METODOLOGIAS ATIVAS DE ENSINO COMO INSTRUMENTO PARA A EDUCAÇÃO PERMANENTE E CONTINUADA

ACTIVE TEACHING METHODOLOGIES AS AN INSTRUMENT FOR PERMANENT AND CONTINUING EDUCATION

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10026437


Nelma de Jesus Nogueira Machado1, Dociana Erica Cabral Formigosa2, Hosana de Nazaré Miranda de Carvalho2, Amanda Nogueira Salheb3, Karina Pinheiro da Silva3, Benedita leida Martins Rodrigues3, Waylla Emanuely Olegária da Luz3, Álvaro Sousa de Almeida3, Rodrigo dos Santos Nogueira3, Sara Braga Abucater3


RESUMO

O sistema educacional está passando por mudanças significativas, adotando uma abordagem inovadora na área da saúde. Nesse novo modelo, os alunos desempenham um papel ativo na construção do conhecimento, enquanto os professores atuam como facilitadores. Isso é facilitado pelo uso de metodologias ativas de ensino, que promovem a interação entre a universidade e a sociedade, permitindo uma compreensão mais profunda da realidade e facilitando a intervenção prática. Este estudo buscou analisar artigos científicos que discutem o uso dessas metodologias para promover a educação permanente e contínua. Foram revisados 18 artigos de diversas fontes entre 2011 e 2021. Os resultados foram positivos, indicando que as metodologias ativas facilitam a aprendizagem eficaz, especialmente na área da saúde. Elas são aplicáveis não apenas na graduação e pós-graduação, mas também em programas de treinamento e educação em saúde em diferentes contextos de serviços e comunidades, transformando o conhecimento em uma ferramenta capaz de mudar vidas.

Palavras-Chave: Aprendizagem ativa. Aprendizagem Prática. Ensino.

ABSTRACT

The educational system is undergoing significant changes, adopting an innovative approach to healthcare. In this new model, students play an active role in building knowledge, while teachers act as facilitators. This is facilitated by the use of active teaching methodologies, which promote interaction between the university and society, allowing a deeper understanding of reality and facilitating practical intervention. This study sought to analyze scientific articles that discuss the use of these methodologies to promote permanent and continuous education. 18 articles from various sources were reviewed between 2011 and 2021. The results were positive, indicating that active methodologies facilitate effective learning, especially in the health area. They are applicable not only at undergraduate and postgraduate levels, but also in health training and education programs in different service and community contexts, transforming knowledge into a tool capable of changing lives.

Keywords: Active learning. Practical Learning. Teaching.

INTRODUÇÃO

Freiberger e Berbel (2010) observam que, em uma sociedade cada vez mais complexa, a escola tem a responsabilidade de desenvolver competências e habilidades nos estudantes. No entanto, ao longo das últimas décadas, os professores têm enfrentado o desinteresse crescente dos alunos pelos conteúdos apresentados, bem como uma perda de reconhecimento de sua autoridade. A simples transmissão de informações já não é eficaz no processo de ensino-aprendizagem (SANTOS; SOARES, 2011).

As tendências do século XXI indicam uma mudança fundamental na educação, com um foco que se desloca do indivíduo para aspectos sociais, políticos e ideológicos. A educação é vista como um processo ao longo da vida, sendo intrinsecamente não neutra. Um estudo identificou quatro pilares do conhecimento e formação continuada: i) aprender a conhecer; ii) aprender a fazer; iii) aprender a conviver; e iv) aprender a ser. Esses pilares apontam para uma nova direção nas abordagens educacionais, enfatizando a necessidade de atualização das metodologias diante da realidade contemporânea (PAIVA et al., 2016).

De acordo com Andrade et al. (2020), as transformações tecnológicas têm impactado significativamente a sociedade, alterando inevitavelmente a dinâmica do ensino-aprendizagem. As Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) têm modificado o comportamento das pessoas, exigindo uma transformação na cultura da sala de aula e na maneira como o conhecimento é construído, colocando o aluno no centro do processo educativo.

Dessa maneira, surgem as metodologias ativas de ensino-aprendizagem, que apresentam desafios aos alunos, permitindo que eles se tornem protagonistas na construção do conhecimento. Essas metodologias também envolvem os alunos na análise do processo educacional, com os professores atuando como facilitadores do aprendizado (MELO; SANTANA, 2012).

No contexto das metodologias ativas de ensino-aprendizagem, há uma integração entre universidade, serviço e sociedade. Elas possibilitam a interpretação e intervenção na realidade, valorizando os participantes do processo educativo e promovendo a liberdade e o trabalho em equipe (FERNANDES et al., 2014).

É importante destacar que as metodologias ativas de aprendizagem não buscam eliminar a escola com métodos tradicionais, mas promovem uma interconexão. Elas visam superar abordagens centradas apenas no ensino do professor, na leitura do livro e no papel passivo do aluno no processo ensino-aprendizagem (BARBOSA; MOURA, 2019).

Nesse contexto, com o objetivo de ajustar as abordagens de ensino, este estudo busca resumir os artigos científicos que exploram a aplicação das metodologias ativas de ensino-aprendizagem na educação. O propósito é promover a educação permanente e contínua por meio dessas práticas educacionais.

METODOLOGIA

Este estudo apresenta uma revisão narrativa descritiva sobre as práticas de ensino na área da saúde, com foco nas metodologias ativas de ensino-aprendizagem. A pesquisa foi realizada de forma exploratória em dezembro de 2021, utilizando bases de dados como Scientific Electronic Library Online (SciELO), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Google Acadêmico.

Para a seleção dos artigos, foram empregados termos provenientes dos Descritores de Ciências da Saúde (DeCS) e palavras-chave da literatura científica relacionadas ao tema, como Aprendizagem Ativa, Aprendizagem Prática e Ensino. Os critérios de inclusão abrangeram a descrição de metodologias ativas de ensino em níveis técnicos e de graduação, além de artigos originais ou de revisão publicados entre 2011 e 2021, nos idiomas português ou inglês.

Excluíram-se desta revisão estudos presentes em anais de congressos, monografias, dissertações, teses e boletins informativos. A pesquisa resultou na seleção de 18 artigos, que foram analisados criticamente e sintetizados de forma descritiva. Os dados foram agrupados por temas relevantes para a compreensão do desenvolvimento do conhecimento na área das metodologias ativas de aprendizagem. O objetivo foi observar, descrever e classificar esses dados, contribuindo para a busca central deste estudo. A análise final envolveu uma interpretação cuidadosa dos resultados, que foram então incorporados à redação do trabalho.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Da abordagem convencional de ensino às práticas ativas de aprendizado

O autor Saviani (2011) argumenta que o sistema educacional brasileiro passou por quatro fases cruciais: o predomínio da pedagogia tradicional religiosa (1549-1759); a pedagogia tradicional secular, em competição com a religiosa (1759-1932); a pedagogia nova (1932-1969), caracterizada por ideias inovadoras; e, por fim, a pedagogia produtivista (1961-2001), marcada pelo domínio do capital.

A escola tradicional precede a Escola Nova e, após essas duas abordagens metodológicas, surgem outras, como a escola libertadora, a tecnicista e, por último, a histórico-crítica. Segundo Araújo (2017, p. 1), “existem expectativas e aspirações, […] de que as abordagens tradicionais, escolanovista e tecnicista, fossem realmente superadas teórica e praticamente, mas elas são revigoradas por estruturas e situações pedagógicas diversas […]. Assim, as metodologias ativas são consideradas uma marca da abordagem escolanovista, centrada na aprendizagem e no aluno, tornando-o o principal protagonista e reduzindo o papel do professor como o principal transmissor de conhecimento.

No século XX, a educação evoluiu através das contribuições de vários pensadores, que discutiram modelos de ensino e enfatizaram a necessidade de autonomia do aluno. Destacam-se as ideias de aprendizado condicionado de Montessori, a aprendizagem baseada na experiência de Frenet, as teorias de aprendizagem de Piaget e Vygotsky, a aprendizagem significativa de David Ausubel, a crítica ao modelo bancário de educação de Paulo Freire e o construtivismo do pensador francês Michael Foucault (FARIAS; MARTIN; CRISTO, 2015).

Portanto, ao planejar suas atividades em sala de aula, o professor deve adotar uma postura que esteja aberta a questionamentos, curiosidade, e às perguntas dos alunos, assim como às suas inibições. Ele deve ser crítico e questionador, sempre alerta para a tarefa de ensinar, não apenas transferir conhecimento. Essa abordagem educacional não deve ser adotada apenas pelo professor, mas também pelos alunos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. Além de compreensão, essa abordagem de ensino requer presença constante e experiência prática (PAIVA et al., 2016).

Um marco importante em nosso tempo é a introdução das tecnologias móveis, que possibilitam flexibilizar os encontros presenciais. Essa combinação tem sido usada para resolver problemas e realizar projetos em métodos ativos (MORÁN, 2015). Além disso, os alunos modernos têm acesso a uma vasta gama de conhecimentos por meio de tecnologias digitais, uma novidade em nossa era. Anteriormente, o professor detinha essas informações, mas atualmente, os alunos podem acessá-las antes mesmo do professor (BACICH; TANZI NETO; TREVISANI, 2015).

As tecnologias desempenham um papel significativo na criação de um ambiente de aprendizado interativo e interacionista. Elas facilitam a aproximação dos participantes desse processo, incentivando a colaboração de maneira leve, lúdica e rápida (SILVA et al., 2018). Nesse contexto histórico, torna-se evidente a importância da implementação de metodologias ativas de aprendizagem, especialmente no ensino superior, para incentivar os alunos a serem proativos em seu processo de aprendizado, preparando-os adequadamente para suas futuras carreiras profissionais.

Uma análise das abordagens ativas de ensino e aprendizagem.

A discussão sobre modelos de ensino está em constante evolução, destacando a importância da autonomia do aluno e promovendo o desenvolvimento das metodologias ativas de ensino-aprendizagem. Essas abordagens visam formar profissionais humanizados, dotados de um pensamento crítico e reflexivo, além de competências éticas, políticas e técnicas (LIMBERGER, 2013; MELO; SANTANA, 2012; FARIAS; MARTIN; CRISTO, 2015).

Para escolher metodologias ativas eficazes, é crucial que elas sigam princípios específicos:

  • Construtivista: Baseada na aprendizagem significativa e colaborativa, favorecendo a construção de conhecimento em grupo.
  • Interdisciplinar: Integração de atividades com outras disciplinas.
  • Contextualizada: Permite que os alunos compreendam a aplicação prática do conhecimento no mundo real.
  • Reflexiva: Reforça princípios éticos e valores morais, incentivando a autorreflexão.
  • Crítica: Estimula os alunos a aprofundarem seu entendimento, questionando as informações que recebem.
  • Investigativa: Desperta a curiosidade e a autonomia, proporcionando oportunidades de aprendizado investigativo.
  • Humanista: Foca na integração social e no entendimento do ambiente circundante.
  • Motivadora: Aborda as emoções dos alunos, tornando o aprendizado envolvente e inspirador.
  • Desafiadora: Encoraja os estudantes a encontrar soluções, promovendo o desenvolvimento de habilidades de resolução de problemas (FARIAS; MARTIN; CRISTO, 2015).

O estudo conduzido por Freitas et al. (2015) analisou de maneira científica as metodologias ativas de aprendizagem. Vale destacar que o método utilizado pode ser aplicado em diversos cursos de graduação, com o objetivo de promover a educação permanente e continuada. Esse estudo já evidencia a importância das metodologias ativas para a formação e capacitação dos alunos e profissionais.

Dessa forma, uma abordagem positiva não apenas proporciona conhecimentos teóricos e técnicos, mas também oferece uma oportunidade para os alunos aplicarem o que aprenderam em suas disciplinas e desenvolverem habilidades sociais e pessoais. Isso os incentiva a exercer a autocrítica (ANDRADE et al., 2011).

