MUSICOTERAPIA ASSOCIADA À FISIOTERAPIA NA REABILITAÇÃO DE PACIENTES COM PARKINSON

MUSIC THERAPY ASSOCIATED WITH PHYSIOTHERAPY IN THE REABILITATION OF PATIENTS WITH PARKINSON’S


CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO MIGUEL
BACHARELADO EM FISIOTERAPIA


Autoras:
Anna Christina De Oliveira Santana1
Ellayne Silva Lins Siqueira2
Orientadora:
Leiliane Patrícia Gomes de Macêdo3
Coorientadora:
Maria Clara Porfírio de Souza4

1Graduanda em Fisioterapia – UNISÃOMIGUEL, Recife – PE.
2Graduanda em Fisioterapia – UNISÃOMIGUEL, Recife – PE.
3Mestre em Engenharia Biomédica – UFPE. Professora da UNISÃOMIGUEL, Recife – PE.
4Mestre em Engenharia Biomédica – UFPE. Professora da UNISÃOMIGUEL, Recife – PE.


AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por conduzir minha vida e me proporcionar saúde e perseverança para concluir minha tão sonhada graduação.
Aos meus pais, Osman e Lúcia e minha irmã Andresa Kelly por todo amor, confiança e apoio emocional que me deram em toda a minha trajetória.
Ao meu filho, Matheus Alexandre, por seu respeito e amor incondicional, compreendendo apesar de muito jovem que busco o melhor para nossa família, sempre.
Ao meu esposo Pedro, pelas palavras de incentivo que serviram de impulso para a concretização do meu sonho.
Aos meus colegas do curso de fisioterapia, em especial, as minhas amigas Ana Flávia, Edikácia, Ellayne Siqueira, Jhennifer, Karla Patrícia e Pereira que alegraram meus dias e mostraram-me o quanto a amizade é valiosa e importante em nossa vida.
Agradeço a todos os mestres, que ao longo desses anos dividiram seus conhecimentos com profissionalismo, grandeza e dedicação. Especialmente a professora Neyla Siqueira, que sempre compartilhou carinhosamente seus ensinamentos e conselhos tornando-se um divisor de águas em minha vida acadêmica e na conclusão deste trabalho.
Serei eternamente grata a minha orientadora, Leiliane Patrícia Gomes de Macêdo e a coorientadora Maria Clara Porfírio de Souza por todo apoio, paciência e respeito durante a montagem deste projeto. Suas dicas foram imprescindíveis em todo o processo.
Por fim e não menos importante, agradeço a UNISÃOMIGUEL por todo conhecimento adquirido ao longo da graduação, aos funcionários de um modo geral, por proporcionar com dedicação um ambiente agradável de estudo, buscando sempre a satisfação e o bem estar de todos.

Anna Christina de Oliveira Santana

Agradeço primeiramente a Deus por me conceder essa oportunidade, me dando força de vontade e coragem para superar todos os meus desafios.
A minha família, principalmente a meu pai Edinaldo Lins Siqueira e minha mãe Elizabeth Silva dos Passos por todo apoio, paciência, compreensão e por acreditarem em meu potencial.
As minhas colegas de turma Anna Christina, Ana Flávia, Edikácia Lucibelle, Jhennyfer Cavalcanti, Karla Patrícia e Vaneza Pereira que sempre me apoiaram, motivaram a nunca desistir e fizeram meus dias especiais.
As minhas orientadoras Leiliane Patrícia Gomes de Macêdo e Maria Clara Porfírio de Souza que me aguentaram e mergulharam junto comigo e minha dupla nessa “aventura”.
E por fim, mas não menos importante, agradeço a UNISÃOMIGUEL e a todos que a compõe: gestão, professores e zeladores.

Ellayne Silva Lins Siqueira

“O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem…”

Guimaraes Rosa

RESUMO

O Parkinson é uma doença neurodegenerativa que provoca a perda de células da substância negra do mesencéfalo, ocasionando uma diminuição da dopamina e assim, comprometendo a mobilidade e a cognição do indivíduo acometido. O objetivo deste estudo foi analisar os benefícios da musicoterapia associada à fisioterapia na reabilitação de pacientes com DP. Pelo meio de revisões de literatura, seis artigos foram selecionados para compor o estudo, de acordo com a metodologia escolhida previamente. O uso da musicalidade em paralelo à fisioterapia contribuiu para a reabilitação dos parâmetros da marcha, visto que, sendo praticada de forma contínua aumentou a autoconfiança do paciente, incidentes de quedas, maximizando a amplitude das articulações inferiores e aperfeiçoando os ganhos motores e cognitivos. Porém, estudos futuros serão incluídos para evidenciar melhor os benefícios da musicoterapia de forma mais individualizada na reabilitação das sequelas do paciente com Parkinson.

