REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202502221302
Ariane Marins de Figueiredo da Conceição1
Bianca Isabela Acampora e Silva Ferreira2
Nicaulis Costa Conserva3
RESUMO
Esta pesquisa traz um panorama sobre a teoria das Inteligências Múltiplas e sobre o ensino de Teatro, a fim de averiguar suas correlações e como ensinar Teatro pode estimular diversas habilidades. O solo desta pesquisa é aprendizagem inventiva, que tem como objetivo tornar este um processo mais dinâmico, criativo e democrático, onde os estudantes possam ser estimulados através de atividades que se baseiam na Pedagogia do Teatro e na teoria das Inteligências Múltiplas, que visam o desenvolvimento global do estudante. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, com recorte temporal entre 2017 e 2024, por meio de marcadores booleanos, com análise qualitativa por temas, que resultou na existência de poucos artigos e trabalhos científicos publicados sobre esta temática. A partir dos resultados e discussões foram elaboradas atividades baseadas na Pedagogia do Teatro para estimular as Inteligências Múltiplas, com enfoque neurocientífico.
Palavras-chave: Pedagogia do Teatro. Inteligências Múltiplas. Teatro. Neurociência.
ABSTRACT
This research provides an overview of the theory of multiple intelligences and theater education, aiming to investigate their correlations and how teaching theater can stimulate various skills. The foundation of this research is inventive learning, which seeks to make this process more dynamic, creative, and democratic, where students can be stimulated through activities based on Theater Pedagogy and the theory of Multiple Intelligences, aiming at the student’s holistic development. The methodology used was bibliographic research, with a time frame between 2017 and 2024, using Boolean markers, and qualitative thematic analysis, which revealed the existence of few articles and scientific works published on this topic. Based on the results and discussions, activities were developed based on Theater Pedagogy to stimulate Multiple Intelligences, with a neuroscientific focus.
Keywords: Theater pedagogy. Multiple intelligences. Theater. Neuroscience.
RESUMEN
Esta investigación ofrece un panorama sobre la teoría de las inteligencias múltiples y la enseñanza de Teatro, con el objetivo de investigar sus correlaciones y cómo la enseñanza del Teatro puede estimular diversas habilidades. La base de esta investigación es el aprendizaje inventivo, que busca hacer este proceso más dinámico, creativo y democrático, donde los estudiantes puedan ser estimulados a través de actividades basadas en la Pedagogía del Teatro y la teoría de las Inteligencias Múltiples, con el objetivo de su desarrollo integral. La metodología utilizada fue la investigación bibliográfica, con un corte temporal entre 2017 y 2024, mediante marcadores booleanos, y análisis cualitativo por temas, lo que reveló la existencia de pocos artículos y trabajos científicos publicados sobre este tema. A partir de los resultados y discusiones, se elaboraron actividades basadas en la Pedagogía del Teatro para estimular las Inteligencias Múltiples, con un enfoque neurocientífico.
Palabras-clave: Pedagogía del Teatro. Inteligencias Múltiples. Teatro. Neurociencia.
1. INTRODUÇÃO
O ensino de Teatro tem sido amplamente reconhecido como uma ferramenta pedagógica essencial para o desenvolvimento integral do ser humano, promovendo não apenas a expressão artística, mas também habilidades cognitivas, emocionais e sociais. A formação teatral possibilita experiências significativas que estimulam a criatividade, a empatia e a comunicação, favorecendo uma aprendizagem mais dinâmica e interativa. Nesse sentido, compreender as bases teóricas do ensino do Teatro é fundamental para potencializar suas contribuições no âmbito educacional.
Paralelamente, os avanços nas neurociências cognitivas têm proporcionado uma compreensão mais aprofundada sobre os processos de aprendizagem, destacando a existência das Inteligências Múltiplas – IM4, conforme proposto por Howard Gardner. Essa teoria evidencia que os indivíduos possuem diferentes formas de inteligência, que podem ser estimuladas de maneira diferenciada. A relação entre o ensino de Teatro e o desenvolvimento das IM revela um campo de estudo promissor, pois a prática teatral pode contribuir significativamente para o aprimoramento das diversas capacidades cognitivas, emocionais e sociais dos aprendizes.
A partir da linguagem do Teatro é possível encontrar a diversidade de conteúdos e abordagens que podem ser realizados no ambiente escolar e suas potencialidades para estimular diversas habilidades. Assim, de encontro com a teoria das IM (Gardner, 1994) pode-se avaliar e categorizar as habilidades inerentes ao estudo do Teatro e como essas se relacionam com os tipos de inteligência sistematizadas pelo autor supracitado.
O presente estudo se justifica socialmente e academicamente, uma vez que, foi realizada uma análise de artigos publicados na internet utilizando marcadores Booleanos, com recorte temporal entre 2017 e 2024, a fim de identificar pesquisas que abordam o ensino de Teatro e sua influência na estimulação das IM. Essa revisão bibliográfica permitiu compreender como diferentes abordagens teóricas e práticas pedagógicas utilizam o Teatro como um meio para potencializar as habilidades dos estudantes em múltiplas dimensões.
Foi utilizada a plataforma Google Acadêmico para pesquisar os termos “Pedagogia do Teatro”, “anos finais do ensino fundamental” e “inteligências múltiplas”. Nessa busca, foram encontrados 18.600 trabalhos científicos. Ao colocar aspas nos termos juntos, “Pedagogia do Teatro nos anos finais do ensino fundamental e inteligências múltiplas”, não foram encontrados resultados na busca. No refinamento da busca, foram utilizados os termos “Pedagogia de Teatro”, “neurociência”, “inteligências múltiplas” e apenas 3 resultados foram obtidos.
A ausência de pesquisas dentro deste espectro também se dá ao fato das descobertas da neurociência serem recentes, assim como a teoria de Gardner, e vêm aos poucos se popularizando no Brasil e impactando outras áreas do conhecimento diferentes das referentes ao campo da saúde.
Ao relacionar o ensino de Teatro com o desenvolvimento das inteligências múltiplas queremos chegar a uma aprendizagem inventiva. Para G. Deleuze (1988), invenção é a capacidade de invenção de problemas. A aprendizagem Inventiva não está relacionada com a criatividade, mas com a invenção de si e do mundo. Kastrup (2005) corrobora com esta premissa ao defender que a invenção extrapola a cognição pura, como a percepção, a atenção, a memória, a linguagem e o raciocínio lógico. Trata-se de um processo mais complexo: “é uma potência temporal, potência de diferenciação que perpassa todos os processos psicológicos” (Kastrup, p.1275, 2005).
