MOVIMENTO SLOW FOOD: O CONTRASTE ENTRE A ALIMENTAÇÃO ATUAL E HÁBITOS ALIMENTARES NATIVOS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8004798


Ádria Nascimento Monteiro
Orientadora: Profª. Dra. Jerusa de Souza Andrade


RESUMO

Esta pesquisa teve como objetivo geral analisar Movimento Slow Food e o contraste entre a alimentação atual e hábitos alimentares nativos. E como específicos: 1 – Conhecer a história e os princípios do Movimento Slow Food e suas implicações na valorização dos alimentos locais e sustentáveis; 2 – Comparar os hábitos alimentares nativos com a alimentação atual, identificando as principais diferenças e desafios para uma alimentação mais consciente e saudável; 3 – Analisar o impacto do Movimento Slow Food na promoção de uma alimentação mais sustentável e consciente, identificando as perspectivas e limitações para sua implementação em diferentes contextos. Metodologicamente, esta pesquisa tratou-se de uma Revisão Sistemática de Literatura, de natureza qualitativa, ancorada essencialmente nos estudos de Andrews (2018); Araújo (2020); Bayão e Damous (2018); Bertuol e Capra Filho (2021); Blanco-Gregory, Quintana-Martínez e Sanagustín-Forns (2020); Cortazzo (2019); Gentile (2016), dentre outros estudiosos da temática abordada. A análise empreendida revela que a alimentação atual e os hábitos alimentares nativos representam um grande contraste em termos de qualidade nutricional, cultural e ambiental. O Movimento Slow Food surge como uma alternativa para promover uma alimentação mais consciente e saudável, baseada em hábitos alimentares nativos e em produtos locais e sustentáveis. A educação alimentar, a valorização dos alimentos regionais e tradicionais, a agroecologia e a agricultura familiar são algumas das medidas importantes para alcançar esse objetivo. No entanto, é necessário repensar o atual modelo de produção e consumo de alimentos e promover políticas públicas mais justas e sustentáveis nessa área.

Palavras-chave: Slow Food; Alimentação saudável; Agricultura familiar; Valorização das tradições culinárias; Sustentabilidade alimentar.

ABSTRACT

This research had the general objective of analyzing the Slow Food Movement and the contrast between current food and native eating habits. And as specific: 1 – Knowing the history and principles of the Slow Food Movement and its implications in valuing local and sustainable food; 2 – Compare native eating habits with the current diet, identifying the main differences and challenges for a more conscious and healthy diet; 3 – Analyze the impact of the Slow Food Movement in promoting more sustainable and conscious eating, identifying perspectives and limitations for its implementation in different contexts. Methodologically, this research was a Systematic Literature Review, of a qualitative nature, essentially anchored in the studies of Andrews (2018); Araújo (2020); Bayon and Damous (2018); Bertuol and Capra Filho (2021); Blanco-Gregory, Quintana-Martínez and Sanagustín-Forns (2020); Cortazzo (2019); Gentile (2016), among other scholars on the topic addressed. The undertaken analysis reveals that the current diet and the native eating habits represent a great contrast in terms of nutritional, cultural and environmental quality. The Slow Food Movement emerges as an alternative to promote more conscious and healthy eating, based on native eating habits and local and sustainable products. Food education, appreciation of regional and traditional foods, agroecology and family farming are some of the important measures to achieve this goal. However, it is necessary to rethink the current food production and consumption model and promote fairer and more sustainable public policies in this area.

Keywords: Slow Food; Healthy eating; Family farming; Valuing culinary traditions; Food sustainability.

INTRODUÇÃO

O Movimento Slow Food (MSF) surgiu na Itália, em 1986, pelo ativista Carlo Petrini na cidade de Bra, como uma resposta à crescente industrialização e globalização da produção de alimentos, que levou à perda de diversidade gastronômica e à deterioração da qualidade dos alimentos (BERTUOL; CAPRA FILHO, 2021). O movimento busca promover a alimentação consciente e a preservação das tradições culinárias locais, bem como a defesa dos direitos dos produtores e dos consumidores. Ao contrastar a alimentação atual com os hábitos alimentares nativos, o referido movimento destaca a importância de se reconectar com a terra e com os alimentos que consumimos, valorizando a biodiversidade e a sustentabilidade (BLANCO-GREGORY; QUINTANA-MARTÍNEZ; SANAGUSTÍN-FORNS, 2020).

A alimentação atual é marcada pela predominância de alimentos industrializados e processados, que muitas vezes contêm ingredientes artificiais e conservantes. Esse tipo de alimentação está associado a diversos problemas de saúde, como obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares. A produção de alimentos em grande escala tem um impacto negativo sobre o meio ambiente, devido ao uso intensivo de recursos naturais e à emissão de gases de efeito estufa (VALDUGA; MINASSE, 2021). O Movimento Slow Food defende uma alimentação mais saudável e sustentável, baseada em alimentos frescos e locais, produzidos de forma artesanal e sem o uso de agrotóxicos (BERTUOL; CAPRA FILHO, 2021).

Os hábitos alimentares nativos, por outro lado, são aqueles que foram desenvolvidos ao longo do tempo por comunidades locais, adaptados às condições climáticas e geográficas de cada região (BLANCO-GREGORY; QUINTANA-MARTÍNEZ; SANAGUSTÍN-FORNS, 2020). Esses hábitos alimentares são marcados pela diversidade de ingredientes e preparações, bem como pelo respeito aos ciclos naturais e à sazonalidade dos alimentos. Além disso, são fundamentais para a preservação da biodiversidade e para a manutenção da saúde das comunidades locais. O Movimento Slow Food valoriza esses hábitos alimentares, promovendo a sua divulgação e preservação (VALDUGA; MINASSE, 2021).

