REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10140676
Matheus Henrique Ferreira de Aguiar1
Resumo: O presente artigo tem como objetivo levantar uma reflexão sobre as composições musicais de Taylor Swift, e a poesia presente na forma de eu-lírico nas letras de Swift. Aborda-se em primeiro lugar a origem e os conceitos de poesia lírica, tendo em consciência o caráter subjetivo, fazendo conotações de suas alegrias, admirações, dores e sensações, tomando consciência de si mesma. Em seguida faz-se uma relação da poesia com a música, tendo em vista que a poesia lírica originalmente era cantada geralmente acompanhada da lira, notando como há similaridade da presença do eu-lírico na composições da cantora norte-americana que geralmente tratam sobre o amor tanto de forma feliz ou triste, entrando nas características do gênero poesia lírica. Para exemplificar como o eu-lírico se faz presente nas composições musicais da artista, foram selecionadas algumas músicas da mesma para serem analisadas dentro do contexto poético, fazendo correlações com teorias que abordam os conceitos de poesia eu-lírico, com o propósito de demonstrar não apenas a relevância lírica da artista, mas com um olhar dentro da música como um reflexo e extensão da poesia.
Palavras-Chaves: Poesia; Eu-lírico; Música; Taylor Swift
Introdução
Poesia e música ambas são formas de arte, ambas buscam expressar sentimentos ou inspiração. Algumas podem ser criadas com o propósito de inspirar e causar reflexão, outras são recortes de memórias e experiências daquele autor ou autora, que busca sossegar sua alma de poeta dando vida a seus sentimentos. Essa descrição cabe tanto a poesia quanto a música.
Algo que há em comum com essas duas belas formas de arte, são o uso de palavras, versos e sentimentos. Talvez não se possa afirmar que as duas sempre andam juntas ou que uma depende da outra, mas nota-se que quando unidas, o nível da arte transcende e atinge mais seres do que desacompanhadas.
A poesia é reconhecida desde a antiguidade como uma das mais belas formas de expressar sentimentos por meio de palavras, tanto que muitos acreditam que não tem contato com a mesma por sua falsa imagem de ser algo “distante” de nosso contexto de sociedade atual. Do outro lado, a música não apenas é algo considerado presente, mas também tem reputação de ser algo leviano e apenas para um divertimento, sem caráter de causar uma reflexão ou tirar alguma mensagem ou história. No entanto iremos analisar como ambos estão presentes e unidos de forma profunda.
A cantora norte-americana Taylor Swift é reconhecida principalmente por sua incrível maestria de composição, a capacidade de contar histórias e relatos por meio de músicas, as pessoas que buscam ouvir Swift talvez não tenham noção do quanto estão envolvidos indiretamente com poesia. Por isso, faremos uma análise em algumas letras de Swift com o propósito de sustentar tal ideia.
Talvez poderemos pensar que até mesmo aquele que se auto julga ignorante de conhecimentos das artes da poesia literária, possa entender e reconhecer que quando está inserido musicalmente com artistas que trabalham de forma indireta ou até mesmo direta com eu-lírico e lirismo, aquela pessoa está sim em contato com poesia.
O eu-lírico e a música
O gênero poético lírico tem sua origem na Grécia Antiga, possuindo em suas características a reflexão do eu-lírico do poeta e seus sentimentos internos, sendo apresentada inicialmente acompanhada da lira, um instrumento musical que auxiliava na apresentação em forma de canto. Manifesta principalmente sentimentos da voz expressada no poema, fazendo uso de metáforas e conotação para que as palavras ganham novos sentidos.
Segundo Linhares (1953) a poesia lírica é como:
A pintura da alma do poeta: as suas emoções, as suas ânsias, as suas alegrias e tristezas, a gama infinita do sentimento humano, desde o afeto mais manso até o arrebatado impulso do ódio ou da admiração transbordante, etc. Conteúdo que está, pois, numa motivação individual, nas situações e objetos particulares do poeta. (LINHARES, 1953, p. 7)
Ou seja, o poeta lírico tem a preocupação de expressar sua variante de sentimentos, independentemente de serem alegres ou melancólicos. Sobre isto, Linhares (1953) diz que “a alma do poeta, através de seus juízos subjetivos, suas alegrias, suas admirações, suas dores e sensações, toma consciência de si mesma.” Desse modo o interno do poeta, torna-se externo, ganhando a atenção e curiosidade do leitor ou ouvinte, que passa a ter conhecimento daqueles sentimentos.