A Abordagem Problemática e a Aprendizagem Baseada em Problemas (Problem-Based Learning – PBL)

A metodologia conhecida como Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) teve origem no final dos anos 60, na McMaster University Medical School, no Canadá, inspirada no método de estudos de caso da escola de Direito da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos (SCHMIDT, 1993). O PBL foi rapidamente reconhecido como uma abordagem benéfica e ganhou destaque em diversas áreas, como Enfermagem, Engenharia, Serviço Social, Direito, Negócios e Economia (STANLEY e MARSDEN, 2012).

De acordo com Farias et al. (2015), o processo da Aprendizagem Baseada em Problemas pode ser resumido em um conjunto de etapas: a) os alunos são apresentados a um problema e, em grupos, organizam suas ideias, tentando definir e resolver o problema com base em seus conhecimentos prévios; b) após discussões, eles formulam perguntas de aprendizagem sobre os aspectos do problema que não compreendem; c) planejam como (quem, quando, como e onde) essas questões serão investigadas; d) em uma reunião subsequente, exploram as questões levantadas, utilizando os novos conhecimentos adquiridos para resolver o problema; e) ao final do trabalho com o problema, os alunos avaliam o processo, a si mesmos e seus colegas, desenvolvendo assim a competência necessária para uma aprendizagem autônoma.

Segundo Freitas e colaboradores (2015), a problematização é um método de ensino que transforma a educação em uma prática social. Sua filosofia de ensino baseia-se na capacidade de participação dos alunos como agentes transformadores sociais, envolvidos no processo de identificação de problemas reais e busca de soluções inovadoras. Esse método mobiliza o potencial social, político e moral dos alunos, capacitando-os como cidadãos e profissionais engajados.

Essa metodologia segue cinco etapas sequenciais: a) Observação da realidade e definição do problema: Os alunos são guiados a entender sua própria realidade, identificar características sob orientação do professor, escolher uma situação específica e problematizá-la. b) Pontos-chave: Inicia-se uma reflexão sobre os possíveis fatores e determinantes do problema para uma compreensão mais profunda da sua complexidade, culminando na definição dos pontos cruciais do estudo. c) Teorização: Envolve a construção de respostas mais elaboradas para o problema, baseadas em dados obtidos, analisados e discutidos, servindo como fundamento para transformar a realidade. d) Hipóteses de Soluções: Os alunos são incentivados a pensar em alternativas criativas e originais para resolver o problema. e) Aplicação à realidade: Finaliza-se com a apresentação da solução encontrada durante o processo de problematização (BERBEL, 1998).

A resolução de problemas e a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) são amplamente reconhecidas como ferramentas cruciais para promover a integração do ensino, especialmente no campo da saúde. Estas estratégias são únicas, pois de forma consciente enfrentam desafios no desenvolvimento do ensino e da aprendizagem, enfatizando a importância do “aprender a aprender” (CYRINO; TORALLES-PEREIRA, 2004).

Ciclo de Discussão de Problemas: fomentando a aprendizagem ativa na saúde

O Ciclo de Discussão de Problemas (CDP) emerge como uma estratégia educacional inovadora, especialmente voltada para estudantes de graduação na área da saúde. Esta abordagem proativa, inspirada no método PBL (Aprendizagem Baseada em Problemas), utiliza tópicos do currículo da saúde para promover um aprendizado autodirigido. Além disso, incentiva a adoção de uma perspectiva crítica, a colaboração entre os estudantes, o desenvolvimento de habilidades para identificar problemas e uma compreensão ampla da ciência básica (SILVA et al., 2015).

No contexto do CDP, os estudantes são envolvidos em discussões profundas e interativas sobre problemas relevantes da área da saúde. Estes problemas são cuidadosamente selecionados, refletindo questões do mundo real que os profissionais de saúde enfrentam em suas práticas diárias. A partir desses desafios, os alunos são incentivados a explorar, pesquisar e buscar soluções de forma colaborativa, promovendo não apenas a aplicação prática do conhecimento teórico, mas também o desenvolvimento de habilidades críticas e analíticas.