Um exemplo de contraste entre a alimentação atual e os referidos hábitos é a diferença entre a dieta ocidental e a dieta mediterrânea. A dieta ocidental é rica em gorduras saturadas, açúcares e alimentos processados, enquanto a dieta mediterrânea é baseada em alimentos frescos, como frutas, legumes, cereais integrais, azeite e peixes. A dieta mediterrânea tem sido associada a diversos benefícios à saúde, como a redução do risco de doenças cardiovasculares e a melhoria da saúde mental. O Movimento defende a adoção de hábitos alimentares mais próximos da dieta mediterrânea, valorizando os alimentos frescos e saudáveis (VALDUGA; MACCOPPI; MINASSE, 2018; CORTAZZO, 2019).

Em suma, o Movimento Slow Food destaca a importância de se reconectar com a natureza e com os alimentos que consumimos, promovendo uma alimentação mais saudável, diversa e sustentável. Ao contrapor a alimentação atual com os hábitos alimentares nativos, o movimento evidencia a necessidade de se preservar a biodiversidade e as tradições culinárias locais, valorizando a qualidade dos alimentos e a saúde das comunidades (VALDUGA; MINASSE, 2021).

Esta pesquisa se justifica pela importância da nutrição na saúde e bem-estar das pessoas. A alimentação atual, muitas vezes pobre em nutrientes e rica em alimentos processados e ultraprocessados, tem sido associada a uma série de doenças crônicas, como obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares. Compreender os hábitos alimentares nativos pode ajudar a identificar alternativas mais saudáveis e sustentáveis para a alimentação atual.

É fato que a alimentação atual, com a industrialização dos alimentos e a conveniência dos fast foods, tem levado muitas pessoas a optarem por alimentos de baixa qualidade nutricional. Essa alimentação inadequada, além de prejudicar a saúde das pessoas, tem impactos negativos no meio ambiente, como o aumento da produção de resíduos e o uso de recursos naturais de forma insustentável.

Por outro lado, é importante ressaltar que muitas culturas e povos ainda preservam seus hábitos alimentares nativos, que são mais sustentáveis e saudáveis. Esses hábitos, que valorizam o uso de alimentos frescos e locais, muitas vezes têm sido negligenciados ou substituídos pela alimentação rápida e massificada. Valorizar esses hábitos alimentares nativos pode ser uma forma de incentivar a produção local e sustentável, além de promover uma alimentação mais saudável e consciente.

Ademais, a alimentação é um tema complexo e interdisciplinar, envolvendo questões sociais, econômicas, culturais e ambientais. Compreender o contraste entre os hábitos alimentares nativos e a alimentação atual é fundamental para entender a dinâmica dessas questões. O Slow Food, como movimento que busca promover uma alimentação mais consciente e sustentável, pode oferecer uma alternativa a essa alimentação rápida e massificada, valorizando os hábitos alimentares tradicionais e incentivando a produção local e sustentável.

A pandemia de COVID-19 trouxe à tona a importância da segurança alimentar e a necessidade de valorizar a produção local e sustentável. A pandemia afetou a cadeia de suprimentos de alimentos em todo o mundo, levando muitos países a enfrentar escassez de alimentos. Nesse contexto, a produção local de alimentos se mostrou fundamental para garantir a segurança alimentar das populações. A pandemia evidenciou a importância da alimentação saudável para fortalecer o sistema imunológico das pessoas.

As mudanças climáticas e a crise ambiental também destacam a importância da alimentação sustentável como forma de preservar o meio ambiente e garantir a segurança alimentar a longo prazo. As mudanças climáticas afetam a produção agrícola em todo o mundo, e as práticas insustentáveis de agricultura e pecuária podem agravar a crise ambiental. Nesse contexto, a valorização da produção local e sustentável de alimentos pode ser uma forma de reduzir os impactos ambientais da produção de alimentos e garantir a segurança alimentar das populações.

Esta pesquisa teve como objetivo geral analisar Movimento Slow Food e o contraste entre a alimentação atual e hábitos alimentares nativos. E como específicos: 1 – Conhecer a história e os princípios do Movimento Slow Food e suas implicações na valorização dos alimentos locais e sustentáveis; 2 – Comparar os hábitos alimentares nativos com a alimentação atual, identificando as principais diferenças e desafios para uma alimentação mais consciente e saudável; 3 – Analisar o impacto do Movimento Slow Food na promoção de uma alimentação mais sustentável e consciente, identificando as perspectivas e limitações para sua implementação em diferentes contextos.

O Trabalho de Conclusão de Curso consistirá em uma Revisão Sistemática de Literatura sobre o tema, bem como em um levantamento das condições de comercialização e utilização de alimentos regionais. Para a elaboração do TCC, serão utilizados diversos tipos de fontes, tais como artigos científicos, resumos de trabalhos apresentados em eventos, teses de doutorado, dissertações de mestrado, trabalhos de conclusão de curso, trabalhos de iniciação científica, capítulos de livros, livros impressos, e-books e divulgações na internet.

Para acessar a produção bibliográfica necessária, serão utilizadas as seguintes bases de dados: SciELO, Lilacs, Medline, portal da CAPES, Google Acadêmico e sites de periódicos relacionados às áreas de Saúde e Alimentos, além de outras bases disponibilizadas pela Biblioteca Virtual de Saúde (BVS). Além disso, serão realizadas consultas no acervo das bibliotecas virtuais disponibilizadas no portal da universidade Nilton Lins. Para encontrar as informações desejadas, serão utilizados descritores como Slow Food, alimentação saudável, alimentação regional, alimentos tradicionais e comercialização em feiras e mercados, sem fazer restrições quanto ao período de publicação. As buscas serão realizadas em português, inglês e espanhol.

Para as fotos, ingredientes regionais serão adquiridos nas feiras livres e mercados da cidade de Manaus. Para obter e editar as fotos serão usados, respectivamente, o celular e o computador da autora; portanto, as Figuras (fotos) serão de autoria própria. As atividades programadas foram divididas ao longo do primeiro semestre de 2023 e estão discriminadas no cronograma de atividades.

