METAIS DA AMAZÔNIA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202412210935


Hudson Filipe Vieira Rosas Teixeira,  Jailson Teixeira da Costa, Leonardo Alves de Lima e Souza e Raimundo Nonato Alves da Silva


Resumo

O presente trabalho visa mostrar os minérios que são explorados na Amazônia, ha história da mineração na Amazônia brasileira, seus desafios, tanto tecnológicos, quanto logísticos, suas aplicações na indústria e as novas perspectivas para a exploração sustentável em um ecossistema tão ameaçado e cobiçado.

Palavras chave : Mineração na Amazônia, exploração sustentável.

Abstract

This work aims to show the ores that are explored in the Amazon, the history of mining in the Brazilian Amazon, its challenges, both technological and logistical, its applications in industry and the new perspectives for sustainable exploration in such a threatened and coveted ecosystem.

Keywords : Mining in the Amazon, sustainable exploration.

1. Introdução

A pesquisa feita busca mostrar um pouco da mineração, sua história, seus impactos e suas perspectivas. A mineração é uma das atividades econômicas mais antigas e influentes do mundo, sendo essencial para o fornecimento de matérias-primas indispensáveis à construção, à indústria e ao desenvolvimento tecnológico. Desde a Idade Antiga, quando metais como o ouro e o cobre foram descobertos e passaram a ser utilizados para moedas e utensílios, a mineração se consolidou como um pilar da economia global. Ao longo dos séculos, essa indústria evoluiu, impulsionada pela Revolução Industrial e pela crescente demanda por recursos energéticos e tecnológicos, como carvão, petróleo e, mais recentemente, minerais raros para a fabricação de dispositivos eletrônicos.

No Brasil, a mineração tem raízes profundas e desempenha um papel central na economia desde a colonização, quando o ciclo do ouro atraiu imigrantes e incentivou a ocupação das regiões de Minas Gerais e Goiás. O país possui uma vasta diversidade geológica e abriga algumas das maiores reservas de minério de ferro, bauxita, ouro e manganês do mundo.

Na Amazônia, a mineração é um tema particularmente sensível, pois é uma região rica em minerais, mas também é ecologicamente frágil e de grande importância para a biodiversidade e o equilíbrio climático global. As atividades de mineração na Amazônia frequentemente geram controvérsias devido aos impactos ambientais e sociais, como o desmatamento, a poluição dos rios e o deslocamento de comunidades tradicionais e indígenas. A extração de ouro, muitas vezes realizada de forma ilegal, e o garimpo representam grandes desafios, já que provocam degradação ambiental e geram tensões sobre a regulamentação da exploração mineral em áreas de proteção.

Portanto, a mineração mundial, incluindo a brasileira e a amazônica, ilustra um cenário de constante balanço entre o desenvolvimento econômico e a responsabilidade socioambiental. A busca por alternativas sustentáveis e tecnologias menos agressivas ao meio ambiente está em curso, visando conciliar a exploração dos recursos minerais com a preservação dos ecossistemas e o respeito às populações locais.

2. Mineração no Mundo

Na Escandinávia encontram-se as minas gigantescas de Kiruna e Malberget, da LKAB, na Suécia, onde se registrou grande desenvolvimento de técnicas de planejamento de Mina, de mineração de larga escala, de desenvolvimento de equipamentos e de automação. O país é uma referência em termos de fabricação de equipamentos móveis através da Atlas Copco e Sandvick. Os trabalhos de pesquisa e formação de pessoal realizados pela Universidade de Lulea são de ótima qualidade. Na Finlândia, as minas de sulfetos polimetálicos foram os locais de maior desenvolvimento tecnológico, em particular as minas do grupo Outokumpu. Cita-se o grupo Tamrock, fornecedor de equipamentos móveis. Na América do Norte, em especial no Canadá, houve um grande desenvolvimento da mineração de rocha dura, em especial no cinturão do Abitibi, entre as províncias de Ontario e Quebec. As operações da Inco, da Noranda e da Falconbridge apresentam alto padrão tecnológico. Na costa Oeste, há várias operações em rocha mole, principalmente para extração de sal e alguma mineração de urânio. O país dispõe, também, de um parque de fornecimento de equipamentos e serviços bastante desenvolvido. As iniciativas do Estado e a conjugação dos esforços de várias empresas privadas no estudo de alguns problemas, como geoestatística, análise econômica, diluição, análise de estabilidade, reforço dos maciços, entre outros temas, sempre em estreita associação com as universidades, têm permitido o estabelecimento de centros de referência, tais como a University of Toronto, a McGill University, a Queen’s University e a University of British Columbia. Os canadenses merecem também ser citados pelo modelo organizacional de suas minas e suas relações de trabalho. Os Estados Unidos da América apresentam grande desenvolvimento, em particularna mineração de carvão, notadamente no meio Oeste americano. A mineração subterrânea de ouro já foi bastante desenvolvida, hoje predominam as minas a céu aberto do Carlin Trend, em Nevada. Os estudos de ventilação e reforço, desenvolvidos pelo Bureau of Mines entre os anos 1950 e 70, merecem registro. A Colorado School of Mines e a Universidade da Pensilvânia estão entre as referências acadêmicas mais importantes. O parque fornecedor de equipamentos móveis é muito desenvolvido. O Chile é uma referência importante pela mineração de cobre, respondendo por cerca de 30% da produção mundial, em alguma parte a partir de minas subterrâneas. Destacam-se as minas da Codelco, estatal chilena de cobre, que estão entre as operações em subsolo de maior escala. A África do Sul, cuja produção de ouro está em declínio, ainda é uma referência muito importante na mineração de rocha dura, ocupando lugar de destaque também na mineração de diamantes e platina. Várias das minas sul-africanas estão hoje com trabalhos abaixo de 3000m de profundidade. Os desafios que levaram ao entendimento das condições de trabalho a estas profundidades trouxeram grande desenvolvimento tecnológico, em particular no que diz respeito aos fenômenos ligados à mecânica das rochas e ventilação; citam-se os trabalhos do CSIRO e da Mine Ventilation Society of South Africa nestas áreas. As dificuldades de extração a partir de altas profundidades fizeram com que os sul-africanos se tornassem especialistas na escavação e no desenvolvimento de equipamentos para este fim. Este último mercado vem sendo dominado mais recentemente por empresas escandinavas, alemãs e americanas como a ABB, Siemens e Nordberg. Os sulafricanos foram também, no passado, referência por seus modelos organizacionais.