O método CDP destaca-se por sua capacidade de integrar diferentes disciplinas da área da saúde, proporcionando aos alunos uma visão holística e interdisciplinar dos problemas de saúde. Esta abordagem não apenas aprofunda o conhecimento dos alunos, mas também estimula o pensamento crítico, a criatividade e a habilidade de trabalhar em equipe. Além disso, ao enfrentar desafios do mundo real, os estudantes são preparados para enfrentar situações complexas e imprevisíveis em suas futuras carreiras.

Em resumo, o Ciclo de Discussão de Problemas não apenas proporciona um ambiente educacional estimulante e participativo, mas também prepara os estudantes para se tornarem profissionais de saúde capacitados, adaptáveis e reflexivos, prontos para enfrentar os desafios dinâmicos do campo da saúde.

Ensino Baseado em Jogos: fomentando a colaboração e o pensamento crítico

O método do Torneio de Jogos, desenvolvido por David Devries e Keith Edwards em 1972 na Universidade Johns Hopkins, representa uma abordagem inovadora no campo da educação. Segundo DeVries, Mescon e Shackman (1975), essa metodologia está inserida na técnica cooperativa, incentivando a colaboração entre os alunos. Além disso, esse estilo de ensino surge como uma alternativa aos métodos de aprendizagem mais tradicionais, oferecendo uma abordagem dinâmica e envolvente que não apenas facilita o desenvolvimento das habilidades de raciocínio, mas também promove o trabalho em equipe (ROMAN et al., 2017).

No contexto do ensino baseado em jogos, os estudantes são imersos em desafios interativos e competitivos, onde são incentivados a aplicar conceitos teóricos em situações práticas. Esses jogos educacionais são cuidadosamente projetados para estimular o pensamento crítico, a resolução de problemas e a tomada de decisões rápidas, criando assim um ambiente de aprendizado dinâmico e participativo.

O método do Torneio de Jogos não apenas aprimora as habilidades cognitivas dos alunos, mas também desenvolve habilidades sociais cruciais, como comunicação eficaz, colaboração e liderança. Ao envolver os alunos em competições amigáveis e desafios educacionais, o ensino baseado em jogos cria uma atmosfera de aprendizado emocionante e motivadora.

Além disso, essa abordagem educacional fomenta um senso de comunidade na sala de aula, onde os alunos trabalham juntos para atingir objetivos comuns. A colaboração e a competição saudável não apenas tornam o processo de aprendizado mais envolvente, mas também preparam os alunos para enfrentar desafios do mundo real, onde a colaboração e a resolução de problemas são habilidades essenciais.

Em suma, o Ensino Baseado em Jogos não apenas expande o repertório de habilidades dos alunos, mas também cria um ambiente de aprendizado dinâmico, promovendo a colaboração, o pensamento crítico e o desenvolvimento pessoal e social. Essa abordagem não apenas prepara os alunos para o sucesso acadêmico, mas também os equipa com habilidades essenciais para prosperar em ambientes profissionais complexos e dinâmicos.

 Simulação no ensino de saúde: preparando profissionais para o mundo real

A utilização da simulação e dos simuladores virtuais como métodos de ensino é uma prática amplamente adotada nos cursos de graduação na área da saúde. Constantemente, essa metodologia é escolhida deliberadamente para auxiliar na formação das habilidades e comportamentos necessários aos futuros profissionais de saúde (ROMAN et al., 2017).

Na dinâmica de ensino e aprendizagem, a simulação tem a capacidade de imergir o aluno em um ambiente semelhante ao que ele encontrará na prática profissional real. Esse método proporciona reflexão e leva à problematização dos conteúdos, uma vez que o aluno é exposto a desafios reais e é estimulado a resolvê-los. Além disso, integra as complexidades do aprendizado prático e teórico, fornecendo oportunidades para repetição, feedback, avaliação e reflexão (LACERDA et al., 2019).

Ao simular uma situação profissional, é possível avaliar as habilidades e competências do estudante diante de cenários específicos, identificando áreas de conhecimento que precisam ser aprimoradas. Essa metodologia não apenas serve como ferramenta de avaliação, mas também oferece ao aluno a chance de desenvolver suas habilidades e superar obstáculos relacionados ao aprendizado (ROMAN et al., 2017). Dessa forma, a simulação emerge como uma valiosa aliada no processo educacional, preparando os futuros profissionais para os desafios do mundo real.

Metodologias ativas na Educação Permanente e Continuada na saúde

A abordagem tradicional de formação em saúde, originada a partir das diretrizes estabelecidas por Flexner em 1910, ainda é amplamente utilizada. Essa abordagem seguiu um modelo que organizava o ensino em disciplinas, colocava o professor no centro do processo educacional e enfatizava atividades práticas predominantemente em ambientes hospitalares. Esse método era caracterizado por uma relação professor-aluno unidirecional e pela fragmentação no entendimento do corpo e da saúde das pessoas (FREITAS et al., 2015).

Essa tradicional abordagem de ensino tem resultado na formação de profissionais que são proficientes em diversas tecnologias, mas muitas vezes carecem de habilidades para lidar com as dimensões subjetivas, sociais e culturais dos pacientes. Além disso, esse modelo se distanciou progressivamente do atual modelo de organização dos serviços na rede pública de saúde no Brasil (FREITAS et al., 2015).

Nos últimos anos, a formação dos profissionais de saúde e os métodos empregados nesse processo têm se tornado alvo de discussões intensas. Isso ocorre porque essas práticas educacionais desempenham um papel crucial na solução dos problemas de saúde enfrentados pela população em geral (SILVA et al., 2015). Nesse cenário, surgem as metodologias ativas como uma resposta inovadora, promovendo uma abordagem mais dinâmica e centrada no estudante, capaz de integrar aspectos práticos, sociais e emocionais na formação dos futuros profissionais de saúde.

Apesar dos esforços para transformar o sistema de ensino na área da saúde, é comum observar que a formação dos profissionais de saúde ainda se baseia em modelos de conhecimento fragmentados. Nesses modelos, a ênfase recai no saber do professor, com foco em conteúdos disciplinares e memorização, negligenciando a necessidade de aplicação prática (GOSSENHEIMER; CARNEIRO; CASTRO, 2015).

Ao longo da história, a área da saúde percebeu a necessidade de integrar a educação em seu campo de conhecimento. Apenas dominar técnicas avançadas de diagnóstico, procedimentos cirúrgicos e tratamentos não era suficiente para lidar com as complexas questões de saúde da população. Assim, a saúde passou a incorporar os princípios educacionais como um aliado crucial para abordar eficazmente os desafios de saúde (OLIVEIRA et al., 2015).

Autores como Santos et al. (2017) reconhecem a importância das metodologias ativas como estímulo para despertar a curiosidade e promover o autoaprendizado entre os alunos. Estudos anteriores também mostram melhorias na motivação dos alunos e na experiência prática do conhecimento quando comparadas às abordagens tradicionais de ensino, especialmente na formação de estudantes na área da saúde. Roman e colaboradores (2017) destacam os benefícios das metodologias ativas ao atribuir significado ao conhecimento e fortalecer os laços entre alunos e professores, transformando-se em facilitadores do processo de aprendizagem.

A formação profissional na área da saúde representa um ponto de partida crucial para reinventar os métodos educacionais, especialmente contra o modelo de atenção predominante e para consolidar os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) (CARVALHO, 2016). É essencial aplicar novas formas de conhecimento por meio de metodologias ativas, como Problema Baseado em Evidência, Simulação e Problematização, pois essas metodologias acadêmicas simulam a realidade dos desafios que futuros profissionais de saúde enfrentarão.

Considerando as capacidades específicas de cada profissão na área da saúde, o Conselho Nacional de Saúde estabelece que os profissionais devem ser proficientes na resolução de problemas de saúde, tanto em nível individual quanto coletivo. Eles devem também tomar decisões apropriadas e exercer liderança, comando e coordenação (ANDRADE et al., 2011).