A poesia lírica se atém apenas à reflexão de sentimentos do eu-lírico, não sendo possível segundo Linhares (1953) “encontrar a expressão da totalidade dos interesses, das representações, ideias e fins nacionais”. O principal foco é o amoroso, abordando a melancolia ou a felicidade daquele amor, a aproximação é sempre subjetiva. Sobre o poeta lírico, de acordo com Staiger (1977 p. 22) “Não importa se um leitor também vibra, se ele discute a verdade de um estado lírico. O poeta lírico é solitário, não se interessa pelo público; cria para si mesmo.” Percebe-se assim que a poesia lírica tem a tendência de ser autocentrada.
De acordo com Hegel (1997), citado por Gurgacz (2012 p. 54) “sabe-se que basta exprimir e descrever com palavras a dor ou a alegria para logo atenuá-las pelo desabafo até o alívio. No entanto, a poesia lírica não pode recorrer ao mesmo processo para produzir o mesmo efeito na consciência alheia, uma vez que a missão dela é mais elevada” o que seria segundo o mesmo autor “a tarefa de libertar o espírito não do sentir, mas no sentir.”
Ainda para Hegel (1997) o eu-lírico expressando sua subjetividade pode interessar-se por acontecimentos, conteúdos, situações e feitos. Para Gurgacz (2012 p. 55), o poema lírico “alcança uma unidade inteiramente diferenciada da epopeia, a interioridade.” Sendo assim, o poeta lírico reside nele mesmo, aprendendo de acordo com sua singularidade.
Para Staiger na poesia lírica:
A música da linguagem adquire enorme importância. A música endereça-se à audição. Ao ouvir, não temos que nos colocar, propriamente, diante do que será ouvido[…]. Ao ouvirmos música, a distância ou proximidade só influem até certo ponto, porque os instrumentos a uma certa distância soam melhor. (STAIGER, 1977, p. 24 – 25)
Gurgacz (2012 p. 55) compara a poesia com a música pois “a poesia abandona o lado oposto do ressoar e da percepção”. Então o interior se exterioriza”. Partindo dessa comparação, levamos em consideração que a poesia lírica originalmente era cantada geralmente acompanhada do som da lira como dito anteriormente. De acordo com Ribeiro (1998) haviam dois tipos principais de poesia lírica: “a lírica monódica, declamada em geral pelo próprio poeta, acompanhado pela música de um só instrumento e a lírica coral, apresentada por um coro, com ou sem acompanhamento musical.”
A elegia, que segundo Ribeiro(1999) tem como origem “um canto litúrgico acompanhado de música para enterros e banquetes fúnebres, entre outras coisas” é uma subdivisão da lírica monódica, abordando temas como a tristeza e a nostalgia. Uma das classificações da elegia, é a elegia amorosa, que trata do amor interrompido pela traição ou pela morte.
Percebe-se que há uma irmandade entre música e poesia, sendo uma possibilidade encontrar poesia lírica na música, de forma que se realize uma análise da letra e o teor do eu-lírico. Na atualidade podemos perceber por diversos exemplos musicais como a poesia lírica, especialmente a elegia amorosa está presente no cenário musical. Desde a antiguidade e até os dias de hoje, falar sobre amor e morte, é algo que qualquer pessoa tende a se identificar e compreender.
Um exemplo da possível relação entre poesia lírica e música pode ser observado na afirmação de Staiger (1977 p. 23). “A canção de amor, em que um poeta dirige-se à amada com um íntimo você, terá que ser incluída aqui. Um você lírico só é possível quando amada e poeta formam “um coração e uma alma”. O lamento do amor não correspondido diz um “você”, que o eu sabe não terá eco.”
Popularmente as músicas têm um caráter reflexivo sobre questões como amor, relacionamento, términos, a recordação de um amor que se foi ou não correspondido. Em boa parte desses casos nota-se a presença do eu-lírico, usaremos como exemplo as composições musicais de Taylor Swift, devido uma de suas características musicais, ser suas composições autorais que abordam os temas citados acima, por meio de uma narração que também traz o eu-lírico.
A “poesia” e o eu-lírico nas composições de Taylor Swift
Um dos maiores exemplos de composição com presença do eu-lírico na atualidade, são as músicas da cantora norte-americana Taylor Swift, que escreve todas as suas composições, a maioria sendo de caráter autobiográfico. Suas músicas na maioria das vezes narram a perspectiva do eu-lírico refletindo sobre o amor, seja de forma feliz ou triste.
