Capítulo do livro Terapêutica em Dermato Funcional
Autora: Vilma Natividade Silva Santos
Definição:
A microcorrente, também chamada de MENS (Microcurrent Electrical Neuromuscular Stimulation), é um tipo de eletroestimulação que utiliza correntes com parâmetros de intensidade na faixa de microamperes, sendo de baixa freqüência, podendo apresentar correntes contínuas ou alternadas (Robinson e Snyder-Mackler, 2001; Kirsch e Mercola, 1995; Kirsch e Lerner, 1987; Wing, 1989).
O modo normal de aplicação dos aparelhos de microcorrentes ocorre em níveis onde não se consegue ativar as fibras nervosas sensoriais subcutâneas. Como resultado, os pacientes não têm nenhuma percepção da sensação de formigamento tão comumente associada com procedimentos eletroterapêuticos, sendo assim não causa ao paciente nenhum desconforto (Robinson e Snyder-Mackler, 2001; Alcaide, 1998).
Ao contrário das outras modalidades eletroterapêuticas, a característica que destingue a microcorrentes é que esta, não visa excitar nervos periféricos (Alon, 1985).
Segundo Kirsch e Mercola (1995), a duração de pulso das microcorrentes é maior que outros tipos de eletroestimulação, como por exemplo o TENS. Um pulso de microcorrente é de aproximadamente de 0,5 segundo, que cerca de 2500 vezes maior que um pulso típico de TENS.
As chamadas MENS, são a classe mais recente de se tornar comercialmente disponível, de tal classe produz corrente contínua ou pulsada com amplitudes máximas de 1.000 μA. Os resultados desse tipo de estimulação são animadores no controle da dor, na cicatrização de feridas e no controle de edemas (Guirro e Guirro, 2002).
Segundo Pereira (1999), é uma corrente contínua de baixa intensidade, ou seja, um milionésimo de ampéres correspondem a um microampére, com três formas de pulsos com freqüência de 0,5 a 600 Hz e potências de 0 a 300 μA, este método de tratamento pode ser aplicada no pré e pós-operatório, resulta em uma aceleração cicatricial após qualquer cirurgia.
As correntes elétricas têm sido utilizadas desde os primórdios da medicina, o primeiro relato sobre o uso de corrente elétrica como terapia são descritos em Roma e Grécia para tratamento das cefaléias, nevralgias e outros processos dolorosos, onde utilizavam descargas elétricas através de um tanque de água com enguias. WilliamGuilbert foi quem descreveu as primeiras obras da eletroterapia, sendo que a mesma veio se desenvolvendo paralelamente à física e a química (Willian Guilbert).
A eletricidade foi usada de 300 anos atrás, inicialmente para tratar de feridas superficiais, onde usavam folhas douradas carregadas de eletricidade para prevenir cicatrizes da varíola (Robinson, 1925).
Na década de 1960, estudos experimentais em coelhos demonstraram que a intervenção elétrica resulta na aceleração das feridas da pele, com formação de cicatriz mais forte, aplicaram corrente de 200 a 300 microamperes por 5 dias, foram feitas incisões de quatro centímetros de comprimento paralela uma a outra. A primeira ferida foi tratada com catodo de um eletrodo de aço inoxidável, e a segunda ferida foi tratada com ânodo, nenhuma cura da ferida foi comprovada, o que se observou no ânodo foi necrose tecidual e no cátodo inflamação, isso se deu devido à produção de uma densidade alta devido ao uso de eletrodo de aço, a densidade produzida com este método foi de 320 a 475 μA/cm2.
Assimacopoulus (1968), aplicou corrente elétrica negativa de 75 μA a 100 μA em coelhos, onde observou a produção do tecido conjuntivo acelerando ma cicatrização tissular, a partir deste estudo, com o uso de corrente contínua negativa de baixa intensidade publicou três casos clínicos experimentais em pacientes apresentando úlceras crônicas localizadas no pé onde obteve como resultado, um denso tecido conectivo rico em fibras colágenas hialinizadas, essas cicatrizes levaram de 30 a 42 dias para atingir a reparação total, sendo que as mesmas não apresentavam glândulas sudoríparas, glândulas sebáceas e folículo piloso.
