MORTALIDADE POR INSUFICIÊNCIA CARDÍACA NAS MACRORREGIÕES DO BRASIL ENTRE 2010 E 2020: UM ESTUDO ECOLÓGICO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10993183


Clara Cecília Rodrigues Mendes¹, Ana Paula Alves Gouveia², Bruno Alves de Oliveira³, Fábio Henrique Sodré Meneghete⁴, Guiler Algayer⁵, Guilherme Alves Vieira⁶, Isamara Márllen Ferreira Moreira⁷, Juliana Santos de Souza⁸, Karina Stephany Souza Lima⁹, Larah Gonçalves Gomes¹⁰, Letícia Guardieiro Carrijo¹¹, Lettícya dos Santos Lopes¹², Maria Eduarda Barbosa Soares¹³, Mariana Reis Carvalho¹⁴, Miguel Pereira Ferreira¹⁵, Nássara Letícia Müller Pinheiro¹⁶, Oscalina Gabriella Ribeiro da Ponte¹⁷, Pamela Ferreira de Oliveira¹⁸, Wendel Kaíque de Barros Padilha¹⁹; Lara Cândida de Sousa Machado²⁰.


RESUMO:

INTRODUÇÃO: A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome em que há um distúrbio do desempenho do miocárdio e da ativação progressiva do sistema neuroendócrino que atende os órgãos do corpo humano. OBJETIVO: Estipular a taxa de mortalidade por insuficiência cardíaca nas macrorregiões do Brasil entre 2010 e 2020. MATERIAIS E MÉTODOS: Trata-se de um estudo ecológico descritivo, com abordagem quantitativa sobre a mortalidade por insuficiência cardíaca nas macrorregiões no Brasil entre 2010 e 2020. Para a avaliação epidemiológica utilizou-se as variáveis: categoria CID-10, ano e região. Os critérios de exclusão foram dados classificados como ignorados ou em branco porque eles poderiam subestimar os resultados finais. RESULTADOS E DISCUSSÃO: O panorama geral da mortalidade por insuficiência cardíaca no Brasil no período analisado revela uma tendência decrescente quando se compara o ano de 2010 com 2020. Ao observar o panorama geral nas macrorregiões brasileira é possível visualizar que as maiores taxas de mortalidade entre 2010 e 2016 ocorreram na região Sul que nos anos seguintes foi superada pela região Sudeste. Em contrapartida, a região Norte foi a com menor taxa de mortalidade seguida pelo Centro-Oeste entre 2011 e 2020. A região Nordeste ocupou uma posição intermediária em comparação as demais exceto no ano de 2010 em que houve menor taxa de mortalidade do que a região Centro-Oeste. CONCLUSÃO: A partir desses achados, observa-se a necessidade de políticas públicas voltadas especialmente para as regiões mais afetadas, visando especialmente medidas comportamentais para controle dos fatores de risco e capacitação profissional.

PALAVRAS-CHAVE: Cardiologia. Epidemiologia. Insuficiência Cardíaca.

ABSTRACT:

INTRODUCTION: Heart failure (HF) is a syndrome in which there is a disturbance in the performance of the myocardium and in the progressive activation of the neuroendocrine system that serves the organs of the human body. OBJECTIVE: To stipulate the mortality rate due to heart failure in the macro regions of Brazil between 2010 and 2020. MATERIALS AND METHODS: This is a descriptive ecological study, with a quantitative approach on mortality due to heart failure in the macro regions in Brazil between 2010 and 2020. For the epidemiological evaluation, the following variables were used: ICD-10 category, year and region. Exclusion criteria were data classified as ignored or blank because they could underestimate the final results. RESULTS AND DISCUSSION: The general panorama of mortality due to heart failure in Brazil in the analyzed period reveals a decreasing trend when comparing the year 2010 with 2020. When observing the general panorama in the Brazilian macro-regions, it is possible to visualize that the highest mortality rates to 2016 occurred in the South region, which in the following years was surpassed by the Southeast region. On the other hand, the North region had the lowest mortality rate, followed by the Midwest between 2011 and 2020. The Northeast region occupied an intermediate position compared to the others, except in 2010, when there was a lower mortality rate than the region Midwest. CONCLUSION: Based on these findings, there is a need for public policies aimed especially at the most affected regions, especially with a view to behavioral measures to control risk factors and professional training.

