NEONATOS E LACTENTES COM CARDIOPATIA CONGÊNITA: NUANCES RELACIONADAS À ALIMENTAÇÃO POR VIA ORAL

NEONATES AND INFANTS WITH CONGENITAL HEART DISEASE: NUANCES RELATED TO ORAL FEEDING

NEONATOS Y LACTANTES CON CARDIOPATÍAS CONGÉNITAS: MATICES RELACIONADOS CON LA ALIMENTACIÓN ORAL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202509221443


Josiene dos Santos1
Maria da Conceição Carneiro Pessoa de Santana2
Ana Marlusia Alves Bomfim3
Alexsandra Nunes de Assunção4
Erika Henriques de Araújo Alves da Silva5
Waleria Ferreira da Silva6
Maria Isabele Carneiro Pessoa de Santana7


RESUMO

Neonatos e lactentes com cardiopatia congênita apresentam risco aumentado de dificuldades alimentares devido a múltiplos fatores, como: descompensação hemodinâmica, maior esforço respiratório, gastro-refluxo, internações prolongadas, ventilação mecânica e possíveis lesões iatrogênicas. Essas condições podem impactar o ganho ponderal, aumentar o tempo de internação e elevar o risco de aspiração e complicações respiratórias. Esta revisão sintetiza evidências sobre aspectos relacionados à prevalência, a fatores fisiopatológicos, a processos de avaliação (clínica e instrumental), ao manejo fonoaudiológico e a implicações para a equipe interdisciplinar. Compreender as nuances da alimentação por via oral em neonatos e lactentes com cardiopatia congênita é fundamental para orientar práticas clínicas seguras, eficazes e centradas nas necessidades individuais de cada paciente.

Palavras-chave: Recém-Nascido; Lactente; Cardiopatias Congênitas; Ingestão de Alimentos.

ABSTRACT

Neonates and infants with congenital heart disease are at increased risk of feeding difficulties due to multiple factors, such as hemodynamic decompensation, increased respiratory effort, gastro-reflux, prolonged hospitalizations, mechanical ventilation, and potential iatrogenic injuries. These conditions can impact weight gain, increase hospital stays, and increase the risk of aspiration and respiratory complications. This review synthesizes evidence on aspects related to prevalence, pathophysiological factors, assessment processes (clinical and instrumental), speech-language pathology management, and implications for the interdisciplinary team. Understanding the nuances of oral feeding in neonates and infants with congenital heart disease is essential to guide safe, effective clinical practices focused on the individual needs of each patient.

Keywords: Infant, Newborn; Infant; Heart Defects, Congenital; Eating / Food Intake / Dietary Intake.

RESUMEN

Los neonatos y lactantes con cardiopatías congénitas presentan un mayor riesgo de dificultades alimentarias debido a múltiples factores, como la descompensación hemodinámica, el aumento del esfuerzo respiratorio, el reflujo gastroesofágico, las hospitalizaciones prolongadas, la ventilación mecánica y las posibles lesiones iatrogénicas. Estas afecciones pueden afectar el aumento de peso, aumentar las estancias hospitalarias y aumentar el riesgo de aspiración y complicaciones respiratorias. Esta revisión sintetiza la evidencia sobre aspectos relacionados con la prevalencia, los factores fisiopatológicos, los procesos de evaluación (clínica e instrumental), el manejo de la logopedia y las implicaciones para el equipo interdisciplinario. Comprender los matices de la alimentación oral en neonatos y lactantes con cardiopatías congénitas es esencial para guiar prácticas clínicas seguras y eficaces, centradas en las necesidades individuales de cada paciente.

Palabras-clave: Recién Nacido; Lactante; Cardiopatías Congénitas; Ingestión de Alimentos.

1. INTRODUÇÃO

A cardiopatia congênita (CC) é definida como uma anomalia estrutural do coração e/ou dos grandes vasos presente ao nascimento, que pode variar desde defeitos hemodinamicamente insignificantes até lesões complexas que exigem intervenção cirúrgica precoce (Meng et al., 2024). Estima-se que a CC afete de 8 a 10 por 1.000 nascidos vivos, configurando-se como a anomalia congênita mais comum e uma das principais causas de morbimortalidade infantil (Chan et al., 2025).

