NEUROCIÊNCIA DA RESILIÊNCIA: IMPACTO DAS INUNDAÇÕES NAS EMOÇÕES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12682474


Rosa Maria Braga Lopes de Moura1
Matheus Juliano Franz2
Rômulo Urquia da Costa3
Geovani Silveira da Silva4


RESUMO

A tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul exacerbou um problema que já era evidente no Brasil desde a pandemia de covid-19: a saúde mental. A devastação provocada pelas águas tem agravado traumas e transtornos psicológicos em uma população que já enfrentou inúmeras adversidades. A neurociência da resiliência é um campo de estudo que busca compreender como o cérebro e o sistema nervoso estão envolvidos na capacidade de um indivíduo lidar com adversidades e se recuperar de situações estressantes tais como o impacto das inundações nas emoções e a sua relevância  frente a uma tragédia climática sem precedentes. Desse modo, o presente artigo investigou a importância da neurociência da resiliência para o indivíduo recuperar-se de traumas provocados pelas catástrofes ambientais bem como avaliar os mecanismos cerebrais envolvidos nesta habilidade comportamental. Para tanto, a metodologia de investigação foi de cunho qualitativo através de revisão bibliográfica nas bases de dados PubMed, Medline e Scielo com os descritores “ecoansiedade”, “neurociência” e “resiliência”.  

Palavras-chave: Inundações, Neurociência, Resiliência.

INTRODUÇÃO

O termo resiliência é originário do latim “resilio” que significa “ser elástico”. Esse surgimento no cenário científico moderno, compôs o vocabulário da física e da engenharia (TIMOSHEIBO, 1983).

A resiliência está relacionada à compreensão dos riscos e fatores de proteção, podendo ser transformado na capacidade de o ser humano não adoecer, mesmo quando exposto a condições prejudiciais à saúde e ao desenvolvimento. Desse modo, com o incentivo da investigação das motivações do ser humano, o construto resiliência começou a ser investigado sob a ótica do desenvolvimento humano (SELIGMAN, 2000).

Existem diversos mecanismos cerebrais envolvidos na resiliência como a regulação emocional controlada pelo córtex pré-frontal, responsável pelo processamento das emoções e tomada de decisões. Desse modo,  o cérebro desempenha um papel fundamental na resiliência, pois é responsável por processar as informações e emoções relacionadas às adversidades.

Para Davidson (2013), a resiliência é marcada por maior ativação no lado esquerdo do córtex pré-frontal em comparação com o direito. Segundo ele, o córtex pré-frontal é a sede da atividade cognitiva de mais alta ordem do discernimento, do planejamento e de outras funções executivas. Durante suas pesquisas foi levantada a possibilidade de que o córtex pré-frontal esquerdo talvez inibisse a amigdala, facilitando assim a recuperação após as adversidades.

A neurociência da resiliência é um campo de estudo que busca compreender como o cérebro e o sistema nervoso estão envolvidos na capacidade de uma pessoa lidar com adversidades e se recuperar de situações estressantes. A resiliência é a habilidade de se adaptar e se recuperar de maneira saudável diante de desafios, traumas e mudanças. Através da neurociência, é possível entender os mecanismos cerebrais que estão por trás dessa capacidade e como podemos fortalecê-la.

O cérebro desempenha um papel fundamental na resiliência, pois é responsável por processar as informações e emoções relacionadas às adversidades. Através de estudos neurocientíficos, foi descoberto que o cérebro possui uma plasticidade neural, ou seja, a capacidade de se adaptar e mudar sua estrutura e funcionamento em resposta a experiências e estímulos do ambiente. Essa plasticidade é essencial para a resiliência, pois permite que o cérebro se recupere de situações estressantes e desenvolva novas estratégias de enfrentamento. Cabe ressaltar, que as áreas cerebrais relacionadas com a resiliência são as funções executivas do córtex pré-frontal ventromedial.