Diante do exposto, o problema direcionador deste estudo foi: Como o ensino de Teatro pode estimular as múltiplas inteligências? Para respondê-lo construiu-se a seguinte hipótese: Existe uma grande diversidade de conteúdos e abordagens para o ensino de Teatro, assim é proposto relacionar para cada tipo de inteligência, uma atividade para o ensino de Teatro que possa estimulá-la.
O objetivo geral foi analisar a correlação entre o ensino de Teatro e a estimulação das IM e seus impactos no desenvolvimento cognitivo, social e emocional dos alunos, propondo atividades teatrais que promovam a inclusão, a autoestima e a inovação pedagógica no contexto educacional. Os objetivos específicos foram: 1.Apresentar os principais conceitos sobre o ensino de Teatro; 2. Problematizar as neurociências cognitivas e o desenvolvimento das IM; 3. Selecionar os artigos publicados na internet por meio de marcadores Booleanos5 que abordem o ensino de Teatro e a estimulação das IM; 4. Apresentar os resultados das correlações sobre o ensino de Teatro com a estimulação das IM; 5. Discutir os resultados, propondo atividades para contribuição social do ensino do Teatro no desenvolvimento das IM.
Ao concluir os debates teóricos acerca do assunto, são feitas propostas de atividades para o ensino de Teatro que desenvolvem as IM, a fim de inspirar o professor com atividades que cumpram o objetivo citado acima, para acessibilizar as práticas em sala de aula.
2. METODOLOGIA
A presente pesquisa adotou uma abordagem qualitativa, fundamentada em revisão bibliográfica das obras mais relevantes sobre a Pedagogia do Teatro e o estudo da inteligência, com recorte temporal entre 2017 e 2024. O marco referencial voltaram-se para os conceitos e teorias desenvolvidos por Howard Gardner e Virgínia Kastrup, autores cujas contribuições são fundamentais para a compreensão das Inteligências Múltiplas e do ensino teatral no contexto educacional.
A pesquisa buscou resgatar as raízes do Teatro na escola, analisando sua presença, ausência e tendências no cenário pedagógico brasileiro. Para isso, foram investigadas as principais contribuições de teóricos brasileiros no que tange à Pedagogia do Teatro, com enfoque em suas propostas metodológicas para o ensino-aprendizagem da linguagem teatral. Além disso, foram analisados os princípios das teorias das IM e suas possíveis interseções com a prática teatral.
A revisão de literatura foi realizada com base na seleção de artigos acadêmicos, livros, dissertações e teses, priorizando estudos contemporâneos que abordavam a interface entre Teatro e Inteligências Múltiplas. Além disso, serão utilizados marcadores Booleanos para ampliar a busca de publicações relevantes na internet, permitindo uma análise crítica e aprofundada das contribuições existentes no campo.
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 O Ensino do Teatro
A presença da Arte6 na infância, é indispensável para o desenvolvimento integral das crianças. Por meio da expressão artística, desenvolvem habilidades motoras e ampliam sua capacidade de comunicação. Segundo o Teatrólogo Augusto Boal (2002) o Teatro pode se considerado a primeira invenção humana, porque se dá no ato de observar-se a si mesmo em relação ao mundo e ao outro, e essa consciência é específica da nossa espécie, uma característica de que independe de qualquer outro fator, tornando assim, o Teatro, a Arte mais acessível de ser praticada. Para se fazer Teatro é preciso um corpo, seja ele como for. Através desse pensamento, podemos concluir que a criança (em suas diversas infâncias) está apta para estudar a Arte teatral, assim como as demais linguagens da Arte.
A presença da linguagem teatral na escola carrega uma herança instrumental que remonta ao século XVI, momento em que o Teatro era uma forma de ensinar outros conteúdos e celebrar datas comemorativas, mas não como linguagem artística. Infelizmente, ainda hoje, é possível encontrar desdobramentos desse tempo, como por exemplo, apresentações teatrais organizadas por docentes que não têm formação específica na área. Tal contexto faz com que o Teatro tenha um caráter textocêntrico7, onde os alunos têm que decorar o texto e as marcações feitas pelo diretor e reproduzir o que está no papel, sem muita oportunidade de reflexão ou criação, pensando simplesmente em apresentar um espetáculo bonito, nos padrões é claro, de uma estética burguesa.
Nestes moldes o Teatro aparece como forma geral de apreciação da cultura (cultura esta que reflete a estética pertencente às classes dominantes), onde o texto é o principal objeto de trabalho, são feitas marcações para a cena, a indumentária e o cenário demonstram a riqueza que a escola quer apresentar para a comunidade/grupo em que está localizada e os alunos apresentam espetáculos em datas comemorativas. Este Teatro tem apenas como objetivo preparar uma peça, e não se preocupa com o indivíduo, o trabalho deste é sempre voltado para os ensaios a fim de dar “qualidade” ao produto final, extremamente valorizado (Conceição, p. 2, 2023).
A primeira Licenciatura em Teatro do Brasil foi criada em 1949 na Universidade Federal da Bahia, em Salvador, mas apenas em 1998, através dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN8, o Teatro foi considerado uma linguagem da Arte a ser trabalhada na educação escolar. Os PCN foram criados com o objetivo de regulamentar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (BRASIL, LDBEN, 9394/1996).
Os PCN (1998) buscam integrar a Arte ao processo educativo, valorizando a criatividade, a expressão e a reflexão crítica, organizando a disciplina de Arte em quatro linguagens: Artes Visuais, Dança, Música e Teatro. Este é o primeiro e mais completo documento referencial brasileiro para o ensino de Teatro na escola, que têm como meta o desenvolvimento da sensibilidade estética, estimulando a percepção, a imaginação e a capacidade de análise crítica dos alunos em relação às manifestações artísticas, como uma forma de expressão cultural e histórica, refletindo sobre sua importância na sociedade.As Diretrizes Curriculares Nacionais – DCN9 foram atualizadas em 2013, são competência no Conselho Nacional de Educação- CNE10 e tem como objetivo “promover o aperfeiçoamento da educação nacional” (BRASIL, 2013). Definir a organização dos currículos para as diferentes modalidades da educação básica.
O documento em questão está organizado por etapa e modalidade da educação formal, e apresenta diretrizes para questões fundamentais da estrutura curricular brasileira como relações étnico-raciais, ambientais e direitos humanos. Este documento determina as disciplinas que devem ser ofertadas, o que inclui Arte, mas não especifica as quatro linguagens, e não traz regras ou determinações sobre cada disciplina específica.