A estimulação elétrica também tende a aumentar o crescimento da quantidade de receptores consecutivamente aumentando a quantidade de formação de colágeno (Falanga, 1968).
Eaglstein e Mertz (1978), mostraram que feridas úmidas são capazes de cicatrizar mais rápido que as feridas expostas ao ar.
Conforme pesquisa de Cheng (1982), em seu estudo feito em pele seca de ratos, observaram a resistência elétrica na pele dos mesmos, esta resistência elétrica foi estabelecida pela técnca de medida de 4 pontos. De início seu valor era considerado alto e depois, diminui linearmente com aplicação de correntes acima de 50 microampéres, onde se verificou que com correntes de baixa intensidade, a mesma se nivela até o ponto que ocorre a distribuição no tecido.
Comprovou que efeitos das correntes elétricas de baixa intensidade, aumentando a geração de ATP na ordem de 500% aceleração do transporte através da membrana celular e intracelular, aumentando a síntese protéica como colágeno, melhorando a oxigenação e aumentando o número de trocas iônicas, isto foi comprovado através de mudança em tecido vivo, onde ocorreu um potencial gerado por estresse chamado de pieroeletricidade, que foi provocado por aquecimento de biopolímeros (piroeletricidade).
Em 1982, Cheng et al., constataram que correntes mais intensas acima de 1000μA, inibem a síntese de proteínas, e que as correntes elétricas com intensidade entre 50μA a 1000μA, aumentavam a concentração de ATP e estimulavam a incorporação de aminoácidos dentro da célula, e mantinha retido o ácido aminoisobutírico quando estimulado com corrente entre 100μA a 750μA. A geração de ATP e o transporte de aminiácidos realizados por diferentes mecanismos, contribuem para o aumento da atividade da síntese protéica.
Alvarez et al. (1983), estudaram os efeitos das correntes de baixa intensidade através de feridas dérmicas induzidas cirurgicamente em pele de porcos, utilizaram uma corrente com intensidade de 200μA, duas vezes por semana, durante cinco semanas, e, constataram o aumento da taxa de colágeno, comprovado na análise histológica qualitativa.
Jafre e Vanable (1984) provaram que a bateria cutânea dos mamíferos é bastante poderosa (pelo menos em seres humanos e em cobaias) e pode manter voltagens de potenciais transcutâneos de até 80mV (positivas internamente) tendo uma capacidade de impulsão da corrente da ordem de 1μA/mm de comprimento da ferida.
Carley e Wainapel (1985) em estudo com 30 pacientes hospitalizados com úlceras, escolhidos aleatoriamente, para o tratamento medicamentoso e com estimulação elétrica de baixa intensidade com o uso de corrente contínua de 200μA, com polaridade alternada de corrente elétrica, onde a finalidade era a reparação tissular. Esses pacientes foram separados conforme idade, diagnóstico, etiologia e tamanho da ferida, em todos os estudos foram usadas correntes elétricas no mesmo período, com aplicação de duas horas, duas vezes ao dia até o fechamento, com colocação anodal sobre as feridas. A intensidade produz taxas de cicatrização 1,5 a 2,5 vezes mais rápidas do que aos pacientes do grupo controle.
Becker (1985), demonstrou que uma corrente elétrica é o gatilho que estimula a cura, regeneração e crescimento em todo organismo vivo, através da eletricidade endógena, constatando que a regeneração acontece através do controle elétrico, sugerindo que este sistema fica ineficiente ao envelhecermos.
Brown e Godia (1987) pesquisaram o efeito da corrente de baixa amperagem na cicatrização de feridas em coelhos. Aplicou-se corrente de baixa amperagem em 80μA, durante duas horas por dia, em grupos diferentes. No grupo controle foi aplicado o catodo sobre a ferida, e os animais cicatrizaram após sete dias. Já no grupo experimental foi aplicado o anodo sobre a ferida. Como resultado, ocorreu o fechamento da ferida mais acelerado: entre os quatro primeiros dias (Santos, 2002).
