NEUARCHITECTURE IN THE SCHOOL ENVIRONMENT: DEVELOPMENT AND INCLUSION OF CHILDREN WITH AUTISTIC SPECTRUM DISORDER
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7360823
Andressa Andrade Santos1
Carlos Henrique da Silva Barreto2
RESUMO
Este artigo tem o intuito de comprovar, através de estudos que abordam a importância e a necessidade do uso da neuroarquitetura ao projetar salas de aula, com a intenção de melhorar o desempenho na fase de primeira infância, aproveitando da neuroplastia cerebral da idade, e, incluir crianças com Transtorno do Espectro Autista, destacando que não há a necessidade de excluí-las do meio para que estas possam desenvolver o aprendizado, e, produzir um folder informativo para os pais, com intuito de continuar o estimulo sensorial em casa a partir de pequenas adaptações. Para isso, foram utilizadas pesquisas bibliográficas, por meio de livros, artigos científicos, cartilhas e sites, buscando sobre a importância do ambiente escolar apropriado para o desenvolvimento, o que é do desenvolvimento atípico das crianças com autismo, sobre neuroplastia na primeira infância e por fim sobre a neuroarquitetura com a abordagem para autistas e para o ambiente escolar.
Palavras-chave: Neuroarquitetura. Crianças. Escola. Desenvolvimento.
RESUMO
This article aims to prove, through studies that address the importance and necessity of using neuroarchitecture when designing classrooms, with the intention of improving performance in early childhood, taking advantage of the cerebral neuroplasty of age, and, include children with Autistic Spectrum Disorder, highlighting that there is no need to exclude them from the environment so that they can develop learning, and produce an informative folder for parents, with the aim of continuing the sensory stimulation at home from small adaptations. For this, bibliographic research was used, through books, scientific articles, booklets and websites, seeking the importance of the appropriate school environment for development, what is the atypical development of children with autism, about neuroplasty in early childhood and why end on neuroarchitecture with the approach for autistic people and for the school environment.
Palavras-chave: Neuarchitecture. Kids. School. Development.
1. INTRODUÇÃO
De acordo com o Ministério da Saúde (2021), o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio neurológico caracterizado principalmente pelo desenvolvimento atípico, com manifestações comportamentais, movimentos estereotipados e repetitivos, dificuldade na comunicação e interação social. Além disso, há normalmente um hiper foco em assuntos ou atividades específicas, que variam a depender do que a criança tem interesse –trens, carros, caminhões, países, etc. E, de acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e divulgada pelo site G1, o número de alunos com TEA que estão matriculados em classes comuns no Brasil aumentou em 37,27% de 2017 para 2018. Isso significa que há a necessidade de que as escolas estejam preparadas para receber crianças com esse transtorno e isso aumenta de maneira exponencial com passar do tempo.
Segundo Audrey Migliani (2021) “É inquestionável que os ambientes influenciam diretamente no comportamento[…]”. E, assim como o autismo, os estudos sobre estas influências tem tido grandes evoluções, principalmente na sua aplicabilidade para estímulos sensoriais, que tem trazido resultados de extrema importância que podem, e vão, auxiliar o desenvolvimento cognitivo de crianças. A postagem “O papel da escola no desenvolvimento da criança” publicada no site Neurologista Infantil em 2019 exemplifica sobre como o ambiente escolar auxilia no desenvolvimento infantil.
O site Autismo e Realidade publicou em maio de 2020 uma reportagem abordando sobre o aumento no número de diagnósticos de transtorno do espectro autista. Nesta pesquisa feita pelo Centro de controle e prevenção de doenças que é uma agência do Departamento de saúde e de Serviços humanos dos Estados Unidos – CDC, constava a informação de que em 2004, 1 a cada 166 crianças eram diagnosticadas com TEA, já em 2012 o número foi para 1 a cada 88, em 2018 foram 1 a cada 59 e em 2020 nos deparamos com o número de 1 a cada 54 crianças.