Destacam-se também as estruturas de funcionamento e de certificação de pessoal da Chamber of Mines. As operações de empresas como a Rio Tinto, Anglo American e Gencor estão em conformidade com os melhores padrões internacionais. A Austrália também ocupa posição importante no contexto da mineração subterrânea atualmente. As minas são, em geral, de alta produtividade, com o uso de métodos e técnicas modernas de planejamento e operação. Está na Austrália o mercado de software para mineração mais concorrido do mundo. Vale a pena citar os estudos desenvolvidos pela AMIRA, em grande parte financiados por fundos constituídos pelas empresas mineradoras. A University of Queensland e a University of Western Australia são referências acadêmicas de primeira linha, atuando em estreita cooperação com a indústria. A relação de trabalho nas minas australianas é também digna de nota, por ser única e muito sujeita às condicionantes de operações em locais remotos. Na mineração de rocha mole, a Alemanha é uma referência importante por suas minas de carvão e sal e como fornecedora de equipamentos móveis. A Inglaterra também deve ser destacada, uma vez que formou a maior parte da mão-de-obra especializada que por muitos anos desenvolveu os trabalhos na porção mais meridional da África, na Austrália e em outros países. A mineração de carvão ocupou lugar importante até há alguns anos. Ainda hoje, várias das empresas de engenharia com competência para trabalhos em subsolo estão situadas no país.

Ao longo da nossa história, com o incremento na ocupação do território e no conhecimento geológico, novas descobertas de depósitos foram sendo feitas e a mineração manteve sua importância. Atualmente o Brasil é reconhecido como um dos principais produtores de minérios do mundo, produzindo aproximadamente 70 substâncias minerais diferentes, segundo a ANM (Agência Nacional de Mineração).

As principais empresas do país de acordo com cada commoditie, são:

  • Alumínio: Mineração Rio do Norte S.A (PA) – 43,05%; Mineração Paragominas S. A (PA) – 35,44%; Alcoa World Alumina Brasil Ltda (PA) – 16,78%.
  • Cobre: Salobo Metais S.A (PA) – 52,32%, Vale S.A. (PA) – 22,30% e Mineração Maracá Industria e Comercio S.A. (GO) – 21,12%.
  • Estanho: Mineração Taboca S.A. (AM) – 47,47% e Coopermetal Coop Metalurgica de Rondonia Ltda (RO) – 12,07%.
  • Ferro: Vale S.A. (MG/PA) – 77,29%, Congonhas Minérios S.A. (MG) – 7,93% e Anglo American Minério de Ferro Brasil S.A. (MG) – 5,74%.
  • Manganês: Vale S.A. (MG/PA) – 47,65%; Mineração Corumbaense Reunida S.A. (MS) – 23,93% e Mineração Buritirama S.A. (PA) – 23,02%.
  • Nióbio: Niobras Mineração Ltda (GO) – 50,05%, Companhia Mineradora do Pirocloro de Araxá (MG) – 42,50% e Mineração Taboca S.A. (AM) – 2,89%.
  • Níquel: Anglo American Níquel Brasil Ltda. (GO) – 58,05%; Vale S.A. (PA) – 28,30% e Votorantim Metais S.A. (GO) – 9,64%.
  • Ouro: Kinross Brasil Mineração S.A. (MG) – 22,34%; Anglogold Ashanti Córrego do Sítio Mineração S.A. (MG) – 19,27%; Salobo Metais S.A. (PA) – 7,59%; Beadell Brasil Ltda (GO) – 7%; Mineração Serra Grande S.A. (AP) – 6,24% e Jacobina Mineração e Comércio Ltda (BA) – 5,54%.

As principais reservas de minério estão localizadas nas regiões Sudeste (Minas Gerais e São Paulo), Norte (Pará, Rondônia e Amazonas) e Centro-Oeste (Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul). Há no país mais de 3 mil minas (159 de grande porte), ou seja, uma jazida em lavra distribuídas por mais de 8 mil mineradoras (empresas que detém o direito de minerar).

Tudo o que o Brasil produz de recursos minerais é apresentado pela ANM (Agência Nacional de Mineração) no Anuário Mineral Brasileiro.

3. Mineração no Brasil

As primeiras catas ou garimpos foram feitos em São Paulo, em São Vicente, no Vale da Ribeira, e os bandeirantes paulistas espalharam-se depois por Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. O ouro e os diamantes dos aluviões eram retirados manualmente com pás, lançando-se em calhas, depois bateados, sendo que os rejeitos eram lançados manualmente em locais próximos. Os veios que penetravam nas encostas eram perseguidos por galerias perfuradas com ponteiros e malhos e, quando necessário, eram detonados também com pólvoras caseiras. O minério era em seguida carregado igualmente por pás em carrinhos de mão. Os poços verticais ou inclinados, que se faziam necessários para acompanhar as camadas ou veios, eram perfurados da mesma forma, sendo o minério içado em baldes de madeira por sarilhos manuais. O transporte mais longo era feito em carroções por tração animal. As aberturas eram sempre de seções acanhadas, pouco iluminadas, dificultando o trabalho e causando danos à saúde dos operários (a maioria escravos) que nelas trabalhavam. A falta de conhecimento geológico dificultava sobremaneira o trabalho. As primeiras lavras mais sofisticadas foram as de ouro, que apareceram com a abertura da Mina da Passagem, em Mariana, em 1819, pelo Barão de Echewege.

A indústria cimenteira começou lavrando as ocorrências de calcário nos arredores de São Paulo, que alimentaram a primeira fábrica em Perus. Deslocou-se depois para Minas Gerais e o Nordeste e está presente hoje em quase todos os estados do Brasil. As primeiras lavras de carvão foram iniciadas na década de 1860 por famílias de ingleses trazidas pelo engenheiro de minas James Johnson, que obteve a primeira concessão abrindo a mina de Arroio dos Ratos no Rio Grande do Sul. As minerações de Scheelita no Nordeste foram implantadas pelos engenheiros americanos da Vachang, atendendo ao esforço de guerra. A US Steel Co. lavrou todo manganês de sua mina de Lafaiete, em Minas Gerais, com o método glory hole, exportando todo o minério pelo Porto do Rio de Janeiro. Outras pequenas lavras de manganês foram implantadas no quadrilátero ferrífero, e ainda deixam marcas indeléveis nas encostas de Minas. A lavra das piritas de Ouro Preto era a única fonte de enxofre existente para abastecer a fábrica de explosivos do exército. A partir de 1942 foi iniciada, ainda de forma muito rudimentar a lavra de hematitas roladas nas encostas do Cauê, da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), em Itabira, assistidas por técnicos americanos impostos pelo Banco Mundial, desde a constituição da empresa. Mas os melhores exemplos de introdução de lavra em fatias da década de 40 ocorreram na mina de carvão de Siderópolis, em Santa Catarina, a cargo da Cia Siderúrgica Nacional – CSN – e na mina de Treviso. As minas eram destinadas a abastecer o Lavador de Capivari em Tubarão, para a produção de carvão metalúrgico e para alimentar os modernos fornos da CSN. Na mina de Siderópolis, seguindo um projeto americano, foi implantada a Dragline Marion (skid mounted) de 32jc que foi por muito tempo a máquina de maior porte operando em minas brasileiras. Quase ao mesmo tempo foi absorvida pela CSN, via desapropriação, a mina de Casa de Pedra, em Congonhas, que havia sido implantada por mineradores escandinavos. Ela foi modernizada em seguida, produzindo minério bitolado e lump para os fornos Siemens Martins daquela Siderúrgica. Na década de 1950, foi implantada pela ICOMI, associada à Betlehem Steel, a mina de manganês, no Amapá, e iniciada também a nova fase de modernização das minas de Itabira, já com técnicos brasileiros e americanos, tendo-se introduzido a perfuração com Churn Drills de 9”,desmonte com ANFO, Escavadeiras Bucyrus Elétricas de 2 1/2jc e caminhões fora de estrada de 22, 27 e 34t. A partir daí, a CVRD continuou sendo pioneira nas décadas de 1960 e seguintes introduzindo, a partir de 1963, a perfuração down the hole de 6 ¾” e rotativas de 9 7/8”. Em 1968, foi testada a utilização de lamas explosivas mas optou-se, posteriormente, pelo ANFO, por ter velocidade de detonação mais compatível com as rochas. Foram incorporadas as escavadeiras elétricas de 6 e 9jc e caminhões fora de estrada de 45, 65 e caminhões diesel elétricos de 100 e 120t, cujo desenvolvimento era recente na América do Norte.

As lavras dos aluviões com dragas de alcatruz, tanto no Rio das Velhas como no Rio Jequitinhonha, em Minas Gerais, firmaram no Brasil esta tecnologia de mineração. Estas dragas foram importadas quase que integralmente das antigas lavras em operação na Califórnia na década de 1930. Uma importante melhoria aconteceu na década de 1960, nas lavras subterrâneas nas minas do Grupo Penarroya de Boquira, na Bahia, e Plumbum, em Panelas, no Paraná. Nessas, foram aplicadas com sucesso as técnicas francesas de lavra em veios estreitos utilizando o método de lavra por sub-nível com posterior enchimento por rejeitos secos da concentração, obtendo-se com isto elevadas taxas de recuperação na lavra. Ao mesmo tempo, as minas de Camaquã, no Rio Grande do sul, foram melhor conduzidas com a cooperação técnica trazida por engenheiros de minas japoneses da Mitsubishi. Na lavra dos aluviões ricos de estanho de Pitinga, Amazonas, na década de 1980, foram introduzidas na mineração brasileira, as dragas do tipo Elicot. A partir dos anos de 1950, as pequenas operações e extração de argilas e areias puderam ser lavradas com mais seletividade devido ao uso de pequenas retroescavadeiras e pás carregadeiras. O Projeto da Mineração Rio do Norte, no Pará, no final dos anos 70, foi liderado inicialmente pela Aluminium Company of Canadá- Alcan. Evitando- se a sua desistência, a CVRD assumiu a gestão da joint venture internacional e fez dele um exemplo de moderna implantação de lavra por fatias com draglines e retroescavadeiras de grande porte, a partir de um projeto nacional. Outro exemplo importante, foi a implantação do projeto da lavra subterrânea de calcário da mina de Santa Helena em Sorocaba, São Paulo, hoje paralisado. Este projeto recebeu contribuição de tecnologia finlandesa e constitui-se ainda na única operação subterrânea de calcário para cimento no Brasil. Enquanto as operações de lavra a céu aberto ocorriam ainda em em escala reduzida, eram pequenas as agressões ao ambiente , somente a mineração da Aluminium Company of América- Alcoa em Poços de Caldas, Minas Gerais, foi destaque na introdução de técnicas de recuperação de áreas mineradas. Foi seguida depois pela Cia Brasileira de Mineração e Metalurgia– CBMM em Araxá, Minas Gerais, mas só a partir do último lustro do século passado foi imperativo que as lavras atendessem à nova regulamentação, dedicando um maior cuidado às questões ambientais. Um grande número de pequenas lavras de aluviões e, especialmente, a desorganização devido à proliferação dos garimpos – o de ouro, de Serra Pelada, e o de cassiterita em Ariquemes, Rondônia – continuam agredindo o meio ambiente ainda hoje, desrespeitando as autoridades constituídas, que têm sido incapazes de coibir esta indisciplina. A primeira experiência de aplicação de método de lavra subterrâneo de alta produtividade como sub level caving (abatimento por sub-níveis) foi feita pela Ferbasa no Oeste Baiano no final dos anos 70, recebendo a contribuição dos engenheiros de minas finlandeses. Outro exemplo de moderna mina subterrânea, aplicando o método de câmaras e pilares, é a mina de Taquari-Vassouras, implantada pela Petrobrás e assistida por técnicos franceses no início dos anos 80, estando presentemente arrendada para a CVRD, que a modernizou colocando-a em níveis de produtividade internacional.

4. Mineração na Amazônia

A Amazônia corresponde a uma das maiores regiões da Terra — ainda desconhecida — com potencialidade para a descoberta de bens minerais. Os primeiros empreendimentos, na década de 1960, tinham como diretriz básica a busca do desconhecido. Apesar das limitações ainda existentes ao conhecimento do seu subsolo, os programas de geologia das últimas décadas revelaram uma considerável variedade de ambientes geológicos, com potencialidade para depósitos minerais, desde os utilizados intensivamente pela indústria moderna até os mais valiosos.

Sabe-se que os minerais se acham distribuídos em todas as rochas da crosta terrestre, mas apenas são passíveis de exploração pelo homem quando encontrados em concentrações que permitam o seu aproveitamento econômico com a tecnologia disponível. As jazidas não ocorrem de forma aleatória, mas estão associadas a rochas ou a sequência de rochas que, durante a sua formação ou evolução, apresentaram condições físico-químicas bastante favoráveis para a concentração e retenção do elemento de interesse econômico. A seleção dos ambientes geológicos com potencialidade mineral corresponde ao primeiro cuidado de qualquer programa de prospecção. Para se vislumbrar o significado do potencial da Amazônia, deve-se contemplar a avaliação de seus ambientes geológicos, antes de simplesmente repassar as estatísticas de sua produção mineral atual.

Ao analisarmos as áreas potenciais da Amazônia, temos que ter em conta que a configuração da Amazônia, como parte integrante do continente sul-americano, ocorreu em tempo geológico relativamente recente, a partir de 150 milhões de anos atrás. Grande parte de sua crosta foi consolidada quando a América do Sul ainda pertencia ao continente gondwânico, junto com a África, Antártida, Austrália e Índia. Por outro lado, a gênese de muitos de seus depósitos, como os de petróleo, gás, bauxita e caulim, está relacionada às mudanças estruturais e ambientais que ocorreram com a deriva do continente sul-americano, que também foram responsáveis pelo surgimento da cadeia andina e pela inversão das águas no vale amazônico.

Em termos mundiais, a maioria dos depósitos minerais metálicos está situada em terrenos pré-cambrianos, pertencentes ao mais longo período de formação da crosta terrestre, do início da solidificação do planeta até 570 milhões de anos atrás. As condições físico-químicas nesse período particularmente na fase inicial do Arqueano, há mais de dois bilhões de anos eram bastante diferentes das de hoje, com a crosta bem menos espessa, o que propiciava a ascensão de metais das zonas mais profundas da Terra.

Na Amazônia, as áreas de pré-cambriano correspondem a cerca de 40% do seu território. As suas seqüências vulcano-sedimentares (do tipo greenstone belt ou não), intrusões graníticas, derrames vulcânicos ácidos e intermediários, complexos alcalino-ultrabásicos e básico- ultrabásicos, e coberturas sedimentares apresentam potencialidade para uma grande variedade de depósitos minerais, tais como ferro, manganês, alumínio, cobre, zinco, níquel, cromo, titânio, fosfato, ouro, prata, platina, paládio, ródio, estanho, tungstênio, nióbio, tântalo, zircônio, terras- raras, urânio e diamante. Deve ser salientado que boa parte dos depósitos minerais, embora relacionados a rochas pré-cambrianas, foram formados através de processos de enriquecimento laterização, erosão e concentração — em tempos mais recentes, do Terciário ao Quaternário.

As concentrações residuais de óxidos de manganês, descobertas na serra do Navio atual estado do Amapá — na década de 1940, deram origem à primeira mineração da Amazônia. As minas, abertas em meados da década de 1950, encontram-se em fase final de exploração. Atualmente, os depósitos de minério de manganês com maior expressão econômica situam-se na região de Carajás. Ocorrências menores são conhecidas há várias décadas, na região do rio Sucunduri, no estado do Amazonas.

Os primeiros depósitos de sulfetos de cobre da Amazônia foram descobertos na região de Carajás, na década de 1970. Recentemente, nas proximidades de Aripuanã, no extremo noroeste do estado de Mato Grosso, foram descobertas significativas ocorrências de sulfetos de zinco, com cobre e ouro subordinados.

Os garimpos de ouro, que no século XIX desenvolveram-se apenas em duas áreas do Amazonas (Amapá e Gurupi), começaram a adquirir importância produtiva na década de 1960, com a descoberta dos aluviões do Distrito Aurífero do Tapajós, situado no sudoeste do estado do Pará. Entretanto, somente no início da década de 1980, com a descoberta de ouro na região de Carajás, é que se alastrou uma grande “corrida do ouro”, que ultrapassou as fronteiras da Amazônia brasileira, envolvendo quase um milhão de garimpeiros. A explosão dessa atividade garimpeira foi motivada por vários fatores, destacando-se o agravamento da miséria de boa parte da população brasileira, principalmente a rural e nordestina, decorrente da falta de uma solução adequada para a questão agrária. A elevação do preço do ouro — ampliada no Brasil, até poucos anos atrás, pela diferença excessiva entre as cotações do dólar oficial e do mercado paralelo o atrativo despertado pela ampla divulgação na imprensa da descoberta de depósitos ricos como serra Pelada e a complacência — e mesmo um certo estímulo — das autoridades governamentais, durante a década passada, foram fatores que também contribuíram para a expansão da atividade garimpeira por toda a Amazônia.