A ecoansiedade é conhecida como “ansiedade climática”. Segundo a Associação Americana de Psicologia (APA, 2013), é o “medo crônico de sofrer um cataclismo ambiental que ocorre ao observar o impacto das mudanças climáticas, gerando uma preocupação associada ao futuro de si mesmo e das gerações futuras”.

De acordo com Gosling, (2001), esta característica exerce forte influência tanto nos níveis basais de cortisol como na maneira pela qual o indivíduo reage as situações de estresse. Nesse sentido, os distúrbios  mais comuns desenvolvidos em meio a tragédias incluem o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), depressão e ansiedade impactando as funções executivas tais como: memória de trabalho, raciocínio, flexibilidade cognitiva, resolução de problemas, planejamento e execução de tarefas e inibição da capacidade social.

Tendo em vista as considerações supracitadas, o presente estudo investigou a importância da neurociência da resiliência para o indivíduo recuperar-se de traumas provocados pelas catástrofes ambientais bem como avaliar os mecanismos cerebrais envolvidos nesta habilidade comportamental.

EMOÇÕES: PREMISSAS INICIAIS

As emoções podem ser definidas como tendências para ações, as quais produzem uma cascata de mudanças fisiológicas em resposta a algum “gatilho”. As emoções são geradas com a ocorrência de um estímulo relevante para o organismo, preparando tendências de reações comportamentais automatizadas. Assim, muitas das definições de emoções levam em consideração três características fundamentais: I) tendências de ação; II) reações fisiológicas; e III) experiência subjetiva (DALGLEISH, 2004).

Conforme a neurociência afetiva,  algumas linhas de pesquisa têm estabelecido que a amígdala, estrutura localizada dentro do nosso lobo temporal, como uma das mais importantes regiões cerebrais para as emoções. A amígdala tem um papel chave no processamento emocional e de sinais sociais das emoções e no condicionamento emocional e consolidação de memórias emocionais. Estudos apontam que após uma situação de aprendizado ocorre uma reativação neuronal dependente dessa experiência.

Os neurônios que participam das emoções respondem a estímulos negativos e provocam tristeza, angústia, medo e demais emoções com essa valência, enquanto outros respondem a estímulos positivos e provocam sentimentos de amor, amizade e prazer. A cada dia que passa, os neurocientistas descrevem um tipo diferente de neurônio, participante de cada uma das infinitas capacidades que o nosso cérebro nos propicia (LENT, 2010).  

As emoções podem ser classificadas em três grupos: emoções primárias ou básicas, as secundárias e as emoções de fundo. As emoções primárias existem em todas as pessoas, sendo inatas, independem de fatores sociais ou culturais. Já as emoções secundárias recebem influências do contexto social e cultural, sendo aprendidas, muitas vezes chamadas de emoções morais: culpa, vergonha, orgulho. É por meio delas que os seres humanos obedecem às regras de comportamento que a sociedade lhes recomenda em cada local do planeta, e a cada época histórica (LENT, 2010).

A amígdala cerebral está envolvida com o medo, o hipotálamo com agressão e raiva. É difícil definir um sistema de emoção; o que se pode definir é um grupo de estruturas envolvidas com a emoção, dos quais as configurações dessas estruturas variam com a natureza da emoção (RELVAS, 2012).

Goleman (1995) concorda e caracteriza a inteligência emocional como uma maneira pela qual as pessoas lidam com suas emoções e com as das pessoas ao seu redor, influenciando diretamente diversos aspectos, como: autoconsciência, motivação, persistência, empatia, características sociais e liderança.

Os seres humanos são muito suscetíveis ao contexto social, às regras, aos padrões e aos valores de outras pessoas que afetam diretamente nosso jeito de pensar, sentir e agir. Indubitavelmente, o conhecimento sobre o comportamento humano favorece nossa cognição social, sendo que aprofunda os processos mentais pelos quais a pessoa compreende a si mesma, aos outros e às situações sociais (GAZZANIGA, 2005).