Palavras-chave: Doença de Parkinson. Fisioterapia. Musicoterapia. Marcha. Gerontologia. Reabilitação.

ABSTRACT

Parkinson\’s is a neurodegenerative disease that causes the loss of cells in the substantia nigra of the midbrain, causing a decrease in dopamine and thus compromising the mobility and cognition of the affected individual. The aim of this study was to analyze the benefits of music therapy associated with physiotherapy in the rehabilitation of patients with PD. Through literature reviews, six articles were selected to compose the study, according to the previously chosen methodology. The use of musicality in parallel with physiotherapy contributed to the rehabilitation of gait parameters, since, being practiced continuously, it increased the patient\’s selfconfidence, incidents of falls, maximizing the amplitude of the lower joints and improving motor and cognitive gains. However, future studies will be included to better evidence the benefits of music therapy in a more individualized way in the rehabilitation of the sequelae of the patient with Parkinson.

Keywords: Parkinson Disease. Physical Therapy Specialty. Music therapy. Gait. Gerontology.Rehabilitation.

INTRODUÇÃO

O Parkinson é uma doença crônica neurodegenerativa que causa a perda progressiva de células da substância negra do mesencéfalo, ocasionando uma diminuição na produção de dopamina, um neurotransmissor que auxilia na troca de mensagens entre as células nervosas. A complexidade desta patologia deve-se ao fato de provocar alterações neuromusculares, que desencadeiam o comprometimento da mobilidade e geram disfunções cognitivas, tornando os portadores incapazes de executar suas atividades básicas com autonomia e assim, dificultando sua qualidade de vida (SOUSA et al., 2018).

Segundo Peternella e Marcon (2012) a doença de Parkinson (DP) é considerada a segunda doença neurodegenerativa que mais afeta os idosos. Atualmente, cerca de 1 a 3% da população mundial e no Brasil aproximadamente 3,3% da população. No ano de 2030 estima-se que a patologia possa quadruplicar os 160 mil acometidos já existentes devido ao envelhecimento da população. A DP geralmente ocorre entre os 50 e 70 anos de idade, salvo em raros casos a possibilidade de afetar indivíduos abaixo de 40 anos. Sua incidência é maior em homens do que em mulheres, partindo do princípio que as ocorrências mais frequentes de traumatismos cranianos são no sexo masculino e a possível proteção das mulheres pelo hormônio estrogênio (CAPATO; DOMINGOS; ALMEIDA, 2015).

As características principais da DP são as disfunções motoras e cognitivas, podendo apresentar-se desde os estágios iniciais. A bradicinesia, rigidez, tremor de repouso, instabilidade postural são bastante comuns nessa patologia, além dos distúrbios na marcha que favorecem os riscos de quedas. Outro aspecto importante é a perda da autonomia para desempenhar as duplas tarefas, pois uma das regiões do lobo frontal é afetada comprometendo a memória, a percepção espacial, a função executiva, entre outros. Porém, vale salientar que o tratamento medicamentoso associado à fisioterapia desempenha um papel importante no controle dos sintomas e redução dos riscos à acidentes aos portadores de DP (VARA; MEDEIROS; STRIEBEL, 2012).

A DP compromete as estruturas do corpo e prejudica a realização das atividades funcionais, pois causa limitações até para executar tarefas corriqueiras como: caminhar, trocar de postura, sentar e levantar, entre outras.

O papel da fisioterapia é crucial no tratamento desses pacientes porque promove ajuda na redução dos déficits motores, realização das atividades de vida diária (AVDs) e melhora da qualidade de vida. A partir de um diagnóstico precoce é possível elaborar um eficiente plano de tratamento medicamentoso associado à uma equipe multidisciplinar e desta forma reduzir as consequências da patologia, seja no aspecto motor e cognitivo e preservar o máximo possível da funcionalidade desses pacientes.

