MICROAGULHAMENTO NO TRATAMENTO DE ESTRIAS ALBAS: APLICAÇÃO EM SÉRIE DE CASOS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.6877408


Autoras:
                                                       Flaviane Mattos Assunção1
Tatiane Martins2
Isabel Fernandes3


RESUMO

O microagulhamento tem sido aplicado no tratamento de diversas disfunções da pele, entre elas, as estrias. O protocolo de tratamento relatado compreendeu três sessões com agulhas de 1,5mm em dez mulheres que apresentavam estrias albas na região glútea. Observou-se melhora boa em uma paciente, leve em seis e nenhuma em três. A indução percutânea de colágeno possui evidências científicas de relevância. É uma técnica simples, de baixo custo, com poucos efeitos adversos e de rápida recuperação pós procedimento. Apresenta resultados satisfatórios e permanentes no tratamento de estrias.

Palavras-chave: Estrias de Distensão; Colágeno; Estética.

ABSTRACT

Microneedling has been applied in the treatment of various skin disorders, including stretch marks. The reported treatment protocol comprised three sessions with 1.5mm needles in ten women who had striae alba in the gluteal region. Good improvement was observed in one patient, slight in six and none in three. Percutaneous collagen induction has relevant scientific evidence. It is a simple, low-cost technique with few adverse effects and rapid post-procedure recovery. It presents satisfactory and permanent results in the treatment of stretch marks.

Keywords: Striae Distensae; Collagen; Esthetics.

1. INTRODUÇÃO

As estrias são lesões dérmicas lineares e permanentes. São geradas pelo estiramento excessivo da pele com reparo tecidual incompleto. São caracterizadas pela perda ou ruptura das fibras elásticas da derme.¹ ² ³

Existem dois tipos de estrias identificados histopatologicamente e clinicamente. O primeiro, estrias rubras, presentes no início da lesão possuem aparência eritematosa e violácea.  O segundo, as estrias albas, são caracterizadas por lesões hipopigmentadas, atróficas e semelhantes à uma cicatriz. Esse estágio pode ser compreendido como uma evolução do primeiro tipo com a lesão se apresentando de forma permanente.⁴

Este estudo, em série de casos, objetivou apresentar os efeitos de um protocolo de atendimento com microagulhamento no tratamento de estrias albas localizadas na região glútea.

2. SÉRIE DE CASOS

Este estudo observou os trâmites éticos de pesquisa em seres humanos cujo parecer consubstanciado de aprovação da pesquisa foi emitido sob o número 4.827.989.

  O protocolo de atendimento com microagulhamento foi aplicado em 10 mulheres, na faixa etária de 19 a 32 anos (média de 23,8 anos), 30%(n=3) casadas, 20%(n=2) mães. A menarca foi com a média de idade de 12 anos (variação entre 9 e 14 anos), 30%(n=3) estavam em sobrepeso e 90%(n=9) possuíam histórico familiar de estrias. As estrias na região glútea surgiram na adolescência (90%; n=9) e no emagrecimento (10%; n=1). O fototipo, na classificação de Fitzpatrick ⁵, foi II (40%; n=4) e III (60%; n=6). No exame físico, todas apresentaram estrias albas na região glútea, com variação nas espessuras e profundidades à palpação (Tabela 1).

TABELA 1: PERFIL DAS PACIENTES SUBMETIDAS AO PROTOCOLO DE ATENDIMENTO COM A TÉCNICA DE MICROAGULHAMENTO EM ESTRIAS, FOZ DO IGUAÇU/PR, 2022.

*Escala de Fitzpatrick: 1.Pele branca – sempre queima – nunca bronzeia – muito sensível ao sol / 2. Pele branca – sempre queima bronzeia muito pouco – sensível ao sol / 3. Pele morena clara – queima (moderadamente)– bronzeia (moderadamente) – sensibilidade normal ao sol / 4. Pele morena moderada – queima (pouco) – sempre bronzeia – sensibilidade normal ao Sol / 5. Pele morena escura – queima (raramente) – sempre bronzeia – pouco sensível ao sol / 6. Pele negra – nunca queima – totalmente pigmentada – insensível ao sol.