CAPÍTULO 1 – A HISTÓRIA E OS PRINCÍPIOS DO MOVIMENTO SLOW FOOD: IMPLICAÇÕES NA VALORIZAÇÃO DOS ALIMENTOS LOCAIS E SUSTENTÁVEIS

Conhecer a história e os princípios do Movimento Slow Food é fundamental para compreender as implicações na valorização dos alimentos locais e sustentáveis. O movimento Slow Food surgiu como uma resposta à crescente homogeneização da alimentação e à perda da diversidade gastronômica. Ao promover a valorização da comida local e tradicional, a agricultura familiar, a produção em pequena escala e a sustentabilidade alimentar, o Slow Food busca reverter o modelo hegemônico de produção e consumo de alimentos, que privilegia as grandes empresas e desconsidera os impactos socioambientais.

Nesse sentido, é importante destacar que o Movimento Slow Food estimula a formação de redes de produtores e consumidores comprometidos com uma alimentação mais consciente e sustentável. Ao promover a diversidade culinária e a produção em pequena escala, o movimento Slow Food contribui para a redução da dependência de grandes monoculturas, promove a segurança alimentar e fortalece as comunidades locais. Além disso, a valorização dos alimentos locais e sustentáveis está diretamente ligada à preservação da biodiversidade e da cultura alimentar de cada região, o que reforça a importância de se conhecer a história e os princípios do Movimento Slow Food para a construção de uma alimentação mais saudável e consciente.

1.1. DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DO MOVIMENTO SLOW FOOD

O Slow Food é um movimento social que surgiu na Itália em 1986, quando Carlo Petrini liderou uma manifestação contra a abertura de um McDonald’s na Praça Espanha, em Roma. A partir desse episódio, foi criado o primeiro “Slow Food Convivium”, que reunia pessoas para degustar alimentos locais, preparados com ingredientes frescos e de qualidade.

O movimento Slow Food surgiu em resposta aos problemas causados pela industrialização da alimentação e à crescente homogeneização da dieta global. Com a disseminação da fast food e da cultura do consumo imediato, as pessoas perderam o contato com a tradição culinária local e com a produção de alimentos sustentáveis.

Segundo Bertuol e Capra Filho (2021, p. 02), em 1989, foi criada a Associação Internacional Slow Food, que tem como objetivo “promover a alimentação saudável, a gastronomia local e a agricultura sustentável em todo o mundo”. Desde então, o movimento se expandiu para mais de 160 países, com milhares de membros em todo o mundo.

A partir da criação da referida Associação, o movimento ganhou uma estrutura organizacional mais sólida e capaz de ampliar a sua atuação. Com uma rede de membros em todo o mundo, o Slow Food passou a promover a troca de conhecimentos e experiências entre diferentes culturas, fortalecendo o diálogo entre os povos e incentivando a adoção de práticas sustentáveis na produção e no consumo de alimentos.

Além disso, a Associação tem um papel importante na defesa de políticas públicas que promovam a alimentação saudável e a agricultura sustentável em nível local, nacional e internacional. Através de campanhas e ações de advocacy, o movimento busca sensibilizar a sociedade e os governos para a importância da valorização dos produtos locais, da preservação da biodiversidade e da promoção de uma alimentação saudável e consciente. Assim, o Slow Food se tornou uma referência mundial na luta por uma alimentação mais justa, saudável e sustentável para todos.

Conforme Blanco-Gregory, Quintana-Martínez e Sanagustín-Forns (2020, p. 15), em 1996, o Slow Food lançou o projeto “Presidi”, que tem como objetivo “identificar e apoiar produtos alimentares tradicionais em risco de extinção. O projeto já ajudou a preservar mais de 500 produtos em todo o mundo, desde queijos e vinhos a frutas e legumes”.

Figura 1: Projeto Presidi

Fonte: https://getlogo.net/presidi-slow-food-logo-vector-svg/

O projeto Presidi é uma das iniciativas mais importantes do Slow Food na luta pela preservação da biodiversidade e dos saberes tradicionais. Através desse projeto, o movimento identifica produtos alimentares que estão em risco de desaparecer devido à globalização e à padronização dos sistemas alimentares. A partir daí, o Slow Food mobiliza produtores, chefs, consumidores e outros atores para apoiar a produção e o consumo desses produtos, garantindo a sua continuidade e valorização.

Além de preservar a diversidade alimentar, o projeto Presidi também contribui para o desenvolvimento econômico e social das comunidades locais, valorizando a agricultura familiar e os saberes tradicionais. Ao apoiar a produção de alimentos artesanais e de qualidade, o Slow Food estimula a criação de empregos e o fortalecimento da economia local, além de promover a identidade cultural e a autoestima das comunidades. Assim, o projeto Presidi é um exemplo concreto de como a promoção da alimentação saudável e sustentável pode ser benéfica para o meio ambiente, a sociedade e a economia.

Em 2010, o Slow Food lançou a campanha “Mil jardins em África”, que é um dos projetos mais relevantes do Slow Food no continente africano. Através dessa iniciativa, o movimento busca incentivar a agricultura sustentável e promover a segurança alimentar em regiões que enfrentam desafios significativos em relação à produção e ao acesso a alimentos saudáveis (CORTAZZO, 2019).

Figura 2: Campanha ‘Mil jardins em África’

Fonte: https://saboresdacidade.com/slow-food-30-anos-de-projetos-em-todo-o-mundo/

A campanha tem como objetivo criar mil jardins comunitários em toda a África, que servirão como espaços de produção de alimentos e de troca de conhecimentos entre os agricultores. A campanha busca valorizar as práticas agrícolas tradicionais, que são muitas vezes ignoradas pelos sistemas agrícolas modernos. Através do uso de sementes crioulas, técnicas de agroecologia e outras práticas sustentáveis, os agricultores podem aumentar a produtividade e a resiliência dos seus cultivos, ao mesmo tempo em que preservam a biodiversidade e a segurança alimentar das comunidades. Dessa forma, o Slow Food demonstra que é possível conciliar o desenvolvimento agrícola com a preservação ambiental e a promoção da justiça social.

Em 2004, o Slow Food criou a ‘Universidade de Ciências Gastronômicas’, em Pollenzo, na Itália. A universidade é uma iniciativa única no mundo, que reflete a visão do Slow Food de que a gastronomia é uma ciência interdisciplinar, que envolve não apenas a produção e o consumo de alimentos, mas também a história, a cultura, a saúde e a sustentabilidade. A universidade oferece um currículo inovador, que combina teoria e prática, valoriza a diversidade culinária e cultural e incentiva a pesquisa e o desenvolvimento de soluções para os desafios globais relacionados à alimentação (CORTAZZO, 2019).

 Figura 3: Universidade de Ciências Gastronômicas, em Pollenzo, na Itália

 Fonte: https://provandoomundo.com.br/universidade-ciencias-gastronomicas

Além de oferecer uma educação de excelência, a Universidade também é um espaço de diálogo e de cooperação entre produtores, chefs, pesquisadores e consumidores de todo o mundo. Através de eventos, projetos de pesquisa e outras iniciativas, a universidade contribui para a construção de uma comunidade global de pessoas comprometidas com a promoção da alimentação saudável, sustentável e justa. Desse modo, a Universidade de Ciências Gastronômicas é um exemplo inspirador de como a educação pode ser uma ferramenta poderosa para a transformação social e para a construção de um mundo melhor.

Em 2012, o Slow Food lançou a campanha “Alimentos bons, limpos e justos para todos”, a qual é uma iniciativa fundamental para conscientizar a sociedade sobre a importância da alimentação saudável e sustentável e incentivar a adoção de práticas que contribuam para a construção de um sistema alimentar mais justo e equitativo. A campanha tem sido amplamente difundida em todo o mundo, através de eventos, palestras, publicações e outras ações que buscam engajar produtores, consumidores, governos e empresas na promoção de uma alimentação mais consciente e responsável (MARIAGIULIA et al., 2021).

Com a campanha, o Slow Food também tem destacado a importância da diversidade alimentar e da valorização das tradições culinárias locais. Através do resgate e da promoção de produtos alimentares tradicionais, o movimento tem contribuído para a preservação da biodiversidade e para o fortalecimento das comunidades rurais em todo o mundo. Dessa forma, a campanha “Alimentos bons, limpos e justos para todos” tem sido uma importante ferramenta para a construção de um sistema alimentar mais sustentável e justo, que valorize a saúde, o meio ambiente e a cultura.

Em 2020, o Slow Food lançou a campanha “Planeta saudável, pessoas saudáveis”, em resposta à crise da Covid-19. A campanha tem como objetivo incentivar a agricultura sustentável, a alimentação saudável e a preservação da biodiversidade, como forma de garantir a saúde e o bem-estar das pessoas e do planeta (MARIAGIULIA et al., 2021).

A pandemia da Covid-19 trouxe à tona a importância de se construir um sistema alimentar mais resiliente, capaz de enfrentar crises e garantir a segurança alimentar da população. Nesse sentido, a campanha “Planeta saudável, pessoas saudáveis” tem se mostrado extremamente relevante ao incentivar a agricultura sustentável, a alimentação saudável e a preservação da biodiversidade.

Através da campanha, o Slow Food tem enfatizado a necessidade de se apoiar pequenos produtores locais e de se fortalecer as cadeias curtas de produção e distribuição de alimentos. A campanha também tem destacado a importância do acesso à água potável, do combate ao desperdício de alimentos e da redução do consumo de alimentos industrializados, que contribuem para o aumento das doenças crônicas não-transmissíveis. Dessa forma, a campanha “Planeta saudável, pessoas saudáveis” tem sido uma importante iniciativa do Slow Food para enfrentar os desafios impostos pela pandemia e para construir um sistema alimentar mais justo, saudável e sustentável.

Em suma, a história do movimento Slow Food é marcada por iniciativas inovadoras e engajamento social em prol da alimentação saudável, da gastronomia local e da agricultura sustentável. Ao longo das últimas décadas, o movimento tem se expandido para todo o mundo, incentivando a produção e o consumo de alimentos de qualidade e promovendo uma relação mais consciente e responsável com a alimentação.

1.2. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

Um dos princípios fundamentais do Slow Food é o “bom”, que se refere à qualidade e sabor dos alimentos. Blanco-Gregory, Quintana-Martínez e Sanagustín-Forns (2020) explicam que, ao valorizar a qualidade dos alimentos, o movimento Slow Food incentiva o consumo de alimentos frescos e saudáveis, produzidos de forma natural e sem o uso de químicos. O Slow Food tem como princípio o “limpo”, que se refere à produção sustentável e livre de químicos, e o “justo”, que se refere à equidade na distribuição e acesso aos alimentos.

A valorização dos alimentos locais e sustentáveis é uma das principais implicações do movimento. Cortazzo (2019) destaca que o Slow Food promove a valorização de alimentos regionais e de variedades antigas, que muitas vezes estão em risco de extinção. Isso ajuda a preservar a diversidade genética das plantas e animais, bem como as tradições culinárias de cada região. Ao valorizar os alimentos locais, o Slow Food incentiva a agricultura familiar e contribui para a economia local.

Mariagiulia et al. (2021) apontam que o Slow Food também tem implicações sociais e econômicas. O movimento valoriza a agricultura familiar e os produtores locais, criando oportunidades de emprego e renda nas comunidades rurais. Do mesmo modo, promove uma alimentação mais equitativa, reduzindo as desigualdades no acesso aos alimentos. Através de programas como os mercados do produtor e a rede de jardins comunitários, o Slow Food incentiva a participação da comunidade na produção e distribuição dos alimentos.

Outro aspecto importante do movimento Slow Food é a sua preocupação com o meio ambiente. Bertuol e Capra Filho (2021) destacam que o movimento busca incentivar a produção de alimentos de forma sustentável, respeitando os ecossistemas e minimizando os impactos ambientais. O movimento também promove a redução do desperdício de alimentos e a valorização de práticas de conservação de alimentos.

Um dos principais desafios enfrentados pelo movimento Slow Food é a disseminação de seus princípios e valores. Blanco-Gregory, Quintana-Martínez e Sanagustín-Forns (2020) destacam que o movimento ainda é pouco conhecido em muitos países, o que limita a sua capacidade de promover mudanças significativas na forma como produzimos e consumimos alimentos. A valorização dos alimentos locais muitas vezes é vista como algo elitista, o que pode limitar a adesão ao movimento Slow Food por parte de segmentos da população que possuem menos recursos financeiros. No entanto, Cortazzo (2019) argumenta que a valorização dos alimentos locais pode ser uma forma de democratizar o acesso a alimentos saudáveis e sustentáveis, uma vez que a produção local pode ser mais acessível e econômica para a população em geral.

Outro desafio para o movimento Slow Food é a concorrência com os sistemas agroindustriais, que muitas vezes priorizam a produção em larga escala e a maximização dos lucros em detrimento da qualidade e sustentabilidade dos alimentos. Mariagiulia et al. (2021) destacam que, apesar desse desafio, o Slow Food tem se expandido em todo o mundo, criando redes e parcerias que permitem ampliar o alcance de suas ações.

Um dos programas mais conhecidos do Slow Food é o Terra Madre, que reúne produtores, cozinheiros, consumidores e outros atores do sistema alimentar para discutir e promover a alimentação saudável e sustentável. Bertuol e Capra Filho (2021) destacam que o Terra Madre é uma importante plataforma para a troca de experiências e conhecimentos entre as comunidades locais e para a construção de uma rede global de alimentos saudáveis e sustentáveis.

O Slow Food também tem uma forte preocupação com a educação alimentar. Mariagiulia et al. (2021) destacam que o movimento tem desenvolvido uma série de projetos educacionais para crianças e jovens, visando a conscientização sobre a importância da alimentação saudável e sustentável. Esses projetos incluem hortas escolares, programas de educação alimentar e ações de sensibilização junto à comunidade.

O movimento Slow Food tem uma forte dimensão cultural, que se manifesta na valorização das tradições culinárias e dos alimentos regionais. Cortazzo (2019) destaca que o movimento busca promover uma alimentação que seja ao mesmo tempo saudável, sustentável e culturalmente significativa. Isso ajuda a preservar as tradições e o patrimônio cultural das comunidades locais, valorizando as diferenças e a diversidade gastronômica.

Em síntese, o movimento Slow Food tem como objetivo a promoção de uma alimentação saudável, sustentável e justa, valorizando a biodiversidade, a produção local e as tradições culinárias regionais. O movimento busca incentivar a agricultura familiar, a produção sustentável e a redução do desperdício de alimentos. Ele tem implicações sociais e econômicas, promovendo a criação de empregos e renda nas comunidades rurais e a redução das desigualdades no acesso aos alimentos. Apesar dos desafios enfrentados pelo movimento, como a disseminação de seus princípios e a concorrência com os sistemas agroindustriais, o Slow Food tem se expandido em todo o mundo, criando redes e parcerias que permitem ampliar o alcance de suas ações.

CAPÍTULO 2 – OS HÁBITOS ALIMENTARES NATIVOS COM A ALIMENTAÇÃO ATUAL: AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS E DESAFIOS PARA UMA ALIMENTAÇÃO MAIS CONSCIENTE E SAUDÁVEL

A comparação entre os hábitos alimentares nativos e a alimentação atual é fundamental para identificar as principais diferenças e desafios para uma alimentação mais consciente e saudável. Muitos povos indígenas e tradicionais têm hábitos alimentares que são baseados em alimentos frescos, sazonais e produzidos localmente, o que contribui para uma alimentação mais variada e saudável. Por outro lado, a alimentação atual muitas vezes é baseada em alimentos processados, ultraprocessados e ricos em açúcares e gorduras saturadas, o que pode levar a problemas de saúde como obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares.

Nesse sentido, é importante destacar que a comparação entre os hábitos alimentares nativos e a alimentação atual pode ser utilizada como uma ferramenta para a promoção de uma alimentação mais consciente e saudável. Identificar as principais diferenças entre esses dois modelos de alimentação pode ajudar a conscientizar as pessoas sobre a importância de uma dieta baseada em alimentos frescos, saudáveis e produzidos localmente. Ademais, os desafios para uma alimentação mais consciente e saudável devem ser abordados por meio de políticas públicas que incentivem a produção e o consumo de alimentos sustentáveis, bem como por meio de ações educativas que promovam a educação alimentar e nutricional.

Os hábitos alimentares têm sido moldados ao longo dos séculos pelas diferentes culturas, influenciados por diversos fatores como clima, disponibilidade de alimentos e crenças religiosas. No entanto, nas últimas décadas, com a globalização e a facilidade de acesso a alimentos industrializados, a alimentação atual tem apresentado diferenças significativas em relação aos hábitos alimentares nativos.

Segundo Bertuol e Capra Filho (2021, p. 07):

[…] os hábitos alimentares nativos costumam ser mais naturais e integrais, baseados em alimentos locais e sazonais, e com menor presença de produtos industrializados”. Já a alimentação atual tem sido caracterizada pelo consumo excessivo de alimentos processados e fast-foods, ricos em gorduras, açúcares e sódio, e com baixo teor de nutrientes. Essa mudança de hábitos alimentares tem levado a uma série de consequências negativas para a saúde, como o aumento do risco de obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares.

Os autores revelam a importância da alimentação natural e saudável em contraposição ao consumo excessivo de alimentos industrializados. Os hábitos alimentares nativos, que se baseiam em alimentos locais e sazonais, têm sido substituídos por uma dieta rica em alimentos processados, que contêm altos níveis de açúcares, gorduras e sódio, e que têm baixo valor nutricional. Isso tem levado a um aumento do risco de doenças crônicas e metabólicas, como a obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares.

Nesse sentido, é importante que haja uma conscientização sobre a importância de uma alimentação saudável e equilibrada. O Slow Food, por exemplo, tem como objetivo, como outrora mencionado, valorizar a alimentação natural e sustentável, promovendo a produção e o consumo de alimentos bons, limpos e justos. Do mesmo modo, o movimento busca incentivar a valorização da cultura alimentar local, preservando a biodiversidade e garantindo a saúde das pessoas e do planeta. Com isso, é possível incentivar uma mudança de hábitos alimentares, que favoreça a saúde e o bem-estar da população, além de contribuir para a preservação do meio ambiente.