Nas últimas décadas, umas das diversas opções estudadas como terapia complementar para auxiliar na reabilitação neurológica é a musicoterapia que, de acordo com Miranda et al (2017), a música é um poderoso estimulante para o cérebro e pode ser uma aliada por proporcionar relaxamento e instigar o aprendizado de novos comandos, além de melhorar o equilíbrio, a cognição, a linguagem, o emocional e a mobilidade funcional. Apesar da escassez de estudos científicos sobre a eficácia da música na DP, existem outros feedbacks positivos consideráveis, entre eles, ser uma alternativa de baixo custo, podendo ser realizada em grupo ou até mesmo na residência do paciente.

Uma das funções mais prejudicadas na DP é a marcha. A diminuição da velocidade e do comprimento dos passos resiste ao tratamento medicamentoso e favorecem ao aumento de riscos de quedas em níveis maiores, se comparado à idosos sem a patologia. A musicoterapia funcionará basicamente como um guia para estes pacientes, pois será possível trabalhar, através do ritmo, o marcador interno, responsável pelos movimentos sequenciais da marcha que foi acometido pela patologia, ou seja, de acordo com o ritmo oferecido ao paciente durante o tratamento é possível trabalhar o sincronismo dos passos e fazer as correções necessárias do movimento (SOUZA et al, 2018).

Seguindo esse contexto, o objetivo do estudo foi verificar os benefícios da musicoterapia associada à fisioterapia na reabilitação da marcha do paciente com Parkinson.

MÉTODO

O presente estudo tem como base a revisão bibliográfica. Foram inseridos artigos científicos publicados entre os anos de 2015 a 2020, nos idiomas português, inglês e espanhol, ambos consultados pelas plataformas LILACS, BVS, PUBMED/MEDLINE, SCIELO e revistas de saúde. Os descritores utilizados na busca seguiram a descrição dos termos DeCS, sendo eles: Parkinson, musicoterapia, fisioterapia, marcha, gerontologia, reabilitação e seus equivalentes em inglês.

Foram selecionados como critérios de inclusão artigos relacionados a aplicação da musicoterapia e os seus benefícios motores no tratamento de pacientes com a Doença de Parkinson. Assim como, artigos que esclareçam, as causas e sintomas da patologia. Por fim, serão excluídos artigos incompletos, resumos publicados em anais de congressos, artigos duplicados e artigos não originais.

Para escolha dos artigos foi realizada a leitura dos títulos, seguida da leitura dos resumos e os artigos que atendiam aos critérios de inclusão foi feita a leitura na íntegra.

RESULTADOS

O método utilizado para busca resultou em 114 artigos. Foi realizada uma avaliação inicial, onde foi verificado que havia 21 duplicatas. Desta forma, após leitura do título e resumo dos artigos, 65 artigos foram descartados por atenderem aos critérios de exclusão. Em seguida, 28 artigos seguiram para análise nos critérios de elegibilidade, onde 22 foram descartados após leitura do texto na íntegra. Ao final, 6 artigos foram selecionados para compor os resultados, todos publicados no idioma inglês. O procedimento de busca e seleção dos artigos está demonstrado na Figura 1.

Posteriormente a leitura dos textos selecionados, as informações foram coletadas e registradas no Quadro 1.

Figura 1 – Fluxograma de pesquisa

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Fonte: Elaborado pelos autores do estudo, 2021.

Quadro 1 – Características dos estudos incluídos.

