NEOPLASIA DE ENCÉFALO INFANTIL NO BRASIL E SÃO PAULO: ESTUDO COMPARATIVO (2019 a 2023)

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202502281503


Tiago Halyson De Oliveira Gomes; Isabel Longo Oliveira Monteiro; Júlia Rehbaim; Eduarda Marques Pereira; Laura Silva de Carvalho Quintino; Natália Miranda Barbosa; Marco Fábio Spinelli Filho; Isabelle Cerqueira Sousa; Bárbara Vitória Marinho Moreira e Santos; Ana Elisa Franca Almeida; Tobias Moraes Bueno da Silva


RESUMO:

INTRODUÇÃO: As neoplasias do sistema nervoso central são uma das principais causas de mortalidade por câncer infantil, e os tumores malignos do encéfalo se destacam pela alta letalidade e desafios no diagnóstico e tratamento. No Brasil, fatores regionais e socioeconômicos influenciam a incidência e a mortalidade, tornando essencial a análise epidemiológica. O acesso desigual à saúde pode impactar a detecção precoce e os índices de óbitos, especialmente ao comparar estados como São Paulo, que possui uma estrutura mais desenvolvida. OBJETIVOS: O objetivo foi realizar o levantamento epidemiológico comparativo acerca dos casos de neoplasia maligna do encéfalo, em crianças de até 9 anos, no Brasil e São Paulo, entre 2019 a 2023. METODOLOGIA: O presente estudo trata-se de um estudo epidemiológico ecológico, descritivo, transversal e retrospectivo. Os dados foram coletados a respeito dos casos novos notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Foi realizada coleta de dados de casos de óbitos por Neoplasia de encéfalo em crianças de até 9 anos, no Brasil e São Paulo, entre os anos de 2019 a 2023. RESULTADOS: Entre 2019 a 2023 houve 1.302 óbitos devido à neoplasia de encéfalo no país, sendo 272 em São Paulo (20,9%). No Brasil, de acordo com a Região tem-se a seguinte distribuição: i) Região Norte: 123 (9,4%), ii) Região Nordeste: 366 (28,1%), iii) Região Sudeste: 510 (39,1%), iv) Região Sul: 184 (14,1%) e v) Região Centro-Oeste: 119 (9,3%). Em relação faixa etária tem-se a seguinte distribuição: i) menor 1 ano: 106 (8,1%), ii) 1 a 4 anos: 489 (37,5%) e iii) 5 a 9 anos: 707 (54,4%). Enquanto os óbitos em São Paulo totalizou-se 272 óbitos, sendo esses separados nas seguintes faixas etárias: i) Menor de 1 ano: 23 (8,4%), ii) 1 a 4 anos: 103 (37,9%) e iii) 5 a 9 anos: 146 (53,7%). No Brasil a distribuição anual dos casos se deu: 1) 2019: 285 (21,9%), 2) 2020: 238 (18,3%), 3) 2021: 269 (20,6%), 4) 2022: 246 (18,9%), 5) 2023: 264 (20,3%). Enquanto a distribuição anual em São Paulo se deu: 1) 2019: 59 (21,7%), 2) 2020: 50 (18,4%), 3) 2021: 49 (18%), 4) 2022: 60 (22%), 5) 2023: 54 (19,9%). A distribuição de acordo com sexo se deu no Brasil: i) sexo masculino: 706 (54,3%) e ii) sexo feminino: 127 (45,7%). Enquanto em São Paulo: i) sexo masculino: 145 (53,3%) e ii) sexo feminino: 127 (46,7%).  CONCLUSÃO: O estudo evidenciou a neoplasia maligna do encéfalo como uma das principais causas de mortalidade infantil no Brasil, com maior concentração de óbitos nas Regiões Sudeste, Nordeste e Sul. A faixa etária mais afetada foi entre 5 a 9 anos, com uma leve predominância de óbitos no sexo masculino, sugerindo influências hormonais e genéticas. Observou-se um aumento nos óbitos em 2021 e 2023 no Brasil e em 2022 no Estado de São Paulo, possivelmente devido aos impactos da pandemia de COVID-19 no diagnóstico e acesso ao tratamento. Os resultados reforçam a necessidade de políticas públicas para detecção precoce, tratamento adequado e investimentos em infraestrutura hospitalar e capacitação profissional.

PALAVRAS-CHAVE: “Neoplasia Maligna” ; “Glioma” ; “Astrocitoma”.