Dunn et al (1988), observaram o efeito da corrente elétrica na matriz de colágeno com a colocação do eletrodo no centro das feridas dérmicas, feito em um porquinho-da-índia, foi aplicado uma corrente de 50μA o cátodo sobre a ferida, obtiveram como resultado aumento da migração de fibroblastos e o alinhamento de colágeno, já com o ânodo colocado sobre a ferida, observaram a migração de células inflamatórias.
Wing (1989), descreve que mensurações realizadas em cotos da amputação da ponta do dedo de uma criança, com corrente elétrica de baixa intensidade de 10μA a 30 μA, a voltagem normal conferida no corpo pode ser de 10μA, mas se ocorre fratura, essa voltagem diminui a zero. Cinco dias depois essa voltagem está ligeiramente apontando para o normal, após 15 dias essa voltagem já é normal, ou seja, 10μA
Segundo Dayton e Palladino (1989), o uso de microcorrente elétrica é um suplemento efetivo e seguro para tratar casos não cirúrgicos de úlcera recalcitrante, os autores acreditam na necessidade de efetuarem pesquisas mais sérias para que possa quantificar os efeitos da eletroestimulação. Em algumas revistas indexadas e periódicas temos publicações de artigos que nos permitem total segurança a respeito da técnica provando seus efeitos fisiológicos e terapêuticos da MENS.
Conforme Wing (1989), menciona que independente da freqüência, a duração de pulso da microcorrente é sempre igual ao intervalo entre os pulsos.
Segundo Craft (1998), afirmou que a microcorrente trabalha com menor quantidade de corrente elétrica mensurável, e que essa quantidade de corrente elétrica é compatível com campo eletromagnético do corpo.
Weiss et al. (1990), afirmou que os tecidos vivos possuem eletropotenciais de corrente direta que aparentemente regulam, pelo menos em parte, o processo de cicatrização/reparo.
Segundo Charman (1990), a hipótese relativa aos vários aspectos da bioeletricidade é que as células recebem, codificam e agem sob sinais elétricos, acústicos e magnéticos. Esta bioeletricidade é a base em que apóiam as várias teorias do sinal magnético entre as células.
Alcaide (2001), pode comprovar através de estudos realizados com 16 pacientes com idade variando entre 18 e 37 anos, com diagnóstico de ruptura parcial de reto femural. Esses pacientes foram divididos em dois grupos após avaliação, grupo I, composto por 8 pacientes submetidos a um tratamento placebo; grupo II, composto por 8 pacientes, estes receberam tratamento de microcorrentes elétricas. Para este estudo foi utilizada uma intensidade de 180μA, com 30 de aplicação. O estudo comprovou a eficiência da terapia por microcorrente elétrica na diminuição do quadro doloroso, associando sua eficácia como catalisador do processo cicatricial fisiológico.
Segundo Kahn (2001), os efeitos polares favorecem a liberação de oxigênio no ânodo, o que aparentemente favorece a analgesia.
Como resposta à utilização das MENS e em conseqüência do restabelecimento da bioeletricidade tecidual, o SNC transmite uma mensagem de diminuição do quadro álgico, diminuição esta que é gradativa e acumulativa (Alcaide, 1998).
O conhecimento da bioeletricidade é fundamental compreensão de diversos fenômenos que envolvem a eletroterapia. Sabe-se que existe um sistema de comunicação celular denominado “sinalização”. Um sinal é uma informação codificada que pode ser liberada do sinal se não existir um meio de reconhecer o formato e a leitura do código (Guirro e Guirro, 2002).
Efeitos fisiológicos
Os aparelhos de microcorrentes são projetados especificamente para imitar os sinais bioelétricos do corpo humano, gerando uma corrente elétrica para compensar a bioeletricidade que está diminuída no tecido ferido. Isso aumentará a capacidade do corpo em transportar nutrientes para as células da área afetada (Becker, 1995; Craft, 1998; Becker, 1985; Cheng et al., 1982; Kirsch e Lerner, 1990; Wing, 1989).
Segundo Taubes (1986), todo corpo é um gerador de corrente elétrica de baixo nível, onde o pólo positivo está ao longo da medula espinhal e o pólo negativo é a periferia. A possibilidade mais óbvia sobre como essas correntes são conduzidas pelo corpo e incluindo o sistema nervoso e toda sua estrutura de apoio. O sistema nervoso não é constituído apenas pelos neurônios, existe uma imensa rede de células que soma-se a este sistema. Incluímos neste somatório as células da glia no SNC e as células de Schwann nor nervos periféricos.