**Escala de melhora estética global (Global Aesthetic Improvement Scale – GAIS): 4 Ótima melhora: ótimo resultado após o tratamento; 3 Boa melhora: melhora acentuada na aparência da condição inicial, mas não completamente ótimo; 2 Leve melhora: melhora perceptível, mas convém repetir o tratamento; 1 Sem melhora: a aparência é essencialmente a mesma da condição original; 0 Piora: a aparência é pior do que a condição original.

Entre as participantes, 50%(n=5) relataram deixar de usar algum tipo de roupa como bíquini, por exemplo, devido às estrias. Em relação à autoestima e qualidade de vida, 100%(n=10) afirmaram que as estrias tinham influência na autoestima e no sentimento de vergonha para com o próprio corpo. No pós tratamento, apenas 10%(n=1) permaneceu com impacto na estima e 20%(n=2) com vergonha da exposição corporal. Quanto ao sentimento de depressão e impacto na vida social, em 60%(n=6) das pacientes afirmaram algum nível de queixa. No pós tratamento 50%(n=5) afirmou a vida social sem impacto e 60%(n=6) ausência do sentimento de tristeza. Os impactos na qualidade de vida e frustração tiveram impacto positivo em somente um caso. Quanto à autoestima, uma paciente relatou piora e outra melhora (Tabela 2).

TABELA 2: QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DE AUTOESTIMA E QUALIDADE DE VIDA DAS PACIENTES SUBMETIDAS AO PROTOCOLO DE ATENDIMENTO COM A TÉCNICA DE MICROAGULHAMENTO EM ESTRIAS, FOZ DO IGUAÇU/PR, 2022.        

O protocolo compreendeu 3 sessões de microagulhamento com intervalos de 30 dias. Em cada sessão, inicialmente foi feita a higienização e esfoliação da pele, seguida da aplicação do anestésico tópico manipulado à base de lidocaína 20%, com 30 minutos para a ação. Decorrido o tempo, antes de iniciar o microagulhamento, realizou-se a assepsia do local com álcool líquido 70%.

Foi utilizado dermaroller com agulhas de 1,5mm de espessura. Os movimentos multidirecionais foram executados por 10 a 15 vezes até que se obtivesse o orvalho sanguíneo. Para o drug delivery, foi aplicado um sérum manipulado (hidroxiprolisilane C 4%, nutriomega 5%, matrixil 3000 2%, IGF 1,5%) com objetivo de estimular a produção de colágeno na derme.

A reavaliação foi realizada 30 dias após a terceira e última sessão. Quanto aos resultados do protocolo de atendimento, classificados pela GAIS (Escala de Melhora Estética Global ou Global Aesthetic Improvement Scale), 30%(n=3) das participantes não tiveram melhora quando comparadas as fotografias do pré e pós e 60%(n=6) tiveram uma leve melhora (Figura 1). Em um dos casos da série houve boa melhora (Figura 2).

FIGURA 1: FOTOS PRÉ E PÓS TRATAMENTO DE UMA DAS PACIENTES QUE TEVE LEVE MELHORA

FIGURA 2: FOTOS PRÉ E PÓS TRATAMENTO DA PACIENTE QUE TEVE BOA MELHORA

Não houve intercorrências ou complicações em nenhum dos casos da série, ao longo das 30 sessões de aplicação do protocolo de atendimento com a técnica do microagulhamento.

