MORTALIDADE POR QUEDAS EM IDOSOS NA REGIÃO CENTRO-OESTE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7886899


Marcus Vinicius Cordeiro Costa1
Renato Canevari Dutra da Silva2
Heloísa Silva Guerra3


Resumo: Na atualidade, todo o Brasil, incluindo a região Centro-Oeste do país, vive uma transição demográfica em que há um envelhecimento médio da população em geral, o que favorece, de forma independente, quedas inesperadas desse grupo de pessoas com suas respectivas complicações, incluindo a morte. O objetivo deste estudo foi descrever e analisar a mortalidade por quedas na população idosa da Região Centro-Oeste brasileira, no período de 2011 a 2020. Estudo descritivo, retrospectivo, baseado em dados secundários de banco de dados oficiais, via Ministério da Saúde e Fundação Oswaldo Cruz. Foram considerados os óbitos decorrentes de quedas em indivíduos a partir de 60 anos de idade que residam em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. No período analisado ocorreram 9.373 óbitos por quedas, sendo a maioria em indivíduos do sexo feminino (53,12%), 80 anos de idade ou mais (60,87%), cor de pele branca (54,64 %), viuvez como situação conjugal (40,56%), escolaridade de 1 a 3 anos (28,45%), e o ambiente hospitalar como sendo o local onde mais ocorreram as quedas (88,06%). Em relação às causas de óbito por quedas, as maiores frequências registradas foram de “Outras Quedas no Mesmo Nível” (6.255), acompanhado de “Queda no Mesmo Nível Por Escorregão, Tropeção ou Passos em Falsos (traspés)” (1.127) e “Queda Sem Especificação” (873). Reconhecer o perfil das mortes por queda é de fundamental importância, pois a partir dos dados é possível embasar estratégias de intervenção. Sugere-se maior investimento em pesquisas futuras que apliquem ações preventivas aos indivíduos idosos e avaliem o impacto das mesmas na problemática das quedas, colaborando para a prevenção deste importante problema de saúde pública.

Palavras-chave: Acidentes por Quedas. Registros de Mortalidade. Saúde do Idoso.

INTRODUÇÃO

De modo geral, as características distintivas da velhice são físicas e mentais, sendo que essas não ocorrem na mesma idade cronológica para todos, sendo um processo fisiológico, individualizado e generalizado, visto que ocorrem naturalmente com taxas e ritmo diferentes para determinadas populações. Uma marca-padrão da velhice que afeta tanto o corpo quanto a mente é a “lentidão de comportamento”. Este “princípio de desaceleração” encontra uma correlação entre o avanço da idade e lentidão de reação e desempenho de tarefas físicas e mentais, que, de acordo com o grau de comprometimento cognitivo, essa diminuição do tempo de reação pode facilmente fazer com que escorregão ou um simples desequilíbrio resulte em queda (SHERRINGTON et al., 2016).

Definir “queda” não é algo simples de ser feito, visto que existem inúmeras variáveis associadas ao ato, mas ainda assim, o NDNQI (sigla em inglês para Banco de Dados Americano de Indicadores de Qualidade em Enfermagem) adota de forma clássica a seguinte definição: uma descida repentina não intencional ao chão, andar ou outro nível inferior com ou sem ferimentos (STAGGS et al., 2015).

As quedas podem ter sérias consequências físicas e psicológicas para quem as sofre, desde fraturas, hospitalizações, alteração de mobilidade, medo de cair novamente (ptofobia), restrição da atividade de vida diária, perda de independência, declínio cognitivo, institucionalizações e até a morte (MARINHO et al., 2020).

Indivíduos podem conviver com muitos fatores de risco para quedas e só terem problemas quando algum fator determinante se manifestar. Sendo assim, em planos de prevenção, o manejo costuma ser adaptado para tratar os fatores determinantes que podem vir a causar quedas, ao invés de se atentar a todos os fatores de risco que um paciente tem para cair, visto que, teoricamente, a própria idade seria um deles. Esses fatores de risco são diversos e podem ser agrupados em intrínsecos (como a existência de uma doença ou enfermidade específica) e externos ou extrínsecos (incluem o ambiente e a maneira como ele pode estimular quedas acidentais) (JIAN-YU et al., 2020).