Para Blanco-Gregory, Quintana-Martínez e Sanagustín-Forns (2020, p. 12):

[…] um dos principais desafios para uma alimentação mais consciente e saudável é a educação alimentar. É preciso que as pessoas compreendam a importância de uma alimentação equilibrada e saudável, e saibam como escolher e preparar os alimentos de forma adequada. É necessário o acesso a alimentos de qualidade, principalmente para as populações mais vulneráveis.

De fato, a educação alimentar é um dos principais pilares para promover uma alimentação mais consciente e saudável. É preciso que as pessoas entendam que os alimentos que consomem têm um impacto direto em sua saúde e bem-estar, além de serem uma importante forma de preservar a biodiversidade e promover a sustentabilidade. Nesse sentido, é fundamental que as escolas e instituições de ensino incluam a educação alimentar em seus currículos, desde a educação infantil até o ensino médio. É importante que haja políticas públicas voltadas para a promoção da alimentação saudável e o acesso a alimentos de qualidade, principalmente para as populações mais vulneráveis, que muitas vezes têm dificuldades para obter alimentos frescos e nutritivos.

Além da educação alimentar, é preciso também que haja acesso a alimentos de qualidade para todos. Infelizmente, muitas pessoas ainda têm dificuldades para obter alimentos frescos e nutritivos, seja por questões financeiras ou geográficas. É importante que haja políticas públicas voltadas para a promoção da agricultura familiar e da produção de alimentos saudáveis e sustentáveis, além do incentivo à distribuição desses alimentos para as populações mais vulneráveis. Além disso, é importante que haja uma mudança nos sistemas de produção de alimentos, de forma que eles sejam mais sustentáveis e respeitem a biodiversidade. Dessa forma, será possível garantir o acesso a alimentos de qualidade para todos, promovendo a saúde e o bem-estar das pessoas e do planeta.

Cortazzo (2019) destaca ainda a importância da valorização dos alimentos regionais e tradicionais na alimentação. Esses alimentos, além de serem mais saudáveis, “possuem uma conexão cultural e afetiva com as pessoas e com a região onde são produzidos, contribuindo para a preservação da diversidade cultural e da biodiversidade” (CORTAZZO, 2019, p. 12). No entanto, muitas vezes esses alimentos são negligenciados em favor de produtos industrializados e de outras regiões, o que contribui para a perda da identidade cultural e para o enfraquecimento da economia local.

A valorização dos alimentos regionais e tradicionais na alimentação é um tema importante e que tem ganhado cada vez mais destaque no meio da gastronomia e alimentação saudável. Esses alimentos, além de serem mais saudáveis, também têm um valor cultural e histórico importante para as comunidades que os produzem, contribuindo para a preservação da diversidade cultural e da biodiversidade. Porém, é preciso destacar que a valorização desses alimentos não deve se limitar apenas ao consumo, mas deve englobar toda a cadeia produtiva, desde a produção até a comercialização. É necessário o investimento em políticas públicas que incentivem a produção e comercialização desses alimentos, e a promoção de ações de educação alimentar que estimulem o consumo consciente e a valorização da cultura local.

Além disso, a valorização dos alimentos regionais e tradicionais pode contribuir para o fortalecimento da economia local, gerando empregos e renda para as comunidades envolvidas na produção desses alimentos. Dessa forma, é possível pensar em uma alimentação saudável e sustentável que englobe não apenas a saúde e o bem-estar individual, mas também o desenvolvimento social e econômico das comunidades envolvidas. Para isso, é necessários o incentivo e o apoio às iniciativas de produção e comercialização de alimentos regionais e tradicionais, e o estímulo ao consumo consciente desses alimentos, valorizando a diversidade cultural e a sustentabilidade socioambiental.

Mariagiulia et al. (2021) também destacam a importância de uma alimentação mais sustentável e consciente, levando em consideração não apenas os aspectos nutricionais, mas também os impactos ambientais e sociais da produção de alimentos. A agroecologia e a agricultura familiar são apontadas como alternativas para uma produção mais sustentável e justa, contribuindo para a segurança alimentar e para a conservação dos recursos naturais.

Ainda sobre a importância da agroecologia e da agricultura familiar, é válido destacar que esses modelos de produção contribuem para a conservação dos recursos naturais, como o solo, a água e a biodiversidade. Isso porque essas práticas são baseadas em técnicas que buscam preservar o equilíbrio dos ecossistemas, em contraposição aos modelos de agricultura convencional, que muitas vezes causam danos ambientais significativos. Além disso, a agroecologia e a agricultura familiar também têm um papel social importante, já que promovem o desenvolvimento local e a geração de renda para as comunidades rurais.

A alimentação atual apresenta diferenças significativas em relação aos hábitos alimentares nativos, o que tem levado a uma série de problemas de saúde e ambientais. Para uma alimentação mais consciente e saudável, “é preciso investir em educação alimentar, valorização dos alimentos regionais e sustentáveis, e em alternativas de produção mais justas e sustentáveis” (MARIAGIULIA et al., 2021, p. 09).

Outra diferença significativa entre os hábitos alimentares nativos e a alimentação atual é a quantidade de alimentos processados e industrializados presentes na dieta moderna. A facilidade de acesso a esses produtos, aliada à vida corrida e estressante da sociedade contemporânea, tem levado as pessoas a uma alimentação cada vez mais prática e conveniente, mas também menos saudável. Alimentos ultraprocessados, ricos em açúcar, gordura e sódio, estão associados a uma série de problemas de saúde, como obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares.

A globalização e a padronização dos hábitos alimentares têm levado a uma perda da diversidade cultural gastronômica. Muitas tradições culinárias locais têm sido substituídas por alimentos de origem estrangeira e processados em larga escala, levando ao desaparecimento de alimentos e práticas culinárias tradicionais. Esse processo também tem impactos sociais e econômicos, afetando comunidades que dependem da produção e venda de alimentos regionais.