Em fato, as composições de Swift têm tanto impacto na sociedade que a universidade do Texas ofereceu um curso intitulado “Introdução aos estudos literários e métodos de pesquisa” com uso da discografia e composições de Swift (“Literary Contests and Contexts – The Taylor Swift Songbook”) sendo ministrada pela professora doutora Elizabeth Scala[2]. Segundo a mesma “Swift é uma compositora inteligente e talentosa, e suas habilidades de escrita são o que me fez focar nela. Para mim, é tudo sobre forma (não apenas ou principalmente sobre conteúdo). Estudaremos as canções de Swift como poemas e estruturas literárias.”[3]
É perceptível o nível de credibilidade de Swift no mundo da composição e ainda mais no mundo do lirismo. Swift relatou que às vezes suas composições começam como poemas e de forma orgânica acabam se tornando músicas, como ela relata sobre isso neste trecho de uma entrevista de 2014:
A última vez que escrevi um poema que acabou virando uma música, eu estava escrevendo no meu diário e sobre algo que aconteceu na minha vida – foi cerca de um ano atrás – e eu apenas escrevi este poema realmente muito curto, dizia ‘Este amor é bom / este amor é mau / este amor está vivo de volta dos mortos / estas mãos tiveram que deixá-lo ir livre / e este amor voltou para mim’ e eu apenas escrevi e fechei o livro e coloquei de volta na minha mesa de cabeceira […]. De repente, na minha cabeça, comecei a ouvir essa melodia acontecer, e então percebi que seria uma música4. (SWIFT,2014)
A música citada por Swift acima, é intitulada This Love. Por meio dela o eu-lírico se encontra usando metáforas alternadas para refletir sobre os ciclos de seu relacionamento. Ou seja, às vezes é bom, às vezes é ruim, mas independentemente disso, ainda é amor.
Esta música é apenas uma de várias composições musicais de Swift que são escritas por ela e possuem como conteúdo uma abordagem reflexiva sobre o amor e suas diversas vertentes. De fato, o objetivo de Swift em suas músicas é transmitir esses sentimentos que geralmente vêm em forma de recordação, sendo esta outra característica do gênero lírico.
Uma das composições de maior prestígio da carreira de Swift, “All Too Well” retrata uma reflexão dolorosa de um relacionamento que terminou, na qual a narradora em primeira pessoa se recorda de vários momentos do romance que já não existem mais. Durante toda a música há um memorando que viaja e se alterna entre passado, presente e um possível futuro. Segundo Staiger (1977 p. 21) “A poesia lírica carece tão pouco de conexões lógicas, quanto o todo de fundamentação.”
Nesta música a melancolia da recordação é o principal tema, com um cachecol servindo como metáfora sobre uma das noites de amor que o casal viveu naquele passado. Sobre a recordação Staiger (1977 p. 26) afirma que “O passado como objeto de narração pertence à memória. O passado como tema do lírico é um tesouro de recordação.”
Realizaremos um olhar sobre um dos trechos da música citada para percebemos a presença da recordação e da transição que se alterna entre passado e presente
Well, maybe we got lost in translationMaybe I asked for too muchBut maybe this thing was a masterpiece’Til you tore it all upRunning scared, I was thereI remember it all too wellAnd you call me up againJust to break me like a promiseSo casually cruel in the name of being honestI’m a crumpled up piece of paper lying here’Cause I remember it all, all, all too well | Bem, talvez tenhamos nos perdido na traduçãoTalvez eu tenha pedido demaisMas talvez essa coisa fosse uma obra-primaAté que você rasgou tudoCorrendo com medo, eu estava láEu recordo-me de tudo muito bemE você me liga de novoSó para me quebrar como uma promessaTão casualmente cruel em nome da honestidadeEu sou um pedaço de papel amassado deitada aqui Porque eu me lembro de tudo, tudo, tudo bem demais |
Trecho da música “All Too Well” (2012)
Como está explícito, o eu-lírico viaja em suas recordações tentando compreender a partir de qual ponto o amor se quebrou e como isso afeta seu presente quando o seu amado a procura novamente apenas para magoá-la. No trecho seguinte há uma abordagem sobre como o eu-lírico de Swift está preso naquele momento, recordando-se das noites com o amado. É usada a metáfora do cachecol para falar sobre intimidade.