Autores, Ano Objetivo Metodologia Conclusão
MICHAEL et al., 2018 Investigar se o treinamento de marcha RAS em casa contribui na redução do número de quedas e promove melhora nos parâmetros clínicos e cinemáticos em portadores da doença de Parkinson. Refere-se a um ensaio randomizado com 60 participantes com idades entre 62-82 anos que apresentavam o Parkinson estágios III e IV na escala Horn e Yahr, com histórico de 2 quedas ou mais no período de 12 meses e capacidade de deambular por 50 m de forma independente. O estudo comprovou a eficácia do método RAS, reduzindo significativamente o histórico de quedas e aumento do controle de marcha. Embora sejam necessários estudos futuros para avaliar os efeitos à longo prazo desta intervenção
BARTOLO et al., 2019 Explorar através de diferentes faixas musicais se os parâmetros de marcha podem ser afetados em pacientes com Parkinson comparada com alterações induzidas em jovens e adultos saudáveis. Trata-se de um estudo com 3 grupos dividido da seguinte forma: 20 pacientes no Grupo PP (72,5 +/- 9,2 anos de idade; 14M, 6F). 20 pacientes adultos idosos no Grupo EA (72,5 +/- 5,6 anos de idade; 8M, 12F) e 20 adultos jovens no Grupo YA (32,3 +/- 5,93 anos; 8M, 12F). Foram selecionados os portadores de Parkinson com capacidade de caminhar sozinho e sem déficit acústico e/ou cognitivo. O estudo leva em consideração a hipótese da música influenciar e beneficiar a marcha independente do gênero. Alguns déficits específicos da DP podem ser neutralizados através da intervenção musical, porém outros estudos e ensaios randomizados são necessários para investigar essa oportunidade.
SALVATORE et al., 2019Estimar a aplicabilidade do treinamento de marcha em esteira associado ao RAS, observando a mobilidade, equilíbrio e parâmetros de marcha em pacientes com Parkinson.Trata-se de um ensaio clínico randomizado com 50 portadores de DP, alocados de forma aleatória e divididos em duas modalidades: Treinamento de marcha com esteira usando GaitTrainer 3 com e sem RAS para avaliar os efeitos clínicos, cinemáticos e eletrofisiológicos durante 8 semanas.A intervenção RAS auxilia na reabilitação da marcha em DP, pois a dica auditiva visa a sincronia da faixa beta cortical motora durante a prática da caminhada. Desta forma, o cérebro ativa seus mecanismos de estimulação através de feedback sensóriomotor fornecidos pela junção da música marcha.
HARISON et al., 2020Contrastar os perfis cinemáticos da marcha durante o uso das sinalizações rítmicas para portadores de DP. Analisando se há aumento no movimento das articulações dos MMII durante a marcha em plano sagital com o auxílio das pistas geradas e autogeradas.Trata-se de um estudo com 35 participantes com DP, divididos em grupos respondedores (n=23) e não respondedores (n=12), onde foi capturado os movimentos em 3D dos ângulos das articulações do plano sagital do quadril, joelho e tornozelo.Portadores de DP podem ter sua marcha beneficiada através das pistas musicais geradas e autogeradas, porém trabalhos futuros devem explorar requisitos como, idade e experiência musical anterior para avaliar respostas positivas nas pistas rítmicas uniformes.
JACQUELINE et al., 2020Analisar a efetividade do treinamento de marcha contingente musical em indivíduos com DP e indagar os efeitos deste treinamento sobre a cognição e humor.Refere-se a um estudo semi-randomizado composto por 30 colaboradores acometidos com DP leve a moderado. O grupo de contingente musical recebeu o treino de marcha por 12 semanas utilizando um fone sem fio para a reprodução de músicas baseada no comprimento de passada definido. E o grupo controle recebeu por 6 semanas um treino de marcha não contingente.Não foram observadas melhoras cognitivas em pacientes com DP, porém o treino de marcha associado à música é bastante favorável aos portadores da patologia, pois aguça a estimulação auditiva rítmica. Estudos futuros são necessários para averiguar melhor os efeitos do treinamento de marcha com o auxílio da melodia em pacientes com deficiência cognitiva.
POHL et al., 2020Avaliar a relevância do Método Gardiner na DP durante a intervenção musical em grupo e obter um feedback sobre a experiência dos participantes e terapeutas durante a execução do método e seus benefícios.Trata-se de um ensaio clínico randomizado, cego, simples e de grupo paralelo, utilizando o método qualitativo com pacientes a partir de 18 anos de idade com diagnóstico confirmado da doença de Parkinson até o estágio 3.O método Ronnie Gardiner não favoreceu a execução de dupla tarefa, equilíbrio, cognição e congelamento de marcha, porém foi benéfica psicologicamente por motivar e divertir os envolvidos.
Fonte: Elaborado pelos autores do estudo, 2021.

