MENINGITE VIRAL NO BRASIL: UMA ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA

VIRAL MENINGITIS IN BRAZIL: AN EPIDEMIOLOGICAL ANALYSIS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.13098721


Gabriela Stocco Rodrigues1, Guilherme dos Santos Lara2 Jana Daisy Honorato Borgo3, Nicolas Jose Suek Cechelero4, Eliane Ferreira da Silva5, Naiana da Silva Castro Rodrigues6, Filipe Koerich7, Jéssica Mafioletti Veronese8, Gabriela Pascoal Rigueti9, Mariana Melissa Félix de Medeiros10


RESUMO

A meningite é uma doença grave que causa inflamação nas meninges devido à invasão de agentes patogênicos, como vírus e bactérias. A meningite viral representa um problema de saúde pública no Brasil, com alta incidência e potencial para complicações graves. O objetivo no presente estudo foi identificar o perfil epidemiológico da meningite viral no Brasil. O recorte temporal foi a incidência de notificações da doença no período de 2017 a 2023. Foi utilizada uma abordagem metodológica quantitativa, retrospectiva e epidemiológica, mostrando o número de internações devido a meningite viral. Os dados foram coletados por meio do Departamento de Informática do SUS (DATASUS), e as variáveis investigadas foram ano de atendimento, região, média de permanência, sexo, cor/raça, faixa etária e óbitos relacionados à meningite viral. Os resultados demonstram o impacto da meningite viral no Brasil, especialmente em grupos populacionais específicos. A vigilância epidemiológica robusta e a implementação de medidas preventivas, como a vacinação, são essenciais para o controle da doença.

Palavras-chave: Meningite Viral. Perfil Epidemiológico. Estudo Observacional.

1 INTRODUÇÃO

A meningite é uma doença de grande relevância e preocupante para a Saúde Pública. Seu alicerce fisiopatológico é a inflamação grave das meninges, ou seja, a inflamação das leptomeninges definida por um número anormal de leucócitos no líquor. Esse processo é desencadeado quando agentes etiológicos, como vírus, bactérias, fungos e parasitas, conseguem vencer as defesas do organismo humano e se instalam nas meninges do hospedeiro, ocasionando o processo infeccioso (1).

A meningite viral, também chamada de meningite asséptica, é um processo inflamatório causado pela ausência de bactérias nas culturas de um paciente com manifestações clínicas semelhantes à meningite (2). A meningite viral geralmente apresenta um caráter sazonal em regiões de clima mais frio, ocorrendo principalmente no verão e início do outono, mas durante todo o ano em climas mais quentes. Além disso, costuma afetar principalmente crianças e jovens adultos. Grande parte das infecções é causada por enterovírus, que são divididos em poliovírus e não poliovírus. A cada 100 mil casos de meningite confirmada, 11 possuem etiologia viral (3).

Diversos vírus podem causar meningite, sendo os mais prevalentes os Enterovírus, o Vírus da Herpes Simplex (HSV), o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e os Arbovírus. Cerca de 90% dos casos de meningite viral são ocasionados pelos Enterovírus, com destaque para os Poliovírus, Echovírus e Coxsackievírus dos grupos A e B. Embora os casos possam ocorrer de forma isolada, surtos também são comuns. Os vírus do herpes representam a segunda maior causa de meningite viral em adultos, estando presentes em aproximadamente 5 a 10% dos casos (2).

A meningite é caracterizada por quatro síndromes diferentes: infecciosa, de irritação radicular, de hipertensão intracraniana e encefalítica. Cada uma delas possui sintomas específicos, como febre, rigidez da nuca, cefaleia e sonolência. O diagnóstico precoce é essencial e pode ser feito por meio de exames como punção liquórica e exame de fundo de olho. Dependendo do agente causador, da idade e do sistema imunológico do paciente, a gravidade da meningite pode variar. O tratamento adequado é essencial para prevenir possíveis sequelas, como retardo mental, surdez e convulsões. É importante realizar testes para identificar o vírus responsável e garantir o tratamento adequado. O diagnóstico de meningite viral é confirmado quando há evidência laboratorial ou histórico de contato epidemiológico com um caso confirmado por isolamento e identificação (4).

Se não for diagnosticada precocemente e tratada adequadamente, pode levar a complicações graves e até mesmo ser fatal. Medidas preventivas, como a vacinação contra a meningite, são essenciais para evitar a propagação da doença. A conscientização sobre a importância do diagnóstico precoce e o tratamento adequado pode salvar vidas e reduzir as complicações associadas à meningite.

Tendo em vista esse contexto, o presente estudo teve como objetivo avaliar os achados epidemiológicos da meningite viral no Brasil, entre os anos de 2018 e 2023, com o objetivo de traçar o perfil do público-alvo em maior risco, visando a implementação de ações preventivas e de combate a esse tipo de patologia.

2 METODOLOGIA

Este é um estudo epidemiológico observacional de natureza descritiva. Os estudos epidemiológicos descritivos desempenham um papel significativo na pesquisa das ciências da saúde, constituindo a primeira etapa da aplicação do método epidemiológico para compreender o comportamento de um agravo à saúde em uma população.

Os dados foram obtidos por meio de consulta às bases de dados Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) do SUS, referentes ao período de 2017 a dezembro de 2023. Foram avaliados os seguintes aspectos: ano de atendimento, região, média de permanência, sexo, cor/raça, faixa etária e óbitos relacionados à meningite viral. Também foram obtidas informações através das bases de dados SCIELO e GOOGLE ACADÊMICO, em que foram utilizadas as palavras-chave “meningite viral”, “perfil epidemiológico” e “estudo observacional”.

Devido às informações obtidas de um banco de dados de domínio público, segundo o inciso III da Resolução no 510/2016, não foi necessário submeter o estudo ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). Também não se fez necessário a aquisição do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

Constatou-se 12.768 casos de internações por meningite viral no Brasil no período de 2017 a dezembro de 2023. A média de permanência foi de 7,6 dias. O maior número de casos foi registrado no ano de 2019, 2.954 (23,13%) das internações totais. O ano de 2017 representou o menor número de internações com 202 (1,58%).

INTERNAÇÕES SEGUNDO ANO DE ATENDIMENTO

Ano de atendimentoInternações
TOTAL12.768
2017202
20182.885
20192.954
20201.514
20211.197
20221.914
20232.102
Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)

A Região Sudeste apontou o maior número de internações, 5.427. O total de internações por meningite viral na Região Sudeste do Brasil, a qual é formada pelos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo, corresponde a 42,5% do total de internações notificadas. No entanto, a região que apresentou o menor número de casos para esse mesmo período foi a Região Norte com 739 casos, representando 5,78% das internações totais.

INTERNAÇÕES SEGUNDO REGIÃO

RegiãoInternações
TOTAL12.768
Região Norte739
Região Nordeste2.592
Região Sudeste5.427
Região Sul3.246
Região Centro-Oeste764
Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)

A faixa etária com maior número de hospitalizações foi a de 1 a 4 anos com 2.470 casos, representando 19,34% das internações totais e corroborando com as teorias vistas nas literaturas referências sobre essa temática.

Os indivíduos mais acometidos pela doença foram do sexo masculino com 7.213 internações, representando 56,49%. O sexo feminino apresentou 5.555 internações, expressando 43,51%.

INTERNAÇÕES SEGUNDO SEXO

SexoInternações
TOTAL12.768
Masculino7.213
Feminino5.555
Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)

A cor/raça branca registrou 5.278 internações, representando 41,33% dos casos. Esse dado mostra a prevalência da meningite viral em indivíduos brancos, principalmente, seguido de indivíduos pardos com 4.640 internações, perfazendo 36,34% das internações totais. No entanto, houve 2.299 casos que não obtiveram informação quanto a cor/raça dos pacientes afetados.

