REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202412202022
Amanda Cunha Fonseca De Lima1; Cristiane Pereira Silva2; Helem Cristina Fonseca3; Jadylla Rafala Faria Mendes4; Nicia Michele De Sousa5; Thailiny Fernanda Barbosa Firmiano6; Thais Silva Sena7; Yasmin Rodrigues Caponi8; Orientadoras: Amanda Cunha Fonseca de Lima, Nícia Michele de Souza e Thais Silva Sena
A neoplasia pode ser definida como um tumor que aparece devido ao crescimento anormal da quantidade de células, ou seja, é a proliferação anormal do tecido. Uma neoplasia cerebral pode ser classificada como benigna e maligna. O estudo tem como objetivo relatar o atendimento ao paciente portador de neoplasia cerebral, que estava em tratamento no hospital até regulação para tratamento especializado, sob a ótica de acadêmicos de enfermagem. Para isso, utilizou-se de um estudo descritivo e retrospectivo do tipo relato de experiência, proveniente da atuação de acadêmicas de Enfermagem durante o Estágio Supervisionado no último ano de graduação, desenvolvido em um hospital municipal no interior do Estado de Goiás. A pesquisa foi realizada através de um levantamento bibliográfico de artigos científicos publicados sobre o tema nos últimos dez anos, com auxílio dos portifólios acadêmicos e prontuário do paciente. Conclui-se que, o atendimento ao paciente com neoplasia cerebral proporcionou um aprendizado significativo sobre os desafios e as complexidades do cuidado a pacientes críticos.
Palavras-Chave: Neoplasia Cerebral; Assistência de enfermagem; Tumor.
Abstract
Neoplasm can be defined as a tumor that arises from the abnormal growth of cell quantity, i.e., the abnormal proliferation of tissue. A brain neoplasm can be classified as benign or malignant. This study aims to report on the care provided to a patient with a brain neoplasm who was undergoing treatment at a hospital until referral for specialized treatment, from the perspective of nursing students. For this purpose, a descriptive and retrospective study was conducted, based on an experience report derived from the activities of Nursing students during their supervised internship in the final year of their undergraduate program, carried out in a municipal hospital in the interior of the State of Goiás. The research was conducted through a bibliographic survey of scientific articles published on the topic over the last ten years, supported by academic portfolios and the patient’s medical records. It is concluded that the care provided to the patient with a brain neoplasm offered significant learning about the challenges and complexities of caring for critical patients.
Keywords: Brain Neoplasm; Nursing Care; Tumor.
1. Introdução
Neoplasia pode ser definida como um tumor que aparece devido ao crescimento anormal da quantidade de células, ou seja, é a proliferação anormal do tecido. Uma neoplasia cerebral pode ser classificada como benigna e maligna. Tumores benignos consistem em aglomerados de células que se multiplicam lentamente e são similares ao tecido original. Por outro lado, tumores malignos apresentam um crescimento descontrolado das células e conseguem infiltrar em outros tecidos e órgãos, pode ter origem no próprio cérebro ou ser uma metástase de um câncer originado em outra parte do corpo1.
Esses tumores podem acometer qualquer indivíduo e faixa etária, existem tratamentos disponíveis, tanto cirúrgicos quanto farmacológicos. Desse modo, o diagnostico tardio do câncer está relacionado com a alta taxa de mortalidade, que conforme o Instituto Nacional de Câncer (INCA) em 2020 os tumores cerebrais primários resultaram em uma taxa de 80% com relação a outros tipos de neoplasias2,3.
Segundo dados do INCA, a quantidade prevista de câncer cerebral, a cada três anos, de 2023 a 2025, é de 11.490 casos, sendo 6.110 em homens e 5.380 em mulheres. No Brasil, o câncer no cérebro ocupa a décima primeira posição entre os tipos de câncer mais frequentes e a oitava posição, em homens, na região Centro-Oeste 4.
Sejam malignas ou benignas, as neoplasias cerebrais podem causar complicações sérias, pois o crânio é rígido e não oferece espaço para a expansão do tumor, sendo suscetíveis a terem problemas neurológicos, cognitivos. Além disso, se esses tumores se localizarem em áreas do cérebro que controlam funções vitais, podem resultar em fraqueza, dificuldade para caminhar, perda de equilíbrio, comprometimento parcial ou total da visão, dificuldade em entender ou utilizar a linguagem e problemas de memória5.
A assistência ao paciente com neoplasia cerebral requer cuidados complexos e contínuos de uma equipe multidisciplinar, que envolvem tanto aspectos físicos quanto emocionais. A progressiva perda de funções cognitivas e motoras do paciente aumenta sua dependência, mesmo em tarefas básicas, como higiene pessoal e administração de medicamentos. Profissionais da saúde devem estar atentos para oferecer suporte adequado, assegurando uma assistência integral6.
A Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) é essencial para o desenvolvimento e planejamento de ações da equipe voltada para os cuidados prestados aos pacientes. Vale ressalta a importância do papel do enfermeiro em oferecer cuidados específicos, personalizados às necessidades de cada paciente, visando garantir maior conforto durante a permanência hospitalar. Nesse contexto, a assistência de enfermagem é crucial para a qualidade do cuidado e a recuperação efetiva de pacientes7.
Desse modo, o presente estudo tem como objetivo relatar o acompanhamento de um paciente com neoplasia cerebral, realizado por acadêmicos de enfermagem durante o estágio supervisionado em um hospital municipal no interior do Estado de Goiás, em fase de conclusão do curso.
2. Metodologia
Este estudo tem como objetivo descrever um atendimento a um paciente com Neoplasia Cerebral. Foi realizado um estudo descritivo e retrospectivo do tipo relato de experiência, proveniente da atuação de acadêmicos de Enfermagem durante o Estágio Supervisionado do último ano de graduação, desenvolvido em um hospital municipal do interior do Estado de Goiás, durante os meses de agosto e setembro. As vantagens do relato de experiência abrange o contexto social e acadêmico, podendo possibilitar um novo olhar e agregar cientificamente8.
A pesquisa foi conduzida durante o estágio supervisionado para formação universitária envolvendo os estagiários do nono período do curso de enfermagem. Inicialmente, foi realizado um levantamento bibliográfico sobre neoplasia cerebral, diagnóstico, tratamento e importância do papel do enfermeiro. Esse embasamento teórico foi fundamental para nortear a interação com a paciente. Esse tipo de estudo permite relatar as situações vivenciadas, buscando descrever essas vivências objetivamente e contribuir com os saberes científicos.
Para a coleta de dados foram utilizados os portfólios dos acadêmicos, prontuário do paciente, instrumentos no qual são descritas as atividades realizadas diariamente do quadro clínico e uso de artigos científicos. Os critérios de inclusão foram artigos disponíveis na íntegra, em língua portuguesa, produzidos nos últimos dez anos. Os critérios de exclusão foram artigos em língua estrangeira, que apresentem fuga do tema e que estejam fora do recorte temporal definido. O período de coleta de dados foi de agosto a novembro de 2024.
3. Resultados e discussão
O paciente J.R., sexo masculino, 62 anos, internado inicialmente com suspeita de pneumonia e AVE (Acidente Vascular Encefálico) após apresentar quadro de cefaleia há 2 semanas, alteração do nível de consciência e déficit motor. A realização do plano de cuidado iniciou no dia 30/08/2024, em que foi realizado o primeiro atendimento. Foram solicitados exames para investigação e confirmação do diagnóstico. Após resultados dos exames complementares foi confirmada a neoplasia cerebral, com isso paciente foi regulado via CRE e mantido em internação para acompanhamento do caso no setor de clínica médica do hospital
Paciente encaminhado para neurocirurgia do Hospital Estadual do Centro-Norte Goiano (HCN), porém devido recomendações médicas foi contra referenciado sugerindo regular para um neurocirurgião com perfil oncológico.
A neoplasia cerebral é uma massa cancerígena ou não cancerígena de células irregulares, que podem iniciar no cérebro ou se instalar nele devido a um câncer que esteja em outra parte do corpo. Desta forma, os sintomas podem variar dependendo do local que o tumor se encontra, podendo ser cefaleia, visão turva, perda de equilíbrio, confusão mental e convulsões9.
Ao exame físico encontrava-se desnutrido, pulso de 67bpm, saturação 92% e pressão arterial 130x90mmHg. Durante a visita beira leito notava-se que o paciente estava letárgico, confuso, agitado, pouco responsivo, recorrendo a uso de fralda geriátrica, porém devido a sua agitação desprezava parte da diurese no próprio leito.
Dessa forma, houve dificuldade para prestar cuidados, como aferir SSVV (Sinais Vitais) e administrar os medicamentos, pois o paciente se encontrava em estado de confusão mental, retirava os equipamentos e colocava as mãos entre as pernas. Para realizar a administração dos medicamentos por VO (Via Oral) era ainda mais difícil, pelo estado do paciente em alguns dias se tornou necessário até diluir os comprimidos e administrar por meio de uma seringa na boca do paciente.
Indubitavelmente, as acadêmicas tiveram dificuldades para prestar atendimento ao paciente em questão, por se tratar de enfermo de complexo cuidado devido à neoplasia cerebral estar afetando sua consciência e comportamento. Com isso, também passaram dificuldade devido à falta de cooperação dos acompanhantes em auxiliar a equipe na hora do cuidado com o paciente.
O plano de cuidados foi realizado conforme a com a prescrição médica e a avaliação da enfermagem, onde as acadêmicas realizavam a aferição dos SSVV, exame físico e preparo e administração de medicamento conforme aprazamento. Dessa forma, por se tratar de um paciente que demandava cuidados específicos, era de função da enfermagem desenvolver a SAE, conforme descrito na Tabela 1 abaixo.
TABELA 1 – Sistematização da Assistência de Enfermagem ao paciente com Neoplasia Cerebral.