No Brasil, alguns estudos apresentam dados a respeito da temática de quedas em idosos. De acordo com Bausch et al. (2017), o número de óbitos de idosos por queda de leito apresentou progressivo crescimento no Brasil, sendo que o coeficiente de letalidade por quedas em idosos passou de 1,08 óbitos a cada 100.000 internações hospitalares em 2003 para 2,66 óbitos por 100.000 internações hospitalares em 2013. Outro estudo analisou dados a respeito das tendências de internação, mortalidade e letalidade por quedas em idosos no Brasil entre 1998 e 2015 e, a respeito do Centro-Oeste, essa região apresentou taxas de mortalidade e de internação sazonais e próximas às nacionais, porém, com tendência crescente para o total de idosos e decrescente para o grupo etário de 60 a 69 anos no período estudado. Além disso, o estudo recomendou a ampliação de recursos humanos para fornecimento e administração de sistemas de informações por equipes das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste devido a relevância da integralidade das informações para se aprimorar a confiabilidade da literatura (STOLT et al., 2020).

Portanto, o objetivo principal do trabalho foi descrever e analisar a mortalidade por quedas na população idosa da Região Centro-Oeste brasileira, no período de 2011 a 2020.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo descritivo, retrospectivo, baseado em dados secundários de banco de dados oficiais. Analisou-se os óbitos consequentes de quedas em indivíduos com idade a partir de 60 anos que residiam no Centro-Oeste brasileiro (Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal) entre os anos de 2011 e 2020.

A operacionalização da coleta de dados da pesquisa foi realizada através da plataforma TABNET, um tabulador de domínio público idealizado pelo DATASUS, que é um órgão da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde, cujo objetivo é coletar, processar e disseminar informações sobre o Sistema Único de Saúde (SUS).

Os óbitos dos idosos residentes na região Centro-oeste foram obtidos via Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde no período de 2011 a 2020 e SISAP/Idoso da Fundação Oswaldo Cruz no período de 2011 a 2019. As causas básicas de óbito foram analisadas por sexo e idade e estudadas segundo os agrupamentos da Classificação Internacional de Doenças, 10ª Revisão (CID-10): W01 (Queda no mesmo nível por escorregão, tropeção ou passos em falsos), W03 (Outras quedas no mesmo nível por colisão com ou empurrão por outra pessoa), W04 (Queda, enquanto estava sendo carregado ou apoiado por outra(s) pessoa(s)), W05 (Queda envolvendo uma cadeira de rodas), W06 (Queda de um leito), W07 (Queda de uma cadeira), W08 (Queda de outro tipo de mobília), W10 (Queda em ou de escadas ou degraus), W11 (Queda em ou de escadas de mão), W12 (Queda em ou de um andaime); W13 (Queda de ou para fora de edifícios ou outras estruturas), W14 (Queda de árvore), W15 (Queda de penhasco), W17 (Outras quedas de um nível a outro), W18 (Outras quedas no mesmo nível), W19 (Queda sem especificação). Foram excluídos os seguintes CID’s relacionados à queda por não tratarem de atividades cotidianas dos idosos da região centro-oeste brasileira: W00 (Queda no mesmo nível envolvendo gelo e neve) e W02 (Queda envolvendo patins de rodas ou para gelo, esqui ou pranchas de rodas).

As variáveis do estudo foram: “Unidade da Federação” selecionando os estados do Centro-Oeste, “Grupo CID-10” selecionando Quedas, “Categoria CID-10” baseado nos critérios de inclusão e exclusão supracitados, “Faixa Etária” selecionando a partir dos 60 anos, “Sexo” selecionando ambos os sexos, “Cor/Raça” sem critérios de exclusão, “Estado Civil” sem critérios de exclusão; “Escolaridade” e “Local de Ocorrência” sem critérios de exclusão.

Os óbitos foram analisados por meio de coeficientes específicos de mortalidade. Para cálculo da mortalidade específica por quedas, utilizou-se o número de óbitos de idosos por quedas entre os residentes em cada Estado da Região Centro-oeste pela população idosa residente daquele local no período determinado, por 100 mil habitantes. A referência da população residente foi obtida via Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) pelo censo de 2010. Por fim, os dados foram digitados em planilhas no Microsoft Excel e submetidos à análise estatística, sendo esses categorizados e apresentados de forma descritiva por meio de tabelas e figuras.

RESULTADOS

Verificou-se que, de acordo com o SIM, no período estudado (2011 a 2020), na região centro-oeste do Brasil ocorreram 9.373 óbitos por quedas. Na distribuição geral de óbitos (Tabela 1), observou-se o seguinte perfil do idoso que sofreu queda: sexo feminino (53,12%), 80 anos de idade ou mais (60,87%), cor de pele branca (54,64 %), viuvez como situação conjugal (40,56%), escolaridade de 1 a 3 anos (28,45%), e o ambiente hospitalar como sendo o local onde mais ocorreram as quedas (88,06%).

Tabela 1: Perfil sociodemográfico dos idosos que foram a óbito por quedas na Região Centro-Oeste brasileira, 2011-2020. 

N%
Sexo9.373100%
Feminino497953,12 %
Masculino439346,87 %
Ignorado10,01 %
Faixa etária9.373100%
60 a 69 anos1.32114,09 %
70 a 79 anos2.34725,04 %
80 ou mais anos5.70560,87 %
Cor da pele9.373100%
Branca512154,64 %
Preta3533,77 %
Amarela690,74 %
Parda3.56238,00 %
Indígena 290,31 %
Ignorado2392,55 %
Situação conjugal9.373100%
Solteiro1.28313,69 %
Casado2.75529,39 %
Viúvo3.80240,56 %
Separado judicialmente6827,28 %
Outro1681,79 %
Ignorado6837,29 %
Escolaridade9.373100%
Nenhuma2.41925,81 %
1 a 3 anos2.66728,45 %
4 a 7 anos1.42215,17 %
8 a 11 anos8428,98 %
12 anos e mais4224,50 %
Ignorado1.60117,08 %
Local de ocorrência9.373100%
Hospital8.25488,06 %
Outro estabelecimento de saúde2062,20 %
Domicílio 7778,29 %
Via pública 320,34 %
Outros1041,11 %
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade do Sistema Único de Saúde (SIM/SUS).

Em relação aos estados brasileiros analisados, o total de óbitos por queda distribuída por ano (Tabela 2) evidencia que o estado com maior predomínio desta causa de óbito foi Goiás (4.937), seguido de Distrito Federal (1.709), Mato Grosso (1.389) e Mato Grosso do Sul (1.284). Além do exposto, observa-se certa tendência crescente do número total de óbitos por queda no decorrer dos anos de 2011 à 2020 em Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal.

Tabela 2. Número de óbitos de idosos por queda em relação ao ano de ocorrência e o estado na região Centro-Oeste brasileira de 2011 a 2020.

2011201220132014201520162017201820192020Total
Mato Grosso do Sul1121421451231251471831731341051.284
Mato Grosso87871161141311501871541631491.389
Goiás2643224134644575255876256636174.937
Distrito Federal1161271441521441902002282002081.709
Total5796788188538571.0121.1571.1801.1601.0799.373
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade do Sistema Único de Saúde (SIM/SUS).