Time won’t fly, it’s like I’m paralyzed by it I’d like to be my old self again, but I’m still trying to find itAfter plaid shirt days and nights when you made me your own | O tempo não voa, é como se eu estivesse paralisada por eleEu gostaria de ser meu antigo eu novamente, mas ainda estou tentando encontrá-la |
Now, you mail back my things and I walk home aloneBut you keep my old scarf from that very first week’Cause it reminds you of innocence and it smells like meYou can’t get rid of it’Cause you remember it all too well, yeah | Depois de dias e noites de camisa xadrez, quando você me fez suaAgora, você envia de volta minhas coisas e eu ando para casa sozinhaMas você mantém meu cachecol antigo desde a primeira semanaPorque te lembra a inocência e tem o meu cheiroVocê não pode se livrar dissoPorque você se lembra muito bem, sim |
Trecho da música “All Too Well” (2012)
O amado da personagem mantém seu cachecol como recordação, pois na consciência do eu-lírico o mesmo possui seu aroma, sua marca de inocência e também se recorda do que viveram. Staiger (1977) explica que:
Aromas, mais que impressões ópticas pertencem à recordação. Pode ser que não conservemos um aroma na memória, mas sem dúvida o conservamos na recordação. Quando ele se espalha de novo, um acontecimento passado de há muito torna-se subitamente perceptível; o coração bate e finalmente a recordação instiga a memória; podemos dizer em que circunstâncias este aroma nos enebriou os sentidos.(STAIGER,1977, p. 26)
Ainda abordando o amor de forma poética e melancólica e na perspectiva da tristeza, entraremos em outra composição de Swift, a música “Tolerate it”. Nesta o eu lírico se vê preso em um ciclo infinito, terminando da mesma forma que inicia a narrativa, como iremos perceber na letra abaixo:
I sit and watch you reading with your head low […]I greet you with a battle hero’s welcomeI take your indiscretions all in good funI sit and listеnI polish plates until they gleam and glistеnYou’re so much older and wiser and II wait by the door like I’m just a kidUse my best colors for your portraitLay the table with the fancy shitAnd watch you tolerate itIf it’s all in my head, tell me nowTell me I’ve got it wrong somehowI know my love should be celebratedBut you tolerate it I sit and watch you… | Eu sento e observo você lendo com a cabeça baixa […]Eu te saúdo com uma recepção de herói de batalhaEu levo suas indiscrições na brincadeiraEu sento e escutoEu lustro pratos até que eles estejam brilhando e reluzindoVocê é tão mais velho e mais sábio e euEu espero na porta como se eu fosse apenas uma criançaUso minhas melhores cores para o seu retratoArrumo a mesa com as coisas chiquesE observo você tolerar issoSe está tudo na minha cabeça, me diga agoraMe diga que entendi errado de alguma formaEu sei que meu amor deveria ser celebradoMas você o tolera Eu sento e observo você… |
Trecho da música “Tolerate it” (2020)
Nesta música o eu-lírico está ligado a um relacionamento com um homem mais velho tentando constantemente agradá-lo e ser presente, enquanto sofre interiormente com dúvidas sobre possíveis casos e inseguranças sobre ser amada ao invés de ser tolerada. Como mencionado anteriormente, observa-se que o eu-lírico termina sua jornada narrativa da mesma forma que inicia, sentada e observando seu amado. Para Staiger (1977 p. 27) “A Lírica deve mostrar o reflexo das coisas e dos acontecimentos na consciência individual.”
Ainda para Staiger (1977 p. 31), o poeta lírico “fala de mundo interior e mundo exterior. E chama justamente de ”íntimo” algo recordado que não lhe está no momento diante dos olhos, algo passado ou ainda futuro.” A recordação como tema e a abertura do íntimo são pontos-chaves das letras compostas por Swift.
Na letra da canção “Enchanted” (2010) Swift descreve o eu-lírico na recordação de uma noite romântica e mágica quando se apaixonou por seu amado, utilizando metáforas e vocabulário que remetem a um “conto de fadas”. O eu-lírico recorda durante a letra sobre a fascinação por cada detalhe durante aquela noite, desde o momento em que ambos se encontram até a despedida. A narradora ao fim da noite se vê em um transe de nostalgia e questionando-se, a possibilidade de seu amado sentir o mesmo.