3. DISCUSSÃO

No sexo feminino, as estrias surgem principalmente devido às alterações endocrinológicas que ocorrem na puberdade e durante a gestação,⁶ acometendo até 70% das adolescentes e até 90% das gestantes.⁷

Apesar de não causarem grandes disfunções na saúde da pele, as estrias, devido à sua aparência inestética, são motivo de sofrimento psicológico. Mesmo existindo diversas técnicas de tratamento, não há um padrão ouro definido. Por outro lado, há grande busca por tratamento efetivo.⁸ Não é possível eliminar completamente as estrias. No entanto, a aparência pode pode melhorar e consequentemente impactar positivamente na qualidade de vida dos pacientes.¹

Os tratamentos mais utilizados são os agentes tópicos, as técnicas de desbridamento químico e mecânico, os lasers não ablativos e ablativos, as terapias de luz, radiofrequência e fototermólise fracionada. Apesar de comuns, os tratamentos tópicos e com dispositivos a laser podem apresentar efeitos colaterais significativos, especialmente em fototipos mais escuros devido a lesão química e térmica.⁴

O microagulhamento, também chamado de terapia de indução percutânea de colágeno, é um tratamento simples e de custo relativamente baixo. Não ocasiona a desepitelização completa, podendo ser aplicado em fototipos mais escuros por possuir baixo risco de hiperpigmentação pós-inflamatória. Além disso, é uma técnica com poucos efeitos adversos. Possui rápida cicatrização e recuperação após o procedimento. Apresenta melhoria clínica relevante e permanente no tratamento de estrias em grande parte dos casos que se submetem a esse tipo de protocolo de atendimento.² ⁹

O mecanismo de ação do microagulhamento gera trauma físico na pele com objetivo de estimular a regeneração da derme. São realizadas punções repetitivas com uso de microagulhas. Esse processo aciona a cascata natural de reparação tecidual. Assim, ocorre a liberação de fatores de crescimento que estimulam produção de colágeno e elastina na derme papilar.¹⁰

O dermaroller é o dispositivo mais utilizado para a realização do microagulhamento.¹¹ É um cilindro descartável, com  superfície contendo 192 microagulhas. O tamanho destas pode variar entre 0,25 a 3mm de comprimento. Tem a função de perfurar o estrato córneo para gerar dano mínimo à epiderme e criar microcanais na derme.¹²

O estrato córneo é revestido por células mortas, criando uma barreira primária e limitando a permeação de ativos na pele. Então, os dermarollers começaram a ser testados com o objetivo de abrir um caminho para a aplicação de drogas através do estrato córneo, realizando o que é chamado de drug delivery.¹³

Os sistemas de drug delivery são utilizados para transporte de fármacos, com o objetivo de atingir seguramente os efeitos desejados, melhorando a solubilidade e estabilidade química dos ativos. A técnica pode aumentar a atividade farmacológica e reduzir os efeitos colaterais.¹⁴

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O microagulhamento é uma excelente opção para o tratamento de estrias albas, por se tratar de uma técnica simples, de baixo custo e com baixo risco de complicações. No presente estudo, foi possível obter boa melhora clínica em 10% e melhora leve em 60% das pacientes. Esse resultado foi obtido com apenas três sessões de intervenção. Assim, a título de trabalho futuros, indica-se a aplicação de mais sessões objetivando melhores resultados clínicos na série de casos completa.

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1Acadêmica concluinte do curso de Bacharelado em Fisioterapia do Centro Universitário Uniamérica/Descomplica. https://orcid.org/0000-0003-3342-6027.
E-mail: fisio.flavianea@gmail.com

2Fisioterapeuta. Especialista na Saúde da Mulher pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário União das Américas/Descomplica e orientadora do presente trabalho. https://orcid.org/0000-0002-1517-6688. E-mail: tatiane.martins@descomplica.com.br

3Engenheira da Computação. Mestre em Engenharia de Software.
Doutora em Engenharia da Produção. Professora da Disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Uniamérica/Descomplica. https://orcid.org/0000-0002-6906-5756.
E-mail: isabel.souza@descomplica.com.br