No entanto, a crescente conscientização sobre os impactos da alimentação na saúde e no meio ambiente tem levado muitas pessoas a buscar uma alimentação mais consciente e saudável, que resgate a diversidade cultural gastronômica e valorize alimentos locais e sazonais. O movimento Slow Food, por exemplo, promove a valorização da culinária regional e sazonal, e incentiva a produção e consumo de alimentos orgânicos e sustentáveis.

Essa mudança de paradigma na alimentação, no entanto, enfrenta desafios, como a falta de acesso a alimentos saudáveis e a influência da publicidade e do marketing de alimentos ultraprocessados. Além disso, muitas vezes a alimentação saudável é vista como algo caro e inacessível, o que pode reforçar desigualdades sociais. Por isso, é importante promover políticas públicas que incentivem a produção e venda de alimentos saudáveis e sustentáveis, e que tornem esses alimentos acessíveis a toda a população.

CAPÍTULO 3 – O IMPACTO DO MOVIMENTO SLOW FOOD NA PROMOÇÃO DE UMA ALIMENTAÇÃO MAIS SUSTENTÁVEL E CONSCIENTE

O tema da alimentação sustentável e consciente tem ganhado cada vez mais relevância em todo o mundo. A preocupação com a qualidade dos alimentos, a produção responsável e a preservação do meio ambiente têm levado muitas pessoas e organizações a buscar alternativas para os modelos tradicionais de produção e consumo de alimentos. Nesse contexto, o movimento Slow Food tem se destacado como uma alternativa interessante e inovadora para promover uma alimentação mais saudável, saborosa e sustentável.

Desde então, o movimento se expandiu para outros países e se tornou uma referência na promoção da alimentação consciente e sustentável. O Slow Food busca estimular a produção de alimentos mais saudáveis, sem agrotóxicos e respeitando os ciclos naturais de produção, além de valorizar a cultura alimentar local e o prazer da alimentação. Nesse sentido, o movimento tem um impacto importante na promoção de uma alimentação mais sustentável e consciente, contribuindo para a preservação do meio ambiente, a promoção da saúde e a valorização da cultura alimentar local.

Segundo Andrews (2018, p. 13) “destaca que o movimento promove a valorização da alimentação como um ato social e cultural, que envolve não apenas o aspecto nutricional, mas também o prazer e a convivência”. Além disso, o autor ressalta que o Slow Food tem um forte compromisso com a sustentabilidade, buscando a produção de alimentos de forma responsável e preservando a diversidade biológica e cultural.

O autor ressalta um aspecto fundamental do movimento Slow Food, que é a valorização da alimentação como um ato social e cultural. Muitas vezes, em sociedades que valorizam a comida rápida e industrializada, a alimentação é vista apenas como uma necessidade fisiológica, ignorando a dimensão social e cultural que a comida pode ter. O Slow Food, por sua vez, busca resgatar essa dimensão da alimentação, valorizando a convivência, o prazer e a cultura alimentar local.

Outro ponto destacado por Andrews (2018) é o compromisso do Slow Food com a sustentabilidade. O movimento reconhece a importância da preservação da diversidade biológica e cultural na produção de alimentos e busca promover práticas agrícolas responsáveis e sustentáveis. Dessa forma, o Slow Food contribui para a promoção de um modelo mais equilibrado de produção e consumo de alimentos, que respeita os limites naturais e culturais e contribui para a preservação do meio ambiente. A citação de Andrews (2018) evidencia a importância do movimento Slow Food na promoção de uma alimentação mais consciente e sustentável, que valorize não apenas a dimensão nutricional, mas também a dimensão social, cultural e ambiental da alimentação.

Para Araújo (2020, p. 09):

[…] o Slow Food é uma forma de resistência ao modelo hegemônico de produção e consumo de alimentos, que privilegia as grandes empresas e desconsidera os impactos socioambientais”. Ela destaca que o movimento valoriza a agricultura familiar e a produção de alimentos em pequena escala, que são mais saudáveis e geram menos impactos ambientais. Além disso, a autora destaca que o Slow Food tem um forte papel na promoção da segurança alimentar, pois valoriza a diversidade de alimentos e estimula a produção local, reduzindo a dependência de grandes monoculturas.

Araújo destaca a importância do movimento Slow Food como uma forma de resistência aos modelos dominantes de produção e consumo de alimentos. É inegável que a hegemonia das grandes empresas no setor alimentício tem gerado diversos impactos socioambientais negativos, como o uso intensivo de agrotóxicos e a degradação do solo. Por isso, o Slow Food se apresenta como uma alternativa mais sustentável e saudável, que valoriza a agricultura familiar e a produção em pequena escala. Além disso, ao estimular a diversidade de alimentos e a produção local, o movimento contribui para a promoção da segurança alimentar, reduzindo a dependência de grandes monoculturas e aumentando a oferta de alimentos saudáveis e de qualidade.

O papel do Slow Food na promoção da segurança alimentar é de extrema importância, pois a diversidade de alimentos é fundamental para garantir uma alimentação saudável e equilibrada para a população. O movimento valoriza a produção de alimentos locais e regionais, incentivando a agricultura familiar e os pequenos produtores. Isso reduz a dependência de grandes monoculturas, que geralmente são mais suscetíveis a pragas e doenças, além de permitir o uso intensivo de agrotóxicos e outros produtos químicos. Além disso, a promoção do Slow Food também estimula a valorização dos produtos locais e regionais, contribuindo para o fortalecimento da economia local e para a preservação da cultura e dos sabores tradicionais. Em um mundo cada vez mais globalizado, o Slow Food se apresenta como uma alternativa mais justa e sustentável para a produção e o consumo de alimentos.

Gentile (2016) destaca a importância do Slow Food na promoção da educação alimentar, ao estimular o conhecimento sobre a origem dos alimentos e os processos de produção. Ela ressalta que:

[…] o movimento promove o resgate das tradições culinárias locais e o consumo de alimentos frescos e sazonais, o que contribui para uma alimentação mais saudável e variada. Além disso, a autora destaca que o Slow Food tem um forte papel na formação de redes de produtores e consumidores, que buscam promover uma alimentação mais consciente e sustentável (GENTILE, 2016, p. 05).