Entretanto, devido à exaustão dos depósitos superficiais mais ricos, acompanhada pela queda do preço do ouro e sensível redução da diferença cambial, esse modelo social e econômico de ocupação da Amazônia encontra-se em rápido declínio.

Muitos dos depósitos auríferos secundários eluviões, aluviões ou leitos dos rios estão relacionados com jazimentos primários passíveis do aproveitamento econômico. Parte dos empresários do garimpo, desde que com orientação e políticas adequadas, poderão transformar- se em pequenos ou médios mineradores. Algumas tentativas governamentais nesse sentido foram implementadas na “Reserva Garimpeira do Tapajós”, mas ainda sem resultados expressivos. Essa região foi responsável, nos últimos trinta anos, por uma produção da ordem de 400 toneladas, a maior de toda história do Brasil resultante de atividade artesanal. Houve mais de mil locais com atividade garimpeira, distribuídos numa área da ordem de 80 mil quilômetros quadrados. Apesar disso, os geólogos brasileiros estão divididos quanto à real potencialidade da região: uns acreditam que os indícios são muitos fortes para a existência de grandes depósitos; outros lembram que, como ocorreu na “corrida de ouro” do Alasca, uma infinidade de pequenos depósitos primários podem dar origem a concentrações residuais muito ricas.

Contudo, seja qual for o resultado empresarial da produção de ouro na Amazônia, os milhares de migrantes que foram atraídos pela “febre do ouro” da década passada estão engrossando as legiões dos “sem terra”, que clamam por uma solução para a questão agrária, num país com dimensões continentais, mas onde as elites dominantes, desde o tempo das “capitanias hereditárias”, têm na posse de grandes extensões territoriais uma das formas de seu poder político. O garimpo na Amazônia correspondeu a simples paliativo, apenas adiando por duas décadas conforme já era previsível na época a necessidade de uma solução para a questão agrária.

Além da reserva do Tapajós, a atividade garimpeira foi mais atuante ao sul de Carajás (Andorinhas, Tucumã e Cumarú), na região do rio Gurupi, no Amapá, no norte do estado de Mato Grosso (Juruena e Teles Pires), no alto rio Negro (Cabeça do Cachorro), em Rondônia (rio Madeira) e em Roraima (Surucucus e vizinhanças).

Ao sul de Carajás, o ouro está associado a seqüências de greenstone belts. Algumas ocorrências estão sendo pesquisadas por empresas, como as situadas nas proximidades da serra das Andorinhas. Também há pesquisa empresarial na região do Gurupi. Entretanto, apenas no antigo garimpo do Lourenço, no Amapá, houve atividade produtiva por empresa de mineração.

Os ricos aluviões estaníferos de Rondônia foram responsáveis pela primeira “corrida garimpeira” da Amazônia, na década de 1960 — cerca de 10 mil garimpeiros estiveram envolvidos na produção de cassiterita, número bastante expressivo para a época. No final de década, a garimpagem foi proibida pelo governo federal, passando a produção para a mineração empresarial.

Na década de 1970, surgiram novos distritos estaníferos na Amazônia. Nas proximidades do rio Xingú, a oeste de Carajás, no estado do Pará, a descoberta foi feita por empresas de mineração, mas houve invasão garimpeira temporária. Posteriormente, a exploração foi completada por mineradoras. Na serra de Surucucus, no extremo oeste do estado de Roraima, na fronteira com a Venezuela, a descoberta foi consequência de levantamentos radarmétricos realizados pelo governo federal. A invasão garimpeira ocorrida em 1976 correspondeu ao primeiro contato de atividade produtiva capitalista com os índios ianomâmis. Por ser um contigente pequeno, da ordem de 800 pessoas, foi possível a rápida desativação do garimpo, sem grandes sequelas para os ianomâmis – isso ocorreu com a “corrida do ouro” da década seguinte.

Somente no início dos anos 1980 é que foram descobertos os mais expressivos depósitos de cassiterita da Amazônia. A jazida do Pitinga, no estado do Amazonas, está em produção por uma empresa de mineração e a de Bom Futuro, no estado de Rondônia, continua com atividade garimpeira, apesar dos esforços governamentais para regularizar uma atividade empresarial.

A sensível queda do preço do estanho no mercado internacional tem desestimulado a abertura de minas, bem como a busca de novos depósitos.

Os corpos graníticos da Amazônia também são potenciais para depósitos de zircônio, nióbio, tântalo, tungstênio e terras-raras. Na mina do Pitinga há mineralizações associadas de columbita-tantalita, zirconita e criolita. No sudeste do estado do Pará há pequenos depósitos de volframita, que foram explorados parcialmente através da garimpagem.

Na Amazônia são conhecidos três complexos alcalino-ultrabásicos potenciais para depósitos de titânio, fosfato, nióbio e terras-raras: Seis Lagos, no estado do Amazonas, e Maicuru e Maraconaí, no estado do Pará. Em Seis Lagos há um grande potencial em nióbio. O complexo de Maicuru está associado a um corpo de cabornatito; além de suas reservas de fosfato, há um considerável potencial em titânio, mas sob a forma de anatásio, mineral para o qual ainda não há tecnologia que permita o seu aproveitamento industrial em bases econômicas].

Há vários complexos básico-ultrabásicos potenciais para depósitos de níquel, cromo, platina e platinóides. No estado do Amapá, nas proximidades do rio Vila Nova, foi implantada pequena mina de cromita, destinada à produção de ferro-liga].

Os processos de laterização em rochas pré-cambrianas podem levar à formação de depósitos de bauxita: há ocorrências associadas a rochas graníticas e a rochas básicas. Todavia, não foram objeto de maior interesse econômico, em função das jazidas de minério de alumínio de excelente qualidade — derivadas de rochas cretáceas ou terciárias situadas nas proximidades do rio Amazonas.

No passado, houve garimpos de diamante no rio Tocantins, nas proximidades da cidade de Marabá. Hoje, a pequena produção de diamante está restrita à atividade garimpeira no norte de Roraima, na fronteira com a Venezuela, e à pequena mineração no estado de Mato Grosso.