Crianças nascidas com CC, frequentemente, apresentam desafios nutricionais e de alimentação, desde a fase neonatal, decorrentes de mecanismos fisiopatológicos como cianose, sobrecarga pulmonar, redução do débito cardíaco e maior esforço respiratório, que comprometem a coordenação entre sucção-deglutição-respiração e aumentam o risco de intolerância oral e desequilíbrio energético (Chan et al., 2025; Kołodzie; Skulimowska, 2024).

No contexto pediátrico, a delimitação etária é essencial para compreender o impacto da CC sobre o desenvolvimento alimentar. O termo neonato se refere ao recém-nascido durante os primeiros 28 dias de vida, período de maior vulnerabilidade adaptativa e de maior risco de morbidade e mortalidade (WHO, 2023); já o termo lactente corresponde à criança no período após o neonatal até o primeiro e, em algumas definições, até 23 meses de idade (BIREME/OPAS/OMS, 2025). Essas delimitações temporais são importantes porque a maturação das habilidades de alimentação oral e a capacidade de gerar aporte calórico adequado mudam rapidamente, durante esses períodos (Lau et al., 2022).

A ingestão por via oral depende da interação harmônica entre sucção, deglutição e respiração. Em neonatos e lactentes com CC, esse processo é frequentemente comprometido por alterações fisiopatológicas, como insuficiência cardíaca, cianose, sobrecarga pulmonar e fadiga respiratória, resultando em risco aumentado de disfagia, aspiração e dificuldades no ganho ponderoestatural (Norman et al., 2022; Silva et al., 2023). Estudos apontam que entre 30% e 50% dessas crianças apresentam distúrbios de alimentação ou deglutição, com impacto direto sobre tempo de internação, prognóstico cirúrgico e qualidade de vida familiar (Norman et al., 2022).

Lactentes com cardiopatia congênita podem apresentar uma série de desafios na alimentação oral, como dificuldades na sucção eficaz devido a fraqueza muscular, fadiga durante a alimentação devido à baixa capacidade cardíaca, e problemas de coordenação motora oral decorrentes de alterações anatômicas no trato orofacial. Esses desafios podem levar a recusa alimentar, desnutrição, aspiração e pneumonia por aspiração (Silva et al., 2023).

Em 2019, alguns pesquisadores (Goday et al., 2029) propuseram o termo ”distúrbio alimentar pediátrico” (DAP) para definir a condição em que a criança possui uma ingestão oral prejudicada e não apropriada para a sua idade, com interferências em seu desenvolvimento. Segundo eles, o DAP pode ser ocasionado por uma disfunção médica, nutricional, habilidade alimentar e/ou psicossocial e pode ocorrer em qualquer fase da infância, sendo mais prevalente entre 6 meses e 4 anos de idade (Dutra et al., 2022).

Publicações apontam movimento para cuidados nutricionais individualizados, com estratégias que consideram a fisiologia hemodinâmica da CC, favorecendo abordagens estratificadas que buscam otimizar o ganho de peso sem aumentar complicações (Chan et al., 2025). Estudos recentes também questionam práticas tradicionais de jejum perioperatório, mostrando que, quando criteriosamente aplicadas, abordagens de alimentação pré-operatória e protocolos padronizados podem favorecer maior probabilidade de alimentação oral plena na alta hospitalar (Irfan et al., 2025).

Nesse contexto, compreender as nuances da alimentação por via oral em neonatos e lactentes com CC é fundamental para planejar estratégias de cuidado que favoreçam a segurança alimentar, o desenvolvimento global e a redução de complicações hospitalares.

O objetivo é sintetizar as evidências científicas acerca da prevalência das dificuldades alimentares em neonatos e lactentes com cardiopatia congênita, discutir os fatores fisiopatológicos associados, descrever os métodos de avaliação clínica e instrumental, destacar o manejo fonoaudiológico e refletir sobre as implicações para a prática interdisciplinar em saúde.

2. METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão de literatura, a qual resultou na construção de uma análise ampla e objetiva das evidências encontradas. O estudo foi estruturado seguindo seis etapas: 1) elaboração do problema de pesquisa; 2) busca nas bases de dados; 3) seleção dos estudos; 4) coleta de dados; 5) análise e interpretação; 6) divulgação dos resultados.

Para responder à pergunta de pesquisa “o que as evidências referem sobre a alimentação por via oral em neonatos e lactentes com cardiopatia congênita?”,  foram realizadas buscas em bases eletrônicas – Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System online (MEDLINE), Scielo e serviço de pesquisa da National Library of Medicine nas bases de dados PubMed – até setembro de 2025, com os termos: Feeding Behavior, Feeding Methods, Deglutition Disorders, Congenital Heart Disease, Nutrition, Infant, Newborn.

Foram selecionadas evidências relacionadas à pergunta norteadora, sem restrições quanto ao tipo do estudo e ao idioma. Os estudos foram triados com leitura dos títulos e resumos e seguiram para avaliação de texto completo. Também foram incluídos diretrizes nacionais e documentos internacionais sobre alimentação e deglutição pediátrica.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram localizados 64 registros nas bases de dados, sendo:

– Cinco, na SciELO, para as estratégias de busca: deglutition disorders AND Congenital heart disease / congenital heart disease AND nutrition AND infant / nutrition AND Congenital heart disease/ feeding methods AND Congenital heart disease;

– 48, na MEDLINE (Via PubMed), para as estratégias: feeding behavior AND deglutition disorders AND Congenital heart disease / deglutition disorders AND newborn AND Congenital heart disease;

– 11, na LILACS, para as estratégias: doença cardíaca congênita AND nutrição AND recém-nascido / doença cardíaca congênita AND métodos de alimentação AND recém-nascido.

Foram analisados títulos e resumos e, das 64 evidências, 28 foram selecionadas para leitura completa, dos quais 19 pré-selecionados foram excluídos por não estarem associados à pergunta norteadora da pesquisa. Ao final da busca, 9 foram incluídos nesta revisão.

As evidências selecionadas serão apresentadas de acordo com os aspectos: (1) prevalência e fatores associados; (2) fisiopatologia das dificuldades alimentares; (3) estratégias de avaliação; (4) intervenções fonoaudiológicas e recomendações práticas.

Estudos e revisões mostram ampla variabilidade na prevalência de dificuldades alimentares e disfagia em crianças com CC. Estimativas relatam taxas que variam amplamente (~18% a >80%), dependendo da população, idade e critérios diagnósticos. Essas dificuldades estão associadas a maior necessidade de alimentação por sonda, maior tempo de internação e risco de crescimento inadequado (Norman et al., 2022). As evidências selecionadas e estudadas no âmbito dessa categoria destacam impacto sobre ganho de peso, custos, tempo de internação e qualidade de vida familiar. Ressaltam-se as seguintes implicações clínicas: monitorização nutricional rigorosa e rastreamento fonoaudiológico precoce são essenciais para identificar lactentes em risco e planejar intervenções. 

Os seguintes mecanismos fisiopatológicos contribuem para a disfunção alimentar em CC (Lefton-Greif, 2021): alterações hemodinâmicas, incluindo hipoperfusão sistêmica, congestão pulmonar e baixa tolerância ao esforço, que comprometem a eficiência e a resistência funcional durante os processos de sucção e deglutição; respiração aumentada / taquipneia compromete a coordenação sucção-deglutição-respiração, favorecendo aspiração e engasgos; imaturidade neuromotora (particularmente em recém-nascidos prematuros com CC) prejudica padrões motores orais; experiências alimentares limitadas (múltiplos procedimentos, intubação, jejum) conduzem a aversão oral e atraso do aprendizado das habilidades alimentares. 

Revisões narrativas e revisões de diretrizes indicam que o manejo nutricional deve ser individualizado, considerando a fisiologia do defeito cardíaco (por exemplo, sobrecarga pulmonar que limita oferta hídrica versus situações de hipoperfusão em que a tolerância enteral pode ser reduzida). Recomenda-se priorizar leite materno quando possível, usar fortificação calórica quando necessário para otimizar ganho (respeitando restrições de volume) e ter baixo limiar para suporte alternativo (sonda nasoenteral / nutrição parenteral) quando a oferta oral for insegura. Revisões de diretrizes (Kołodziej; Skulimowska, 2024) mostram heterogeneidade nas recomendações e apontam lacunas importantes na qualidade da evidência, ressaltando a necessidade de protocolos institucionais adaptados e pesquisa adicional.

Avaliações clínicas apenas (observação de mamada e sinais clínicos) subestimam a presença de aspiração silenciosa em lactentes com CC. Estudos mostram que VFSS (videofluoroscopic swallowing study) e FEES (fiberoptic endoscopic evaluation of swallowing) detectam alterações que mudam o manejo clínico (modificação de consistência, indicação de jejum, necessidade de sondas). Em particular, trabalhos como Kwa et al. (2022), demonstraram que o exame FEES é viável, bem tolerado e útil na avaliação de disfagia em lactentes com CC e que sinais como congestão laríngea úmida no FEES se correlacionam com risco aumentado de aspiração.

A avaliação clínica fonoaudiológica em neonatos e lactentes com CC é crucial para detectar e intervir precocemente em dificuldades alimentares. As alterações hemodinâmicas — incluindo hipoperfusão sistêmica, congestão pulmonar e baixa tolerância ao esforço — reduzem a eficiência e a resistência necessárias para a sucção e deglutição (Goday et al., 2019). A atuação fonoaudiológica inclui aplicação de protocolos específicos de avaliação miofuncional orofacial, observação da sucção e deglutição, análise de sinais de risco durante a alimentação e orientação familiar, sempre em articulação com a equipe interdisciplinar, garantindo segurança, eficácia e otimização do ganho ponderal (Silva et al., 2023; Kwa et al., 2022).

Evidência observacional sugere benefício funcional da exposição controlada à alimentação oral antes da cirurgia. Estudos/coortes multicêntricas (Dabbagh et al.; Irfan et al., 2025) reportaram que neonatos/lactentes que receberam oferta oral (quando segura) no pré-operatório tiveram maior probabilidade de alta hospitalar sem necessidade de alimentação por sonda. Esses estudos, embora observacionais, sugerem que a proibição sistemática de alimentação oral pré-operatória pode impedir o desenvolvimento de competências orais necessárias para o desmame. É importante interpretar esses achados com cautela (potencial viés de seleção), mas eles sustentam a prática de considerar oferta por via oral/aleitamento pré-operatório quando o estado hemodinâmico permite e com monitorização adequada.

As intervenções direcionadas a neonatos e lactentes com cardiopatia congênita devem priorizar três pilares fundamentais: segurança da via aérea, otimização do ganho calórico e estímulo à aprendizagem alimentar. A segurança da via aérea é crucial devido ao risco elevado de aspiração e disfagia, especialmente em crianças com insuficiência cardíaca, cianose ou fadiga durante a sucção. Estratégias incluem posicionamento adequado durante a alimentação, monitorização da saturação de oxigênio, pausas programadas e uso de técnicas de suporte oral específicas, com supervisão fonoaudiológica constante (Chan et al., 2025).

Paralelamente, a intervenção visa garantir aporte energético suficiente para o crescimento e desenvolvimento, considerando que neonatos e lactentes com cardiopatia congênita apresentam maior gasto energético basal e menor eficiência de sucção. O manejo nutricional pode envolver ajuste da densidade calórica das fórmulas ou do leite materno, uso de técnicas compensatórias de sucção, volumes fracionados e, quando necessário, suplementação enteral temporária (Chan et al., 2025).

Outrossim, a aprendizagem alimentar deve ser estimulada de forma gradual e individualizada, respeitando o ritmo e a tolerância de cada lactente. Intervenções fonoaudiológicas incluem exercícios de estimulação oral, treinamento da coordenação sucção-deglutição-respiração, exposição controlada a diferentes volumes e consistências e reforço positivo para aceitação de alimentos, promovendo o desenvolvimento de habilidades alimentares seguras e independentes ao longo do tempo (Chan et al., 2025). Essas práticas integradas são essenciais para reduzir complicações, otimizar o ganho ponderal e favorecer a transição para a alimentação oral plena, impactando positivamente o prognóstico clínico e a qualidade de vida familiar. 

Os aspectos fonoaudiológicos relacionados à alimentação por via oral em lactentes com cardiopatia congênita exigem uma abordagem interdisciplinar e no âmbito da singularidade do cuidado. A intervenção precoce e baseada em evidências é essencial para otimizar o desenvolvimento alimentar desses bebês e prevenir complicações a longo prazo. A colaboração entre os profissionais de saúde é fundamental para garantir os melhores desfechos possíveis.

Ressalta-se que a intervenção fonoaudiológica visa aprimorar as habilidades alimentares do lactente e promover uma alimentação segura e eficaz. Isso pode incluir técnicas de posicionamento adequado durante a alimentação, exercícios de fortalecimento muscular oral, uso de bicos e mamadeiras especiais, e adaptações na consistência e volume dos alimentos. Além disso, a orientação dos pais é crucial para garantir a continuidade do tratamento em casa (Oliveira et al., 2024).