INTERNAÇÕES SEGUNDO COR/RAÇA

Cor/raçaInternações
TOTAL12.768
Branca5.278
Preta357
Parda4.640
Amarela166
Indígena28
Sem informações2.299
Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)

No que se refere ao total de mortes por meningite viral, foram registrados um total de 481 óbitos entre 2017 e 2023, os quais foram mais expressivos na Região Sudeste, com 195 casos, representando 40,54%.

ÓBITOS SEGUNDO REGIÃO

RegiãoÓbitos
TOTAL481
Região Norte39
Região Nordeste113
Região Sudeste195
Região Sul106
Região Centro-Oeste28
 Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) 

4 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados apresentados neste estudo revelam um cenário preocupante da meningite viral no Brasil entre 2017 e 2023. Com 12.768 casos registrados, essa doença configura como um problema de saúde pública.

O aumento no número de diagnósticos, especialmente no ano de 2019, é um sinal de alerta que precisa ser levado a sério. A Região Sudeste se destaca como a mais afetada, concentrando quase 42,5% dos casos.

Os homens foram mais acometidos pela doença do que as mulheres, com uma prevalência 56,49% superior.

A faixa etária mais vulnerável é a de 1 a 4 anos, mas indivíduos de todas as idades devem estar atentos aos sintomas da meningite viral.

Quanto às mortes, foram registrados 481 óbitos no período. A Região Sudeste foi a mais afetada com 195 óbitos.

Esses dados destacam a importância da vigilância e prevenção da meningite viral, especialmente em grupos de maior risco. É fundamental que as autoridades de saúde continuem monitorando esses números e implementando estratégias eficazes para reduzir a incidência e melhorar os resultados clínicos para os pacientes afetados.

5 REFERÊNCIAS

1. DE LIMA, L. L. S.; LESSA, L. K. C.; POL-FACHIN, L.; MAIA, I. de A. M. Perfil epidemiológico das meningites no Brasil durante o período de 2018 a 2022. Brazilian Journal of Health Review[S. l.], v. 7, n. 1, p. 2632–2644, 2024. DOI: 10.34119/bjhrv7n1-212. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/view/66640. Acesso em: 12 jul. 2024.

2. DUQUE, MA; SILVA, T. de C.; FRANÇA, ICC; CARVALHO, SM da S.; FRANÇA, ICC; SILVA, GS; BRAGA, SB; DE ALBUQUERQUE, ACC Aspectos epidemiológicos, clínicos e laboratoriais da Meningite viral: uma revisão de literatura. Revista Brasileira de Desenvolvimento , [S. [1] , v. 9, n. 1, pág. 4086–4096, 2023. DOI: 10.34117/bjdv9n1-283. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BRJD/article/view/56531. Acesso em: 12 jul. 2024.

3. SilvaL. H. V.; GiurisattoM. J. M.; MarinsT. M.; Alacrino FilhoJ. E. B.; AlvarengaM. da S.; MenezesV. M. de. Meningite viral. Revista Eletrônica Acervo Médico, v. 23, n. 4, p. e12414, 15 abr. 2023.

4. Vista do Meningite Viral. Disponível em: <https://periodicos.saude.sp.gov.br/BEPA182/article/view/38813/36530>. Acesso em: 12 jul. 2024.


1Graduanda em Medicina pela Faculdade Estácio IDOMED de Jaraguá do Sul

2Médico, graduado pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)

3Graduanda em Medicina pela Faculdade Estácio IDOMED de Jaraguá do Sul

4Médico, graduado pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)

5Mestra em educação pela Universidad Europea del Atlántico Fisioterapeuta, graduada pelo Centro Universitário São Camilo

6Graduanda em Medicina pela Fundação Técnico-Educacional Souza Marques

7Graduando em Medicina pela Faculdade Estácio IDOMED de Jaraguá do Sul

8Graduanda em Medicina pela Faculdade Estácio IDOMED de Jaraguá do Sul

9Médica, graduada pela Universidade de Marília (UNIMAR)

10Graduanda em Medicina pela Faculdade Estácio IDOMED de Jaraguá do Sul