REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202506081758
Elizeu Augusto de Freitas Junior¹; Letícia Victória Dantas dos Reis²; Vitória Emília Silva Mattos³; Ana Beatriz Estevão Morais⁴; Alice Dhayana Schmidt Pereira dos Santos⁵; Isabela Silva Dugué de Abreu⁶; Melissa Dene Muniz⁷.
Resumo:
O câncer de orofaringe, frequentemente associado ao HPV, têm aumentado sua incidência, especialmente em países de alta renda. No Brasil, a mortalidade por esse tipo de câncer mostra variações regionais, com maiores taxas no Sudeste e Sul. Fatores de risco como tabagismo, álcool e infecção pelo HPV são os principais responsáveis pela doença. O presente estudo adota uma análise observacional e retrospectiva, dentro de todo o território brasileiro, no período de 2012 a 2023, com a intenção de analisar e comparar o índice de mortalidade por câncer de orofaringe nas diferentes regiões do país e seus fatores de risco associados como etnia, sexo e idade. Os homens, especialmente na faixa etária de 60 a 69 anos, apresentam a maior taxa de óbitos, com predomínio entre indivíduos brancos. A maior mortalidade foi observada nas regiões Sudeste e Nordeste, com o Sudeste liderando em número de óbitos. A desigualdade no acesso aos serviços de saúde, especialmente no Nordeste e Norte, é um fator crítico que contribui para os altos índices de mortalidade. O fortalecimento de políticas públicas de prevenção e a ampliação do acesso a exames de rastreamento são essenciais para reduzir essas taxas.
Palavras-chave: Neoplasias Orofaríngeas; Papilomavírus Humano; Epidemiologia;
Abstract:
Oropharyngeal cancer, frequently associated with human papillomavirus (HPV) infection, has shown a rising incidence globally, particularly in high-income countries. In Brazil, mortality from this type of cancer exhibits regional disparities, with higher rates observed in the Southeast and South regions. Major risk factors include tobacco use, alcohol consumption, and HPV infection. The present study employs an observational and retrospective analysis encompassing the entire Brazilian territory over the period from 2012 to 2023. Its objective is to analyze and compare oropharyngeal cancer mortality rates across different regions of the country, while also examining associated risk factors such as ethnicity, sex, and age. Findings indicate that males, particularly those aged 60 to 69 years, present the highest mortality rates, with a predominance among white individuals. The highest mortality was recorded in the Southeast and Northeast regions, with the Southeast leading in the absolute number of deaths. Disparities in access to healthcare services, especially in the Northeast and North, constitute a critical factor contributing to elevated mortality rates. Strengthening public health policies focused on prevention, along with expanding access to screening and early detection, are essential strategies for mitigating these rates.
Keywords: Oropharyngeal Neoplasms; Human Papillomavirus Viruses; Epidemiology;
Introdução
O câncer da orofaringe, frequentemente associado à infecção pelo papilomavírus humano (HPV), é uma neoplasia que engloba lesões malignas nas amígdalas, base da língua, palato mole e úvula. Sua incidência tem aumentado rapidamente, sobretudo em países de alta renda, sendo um desafio diagnóstico devido aos sintomas inespecíficos nos estágios iniciais, o que frequentemente resulta em atrasos no tratamento (Lechner M et al., 2022).
A carcinogênese da orofaringe é multifatorial, envolvendo a infecção pelo HPV, frequentemente combinada com fatores de risco como o tabagismo e o consumo de álcool. Além disso, alterações pré-cancerosas podem ser favorecidas por condições como o uso prolongado de contraceptivos orais, múltiplas gestações, imunossupressão e coinfecções por outras doenças sexualmente transmissíveis (Szymonowicz KA et al., 2020).
Entre os subtipos oncogênicos do HPV, destacam-se os tipos 16 e 18, mais prevalentes, seguidos por 31, 33, 45, 52 e 58. A transmissão ocorre predominantemente por contato sexual, especialmente através do sexo oral ou do contato entre boca e região anogenital (Br Romana et al., 2021). No nível celular, as oncoproteínas virais E6 e E7 promovem a degradação das proteínas supressoras tumorais p53 e pRb, respectivamente, resultando na interrupção do controle do ciclo celular, falhas no reparo do DNA, aumento da angiogênese e inibição da apoptose, contribuindo para a carcinogênese (Okunade KS et al., 2020; Szymonowicz KA et al., 2020).