KEYWORDS: Cardiology. Epidemiology. Cardiac insufficiency.

INTRODUÇÃO:

A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome em que há um distúrbio do desempenho do miocárdio e da ativação progressiva do sistema neuroendócrino que atende os órgãos do corpo humano (PORTO, 2019). É caracterizada clinicamente pela presença de dispneia, fadiga e edema, sintomas que impactam grandemente na qualidade de vida dos pacientes acometidos. É uma síndrome clínica complexa e progressiva, sendo considerada um problema de saúde pública significativo e desafiador que vem aumentado em todo o globo (JARDIM, 2022).

As principais causas de morte e incapacidade no mundo são decorrentes de doenças crônicas não transmissíveis. A IC é uma cardiopatia grave que pode se originar de anormalidades cardíacas estruturais e/ou funcionais, adquiridas ou hereditárias, que resultam na piora da capacidade de enchimento e ejeção ventricular. Os principais fatores de risco intermediárias para IC são a hipertensão arterial, doença arterial coronariana, dislipidemias e diabetes, sendo a hipertensão o mais importante dos seus fatores de risco. Ademais, há fatores de risco não modificáveis como sexo, idade, composição genética, bem como os comportamentais que incluem alimentação inadequada, tabagismo e sedentarismo (ALMEIDA, 2013).

Essa doença é mais prevalente entre os idosos, que costumam ser acometidos por múltiplas morbidades associadas como hipertensão arterial, diabetes, doença renal e pulmonar crônica, que estão relacionadas ao aumento do risco para IC. Os indivíduos com 60 anos são a maioria, contudo há evidencias de aumento da doença na faixa etária de 50 anos. É importante destacar que é a principal causa de hospitalização no Sistema Único de Saúde (SUS) e suas elevadas taxas de internação e mortalidade geram gastos significativos para o serviço de saúde, ultrapassando 3 bilhões de reais (ARRUDA, et al. 2022). Mediante ao exposto, foi observada a importância de realizar um estudo tendo como objetivo estipular a taxa de mortalidade por insuficiência cardíaca nas macrorregiões do Brasil entre 2010 e 2020.

MÉTODOS:

Trata-se de um estudo ecológico descritivo (LIMA-COSTA, et al. 2003), com abordagem quantitativa sobre a mortalidade por insuficiência cardíaca nas macrorregiões no Brasil entre 2010 e 2020. Incluiu-se na pesquisa dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) contidos no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS).

Foram considerados como critérios de elegibilidade, casos de morte por insuficiência cardíaca incluídos na categoria CID-10 no Brasil entre janeiro de 2010 e dezembro de 2020. Para a avaliação epidemiológica utilizou-se as variáveis: categoria CID-10, ano e região. Os critérios de exclusão foram dados classificados como ignorados ou em branco porque eles poderiam subestimar os resultados finais.

A análise de dados foi feita e organizada em tabelas, a partir do software Microsoft Excel®, contendo as quantidades de óbitos por IC. Calculou-se a taxa de mortalidade a partir da frequência absoluta e estimativas populacionais para em um segundo momento descrever em forma discursiva uma comparação entre os principais indicadores em que ocorreram oscilações nos números de casos no território brasileiro.

RESULTADOS E DISCUSSÃO:

1.1 Taxa de mortalidade anual por insuficiência cardíaca em todo Brasil entre 2010 e 2020.

Na contemporaneidade as doenças cardiovasculares (DCV) são as principais causas de morte, sendo responsáveis por cerca de um terço dos óbitos a nível global. Mais de três quartos dos óbitos por DCV ocorrem em países de baixa ou média renda, sendo que em 2021 a Organização Mundial da Saúde (OMS) reforçou sua preocupação com o impacto dessas patologias (GOMES, et al. 2021).