Gentile destaca a importância do Slow Food em promover a valorização das tradições culinárias locais e o consumo de alimentos frescos e sazonais. A adoção desses hábitos alimentares contribui significativamente para a melhoria da saúde das pessoas, já que os alimentos frescos são ricos em nutrientes e vitaminas essenciais para o bom funcionamento do corpo humano. Além disso, o resgate das tradições culinárias locais é importante não só do ponto de vista nutricional, mas também cultural, pois valoriza a história e a identidade de cada região, contribuindo para a preservação da diversidade cultural.

Outro aspecto importante destacado por Gentile é o papel do Slow Food na formação de redes de produtores e consumidores comprometidos com uma alimentação mais consciente e sustentável. Essas redes são fundamentais para a criação de um sistema alimentar mais justo e equilibrado, que valoriza a produção local e a agricultura familiar. Além disso, ao conectar produtores e consumidores, o movimento possibilita um diálogo mais direto e transparente sobre a origem e o modo de produção dos alimentos, o que contribui para a construção de relações mais justas e sustentáveis entre os agentes envolvidos na cadeia produtiva.

Makuta (2018) destaca que o Slow Food tem um papel importante na promoção da justiça social, ao valorizar a agricultura familiar e a produção local de alimentos. Ele ressalta que o movimento estimula o comércio justo e a valorização dos saberes tradicionais, o que contribui para o fortalecimento das comunidades locais e a redução das desigualdades sociais. Além disso, o autor destaca que o Slow Food tem um forte compromisso com a preservação da diversidade cultural, ao valorizar as tradições culinárias locais e estimular a valorização das culturas alimentares.

Por fim, Ribeiro (2019) destaca que o Slow Food tem um papel importante na promoção da saúde, ao valorizar a produção de alimentos mais saudáveis e naturais. Ele ressalta que o movimento promove a conscientização sobre a importância de uma alimentação equilibrada e saudável, baseada em alimentos frescos e naturais, o que contribui para a prevenção de doenças relacionadas à alimentação, como a obesidade e as doenças cardiovasculares. Além disso, o autor destaca que o Slow Food tem um forte compromisso com a qualidade dos alimentos, estimulando a produção de alimentos sem agrotóxicos e respeitando os ciclos naturais de produção.

Em síntese, o movimento Slow Food tem um impacto significativo na promoção de uma alimentação mais sustentável e consciente, valorizando a produção local, a diversidade cultural e biológica, a educação alimentar, a justiça social e a saúde. Os autores analisados neste texto destacam a importância do movimento na promoção de um modelo mais equilibrado de produção e consumo de alimentos, que respeite os limites naturais e culturais e contribua para o bem-estar das pessoas e do planeta. Dessa forma, o Slow Food se apresenta como uma alternativa importante ao modelo de produção e consumo hegemônico, que tem gerado impactos negativos para a saúde, o meio ambiente e a economia.

CONCLUSÃO

Em conclusão, o Movimento Slow Food é uma importante iniciativa que busca promover uma alimentação mais consciente e saudável, baseada em hábitos alimentares nativos e em produtos locais e sustentáveis. A alimentação atual, por outro lado, tem sido caracterizada pelo consumo excessivo de alimentos processados e fast-foods, ricos em gorduras, açúcares e sódio, e com baixo teor de nutrientes. Essa mudança de hábitos alimentares tem levado a uma série de consequências negativas para a saúde, como o aumento do risco de obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares.

Um dos principais desafios para uma alimentação mais consciente e saudável é a educação alimentar. É preciso que as pessoas compreendam a importância de uma alimentação equilibrada e saudável, e saibam como escolher e preparar os alimentos de forma adequada. É necessário o acesso a alimentos de qualidade, principalmente para as populações mais vulneráveis. Além disso, é importante valorizar os alimentos regionais e tradicionais na alimentação, contribuindo para a preservação da diversidade cultural e da biodiversidade.

A agroecologia e a agricultura familiar são apontadas como alternativas para uma produção mais sustentável e justa, contribuindo para a segurança alimentar e para a conservação dos recursos naturais. A valorização dos produtos locais e a redução do desperdício de alimentos são outras medidas importantes para promover uma alimentação mais consciente e sustentável. O Slow Food tem promovido diversas iniciativas nesse sentido, como a campanha “Mil jardins em África” e a Universidade de Ciências Gastronômicas.

Por fim, é importante ressaltar que a adoção de hábitos alimentares mais saudáveis e sustentáveis não depende apenas das escolhas individuais, mas também das políticas públicas e do sistema alimentar como um todo. É necessário repensar o atual modelo de produção e consumo de alimentos, promovendo uma agricultura mais sustentável e justa e um acesso mais equitativo aos alimentos. O Movimento Slow Food é uma importante iniciativa nesse sentido, mas é preciso que outros atores também se engajem nessa luta.

Em resumo, a alimentação atual e os hábitos alimentares nativos representam um grande contraste em termos de qualidade nutricional, cultural e ambiental. O Movimento Slow Food surge como uma alternativa para promover uma alimentação mais consciente e saudável, baseada em hábitos alimentares nativos e em produtos locais e sustentáveis. A educação alimentar, a valorização dos alimentos regionais e tradicionais, a agroecologia e a agricultura familiar são algumas das medidas importantes para alcançar esse objetivo. No entanto, é necessário repensar o atual modelo de produção e consumo de alimentos e promover políticas públicas mais justas e sustentáveis nessa área.

REFERÊNCIAS

ANDREWS, G. The Slow Food Story. Politics and Pleasure. London: Pluto Press. 2018.

ARAÚJO, Jailton Macena de. Gastronomia e desenvolvimento humano: slowfood como instrumento de inclusão social e promoção da segurança alimentar. 2020. 42 f. Monografia (Bacharelado em Gastronomia) – Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, 2020.

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