DISCUSSÃO

A musicoterapia tem sido uma intervenção bastante praticada nos últimos anos, embora necessite de mais estudos para comprovar sua eficácia em indivíduos portadores de Parkinson. Devido ao déficit motor-cognitivo, as duplas tarefas tornam-se impraticáveis pelos acometidos da DP, consequentemente, provocando insegurança, baixa autoestima e depressão. A interferência da música nesses quadros podem favorecer à atratividade pelo tratamento, elevar o bem estar emocional e propiciar benefícios sociais, principalmente quando praticada em grupos.

As técnicas que utilizam a musicalidade partem do princípio que a interação com o ritmo não deixa a prática da intervenção monótona, pois trata-se de um método estruturado em exercícios multissensoriais para o cérebro, onde a melodia estimula a concentração, memória e coordenação motora, ou seja, toda a função de equilíbrio, cognição e marcha serão trabalhados de forma simultânea e coordenada com a finalidade de avivar as alterações motoras-cognitivas afetadas pelo Parkinson.

Calcula-se que cerca de dois terços dos indivíduos acometidos pela DP caem anualmente e aproximadamente 50% dessas quedas são assíduas. Baseado nesses altos índices, um ensaio clínico randomizado realizado por MICHAEL e colaboradores em 2018 avaliou a eficácia da estimulação auditiva rítmica (RAS) na redução de quedas, onde 60 pacientes com idade entre 62-82 anos diagnosticados com Parkinson foram divididos em duas equipes: nomeadas de grupo experimental, com o treinamento de marcha ininterrupto e avaliações ao longo das semanas 8,16 e 24 e em contrapartida o grupo controle, que paralisou seu treino diário durante as semanas 8 e 16.

Foi observado que na semana 8 do tratamento, ambos os grupos apresentaram redução nas quedas e melhor controle na cinemática da marcha. Porém, a descontinuação no tratamento do grupo controle comprometeu a velocidade, a cadência, o comprimento das passadas, a dorsiflexão bilateral dos tornozelos e elevou o número de quedas relativo ao medo de cair. Contudo, a atuação dos participantes do grupo controle normalizou ao retomar o treinamento. Concluiu-se então que o treino de marcha diário ao som de metrónomos musicais da intervenção RAS minimizou os incidentes de quedas em pessoas com Parkinson, visto que beneficiou a cinemática de controle da marcha e reduziu o medo de cair desses pacientes, deixando-os mais confiantes e motivados.

Seguindo o mesma raciocínio relacionado a importância da continuidade no treinamento da marcha, Rocco Salvatore e colaboradores em 2019 tiveram como objetivo detectar quais os indícios seriam benéficos à marcha de pacientes com DP ao exercitar a intervenção RAS por 8 semanas com o auxílio do programa GartTrainer 3 numa esteira. Ao computar os aspectos clínicos, cinemáticos e eletrofisiológicos dos 50 pacientes em estudo, notou-se que o grupo GartTrainer com RAS teve melhor evolução nas Escalas de eficácia de Tinetti Fall, Escala unificada de avaliação da dança de Parkinson e o Índice geral de qualidade de marcha, contrastando ao grupo NÃO_RAS. Além disto, o treino impulsionou a potência do EGG em períodos precisos da marcha dentro dos ritmos sensório-motores.

Contudo a ausência de seguimento restringiu o estudo, pois os pacientes que treinaram com RAS na esteira não sustentaram a melhora conquistada após 3 meses, tendo a necessidade de implantar um treinamento domiciliar e individualizado de longo prazo e com menos intensidade para potencializar o resultado. Portanto, a aplicabilidade deve ser contínua e deve-se levar em consideração sempre o grau da patologia, idade e capacidade rítmica, visto que cada paciente tem sua forma individualizada de agir em resposta à um estímulo.

No estudo de Elinor C. Harrison e colaboradores em 2020 também foi notado as limitações na intervenção RAS, sendo assim, a necessidade de indagar outras alternativas no tratamento. Sua pesquisa testou o canto e o canto mental em 35 participantes com o objetivo de conferir os perfis cinemáticos da marcha sob as técnicas de sinalização rítmica seguindo as indicações respectivamente: Música, Cantar e Canto Mental.