Becker (1985), estudou as células neuronais e as células da glia e, concluiu que estas últimas são condutoras elétricas que não transmitem sinais discretos para os neurônios, mas tem a capacidade de conduzir estimulação elétrica exógena de baixa freqüência. Essas correntes tem um efeito profundo, diretamente proporcional ao campo eletromagnético que geram, e através deste campo estimulam os neurônios e também células adjacentes.
Taubes (1986), relata ainda que outro possível condutor de eletricidade é o sistema circulatório, especialmente os vasos capilares. A corrente é aumentada sempre que ocorre algum dano no sistema circulatório. Isto acontece quando em resposta a um trauma, normalmente as paredes tornam menos permeáveis aos íons. Com isso o organismo aumenta o fluxo elétrico no ponto do reparo.
A corrente elétrica produzida pela MENS atuar dentro da fibra venosa, sendo conduzida através das células de Schwann, que são células satélites no gânglio de raiz dorsal e células da glia no sistema nervoso central. Este sistema opera de um modo semelhante a um semicondutor, no qual, pequenas quantias de corrente elétrica são transmitidas em ambas polaridades. Em um tecido vivo, quando ocorre um estímulo como um trauma, amputação, anestesia ou aplicação de microcorrente, os potenciais de superfície mudam, dentro de dois segundos após o estímulo inicial. Esta atividade sugere que existe um semicondutor biológico responsável pela transmissão de dados à respeito dos danos ocorridos para o cérebro, e, registra o dano como uma mudança no potencial de superfície (Becker, 1995).
A correta aplicação da MENS em um local lesionado, pode aumentar o fluxo de corrente endógena. Isso permite a área traumatizada recuperar a sua capacitância. A resistência deste tecido lesionado é reduzida, permitindo a bioeletricidade entrar para a área restabelecendo a homeostasia. Portanto, a terapia das microcorrentes elétricas pode ser vista como um catalisador útil na iniciação e perpetuação das numerosas ações elétricas e químicas que ocorrem no processo de cura (Watson, 1988; Kirsch e Lerner, 1997; Kirsch e Mercola, 1995).
A MENS aumenta a formação de gradiente de prótons formando uma carga positiva no exterior da membrana mitocondrial. Esse gradiente forma uma força próton motriz que leva a síntese de ATP. Isso ocorre porque a membrana interna é impermeável aos prótons, estes só podem retornar ao interior da mitocôndria e desfazer o gradiente através de sítios específicos localizados na membrana interna, esses sítios são constituídos pelo complexo ATPase, e é esse complexo que une o ADP com ATP. Então, podemos dizer que o processo da síntese de ATP está intimamente ligado a um processo elétrico fisiológico. Esse processo é acelerado pela ação da microcorrente que aumenta a formação de gradiente de prótons fornecendo à membrana externa íons positivos, e íons negativos para a membrana interna, aumentando a diferença elétrica entre as duas membranas e assim gerando uma maior força próton motriz, força essa que leva a formação de ATP (Cheng et al, 1982; Marzoco, 1990; Kirsch e Mercola, 1995).
Toda energia acumulada será armazenada na mitocôndria que são também denominadas de “poços de energia” celular, e é definida como uma organela intracelular composta de várias membranas, sendo responsável por todas as reações do metabolismo aeróbico que utiliza esta forma de combustível. Dentro desta estrutura celular, existe uma combinação de várias enzimas especiais que transportam os íons de hidrogênio liberados pela degradação metabólica da glicose e gordura. Estes íons fluem através da membrana celular dando origem ao Trifosfato de Adenosina (ATP), principal fonte de energia química.
Esta formação de ATP ativada por estimulação elétrica ocorre quando os elétrons reagem com as moléculas de água pelo lado catódio para produzir íons hidróxilos, enquanto que no lado anódico são formados prótons. Os prótons sobre a influência do campo elétrico e diferença de concentração devem mover ânodo para o cátodo. Essa migração através das membranas, pode igualmente ser estimulada pela corrente induzida de prótons, ativando um processo de feedback (Cheng et al., 1982).