Os casos de TEA, vem crescendo gradativamente com o passar dos anos, ou melhor, o número de diagnósticos mais precisos devido a disseminação de informação sobre o assunto, tem aumentado (GALVÃO, 2020). Os diagnósticos de TEA são feitos normalmente na primeira infância, porém há muitos casos em que só se descobre na adolescência ou até mesmo na vida adulta. A descoberta na infância faz com que os tratamentos de neuro-estimulação tenham melhores resultados devido a neuroplastia cerebral nos primeiros anos de vida, que nada mais é do que a “…capacidade do sistema nervoso de modificar sua estrutura e função em decorrência dos padrões de experiencia…’ (SPERANDIO, 2013).
É de conhecimento teórico e prático para arquitetos a influência que o ambiente exerce na pessoa, tanto que, os projetos buscam possuir características próprias a depender da função de cada espaço. Porém, há algum tempo, as pesquisas relacionadas a essa área da arquitetura tem sido aprofundada para que, a utilização específica de cores, texturas, materiais e formas, afetem o comportamento e o desenvolvimento a partir do estímulo dos sentidos. Hoje, esta área de estudo é comumente conhecida como neuroarquitetura.
A finalidade é discorrer sobre a importância do uso da neuroarquitetura, com foco nos estímulos sensoriais, ao projetar salas de aulas para crianças em período de primeira infância (0 a 8 anos), visando um melhor desenvolvimento e, principalmente, a adaptação para recepção de crianças com autismo. E, ao final, desenvolver uma cartilha com dicas para os pais adaptarem os espaços em casa, com intuito de facilitar a rotina diária no ambiente residencial bem como escolar.
Foram utilizadas pesquisas bibliográficas por meio de livros, artigos científicos, cartilhas e informações por meio de sites com temática do assunto aqui abordado, buscando informações sobre o papel do ambiente escolar no desenvolvimento infantil, acerca do desenvolvimento atípico da criança com autismo, neuroplastia e sobre a neuroarquitetura para autistas e no ambiente escolar.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Neste referencial serão apresentadas as fundamentações teóricas sobre a importância e necessidade do uso da neuroarquitetura ao projetar salas de aula infantis, e, como isso pode influenciar na qualidade do aprendizado e do desenvolvimento. A pesquisa foi elaborada com cinco tópicos pontuais, sendo eles: a importância do espaço escolar para o desenvolvimento infantil, o que é o desenvolvimento atípico da criança com autismo, a neuroplastia na primeira infância, a neuroarquitetura para pessoas com autismo e a neuroarquitetura no ambiente escolar, destacando a importância dos estímulos sensoriais.
2.1 IMPORTANCIA DO ESPAÇO ESCOLAR PARA O DESENVOLVIMENTO INFANTIL
O espaço físico escolar está intimamente ligado ao desenvolvimento da criança, e por isso a organização do espaço deve ser projetada tendo como princípio a oferta de um espaço acolhedor e prazeroso (COSTA, 2006). Além do mais, o ambiente deve ser adaptado para que esta consiga ser independente, que proponha desafios cognitivos e motores, acarretando assim em estímulos para o desenvolvimento.
Segundo Vera Lucia (1998, vol.1, p.21-22) as crianças constroem o conhecimento a partir das interações que estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que vivem, e que o conhecimento é fruto de um intenso trabalho de criação, significação e ressignificação, isto é, um ambiente pensado e adaptado para crianças, terá um efeito de estimulação muito maior. Muitas escolas utilizam as mesmas salas de aula para idades diferentes, por isso acabam projetando para o público geral, sendo que o correto é que cada turma usufruísse de espaços próprios para sua faixa etária. David & Weinstein citados por Carvalho e Rubiano (2001, p.109):
Todos os ambientes construídos para crianças deveriam atender cinco funções relativas ao desenvolvimento infantil, no sentido de promover: identidade pessoal, desenvolvimento de competência, oportunidades para crescimento, sensação de segurança e confiança, bem como oportunidades para contato social e privacidade. Um ambiente favorável para a criança é aquele em que ela se sinta confortável, segura e estimulada, isso significa que o espaço precisa ser pensado para tal, com mobiliário, com estrutura, com cores e com materiais que proporcionem tais sensações. De acordo com Vera Lucia (2006) os espaços devem ser organizados de modo a estimular o indivíduo nos campos: cognitivo, social e motor.
