MORTALIDADE INFANTIL: PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE NASCIDOS COM MUITO BAIXO PESO NO ESTADO DO PARÁ

INFANT MORTALITY: EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF VERY LOW BIRTH WEIGHT BABIES IN THE STATE OF PARÁ

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7789517


Marilia Vitoria Santos de Souza1*
Tayna Ianka da Costa Oliveira1
Aurimery Gomes Chermont2
José Natanael Gama dos Santos1
Laélia Maia Barra Feio Brasil3
Gabriel Felipe Perdigão Barros Monteiro4


Resumo

A mortalidade infantil é um excelente indicador de saúde pública e reflete a qualidade assistencial e de vida da população abaixo de 1 ano de idade. Observou-se a epidemiologia da mortalidade infantil de nascidos com menos de 1500 gramas no estado do Pará, no ano de 2020. Estudo transversal, analítico, retrospectivo, com abordagem quantitativa, baseada em variáveis quantitativas (peso ao nascer, faixa etária, idade e escolaridade materna) e qualitativa (duração da gestação). Obteve-se os dados do departamento de informática do Sistema Único de Saúde do Brasil, não necessitando de submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa, pois se utilizou dados secundários oficiais de domínio público. Os resultados demonstraram que dos 1682 óbitos infantis, mais da metade (60,52%) eram crianças com baixo peso ao nascer e mais de um terço (38,40%) com muito baixo peso. Predominaram as mortes nas primeiras 24 horas de vida (36,84%) e na faixa de 1 a 6 dias de vida (33,28%). Obteve-se maior percentual de falecimentos em mães com 20 a 24 anos (23,07%), 15 a 19 anos (22,76%) e com escolaridade menor que 12 anos (67,5%). Mais de um terço (37,77%) dos casos ocorreram em nascidos com 22 a 27 semanas, com decréscimo com o aumento do tempo gestacional. Conclui-se que, a mortalidade infantil no Pará é uma problemática evidente, com o baixo peso ao nascer como principal fator de risco, especialmente quando associado à prematuridade e baixa escolaridade materna, sendo fundamental investir em estudos que avaliem a qualidade da assistência prestada à essa população.

Palavras-chave: Mortalidade infantil. Muito Baixo peso. Epidemiologia. Pará

Abstract 

Infant mortality is an excellent indicator of public health and reflects the quality of care and life of the population under one year of age. The epidemiology of infant mortality in babies weighing less than 1500 grams in the state of Pará in the year 2020 was observed. This was a cross-sectional, analytical, retrospective study with a quantitative approach based on quantitative variables (birth weight, age group, age, and maternal education) and qualitative variables (duration of gestation). Data was obtained from the computer department of Brazil’s Unified Health System, and as it used official secondary data from the public domain, it did not require submission to the Research Ethics Committee. The results showed that of the 1682 infant deaths, more than half (60.52%) were children with low birth weight and over a third (38.40%) with very low birth weight. Deaths were most common in the first 24 hours of life (36.84%) and in the 1 to 6 days of life range (33.28%). A higher percentage of deaths occurred in mothers aged 20 to 24 years (23.07%), 15 to 19 years (22.76%), and with less than 12 years of education (67.5%). Over a third (37.77%) of cases occurred in babies born at 22 to 27 weeks, decreasing with an increase in gestational age. It is concluded that infant mortality in Pará is a clear problem, with low birth weight being the main risk factor, especially when associated with prematurity and low maternal education. Therefore, it is crucial to invest in studies that evaluate the quality of care provided to this population. 

Keywords: Infant mortality. Very low weight. Epidemiology. Pará

Introdução

A mortalidade infantil é considerada um excelente indicador de saúde pública e reflete as condições de vida da parcela populacional abaixo de 1 ano de idade. Desse modo, é possível defini-la como a relação entre o número de óbitos em menores de um ano, para cada mil nascidos vivos em uma região específica e determina o risco de óbito no primeiro ano de vida. Taxas elevadas traduzem a precariedade da saúde, da qualidade de vida e desenvolvimento socioeconômico insatisfatório (DUARTE, 2007).

A partir da década de 1990, a mortalidade neonatal (0 a 27 dias de vida) tornou-se o componente mais relevante da mortalidade infantil, ao concentrar a maior parcela dos óbitos. O componente neonatal mantém relação íntima com as condições de atenção à saúde da mulher durante o período gestacional, bem como acesso a serviços de saúde voltados ao parto e nascimento (BRASIL, 2011). 