Nesse contexto, as metodologias ativas se destacam como preparação para futuros profissionais, garantindo a formação de indivíduos alinhados aos princípios e necessidades da política de saúde contemporânea (BRASIL, 2001; MESQUITA; MENESES; RAMOS, 2016). Ao analisar a literatura sobre o uso dessas metodologias na área da saúde, observa-se um grande número de publicações, especialmente sobre PBL e Problematização. No entanto, também é possível identificar o surgimento de outras metodologias no meio acadêmico da saúde, como a Espiral Construtivista, Aprendizagem Baseada em Projetos, Instrução por Pares e Sala de Aula Invertida (PAIVA et al., 2016).

Diante dos novos paradigmas educacionais, é fundamental abordar as competências didático-educativas dos professores de ensino superior. Além do conhecimento técnico essencial para a profissão, é crucial reconhecer habilidades exclusivas relacionadas ao ensino superior, como a compreensão aprofundada de uma área do conhecimento, o domínio pedagógico e a compreensão da dimensão política do ensino superior (CYRINO; TORALLES-PEREIRA, 2004).

Costa (2010) destaca que as mudanças necessárias na formação de profissionais da saúde estão intrinsecamente ligadas a transformações na mentalidade docente. Ele ressalta a importância do ensino teórico-prático baseado na experiência didática e a necessidade de uma mudança no papel do professor, que deve ser mais do que um transmissor de conhecimento, mas também um facilitador que inspira os alunos a refletir sobre problemas de saúde. Portanto, a capacitação dos professores deve ser vista como uma atividade contínua e complexa, envolvendo preparação teórica, técnica e pedagógica.

Para reforçar ainda mais esse novo método de ensino, o Ministério da Saúde adotou a Educação Permanente em Saúde como princípio central da Política de Gestão da Educação no Trabalho em Saúde. Isso resultou na implementação de ações indutoras significativas dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), incluindo a criação da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde no Ministério da Saúde (LACERDA et al., 2019).

A proposta de Educação Permanente e Continuada em Saúde adotada no Brasil enfatiza o potencial educativo do processo de trabalho para a transformação. Busca melhorar a qualidade do cuidado, a capacidade de comunicação e o compromisso social entre as equipes de saúde, os gestores do sistema de saúde, as instituições formadoras e o controle social. Além disso, promove a produção de conhecimento, valorizando a experiência e a cultura dos profissionais de saúde em situações específicas de trabalho, incentivando uma postura crítica (FREITAS et al., 2015).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A abordagem instrutivo-pedagógica e as metodologias de ensino são intrinsecamente moldadas pelo contexto sócio-histórico, caracterizando-se, portanto, como dinâmicas e em constante evolução. É imperativo incorporar metodologias inovadoras de ensino para moldar profissionais capacitados e prontos para enfrentar os desafios do mercado de trabalho. A introdução de novas tecnologias de aprendizado revela vantagens significativas ao motivar os alunos a serem agentes ativos em seu próprio desenvolvimento educacional, reconhecendo o aprendizado contínuo como uma ferramenta essencial para aprimorar habilidades, expandir possibilidades e trilhar caminhos promissores.

A aplicação das metodologias ativas na educação permanente e continuada amplifica a eficácia do processo de aprendizagem, especialmente quando integrada à rotina do ensino-serviço. Isso transforma o conhecimento em uma ferramenta poderosa, capaz de multiplicar e remodelar realidades. Estas abordagens dinâmicas são universalmente aplicáveis, encontrando particular relevância na área da saúde. De fato, essa área tem adotado metodologias ativas tanto no ensino de graduação e pós-graduação quanto em programas estruturados de treinamento e educação em saúde, em diversas configurações de serviços e comunidades.

A literatura já atesta os resultados positivos da implementação das metodologias problematizadoras no cenário acadêmico da saúde. Este avanço não apenas impulsiona o processo de aprendizado dos alunos, mas também promove uma abordagem mais eficiente e engajada, proporcionando um impacto duradouro e benéfico tanto para os profissionais quanto para as comunidades atendidas. Assim, ao adotar metodologias ativas, o campo educacional da saúde está equipado para capacitar os futuros profissionais com as habilidades necessárias para um mundo em constante transformação.

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1Médica da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMPA).
2Enfermeira. Mestranda em Enfermagem pela Universidade do Estado do Pará (UEPA).
3Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMPA).