REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202506300833
Fabrício Duarte de Almeida1
Gabriella Monteiro de Medeiros2
Emely Victória de Lira Cruz2
Rayan Lucas dos Santos Viana2
Moisés Oliveira do Nascimento
André Luiz da Silva Mendes1
RESUMO
É essencial entender o que o cérebro é, o que ele faz e como são denominadas suas estruturas, localizações, funções; e como ocorrem às conexões. Assim, a noção sobre o que compõe a estrutura básica do cérebro é o princípio fundamental para assimilar suas funções psicológicas. A neuroanatomia é uma disciplina essencial na formação do psicólogo, pois oferece os fundamentos biológicos para a compreensão do comportamento, cognição e transtornos mentais. No entanto, o ensino dessa área apresenta desafios específicos, como a complexidade dos conteúdos e a dificuldade de visualização de estruturas cerebrais. Este estudo realizou uma revisão integrativa da literatura entre 2009 e 2024, com o objetivo de identificar os métodos de ensino mais utilizados no ensino de neuroanatomia em cursos de Psicologia. Os resultados indicam uma transição gradual de métodos expositivos para o uso de metodologias ativas, realidade aumentada, modelos tridimensionais e gamificação. Além disso, foram analisados dados quantitativos extraídos de 29 artigos, revelando que 74% dos estudos apontaram aumento no desempenho acadêmico com métodos ativos. Conclui-se que abordagens interativas e multisensoriais favorecem a aprendizagem significativa da neuroanatomia, especialmente em cursos onde a formação biológica não é o foco central.
Palavras-chave: Neuroanatomia; Psicologia; Ensino Superior; Metodologias Ativas.
ABSTRACT
It is essential to understand what the brain is, what it does, and what its structures, locations, and functions are called; and how connections occur. Thus, the notion of what makes up the basic structure of the brain is the fundamental principle for assimilating its psychological functions. Neuroanatomy is an essential discipline in the training of psychologists, as it provides the biological foundations for understanding behavior, cognition, and mental disorders. However, teaching this area presents specific challenges, such as the complexity of the content and the difficulty in visualizing brain structures. This study carried out an integrative review of the literature between 2009 and 2024, with the objective of identifying the teaching methods most used in teaching neuroanatomy in Psychology courses. The results indicate a gradual transition from expository methods to the use of active methodologies, augmented reality, three-dimensional models, and gamification. In addition, quantitative data extracted from 29 articles were analyzed, revealing that 74% of the studies indicated an increase in academic performance with active methods. It is concluded that interactive and multisensory approaches favor significant learning of neuroanatomy, especially in courses where biological training is not the central focus.
Keywords: Neuroanatomy; Psychology; Higher Education; Active Methodologies.
INTRODUÇÃO
A Neuroanatomia Humana constitui uma das bases da neurociência e é fundamental para a formação do psicólogo, por possibilitar a compreensão das estruturas e funções cerebrais envolvidas em processos mentais e comportamentais. O ensino da Neuroanatomia no curso de psicologia traz uma abordagem concisa, porém completa, dos principais conteúdos relacionados ao sistema nervoso, que alicerça o entendimento e a associação de conhecimentos futuros do curso, como por exemplo, os assuntos ministrados nas disciplinas de psicofisiologia, psicofarmacologia e psicobiologia.
Toni, Romanelli e Salvo (2005) postulam que tanto para as disciplinas da neurociência como para a psicologia, a neuroanatomia é de extrema importância nas áreas do conhecimento para uma melhor compreensão do sistema nervoso (neurociência) e do comportamento humano (psicologia).
Outros autores, como Cabello e Siniscalchi (2009) defendem a necessidade de se estudar a neuroanatomia humana básica para compreender os sistemas neuronais, que estão intrinsicamente envolvidos na emoção e motivação, que estimulam a aprendizagem, por meio da ativação de redes de neurônios e consolidam as conexões sinápticas envolvidas. O conhecimento a respeito da neuroanatomia se faz importante no processo de compreensão das fases do desenvolvimento humano, na avaliação de distúrbios psíquicos e transtornos, no processo de diferenciação entre o normal e patológico, entre outros. No entanto, muitos estudantes de Psicologia apresentam dificuldades na assimilação desse conteúdo, devido à sua alta complexidade e à predominância de métodos de ensino teóricos e pouco interativos. Diante disso, é necessário repensar as estratégias pedagógicas utilizadas, considerando novas metodologias que promovam maior engajamento e efetividade no processo de aprendizagem.