Embora os documentos normativos incluam no currículo da Educação Básica, o ensino de Arte, apenas em 2016, com a Lei nº 13.278, proposta por Saturnino Braga do partido socialista brasileiro (durante o governo da presidente Dilma Rousseff) é que o ensino das quatro linguagens artísticas – Artes Visuais, Dança, Música e Teatro se tornou obrigatório no país, o que foi uma grande conquista.
A Base Nacional Comum Curricular – BNCC (BRASIL, 2018)11 propõe uma abordagem mais contemporânea, integrando novas tecnologias e linguagens artísticas. Nos anos finais do Ensino Fundamental, foco deste estudo, a Arte aparece relacionada aos conceitos nacionais, internacionais e, ainda, ao contexto temporal de suas manifestações – o que dinamiza o debate artístico para os alunos adolescentes, do 6° ao 9° ano. Isto é essencial para a sistematização do conhecimento e solidifica a aprendizagem (BRASIL, 2018).
O documento ressalta a importância da relação entre os diversos espaços escolares e a comunidade, influenciando diretamente a conexão entre o objeto da Arte e o seu contexto. Assim, o estudante passa a fruir e experimentar os objetos artísticos em relação ao meio em que está inserido. Na habilidade EF69AR2612 as visualidades da cena13 aparecem pela primeira vez. Considerando os outros elementos da linguagem, presentes nas habilidades dos demais anos do ensino fundamental, as visualidades da cena poderiam ser exploradas com maior profundidade, anteriormente, para desenvolver as inúmeras possibilidades que a experiência plástica proporciona ao Ensino do Teatro (BRASIL, 2018).
A BNCC (2018) incentiva o diálogo interdisciplinar entre as próprias linguagens da Arte e as tecnologias digitais. Dado o cenário atual onde a inteligência artificial impacta todos os ambientes da sociedade, é importante inserir as tecnologias nas práticas educacionais não apenas para que os estudantes conheçam e saibam utilizá-la, mas para refletir criticamente sobre seu uso e abrir novas possibilidades para criação e fruição artística, tendo em consideração a ética da propriedade intelectual e o discernimento de quando e como utilizar estas tecnologias.
A BNCC (2018) traz uma unidade temática intitulada “Artes integradas” que visa trabalhar a relação entre as linguagens supracitadas. Isto é positivo considerando que, durante toda a história da Arte, e na atualidade, as linguagens se cruzam e tem características em comum. Entretanto, essa unidade temática defende a polivalência, ou seja, que o professor de Arte “domine” e lecione todas as linguagens, o que pode ampliar ainda mais a precarização e a desvalorização do trabalho dos Arte/Educadores brasileiros. As linguagens artísticas tem suas especificidades e ao mesmo tempo se conectam, pressupondo um trabalho transdisciplinar14 que deveria ser um princípio em toda a educação básica. Dessa forma, a premissa de que as Artes se relacionam (como acontece com outras áreas do conhecimento em relação à outras disciplinas), estaria intrínseca e, não seria necessária a criação de uma nova unidade temática para abarcar esta ideia.
Portanto, são esses documentos que apresentam as concepções do Ensino de Arte, preconizado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira. Por isso, apresentaremos a comparação desses três documentos de acordo com seus principais conceitos, contribuições, semelhanças e diferenças.
Quadro 1- Comparação entre os documentos norteadores da educação básica de Arte
Critérios | PCN (1998) | DCN (2013) | BNCC (2018) |
Principais Conceitos | Enfatiza a arte como conhecimento e linguagem; valoriza a diversidade cultural; propõe a experimentação e fruição artística. | Estabelece diretrizes gerais para a organização curricular, reforçando a necessidade de um ensino inclusivo, crítico e reflexivo em Arte. | Define as competências e habilidades essenciais para o desenvolvimento da arte na educação básica, focando em cinco eixos principais: criar, experimentar, apreciar, contextualizar e analisar. |
Principais contribuições | Introduz a Arte como área de conhecimento obrigatória, considerando as diferentes linguagens artísticas (Música, Teatro, Dança e Artes Visuais). | Complementa os PCN, garantindo autonomia para que estados e municípios elaborem seus currículos, respeitando a diversidade cultural. | Estabelece objetivos de aprendizagem e desenvolvimento específicos para cada etapa do Ensino Fundamental, garantindo um currículo comum em todo o país. |
Semelhanças | Considera a Arte essencial para a formação integral do aluno. | Mantém a perspectiva da Arte como expressão e comunicação. | Reafirma a importância da Arte na educação básica, garantindo a diversidade cultural e a formação cidadã. |
Diferenças | Documento orientador, não obrigatório, com sugestões pedagógicas para o ensino de Arte. | Documento normativo, estabelece diretrizes gerais, mas não define conteúdos específicos. | Documento normativo e obrigatório define habilidades específicas que devem ser desenvolvidas ao longo do Ensino Fundamental. |
Fonte: elaboração própria
3.2 As neurociências cognitivas e o desenvolvimento das inteligências múltiplas
Ao falar de aprendizagem inventiva, Virgínia Kastrup (2002), reitera que esta está relacionada com a capacidade de inventar-se no mundo, o que pressupõe a tomada de consciência do indivíduo sobre si, suas potencialidades e dificuldades. A autora rejeita a visão mecânica da cognição e encara a inteligência como produção de subjetividade, assim como Howard Gardner (1994), aborda conceitos e ideias que estão no campo da metacognição.
Cognição é um conceito que engloba a capacidade de aprendizado (atenção, a memória, a linguagem e o raciocínio lógico), já a metacognição é a reflexão do indivíduo sobre seus processos cognitivos, ou seja, pressupõe um sujeito ativo e consciente. Howard Gardner é um psicólogo cognitivo que inclui em sua teoria das inteligências múltiplas aspectos metacognitivos, que são abordados neste artigo.
Estruturas da Mente é a principal referência dos estudos da cognição para a construção desta pesquisa, já que, é nesta obra que Howard Gardner vai introduzir os fundamentos biológicos da inteligência (em seu 3° capítulo) e a própria teoria das IM. O autor afirma que a plasticidade do desenvolvimento é possível, mas está moldada por fatores genéticos, ou seja, pode-se aprender novas habilidades ao longo da vida, mas a facilidade e a dificuldade em fazê-lo é determinada pela genética.