O panorama geral da mortalidade por insuficiência cardíaca no Brasil no período analisado revela uma tendência decrescente quando se compara o ano de 2010 com 2020. As taxas de mortalidade a cada 100 mil habitantes desse período iniciaram com 14.1 em 2010 e 2011, e seguiram com uma queda para 13.5 em 2012. Posteriormente, houve uma discreta elevação para 13,6 em 2013, seguida de um pequeno decréscimo no valor de 13,3 em 2014. Posteriormente, houve um aumento para 13,5 no ano de 2015 que cresceu ainda mais em 2016 chegando a 14. Os anos seguintes passaram por um decréscimo para 13,3 em 2017 e 12,7 em 2018. Por fim, acorreu um aumento para 12,9 em 2019 e 13,1 em 2020. Esses dados revelam grandes oscilações na década analisada com picos em 2010, 2011 e 2016, assim como pode ser observado no gráfico 1.

Gráfico 1. Panorama geral da taxa de mortalidade a cada 100 mil habitantes anual por insuficiência cardíaca em todo Brasil entre 2010 e 2020.

Fonte: DATASUS, 2023.

A IC se apresenta como uma pandemia global, com prevalência crescente em decorrência de fatores como o envelhecimento populacional e maior presença de fatores de risco como obesidade, sedentarismo ou diabetes mellitus. A relação entre condições socioeconômicas ruins e maior número de óbitos por IC parece ter sido bem estabelecida nos últimos anos em diversas populações, justificada em parte, pelo pior acesso a métodos diagnósticos e tratamento farmacológico. Contudo, esta relação é mais confusa em países de baixa e média renda, onde as variáveis ​​clínicas, demográficas e socioeconômicas explicam um pouco sobre a variabilidade entre as taxas de mortalidade em um ano por IC entre regiões da África, Índia, Sudeste Asiático, Oriente Médio, América do Sul e China, conforme observado no INTER-CHF Prospective Cohort Study (GOMES, et al 2021).

Ao observar o panorama geral nas macrorregiões brasileiras é possível visualizar que as maiores taxas de mortalidade entre 2010 e 2016 ocorreram na região Sul e nos anos seguintes foi superada pela região Sudeste. Em contrapartida, a região Norte foi a com menor taxa de mortalidade, seguida pelo Centro-Oeste entre 2011 e 2020. A região Nordeste ocupou uma posição intermediária em comparação as demais, exceto no ano de 2010 em que houve menor taxa de mortalidade do que a região Centro-Oeste, conforme pode ser observado no gráfico 2.

Gráfico 2. Panorama geral da taxa de mortalidade anual a cada 100 mil habitantes por insuficiência cardíaca nas macrorregiões do Brasil entre 2010 e 2020.

Fonte: DATASUS, 2023.

1.2 Mortalidade anual por insuficiência cardíaca na região Norte entre 2010 e 2020.

A região Norte representou 5% (n=15.414) do total de óbitos por IC no Brasil entre 2010 e 2020. A cada 100 mil habitantes ocorreu uma taxa de mortalidade de 8,2 em 2010 seguida de um aumento em 2011 para 8,7. Nos anos posteriores, 2012 e 2013, ocorreu uma queda sendo as taxas de mortalidade 7,9 e 7,7 respectivamente. Em sequência, houve um crescimento em 2014 com relação aos anos anteriores para 7,9 em que permaneceu igual em 2015. A elevação na taxa ocorreu também em 2016 para 8,5 e foi seguida de um decréscimo para 7,4 em 2017. As taxas aumentaram em 2018 para 7,8 e 2019 para 8,4, sendo que logo depois houve um declínio em 2020 para 8. Dessa maneira, a maior taxa de mortalidade ocorreu em 2011, conforme é possível observar na tabela 1.