This night is sparklingDon’t you let it goI’m wonderstruckBlushing all the way homeI’ll spend foreverWondering if you knewI was enchanted to meet you Please, don’t be in love with someone elsePlease, don’t have somebody waiting on you | Esta noite está brilhandoNão a deixe passarEstou maravilhadaCorando por todo o caminho até em casaPassarei a eternidadeMe perguntando se você sabiaQue fiquei encantada em te conhecer Por favor, não esteja apaixonado por outra pessoaPor favor, não tenha ninguém esperando por você |
Trecho da música “Enchanted” (2010)
É plausível perceber que nas músicas citadas[4], há a presença da elegia amorosa, por abordar tanto o amor interrompido no caso de “All Too Well” (2012), a possível infidelidade, tristeza em “Tolerate it” (2020) e o encantamento e fascinação por uma noite romântica em “Enchanted” (2010). Porém, Swift também aborda a elegia em outra vertente, na música “Marjorie” (2020) há a presença da elegia de morte e pesar.
What died didn’t stay deadWhat died didn’t stay deadYou’re alive, you’re alive in my headWhat died didn’t stay deadWhat died didn’t stay deadYou’re alive, so alive And if I didn’t know betterI’d think you were singing to me nowIf I didn’t know betterI’d think you were still aroundI know betterBut I still feel you all aroundI know betterBut you’re still around | O que morreu não permaneceu mortoO que morreu não permaneceu mortoVocê está viva, você está viva na minha cabeçaO que morreu não permaneceu mortoO que morreu não permaneceu mortoVocê está viva, tão viva E se eu não soubesse a verdadeEu pensaria que você está cantando para mim agoraSe eu não soubesse a verdadeEu pensaria que você ainda está por aíEu sei a verdadeMas eu ainda sinto você por toda parteEu sei a verdadeMas você ainda está por aí |
Trecho da música “Marjorie” (2020)
Marjorie (2020) foi inspirada pela avó de Swift que faleceu quando a artista tinha 13 anos de idade, e segundo a mesma retrata uma das formas de arrependimento que é
“de ser tão jovem quando perdeu alguém, e de não ter a perspectiva de aprender e apreciar quem essa pessoa era plenamente.” [5] (Taylor Swift in Apple Music, 2020) Por meio desta, Swift descreve o eu-lírico que sente o pesar da saudade e da reminiscência de sua avó que a inspirou a perseguir seus sonhos.
As letras das composições de Swift estão sempre de alguma forma ligadas à recordação. Enquanto a maioria dos poemas líricos podem ou não ter sido inspirados na vida pessoal do artista, Swift expressa suas vivências por meio de sua poesia musical, utilizando suas experiências e de pessoas de seu círculo como maneira de fazer arte com as palavras e as melodias. Sua vida pode ou não ter influência no seu trabalho artístico, mas definitivamente é uma fonte de inspiração para aqueles que acompanham e são fãs de seu trabalho.
Assim como a poesia lírica torna o passado como um presente, essas letras poéticas eternizam memórias e sentimentos por meio de palavras e alusões metafóricas, seja para recordar um amor frustrado, uma noite encantadora ou a saudade de um ente querido não mais presente. Ou seja, através dessas letras podemos pensar que a poesia lírica que já é escrita há muito tempo por poetas antigos, encontra espaço e presença nas composições de Swift. É interessante notar como um catálogo tão vasto em gêneros musicais se mantém tão fiel à narrativa da recordação e suas diversas vertentes.
Considerações Finais
Sabe-se que há distinções no conceito de poesia e letras de música, são duas formas de arte com organização e estruturas singulares, mas que podem se completar ou fazer uso uma da outra para propósitos amplos ou inesperados. Por meio deste artigo procurou-se fazer uma associação de letras de músicas e poesia lírica como algo que não foge da similaridade artística no quesito composição. As composições musicais da artista Taylor Swift foram utilizadas como objeto de análise.
Swift cria suas composições expressando seus sentimentos por meio da narrativa do eu-lírico, que, segundo Moisés (1973 p. 194), “trabalha com sentimentos e emoções quase à flor da pele”, sendo um exemplo no mundo musical de poesia em forma letra de música. As mesmas considerações aqui levantadas poderiam ser aplicadas em análises de outros artistas que compõem músicas com características de poesia lírica.