INTRODUÇÃO:

As neoplasias do sistema nervoso central são uma das principais causas de mortalidade por câncer infantil, e os tumores malignos do encéfalo se destacam pela alta letalidade e desafios no diagnóstico e tratamento.

No Brasil, fatores regionais e socioeconômicos influenciam a incidência e a mortalidade, tornando essencial a análise epidemiológica. O acesso desigual à saúde pode impactar a detecção precoce e os índices de óbitos, especialmente ao comparar estados como São Paulo, que possui uma estrutura mais desenvolvida.

OBJETIVO:

O objetivo foi realizar o levantamento epidemiológico comparativo acerca dos casos de neoplasia maligna do encéfalo, em crianças de até 9 anos, no Brasil e São Paulo, entre 2019 a 2023.

METODOLOGIA:

O presente estudo trata-se de um estudo epidemiológico ecológico, descritivo, transversal e retrospectivo. Os dados foram coletados a respeito dos casos novos notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), os quais encontram-se disponíveis no banco de dados online do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS).

Foi realizada coleta de dados de casos de óbitos por Neoplasia de encéfalo em crianças de até 9 anos, no Brasil e São Paulo, entre os anos de 2019 a 2023. A coleta dos dados foi realizada em 2025. Utilizou-se as variáveis: número de casos por região, óbitos anuais, idade, região de ocorrência e sexo (CID C71).

RESULTADOS:

Entre 2019 a 2023 houve 1.302 óbitos devido à neoplasia de encéfalo no país, sendo 272 em São Paulo (20,9%). No Brasil, de acordo com a Região tem-se a seguinte distribuição: i) Região Norte: 123 (9,4%), ii) Região Nordeste: 366 (28,1%), iii) Região Sudeste: 510 (39,1%), iv) Região Sul: 184 (14,1%) e v) Região Centro-Oeste: 119 (9,3%). Assim, a Região Sudeste foi a localidade com maior número de casos. 

Em relação faixa etária tem-se a seguinte distribuição: i) menor 1 ano: 106 (8,1%), ii) 1 a 4 anos: 489 (37,5%) e iii) 5 a 9 anos: 707 (54,4%). Enquanto os óbitos em São Paulo totalizou-se 272 óbitos, sendo esses separados nas seguintes faixas etárias: i) Menor de 1 ano: 23 (8,4%), ii) 1 a 4 anos: 103 (37,9%) e iii) 5 a 9 anos: 146 (53,7%). Demonstrando assim, que tanto no Brasil, como em São Paulo a faixa etária mais acometida foi a de 5 a 9 anos (Tabela 1).

Tabela 1. Distribuição dos óbitos devido à neoplasia de encéfalo, em crianças, por região e faixa etária, em São Paulo e no Brasil.

Fonte: Autoria própria, 2025.

No Brasil a distribuição anual dos casos se deu: 1) 2019: 285 (21,9%), 2) 2020: 238 (18,3%), 3) 2021: 269 (20,6%), 4) 2022: 246 (18,9%), 5) 2023: 264 (20,3%). Enquanto a distribuição anual em São Paulo se deu: 1) 2019: 59 (21,7%), 2) 2020: 50 (18,4%), 3) 2021: 49 (18%), 4) 2022: 60 (22%), 5) 2023: 54 (19,9%) (Tabela 2). Demonstrando que 2021 e 2023 foram os anos com maior número de casos no Brasil, enquanto em São Paulo foi o ano de 2022.

Tabela 2. Distribuição dos óbitos devido à neoplasia de encéfalo, em crianças, por região e ano, em São Paulo e no Brasil.

Fonte: Autoria própria, 2025.

A distribuição de acordo com sexo se deu no Brasil: i) sexo masculino: 706 (54,3%) e ii) sexo feminino: 127 (45,7%). Enquanto em São Paulo: i) sexo masculino: 145 (53,3%) e ii) sexo feminino: 127 (46,7%). Demonstrando assim que o sexo masculino teve maior número de óbitos em ambas localidades.

Tabela 3. Distribuição dos óbitos devido à neoplasia de encéfalo, em crianças, por região e sexo, em São Paulo e no Brasil.

Fonte: Autoria própria, 2025.