O desenvolvimento do Brasil ao longo dos anos pode ter contribuído para a diminuição dos óbitos por IC. Entre os fatores associados estão a implementação de políticas públicas, a ampliação das redes de saúde, a ampliação da cobertura da Atenção Primária de Saúde (APS) e a facilidade de acesso a esses serviços, assim como o crescimento socioeconômico e a diminuição da desigualdade social (SANTOS, et al. 2021).

Tabela 1. Mortalidade anual por insuficiência cardíaca na região Norte entre 2010 e 2020.

AnoFrequência absolutaTaxa de mortalidade/100 mil habitantes
201013298.2
201114398.7
201213277.9
201313027.7
201413657.9
201513767.9
201614988.5
201713207.4
201814137.8
201915548.4
202014918
Fonte: DATASUS, 2023.

1.3 Mortalidade anual por insuficiência cardíaca na região Nordeste entre 2010 e 2020.

Um percentual de 24% (73.641) dos óbitos por IC entre 2010 e 2020 ocorreu no Nordeste. Em 2010 a taxa de mortalidade foi de 11,9 a cada 100 mil habitantes que em 2011 subiu para 12,5 e 2012 regrediu para 12. Houve um aumento em 2013 e 2014 de 12,2 a 12,3 respectivamente que em 2015 retornou para 12,2. Em 2016, esse número passou para 12,4 e reduziu em 2017 para 11,7, valor que se manteve em 2018. A taxa de mortalidade diminuiu em 2019 para 11,6 e se manteve em 2020. Dessa forma, o ano de maior evidência foi 2011, assim como está exposto na tabela 2.

Um dos fatores que podem ter impactado na redução do número de casos é o plano de enfrentamento global das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), incluindo a DCV, do qual o Brasil faz parte e que tem como meta principal a diminuição, até 2030, da mortalidade precoce em 2% ao ano, especialmente em pessoas com menos de 70 anos de idade (BRASIL, 2021).

Tabela 2. Mortalidade anual por insuficiência cardíaca na região Nordeste entre 2010 e 2020.

AnoFrequência absolutaTaxa de mortalidade/100 mil habitantes
2010644711.9
2011683112.5
2012657812
2013672112.2
2014681712.3
2015680412.2
2016696012.4
2017660511.7
2018663511.7
2019660111.6
2020664211.6
Fonte: DATASUS, 2023.

1.4 Mortalidade anual por insuficiência cardíaca na região Sudeste entre 2010 e 2020.

Na região Sudeste ocorreram 47% (n=142.612) dos óbitos brasileiros por IC entre 2010 e 2020. Evidenciou-se 15,6 mortes a cada 100 mil habitantes em 2010. Esse valor se reduziu em 2011 para 15,3 e em 2012 para 14,8 sofrendo um leve aumento em 2013 para 14,9. No ano de 2014 a taxa diminuiu para 14,3 e aumento em 2015 para 14,8 e em 2016 para 15,7. Esse período precedeu uma queda para 15,6 em 2017 e 14,8 em 2018. Nos dois últimos anos analisados houve um aumento para 15 em 2019 e 15,7 em 2020. Dessa forma, os anos em que houve picos na mortalidade foram 2016 e 2020 nessa região, isso pode ser visto com mais detalhes na tabela 3.

Arruda realizou um estudo sobre óbitos por IC entre pessoas acima de 50 anos entre 1998 e 2019 e constatou que a maioria dos óbitos em proporção (47,01%) ocorreram na região Sudeste (n=266.916) (ARRUDA, 2022). Esse mesmo percentual foi encontrado no presente estudo em que analisou pessoas de todas as idades que morreram por IC nos últimos 10 anos. O fato de ter sido a maior em números absolutos quando comparada as demais, se deve, pelo menos em parte, por essa região ser a mais populosa do Brasil. Assim, é possível observar a importância da taxa de mortalidade que traz dados proporcionais a quantidade de indivíduos residentes em cada região. Isso revela que apenas a partir de 2017 o Sudeste obteve maiores taxas de mortalidade no Brasil.

Tabela 3. Mortalidade anual por insuficiência cardíaca na região Sudeste entre 2010 e 2020.