2.2 O QUE É O DESENVOLVIMENTO ATÍPICO DA CRIANÇA COM AUTISMO
O transtorno do espectro autistas (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento cognitivo atípico, déficit na comunicação e interação social, padrões de comportamentos repetitivos, que ocasionalmente apresenta um repertório de atividades e interesses restritos (MINISTERIO DA SAÚDE, 2021). Os sinais do transtorno podem ser percebidos nos primeiros meses de vida, porém o diagnostico só é estabelecido de fato por volta dos 02 a 03 anos de vida. Ainda não se sabe o motivo, mas a prevalência de casos é no sexo masculino.
Ainda de acordo com o ministério da saúde, a causa do transtorno é desconhecida, porém é associada a interação de fatores genéticos e ambientais (casos na família e idade da mãe na gestação). O diagnóstico é essencialmente clínico, feito a partir de observações da criança e relatos da família e o tratamento é feito principalmente com terapias de estimulação, e em alguns casos há a necessidade de uso de medicação.
De acordo com a professora Eniceia Gonçalves em entrevista para Marcos Candido a página Ecoa da UOL no dia 21 de setembro de 2021, típico e atípicos são os termos usados para definir o desenvolvimento de uma criança ou adolescente que tenha alguma deficiência, intelectual ou física, que de algum modo interfira na evolução neurológica, isso quer dizer que, a criança ou adolescente terá um desenvolvimento diferente das demais. Esse termo é mais comumente associado a quem possui TEA.
O termo atípico ficou popularmente conhecido após uma série de televisão que é transmitida na plataforma de filmes, Netflix, “Atypical” que narra a vida de um jovem com autismo. Essa nomenclatura já era corriqueiramente usada pela comunidade médica, mas teve maior difusão nas mídias sociais após essa série. Ainda de acordo a entrevista, a professora ressalta a importância da adequação de termos, visto que muitos deles que antes eram usados por médicos (como o termo “desenvolvimento retardado” ou “idiota”), hoje são utilizados como ofensas com carga pejorativa.
Em 2021, o ex ministro da educação, Milton Ribeiro, foi duramente criticado por afirmar em uma entrevista à rádio Jovem Pan no dia 23 de agosto de 2021 que “crianças com deficiência atrapalham o desenvolvimento em sala de aula”, porém, segundo a professora Eniceia que expôs tal afirmação em entrevista a Marcos Candido (2021), a tese do ex ministro é facilmente desmentida por pesquisadores, pais e pessoas com deficiência:
Há mais de 30 anos, pesquisas no Brasil, Europa e Estados Unidos concluem: alunos com desenvolvimento atípico tem notas, desenvolvimento de habilidades sociais e intelectuais maiores quando estão integrados academicamente do que aqueles segregados. GONÇALVES, 2021
O censo escolar de 2019 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) mostra que 1,2 milhão de estudantes atípicos estão matriculados na educação básica no Brasil, e apenas 13% destes estão em colégios adaptados ou em salas de aula especiais. Nem todos os municípios brasileiros possuem condições de manter todo um colégio apenas para crianças atípicas ou mesmo uma sala.
2.3 NEUROPLASTIA NA PRIMEIRA INFÂNCIA
De acordo com Sperandio (2013) extraído da publicação Reabilitação Neurológica e Neuroplasticidade no site Ciências e Cognição, a neuroplasticidade é a capacidade do sistema nervoso modificar sua estrutura e função em decorrência dos padrões de experiência. A plasticidade do Sistema Nervoso Central (SNC) ocorre, normalmente, em três fases: desenvolvimento (fase embrionária com influência genética), aprendizagem (decorrente dos fatores externos, como meio em que vive e estímulos) e pós lesão (caso a pessoa sofra alguma lesão cerebral e receba estímulos com intuito de corrigir lesão).