A escolha da artista durante a análise é devida a sua grande referência no lirismo e na capacidade de criar narrativas que na maioria das vezes tratam das elegias, algo que é uma característica marcante na poesia lírica. O maior propósito talvez seja considerar não apenas a arte de Swift, mas a letra de música como uma categoria de poesia que abrange com maior capacidade a atenção do público.
Referências
ALTMANN, Eduarda. Uma classe dedicada às habilidades líricas de Taylor Swift está chegando na Universidade do Texas. Taylor Swift Brasil, 2022. Disponível em: https://taylorswift.com.br/uma-classe-dedicada-as-habilidades-liricas-de-taylor-swiftesta-chegando-na-universidade-do-texas/ . Acesso em: 03 de Fev. 2023
GURGACZ, Glaci. A poesia nos cursos de estética de hegel e no zibaldone de leopardi, 2012
LETRAS. Letras.mus.br – Letras de músicas, 2023. Taylor Swift – Traduções. Disponível em: https://www.letras.mus.br/taylor-swift/traducoes.html. Acesso em: 03 de Fev. 2023
LINHARES, Temístocles. Gêneros poéticos. Revista Universidade do Paraná, V. 1, 1953
MARJORIE. Genius: Song Lyrics & Knowledge, 2020. Disponível em: <https://genius.com/Taylor-swift-marjorie-lyrics >. Acesso em: 03 de Fev. 2023
MOISÉS, Massaud. A criação literária: introdução à problemática da literatura. São Paulo: Melhoramentos, 1973
MOISÉS, Massaud. A Criação Literária – Poesia e prosa. Editora: Cultrix. 1ª edição, 2012
RIBEIRO JR., Wilson A. A lírica monódica. Portal Graecia Antiqua, São Carlos. URL: greciantiga.org/arquivo.asp?num=0225. Data da consulta: 04/02/2023.
RIBEIRO JR., Wilson A. A poesia lírica. Portal Graecia Antiqua, São Carlos. URL: greciantiga.org/arquivo.asp?num=0078. Data da consulta: 04/02/2023.
STAIGER, Emil. Conceitos Fundamentais da Poética. Tradução: Celeste Aída Galeão. Tempo Brasileiro – Rio de Janeiro, 1977
TAYLOR Swift talking about how the song this love started as a poem. Twitter, 2022. Disponível em: <https://twitter.com/taylorclipes/status/1522267687556161536>. Acesso em: 05 de jan. de 2022.
[1] Mestrando em Estudos Linguísticos – Linguística Aplicada pela Universidade Federal do Tocantins
(UFT). Graduado em Letras – Língua Inglesa e suas respectivas Literaturas pela Universidade Federal do Tocantins (UFT). Participou do projeto PIBID – Inglês nos anos 2018 e 2019. Fez parte do CECCLA nos anos 2018 e 2019 (Centro de Estudos Continuados em Letras, Linguística e Artes – do Curso de Letras da Fundação Universidade Federal do Tocantins) como professor voluntário de Língua Inglesa. Atuou como professor de Inglês na Wizard Porto Nacional – TO. Lattes: http://lattes.cnpq.br/2871159298993939.
matheushenrique789@gmail.com
[2] Professora de inglês na universidade de artes liberais em Austin, Texas. Conselheira da pós-graduação em estudos medievais, diretora do programa de honra em inglês. No momento, trabalhando no plano de estudos de um novo curso de métodos de pesquisa e habilidades para alunos iniciantes que se concentra nas composições de Taylor Swift.
[3] Tradução de ALTMANN, Eduarda para o site brasileiro TaylorSwift.com 4 Tradução de minha autoria
[4] Tradução das letras por Letras.Mus.Br
[5] Tradução de minha autoria
1 Mestrando em Estudos Linguísticos – Linguística Aplicada pela Universidade Federal do Tocantins (UFT). Graduado em Letras – Língua Inglesa e suas respectivas Literaturas pela Universidade Federal do Tocantins (UFT). Participou do projeto PIBID – Inglês nos anos 2018 e 2019. Fez parte do CECCLA nos anos 2018 e 2019 (Centro de Estudos Continuados em Letras, Linguística e Artes – do Curso de Letras da Fundação Universidade Federal do Tocantins) como professor voluntário de Língua Inglesa. Atuou como professor de Inglês na Wizard Porto Nacional – TO. Lattes: http://lattes.cnpq.br/2871159298993939. matheushenrique789@gmail.com