O objetivo dessa pesquisa foi de analisar criticamente os métodos de ensino da Neuroanatomia Humana aplicados ao curso de Psicologia, com base em estudos publicados entre 2009 e 2024, identificando possíveis abordagens inovadoras, os seus benefícios, os desafios, além da sua eficácia na prática pedagógica.
METODOLOGIA
O presente trabalho trata-se de uma pesquisa de revisão sistemática de literatura nas áreas referentes à disciplina ministrada nos anos iniciais do curso de Psicologia. Sampaio e Mancini (2007, p. 84) afirmam que, “uma revisão sistemática, assim como outros tipos de estudo de revisão, é uma forma de pesquisa que utiliza como fonte de dados a literatura sobre determinado tema”. Dessa forma, foi realizada uma revisão integrativa da literatura nas bases PubMed, SciELO, LILACS, PsycINFO e Google Scholar. Os descritores de avaliação utilizados para a coleta de fontes de dados que subsidiaram esta pesquisa foram “neuroanatomia”, “ensino”, “psicologia”, “metodologias ativas”, “educação em saúde”, “tecnologias educacionais”, “psicobiologia”, “psicofisiologia”, “psicofarmacologia”, “neurociência”, “psicologia do desenvolvimento humano”, “neurofarmacologia”, “psicofarmacoterapia”, “psicopatologia”, “transtornos psicológicos”, dentre outros. Foram incluídos artigos originais e de revisão, publicados entre 2009 e 2024, nos idiomas português, inglês ou espanhol. Após triagem de títulos e resumos, 29 artigos foram selecionados para análise final. Foram extraídos dados quantitativos de acordo com o desempenho acadêmico e quanto à motivação por parte dos alunos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentre os 29 estudos analisados 74% relataram melhora no desempenho acadêmico através de metodologias ativas onde o aluno encontra-se no centro do processo de aprendizagem, 62% apontaram maior motivação dos alunos na utilização de tecnologias como por exemplo a realidade virtual aumentada, 48% destacaram a gamificação como possibilidade de atividades de ensino e recurso eficaz no comprometimento dos alunos no aprendizado dos conteúdos da disciplina de neuroanatomia e cerca de 58% demonstram dificuldade por parte dos discentes com o conteudo de neuroanatomia aplicada quando a abordagem do ensino ocorre apenas através de aulas teóricas.
De acordo com os estudos observados, os métodos tradicionais e mais comuns de estudos sobre a disciplina de neuroanatoimia incluíam aulas expositivas, além da leitura de textos técnicos científicos e o uso do atlas de anatomia fotográfica. No entanto, as estratégias ativas de ensino e aprendizado acadêmico e as estratégias de mapas conceituais, a estratégia de aprendizagem baseada em resolução de problemas ou estudo de casos, gamificação e o uso de softwares 3D mostraram-se mais eficazes no aprendizado. O maior desafio identificado no processo de pesquisa e análise dos dados foi a escassez de carga horária relacionadas com a disciplina e a formação de docente de forma específica e adequada para a aplicação dessas metodologias nos cursos de Psicologia.

A IMPORTÂNCIA DA DISCIPLINA DE NEUROANATOMIA PARA O CURSO DE PSICOLOGIA
De acordo com alguns autores, o campo da neurociência abrange disciplinas de formação como: neuroanatomia, neurofisiologia, neuroquímica e neurofarmacologia, que são práticas da atuação direta do profissional psicólogo nas áreas relacionadas com ensino da psicometria, psicologia clínica, psicologia experimental, psicopatologia e psicologia cognitiva, como também a psicofisiologia e psicobiologia. Portanto, para estudar e entender as disciplinas relacionadas se torna necessário obter um conhecimento primeiramente sobre a estrutura básica, funcional e neuroanatômica. A neuropsicologia, por exemplo, é uma disciplina da neurociência que está ligada à psicologia pelo fato do interesse em comum de relação que as duas mantêm que é de investigar relações entre o funcionamento estrutural do cérebro e o comportamento humano. De forma conceitual e de forma geral, o estudo das relações entre o encéfalo humano bem como o seu comportamento como resposta, no sentido mais específico de abordagem, é o campo de atuação profissional que investiga as alterações cognitivas e comportamentais associadas às alterações e lesões cerebrais subsequentes (HAMDAM; ALMEIDA; RIECHI, 2011). Nesse sentido, cabe salientar que o caráter interdisciplinar da neuropsicologia, sendo consequência dessa fusão das duas áreas do conhecimento, identificadas pelas neurociências e pela psicologia, tendo suporte teórico-prático de diversas outras áreas da ciência, como a neuroanatomia, neurofisiologia, psicofarmacologia e neuroetologia (TONI; ROMANELLI; SALVO, 2005, p. 48).