A meu ver, a preponderância das evidências aponta para as seguintes conclusões: há uma considerável plasticidade e flexibilidade no crescimento humano[…] Mesmo que, não obstante, a plasticidade seja modulada por fortes restrições genéticas que operam desde o início e que orientam o desenvolvimento ao longo de algumas vias ao invés de ao longo de outras. […] os seres humanos são predispostos a desempenhar algumas operações intelectuais específicas cuja natureza pode ser inferida a partir de observações e experimentação cuidadosa. Os esforços devem basear-se no conhecimento destas tendências intelectuais, assim como seus pontos de máxima flexibilidade e adaptabilidade (Gardner, p. 25, 1994).
É importante mencionar que o próprio autor ressalta o fato de não existir uma lista definitiva de inteligências, não é possível categorizar todas as habilidades humanas. Um pré-requisito para determinar uma inteligência é a utilidade e relevância pelo menos em determinados contextos culturais específicos, uma ou mais operações do processamento de informações.
Gardner (1994) aborda a capacidade humana de usar a linguagem de forma eficaz, oralmente e por escrito. Ele define a inteligência linguística como a habilidade de manipular palavras, compreender nuances de significado, ritmo e sons da linguagem, e de se expressar de maneira objetiva e persuasiva. Ele também enfatiza que a inteligência linguística não se limita apenas ao domínio da língua materna, mas também se aplica ao aprendizado de idiomas estrangeiros.
Gardner (1994) sugere que essa habilidade é evidente em indivíduos como escritores, poetas, jornalistas, oradores e políticos, que demonstram um domínio excepcional da linguagem. Além disso, ele discute como a inteligência linguística pode ser desenvolvida e aprimorada ao longo da vida, especialmente em contextos educacionais que valorizam a leitura, a escrita e a expressão verbal.
A inteligência musical é definida por Gardner como a capacidade de perceber, discriminar, transformar e expressar formas musicais, incluindo sensibilidade ao ritmo, tom e timbre. Ele destaca que a inteligência musical é independente de outras inteligências, como a linguística ou lógico-matemática, e pode se manifestar em diferentes níveis de proficiência, desde compositores e músicos até ouvintes comuns.
Gardner (1994) explora como a música é uma forma universal de expressão humana, presente em todas as culturas, e como ela pode ser desenvolvida desde a infância. Também é mencionada a relação entre a música e outras formas de inteligência, como a cinestésica e a emocional.
A inteligência lógico-matemática é frequentemente associada ao pensamento científico, à resolução de problemas e ao raciocínio abstrato, sendo uma das mais valorizadas em contextos educacionais e profissionais tradicionais. Esta é a capacidade de raciocinar de forma lógica, analisar problemas de maneira sistemática e manipular números, padrões e relações abstratas. Gardner descreve essa inteligência como as habilidades de Identificar padrões e estruturas lógicas, resolver problemas matemáticos e científicos, pensar de forma dedutiva e indutiva, trabalhar com conceitos abstratos e hipotéticos.
Indivíduos com forte inteligência lógico-matemática são capazes de lidar com conceitos que não têm uma representação concreta, como números, fórmulas e teorias. Eles conseguem visualizar relações complexas e fazer inferências a partir de dados abstratos. A habilidade para resolver problemas, está diretamente relacionada à capacidade de resolvê-los de forma eficiente, seja em matemática, ciências ou até mesmo em situações do cotidiano que exigem raciocínio lógico.
O raciocínio dedutivo envolve a capacidade de aplicar regras gerais a situações específicas, envolve a capacidade de observar padrões e generalizar a partir de exemplos específicos. Eles conseguem perceber conexões que outras pessoas podem não notar, o que os torna eficazes em áreas como ciência, engenharia e tecnologia.
A inteligência espacial está relacionada à capacidade de perceber, compreender e criar no mundo visual e espacial. Ela permite que as pessoas visualizem objetos, cenários e relações espaciais de maneira clara e criativa, além de transformar essas imagens mentalmente.
Indivíduos com forte inteligência espacial possuem uma maior percepção visual e espacial, sendo capazes de identificar padrões, detalhes e relações entre objetos no espaço. Eles também têm a habilidade de manipular imagens mentais. Além disso, essa inteligência está ligada à capacidade de se orientar em ambientes físicos, como interpretar mapas com facilidade. A criatividade visual é outra característica marcante, permitindo que essas pessoas se destaquem em áreas que exigem imaginação e expressão visual, como artistas visuais, o que inclui a pintura, escultura, desenho, entre outros.
Médicos utilizam desta inteligência aplicada à anatomia humana, enxadristas para raciocinar sobre a distribuição das peças sobre o tabuleiro durante uma partida de xadrez ou um arquiteto ao desenhar e elaborar a estrutura de uma construção. Essa inteligência, assim como as demais, não está isolada e se relaciona com as demais dependendo da situação em que é aplicada.
Indivíduos com inteligência corporal-cinestésica mais desenvolvida têm maior consciência sobre seus movimentos corporais, sendo capazes de realizar atividades que exigem habilidades como coordenação, equilíbrio, força e agilidade. Essa inteligência está relacionada à capacidade de usar o corpo para se expressar, seja por meio da dança, do Teatro ou de outras formas de Arte do corpo. A manipulação precisa de objetos também é uma característica marcante, exemplos de pessoas que se destacam com essa inteligência são, escultores, artistas circenses (malabaristas, equilibristas, trapezistas, entre outros) ou artesãos. Outro aspecto relevante é o aprendizado por meio do movimento, em que indivíduos com essa inteligência aprendem melhor quando podem envolver seu corpo no processo.
Gardner sugere que a inteligência corporal-cinestésica pode ser desenvolvida e aprimorada por meio de práticas físicas, trabalhos manuais, expressão artística, e exercícios que melhoram a coordenação motora, como jogos que exigem precisão. Essas atividades ajudam a fortalecer a conexão entre o corpo e a mente, permitindo que os praticantes explorem e ampliem suas habilidades físicas e expressivas.
Em síntese, a inteligência corporal-cinestésica é essencial e nos permite conversar com o mundo físico de maneira ampla e expressiva, desempenhando uma função crucial em diversos ofícios e atividades cotidianas. Ela destaca a importância do corpo e do movimento na compreensão e na expressão humana, reforçando a ideia de que a inteligência vai além das habilidades cognitivas tradicionais.
Sobre a inteligência intrapessoal Gardner (1995) afirma que “a pessoa com boa inteligência intrapessoal possui um modelo viável e efetivo de si mesma” (p.28), ou seja, essa pessoa possui profundo autoconhecimento e é capaz de perceber e analisar seus pensamentos e sentimentos. Todos os seres humanos possuem essa habilidade, mas estes com essa inteligência desenvolvida têm mais facilidade em elaborar reflexões relacionadas à ela.
Na inteligência Interpessoal, quem a possui mais desenvolvida tem facilidade em identificar o humor, sentimentos e vontades dos outros. Tem percepção mais aguçada sobre outras pessoas, assim, podem conseguir se relacionar com diversos tipos de indivíduos e tem facilidade em manter as relações.
A pessoa que tem a inteligência naturalista bem desenvolvida tem empatia com animais e plantas, uma visão ampla sobre o meio ambiente e seus conceitos, é interessada na relação dos seres humanos com a natureza, reconhecem espécies (tanto de plantas como de animais) e defendem a preservação da natureza, são clássicos ambientalistas.
A inteligência existencial está relacionada à reflexão sobre sentido da vida e quem possui esta mais desenvolvida tem afinidade com temas filosóficos, têm caráter existencialista e espiritual. Encontram facilmente um motivo existencial para dificuldades enfrentadas, como propósito de vida, oportunidade para crescimento espiritual e pessoal. Sobre esta Gardner ainda afirma que:
Embora seja interessante pensar numa nona inteligência, não vou acrescentar à lista uma inteligência existencial. O fenômeno é suficientemente desconcertante e a distância das outras inteligências suficientemente grande para ditar prudência – pelo menos por ora. No máximo, estou querendo brincar, no estilo de Fellini, sobre as 8 ½ inteligências (Gardner, 2000, p.85).
3.3 Artigos publicados na internet por meio de marcadores Booleanos que abordam o ensino de Teatro e a estimulação das Inteligências Múltiplas – IM
Foram encontrados três textos a partir da busca realizada por marcadores booleanos. São eles: Reinventando o “Eu” (Filipe Artur Honorato Ferreira de Souza, 2017); Estratégias de Desenvolvimento de Competências Socioemocionais (Marinalva de Sousa Barbosa, 2023); Agora eu era, agora eu sou (Débora Cristina Paes Landim de Almeida Rodrigues, 2021). Foi realizada a leitura dos três textos e realizada uma análise comparativa entre eles, que resultou no quadro 1.
Quadro 2- Comparativo dos Três Textos
Critério | Reinventando o “Eu” (Filipe Artur Honorato Ferreira de Souza) | Estratégias de Desenvolvimento de Competências Socioemocionais (Marinalva de Sousa Barbosa) | Agora eu era, agora eu sou (Débora Cristina Paes Landim de Almeida Rodrigues) |
Tema Principal | Criatividade e desbloqueio criativo através da mudança de hábitos. | Desenvolvimento de competências socioemocionais no ensino fundamental. | Processos de criação teatral com crianças. |
Objetivo | Propor uma metodologia interdisciplinar para superar bloqueios criativos. | Analisar estratégias de ensino para desenvolver competências socioemocionais. | Explorar a poética de encenação com crianças e sua influência no aprendizado e na expressão artística. |
Área do Conhecimento | Design, Neurociência, Pedagogia, Arte. | Educação, Psicologia, Gestão Escolar. | Arte Cênicas, Pedagogia, Psicologia. |
Metodologia | Investigação interdisciplinar baseada em hábitos e criatividade. | Pesquisa quantitativa e qualitativa com aplicação de questionários. | Pesquisa participativa e análise de processos criativos no Teatro infantil. |
Principais Conceitos | Criatividade, hábitos, desbloqueio criativo, pensamento criativo. | Competências socioemocionais, planejamento educacional, desenvolvimento infantil. | Teatro infantojuvenil, Pedagogia da encenação, imaginação e experiência poética. |
Público-Alvo | Profissionais criativos, designers, educadores. | Professores e gestores da educação básica. | Artistas, educadores, crianças e pesquisadores de Teatro. |
Contribuição para a Área | Oferece um modelo metodológico para estimular a criatividade e superar bloqueios. | Identifica a necessidade de maior planejamento e intencionalidade no ensino de competências socioemocionais. | Propõe um olhar poético para a relação entre crianças e o Teatro, destacando sua importância no desenvolvimento humano. |
Semelhanças | Envolvem processos de aprendizagem e desenvolvimento pessoal; utilizam uma abordagem interdisciplinar. | Envolvem processos de aprendizagem e desenvolvimento pessoal; abordam a importância de métodos pedagógicos inovadores. | Envolvem processos de aprendizagem e desenvolvimento pessoal; abordam a importância de métodos pedagógicos inovadores. |
Diferenças | Foca no bloqueio criativo e sua relação com os hábitos individuais. | Aborda a educação formal e estratégias para desenvolvimento emocional em sala de aula. | Explora a relação entre Teatro e infância, focando na criação artística. |
Fonte: elaboração própria
Os três textos abordam o desenvolvimento humano por diferentes perspectivas: criatividade, educação socioemocional e Teatro infantil. Enquanto “Reinventando o ‘Eu'” propõe métodos para superar bloqueios criativos, “Estratégias de Desenvolvimento de Competências Socioemocionais” analisa como desenvolver habilidades emocionais na escola, e “Agora eu era, agora eu sou” foca na importância da experiência artística para a formação infantil. Apesar de suas diferenças, todos compartilham um olhar interdisciplinar e pedagógico sobre o crescimento pessoal e coletivo.
4. RESULTADOS
A partir dos resultados da análise comparativa da sessão anterior foi realizada uma análise qualitativa por temas, com base nestes três textos, focando especificamente em Pedagogia do Teatro, neurociências e inteligências múltiplas.
4.1 Pedagogia do Teatro
A Pedagogia do Teatro aparece com destaque no texto Agora eu era, agora eu sou, de Débora Cristina Paes Landim de Almeida Rodrigues. O estudo explora a poética da encenação com crianças, destacando a importância do Teatro na construção da subjetividade e no desenvolvimento de habilidades expressivas. A autora enfatiza a relação entre Arte e infância, sugerindo que o Teatro não é apenas uma prática estética, mas também uma ferramenta educacional e social, promovendo aprendizagem experiencial e colaborativa.
No texto Reinventando o “Eu”, a Pedagogia teatral aparece como uma estratégia para desbloquear a criatividade. O autor sugere que práticas teatrais e exercícios de improvisação podem ajudar a superar bloqueios criativos, fortalecendo a expressividade e a autonomia do indivíduo. O Teatro, nesse contexto, é visto como uma técnica interdisciplinar que pode ser aplicada tanto na formação de artistas quanto em outras áreas criativas.
Já em Estratégias de Desenvolvimento de Competências Socioemocionais, o Teatro é mencionado de maneira indireta, no sentido de metodologias ativas que favorecem a aprendizagem emocional. A autora não trata especificamente do Teatro, mas enfatiza a importância de metodologias interativas e expressivas para o desenvolvimento socioemocional dos alunos.
4.2 Neurociências
A relação entre Neurociências e Aprendizagem é bem desenvolvida nos três textos, mas de maneiras diferentes. Reinventando o “Eu” se baseia em neurociência para explicar como hábitos moldam a criatividade e como o bloqueio criativo pode ser superado por meio da reprogramação de padrões cerebrais. O autor utiliza conceitos da neuroplasticidade e da relação entre o cérebro e o comportamento para justificar a necessidade de desenvolver novos hábitos criativos.
Estratégias de Desenvolvimento de Competências Socioemocionais aborda a neurociência aplicada à educação emocional. A pesquisa enfatiza como as emoções impactam a aprendizagem e como o desenvolvimento de habilidades socioemocionais pode ajudar na regulação emocional dos alunos, favorecendo um aprendizado mais eficaz. Já o estudo intitulado Agora eu era, agora eu sou faz uma ligação entre neurociência e Teatro, sugerindo que a experiência teatral ativa diferentes áreas do cérebro, promovendo um aprendizado mais profundo e significativo. O texto também sugere que a prática teatral pode estimular conexões neurais associadas à criatividade, empatia e cognição social.
4.3 Inteligências Múltiplas
A teoria das Inteligências Múltiplas, de Howard Gardner, é abordada de maneira implícita nos três textos, ainda que nenhum deles a cite diretamente. Reinventando o “Eu” destaca a inteligência intrapessoal (autoconhecimento e reflexão sobre o próprio processo criativo) e a inteligência cinestésica (uso do corpo para desbloquear a criatividade, inspirado em práticas como yoga e Teatro).
Estratégias de Desenvolvimento de Competências Socioemocionais enfatiza a inteligência interpessoal (habilidade de entender e interagir com os outros) e a inteligência emocional, essenciais para o desenvolvimento das competências socioemocionais na escola.
Agora eu era, agora eu sou trabalha várias inteligências ao mesmo tempo, destacando a inteligência espacial (uso da imaginação e do cenário no Teatro), a inteligência musical (presente nas performances e na experimentação sonora) e a inteligência corporal-cinestésica (uso do corpo como meio de expressão teatral).
5. DISCUSSÃO E PROPOSTAS
5.1 Discussão
Os três textos analisados convergem na ideia de que o aprendizado e o desenvolvimento humano são processos complexos que envolvem criatividade, inteligência emocional e múltiplas formas de cognição. A interseção entre Pedagogia do Teatro, Neurociências e Inteligências Múltiplas sugere que a Arte, especialmente o Teatro, pode ser uma ferramenta poderosa para desbloquear a criatividade, fortalecer competências socioemocionais e estimular diferentes formas de inteligência.
A análise mostra que os três textos convergem na ideia de que o aprendizado deve ser interdisciplinar, experiencial e sensível às múltiplas formas de inteligência e cognição. O Teatro aparece como uma ferramenta poderosa para estimular a criatividade (Reinventando o “Eu”), desenvolver habilidades emocionais (Estratégias de Desenvolvimento de Competências Socioemocionais) e promover um aprendizado mais humano e significativo (Agora eu era, agora eu sou). Além disso, a neurociência reforça a importância da interação entre mente e corpo no processo educacional.
1. O Teatro como Facilitador do Aprendizado Criativo
O texto Reinventando o “Eu” apresenta a criatividade como um processo moldado por hábitos e influenciado pelo bloqueio criativo. Esse bloqueio pode ser superado por meio de atividades que estimulem novas conexões neurais. O Teatro, nesse contexto, atua como uma ferramenta para a exploração de novas formas de pensamento, desafiando padrões mentais e promovendo maior flexibilidade cognitiva.
2. O Teatro e o Desenvolvimento de Competências Socioemocionais
A pesquisa sobre competências socioemocionais destaca a necessidade de desenvolver habilidades como empatia, autogestão e comunicação interpessoal no ambiente escolar. O Teatro pode ser um método eficaz para esse desenvolvimento, pois permite que os alunos vivenciem diferentes perspectivas, expressem emoções e pratiquem a escuta ativa.
3. A Imaginação e a Experiência no Teatro Infantil
O texto Agora eu era, agora eu sou apresenta o Teatro como um espaço de experimentação e descoberta para crianças. A experiência teatral ativa diversas formas de inteligência, promovendo um aprendizado mais holístico e sensorial. O jogo teatral, por exemplo, fortalece habilidades cognitivas e emocionais ao mesmo tempo, permitindo que os participantes explorem sua criatividade sem medo do erro.
5.2 Propostas
Com base nos resultados e discussões são apresentadas uma série de atividades práticas baseadas na Pedagogia do Teatro para estimular as inteligências múltiplas, com base nos preceitos das neurociências.
1. Atividade: Teatro do Improviso e a Criatividade
Objetivo: Estimular a espontaneidade, reduzir o bloqueio criativo e desenvolver a inteligência interpessoal e intrapessoal.
Metodologia: Os participantes recebem um tema e precisam criar uma cena curta sem roteiro pré-definido. Cada aluno deve adicionar um elemento novo à cena conforme a improvisação acontece. Após a atividade, um momento de reflexão é promovido para discutir como foi a experiência de improvisar e superar bloqueios.
Inteligências estimuladas: Interpessoal, Viso-espacial, corporal-cinestésica, linguística.
2. Atividade: O Jogo das Emoções
Objetivo: Desenvolver a consciência emocional e a empatia por meio da experimentação de diferentes estados emocionais.
Metodologia: Os participantes formam um círculo e recebem cartões com diferentes emoções (alegria, medo, raiva, surpresa, tristeza). Cada aluno deve representar a emoção utilizando apenas gestos e expressões faciais. O grupo tenta adivinhar a emoção representada e discute situações em que ela aparece na vida cotidiana.
Inteligências estimuladas: Intrapessoal, corporal-cinestésica.
3. Atividade: Construção Coletiva de Personagens
Objetivo: Explorar a criatividade na criação de personagens e histórias, incentivando a colaboração e a inteligência linguística e espacial.
Metodologia: Em grupos, os alunos criam um personagem coletivo, adicionando características progressivamente (nome, idade, personalidade, desafios que enfrenta). Depois, cada grupo elabora uma breve cena em que o personagem precisa resolver um problema. Após a atividade, discute-se como as escolhas do grupo moldaram a narrativa e quais desafios foram enfrentados.
Inteligências estimuladas: Linguística, corporal-cinestésica, lógico-matemática.
4. Atividade: Teatro Sensorial
Objetivo: Explorar a inteligência corporal-cinestésica e proporcionar uma experiência imersiva que envolva os sentidos.
Metodologia: Os participantes fecham os olhos e recebem diferentes estímulos sensoriais (toque em diferentes texturas, sons variados, cheiros). Em seguida, cada um deve expressar suas sensações e emoções por meio do movimento corporal ou de uma pequena cena.
Inteligências estimuladas: intrapessoal, corporal-cinestésica.
5. Atividade: Teatro Fórum (Baseado no Teatro do Oprimido de Augusto Boal)
Objetivo: Desenvolver o pensamento crítico e a capacidade de lidar com conflitos sociais de forma construtiva.
Metodologia: Os alunos representam uma cena que retrata um conflito social ou escolar (exemplo: bullying, exclusão, desigualdade). Depois da primeira encenação, qualquer aluno pode intervir para modificar a cena e propor soluções para o problema. A atividade se encerra com uma discussão coletiva sobre as possíveis saídas para a situação apresentada.
Inteligências estimuladas: corporal-cinestésica, interpessoal, lógico-matemática.
6. Atividade: Contação de história (Viola Spolin)
Objetivo: Desenvolver uma narrativa de forma coletiva.
Metodologia: Organizados em roda, um jogador inicia uma narrativa. O professor escolhe quando o colega ao lado continua a história. O próximo jogador continua a narrativa, até que o último aluno da roda finalize a história.
Inteligências estimuladas: Linguística, interpessoal, lógico-matemática
7. Atividade: Estudo e construção de dramaturgia
Objetivo: Compreender os aspectos que compõe o texto dramático e utilizá-los.
Metodologia: Estudo da obra “Apostila de análise do texto” de Yan Michalski. A turma escolhe um tema. Cada estudante escreve uma cena baseando-se nos itens da obra estudada
Inteligências estimuladas: Linguística.
8. Atividade: Blablação (Viola Spolin)
Objetivo: Praticar intenção da fala e criatividade
Metodologia: Dividir turma em duplas. Um jogador assume o papel de repórter e o outro de entrevistado. A entrevista deve ser improvisada sem usar palavras, apenas emitindo sons sem significado óbvio.
Inteligências estimuladas: Linguística.
9. Atividade: Orquestra de sons (Augusto Boal)
Objetivo: Estimular as noções de ritmo, volume e timbre
Metodologia: Um jogador assume o papel de maestro. Cada jogador escolhe um som. O maestro deve controlar a orquestra de sons apontando para o jogador quando desejar que ele emita o som que escolheu. É interessante variar a função de maestro e mudar os sons a cada rodada.
Inteligências estimuladas: Musical.
10. Atividade: Mosquito Africano (Augusto Boal)
Objetivo: Trabalhar noção de ritmo
Metodologia: Organizam-se em roda. O Mosquito passará por cima da cabeça dos participantes, pulando de um para o outro. Quando o mosquito pousa na cabeça de alguém, essa pessoa se agacha, e os participantes ao lado batem palmas acima dela ao mesmo tempo, como se estivessem tentando espantar o mosquito. A turma tenta manter a pulsação durante as rodadas.
Inteligências estimuladas: Musical.
11. Atividade: Maquete Cenográfica
Objetivo: Confeccionar uma maquete
Metodologia: Dividir turma em grupos. Cada grupo escolhe o cenário de um espetáculo teatral. Eles devem realizar a escala do tamanho real aproximado para as proporções da maquete. Confeccionar a maquete de acordo com a escala
Inteligências estimuladas: Lógico-matemática, Viso-espacial, interpessoal.
12. Atividade: Estudo da cenografia
Objetivo: Recriar cenário
Metodologia: Dividir turma em grupos. Cada grupo deve escolher um cenário já existente (espetáculo, série ou filme) para recriar. Se feito fora da sala de aula, sugere-se registrar por meio da fotografia.
Inteligências estimuladas: Viso-espacial, interpessoal.
13. Atividade: Projeto de iluminação cênica
Objetivo: Elaborar projeto de iluminação
Metodologia: Individualmente, cada aluno irá desenhar o projeto de iluminação para uma vitrine. Desenho em uma folha vertical, indicando tipo/nome dos refletores usados, textura, cor e demais elementos relevantes para a compreensão da iluminação do projeto.
Inteligências estimuladas: Viso-espacial.
14. Atividade: Escultor e escultura (Augusto Boal)
Objetivo: Criar imagem corporal.
Metodologia: Um jogador assume o papel do escultor e o outro de escultura. O escultor molda o corpo do colega em uma pose. Depois, os jogadores mudam de função.
Inteligências estimuladas: Viso-espacial, cinestésico-corporal, interpessoal.
15. Atividade: Figurino e indumentária
Objetivo: Criar cenário ou figurino.
Metodologia: Em dupla ou individualmente. Separar materiais recicláveis. Utilizar os materiais para criar elementos de cenografia ou figurino.
Inteligências estimuladas: Viso-espacial, lógico-matemática, Naturalista.
16. Atividade: Iluminação
Objetivo: Estudar as teorias da iluminação
Metodologia: Aula expositiva. Expor conceitos de luz e sombra, fluxo luminoso, intensidade luminosa, luminância, temperatura de cor e eficiência energética.Mostrar fotos e vídeos de espetáculos e pedir que os alunos identifiquem as qualidades da iluminação em questão.
Inteligências estimuladas: Viso-espacial, Naturalista.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Pedagogia do Teatro é um poderoso instrumento para estimular a criatividade, fortalecer competências socioemocionais e desenvolver múltiplas inteligências. A partir dessa análise, as atividades propostas podem ser aplicadas tanto no contexto educacional quanto em processos de desenvolvimento pessoal e profissional.