DISCUSSÃO:

A neoplasia de encéfalo é uma das principais causas de morbimortalidade em crianças, especialmente na faixa etária mais jovem. No período de 2019 a 2023, o Brasil registrou 1.302 óbitos devido a essa condição, com uma significativa concentração na Região Sudeste, que apresentou 39,1% do total de casos, seguida pelas Regiões Nordeste (28,1%) e Sul (14,1%). Este padrão de distribuição geográfica reflete uma tendência observada em estudos anteriores, que apontam uma maior concentração de casos em áreas mais desenvolvidas e com maior acesso a serviços de saúde, como ocorre em estados da Região Sudeste (Santos et al., 2021; Rocha et al., 2019). A maior incidência na Região Sudeste pode estar associada à maior densidade populacional e melhor registro de dados, embora isso não implique necessariamente em maior prevalência da doença, mas sim em uma maior capacidade de diagnóstico e registro.

Em relação à faixa etária, os dados indicam que a maior incidência de óbitos por neoplasia de encéfalo no Brasil ocorre entre crianças de 5 a 9 anos, com 54,4% dos casos registrados, seguido pela faixa de 1 a 4 anos (37,5%) e menores de 1 ano (8,1%). Em São Paulo, os dados são consistentes com a tendência nacional, com 53,7% dos óbitos ocorrendo na faixa etária de 5 a 9 anos. Esses resultados corroboram os achados de que a incidência de neoplasias encefálicas em crianças tende a aumentar com a idade, sendo mais frequente em crianças maiores, possivelmente devido ao maior tempo de exposição ao risco genético e ambiental (Costa et al., 2020; Cardoso et al., 2022). A maior prevalência entre crianças de 5 a 9 anos pode também estar associada ao diagnóstico mais preciso e à maior probabilidade de as neoplasias se manifestarem de forma sintomática nesta faixa etária.

Em termos de distribuição anual, observa-se que a quantidade de óbitos variou ao longo dos anos, com um pico em 2021 e 2023 no Brasil, e em 2022 no estado de São Paulo. Este aumento pode ser parcialmente explicado pelo impacto da pandemia de COVID-19, que afetou o diagnóstico precoce e o acesso ao tratamento médico, retardando a detecção de tumores cerebrais em crianças (Moraes et al., 2021). Em um estudo realizado por Oliveira et al. (2023), foi demonstrado que a interrupção de serviços de saúde devido à pandemia resultou em um aumento de casos diagnosticados tardiamente, o que pode ter contribuído para o aumento de óbitos em 2021 e 2023, anos posteriores ao pico da pandemia. A variação entre os anos pode também refletir flutuações sazonais e o dinamismo da rede de saúde pública, que pode influenciar a rapidez com que os casos são diagnosticados e tratados.

Quanto à distribuição por sexo, os dados indicam que os óbitos por neoplasia de encéfalo são mais prevalentes no sexo masculino, com 54,3% dos casos no Brasil e 53,3% em São Paulo. A literatura científica corrobora esses achados, indicando uma maior predisposição masculina para o desenvolvimento de tumores cerebrais em crianças. Estudos como o de Silva et al. (2020) sugerem que fatores genéticos e hormonais podem explicar essa diferença, uma vez que os meninos tendem a ter uma maior taxa de crescimento celular e uma maior suscetibilidade a mutações genéticas que favorecem o desenvolvimento de neoplasias, especialmente em órgãos do sistema nervoso central.

É importante destacar que, apesar das informações disponíveis sobre a mortalidade infantil por neoplasia de encéfalo, a compreensão das causas e do prognóstico dos tumores cerebrais ainda é limitada, o que torna fundamental a realização de mais estudos que investiguem os fatores de risco, as estratégias de diagnóstico precoce e os avanços terapêuticos para reduzir os índices de mortalidade.

CONCLUSÃO:

O estudo destacou a neoplasia maligna do encéfalo como uma das principais causas de mortalidade infantil no Brasil, com maior concentração de óbitos nas Regiões Sudeste, Nordeste e Sul. O Estado de São Paulo seguiu essa tendência, com uma significativa incidência de casos. A faixa etária mais afetada foi entre 5 a 9 anos, e observou-se uma ligeira predominância de óbitos no sexo masculino, sugerindo influências hormonais e genéticas. A análise temporal indicou picos de óbitos em 2021 e 2023 no Brasil e em 2022 no Estado de São Paulo, possivelmente devido aos impactos da pandemia de COVID-19. Esses achados ressaltam a necessidade de políticas públicas focadas na detecção precoce, tratamento adequado e investimentos em infraestrutura hospitalar e capacitação profissional. Estudos adicionais sobre os fatores etiopatogênicos e os impactos socioeconômicos também são essenciais para estratégias mais eficazes no combate às neoplasias infantis do sistema nervoso central.

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