Quando um músculo ou tecido experimenta um trauma, a passagem da corrente bioelétrica fica estagnada resultando assim em uma impedância elétrica (Anderson, 1982).
Esta impedância elétrica causa uma redução de sangue, oxigênio e nutrientes para o tecido, conduzindo a espasmos do tecido. A circulação diminuída causa um acúmulo de tecidos metabólicos, levando a uma hipóxia local, isquemia e substâncias nocivas que irão gerar dor, quando isso ocorre a produção de ATP está reduzida. Os impulsos elétricos do corpo irão necessitar de uma corrente eficaz o suficiente para superar a barreira de impedância inerente a um tecido traumatizado. Isto resulta em um obstáculo do corpo para começar um processo curativo até que o tecido se recupere substancialmente do trauma (Becker, 1985; Kirsch e Lerner, 1990).
As moléculas de praticamente todo o aminoácido são demasiadamente grandes, para sofrer difusão através dos poros das membranas celulares. Então, o único meio de transporte significativo desta substância para o interior da célula é o transporte ativo (Guyton, 1996).
Segundo Cheng et al. (1982), em sua pesquisa verificou que o mecanismo de transporte ativo depende diretamente da energia liberada pelas moléculas de ATP, e o aumento de ATP disponível para a célula aumenta o transporte de aminoácidos e conseqüentemente aumenta a síntese de proteínas, isso se deu com intensidade variando entre 100μA e 500μA .
A MENS aumenta a mobilização de proteínas para o sistema linfático, pois quando são aplicadas em tecidos traumatizados, as proteínas carregadas são postas em movimento, e sua migração para o interior dos tubos linfáticos torna-se acelerada. A pressão osmótica dos canais linfáticos é aumentada, absorvendo o fluído do espaço intersticial (Kirsch e Mercola, 1995).
De maneira não invasiva, a MENS é utilizada com o objetivo de ajudar o reabastecimento de ATP, e superar a barreira de impedância. Restabelecendo homeostase, permitindo o transporte de nutrientes até as células feridas retirando os resíduos metabólicos (Becker, 1995; Cheng et al., 1982; Craft, 1998; Kirsch e Lerner, 1987; Wing, 1989).
Segundo Becker (1995), torna-se impossível o restabelecimento da bioeletricidade efetue a cura do tecido traumatizado.
A produção aumentada de ATP, provê a energia que os tecidos exigem para construir novas proteínas, com isso, o aumento do transporte de íons. Estes processos são essenciais para o desenvolvimento de tecidos saudáveis (kirsch e Lerner, 1987).
A cicatrização da ferida também é impedida pela infecção. A estimulação elétrica usando a condução de um gerador de corrente contínua foi considerada em cultura ou in vivo como sendo bacteriostática retardando o crescimento dos microorganismos gran-positivo e gran-negativos (Rowlei, 1972; Rowlei et al., 1974).
Alguns autores relatam que feridas contaminadas com Pseudomonas aparecem estéreis após vários dias de eletroestimulação (Kaada et al., 1991; Barron e Jacobson, 1985; Lundeberg et al., 1992; Alvarez et al., 1983).
A excitação elétrica de uma ferida aumenta a concentração de receptores de fator de crescimento na formação de colágeno (Kirsch e Lerner, 1987; Robinson e Snayder-Mackler, 2001).
O colágeno, é a proteína mais comum no reino animal, comporta-se como um semicondutor, sendo um material que oferece baixa resistência para pequenas correntes, enquanto permite a pronta transmissão delas. Inversamente, um semicondutor opõe transmissão a grandes correntes com resistência muito alta. Semicondutores normalmente são cristais, e o colágeno em muitas estruturas tem propriedades cristalinas. O colágeno gerará potenciais elétricos pequenos do mesmo jeito que ocorre no osso (efeito piesoelétrico). Como um meio semicondutor, o colágeno poderia ser a rede que leva correntes pequenas por toda parte do corpo.
