Comunicação Breve – Brief Communication
Autora: Dra. Franciele Canever
As alterações posturais em gestantes1-7 e sua prevalência8-12 constituem não só uma questão de Saúde Pública como também são importantes no prognóstico do quadro álgico que pode estar associado13-19.
Sabe-se que a gestante não pode ser avaliada por meio da Radiografia, em função de ser um método invasivo pela irradiação imposta ao examinado20 e poucos estudos abordam de forma quantitativa a postura nesse período. A Fisioterapia dispõe de recursos para avaliar a postura da gestante, além do método Flexicurva9, temos o Software de Avaliação Postural (SAPO)21, Simetrógrafo12, Protocolo de Avaliação Cinético-Funcional da Gestação11 e Biofotogrametria11.
Uma vez que programas de exercícios físicos22 e/ou tratamentos23,24 específicos voltados, para a prevenção25 ou tratamento26,27, de tais alterações posturais podem ser traduzidos em melhora nas atividades desenvolvidas pelas gestantes assim como na prevenção de quedas28,29, proporcionando melhor qualidade de vida24,30,31.
O Método Flexicurva, validado no Brasil no ano de 2006 20 é de fácil utilização para o ambiente clínico e para pesquisas na área da postura humana32. Serve como forma de diagnóstico e indicador de evolução de tratamento em estudos de campo, grandes populações e em idosos33,35, crianças36 e jovens37. Pode ser usado na avaliação das curvaturas da coluna cervical38, torácica 9,32,34,35,39-42, e também no âmbito escolar para detectar possíveis alterações posturais36.
Em 2008, realizamos um estudo em que foi abordada a prevalência de hipercifose em gestantes por meio desse método9. A amostra contou com 43 gestantes do município de Criciúma (SC), com idade entre 19 e 44 anos (entre o 7o e 9o mês de gestação) e identificou por meio do Método Flexicurva, a prevalência de hipercifose torácica e a empregabilidade desse método. A prevalência de hipercifose em gestantes no município de Criciúma no ano de 2008 foi de aproximadamente 14%. O Método Flexicurva apresentou inúmeras vantagens acerca de sua aplicabilidade, verificando alterações da coluna torácica precocemente.
Outros estudos exploraram o Método Flexicurva em diversos campos, citam-se na ordem – autores, ano de publicação, amostra (n) e objetivo:
- a) Fernandes e Lemos (2006, n=72)42
Verificar e correlacionar o grau de cifose torácica em mulheres idosas saudáveis pós-menopáusicas, com osteopenia e com osteoporose, por meio do Método Flexicurva. Não houve diferença angular significativa da cifose torácica.
- b) Teixeira e carvalho (2007, n=56)32
Verificar a validade concorrente e as confiabilidades intra e interavaliador das medidas de cifose torácica utilizando o método flexicurva x radiografia método Cobb. O método Flexicurva demonstrou ser um parâmetro quantitativo excelente para a mensuração da curvatura da cifose torácica.
- c) Reis et al. (2009, n=48)41
Demonstrar a utilização do flexicurva para avaliação e comparação da cifose torácica em mulheres saudáveis de diferentes faixas etárias. Não houve correlação entre dor e grau de cifose torácica.
- d) Bandeira et al. (2010, n=40)34
Comparar a cifose torácica de idosos praticantes de atividade física x sedentários, concluindo que ambos apresentam características similares quanto à cifose torácica.
- e) Regolin e Carvalho (2010, n=95)33
Verificar a relação entre medida angular da cifose dorsal (obtidas pelo método flexicurva), densidade mineral óssea e controle postural em mulheres idosas. Os resultados sugerem que houve influência da medida angular da cifose dorsal e da densidade no controle postural na direção ântero-posterior e na posição ortostática.
- f) Oliveira et al (2012, n=47)39
Verificar a validade e reprodutibilidade do flexicurva x radiografia (Cobb) para mensurar os ângulos das curvaturas torácicas e lombares. Os resultados não demonstraram diferença significativa entre os valores, recomendando o uso do método Flexicurva na prática clínica.
- g) Raupp (2015,n=118)38
O flexicurva mostrou-se um instrumento reprodutível para ser usado pelo mesmo avaliador assim como por diferentes avaliadores, e também se mostrou um instrumento válido para avaliar a curvatura da coluna cervical no plano sagital em indivíduos adultos. Indica a necessidade de mais estudos com diferentes pontos anatômicos para avaliação da validade concorrente com outros métodos de avaliação não-invasiva da coluna cervical.
- h) Gonçalves et al. (2015, n=74)35
Comparar o ângulo da curvatura torácica em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) x indivíduos saudáveis pelo método flexicurva, mostrando-se esse uma ferramenta útil e prática para avaliar a cifose torácica, identificando que não houve diferença entre as curvaturas dos pacientes DPOC com obstrução moderada e dos indivíduos saudáveis.
- i) Sedrez et al. (2016, n=40)36
Determinar a confiabilidade do Flexicurva na avaliação de crianças (idade 5-15 anos), permitindo que seja utilizado no âmbito escolar para detectar alterações posturais precoces. Contudo, para monitorar as curvaturas espinhais no plano sagital em crianças, medidas clínicas complementares são necessárias, sugerindo estudos adicionais.
- j) Ribeiro et al. (2017, n=31)37
Avaliar a validade concorrente do índice de cifose mensurado no flexicurva a partir da correlação com exames de Raios-X em crianças e jovens, porém os valores lineares e angulares obtidos pelo flexicurva não apresentaram correlação com o padrão ouro.
Analisando esses estudos e seus achados, o método dispõe de algumas vantagens:
– instrumento quantitativo9,32
– não expõe o paciente à radiação34, não sendo invasivo34,40
– de fácil aplicabilidade e baixo custo9,34,40
– boa sensibilidade e especifidade, simples e prático9
– possibilita identificar os primeiros achados de possíveis alterações posturais9
A identificação de possíveis alterações na manutenção postural durante o período gestacional, através do método flexicurva, pode auxiliar tanto no tratamento específico como no desenvolvimento de estratégias que permitam uma intervenção preventiva9. Talvez o flexicurva não seja muito explorado pelos fisioterapeutas pela falta de hábito ou escassez de estudos40.
A metodologia para uso do Método Flexicurva está indicada em diversos estudos 9,20,32,34,35,37,39-41. Sobre os avaliadores, um estudo recomenda que as medidas do flexicurva devem ser feitas sempre pelo mesmo avaliador, para evitar erros9, já outro estudo aponta que pode ser aplicado por diferentes avaliadores38.
Sendo o flexicurva um bom instrumento de verificação de supostas alterações da coluna vertebral torácica40, muitos recomendam o uso do Método Flexicurva na prática clínica 32,35,38,39, e também sugerem estudos adicionais36-38 para explorar esse tópico, constituindo um excelente tema em artigos, Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) / Monografias, até mesmo Teses ou Dissertações.
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