AnoFrequência AbsolutaTaxa de mortalidade/100 mil habitantes
20101283615.6
20111270215.3
20121232914.8
20131258414.9
20141212314.3
20151270714.8
20161359615.7
20171353415.6
20181297514.8
20191324915
20201397715.7
Fonte: DATASUS, 2023.

1.5 Mortalidade anual por insuficiência cardíaca na região Sul entre 2010 e 2020.

O Sul abrangeu 17% (51.444) do total de óbitos por IC entre 2010 e 2020. Foi a região com maiores taxas de mortalidade na maioria dos anos. Em 2010 a taxa de mortalidade por 100 mil habitantes foi de 18 e em 2011 atingiu 18,1. Em 2012 houve redução desse valor para 16,5 que precedeu um aumento em 2013 para 17,2. No ano seguinte, 2014, a taxa reduziu para 16,4 e aumentou em 2015 para 16,6. Em 2016, ano em que houve aumento para 17,6 precedeu um declínio para 15,5 em 2017 e 13,8 em 2018. Por fim, a taxa aumentou em 2019 para 14 e reduziu em 2020 para 13,7. Logo, o ano com maior taxa de mortalidade foi 2011, assim como evidenciado na tabela 4.

Entre os anos de 2000 e 2016, houve a expansão das Atenção Primária à Saúde (APS) por meio da Estratégia Saúde da Família (ESF) e o aumento de repasses financeiros designados à atenção básica. Essas foram consideradas as principais iniciativas do país, que contribuíram significativamente para a redução da internação por IC (ARRUDA, et al. 2022).

Tabela 4. Mortalidade anual por insuficiência cardíaca na Sul entre 2010 e 2020.

AnoFrequência AbsolutaTaxa de mortalidade/100 mil habitantes
2010501718
2011508918.1
2012469116.5
2013491717.2
2014471916.4
2015483316.6
2016515617.6
2017459015.5
2018411113.8
2019418214
2020413913.7
Fonte: DATASUS, 2023.

1.6 Mortalidade anual por insuficiência cardíaca na região Centro-Oeste entre 2010 e 2020.

O Centro-Oeste representou 6% (n=18027) dos óbitos por IC no Brasil entre 2010 e 2020. Obteve em 2010 uma taxa de mortalidade a cada 100 mil habitantes de 13,3 que reduziu nos anos subsequentes para 12,1 em 2011, 12 em 2012, 11,8 em 2013, 11,6 em 2014, 11,1 em 2015, 10 em 2016, 8,9 em 2017 e 8,4 em 2018. Nos anos de 2019 e 2020 houve um aumento para 9,2 nos dois anos.  Assim, o ano de maior evidência foi 2010, conforme a tabela 5.

Consoante Gomes (2021), por mais que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) represente apenas uma visão parcial do status socioeconômico de uma população, não se pode avaliar diretamente sobre a relação de desigualdade e mortalidade por IC, entretanto destacou que é razoável inferir que variações importantes de IDH entre as regiões permitem conhecer focos de desigualdade no território brasileiro. Um IDH baixo reflete, na grande maioria das vezes, uma população pobre e com déficit educacional importante, o que leva a maiores dificuldades de se entender, adquirir e aderir a um tratamento médico complexo como o da IC (GOMES, et al. 2021).

Conforme Bógus (2022), importantes transformações na estrutura social das grandes cidades brasileiras ocorreram nos últimos anos. Esse cenário, marcado por diversos conflitos, revelam a presença de formas precárias de vida, trabalho e habitação no Brasil. Em 2021, o crescimento da pobreza, tem regionalidade bem clara, incidindo especialmente nas grandes regiões Norte e Nordeste, e menos intensamente na região Sul (BÓGUS, et al. 2022).

