MUCOCELE EM GLÂNDULAS SALIVARES  DE BLANDIN-NUHN: RELATO DE CASO

MUCOCELE IN BLANDIN-NUHN SALIVARY GLANDS: CASE REPORT

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10285481


Caio de Andrade Hage1
Amanda Vitória Sousa Cavalcante2
Nathália Karina Silva de Moraes3
Douglas Magno Guimarães4
Clérison Santiago da Cruz5
Thiely da Silva Cazuza6


Resumo

Mucocele é uma lesão que afeta as glândulas salivares, aparecendo com frequência na cavidade oral, principalmente na região do lábio inferior. Causada pela obstrução ou rompimento do ducto excretor da glândula salivar, caracteriza-se por ser uma lesão nodular, com coloração azulada ou cor-de-rosa e tamanho variado. Além do lábio inferior, as lesões podem aparecer em regiões como assoalho da boca e ventre lingual, quando as glândulas salivares de Blandin-Nuhn são acometidas. O presente trabalho relata a remoção cirúrgica de uma mucocele localizada no ventre lingual de um adolescente de 15 anos atendido no Ambulatório de CTBMF do Hospital Municipal de Tucuruí-PA.

Palavras-chave: Glândulas salivares menores. Cistos. Blandin-Nuhn

1 INTRODUÇÃO

Mucocele é um termo clínico utilizado para diagnosticar dois fenômenos que afetam as glândulas salivares menores: extravasamento de muco e cisto de retenção. Segundo Regezi, Sciubba & Jordan (2022), o fenômeno de extravasamento de muco é causado pelo rompimento do ducto excretor da glândula salivar devido um trauma, gerando o escape do muco para o tecido conjuntivo circunjacente, já o cisto de retenção geralmente ocorre quando o ducto salivar é obstruído por um sialolito.

De acordo com Kanehira et al. (2017), o local mais comum para ocorrência da mucocele de extravasamento é a mucosa labial inferior, porém ela pode aparecer em outros locais como, assoalho da boca, ventre lingual, associada as glândulas salivares de Blandin-Nuhn, e na mucosa jugal. Há predominância da lesão em crianças e adultos jovens, entretanto, a literatura afirma não haver predileção por sexo (NEVILLE et al, 2021).

Regezi, Sciubba & Jordan (2022) descreve as características clínicas da mucocele de extravasamento como massa lisa e indolor, apresentando tamanho que pode variar de poucos milímetros até dois centímetros. Segundo Nagar et al. (2021), a coloração da lesão pode variar de azul profundo até uma coloração rosa, semelhante à mucosa oral, além disso, uma característica marcante é a regressão e recorrência alternada, já que a cavidade cística sofre ruptura e reagregação de saliva.

Há várias modalidades de tratamentos para o fenômeno de extravasamento, como a excisão cirúrgica, criocirurgia, marsupialização e injeção de esteroides. Entretanto a remoção cirúrgica é considerada melhor forma de tratamento (CHOI et al, 2019). O tecido removido deve ser enviado para exames microscópicos, a fim de confirmar o diagnóstico e descartar outras lesões como neoplasia de glândula salivar (NEVILLE et al,2021), além de variz venosa, malformação vascular e tumor de tecidos moles, como lipoma e neurofibroma (REGEZI, SCIUBBA & JORDAN, 2022). O presente trabalho tem como objetivo relatar um caso clínico de mucocele localizada no ventre lingual e associada às glândulas de Blandin-Nuhn, tratado com excisão cirúrgica, em paciente de 15 anos atendido Ambulatório de CTBMF do Hospital Municipal de Tucuruí-PA.

2 RELATO DE CASO

Paciente de 15 anos, do sexo masculino compareceu ao Ambulatório de CTBMF do Hospital Municipal de Tucuruí-PA, relatando que havia uma “bolha” na região do ventre lingual. Durante a realização do exame intra-oral percebeu-se que a lesão se apresentava como um nódulo, circunscrito e com coloração semelhante mucosa, localizada no ventre da língua e com características correspondentes ao diagnóstico de mucocele (Figura 1). O tratamento proposto foi a exérese da lesão. Foi realizado a antissepsia, seguida da aplicação do anestésico tópico e infiltrativo. Foi feita uma incisão com a lâmina de bisturi para remoção da lesão e das glândulas salivares afetadas, evitando a recorrência (Figura 2). Após a remoção, foi realizada uma sutura na região do ventre lingual (Figura 3). O material colhido foi fixado em formol 10% e encaminhado para a biópsia. O resultado mostrou fragmentos de mucosa revestida por epitélio pavimentoso estratificado paraceratinizado, há  presença de tecido conjuntivo denso com cavidade preenchida por material mucoide e tecido de granulação formado por fibroblastos, confirmando o diagnóstico de mucocele. Após 8 dias cirurgia, o paciente retornou para remoção dos pontos e apresentou uma ótima cicatrização (Figura 4).

Figura 1

Figura 2

Figura 3

Figura 4

3 DISCUSSÃO

Mucoceles são lesões comuns na cavidade oral e podem acometer várias regiões, Neville et al. (2021) afirma que o local mais comum é a mucosa labial inferior, seguida pelo assoalho da boca e a região do ventre lingual, onde se localizam as glândulas salivares menores de Blandin-Nuhn, como ocorreu no caso clínico relatado. Segundo Abe et al. (2019), há várias causas para a maior prevalência da mucocele na região do lábio inferior, como os hábitos parafuncionais, diferença na densidade das glândulas salivares e na mobilidade do lábio superior e inferior.

Segundo a patogenia e aspectos microscópicos, as mucoceles podem ser classificadas em fenômeno de extravasamento de muco, quando há a presença de mucina livre circundada por tecido de granulação, e em cisto de retenção quando há epitélio ductal revestindo a cavidade (REGEZZI, SCIUBBA & JORDAN). O fenômeno de extravasamento de muco ocorre com mais frequência, aparecendo em 90% dos casos, e possui aparência semelhante a um pseudocisto, já que não possui revestimento epitelial (NAGAR et al, 2021).

Apesar da mucocele não possuir uma etiologia evidentemente definida, acredita-se que a lesão aparece após traumas mecânicos (CHOI et al, 2019). Segundo Magalhães et al. (2021), a lesão é mais comum em jovens, como no presente trabalho, em que o paciente tinha 15 anos. Graillon et al. (2019) afirma que mucoceles localizadas nas gândulas de Blandin-Nuhn são mais comuns no sexo feminino, entretanto no caso relatado o paciente era do sexo masculino.

Há diferentes tratamentos para o fenômeno de extravasamento de muco, entretanto a excisão cirúrgica foi o tratamento escolhido para o caso clínico, e continua sendo o mais indicado pelos cirurgiões-dentistas devido ser uma modalidade segura, simples e que apresenta ótimos resultados (OLIVEIRA et al, 2018). Além da remoção do depósito de muco, é necessário remover as glândulas salivares envolvidas para evitar recidivas (SURYAVANSH et al, 2020).

Além da excisão cirúrgica, outras modalidades de tratamento são relatadas na literatura como a criocirurgia, micromarsupialização e marsupialização. A aplicação de lasers de diodo apresenta vantagens como facilidade de trabalho e redução do tempo de cicatrização (BESBES et al, 2020). A marsupialização é indicada para tratar mucoceles com um tamanho maior, pois não causa danos às estruturas anatômicas vizinhas, já a micromarsupialização é geralmente é utilizada em casos de pacientes pediátricos, por ser considerada uma alternativa menos invasiva (BANSAL et al, 2017).