A MENS parece aumentar a multiplicação de células em tecido conjuntivo e aumentam a velocidade de formação de colágeno novo em feridas (Morgareidge e Chipman, 1990; Robinson e Sayder-Mackler, 2000).
Este aumento da produção da ATP induz a uma verdadeira revitalização tecidual, pois, acrescenta fonte extra de energia, disponível para os processos metabólicos celulares, e nisso se baseia o crescente interesse por esse método na luta contra o envelhecimento cronológico e fotoinduzido das células (Cruz).
Santos (2002), demonstra em modelos experimentais a aplicação das microcorrentes no pós peeling de ATA ( ácido tricloroacético) tendo como resultado um período menor da restauração do tecido e um tecido de melhor qualidade.
Aplicações clínicas
Segundo Kirsch e Lerner (1987), freqüências de 80 ou 100 Hz, às vezes produzem resultados mais rápidos ao tratar problemas articulares inflamatórios, por exemplo, artrites, bursites, tendinites, etc., porém, estas freqüências não contribuem para resultados a longo prazo, assim o tratamento deve sempre ser completado usando uma baixa freqüência. Deve-se fixar o nível de intensidade à posição confortável mais alta, que normalmente é cerca de 500 a 600μA para eletrodos tipo sonda, embora às vezes menos intensidade para os eletrodos de prata. Eletrodos de borracha e de silicone tem sua resistência de cerca de 200 ohms. Os eletrodos de prata trabalham mais efetivamente com MENS.
Um dos maiores benefícios obtidos com a MENS está no controle de dor (Kirsch e Lerner, 1987).
A redução inflamatória do edema, o aumento da circulação sanguínea trazendo substância de defesa para o local e o relaxamento de músculos apressam a cura. A microcorrente é excepcionalmente útil em danos de tecidos moles, como feridas, traumas, pós-cirúrgicos, e, particularmente nos tratamentos de dor residual em longo prazo devido a cicatrizes pós-cirúrgicas (Becker, 1985; Kirsch e Lerner, 1990).
Pacientes com tumor a nível cerebral e cervical, cursando com grandes quadros de cefaléia, foram tratados com grande sucesso com microcorrente, até que resistissem à morfina (Bauer, 1983; Windsor et al, 1993).
Dentistas usam este tipo de terapia como substituto para anestesia local e controle da dor, associada aos tratamentos ortodônticos (Kirsch e Lerner, 1990); Vodovnik et al, 1992).
O efeito da eletroestimulação é base que sustenta os tratamentos de eletrolifting que como seu nome já diz, estão indicados a produzir um “levantamento” das estruturas cutâneas em processo de envelhecimento, é usado para combater os sinais de cansaço e estresse sobre a pele. Neste tipo de eletrocoagulação utiliza-se uma agulha fina que é introduzida até a epiderme sendo então ligada ao cátodo da microcorrente de corrente contínua (Soriano et al., 2000).
Guirro e Guirro (2002), relatam que os fibroblastos, células derivadas do mesênquima possuem uma capacidade de replicação baixa nas afecções de estrias, mas que esta replicação pode ser modificada em respostas a estímulos controlados, por meio da introdução de agulhas com microcorrentes. Os fibroblastos retém a capacidade de se dividirem; assim como o tecido epitelial, o tecido conjuntivo é capaz de se regenerar. Na estria esta célula está quiescente, sendo que o estímulo elétrico de baixa intensidade mostrou-se eficiente para aumentar a sua replicação, bem como das fibras e substâncias produzidas pela mesma. Na neovascularização, os efeitos da inflamação aguda e da corrente contínua se somam, promovendo um edema brando com uma hiperemia bastante pronunciada. A regeneração propicia o retorno de todas as funções inerentes à pele, inclusive a sensitiva que se encontrava grandemente diminuída e, neste caso especificamente, a sensibilidade dolorosa, pois à medida que vai havendo a regeneração tende a chegar a níveis próximos do normal.
Em alguns estudos relata-se que a microcorrente também pode ser usada na eletrolipoforese, que se constitui de uma técnica terapêutica, onde são introduzidos, na camada adiposa subcutânea, eletrodos em forma de agulhas com cerca de 10 a 15 cm. A corrente passa através de duas agulhas, sendo capaz de originar uma neuroestimulação que levaria a conseqüente secreção de adrenalina, sendo esta responsável de estimular a lipólise no território tratado e conseqüentemente a queima de gordura.