O cenário mundial evidencia um declínio da mortalidade neonatal de 37 óbitos a cada mil nascidos vivos no ano de 2000, para 18 óbitos por mil nascidos vivos em 2017 (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2018). No Brasil, houve decréscimo de 26 óbitos em 1990, para 16,7 a cada mil nascidos vivos em 2015. Essa redução é reflexo da inclusão de políticas públicas direcionadas para atenção à saúde materno infantil, tais como o Programa Nacional de Humanização do Parto e Nascimento e a Rede Cegonha, criados no ano de 2000 e 2011, respectivamente, cujo intuito era alcançar as metas estabelecidas nos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM) (LEAL et al., 2018). Os ODM visaram acabar com as mortes evitáveis em neonatos, a fim de reduzir a mortalidade neonatal para menos de 12 óbitos a cada 1000 nascidos vivos (CHERMONT, 2019).

O estado do Pará situa-se na região Norte do Brasil, sendo o segundo maior Estado do território brasileiro com 1.247.689,515 km² de extensão. Esta unidade da federação representa 16,66% da extensão territorial do Brasil, bem como 26% da Amazônia. A saúde pública paraense segue enfrentando dificuldades para melhorar o acesso a população e ainda registra altos índices de mortalidade infantil. Sabe-se que a atenção à saúde da mulher e da criança configuram-se como a base para mudança e redução da mortalidade por causas evitáveis. Nesse sentido, a Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (SESPA), elencou como prioridade para o ano de 2011 a 2014, o trabalho para reforçar a estruturação da Saúde materno infantil (SESPA, 2012).

Dentre os fatores de risco para mortalidade neonatal, o peso ao nascer constitui uma variável de extrema relevância. Sendo classificados em extremo baixo peso (< 1000 gramas), muito baixo peso (1000 a 1499 gramas), baixo peso (1500 a 2499 gramas) e peso normal (2500 a 2999 gramas), segundo o Ministério da Saúde (GAIVA; FUJIMORI; SATO, 2014).

A problemática evidenciada nesta pesquisa mostra a necessidade de conhecer a epidemiologia relacionada à mortalidade neonatal no estado do Pará, a fim de direcionar políticas públicas que reforcem as estratégias voltadas para este público, objetivando minimizar a morbimortalidade, tendo em vista que o número de óbitos, ainda, se mostra relevante, salientando as fragilidades do cenário brasileiro em relação a essa temática. 

Diante disso, o presente estudo objetivou fazer uma análise epidemiológica, a fim de identificar o perfil das mortes neonatais no estado do Pará.

Metodologia

Estudo transversal analítico retrospectivo, com abordagem quantitativa, que analisou a epidemiologia da mortalidade infantil em nascidos com menos de 1500 gramas no estado do Pará, no ano de 2020. De acordo com Freire e Patussi (2018) o estudo transversal analisa a prevalência de determinados fatores em uma amostra pré-estabelecida da população, sendo úteis para levantar a presença de associações entre fatores clínicos e o seu desfecho. Seguindo a abordagem quantitativa as informações serão traduzidas em números para que possam ser classificadas e organizadas (BRIZOLA; FANTIN, 2017). 

O local do estudo foi o estado do Pará, situado na região Norte do Brasil, limitado ao norte pelo Amapá e Suriname, a leste por Maranhão e Tocantins, ao sul pelo Mato Grosso, a nordeste pelo oceano Atlântico e a noroeste por Guiana e Roraima. Possui uma população estimada de 8.777.124 pessoas, sendo formado por 144 municípios (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2021).

A coleta de dados ocorreu de fontes secundárias, Sistema de Informação do Sistema Único de Saúde do Brasil – DATASUS, considerados dados de domínio público e não precisam ser submetidos ao Comitê de Ética em Pesquisa por apresentar risco mínimo e assegurar o anonimato. Foram incluídos na pesquisa casos notificados de nascimento de crianças no estado do Pará, com menos de 1500g e de ambos os sexos no período em estudo e foram excluídas crianças com peso ao nascer ignorado e dados incompletos. Para análise deste estudo, adotou – se variáveis quantitativas (peso ao nascer, faixa etária, idade e escolaridade materna) e  qualitativas (duração da gestação e tipo de gravidez). Os dados estatísticos foram organizados e tratados nos programas Word e Excel, as informações foram dispostas em tabelas e analisadas em números percentuais.

Os benefícios desta pesquisa visam contribuir para o conhecimento científico na região norte, especificamente no estado do Pará, fornecendo dados científicos para ampliar as medidas de prevenção e impactar na redução dos fatores de riscos que favoreçam o baixo peso e levem à mortalidade infantil.

Resultados

De acordo com os dados analisados em relação ao número de óbitos infantis, constatou-se que no ano de 2020, o estado do Pará apresentou um total de n=1.682 óbitos.