Observou-se que as pistas musicais autogeradas são mais eficientes que as pistas externas, em virtude de aumentarem não só a ROM do quadril mas também a ROM do tornozelo. Dos 35, 23 foram classificados como respondentes e estes, apresentaram aumento significativo na velocidade da marcha, melhorando e otimizando a cadência, amplitude do passo, aumento do ângulo da articulação durante a marcha e do movimento da extremidade. Porém, os não respondentes não obtiveram qualquer melhora devido muito provavelmente à dificuldade de sincronização com a pista e menor experiência musical. Entretanto, estudos futuros devem ser feitos para investigar melhor os requisitos idade e experiência musical do paciente.

D. De Bartolo e colaboradores em 2019 realizaram um estudo randomizado para verificar se a audição de diferentes gêneros musicais podem modificar os parâmetros da marcha em pacientes com Parkinson. Foram recrutados 60 colaboradores, subdivididos respectivamente da seguinte forma: jovens saudáveis (n=20), idosos saudáveis (n=20) e pacientes com Parkinson (n=20), a intervenção consistiu em registrar a cadência da marcha durante a escuta por meio de um fone sem fio reproduzindo músicas clássicas, pop, rock e heavy metal.

Auxiliado por um acelerômetro triaxial, um giroscópio triaxial e um magnetômetro triaxial, os pacientes realizaram o teste de caminhada de 18 metros ao som das faixas musicais selecionadas e também sem áudio. Foi observado que as respostas aos estímulos sonoros foram semelhantes entre os três grupos para algumas faixas musicais. Porém, a velocidade de caminhada sobressaiu das canções clássicas para heavy metal. Em relação aos parâmetros espaço-temporais da marcha observou-se padrões semelhantes entre os grupos, apenas divergindo dos portadores com DP no momento da caminhada sem a música, pois apresentaram um deslocamento reduzido.

Sendo assim, através dos resultados é possível enfatizar que a marcha pode ser melhor beneficiada de acordo com faixas sonoras específicas, visto que, não houve maiores distinções entre os grupos e que inclusive alguns déficits específicos da DP pelo meio de um treino de caminhada podem ser anulados à depender do gênero musical. Todavia, para evidenciar as razões de alguns estilos musicais serem mais agregadores à marcha se faz necessário estudos futuros.

Petra Pohl e colaboradores em 2020 utilizaram a intervenção em grupo do Método Ronnie Gardiner com o propósito de transparecer a beneficência musical aos portadores de Parkinson. Por meio de atividades de multitarefas foi requisitado aos participantes que mudassem rapidamente a atenção entre as tarefas motoras e cognitivas, decifrando símbolos visuais e harmonizando simultaneamente os movimentos dos braços e pernas, em paralelo pronunciando uma determinada palavra ao ritmo da música.

Após a seleção, foram convocados 51 pacientes de ambos os sexos e definido o grupo de intervenção e o grupo de controle, no entanto apenas quarenta e seis pacientes completaram o estudo. Foram aplicados os testes Timed-Upand-Go, função cognitiva (Montreal Cognitive Assessment Scale (MoCA); três partes da Bateria de Avaliação Cognitiva (Teste de Chamada de Teste imediato e atrasado), Teste Stroop Color-Word; e Teste de Modalidades de Símbolos Dígitos) e equilíbrio dinâmico (Mini-BESTest). Três questionários foram administrado (Falls Efficacy Scale International; Questionário de Congelamento da Marcha; e Pontuação de Índice Global de 39 itens do Questionário de Doença de Parkinson, que classifica a qualidade de vida de excelente (zero) a muito ruim (100).

A intervenção era aplicada duas vezes por semana com duração de 1 hora durante três meses, composta por alongamentos e exercícios respiratórios. Quanto ao método Ronnie Gardiner as condutas eram traçadas de acordo com a habilidade dos participantes em realizar os movimentos. Atividades escritas à serem realizadas em casa foram prescritas apenas para o grupo de intervenção e o grupo de controle foi apenas incubido de continuar seus cuidados habituais.

Em contrapartida aos estudos anteriores, concluiu-se que o Método Ronnie Gardiner apenas contribuiu no aspecto emocional e cognitivo, visto que a interação em grupo melhorou o humor dos participantes, mas não foi eficaz e tampouco deve ser aplicado como uma intervenção compatível aos portadores de DP, visto que houve uma melhora mínima cognitiva e motora comparando ao grupo controle e que possivelmente a redução de quedas e melhora no desempenho das atividades diárias deu-se apenas pelo efeito placebo. Devido às limitações do presente estudo e para maior controle é crucial que novos ensaios sejam aplicados de forma individualizada, mais duradoura e monitorando os níveis dopaminérgicos dos acometidos.