Há notícias de ocorrências de mineralizações primárias de diamante, associadas a kimberlitos, sem haver, contudo, produção].

Muitos dos corpos graníticos da Amazônia apresentam características físicas que permitem o seu aproveitamento como rocha ornamental ou de revestimento. As áreas mais próximas dos meios de transporte poderão vir a ser lavradas para competir no promissor mercado internacional.

Depósitos de calcário de idade pré-cambriana são conhecidos no norte do estado do Tocantins e no sudeste do Pará, nas proximidades do rio Araguaia. Apresentam composição calcítica ou dolomítica, havendo possibilidade de sua utilização como insumo destinado à fabricação de cimento ou à indústria metalúrgica, bem como para corretivo de solos.

Programas realizados pela Petrobrás, nas últimas duas décadas, levaram à localização de depósitos de óleo e gás. As descobertas mais significativas ocorreram na região dos rios Juruá (gás) e Urucu (gás e óleo), na sub-bacia do alto Amazonas.

Entretanto, alguns especialistas em prospecção de petróleo acreditam que as possibilidades da região, principalmente para gás, são bem maiores que as detectadas até o presente. Esta conclusão é baseada na existência de condições para a geração e acumulação comercial de hidrocarbonetos. Chegam a ampliar a possibilidade de sucesso inclusive para as sub-bacias do médio e baixo Amazonas.

Do Paleozóico, há na Amazônia consideráveis depósitos de calcário, associados a seqüências do Carbonífero. Esses depósitos têm sido pesquisados para a fabricação de cimento; porém, poderão vir a ter importância como corretivo de solos, quando houver um programa de desenvolvimento sustentado que possibilite o aproveitamento seletivo dos solos da Amazônia, particularmente junto à calha do grande rio.

Os sedimentos químico-evaporíticos do Carbonífero superior apresentam horizontes de salgema, sais de potássio, anidrita e gipsita. Os depósitos de evaporitos estão recobertos por sedimentos mais recentes e foram localizados através de sondagens da Petrobrás na sub-bacia do médio Amazonas, em profundidades que variam de 400 a 1.000 metros. Foram interceptados tanto na borda sul — região de Nova Olinda — Maués e Tapajós — como na borda norte da

bacia — região do Nhamundá e Trombetas. Nas proximidades de Nova Olinda, em Fazendinha, a Petrobrás pesquisou expressivos depósitos de sais de potássio, associados a salgema].

Na bacia do Parnaíba, há leitos de calcário e gipsita associados às seqüências clasto- químicas permianas.

O Mesozóico (230 — 65 M.A.), na bacia do Amazonas, foi marcado por prolongada erosão até o início dos tempos cretáceos. Assim, os registros desse período estão restritos às manifestações vulcânicas básicas, preservadas sob a forma de sills e diques de diabásio.

Na bacia do Parnaíba, as coberturas mesozóicas estão bem distribuídas, merecendo destaque a sedimentação cretácea.

Uma deposição sedimentar com características continentais, predominantemente flúvio- lacustre, cobriu extensas áreas das bacias do Amazonas e Parnaíba, bem como das bacias costeiras. Como essa sedimentação teve início no Cretáceo, a perfeita caracterização dessa cobertura ainda não é uma questão resolvida, persistindo dúvidas quanto à estratigrafia e à nomenclatura, particularmente nas sub-bacias do médio e do baixo Amazonas, e na plataforma Bragantina no leste do estado do Pará.

Na sub-bacia do alto Amazonas, essa sedimentação apresenta horizontes extensos de linhito, mas geralmente de pequena espessura e baixa qualidade, o que impede o seu aproveitamento econômico].

A Amazônia é uma região rica em diversos tipos de minérios, que são extraídos para diferentes aplicações industriais. Os principais minérios encontrados na Amazônia e suas aplicações incluem:

Bauxita: Composição: Mineral composto principalmente de óxidos de alumínio. Aplicações: A bauxita é a principal fonte de alumínio, utilizado na fabricação de metais, como em alumínio para a indústria automotiva, aeronáutica, construção civil, embalagens, e utensílios domésticos.

Ouro: Composição: Metal precioso, encontrado em forma de pepitas ou em minérios auríferos. Aplicações: O ouro é amplamente utilizado na fabricação de joias, moedas, e em processos eletrônicos como condutores em circuitos de alta qualidade. Também é usado em investimentos financeiros e como reserva de valor.

Cassiterita (Estanho): Composição: Mineral de estanho. Aplicações: O estanho é utilizado em ligas metálicas, especialmente na fabricação de soldas, além de ser importante para a produção de latas de alimentos e bebidas, bem como em componentes eletrônicos.

Ferro Composição: Mineral rico em ferro (principalmente hematita e magnetita). Aplicações: O ferro é utilizado principalmente na produção de aço, que é fundamental para a construção civil, indústria automobilística, infraestrutura, e máquinas pesadas.

Diamantes Composição: Carbono cristal. Aplicações: Os diamantes são usados para a fabricação de joias de alto valor, além de terem aplicações industriais como cortadores, brocas, e em ferramentas de precisão devido à sua dureza.

Nióbio: Composição: Metal raro e leve, utilizado em ligas metálicas. Aplicações: O nióbio é utilizado em ligas de aço de alta resistência, especialmente na fabricação de componentes para a indústria aeroespacial, além de ser usado em supercondutores, turbinas e outros equipamentos de alta tecnologia.

Cobre: Composição: Metal encontrado em minérios como calcopirita e bornita. Aplicações: O cobre é amplamente utilizado em fiação elétrica, circuitos eletrônicos, tubos, e equipamentos de aquecimento devido à sua excelente condutividade elétrica.

Carvão Mineral: Composição: Combustível fóssil formado por matéria orgânica de plantas. Aplicações: O carvão mineral é usado como fonte de energia em usinas termelétricas, indústrias metalúrgicas para produção de ferro e aço, e em processos de geração de calor.