O Gráfico 1 e a Tabela 3, baseados nos dados do SISAP/Idoso, apresentam a distribuição da taxa de mortalidade de óbitos por queda, distribuídos por estado, no período de 2011 a 2019. Assim, o ano com maior taxa de mortalidade foi 2017 (73.33), seguido de 2018 (70.44) e 2019 (66.61), fortalecendo a ideia de diminuição de prevalência de acordo com os anos. Vale ressaltar que a consulta de dados através do SISAP se limita ao ano de 2019, o que não permitiu uma análise comparativa integral em relação ao SIM.

No que se refere as taxas de mortalidade de acordo com os estados da Região Centro-oeste, a média aritmética dos estados entre os anos de 2011 e 2019 foi de 53,44 em Mato Grosso do Sul, 45,84 em Mato Grosso, 72,18 em Goiás, 66,59 no Distrito Federal e 62,53 em toda a região Centro-Oeste, permanecendo assim, acima da média da região, o Estado de Goiás e o Distrito Federal. 

Tabela 3. Taxa de mortalidade por queda de idosos na região Centro-Oeste brasileira de 2011 a 2019.

Mato Grosso do SulMato GrossoGoiásDistrito FederalTaxa de mortalidade da região
201148.3438.1449.8757.1348.47
201259.6936.7655.8563.3554.10
201359.4345.0568.1967.0361.83
201449.6342.5974.0565.3861.83
201549.2648.0270.5259.2360.20
201651.0950.6776.6671.8265.92
201763.1658.5383.4675.1873.33
201858.2045.9284.4875.7270.44
201942.2046.9286.5764.5166.61
Fonte: Sistema de Indicadores de Saúde e Acompanhamento de Políticas do Idoso (SISAP).

Em relação às causas de óbito por queda na região Centro-Oeste de acordo com o CID 10 (Tabela 4), demonstraram-se como as maiores causadoras de falecimento em idosos: “Outras Quedas no Mesmo Nível” (6.255), acompanhado de “Queda no Mesmo Nível Por Escorregão, Tropeção ou Passos em Falsos (traspés)” (1.127) e “Queda Sem Especificação” (873). Além disso, vale ressaltar que a 2ª maior causa de óbito em idosos entre 60 e 69 anos foi “Queda de ou Para Fora de Edifícios ou Outras Estruturas” (147), “Queda de um Leito” foi a 4º maior causa de óbito em idosos entre 70 e 79 anos (91) e em idosos com 80 anos ou mais (206).

Tabela 4. Número de óbitos de idosos por queda segundo CID e faixa etária na região Centro-Oeste brasileira de 2011 a 2020.

60 a 69 anos70 a 79 anos80 anos e mais
W01 Queda no Mesmo Nível Por Escorregão, Tropeção ou Passos em Falsos (traspés)127298702
W03 Outras Quedas no Mesmo Nível Por Colisão Com ou Empurrão Por Outra Pessoa13
W04 Queda, Enquanto Estava Sendo Carregado ou Apoiado Por Outra(s) Pessoa(s)114
W05 Queda Envolvendo Uma Cadeira de Rodas61129
W06 Queda de um Leito2891206
W07 Queda de Uma Cadeira101550
W08 Queda de Outro Tipo de Mobília3432
W09 Queda Envolvendo Equipamento de “playground”1
W10 Queda em ou de Escadas ou Degraus405347
W11 Queda em ou de Escadas de Mão2786
W12 Queda em ou de um Andaime2071
W13 Queda de ou Para Fora de Edifícios ou Outras Estruturas1476527
W14 Queda de Árvore25188
W15 Queda de Penhasco13
W16 Mergulho ou Pulo na Água Causando Outro Traumatismo Que Não Afogamento ou Submersão4
W17 Outras Quedas de um Nível a Outro563326
W18 Outras Quedas no Mesmo Nível68515394031
W19 Queda Sem Especificação139201533
Total132123475705
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade do Sistema Único de Saúde (SIM/SUS).

Sobre a faixa etária e os anos de acontecimentos dos óbitos na região Centro-Oeste (Tabela 5), pode-se visualizar maior número de óbitos em idosos com 80 anos ou mais de 2011 a 2020.

Tabela 5. Número de óbitos de idosos por queda na região Centro-Oeste brasileira em relação à faixa etária e o ano de acontecimentos

2011201220132014201520162017201820192020Total
60 a 69 anos951131081321161411531601571461.321
70 a 79 anos1421652152112062452802912942982.347
80 anos e mais3424004955105356267247297096355.705
Total5796788188538571.0121.1571.1801.1601.0799.373
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade do Sistema Único de Saúde (SIM/SUS).

DISCUSSÃO

De acordo com as estimativas da população residente no Brasil e Unidades da Federação com data de referência em 1º de julho de 2020, a região Centro-Oeste tem 16.504.303 pessoas, sendo também a segunda maior região do Brasil em extensão territorial. Em relação aos idosos residentes na região, 54.465 dos residentes do Centro-Oeste eram idosos em 1950, sendo 3,1% da população total e, de acordo com o Censo Demográfico de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a região apresenta estrutura etária e evolução semelhantes às demais regiões do Brasil, com aumento gradativo da população idosa, onde se teve um crescimento de 3,3% em 1991, para 4,3% em 2000 e 5,8% em 2010 (IBGE, 2010). Vale ressaltar que o censo de 2020 não foi realizado conforme previsto, portanto, os dados mais atualizados a respeito da população da região Centro-Oeste são do ano 2010.

Considerando a variável sexo, os registros de óbitos por quedas apresentaram maior número em indivíduos do sexo feminino, equivalendo a mais da metade dos registros, relacionando-se com resultados da estudos realizados em 2012 na capital de Goiás, em que mulheres foram 63,2% dos idosos que sofreram quedas (BARBOSA; DE OLIVEIRA, 2012). Em contrapartida, os resultados de Rosa et al. (2015) foram divergentes ao exposto, onde a maior prevalência foi do sexo masculino entre 60-79 anos, enquanto em idosos com 80 anos ou mais, mulheres apresentaram maior índice de óbitos por quedas.

No tocante à faixa etária, de 2011 a 2020, a mortalidade foi maior entre idosos com a faixa etária de 80 anos e mais comparado aos demais grupos, sugerindo uma relação entre o avanço da idade e o maior número de óbitos. Estudo brasileiro de análise de tendência temporal demonstrou uma taxa de mortalidade crescente, principalmente entre os longevos (CASTRO et al., 2020). 

A relação idade-mortalidade por queda se apresenta de forma concordante na literatura, incluindo a revisão integrativa de literatura realizada em 2020, onde foram apurados oito estudos publicados entre 2007 e 2016, e todos os estudos expuseram a maior chance de morte em idosos com mais idade, independente de outros fatores (WINGERTER et al., 2020). Essa relação fundamenta-se em condições que tem potencial de aumentar o risco de queda em longevos, sendo os mais expressivos: idade elevada, declínio cognitivo, inatividade, fraqueza muscular, desequilíbrio, histórico de quedas, dependência funcional, polifarmácia e doenças crônicas associadas (BARROS; PEREIRA; WEILLER, 2016).

Considerando o estado civil e a escolaridade, o maior número de óbitos foi observado em pacientes viúvos (40,56%) ou casados (29,39 %) e indivíduos com 1 a 3 anos de escolaridade (28,45%) ou nenhuma escolaridade (25,81%). A literatura corrobora com outros resultados encontrados, onde também a mortalidade por quedas foi maior entre idosos casados ou viúvos e com baixa ou nenhuma escolaridade (ARAÚJO et al., 2014; ROSA et al., 2015). Além disso, um maior nível de escolaridade é provável de ser proporcional a maiores circunstâncias de segurança na esfera habitacional do idoso e atuar como agente protetor em relação às mortes por quedas (BARROS; PEREIRA; WEILLER, 2016; ROSA et al., 2015).