O problema norteador deste estudo foi respondido uma vez que apresentou uma análise e discussão sobre três artigos, e apresentando atividades baseadas na Pedagogia do Teatro que visam estimular determinadas inteligências dentro da abordagem múltipla. Para tal, o estudo desdobrou-se nos objetivos específicos apresentando os principais conceitos sobre o ensino de Teatro, problematizando as neurociências cognitivas e o desenvolvimento das IM; Foram selecionar artigos publicados na internet por meio de marcadores Booleanos que abordavam o ensino de Teatro e a estimulação das IM, apresentando os respectivos resultados das correlações sobre o ensino de Teatro com a estimulação das IM, apresentados discussões e propondo atividades para contribuição social do ensino do Teatro no desenvolvimento das IM.
O Teatro não é apenas uma prática artística, mas uma ferramenta de aprendizagem transformadora. Ele permite que os participantes explorem diferentes formas de comunicação, enfrentam desafios criativos e desenvolvam um olhar mais sensível para o mundo e para si mesmos. Assim, ao integrar elementos da neurociência e das inteligências múltiplas, o Teatro se torna um espaço potente para a educação e para o crescimento humano.
Os achados deste estudo reforçam a Pedagogia do Teatro como um valioso recurso para a estimulação das Inteligências Múltiplas e o desenvolvimento de competências essenciais no âmbito educacional, pessoal e profissional. A partir da análise e discussão de três artigos, foi possível identificar correlações significativas entre o ensino do Teatro e o fortalecimento de diversas inteligências, sobretudo a linguística, interpessoal, corporal-cinestésica e espacial. Dessa forma, evidencia-se o impacto positivo das práticas teatrais na ampliação das habilidades cognitivas, sócio emocionais e criativas dos aprendizes.
Além de sua dimensão artística, o Teatro se configura como um instrumento pedagógico poderoso, capaz de proporcionar experiências imersivas e dinâmicas que favorecem o aprendizado significativo. Integrando conceitos das neurociências cognitivas e da teoria das Inteligências Múltiplas, o Teatro estimula a expressividade, a empatia e a resolução criativa de problemas, permitindo que os participantes desenvolvam uma percepção mais sensível sobre si mesmos e o mundo ao seu redor.
A proposição de atividades teatrais apresentadas neste estudo podem contribuir para que licenciandos e docentes da área as utilizem, visando a inclusão social, o fortalecimento da autoestima e a promoção de um ensino mais engajador e democrático. Assim, mais do que validar a importância do Teatro na educação, este trabalho busca fornecer subsídios para práticas pedagógicas inovadoras, que possibilitem o desenvolvimento integral dos estudantes e ampliem as possibilidades de aprendizado em diferentes contextos.
Assim, conclui-se que o fazer teatral requer diversas habilidades relacionadas às diversas inteligências sistematizadas por Gardner, proporcionando ao estudante da disciplina de Teatro diversas experiências que potencializam sua aprendizagem em várias áreas do conhecimento, reforçando o quanto esta Arte pode ser democrática, e que o ensino de Teatro é muito relevante para construção humana, cidadã e profissional.
4Inteligências Múltiplas-IM teoria de Howard Gardner (1994) que sistematiza tipos de inteligência de acordo com áreas do conhecimento e suas habilidades.
5São palavras que buscam ampliar e direcionar o critério de uma pesquisa.
6Arte escrita com letra maiúscula e singular, refere-se à arte como área de conhecimento.
7“[…]o textocentrismo, onde toda a encenação era apenas para valorizar o texto e as ideias textuais”(Nazareth, 2013).
8“[…]os Parâmetros Curriculares Nacionais, com a intenção de ampliar e aprofundar um debate educacional que envolva escolas, pais, governos e sociedade e dê origem a uma transformação positiva no sistema educativo brasileiro[…]” (BRASIL, 1998,p. 5).
9“[…] são estas diretrizes que estabelecem a base nacional comum, responsável por orientar a organização, articulação, o desenvolvimento e a avaliação das propostas pedagógicas de todas as redes de ensino brasileiras[…]” (BRASIL, 2013, p. 4).
10O CNE assessora o ministério da educação, deliberam e elaboram normativas relacionadas à educação nacional.
11“A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica[…]” (BRASIL, BNCC, 2018).
12“Explorar diferentes elementos envolvidos na composição dos acontecimentos cênicos (figurinos, adereços, cenário, iluminação e sonoplastia) e reconhecer seus vocabulários” (BRASIL, BNCC, 2018).
13“A composição visual é parte integrante do processo de criação das cenas. O termo “visualidades” abrange tudo aquilo que se vê na cena, as possibilidades de criação de narrativas e experiências visuais, mobilizando elementos cênicos para além dos textos e das palavras” (Revista Aspas, USP, 2021).
14É o termo usado para se referir a integração entre diferentes áreas do conhecimento, sem hierarquização entre elas.
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1Ariane Marins é estudante da Licenciatura em Teatro do IFFluminense, trabalhou como monitora do XXXIII Congresso da Federação de Arte Educadores do Brasil, integrou o PIBID/Arte em 2023-24 e foi bolsista de Arte e Cultura no Projeto Bufonaria e Performance nas Arte da Presença (2024). Atua como atriz no teatro, cinema e audiovisual e pesquisa Ensino de Teatro, Inteligências Múltiplas e Performance. http://lattes.cnpq.br/8053262335511011 E-mail:Ariane.marins@gsuite.iff.edu.br
2Bianca Acampora é Doutora em Ciências da Educação, Mestre em Cognição e Linguagem e docente do Instituto Federal Fluminense, nos cursos de Licenciatura e na coordenação adjunta de Ciências da Natureza e como docente na pós-graduação Stricto Sensu – Mestrado ProfEPT (IFF). É graduada em Licenciatura em Pedagogia e Artes Visuais e pós-graduada em Arteterapia: Educação e Saúde, Educação Infantil e PsicoPedagogia. http://lattes.cnpq.br/4830432551005073. Email: bianca.ferreira@iff.edu.br
3Nicaulis Conserva é Mestre em Educação pela Arte, pela Universidade Moderna de Lisboa e Mestre em Avaliação, pela Cesgranrio. É pós-graduada em Ensino de Arte: Técnicas e procedimentos, lecionou no curso de Licenciatura em Teatro, da Universidade Federal de Ouro Preto, no curso de Licenciatura em Música, do Instituto Federal Fluminense e, atualmente, é coordenadora de Arte e Cultura e professora do IFFluminense, atuando na Educação Básica e no curso de Licenciatura em Teatro.. http://lattes.cnpq.br/6120714758208575 E-mail: nicaulis.conserva@iff.edu.br