Manganês: Composição: Metal encontrado principalmente na forma de pirolusita. Aplicações: O manganês é essencial para a produção de aço, atuando como um desoxidante e melhorando a resistência do aço. Também é utilizado em baterias e em ligas metálicas.

Calcário: Composição: Mineral composto principalmente por carbonato de cálcio. Aplicações: O calcário é utilizado na fabricação de cimento, como corretivo de solos na agricultura, e na indústria química para produção de cal e outros produtos.

Titânio: Composição: Mineral de titânio como rutilo e anatásio. Aplicações: O titânio é utilizado principalmente na indústria aeronáutica e espacial, devido à sua leveza e resistência à corrosão. Também é usado em implantes médicos, pigmentos para tintas e em ligas metálicas.

Cromo: Composição: Mineral como cromita. Aplicações: O cromo é utilizado principalmente na produção de aço inoxidável, além de ser usado em galvanoplastia, como corante e na fabricação de ligas especiais.

A exploração de minérios na Amazônia, no entanto, gera questões ambientais e sociais significativas, como o desmatamento e o impacto sobre as comunidades indígenas e locais. É fundamental que a extração desses recursos seja feita de maneira sustentável, para equilibrar o desenvolvimento econômicos.

5. Impactos ambientais e sociais

Apesar de ser uma atividade primordial ao desenvolvimento de uma sociedade, a mineração está associada a diversos impactos ambientais negativos. Quando feita sem planejamento e sem fiscalização, pode provocar graves danos ao meio ambiente.

Há no Brasil diversos órgãos destinados à fiscalização, concessão, cumprimento das legislações e exploração dos recursos minerais, como o Ministério do Meio Ambiente, o Ministério de Minas e Energia, o Serviço Geológico do Brasil, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente Recursos Naturais Renováveis. Contudo, é válido ressaltar que manter a integridade das áreas destinadas à mineração, bem como as questões de segurança é dever da empresa mineradora. Os projetos a serem implantados pelas mineradoras devem considerar, então, todo e qualquer impacto a ser provocado no meio ambiente.

Quando a atividade é realizada de maneira irregular, podem ocorrer problemas como poluição e contaminação dos recursos hídricos, poluição e contaminação dos solos, poluição do ar, possíveis áreas degradadas, transtornos à população da região, alteração da geologia da área devido à abertura de cava para exploração, favorecimento de erosões (voçorocas e assoreamentos), perda da vegetação, fauna comprometida, dentre outros.”

Um grupo de pesquisadores, lideranças comunitárias, sindicalistas, representantes de movimentos sociais e ambientais que, vindos de vários estados do Brasil (Ceará, Maranhão, Pará, Rio de Janeiro, São Paulo) e de vários países do mundo (Argentina, Canadá, Chile, Moçambique e Peru), reuniu-se para integrar a itinerante Caravana Sistema Norte. Em um micro-ônibus, o grupo percorreu as estradas do Pará e do Maranhão entre os dias 5 e 11 de abril deste ano, para conhecer de perto os impactos do ciclo de mineração e metalurgia nesses estados e também para trocar experiências com as populações, comunidades e trabalhadores, cujos

direitos e formas de vida são atingidos por essas atividades.  Experiências negativas que os integrantes da Caravana já conheciam pela forma como as atividades de mineração foram implantadas em suas terras de origem. E por isso, tiveram a importante tarefa de compartilhar suas experiências e histórias de injustiças, lutas e resistências com os integrantes da Caravana Sistema Sul – grupo de mesma natureza e objetivos que percorreu cidades de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, no mesmo período – e com os participantes do I Encontro Internacional dos Atingidos pela Vale .

Esta mineradora multinacional é a empresa que possui maior atuação nas regiões visitadas pelas duas Caravanas e seus impactos têm natureza análoga às de outras indústrias de extração e beneficiamento de minério. As Caravanas escolheram Minas Gerais e Pará como estados a serem visitados não por acaso. Em 2007, Minas Gerais foi responsável por 56,6% do total de operações de extração mineral do país (sem incluir beneficiamento), enquanto que o Pará respondeu por 25,5% . Apesar da importância mineral de Minas Gerais ser superior no contexto nacional, o estado é menos dependente da extração mineral do que o Pará. Em Minas, a indústria de extração mineral (também desconsiderando o beneficiamento) equivale a 3,9% do valor bruto da produção; no Pará a mineração responde por 9,3%3 e a extração se reduz a poucos tipos de minério (em 2007, 61% do minério extraído era ferro, 16% alumínio e 14% cobre). Da mesma forma, existe uma forte concentração das mineradoras no Pará: em 2005, a produção mineral comercializada foi de R$ 6,9 bilhões, sendo a Vale responsável por 77,8%, a Mineração Rio do Norte (sociedade formada pela Vale, Rio Tinto Alcan, BHP Billiton, Companhia Brasileira de Alumínio/Votorantim, Alcoa e Hydro) 4 15,6% e a Imerys 4,6%5 .

Dizem que mineração traz desenvolvimento e riqueza. Mas, o que a caravana constatou é que não é para todos e nem por muito tempo. De fato, a mineração é uma atividade insustentável, uma vez que depende da extração de recursos naturais não-renováveis. Em muitos casos, ela é associada ao ciclo boom-colapso: após uma fase de elevada atividade econômica, o fim da mina significa a decadência econômica e social da região. Por exemplo, na Serra do Navio (estado do Amapá) a Indústria e Comércio de Minérios S/A explorou uma mina de manganês por 44 anos (entre 1953 e 1997). A empresa construiu usina de beneficiamento, porto, estrada de ferro e vilas. Entretanto, depois que as reservas foram exauridas, a companhia fechou a mina e as vilas se esvaziaram. Sobrou uma pequena comunidade de pescadores; 1,8 mil moradores que sofrem com graves problemas nos rins, dores no corpo, diarreia e vômito decorrentes da contaminação do solo e da água por arsênio. 6 Se

políticas públicas específicas de diversificação econômica não forem colocadas em prática, muitos municípios no estado do Pará vão enfrentar uma realidade próxima àquela da região da Serra do Navio. Na verdade, dependendo dos indicadores utilizados para avaliar o desenvolvimento dos municípios mineradores, ao invés de um ciclo boom colapso, poder-se-ia argumentar que eles estão passando por um ciclo colapso-colapso.