Mediante os autores supracitados, foi abordado por Gomes ser razoável inferir que variações importantes de IDH entre as regiões permitem conhecer focos de desigualdade no território brasileiro e o déficit educacional pode refletir na dificuldade da adesão ao tratamento. Ademais, Bógus mencionou as regiões com maior e menor índice de pobreza no Brasil. Entretanto, observamos no presente estudo que apesar de as regiões Norte e Nordeste terem maior índice de pobreza, ficaram entre as regiões de menor taxa de mortalidade por IC nesse estudo. E a região Sul considerada como menos afetada pela pobreza apresentou as maiores taxas de mortalidade. As hipóteses que envolvem esse achado são multicausais e abrem caminho para outras pesquisas que possam elucidar esse fato, entre eles é razoável pensar que o preenchimento da declaração de óbito, realização do diagnóstico e exposição aos fatores de risco podem ter influência sobre esse achado.

Tabela 5. Mortalidade anual por insuficiência cardíaca na região Centro-Oeste entre 2010 e 2020.

AnoFrequência AbsolutaTaxa de mortalidade/100 mil habitantes
2010191513.3
2011175712.1
2012176912
2013176611.8
2014175911.6
2015171411.1
2016156710
201714128.9
201813488.4
201914949.2
202015269.2
Fonte: DATASUS, 2023.

CONCLUSÃO:

Mediante o panorama supracitado, nas macrorregiões brasileiras é possível visualizar que as maiores taxas de mortalidade de 2010 a 2016 ocorreram na região Sul e nos anos seguintes foi superada pela região Sudeste. Em contrapartida, a região Norte foi a com menor taxa de mortalidade, seguida pelo Centro-Oeste entre 2011 e 2020. A região Nordeste ocupou uma posição intermediária em comparação as demais, exceto no ano de 2010 em que houve menor taxa de mortalidade do que a região Centro-Oeste. Ademais, as maiores taxas foram presentes nos anos de 2010, 2011 e 2016.

A partir desses achados, observa-se a necessidade de políticas públicas voltadas especialmente para as regiões mais afetadas, visando especialmente medidas comportamentais para controle dos fatores de risco e capacitação profissional para o devido manejo dos pacientes acometidos por IC. Além disso, como é uma patologia com taxas de mortalidade contendo valores consideráveis na população, esse estudo abre caminho para outras pesquisas na área, tendo em vista a importância da abordagem dessa temática.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, G. A. S. et al. Perfil de saúde de pacientes acometidos por insuficiência cardíaca. Escola Anna Nery, n. 17, n. 2, p.328-335, 2013.

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BRASIL, Ministério da Saúde. Banco de dados do Sistema Único de Saúde-DATASUS. Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Disponível em http://www.datasus.gov.br [Acesso em 26 de abril de 2023].

Brasil. Ministério da Saúde. Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas e agravos não transmissíveis no Brasil 2021-2030. Brasília: Ministério da Saúde, 2021.

BÓGUS, L. M. M. et al. Desigualdades sociais e espacialidades da covid-19 em regiões metropolitanas. Caderno CRH, v. 35, p. e022033, 2022.

GOMES, H. J. A. et al. Socioeconomic Indicators and Mortality from Heart Failure: Inseparable Parameters? Arq. Bras. Cardiol., v. 117, n. 5, p. 952-953, 2021.

JARDIM, P. P. et al. Sinais e sintomas de pacientes com insuficiência cardíaca em cuidados paliativos: revisão de escopo. Escola Anna Nery, v. 26, p. 20220064, 2022.

LIMA-COSTA, M. F. et al. Tipos de estudos epidemiológicos: conceitos básicos e aplicações na área do envelhecimento. Epidemiol. Serv. Saúde, v. 12, n. 4, p. 189-201, dez. 2003.

PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª edição. 2019.

SANTOS, S. C. et al. Mortalidade por insuficiência cardíaca e desenvolvimento socioeconômico no Brasil, 1980 a 2018. Arq. Bras. Cardiol. v.117, n. 5, 2021.


1-19Graduando (a) – Faculdade de Medicina, Universidade de Rio Verde – GO.
20Docente – Prof.a Ma. Da Faculdade de Medicina pela Universidade de Rio Verde, GO.