O processo de aprendizagem pode ocorrer em vários momentos da vida, propiciando que o indivíduo sempre esteja aberto a novos conhecimentos e adquira novas habilidades. Porém, na fase de 0 a 8 anos de vida, a plasticidade, ou seja, a facilidade em aprender e/ou estimular os neurônios, é maior, devido ao fato de que as células são novas e nesse período todo conhecimento é “novo” de algum modo, explica Dayane (2009). Sendo assim, vê-se a primeira infância como o momento perfeito para estimular o sistema neurológico das crianças através do espaço em que elas convivem a maior parte do tempo, como exemplo o ambiente escolar.
Crianças que são criadas em espaços com maior rede de estímulos tendem a se desenvolver mais rápido e com melhores resultados, tanto físicos (aquelas que são expostas a áreas verdes, tem contato com a terra, com os animais e com a natureza em geral, tendem a ser mais calmas, pacientes, terem mais empatia e adoecem menos) e mentais (quando estas se desenvolvem em ambientes projetados para as mesmas, tendem a criar independência mais rápido). Por isso, há a necessidade de projetos escolares específicos para cada idade, e é necessário aproveitar da plasticidade neural das crianças para conseguir um melhor desenvolvimento da mesma, seja ela típica ou não.
2.4 NEUROARQUITETURA PARA AUTISTAS
Desde o século I a.C., época do arquiteto e engenheiro Marcus Vitruvius – este que deixou o legado de uma obra com 10 volumes que nos dias atuais serve de inspiração aos elementos arquitetônicos e estéticos das construções, os arquitetos se preocupam com os impactos de seus projetos nos usuários, porém, devido à escassez de mecanismos de estudos científicos, as comprovações dessas sensações eram extraídas unicamente da experiência do indivíduo. Atualmente, com as evoluções tecnológicas, é possível detectar de maneira precisa, através das ondas cerebrais, como o ser humano reage a cada influência externa.
Segundo a arquiteta e especialista em neuroarquitetura Andréa de Paiva, o melhor entendimento do cérebro, principalmente dos pensamentos que estão abaixo do nível da consciência, pode ajudar os arquitetos a projetarem de modo que impactem seus usuários de forma ainda mais profunda. Isso quer dizer que, com o avanço da tecnologia, tem se a possibilidade e oportunidade, de entender e coletar as informações de forma 100% comprovada cientificamente e, consequentemente, mais eficaz. (PAIVA, 2018)
A possibilidade de projetar levando em conta não apenas a estética e funcionalidade, mas também os impactos gerados no organismo (como poder acalmar, inspirar à sensação de animação e, até mesmo, melhorar condições clínicas de saúde, física e mental) é a forma mais inteligente de projetar. O corpo humano é repleto de receptores sensoriais que estão em constante trabalho e, à medida que o espaço é projetado de modo inteligente, ele pode, e vai, influenciar o organismo a reagir da maneira que o espaço o conduz (PAIVA, GALVÃO, 2021).
A arquiteta Marcia Galvão, formada em arquitetura e especialista em ambientes amigáveis para o autismo, em entrevista para o canal da NEUROAU em 2021, relatou sobre suas pesquisas com relação a acessibilidade na arquitetura, não apenas a física, mas também a sensorial. Ela expõe que o processo de percepção é a base para a adaptação do nosso comportamento frente às condições do espaço. O ser humano é capaz de refletir o ambiente em que está inserido, captando os estímulos e os transpondo em atitudes, podendo elas serem boas ou ruins, ainda ressaltando que todos os sentidos clássicos podem ser neuroestimulados pela arquitetura, sendo eles a visão, o tato, a audição, o olfato e o paladar. Além destes, existem os sentidos sensoriais, que são o sistema vestibular, onde envolve o equilíbrio; o introceptivo, que envolve as sensações corporais internas; e o proprioceptivo, que envolve a percepção do espaço. Sendo que estes são mais afetados por quem tem o transtorno do espectro autista – podendo ter hiper ou hiporrelatividade.
Uma informação que vale a pena destacar é que, ao criar espaços levando em consideração a experiencia de usuários com variações na relatividade sensorial, isso não prejudica a experiencia dos demais usuários (neurotípicos). Ou seja, é possível criamos ambientes inclusivos que proporcionem experiencias adequadas para os diferentes grupos de usuários, não favorecendo apenas alguns grupos e excluindo outros. PAIVA, GALVÃO; 2021
A arquiteta Magda Mustafa foi uma das pioneiras no estudo da neuroarquitetura para autistas, tendo dado início a sua pesquisa em 2002, quando foi convidada a projetar um centro de indivíduos com autismo. Ao estudar sobre a relação arquitetura e TEA, notou que não haviam pesquisas relacionadas a esse público específico. Em 2014, na cidade do Cairo no Egito, através da participação em uma palestra no TEDx – programa que auxilia a organizar palestras com intuito de compartilhar ideias em formato de conferências- ela relatou todo o seu processo de pesquisa, que culminou no ASPECTSS™ Design Index, que é um conjunto de diretrizes de projetos baseados nas necessidades das pessoas com espectro autista. Nestas diretrizes, ela relata sete pontos chave que devem ser levados em conta ao projetar espaços para pessoas com TEA, porém destes, destacam-se três: tratamento acústico, com intuito de eliminar as barreiras sensoriais principalmente quando se trata de um espaço barulhento, como salas de aula; sequenciamento espacial, onde todo autista tem apego a rotina e a previsibilidade. Portanto, o espaço precisa conter aspectos que o identifiquem para determinadas atividades; e por fim os locais de fuga, que tem como objetivo promover um descanso sensorial para os autistas.
2.5 NEUROARQUITETURA NO AMBIENTE ESCOLAR
De acordo com uma publicação de junho de 2022 no Blog IPOG, a neuroarquitetura escolar busca compreender os objetivos de cada espaço e criar gatilhos cognitivos para despertar sensações nos estudantes a partir de estímulos sensoriais que garantirão um ambiente próprio para o aprendizado – com iluminação, cores, texturas, uso biofílico e afins. Os gatilhos cognitivos são criados a partir dos sentidos básicos e sensoriais. Dentre os sentidos, a visão se destaca pela possibilidade de desenvolver mais gatilhos, positivos ou negativos (que são os mais comuns se ver em espaços infantis, onde muitos exageram na decoração com intuito de distrair e não estimular) (Imagem 01).
Imagem 01 – Modelo de sala de aula com gatilhos negativos
O arquiteto Audrey Migliane destaca em sua publicação de 2020 sobre o sentindo da visão, que é importante considerar as cores, a iluminação e a organização do espaço, e aconselha que sempre optem por cores em tons claros, preferencialmente tons pasteis que inspiram um ambiente mais calmo e tranquilo e evite tons quentes pois deixaram as crianças mais agitadas que o habitual. No que diz respeito a iluminação, sempre priorizar a iluminação natural, mas indica que o projeto luminotécnico use a luz neutra (que se assemelha mais com a natural) e que seja uma iluminação uniforme sem pontos de foco. E por fim, destaca a necessidade da organização espacial, para facilitar o dia a dia além de inpirar com que as crianças mantenham o espaço do mesmo modo (Imagem 02).
Imagem 02 – Modelo de sala de aula com neuroarquitetura aplicada
Dentre os métodos educacionais conhecidos que também usam do espaço físico como meio de aprendizado, é possível destacar três, que tiveram melhores resultados na prática, como: o Método Montessori, onde nesse formato, se destaca a liberdade e o estímulo dentro da sala de aula a partir de mecanismos colaborativos de ensino, e no que se diz respeito a arquitetura ele fica ainda mais eficaz devido ao uso assertivo da composição do espaço e da adequação das cores e da iluminação no ambiente; a Pedagogia Waldorf, que é caracterizada pelo conceito antroposófico, com aprendizado baseado nos valores holísticos (relacionados ao pensar, ao sentir e ao agir) que trazendo para a arquitetura é a preocupação com a vivencia dos alunos no espaço da sala de aula, que devem seguir padrões da idade, de fase e do ciclo de desenvolvimento; e, por fim, a Óptica Construtivista, que é o estilo de ensino que defende que a criança chegue nos resultados esperados a partir de suas próprias experiencias e vivências, trazendo para a arquitetura espaços que fogem ao padrão tradicional, possuindo ambientes que geram engajamento e interação com as crianças a partir do mobiliário adaptado e das texturas empregadas no espaço.