Observa-se que os intervalos de peso ao nascer com maior número de óbitos encontraram-se entre 3000 a 3999 gramas e 1500 a 2499 gramas, os quais representam 23,72% (n=399) e 22,12% (n=372) da mortalidade neonatal, respectivamente. Constata-se também, que 38,40% (n= 646) dos casos de óbito infantis ocorreram entre os recém nascidos menores de 1500 gramas (Tabela 1).

Tabela 1 – Óbitos infantis de acordo com o peso ao nascer, Pará, 2020.

Fonte: Recuperado do Ministério da Saúde – Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM

Em relação aos óbitos infantis por faixa etária, verifica-se um número bastante expressivo nas primeiras 24h de vida, com 36,84% (n=238), seguida pela faixa etária de 01 a 06 dias de vida, representando 33,28% (n=215) dos óbitos. Observa-se, ainda, que a maioria das mortes com menos de 24h de vida, ocorreram em neonatos nascidos com peso entre 500 a 999 gramas, correspondente à 57,98% (n=138), conforme a Tabela 2.

Tabela 2 – Óbitos infantis por peso ao nascer em relação à faixa etária, Pará, 2020

Fonte: Recuperado do Ministério da Saúde – Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM

No que tange a idade materna, nota-se que o maior percentual de óbitos infantis ocorreram entre as mulheres de faixas etárias de 20 a 24 anos, com 23,07% (n=149), seguido daquela de intervalos de idade entre 15 a 19 anos, que correspondem a 22,76% (n=147). Em contrapartida, as faixas etárias com menor contribuição no percentual de óbitos foram os extremos de idade, cujos valores mostraram 2,48% (n=16) para mulheres com idade entre 10 a 14 anos e 0,15% (n=01) para aquelas com 45 a 49 anos, de acordo com a Tabela 3.

Tabela 3 – Óbitos por peso ao nascer segundo idade materna, Pará, 2020.

Fonte: Recuperado do Ministério da Saúde – Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM

Ao analisar as mortes de nascidos com menos de 1500g, de acordo com o grau de instrução materna, nota-se que 39,62% (n=256) dos casos ocorreram em mães com 08 a 11 anos de estudo, enquanto 18,74% (n=121) possuem apenas 04 a 07 anos de escolaridade. Ademais, 8,68% (n=56) das mulheres dispõem de um nível mínimo de escolaridade de até 03 anos ou nenhuma. Observa-se um percentual expressivo de mães com grau de escolaridade menor que 12 anos, correspondente a 67,5% dos casos. Ressalta-se, ainda, o alto percentual de 17,95% (n=116) de informações tidas como ignoradas, evidenciando as falhas de notificação, segundo a Tabela 4. 

Tabela 4 – Óbitos por peso ao nascer de acordo com a escolaridade materna, Pará, 2020.

Fonte: Recuperado do Ministério da Saúde – Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM.

Ao correlacionar a duração da gestação e mortalidade neonatal, percebe-se que 37,77% (n=244) dos óbitos ocorreram entre 22 a 27 semanas de gestação. Por outro lado, observa-se decréscimo da mortalidade à medida que aumentava o tempo de gestação. Nesse sentido, gestações de 37 a 41 semanas somaram um percentual de 0,46% (n=03) de óbitos, como mostra a Tabela 5. 

Tabela 5 – Óbitos por peso ao nascer segundo a duração da gestação, Pará, 2020.

Fonte: Recuperado do Ministério da Saúde – Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM

Discussão 

A mortalidade infantil é considerada um importante indicador de saúde e qualidade de vida de uma população, com níveis elevados relacionados ao baixo nível de desenvolvimento socioeconômico. No Brasil, observa-se a queda do número de mortes infantis, sendo essa atribuída ao aprimoramento da atenção primária à saúde e a melhorias socioeconômicas. Apesar dessa redução, as regiões Norte e Nordeste são as mais afetadas por essa problemática, refletindo desigualdades inter-regionais (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2021). O presente estudo dedicou-se a avaliar as variáveis de risco associadas à mortalidade infantil no estado do Pará, especialmente em crianças com muito baixo peso e extremo baixo peso ao nascer.

Dentro do cenário deste estudo, percebe-se que houve um total de 1682 óbitos infantis em 2020 no estado do Pará, dos quais mais da metade (60,52%) se deram em crianças com baixo peso ao nascer (<2500 gramas) e mais de um terço (38,40%) representam aquelas com muito baixo peso ao nascer (< 1500 gramas). De acordo com dados do ano de 2020 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o estado do Pará possui a quinta taxa de mortalidade mais alta do Brasil, com 14,86 óbitos por mil nascidos vivos, acima da média nacional de 13,3 óbitos por mil nascidos vivos, do ano de 2019. Outrossim, para Tadielo et al., (2013), o baixo peso ao nascer está associado a níveis elevados de morbimortalidade, com prejuízos para o desenvolvimento dos recém nascidos. 

Em consonância, em outro estudo realizado no Maranhão, o baixo peso ao nascer, como característica do recém-nascido, foi um dos principais fatores de risco para o óbito neonatal, com a morte de quase metade (41,6%) dos neonatos com muito baixo peso ao nascer e associação significativa entre o falecimento neonatal e o extremo baixo peso (SANTOS et al., 2021), semelhante ao encontrado em estudo no Mato Grosso (GAÍVA et al., 2018). Ademais, em pesquisa com recém nascidos de muito baixo peso do Rio de Janeiro, cerca de 28,5% morreram antes de completar um ano, com mortalidade maior no grupo de menor peso de 500 a 749 gramas (71,6%) e diminuição expressiva da mortalidade proporcionalmente ao aumento do peso (CARDOSO et al., 2013). Dessa maneira, considera-se em geral o baixo peso ao nascer como o principal preditor isolado de mortalidade infantil e neonatal (SILVA et al., 2014; PONTES et al., 2020).

No estudo atual, foram observadas as faixas etárias com predomínio de mortes de crianças nascidas com menos de 1500 gramas, tendo nas primeiras 24 horas de vida uma quantidade expressiva de óbitos (36,84%), seguidas pela faixa etária de 1 a 6 dias de vida (33,28%), o que demonstra a importância da agilidade e qualidade no atendimento desses indivíduos. Evidencia-se, ainda, a predominância de óbitos, nas primeiras 24 horas de vida, em nascidos com 500 a 999 gramas (57,98%), enaltecendo a relação entre mortalidade neonatal e extremo baixo peso ao nascer.

Tais resultados, foram semelhantes aos de uma pesquisa em São Paulo, na qual 86% das mortes neonatais nas primeiras 12 horas de vida foram de nascidos com extremo baixo peso, que apresentaram risco de morte neonatal e a probabilidade de essa acontecer em 24 horas, cerca de cinco vezes superior em relação aos com muito baixo peso ao nascer; além de mortalidade persistentemente elevada até o quarto dia de vida. Por outro lado, os recém nascidos de muito baixo peso também apresentaram maioria dos óbitos nos primeiros dias de vida (ALMEIDA et al., 2011). Ademais, em outra análise na região do Nordeste, o extremo baixo peso ao nascer aumentou três vezes o risco de morte em 24 horas, em comparação com o muito baixo peso ao nascer (CASTRO; LEITE; GUINSBURG, 2015). Dessa forma, observa-se a íntima relação entre o extremo baixo peso ao nascer e a elevada mortalidade neonatal no primeiro dia de vida (GAÍVA et al., 2018).

Ademais, a fim de buscar a correlação entre fatores maternos e óbitos de nascidos com menos de 1500 gramas, observou-se que a idade e o grau de escolaridade materna são variáveis essenciais. Em relação à idade materna, o maior percentual de mortes se deu em mães com 20 a 24 anos (23,07%), seguido daquelas com 15 a 19 anos (22,76%). Em contrapartida, não foi encontrada relação com os extremos de idade materna, sendo as faixas etárias de menor contribuição percentual de óbitos, com 2,48% em mulheres com idade entre 10 a 14 anos e 0,15% para aquelas com 45 a 49 anos. 

Esses resultados, foram semelhantes aos de outros estudos no país, pois apesar da importância dos extremos de idade materna, o maior número de óbitos de nascidos com menos de 1500 gramas, ocorreu entre os naqueles de mães com idade entre 20-34 anos (SANDERS et al., 2017; GAÍVA et., al 2018). Para Borba et al. (2014) e Ribeiro et al. (2014), a idade materna representa um fator de risco para a morbimortalidade neonatal e para ambos a mortalidade infantil entre mães adolescentes foi superior comparada às com idade reprodutiva avançada. Esses estudos foram discordantes ao atual, no entanto, nota-se que consideram diferente faixa etária materna de adolescentes e não associam tal variável com o peso ao nascer, o que pode ter contribuído para tais discrepâncias. Em outro estudo realizado no estado do Pará, também não se encontrou associação significantes entre as faixas etárias maternas e a mortalidade neonatal precoce (PONTES et al., 2020).