A respeito da cor de pele, idosos de cor branca dominam o maior número de óbitos por quedas (54,64%) no período analisado, coincidindo com o maior número de idosos nessa classificação em leitos hospitalares por quedas, comparado a negros, amarelos, pardos e indígenas, o que reafirma a propensão dos dados examinados (ROSSETO; BUENO; LOPES, 2015).

O fato de doenças crônicas associadas, inatividade e dependência funcional serem fatores relacionados a quedas em idosos também pode estar relacionado com o fato de 88,06% dos óbitos por quedas de idosos na região Centro-Oeste terem acontecido em ambiente hospitalar. Além de pacientes hospitalizados estarem mais propensos a quedas, idosos recebem maior suporte e consequentemente um número de notificações por queda pode estar relacionado com esse alto número nesse local (BARROS; PEREIRA; WEILLER, 2016; DOS SANTOS; PEREIRA; SANTANA, 2017).

Esse dado chama a atenção para os aspectos relacionados à segurança do paciente no ambiente hospitalar, que precisam ser foco da atuação dos profissionais de saúde, fato esse garantido pela Portaria nº 2.095 de 24 de setembro de 2013. A referida portaria aprovou vários protocolos básicos de segurança do paciente, entre eles o Protocolo de Prevenção de Quedas, que estabelece a necessidade da avaliação de todos os pacientes quanto ao risco de quedas, bem como a intervenção por meio de medidas preventivas de acordo com o risco identificado (BRASIL, 2013). 

Vale ressaltar que, no ambiente hospitalar, os principais fatores associados a quedas nos pacientes idosos relacionam-se ao uso contínuo de medicamentos, presença de déficits sensoriais, uso de óculos e de dispositivos de auxílio para a locomoção (SILVA et al., 2019; VACCARI et al., 2016). 

Neste estudo foi possível verificar uma taxa de mortalidade no Estado de Goiás e no Distrito Federal, acima da média da região Centro-Oeste. No entanto, estudo sobre internação e mortalidade por quedas em idoso a nível nacional relatou uma tendência crescente na taxa de mortalidade para o total de idosos na região Centro-Oeste (STOLT et al., 2020). O aumento da mortalidade por quedas é preocupante e pode ser explicado pelo processo de transição demográfica com consequente envelhecimento da população, que nessa fase da vida, apresenta-se mais frágil, susceptível às quedas e com diminuição da capacidade de recuperação (ANTES et al., 2015). 

Em relação às causas de óbito por queda de acordo com o CID 10, no presente estudo as maiores ocorrências foram devido a “Outras Quedas no Mesmo Nível” (66,73%), acompanhado de “Queda no Mesmo Nível Por Escorregão, Tropeção ou Passos em Falsos (traspés)” (12,02%) e “Queda Sem Especificação” (9,31%). Outros estudos sobre óbitos por quedas também apontaram maior frequência de quedas do mesmo nível (REIS et al., 2020; SILVEIRA et al., 2020; SILVA; SAFONS, 2022).  Tanto as “quedas do mesmo nível” quanto aquelas “do mesmo nível por escorregão, tropeção ou passos em falso” podem acontecer devido a fatores intrínsecos (idade avançada, presença de comorbidades, histórico prévio de quedas, uso de medicamentos, dependência funcional) e extrínsecos (compreendendo riscos ambientais, como presença de obstáculos, iluminação inadequada, superfícies muito lisas, presença de tapetes e ausência de corrimãos) (NEIVA; MOREIRA, 2022). O item “queda sem especificação” expõem a fragilidade dos dados secundários relacionados às declarações de óbito, muitas vezes com informações incompletas ou imprecisas.

Este estudo apresentou algumas limitações relacionadas à fonte de dados secundários, como possíveis falhas de registros e registros incorretos, além de um percentual importante de óbitos cuja natureza da queda não tenha sido especificada, o que representa uma baixa qualidade dos dados. A modernização dos sistemas de registros, o correto preenchimento das declarações de óbito e o fortalecimento dos comitês de investigação de óbitos são medidas que podem contribuir na melhoria da qualidade das informações registradas e disponibilizadas nos bancos de dados.  