O carcinoma de células escamosas da orofaringe (OPSCC) representa o 24º tipo de câncer mais comum mundialmente, com cerca de 106.400 casos anuais, sendo 70% relacionados à infecção pelo HPV de alto risco (Jensen JE et al., 2024). O diagnóstico baseia-se em triagens como o co-teste de HPV realizado durante o Papanicolau cervical, complementado por pan-endoscopia com biópsias e exames histopatológicos, que são considerados padrão-ouro. A diferenciação entre tumores HPV-positivos e HPV-negativos é fundamental, dado que esses subtipos apresentam características clínicas, radiológicas, terapêuticas e prognósticas distintas (Bicci E et al., 2022).
Do ponto de vista terapêutico, a quimioterapia convencional, associada a medicamentos direcionados e imunoterapia, tem sido utilizada para minimizar os efeitos colaterais nos pacientes com câncer de cabeça e pescoço, incluindo o câncer da orofaringe. No entanto, ainda não há evidências suficientes que justifiquem abordagens terapêuticas distintas para tumores relacionados ou não ao HPV (Muniz IAF et al., 2024).
A prevalência do OPSCC aumentou significativamente desde a segunda metade do século XX, com mudanças demográficas que ampliaram o perfil epidemiológico dos pacientes, anteriormente predominante em homens jovens brancos, para grupos mais velhos, diversas etnias e mulheres. No Brasil, a mortalidade por câncer oral e de orofaringe têm apresentado crescimento, com maior incidência nas regiões Sudeste e Sul, contrastando com menores taxas nas regiões Centro-Oeste e Norte (Prado da Fonseca E et al., 2018).
Este estudo tem como foco principal examinar e descrever as variações na mortalidade por câncer de orofaringe no contexto brasileiro, analisando como fatores regionais, diferenças de gênero e etnia impactam essas tendências. Além disso, busca identificar padrões específicos de incidência e mortalidade em diferentes regiões do país, enfatizando possíveis desigualdades no acesso aos serviços de saúde e na detecção precoce da enfermidade.
1. Metodologia
Foi realizado um trabalho retrospectivo amplo, adotando uma análise observacional e retrospectiva, dentro de todo o território brasileiro, no período de 2012 a 2023, com a intenção de analisar e comparar o índice de mortalidade por câncer de orofaringe nas diferentes regiões do país e seus fatores de risco associados. A taxa de mortalidade foi obtida com base nos dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).
Nesta análise, distintas variáveis foram consideradas, incluindo etnia, idade, sexo e região geográfica do país.
A pesquisa, baseada em dados secundários que não permitiam a identificação dos participantes, dispensou a aprovação prévia do Comitê de Ética. Essa decisão seguiu as diretrizes da Resolução 466/12 do CNS, que estabelece que estudos limitados à análise de informações secundárias não necessitam dessa avaliação.
2. Resultados
Primeiramente, dentro do período estudado de 2012 a 2013 avaliou-se uma evolução na taxa de mortalidade por câncer da região anatômica orofaríngea (Figura 1). Ademais, observa-se que entre os anos de 2012 à 2015 houve uma evolução linear na quantidade de mortes que após esse intervalo temporal seguiu-se um aumento ainda maior, que interrompeu essa linearidade. O ano de 2023 foi avaliado como o ano com o maior quantitativo de mortes e 2012 a menor quantidade. De maneira a prática, o número de mortes entre 2012 a 2023 por câncer orofaríngeo no brasil foi, respectivamente: 1.631, 1.672, 1.732, 1.788, 1.965, 2.051, 2.031, 2.172, 2.108, 2.177, 2.100, 2.411.
Figura 1. Variação temporal por Câncer Orofaríngeo no Brasil

Os dados analisados sobre a mortalidade por câncer orofaríngeo revelaram que pessoas brancas apresentaram a maior taxa de óbitos, totalizando 11.720 mortes, o que corresponde a mais de 50% do total. Em seguida, indivíduos pardos registraram 8.879 óbitos, representando 38,59% das mortes. Pessoas pretas apareceram na terceira posição, com 1.543 mortes (6,71%). Chama a atenção o fato de que os óbitos entre indígenas (33 mortes; 0,14%) e amarelos (81 mortes; 0,35%) somados foram inferiores ao percentual de casos classificados como “ignorados”, em que a raça/etnia não foi identificada, totalizando 755 mortes (3,28%). Dessa forma, a distribuição da mortalidade por câncer orofaríngeo, em ordem decrescente, foi a seguinte: brancos, pardos, pretos, ignorados, amarelos e indígenas.
Figura 2. Total de óbitos por Câncer Orofaríngeo de 2012 a 2023 no Brasil em relação à etnia.

Outrossim, houve uma discrepância acentuada na distribuição por gênero na qual verificou-se uma predominância de casos no sexo masculino, que representou 84,3% (20.090) do total, enquanto o sexo feminino correspondeu a 15,7% (3.746) dos casos. Ademais, foram identificados apenas dois casos com registro de gênero como dado ignorado (Figura 3).
Figura 3.Porcentagem de Óbitos Por Câncer De Orofaringe Em Relação Ao Gênero.

No que concerne à distribuição por faixa etária, constatou-se uma tendência marcante de maior mortalidade em indivíduos de idades mais avançadas. Observou-se um aumento progressivo nos óbitos a partir dos 20 anos, atingindo seu ápice na faixa etária de 60 a 69 anos, seguido de uma redução após os 70 anos. As faixas etárias avaliadas foram: <1 ano (infantil), 1 a 4 anos, 5 a 9 anos, 10 a 14 anos, 15 a 19 anos, 20 a 29 anos, 30 a 39 anos, 40 a 49 anos, 50 a 59 anos, 60 a 69 anos, 70 a 79 anos e 80 anos ou mais. O número total de óbitos registrados em cada uma dessas faixas foi, respectivamente: 3, 0, 1, 3, 9, 66, 317, 2.658, 7.097, 7.499, 4.065 e 2.112.
Adicionalmente, foram identificados três óbitos classificados como ignorado/branco. Conforme ilustrado na Figura 5, a análise da variação entre as faixas etárias no período estudado revelou um aumento expressivo na mortalidade da faixa de 60 a 69 anos. É pertinente destacar que os óbitos registrados nas faixas etárias de menores de 1 ano (infantil), 1 a 4 anos, 5 a 9 anos, 10 a 14 anos e 15 a 19 anos não foram representados na Figura 5, visto que, quando somados, totalizaram apenas 16 óbitos durante o período compreendido no estudo.
Figura 4. Variação Temporal da Taxa De Mortalidade Por Câncer de Orofaringe.

A análise da variação na taxa de mortalidade ao longo do período estudado revelou diferenças significativas entre as macrorregiões brasileiras. A região Sudeste destacou-se como a mais afetada, registrando o maior número de óbitos. Observou-se um aumento contínuo no número de casos nessa região entre 2013 e 2016, seguido por um período de estabilidade nos dois anos subsequentes, com uma variação mínima de apenas um óbito (de 881 para 882 mortes). Os valores anuais da região Sudeste foram: 812, 783, 785, 817, 881, 881, 882, 946, 856, 926, 863 e 1.001.
A região Nordeste ocupa o segundo lugar entre as mais afetadas por esse tipo de câncer. Entretanto, entre 2014 e 2015, ficou atrás da região Sul, com uma diferença de apenas 14 e 12 óbitos, respectivamente. Em 2016, a região Nordeste voltou a superar o Sul, mantendo um crescimento quase linear nos casos até 2020, quando foi registrado um leve declínio no número de mortes. O pico de óbitos ocorreu em 2023, com um total de 461 fatalidades. Os valores anuais da região Nordeste foram: 232, 268, 254, 268, 322, 345, 352, 387, 402, 388, 399 e 461.
A região Sul se mantém como a terceira macrorregião mais afetada desde 2016, permanecendo nessa posição até 2023. Entre 2020 e 2023, houve flutuações no número de casos, com os seguintes registros: 388 em 2020, 399 em 2021 e 461 em 2023. Os valores anuais da região Sul foram: 200, 256, 268, 280, 290, 311, 307, 297, 288, 324, 299 e 335.
O Centro-Oeste ocupa a quarta posição, seguido pela região Norte em número de óbitos, ambas apresentando pequenas variações ao longo dos anos avaliados. Na região Centro-Oeste, os períodos de maior aumento de casos foram de 2015 para 2016 e de 2022 para 2023, com variações de 27 e 29 casos, respectivamente. Os valores anuais da região Centro-Oeste foram: 74, 93, 116, 112, 139, 125, 126, 145, 152, 138, 128 e 157.
A região Norte apresenta o menor número de casos, com um crescimento mínimo ao longo do período analisado. Os anos de maior registro foram em 2021 e 2023, com 64 e 79 óbitos, respectivamente. Os valores anuais da região Norte foram: 28, 35, 41, 40, 46, 62, 59, 53, 50, 64, 62 e 79.
Figura 5. Análise temporal das taxas de mortalidade específicas por câncer orofaríngeo em cada macrorregião brasileira.

A análise dos óbitos por câncer orofaríngeo no Brasil evidenciou um predomínio da região Sudeste, com 10.433 casos, representando mais de um quarto do total registrado no país. A região Nordeste ocupou a segunda posição, com 4.078 óbitos, seguida pelo Sul (3.455), Centro-Oeste (1.505) e Norte (619). Deste modo, destaca-se que o número de óbitos no Sudeste supera o do Nordeste em mais de seis mil casos, evidenciando uma diferença significativa. Além disso, a diferença entre as regiões Sul e Nordeste foi de 623 óbitos.
Figura 3. Total de Óbitos por Câncer Orofaríngeo nas Macrorregiões Brasileiras no Período de 2012 a 2023

3. Discussão
Nossos dados sugerem uma notável desproporção na incidência de câncer de orofaringe entre os sexos, com maior mortalidade entre os homens. Estudos epidemiológicos indicam que essa neoplasia figura como o quinto tipo de câncer mais frequente entre os homens no Brasil, ocupando a quarta posição na região Sudeste (Cunha ADR et al., 2020). Essa disparidade pode ser atribuída a múltiplos fatores, incluindo padrões comportamentais distintos, maior exposição a agentes carcinogênicos e diferenças biológicas que podem influenciar a susceptibilidade à doença. A principal explicação para a maior ocorrência da doença no sexo masculino está relacionada à maior exposição aos fatores de risco predominantes. No Brasil, o tabagismo, um dos principais agentes etiológicos do câncer de orofaringe, é mais prevalente entre os homens (Malta DC et al., 2015). Além disso, a menor adesão masculina aos serviços de saúde compromete a detecção precoce da doença, uma vez que exames regulares possibilitam a identificação de lesões potencialmente malignas e intervenções oportunas, reduzindo, assim, o risco de mortalidade (Miranda CDC et al., 2013). Dessa forma, tanto a maior vulnerabilidade ao tabagismo quanto a menor busca por atendimento preventivo são fatores determinantes para a disparidade observada entre os sexos.
A análise regional indica que o Sudeste apresenta a maior mortalidade por câncer de orofaringe no Brasil, um fenômeno que pode ser explicado por fatores demográficos, epidemiológicos e estruturais. Sendo a região mais populosa do país e sede de capitais com elevados índices de desenvolvimento humano (IDH-M), concentra um grande número de indivíduos expostos a condições que favorecem o surgimento da doença. Além disso, pesquisas apontam que, nessas capitais, a população apresenta maior predisposição aos principais fatores de risco para o câncer, possui uma expectativa de vida mais alta e conta com um sistema mais eficiente de registro de óbitos, o que pode contribuir para a maior notificação de casos fatais em comparação a outras regiões (Borges DML et al., 2009).
Por outro lado, o Nordeste ocupa a segunda posição entre as regiões mais afetadas por esse tipo de câncer. Entretanto, diferentemente do Sudeste, onde os altos índices estão mais associados a fatores epidemiológicos, no Nordeste a elevada mortalidade parece estar diretamente relacionada a desigualdades socioeconômicas. As regiões Norte e Nordeste possuem a menor disponibilidade de profissionais de saúde, incluindo médicos, enfermeiros e dentistas, por mil habitantes, enquanto as demais regiões registram índices pelo menos duas vezes maiores nesse indicador (Perea LME., 2021). Essa carência de profissionais restringe o acesso à serviços de saúde, e consequentemente ao diagnóstico precoce e ao tratamento adequado, resultando em piores prognósticos e dessa forma, um aumento da letalidade (Antunes JLF et al., 2008). Tais fatores reforçam a vulnerabilidade das populações do Norte e Nordeste, tornando o impacto do câncer de orofaringe ainda mais grave nessas regiões.
A mortalidade por câncer de orofaringe apresenta também diferenças expressivas entre os grupos étnico-raciais, sendo a população branca a mais afetada. Estudos internacionais, principalmente norte-americanos, indicam que indivíduos brancos apresentam uma maior proporção de tumores associados ao papilomavírus humano (HPV), fator que está diretamente relacionado à etiologia do câncer de orofaringe (Chernock et al., 2011). Além disso, no Brasil, a distribuição geográfica da população pode influenciar essa análise, uma vez que as regiões Sul e Sudeste concentram a maior proporção de indivíduos brancos (78% e 55% da população, respectivamente) e, simultaneamente, registram as taxas mais elevadas de mortalidade por câncer de orofaringe. Em contrapartida, nas regiões Norte e Nordeste, onde a população parda é predominante (67% e 59%, respectivamente), os índices de mortalidade são menores (Perea et al., 2020). Dessa forma, a relação entre raça/cor e mortalidade pode estar associada não apenas a fatores biológicos e etiológicos, mas também às características regionais e às desigualdades no acesso aos serviços de saúde.
Ademais, é evidenciado uma variação significativa na distribuição etária da doença. Observa-se um aumento progressivo na taxa de mortalidade a partir dos 40 anos, atingindo seu pico entre 60 e 69 anos, seguido de uma redução em idades mais avançadas. Esse padrão pode estar associado à exposição cumulativa a fatores de risco, como tabagismo, consumo de álcool e infecção pelo papilomavírus humano (HPV), amplamente reconhecidos como principais agentes etiológicos da neoplasia. Além disso, a maior susceptibilidade do organismo a mutações genéticas e a redução da eficácia dos processos de reparação celular ao longo dos anos contribuem diretamente para essa distribuição etária. Dados epidemiológicos indicam que, no período de 1983 a 2017, foram registrados no Brasil 142.634 óbitos por câncer de boca e orofaringe, com uma predominância masculina de 81%. As maiores taxas de mortalidade foram identificadas nas regiões Sul e Sudeste, enquanto nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, observou-se um aumento do risco de mortalidade em coortes masculinas mais recentes (Perea, Antunes & Peres, 2021). Apesar da menor incidência entre os jovens, a relevância do HPV como fator de risco para o câncer de orofaringe cresce, podendo impactar indivíduos com menor exposição a fatores de risco tradicionais.
4. Conclusão
O panorama epidemiológico da mortalidade por câncer de orofaringe no Brasil evidencia uma distribuição desigual, com altas taxas de incidência e mortalidade observadas, principalmente, em regiões com menor acesso a serviços especializados e programas de prevenção. O câncer de orofaringe, associado a fatores de risco como o tabagismo, o consumo excessivo de álcool e a infecção pelo HPV, continua a representar um desafio significativo para a saúde pública brasileira (Medeiros et al., 2022; Silva et al., 2020).
A análise dos dados de mortalidade revela que, apesar dos avanços no diagnóstico precoce e nas opções de tratamento, persistem lacunas no acesso ao cuidado adequado, especialmente em áreas remotas e menos favorecidas. A desigualdade no acesso à saúde, a falta de programas de rastreamento eficazes e a resistência cultural ao diagnóstico precoce contribuem para os altos índices de mortalidade (Oliveira et al., 2021).
É crucial, portanto, o fortalecimento das políticas de saúde pública que visem à ampliação do acesso a exames de rastreamento, como a detecção precoce do HPV, e a educação da população sobre os riscos associados aos fatores de comportamento (Almeida et al., 2019). Além disso, a implementação de estratégias mais eficazes de tratamento, incluindo a ampliação dos centros de referência em oncologia, pode contribuir significativamente para a redução da mortalidade e melhora do prognóstico dos pacientes.
Por fim, mais estudos longitudinais são necessários para aprofundar a compreensão dos determinantes sociais e regionais que influenciam a mortalidade por câncer de orofaringe no Brasil, permitindo a formulação de políticas públicas mais eficazes e equitativas para combater essa doença.
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¹Graduando em medicina. Instituição: Centro Universitário Aparício Carvalho (FIMCA). ORCID: https://orcid.org/0009-0008-4289-6649;
²Graduanda em medicina. Instituição: Faculdade Metropolitana de Rondônia (UNNESA). ORCID: https://orcid.org/0009-0001-1085-7943;
³Graduanda em medicina. Instituição: Centro Universitário São Lucas (UNISL). ORCID: https://orcid.org/0009-0008-4520-5583;
⁴Graduanda em medicina. Instituição: Fundação Universidade Federal de Rondônia. ORCID: https://orcid.org/0009-0002-5544-4824;
⁵Graduanda em medicina. Instituição: Centro Universitário São Lucas (UNISL). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6596-1916;
⁶Graduanda em medicina. Instituição: Faculdade Metropolitana de Rondônia (UNNESA). ORCID: https://orcid.org/0009-0005-9777-0611;
⁷Graduanda em medicina. Instituição: Centro Universitário São Lucas (UNISL). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9799-5603.