempenham um papel fundamental, moldando nossa cognição e emoções. A prática regular de atividades aeróbicas está relacionada à melhora na formação da memória , qualidade de vida mais elevada e um bem-estar duradouro (RAMOS et. al, 2019).
4.3.3 A intensidade do exercício influência na plasticidade cerebral
Segundo Pinheiro e Madel (2019), há uma quantidade mínima de atividade física para desfrutar das alterações positivas no cérebro. Deve-se exercitar pelo menos três vezes por semana, com sessões durando entre vinte e trinta minutos e de intensidade controlada sem que os batimentos cardíacos não ultrapassem 60% a 70% da frequência cardíaca máxima. Pessoas com melhor condição física, a intensidade e duração podem ser mais elevadas
Além dos fatores neurotróficos e neuromoduladores citados, vale-se analisar os efeitos dos hormônios atuantes durante a prática física. O cortisol, por exemplo, é liberado de forma abrupta em exercícios de forte intensidade, consequentemente isso impede a expressão de proteínas e moléculas no fenômeno da neuroplasticidade. Logo, evidencia-se que a variação de tempo e intensidade é inversamente proporcional para a indução da neuroplasticidade, relacionando-se com glicogênio e cortisol, que também fazem parte da variante. Portanto, demonstra-se que a atividade física precisa ser constante e de intensidade moderada (CARDOSO, 2022; HORTOBÁGY et. al., 2022).
Este trabalho não visa finalizar as discussões sobre o tema, visto ser imprescindível a divulgação de conhecimento do conteúdo desta revisão sistemática. É necessário outros estudos para corroborar de forma mais específica os mecanismos de como o exercício aeróbico impacta cognitivamente através da plasticidade cerebral, pois ainda se encontra obscuro. Apesar dessas limitações, nosso estudo traz contribuições claras e sintetizadas sobre a intervenção do exercício físico aeróbico no tecido nervoso e seus benefícios para a cognição humana.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a análise dos artigos, conclui-se que o exercício físico promove impacto sobre a neuroplasticidade através de uma cascata de modificações morfofisiológicas que fazem uma verdadeira irrigação no tecido nervoso com substâncias e estímulos. Essa plasticidade cerebral só será mais elevada se o exercício for aeróbico, com intensidade moderada com um tempo maior de execução ou exercícios de alta intensidade com um tempo menor de duração. Destaca-se que esta prática aeróbica promove o aumento do fluxo sanguíneo e de neuromoduladores, como BDNF, VEGF e CTSB, que servem de substrato para a neurogênese hipocampal, criação de novas rotas sinápticas e brotamento de dendritos com aumento da árvore dendrítica, portanto, a remodelação do cérebro é evidente. Dessa forma, a atividade física impõe-se como peça-chave para que ocorra a plasticidade neural, de forma que a aprendizagem e a memória, bem como a capacidade de aquisição de novas habilidades, contribuindo significativamente na reconfiguração cognição. Este estudo não finaliza as discussões sobre o tema, haja vista que os mecanismos exatos da correlação entre as variáveis estudadas permanecem obscuras, sendo necessários aprofundamentos maiores.
REFERÊNCIAS
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¹Acadêmico de Medicina. E-mail: beatrizdeseyvan@gmail.com. Artigo apresentado ao Centro Universitário Aparício Carvalho (UNIFIMCA), como requisito para obtenção do título de Bacharel em Medicina, Porto Velho/RO, 2023.
²Acadêmico de Medicina. E-mail: anarobertaaraujo99@gmail.com. Artigo apresentado ao Centro Universitário Aparício Carvalho (UNIFIMCA), como requisito para obtenção do título de Bacharel em Medicina, Porto Velho/RO, 2023.
³Acadêmico de Medicina. E-mail: romeuavale@gmail.com. Artigo apresentado ao ao Centro Universitário Aparício Carvalho (UNIFIMCA), como requisito para obtenção do título de Bacharel em Medicina, Porto Velho/RO, 2023.
4Professora Orientadora. Professora do curso de Fisioterapia da Faculdade Metropolitana. E-mail: eliziane.rios.educ.fisica@gmail.com.