As técnicas de aplicações variam como na maioria das modalidades:
Canetas com cotonetes umedecidas são colocadas nos dois lados da área alvo para que a corrente flua entre ou ao longo da região dolorosa.
Eletrodos com gel condutor apropriado, são colocados sobre o tecido alvo.
Técnicas envolvendo o uso de eletrodos cilíndricos, são recomendadas quando os alvos são grupos musculares maiores.
O alongamento de grupos musculares encurtados ou a concentração de grupos estirados podem ser realizados por técnicas de estimulação que usam a mão do terapeuta como eletrodo de estimulação (uso de eletrodos em forma de luvas confeccionados com material emborrachado contendo partículas de carbono).
As técnicas de eletromassagem exigem que o terapeuta coloque eletrodos em seu corpo, assim como no corpo do paciente. Isso é usualmente feito colocando-se em eletrodo no dorso da mão do terapeuta e o outro eletrodo no paciente, num local distante da massagem. O fechamento de circuito elétrico é realizado pelo contato da mão umedecida do terapeuta com o paciente durante a massagem. A pouca ou nenhuma sensação, tanto para o paciente quanto para o fisioterapeuta.
O mapeamento dos pontos motores, pontos de acupuntura e estruturas intratendinosas (isto é, órgãos tendinosos de Golgi) determinam os efeitos planejados de estimulação, analgesia e relaxamento (Kahn, 2001).
Robinson e Snyder-Mackler (2001), afirmam que não foi desenvolvido nenhum padrão industrial para o qual os tipos de correntes são produzidas por aparelhos produzidos nesta classe. Atualmente no mercado podemos encontrar alguns tipos de correntes que podem ter como forma de onda os exemplos abaixo:
a) Formas de ondas individuais com características de pulsos monofásicos retangulares, que revertem periodicamente à polaridade;
b) Algumas formas de microcorrentes trazem um formato de pulso com uma rampa de amplitude automática para a série de pulsos distribuídos;
c) Outras formas de microcorrentes trazem um formato de pulso retangular distribuídos de forma monofásica.
Os controles de intensidade normalmente permitem um ajuste de amplitude em torno de 10 a 1000μA. Os controles de freqüências permitem ajusta-la de 0,5 Hz a 900 Hz ou em até 1000 Hz (Robinson e Snyder-Mackler, 2001).
Segundo Kirsch e Mercola (1995), a duração de pulso de microcorrentes é maior que outros tipos de eletroestimulação, como por exemplo, o TENS. Um pulso de microcorrentes típico é de aproximadamente de 0,5 segundo, que é cerca de 2500 vezes maior que um pulso típico de TENS. O plano de atuação das microcorrentes é profundo, podendo atingir um nível muscular, e apresentar-se com imediata atuação no plano cutâneo e subcutâneo.
As microcorrentes têm características subsensoriais não causando desconforto ao paciente (Alcaide, 1998).
Contra indicação
Segundo Starkey (2001), são poucas as contra indicações da MENS, ele menciona a osteomielite, e a dor de origem desconhecida.
Kirsch e Lerner (1987), citam aplicações no eixo do marca-passo.
Deve-se ter preocupação porque a excitação elétrica sobre útero gravídico, podendo esta afetar, teoricamente, os sistemas de controle endócrinos, podendo até causar aborto (ainda não há comprovação) (Robinson e Snyder-Mackler, 2001; Kirsch e Mercola, 1995; Kirsch e Lerner, 1987).
As precauções na terapia incluem aplicações em pacientes desidratados, podendo causar náuseas, tonturas ou cefaléias, e o paciente pode se queixar também de “choques” elétricos quando a microcorrente é aplicada em um tecido cicatricial. Isso representa o total de corrente necessária para superar a resistência elétrica da cicatriz (Starkey, 2001).
2 comentários em “MICROCORRENTES”
Comentários encerrados.
Fiz Eletrotermofototerapia no último semestre e não tivemos sequer a citação de MENS. A importância de ampliar a leitura e se manter atualizado!!!
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