A ideia principal da neuroarquitetura escolar é que traga benefícios no aprendizado e desenvolvimento da criança, isso porque um ambiente adequado facilita o envolvimento dos estudantes, estimula o aprendizado, reduz a fadiga escolar, quebra paradigmas relacionados ao ambiente acadêmico, estimula a criatividade e o desenvolvimento cognitivo de forma natural, cria experiencias únicas o que possibilita a conexão com o meio.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para entender a importância do uso da neuroarquitetura nos projetos de salas de aula para crianças autistas, é necessário compreender as necessidades específicas que estas possuem, ressaltando que um ambiente preparado para receber crianças atípicas também servirá para crianças típicas, e, inclusive, trará melhores resultados de desenvolvimento para ambas. Como o número de diagnósticos de crianças com transtorno do espectro autista tem aumentado significativamente ao longo dos anos, cada dia mais se faz necessária a adaptação dos espaços existentes, visto que, há melhores resultados quando há inclusão do que quando há segregação.
É comprovado cientificamente os efeitos do ambiente no ser humano, e nas crianças, que são mais sensíveis a esses estímulos, tem um poder benéfico ainda maior. Por isso, é valido ressaltar a importância da preparação das salas de aula, e dos ambientes que elas convivem, com base nos estudos da neuroarquitetura, tanto na temática escolar quanto na temática de inclusão de autistas.
A partir dos estudos feitos neste artigo, foi possível desenvolver uma cartilha com algumas orientações para adequação dos ambientes, com o intuito que estes sejam amigáveis aos autistas. Neste material foram elencadas cinco dicas de adaptações no espaço físico que farão uma grande diferença no dia a dia da criança (Imagem 03 e 04). O propósito do folder é que além do espaço escolar, os pais continuem essa estimulação sensorial em casa, o que facilitaria a rotina.
Imagem 03 – Capa Folder
Imagem 04 – Parte informativa do Folder
Todo o folder foi feito de forma lúdica para que seja uma leitura leve e informativa, priorizando o sentindo da visão, da audição e do sequenciamento espacial. Primeiro foi o sentido da visão, destacando a influência da iluminação, aconselhando qual a mais indicada para espaços amigáveis aos autistas, das cores, com uma pequena amostra de cores interessantes, e da decoração do espaço (Imagem 05 e 06).
Imagem 05 – Dica de iluminação e cores
Imagem 06 – Dica de decoração
Também foi destacado o sequenciamento espacial, com dicas para facilitar o dia a dia e a manter a criança em uma rotina, e o sentido da audição, indicando formas de melhorar a acústica do espaço de modo que a criança fique mais confortável (IMAGEM 07).
Imagem 07 – Dicas de sequenciamento espacial e acústica.
Diante do exposto, é possível relacionar o espaço físico com o comportamento das crianças e, reafirmar a importância de um projeto arquitetônico baseado nas reações comportamentais e neurológicas que o ambiente irá transpor a aqueles que nele estiverem reafirmando que os espaços amigáveis a autistas tem suas características próprias, baseados na hipersensibilidade dos portadores de TEA, e que as influências externas podem acarretar um melhor desempenho ou uma crise comportamental.
REFERÊNCIAS
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1Estudante de Arquitetura e Urbanismo na instituição de ensino superior FAINOR.
2Arquiteto e Urbanista – FAINOR. Especialista em segurança contra incêndio e pânico. Design de Interiores.