Jacqueline Burt e colaboradores em 2020 aplicou em seu estudo a técnica global do ambulosono, onde foi controlado o tamanho do passo do paciente mediante a execução da música aplicada. Desta forma, as disfunções provocadas pela DP na marcha e a parte motivacional monitoradas geravam um feedback em tempo real dos efeitos cognitivos e motores. Dois grupos foram compostos por indivíduos acometidos pela DP de grau leve e moderado, onde apenas o grupo de contingente musical recebeu por 12 semanas o treino de marcha durante as quais uma música era reproduzida à depender do paciente atingir os limites do tamanho do passo estabelecido, caso contrário, resultaria em silêncio durante a marcha.

O grupo controle teve o tempo de treinamento reduzido para 6 semanas e a caminhada musical era realizada com a reprodução da melodia de forma permanente, independentemente do tamanho do passo. Durante as avaliações foram disponibilizados aos pacientes fones de ouvidos sem fios, uma combinação de reprodutor de músicas, giroscópio iOS, acelerômetro alojado em um iPod Touch de quarta geração e ambos os grupos foram orientados a praticar o treino por 15 minutos, 3 vezes por semana e em ambientes fechados para evitar quedas.

Durante todo o treinamento não houve quedas e os grupos apresentaram resultados satisfatórios, porém sem diferenças entre eles. As funções motoras e marcha de dupla tarefa divergiram apenas em relação ao tempo, pois o grupo contingente musical completaram 34 caminhadas com tempo médio de caminhada de 26 minutos e o grupo controle, aproximadamente 40 caminhadas em tempo médio de 34 minutos. Apesar das funções cognitivas terem sido mínimas, o humor e a ansiedade dos participantes dos grupos melhoraram acentuadamente.

Concluiu-se desta forma que o método de ambulosono contingente à música não foi eficaz na marcha de paciente com DP, visto que a parte motora e cognitiva se mantiveram estáveis. Contudo, o treino de marcha associado à música seja uma intervenção animadora à ser desenvolvida em prol dos portadores de Parkinson devido a estimulação auditiva rítmica, reduzindo a ansiedade e depressão. Por isso a necessidade de estudos futuros para destrinchar o impacto da contingência musical em indivíduos com deficiência cognitiva e com pouca experiência sonora.

CONCLUSÃO

Ao considerar que a marcha é bastante afetada no Parkinson, o arrastamento e a desaceleração do movimento podem estar associados ao declínio cognitivo. Estudos revelaram que a marcha funciona como um biomarcador para constatar o nível de déficit cognitivo, apesar das intervenções medicamentosas. A incapacidade de manter um ritmo constante durante a marcha eleva os índices de quedas e provocam nos indivíduos acometidos pela DP depressão e baixa autoestima. Baseados nisto, vários estudos utilizaram a musicoterapia como intervenção no intuito de desenvolver não somente os padrões automáticos, sequenciais e rítmicos da marcha, mas também promover evolução cognitivo-motora e bem estar durante os treinamentos.

A música favorece a dinâmica corporal desencadeando melhor estabilidade e instiga a atenção auditiva. Apesar do pouco domínio em relação aos efeitos da melodia em prol da marcha parkinsoniana, essa intervenção tende a ser bastante promissora. Resultados benéficos semelhantes foram identificados nos artigos trabalhados nesta pesquisa em relação a técnica RAS, onde os pacientes demonstraram melhoras no equilíbrio, cognição, congelamento da marcha, ADM de quadril, dorsiflexão dos tornozelos, além de melhorar o aspecto emocional. Entretanto, a técnica RAS demonstrou eficiência quando praticada a longo prazo.

Contrariamente, nos estudos com as técnicas Ronnie Gardiner e Ambulosono, a marcha permaneceu estável, propiciando apenas melhora no aspectos psicológicos e cognitivos. Contudo, ausência de dados e problemas nos protocolos durante as estratégias dos ensaios randomizados minimizaram a evolução dos colaboradores, sendo necessárias pesquisas futuras mais abrangentes com treinamentos de marcha individualizados para melhor intensificar o resultado.

REFERÊNCIAS

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