Lactentes com CC enfrentam desafios importantes para a amamentação: fadiga durante a mamada, dessincronização sucção–deglutição–respiração, maior gasto energético, risco de descompensação hemodinâmica e maior prevalência de disfagia/aspiração. Todavia, apesar desses desafios, leite humano e a amamentação direta estão associados a melhores desfechos clínicos em vários estudos e devem ser priorizados, sempre que clinicamente possível, com suporte multidisciplinar (cardiologia, neonatologia, nutrição, fonoaudiologia e apoio à lactação) (Elgersma et al., 2023).

A amamentação direta pode ser viável para muitos neonatos com CC, mas sua segurança deve ser avaliada caso a caso. Sinais de risco que recomendam investigação ou suporte incluem dessaturação significativa durante a mamada, cansaço importante que impede a ingestão do volume necessário, vômitos persistentes ou sinais clínicos de aspiração. Quando houver suspeita de aspiração ou dificuldade de coordenação, a avaliação fonoaudiológica clínica e, se indicado, instrumental (VFSS ou FEES) deve ser realizada, pois avaliações clínicas isoladas podem subestimar aspiração silenciosa. Pesquisadores (Kwa et al., 2022) demonstraram que FEES é uma ferramenta viável e informativa em lactentes com CC e pode orientar decisões sobre manutenção/alteração da amamentação.

Chan et al. (2025) destacam que a nutrição em neonatos e lactentes com cardiopatia congênita deve ser cuidadosamente individualizada, considerando o alto gasto energético basal, a baixa tolerância à alimentação oral e os riscos associados à fadiga e à aspiração. Os autores enfatizam a importância de estratégias que combinem aportes calóricos adequados — por meio de fórmulas densificadas ou leite materno enriquecido — com técnicas adaptativas de alimentação, como posicionamento adequado, sucção fracionada, pausas durante a mamada e monitoramento clínico contínuo. Além disso, a equipe multiprofissional deve promover a transição gradual para a alimentação oral plena, priorizando a segurança da via aérea, o estímulo ao desenvolvimento de habilidades alimentares e a aprendizagem de padrões de sucção-deglutição-respiração eficientes. Essas práticas nutricionais individualizadas são fundamentais para otimizar o ganho ponderal, reduzir complicações pós-operatórias e favorecer a evolução clínica global desses pacientes.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise da literatura sobre neonatos e lactentes com cardiopatia congênita evidenciou que esses pacientes apresentam elevada prevalência de dificuldades alimentares, resultantes de alterações fisiológicas que comprometem a coordenação entre sucção, deglutição e respiração, além de favorecerem a fadiga durante a alimentação. Tais dificuldades podem afetar o ganho ponderal, o desenvolvimento global e a segurança alimentar, reforçando a importância de intervenções precoces e individualizadas.

A avaliação clínica e instrumental constitui ferramenta essencial para identificar alterações específicas, permitindo o planejamento de estratégias que promovam segurança, eficiência e progressão da alimentação oral. O manejo fonoaudiológico desempenha papel central nesse contexto, abrangendo a proteção da via aérea, o estímulo à aprendizagem alimentar e a otimização do aporte calórico, além de orientar as famílias sobre práticas de alimentação seguras e adaptadas às necessidades do neonato ou lactente.

A integração de profissionais de diferentes áreas é determinante para a implementação de um cuidado interdisciplinar efetivo. A colaboração possibilita intervenções coordenadas, favorecendo desfechos clínicos positivos, desenvolvimento saudável das crianças e melhoria da qualidade de vida das famílias. Dessa forma, compreender as nuances da alimentação por via oral em neonatos e lactentes com cardiopatia congênita é fundamental para orientar práticas clínicas seguras, eficazes e centradas nas necessidades individuais de cada paciente.

REFERÊNCIAS

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1Graduanda em Fonoaudiologia pela Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas – UNCISAL E-mail: josiene.santos@academico.uncisal.edu.br
2Professora da UNCISAL; Fonoaudióloga do Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (HUPAA/EBSERH⁄UFAL). E-mail: maria.pessoa@uncisal.edu.br
3Professora Adjunta da UNCISAL. E-mail: ana.bomfim@uncisal.edu.br
4Fonoaudióloga da Prefeitura Municipal de Palmeira dos Índios-AL  e da UNCISAL (MESM/CER). E-mail: fga.alexsandra.nunes@hotmail.com
5Professora da UNCISAL. E-mail: erika.henriques@uncisal.edu.br
6Fonoaudióloga da Secretaria de Saúde de Maceió-AL e da UNCISAL (MESM). E-mail: ferreira.waleria@gmail.com
7Graduanda em Medicina CESMAC. E-mail: maria.isabele.santana@gmail.com