CONCLUSÃO

De acordo com os dados coletados, o perfil epidemiológico do idoso que foi a óbito por queda na região Centro-Oeste entre 2011 e 2020 foi caracterizado pelo predomínio do sexo feminino, com 80 anos ou mais, raça branca, viúva, com tempo de escolaridade de 1 a 3 anos, queda ocorrendo em ambiente hospitalar, e a causa da morte de acordo com o CID10 como quedas no mesmo nível.

A apresentação de determinados elementos de proteção tais como a promoção da assistência à saúde, o ingresso aos serviços públicos de saúde, o controle de doenças transmissíveis, entre outros, favorecem o aumento da expectativa de vida entre os idosos, reduzindo as mortes por determinadas causas infecciosas e potencializando a chance de apresentarem doenças crônicas e degenerativas com o progredir do tempo.

Estudar e analisar o perfil das mortes por queda é de fundamental importância, visto que a partir de tais considerações se é capaz determinar as fontes e definir ferramentas de intervenção para converter tais ultrajes. 

Ressalta-se a relevância da geografia da saúde, a qual usa o ambiente geográfico como marca analítica das circunstâncias de saúde nos diversos ciclos de vida, indicando a emergência em implementar análises mesmo em lugares em que a população se caracteriza como sendo majoritariamente jovem. Certos estudos brasileiros proveram para o conhecimento cientifico a respeito da situação de saúde da população, porém, a maior parte deles foca regiões em que a expectativa de vida é superior à média nacional, contudo, regiões como o Centro-Oeste brasileiro pouco têm sido estudadas (FREITAS et al., 2018).

Sugere-se maior investimento em pesquisas futuras que apliquem ações preventivas os indivíduos idosos e avaliem o impacto das mesmas na problemática das quedas, colaborando para a prevenção deste importante problema de saúde pública.

AGRADECIMENTOS

À Universidade de Rio Verde pelo apoio à realização desta pesquisa via Programa Institucional Voluntário de Iniciação Científica (PIVIC) 2021-2022.

REFERÊNCIAS

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ARAÚJO, A. M.; MENEZES, R. M. P.; MENDONÇA, A. E. O.; et al. Perfil da mortalidade por quedas em idosos. Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental Online, v. 6, n. 3, p. 863-75, 2014. 

BARBOSA, A. DE M.; DE OLIVEIRA, C. L. Prevalência de quedas, fatores de risco e nível de atividade física em idosos institucionalizados. Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, v. 9, n. 1, p. 57–70, 2012.

BARROS, I. F. O. DE; PEREIRA, M. B.; WEILLER, T. H. Óbitos e internações por quedas em idosos brasileiros: revisão integrativa da literatura. Revista Kairós Gerontologia, v. 19, n. 4, p. 363–382, 2016.

BAUSCH, A. B. et al. Mortalidade por quedas de leitos hospitalares: estudo retrospectivo. Revista Baiana de Enfermagem, v. 31, n. 2, p. 1–10, 2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Programa Nacional de Segurança do Paciente. Protocolo Prevenção de Quedas [Internet]. Brasília, 2013.

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1Acadêmico de Medicina da Universidade de Rio Verde (UniRV), Campus Aparecida de Goiânia, Goiás, Brasil. Integrante do Programa de Iniciação Científica Voluntária (PIVIC) 2021-2022 da UniRV.

2Doutor em Saúde Coletiva, Professor Titular da Faculdade de Odontologia da Universidade de Rio Verde (UniRV), Campus Rio Verde, Goiás, Brasil.

3Doutora em Saúde Coletiva, Orientadora, Professora Adjunto III da Universidade de Rio Verde (UniRV), Campus Aparecida de Goiânia, Goiás, Brasil.