Em cada uma das cidades, a população nos relatava os problemas que enfrenta e foram discutidas possíveis estratégias conjuntas para garantir o respeito de seus direitos. Vila Sansão, por exemplo, é um pequeno povoado de menos de 2.000 pessoas, localizado na zona rural de Parauapebas (PA), a 42 quilômetros da sede do município. Nas terras do povoado foi encontrada a maior reserva de cobre do país (784 milhões de toneladas). Dado que a chegada dos grandes empreendimentos de exploração dessas reservas foi pouco informada e discutida com a população local, tais empreendimentos trouxeram de forma repentina “toneladas de homens” para se instalar a apenas 5 km do povoado, conforme relatou a professora Ivone, moradora da vila. Apesar das melhorias na infraestrutura de transporte, a chegada de 5.000 homens de uma vez provocou a constante falta de água e de energia na Vila, além da contaminação ambiental pela disposição inadequada do lixo. Em paralelo, aumentou significativamente a prostituição e o alcoolismo no povoado. Os produtores rurais, principalmente os mais jovens, vêm trocando a produção de alimentos pelo trabalho nas empresas mineradoras. Todavia, devido à sua baixa qualificação, eles assumem, em geral, os trabalhos mais pesados e com remuneração mais baixa e, após o início das operações, provavelmente estarão entre os muitos trabalhadores que serão dispensados, sem condições de retornar à atividade rural. Dessa forma, o empreendimento modificou a dinâmica social da comunidade inteira e poderá causar sua desestruturação. Apesar desse quadro, alguns moradores, articulados com a Comissão Pastoral da Terra e com estudantes universitários (do Campus Marabá da Universidade Federal do Pará) não desanimaram, e estão desenvolvendo estratégias para profissionalizar os agricultores e aumentar sua renda, por meio da fruticultura, piscicultura e caprinocultura. O mesmo acontece em Ourilândia do Norte, Sul do Pará, onde vai ser implantado um grande projeto de mineração de níquel. Conforme nos contou Hélio, um pequeno produtor rural, lá os agricultores organizados lançam mão de estratégias de resistência e protesto (como o fechamento de estradas) ou de denúncia (como uma Ação Civil Pública contra a venda ilegal de lotes de assentamentos rurais) frente à ameaça de perderem suas terras e com elas seu meio de subsistência. O objetivo mínimo desses trabalhadores é garantir a união das famílias do

povoado, a fim de pressionar as empresas a negociar coletivamente e não por meio de acordos individuais, onde a enorme desigualdade de poder entre as partes tende a beneficiar os interesses das empresas. Atravessando as terras de Pará e Maranhão, a caravana cruzou muitas vezes com os trens que transportam minério: na Estrada de Ferro Carajás circula uma média de 20 trens por dia, cada um com cerca de 330 vagões. Isso também é fonte de diversos conflitos: o ruído e as vibrações causados por esses trens geram incômodos para as populações que vivem próximas da ferrovia, chegando a causar rachaduras nas casas. Devido ao tamanho dos trens e à ausência de passarelas, quando os trens param, interrompem as atividades cotidianas das pessoas que são obrigadas a atravessarem os trilhos sob os vagões. Como consequência da falta de segurança no transporte ferroviário na região, é frequente a morte por atropelamento de animais e pessoas, não havendo políticas das empresas específicas para lidar com esse problema. Segundo Relatório de Sustentabilidade da Vale, o número de acidentes de trem nos últimos anos foi 59 (2005), 63 (2006) e 46 (2007).

6. Conclusão:

. A mineração na Amazônia representa uma atividade econômica e de grande importância para o Brasil, devido à riqueza mineral da região, que abriga recursos valiosos como bauxita, ouro, ferro, cobre, diamantes, nióbio, entre outros. Esses minérios têm várias aplicações em setores fundamentais da indústria mundial, como a produção de metais, energia, eletrônicos, e até na fabricação de joias e materiais aeroespaciais.

No entanto, a exploração desses recursos minerais na Amazônia não ocorre sem desafios significativos. A extração, muitas vezes, é feita de forma predatória e sem o devido respeito às questões ambientais, o que resulta em desmatamento, degradação de ecossistemas e impactos negativos sobre as comunidades indígenas e locais. A mineração ilegal, especialmente no caso do ouro e outros minerais preciosos, agrava ainda mais esse cenário, contribuindo para o desrespeito à legislação ambiental e aos direitos humanos.

Portanto, é essencial que a atividade mineradora na Amazônia seja realizada de maneira sustentável, respeitando as normas ambientais e as comunidades afetadas, além de ser integrada a uma política de desenvolvimento que busque equilibrar a exploração dos recursos naturais com a preservação do meio ambiente e a promoção de maiores benefícios para a população local. A conscientização sobre a importância de práticas de mineração responsável e o incentivo

a novas tecnologias e alternativas mais limpas devem ser priorizados, a fim de garantir que a riqueza mineral da Amazônia não prejudique de maneira irreversível sua biodiversidade e os modos de vida tradicionais

7. Referências Bibliográficas

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1,2,3, Alunos de Graduação do Curso de Engenharia de Materiais da Escola Superior de Tecnologia, UEA – Universidade do Estado do Amazonas, Av.Darcy Vargas,1200, 69050-020, Manaus, Amazonas Brasil, 4 Docente de Graduação do Curso de Engenharia de Materiais da Escola Superior de Tecnologia, UEA – Universidade do Estado do Amazonas. Manaus, Amazonas Brasil, *Autor para correspondência. E-mail: hfvrt.emt20@uea.edu.br