De acordo com Damásio (1996), o controle homeostático, impulsos e instintos são o cerne da regulação biológica, na qual as emoções e sentimentos também são atuantes. Portanto, percebe-se que a regulação do corpo, a sobrevivência e a mente estão extremamente relacionados. O hipotálamo está localizado acima da hipófise, ocupando uma posição ventral do diencéfalo ao redor do terceiro ventrículo. Pode ser dividido em três zonas longitudinais: periventricular, medial e lateral. A zona periventricular do hipotálamo está envolvida com o controle do sistema endócrino, por meio da secreção de hormônios pela neurohipófise, tais como o hormônio antidiurético (ADH) e a ocitocina.

Tendo em vista o papel que os processos emocionais primários exercem no controle do comportamento, é natural reconhecer a significação da revolução neurocientífica, graças a qual foi possível especificar os mecanismos cerebrais que são essencialmente efetivos na geração das emoções básicas (PANKSEPP, 2005).

Os estados motivacionais são impulsos internos que nos direcionam a realizar certos ajustes corporais e comportamentais, em alguns casos fazem parte de mecanismos de manutenção de certa constância do meio interno do organismo, sendo essenciais para a sobrevivência do indivíduo (LENT, 2010).

De acordo com Houzel (2015), se devidamente estimulado o processo de exuberância sináptica, teremos cérebros aptos ao programa de lapidação sináptica que segue na adolescência, fase em que até 30% das sinapses e neurônios desaparecem para dar espaço a uma especialização das áreas e habilidades.

O componente afetivo codifica a valência emocional da experiência dolorosa. A intensidade da experiência afetiva da dor motiva comportamentos de resposta que objetivam a sua redução. Acredita-se que o componente afetivo participe no processamento da dor social. Pesquisas de neuroimagem demonstraram que o componente afetivo da dor física é processado pelo girodo cíngulo anterior dorsal enquanto o componente sensorial da dor é processado pelo córtex somatossensorial primário, secundário e ínsula posterior (EISENBERG, 2012).

ECOANSIEDADE

A ecoansiedade é conhecida como “ansiedade climática”. Segundo a Associação Americana de Psicologia (APA, 2013), é o “medo crônico de sofrer um cataclismo ambiental que ocorre ao observar o impacto das mudanças climáticas, gerando uma preocupação associada ao futuro de si mesmo e das gerações futuras”.

Segundo o Relatório da COP26 sobre Mudanças Climáticas e Saúde, eventos climáticos extremos, como ondas de calor, tempestades e inundações, ceifaram milhares de vidas e afetaram milhões de pessoas. Ao mesmo tempo, ameaçaram sistemas de saúde e infraestrutura de cidades, colocando diversas populações em situações de vulnerabilidade.

Para Ayoade (2001), a vulnerabilidade é a medida pela qual se pode mensurar o quanto determinada população está passível de sofrer de causas climáticas, ao passo que a habilidade dessa população em resistir quando afetada adversamente por causas climáticas está ligada à resiliência.

De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), as doenças mais sensíveis a essas mudanças são as infecciosas, como leishmaniose, malária e dengue, dentre outras arboviroses. Além delas, a hepatite A também é uma preocupação, já que o vírus causador da doença pode ser transmitido no consumo de água e alimentos contaminados, principalmente em territórios carentes de saneamento básico ou que são frequentemente atingidos por inundações como a que atingiu o estado do Rio Grande do Sul.

Nos estudos de Clarke, 1995 e Gosling, (2001), a reatividade fisiológica e comportamental aos desafios ambientais é considerada um importante componente do temperamento. Em Veenema et al., (2003), o estilo de enfrentamento (coping style), é uma característica com bases genéticas, mas que também é modulado por influências epigenéticas, principalmente de origem social corroborando com Driscoll et al., (1998).

De acordo com Gosling, (2001), esta característica exerce forte influência tanto nos níveis basais de cortisol como na maneira pela qual e o indivíduo reage a situações de estresse.

Os distúrbios mais comuns desenvolvidos em meio a tragédias incluem transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), depressão e ansiedade impactando as funções executivas tais como: memória de trabalho, raciocínio, flexibilidade cognitiva, resolução de problemas, planejamento e execução de tarefas e inibição da capacidade social.

Por outro viés,  de acordo com Davidson (2013), a resiliência é marcada por maior ativação no lado esquerdo do córtex pré-frontal em comparação com o direito. Segundo o autor, o córtex pré-frontal é a sede da atividade cognitiva de mais alta ordem do discernimento, do planejamento e de outras funções executivas. Além disso, foi levantada a possibilidade de que o córtex pré-frontal esquerdo talvez inibisse a amigdala, facilitando assim a recuperação após as adversidades. Assim,  surge o termo “neuroresiliência”, que aborda a utilização de princípios das neurociências para treinar o cérebro a tornar-se mais resiliente.

O conceito de resiliência foi introduzido para explicar os processos de superação (aprendizado e reinvenção) de adversidades profundas e toda a complexidade do desenvolvimento humano. Deste modo, a resiliência é apresentada como um dos temas mais significativos quando se trata sobre o desenvolvimento de crianças, seja a abordagem em termos preventivos, terapêuticos ou na promoção de condições promotoras de resiliência (MARQUES, 2011).

De acordo com a definição da Associação Americana de Psicologia (2013), a resiliência quer dizer “o processo de boa adaptação frente a adversidades, traumas, tragédias, ameaças ou motivos significativos de estresse”. Isso significa que, diante de um evento estressor, pessoas consideradas resilientes são mais capazes de enfrentá-lo e superá-lo.

DISCUSSÃO

Foram realizadas pesquisas com relação aos fatores de risco, que seriam capazes de tornar os indivíduos vulneráveis às patologias mesmo que expostas a situações muito desfavoráveis. Em contrapartida,  os prognósticos negativos esperados não se cumpriram na proporção estimada. Posteriormente, observou-se as características dos indivíduos que cresceram em ambientes adversos e, surpreendentemente, tornaram-se saudáveis, sem psicopatologias (ARAUJO, 2011).

De acordo com o autor acima citado, na década seguinte as pesquisas foram dedicadas a entender o motivo de muitas pessoas abaterem-se diante de situações adversas e outras pessoas não apenas resistirem, mas ainda se beneficiarem com o estresse. A literatura especializada da época passou a ver a resiliência como um constructo multidimensional e multideterminado, precisando ser compreendida como o resultado de múltiplos níveis sistêmicos ao longo do tempo.

Mello (2011) assevera que a resiliência não é apenas uma competência comportamental que nasce com o indivíduo, uma vez que se constitui como um processo individual, social, ambiental, espiritual vivido ao longo do desenvolvimento, sendo esse multifacetado, dinâmico e flexível.

A resiliência é muito mais que superar adversidades, pois envolve um processo constante de construção que é ativado, após um evento traumático. É um processo determinado pela construção de si, ao longo da vida, reconhecendo-se que existem fatores externos e internos que permitem a potencialização das capacidades que possibilitam o desenvolvimento de perspectivas positivas sobre si e sobre a realidade. O fato de estar nesse mundo implica viver situações difíceis e crescer requer resolver situações de conflito e de crise durante a existência. Assim, resiliência significa ressignificar o evento danoso que causou o abalo, avaliando-o como uma oportunidade de desenvolvimento e individuação e como uma chance de fortalecer o elo com a vida. Sendo assim, posturas vitimizadas podem ser alteradas por posturas otimistas em relação ao futuro (ARAUJO, 2011).

Para Davidson (2013), a resiliência é marcada por maior ativação no lado esquerdo do córtex pré-frontal em comparação com o direito. Segundo o autor, o córtex pré-frontal é a sede da atividade cognitiva de mais alta ordem do discernimento, do planejamento e de outras funções executivas. No desenvolvimento de suas pesquisas, foi analisada a possibilidade de que o córtex pré-frontal esquerdo talvez inibisse a amigdala, facilitando assim a recuperação após as adversidades. Assim, surgiu a correlação de grandes feixes de neurônios que ligam determinadas regiões do córtex pré-frontal à amígdala.

Os resultados dos exames de ressonância magnética,  demonstraram que quanto maior for a massa branca que liga o córtex pré-frontal à amigdala, mais resiliente é o indivíduo. Desse modo, ao inibir a amígdala, o córtex pré-frontal consegue diminuir os sinais associados às emoções negativas, permitindo que o cérebro planeje a regulação eficaz dessas emoções (DAVIDSON, 2013).

Taboada (2006) explica que a resiliência é capacidade de ressignificação e superação diante das adversidades da vida, e trazendo assim, a adaptação mais saudável a esse contexto. Com relação ao estresse, por exemplo, os autores afirmam que a pessoa deixa de culpar os outros e passa a responsabilizar-se por aquilo que está acontecendo.

Um estudo recente evidenciou que abordagens relacionadas com exposição e reestruturação cognitiva produziram, além da redução de sintomas entre pacientes diagnosticados com transtornos do estresse pós-traumático, um aumento da atividade de estruturas cerebrais relacionadas com memória explícitas, tais como o córtex pré-frontal, o lobo temporal e o hipocampo, bem como uma redução da atividade da amígdala, estrutura relacionada com memórias implícitas de natureza emocional. Interessantemente, todas essas alterações no funcionamento de estruturas cerebrais produzidas pela intervenção psicoterapêutica foram observadas exclusivamente no hemisfério esquerdo (CALLEGARO, 2007).

Davidson (2013) pontuam que alguns transtornos mentais, como a depressão, podem ter a sua causa neurofisiológica devido à baixa atividade em determinadas áreas do córtex pré-frontal e por uma hiperatividade da amígdala. A reflexão mental, que está presente em pessoas que se encontram deprimidas, pode ser explicada pelo fato dessa hiperatividade da amígdala surgirem em regiões relacionadas à antecipação.

A avaliação dos fatos e eventos da vida começa no sistema límbico. Entendendo também que essa avaliação advém sempre de vários elementos, como, a personalidade prévia, a experiência vivida, as circunstâncias atuais e as normas culturais. Na execução dessa função o sistema límbico conta com várias estruturas que o compõe e interagem entre si e com o córtex pré-frontal.

A conexão do córtex pré-frontal com o hipotálamo e a amígdala, e a função específica de cada uma dessas estruturas, foi enfatizada pela importância que desempenham não só na emoção como também no fenômeno da resiliência. Por meio dos estudos compreendeu-se que a resiliência ocorre pela ligação do córtex pré-frontal com a amígdala, inibindo sua atividade (DAVIDSON,  2013).

Para Walker (2017), a resiliência é a força psicológica para lidar com o estresse e as adversidades. É o reservatório mental de força que as pessoas podem recorrer em momentos de necessidade para conseguir passar por eles sem desmoronar. Psicólogos acreditam que indivíduos resilientes são mais capazes de lidar com essas adversidades e reconstruir suas vidas após uma catástrofe.

Segundo Osório (2017), a resiliência é uma habilidade importante e que pode melhorar com o tempo. Ao desenvolver uma perspectiva positiva, ter uma rede de apoio e tomar medidas efetivas para tornar as coisas melhores pode contribuir muito para se tornar mais resiliente diante dos desafios da vida.

O estresse envolve o aumento da ativação psicológica e física exigida pelo eixo hipotálamo-pituitária-adrenal ativado, que é incompatível com o sono normal. Com isso, os profissionais de saúde são mais suscetíveis aos efeitos negativos do estresse ocupacional, ou seja, menos resilientes, podendo sofrer distúrbios biológicos ou comportamentais (SOUSA, 2015).

De acordo com o autor supracitado, os profissionais da saúde, ainda que expostos a situações adversas, demonstram-se fortes e desenvolvem devidamente suas tarefas, entretanto, há os que sofrem com as situações vivenciadas e, que inclusive evoluem para doenças ocupacionais, fato esse que requer atenção a fim de ampliar a capacidade de resiliência, para melhor enfrentamento das adversidades do cotidiano.

Na percepção de Zhang (2020), o adoecimento psíquico está  relacionado a exposição recorrente aos estressores aumentando significativamente os fatores de risco. Tendo em vista que quanto maiores forem os axônios que conectam um neurônio a outro, que ligam o córtex pré-frontal à amigdala, mais resiliente é a pessoa. Ao inibir a amígdala, o córtex pré-frontal consegue acalmar os sinais associados às emoções negativas, permitindo que o cérebro planeje e atue de forma efetiva, sem ser distraído pelas emoções negativas. Dessa forma o indivíduo tem maiores condições de recuperar-se após as adversidades.

Alguns dos principais temas de pesquisa incluem a influência dos genes na resiliência, o papel dos neurotransmissores na regulação emocional, os efeitos do estresse crônico no cérebro e as intervenções terapêuticas para fortalecer a resiliência. Essas pesquisas têm o objetivo de fornecer novas informações e estratégias para promover a resiliência e o bem-estar emocional.

Horn (2018), pontua a necessidade de nos conectarmos uns com os outros é representada no cérebro de uma forma semelhante a fome sugerindo que a necessidade de relacionamento poderá ser uma necessidade humana básica. Portanto, a indissociabilidade entre cognição e afeto refletem significativamente na constituição das competências comportamentais. 

Para Shi (2018), a  resiliência não elimina a dor emocional, a tristeza e a sensação de perda que vêm depois de uma tragédia, no entanto, a sua perspectiva permite a superação desses sentimentos e se recuperem.

Alguns indivíduos adquirem essas habilidades naturalmente, ou já possuem em suas personalidades características que os ajudam a permanecer firmes diante do desafio. No entanto, esses comportamentos não são características inatas encontradas em alguns indivíduos especiais. De acordo com muitos especialistas, a resiliência  é bastante comum e as pessoas podem aprender as habilidades necessárias para se tornarem mais resilientes (REID, 2016).

Compreender os mecanismos cerebrais da resiliência e como eles podem ser modificados, pode contribuir para prevenir transtornos mentais, reduzir o impacto do estresse crônico na saúde e promover uma sociedade mais saudável e resiliente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A neurociência da resiliência é um campo de estudo promissor que busca compreender os mecanismos cerebrais envolvidos na capacidade de uma pessoa lidar com adversidades e se recuperar de situações estressantes. Através da neurociência, é possível desenvolver estratégias e intervenções para fortalecer a resiliência e promover o bem-estar emocional. Compreender como o cérebro está envolvido na resiliência e como podemos fortalecer essa capacidade é fundamental para lidar de forma mais eficaz com os desafios da vida e promover uma sociedade mais saudável e resiliente.

A vulnerabilidade é o que nos torna humanos. Portanto, gerenciar as mudanças ou perdas é uma parte inevitável da vida. Alguns desses desafios podem ter pouco impacto enquanto outros trazem consequências enormes. A maneira como lidamos com esses problemas pode desempenhar um papel significativo não apenas no resultado, mas também nas consequências psicológicas de longo prazo.

Atualmente, vivenciamos uma tragédia climática sem precedentes que vêm ocasionando diversos impactos na saúde mental. Portanto, enfrentar as dificuldades e, posteriormente, conseguir se reerguer e seguir em frente é premissa para aperfeiçoar o cérebro, pois o mesmo se modifica de forma contínua ao passo que aprendemos com as experiências vivenciadas para refinar a mente e ressignificar os impactos emocionais.

De acordo com o exposto, os indivíduos resilientes são capazes de utilizar suas habilidades comportamentais para enfrentar e se recuperar de problemas e desafios como desastres naturais.

REFERÊNCIAS

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