4 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

A mucocele é uma lesão que aparece com frequência nos consultórios odontológicos, geralmente causada por traumatismos e com maior incidência entre crianças e jovens. A remoção cirúrgica da lesão é o tratamento mais utilizado, sendo eficiente, sem ocorrência de recidivas, como no caso clínico relatado. É necessário que o cirurgião-dentista esteja apto para identificar as principais características da lesão para realizar um diagnóstico correto e definir a conduta indicada.

REFERÊNCIAS

1. ABE, Atsushi et al. Multiple mucoceles of the lower lip: A case report. Clin Case Rep. 2019;7:1388–1390.

2. BANSAL, Shallu et al. Comparison of Micromarsupialization and Modified Micromarsupialization for the Management of Mucocoele of Lower Lip: A Prospective Randomized Clinical Trial. J. Maxillofac. Oral Surg. (Oct–Dec 2017) 16(4):491–496.

3. BESBES, Amira et al. Recurrent Oral Mucocele Management with Diode Laser. Case Reports in Dentistry Volume 2020, Article ID 8855759, 5 pages https://doi.org/10.1155/2020/8855759

4. CHOI, Yun-Jeong et al. Identification of predictive variables for the recurrence of oral mucocele. Med Oral Patol Oral Cir Bucal. 1;24 (2):e231-5, mar. 2019.

5. GRAILLON, N. et al. Mucoceles of the anterior ventral surface of the tongue and the glands of Blandin-Nuhn: 5 cases. J. Stomatol Oral Maxillofac Surg, 2019. https://doi.org/10.1016/j.jormas.2019.04.005.

6. KANEHIRA, Beatriz Terumi Barreto et al. Tratamento cirúrgico de mucocele de tamanho atípico em lábio inferior: Relato de caso. Rev. Cir. Traumatol. Buco-Maxilo-Fac., Camaragibe v.17, n.3, p. 17-20, jul./set. 2017.

7. MAGALHÃES, Nicael da Silva et al. Mucocele das glândulas de Blandin-Nuhn em odontopediatria: relato de caso. Facit Business And Technology Journal, Ed. 31, V. 1.,p.399-407, outubro/novembro, 2021.

8. NAGAR, Saurabh R. et al. Mucocele of the tongue: A case report and review of literature. J Oral Maxillofac Pathol, 25:S37-41, 2021.

9. NEVILLE, Brad W. et al. Atlas de Patologia Oral e Maxilofacial. 1 .ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2021.

10. OLIVEIRA, Bruno Firmino de; HENRIQUE,Douglas Benício Barros; CRUZ, José Henrique de Araújo. Mucocele oral provocada por mordida acidental: relato de caso. Arch Health Invest, 7(11):455-460, 2018.

11. REGEZI, Joseph A.; SCIUBBA, James J.; JORDAN, Richard C.K. Patologia Oral: Correlações Clinicopatológicas. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2022.

12. SURYAVANSHI, Rishi et al. Oral mucocele in infant with an unusual presentation. BMJ Case Rep 2020;13:e234669. doi:10.1136/bcr-2020-234669.


Caio de Andrade Hage – Docente do Curso Superior de Odontologia da Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel (FATEFIG). e-mail: caio.hage@faculdadegamaliel.com.br1
Amanda Vitória Sousa Cavalcante – Discente do Curso Superior de Odontologia da Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel (FATEFIG). e-mail: amanda.cavalcante@faculdadegamaliel.com.br2
Nathália Karina Silva de Moraes – Discente Curso Superior de Odontologia da Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel (FATEFIG). e-mail: nathalia.moraes@faculdadegamaliel.com.br3
Douglas Magno Guimarães – Docente do Curso Superior de Odontologia do Centro Universitário do Pará (CESUPA). e-mail: douglas.guimaraes@prof.cesupa.br4
Clérison Santiago da Cruz – Docente do Curso Superior de Odontologia da Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel (FATEFIG). e-mail: clerison.cruz@faculdadegamaliel.com.br5
Thiely da Silva Cazuza – Discente Curso Superior de Odontologia da Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel (FATEFIG). e-mail: thiely.cazuza@faculdadegamaliel.com.br6