Goianésia-GO, Brasil, 2024.
Diagnóstico de Enfermagem | Intervenções de Enfermagem |
Risco de Queda | Manter grade do leito elevada e supervisionar o paciente. |
Nutrição desequilibrada | Fornecer dispositivos e utensílios adaptadores para a refeição e comunicar a nutricionista para intervenções nutricionais. |
Déficit no volume de líquidos | Realizar balanço hídrico e o controle de hipovolemia. |
Risco de Infecção | Supervisionar os locais de acesso e realizar precauções de contato. |
Déficit no autocuidado para banho/higiene. | Realizar ou auxiliar no banho e manter cuidados com a pele, unhas, cabelos, olhos, ouvidos e pés. |
Risco de lesão por pressão | Realizar mudança de decúbito e inspeção corporal. |
A experiência relatada proporcionou uma visão aprofundada sobre os desafios do cuidado a pacientes com neoplasia cerebral, demonstrando as dificuldades enfrentadas tanto pelo paciente quanto pela equipe de enfermagem. A complexidade do quadro clínico do paciente, exigiu um esforço significativo para fornecer assistência adequada e humanizada, superando dificuldades como a resistência do paciente e a não cooperação dos acompanhantes ao ser realizado os cuidados da enfermagem.
A atuação foi desafiadora, principalmente em termos de manejo do paciente que se encontrava em condição neurológica severa, visto que o ensino acadêmico não proporciona uma experiência acentuada em relação ao cuidado direto com o paciente, reforçando a importância de habilidades técnicas e emocionais, como paciência, resiliência e empatia. Além disso, a aplicação da SAE foi essencial para planejar e executar cuidados de maneira organizada e eficaz, demonstrando a relevância do papel do enfermeiro no atendimento ao paciente.
Destaca-se também a importância do trabalho multidisciplinar no cuidado de pacientes com neoplasias específicas, que apresentam necessidades complexas e exigem um acompanhamento contínuo. A experiência durante o estágio proporcionou uma maior compreensão das dificuldades e da importância da comunicação eficaz entre os membros da equipe e os acompanhantes, para garantir que o paciente receba os cuidados necessários de forma eficaz.
Até a finalização do campo de estágio, o paciente em questão se encontrava em internação hospitalar aguardando a transferência de unidade para tratamento. Apesar das dificuldades explanadas, o atendimento deste paciente trouxe grande aquisição de conhecimento, uma vez que, foi necessária muita paciência e dedicação, por parte das acadêmicas, em realizar os cuidados de maneira mais confortável possível para o paciente, prestando assim um atendimento integralizado e humanizado.
4. Conclusão
Conclui-se que, o atendimento ao paciente com neoplasia cerebral proporcionou um aprendizado significativo sobre os desafios e as complexidades do cuidado a pacientes críticos. Foi possível desenvolver habilidades práticas, técnicas e interpessoais essenciais para a prática da enfermagem, como a importância de uma assistência humanizada e a necessidade de adaptação das abordagens de cuidado frente às particularidades de cada paciente.
Apesar das dificuldades enfrentadas, como a falta de cooperação dos acompanhantes e a resistência do paciente, a experiência contribuiu para o desenvolvimento da capacidade de solucionar problemas e aplicar a SAE de maneira prática, garantindo um cuidado integral e de qualidade. Este relato reforça a importância da formação prática em ambientes hospitalares e da aplicação de um cuidado individualizado e humanizado, respeitando as necessidades e especificações de cada paciente.
5. Referências
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3. BRASIL INCA. 2020. In: Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Estimativa 2020 –Incidência de câncer no Brasil. 2020: Disponível em: <https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files/media/document/estimativa-2020-incidencia-de-cancer-no-brasil.pdf.> Acesso em: 28 novembro 2024.
4. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Estimativa 2023: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2022. Disponível em: < https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/document//estimativa-2023.pdf>. Acesso em: 22 outubro 2024.
5. BILSKY, M. Considerações gerais sobre tumores cerebrais. Cornell University: Weill Medical College, 2024. Disponível em: < https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-cerebrais-da-medula-espinal-e-dos-nervos/tumores-do-sistema-nervoso/considera%C3%A7%C3%B5es-gerais-sobre-tumores-cerebrais >. Acesso em: 23 outubro 2024.
6. MATTA, P. O cuidador de paciente com neoplasia cerebral maligna primária: os desafios do cuidado. São Paulo: UNESP, 2014. Disponível em: < https://repositorio.unesp.br/items/2363a096-febc-4a59-bb41-eddf3129c522>. Acesso em: 23 outubro 2024.
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1Orcid: 0009-0004-6236-8465
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2Orcid: 0009-0002-2142-3216
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3Orcid: 0009-0001-5631-0652
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4Orcid: 0009-0007-5641-9301
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5Orcid: 0009-0002-9133-0931
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6Orcid: 0009-0005-2089-6961
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7Orcid: 0009-0009-7659-4363
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8Orcid: 0009-0003-6469-2421
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