Outrossim, no que concerne ao grau de instrução materna, notou-se que 39,62% dos casos ocorreram em mães com oito a onze anos de estudo, enquanto 8,68% das mulheres apresentavam um nível mínimo de escolaridade de até três anos ou nenhuma. Contudo, observou-se um percentual expressivo de mães com grau de escolaridade menor que 12 anos, correspondente a 67,5% dos casos. Para Soares e Menezes (2010), há intensa associação entre a mortalidade neonatal precoce e baixo grau de escolaridade materna, ao detectarem apenas 10,62% de óbitos neonatais em mães com 12 anos ou mais de estudo. Sendo assim, a presença isolada desse fator já deve indicar atenção especializada nos serviços de saúde. Em consonância, em pesquisa nacional, Nascer no Brasil (2014), destacou-se a taxa de mortalidade quatro vezes maior para mães com baixa escolaridade. Divergindo do estudo atual, em um hospital público do Rio de Janeiro, foi observado que recém-nascidos de mães com menos de quatro anos de estudo tiveram risco 2,5 vezes maior de morte, em comparação aos de mães com mais de oito anos de estudo (CARDOSO et al., 2013), diferença que pode ser justificada pelo perfil socioeconômico provável das genitoras atendidas neste hospital, o que pode ter favorecido a obtenção de tal dado estatístico. 

Por fim, no estudo atual, ao se correlacionar a duração da gestação e a ocorrência de óbitos infantis de nascidos com menos de 1500 gramas, observou-se mais de um terço (37,77%) dos óbitos naqueles com 22 a 27 semanas de gestação, com decréscimo da mortalidade na medida em que há o aumento do tempo gestacional. Nesse sentido, as gravidezes que duraram 37 a 41 semanas somaram um percentual mínimo de 0,46% de óbitos, inferindo a relação importante entre a mortalidade infantil nesse grupo e a idade gestacional, essencial para formação fetal e consequentemente para a sobrevivência neonatal.

Em concordância, em pesquisa realizada no Maranhão, 76,5% dos neonatos de muito baixo peso e nascidos com menos de 28 semanas, morreram em até 28 dias de vida, contra 36,2% de óbitos entre os nascidos com mais de 28 semanas. Demonstrando assim, uma associação significativa entre a idade gestacional e a mortalidade neonatal nesse público (SANTOS et al., 2021). Essa correlação em nascidos com menos de 1500 gramas, também foi encontrada em estudo de São Paulo, no qual a probabilidade de morte de prematuros extremos foi elevada antes de 24 horas de vida, com 40% de óbitos, e mais de 50% até o quarto dia de vida. Tendo assim, um risco de óbito quatro vezes superior ao observado em nascidos com 28 semanas ou mais (ALMEIDA et al., 2011). Ademais, para Gaiva et al. (2014) e Borba et al. (2014), a prematuridade atrelada ao baixo peso e muito baixo peso ao nascer é um importante fator de risco para a mortalidade neonatal, devido a vulnerabilidade desse grupo de crianças. 

Considerações Finais 

A mortalidade infantil no estado do Pará ainda expõe um cenário preocupante e o baixo peso ao nascer segue como o principal fator de risco para o óbito neonatal. Os dados coletados revelam que há um número expressivo de óbitos em crianças com baixo peso ao nascer, fundamentalmente nas primeiras 24 horas de vida, na faixa etária materna entre 20 a 24 anos, nascidos entre 22 a 27 semanas de idade gestacional.

Nesse contexto, percebe-se que esses números se relacionam com a qualidade dos serviços ofertados para este público e que, portanto, uma parcela desses óbitos poderia ser evitada através de um maior investimento em políticas públicas voltadas para atenção à saúde materno-infantil, a fim de promover melhor qualidade de atendimento pré-natal, condições de assistência ao parto e ao recém-nascido. Dito isso, é fundamental investir em estudos que avaliem a qualidade da assistência voltada para esta população, visando monitorar e reduzir a taxa de mortalidade infantil no estado do Pará.

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1Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Pará – UFPA. Rua Augusto Corrêa, 01 – Guamá, Belém – PA. *E-mail: mariliasouza5899@gmail.com. Belém-PA

2Doutora em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. Mestre em Pediatria e Ciências Aplicadas à Pediatria pela UNIFESP. Universidade Federal do Pará. Belém-Pará.

3Doutora em doenças Tropicais pelo Núcleo de Medicina Tropical da UFPA. Mestre em Ciências Aplicadas à Pediatria pela UNIFESP. Universidade Federal do Pará. Belém-PA

4Graduado em Medicina pela UFPA. Residente em Pediatria pelo Serviço de Residência Médica pelo Centro Universitário do Pará – CESUPA. Belém-PA.