Essas competências, segundo Gontijo et al. (2013), devem ser avaliadas abrangendo o crescimento pessoal e profissional com base em padrões ou critérios bem definidos. Portanto, formar profissionais que se encontrem em sintonia com a contemporaneidade de seu público exige formadores capacitados e treinados que explicitem suas intenções, métodos pedagógicos e instrumentos avaliativos.
Vale ressaltar que as novas estratégias e possibilidades de abordagem no ensino e aprendizagem não têm a intenção de substituir os métodos tradicionais de ensino, mas sugere-se que sejam implementadas concomitantemente com eles.
De acordo com Estevez et al.(2010), o avanço da tecnologia e sua crescente disponibilidade são benéficos e oportunos para que os educadores, bem como para que os alunos possam integrar tais novas atividades, aprimorando assim a experiência de aprendizado na referida disciplina.
Deve ser levando em consideração que para as disciplinas da área de neurociência como para a psicologia, a neuroanatomia é de extrema importância nas áreas do conhecimento para uma melhor compreensão do sistema nervoso (neurociência) e a sua relação com o comportamento humano (psicologia) e para as outras áreas se faz útil pela necessidade do suporte técnico-prático (TONI; ROMANELLI; SALVO, 2005).
Portanto, se torna necessário ter o conhecimento sobre as bases biológicas, fisiológicas, como neurais e estruturais do comportamento humano, das relações entre saúde e doença, entre o normal e o patológico compreendendo assim, a anatomia humana, a genética, o funcionamento do sistema nervoso, os neurônios, células da glia e sinapses. A plasticidade cerebral, processos psicológicos básicos, a percepção, as emoções, a dor, a fome, o sono, os hormônios, o sexo, a saúde, as doenças, as drogas, dentre outros conceitos fundamentais, que são estudados pela neuroanatomia e a psicobiologia. Assuntos estes, que são indispensáveis para a análise do comportamento humano que é a área de estudo básico do psicólogo (PINEL, 2005).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ensino da Neuroanatomia Humana para os cursos de Psicologia está em transformação. As metodologias ativas e os recursos tecnológicos têm se mostrado mais eficazes atualmente do que os métodos tradicionais isolados de ensino e abordagem, especialmente por atenderem às especificidades de um curso que integra saberes biológicos e psicológicos. A disciplina é crucial na área por fornecer uma compreensão fundamental do sistema nervoso, o que é essencial para o entendimento da base biológica dos processos mentais e comportamentais. Os estudos são realizados com o intuito de propor alternativas que possam ser associadas ao modelo tradicional, visando assim oferecer uma experiência cognitiva fundamentada e atualizada entre outras habilidades necessárias para o exercício profissional de Psicologia.
Dessa forma, recomenda-se a adoção de abordagens interdisciplinares, visualmente interativas e baseadas em resolução de problemas, além de investimentos em formação docente e infraestrutura tecnológica.
REFERÊNCIAS
PANI, J. R.; CHARIKER, J. H.; NAAZ, F. Learning anatomy: Can Web-based software improve understanding of neuroanatomy? Academic Medicine, v. 88, n. 5, p. 713–718, 2013.
McNULTY, J. A.; SONNTAG, B.; SINACORE, J. M. Evaluation of computer-aided instruction in a neuroanatomy curriculum. Anatomical Sciences Education, v. 2, n. 2, p. 43–49, 2009.
CORREIA, R. A.; TEIXEIRA, M. C. T. V. O uso da realidade aumentada no ensino da neuroanatomia em Psicologia. Revista Psicologia em Foco, v. 12, n. 1, p. 55–64, 2020.
NEVES, L. L. et al. Ensino de neuroanatomia com gamificação: avaliação da percepção discente. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 46, n. 3, p. 1–10, 2022.
PAIVA, K. M.; SOUZA, V. P. Desafios do ensino de neuroanatomia no curso de Psicologia: uma revisão integrativa. Cadernos de Educação e Saúde, v. 13, n. 2, p. 75–83, 2021.
ESTEVEZ ME, LINDGREN KA, BERGETHON PR. A novel three-dimensional tool for teaching human neuroanatomy. Anat Sci Educ. v. 3, n.6, p.309-17, 2010
GONTIJO, E. D. et al. Matriz de competências essenciais para a formação e avaliação de desempenho de estudantes de Medicina. Rev Bras Educ Med. v. 37, n.4,p. 526-39, 2013.
1Professor de Neuroanatomia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
2Discente do Curso de Farmácia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro