MECANISMOS DE DOR NA DISTONIA OROMANDIBULAR: REVISÃO NARRATIVA SOBRE ASPECTOS NEUROFISIOLÓGICOS E TERAPÊUTICOS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202506101313


Ana Clara Mariano Bianchi1
Elys Maria Móvio Lopes1
Vinicius Henrique Alves Ferreira1


Resumo

A distonia oromandibular (DOM) é uma condição neurológica rara e debilitante, caracterizada por contrações musculares involuntárias na região da mandíbula, língua e perioral. Embora a manifestação primária seja motora, a dor orofacial é uma queixa frequente, muitas vezes associada à sensibilização central, disfunção do controle motor e alterações sensoriais. Este artigo tem como objetivo revisar os principais mecanismos envolvidos na dor associada à DOM, discutindo aspectos neurofisiológicos, moleculares e terapêuticos. A partir de uma revisão narrativa da literatura, observa-se que a dor na DOM é multifatorial, envolvendo alterações na inibição sensório-motora, disfunções nos gânglios da base e desequilíbrios nos sistemas de neurotransmissores, como GABA, glutamato e dopamina. O tratamento inclui o uso de toxina botulínica, farmacoterapia adjuvante e abordagens multimodais. A compreensão dos mecanismos subjacentes à dor é essencial para o manejo eficaz e personalizado dos pacientes.

Palavras-chave: distonia oromandibular; dor orofacial; sensibilização central; gânglios da base; toxina botulínica.

1. Introdução

A distonia oromandibular (DOM) é uma desordem de movimento focal caracterizada por contrações musculares involuntárias que afetam os músculos mastigatórios, da língua e da face, impactando funções essenciais como mastigação, fala e deglutição (CONSTANTINIDIS et al., 2021). Além das alterações motoras, muitos pacientes relatam dor persistente, indicando uma complexa interação entre disfunção neuromuscular e processos nociceptivos.

2. Metodologia

Foi realizada uma revisão narrativa da literatura, com busca nas bases PubMed, Scopus, SciELO, ScienceDirect e Google Scholar, no período de março a maio de 2025. Foram utilizados descritores como “Oromandibular Dystonia”, “Pain Mechanisms”, “Central Sensitization”, entre outros. Foram incluídos artigos entre 2011 e 2025, em português e inglês, que discutissem aspectos da dor na DOM. Após triagem de 53 estudos, 20 foram selecionados para análise aprofundada.

3. Resultados e Discussão

3.1 Aspectos Neurofisiológicos
A DOM envolve disfunções nos circuitos dos gânglios da base, particularmente no equilíbrio entre vias direta e indireta do circuito tálamo-córtico-estriado. A ativação simultânea de músculos agonistas e antagonistas leva à co-contração e à sobrecarga muscular dolorosa (TINAZ et al., 2018).

3.2 Sensibilização Central
Estudos apontam aumento da excitabilidade cortical e redução da inibição intracortical, fatores que contribuem para a cronificação da dor mesmo em ausência de espasmos motores evidentes (WOOLF, 2011).

3.3 Alterações Proprioceptivas e Sensoriais
Deficiências na propriocepção mandibular e falhas na integração sensório-motora exacerbam o quadro doloroso e dificultam o controle motor (QUINTILIANO et al., 2020).

3.4 Aspectos Moleculares da Dor
Desequilíbrios na neurotransmissão – com predomínio de glutamato e deficiência de GABA e dopamina – têm papel significativo na modulação da dor e nos sintomas motores da DOM (HABIB et al., 2022).

3.5 Estratégias Terapêuticas
A toxina botulínica tipo A continua sendo o tratamento padrão, com evidência de eficácia clínica e analgésica. Benzodiazepínicos, relaxantes musculares e anticonvulsivantes são adjuvantes úteis. Intervenções não farmacológicas, como fisioterapia e biofeedback, são recomendadas como parte do manejo multimodal (SILVA et al., 2023).

4. Conclusão
A dor na DOM representa uma manifestação complexa que transcende a disfunção motora. Compreender os mecanismos neurofisiológicos e moleculares da dor permite intervenções mais específicas e eficazes. O tratamento ideal requer abordagem multidisciplinar, que inclua medidas farmacológicas, toxina botulínica e terapias de reabilitação.

5. Referências:

CONSTANTINIDIS, T. S. et al. Oromandibular dystonia: clinical characteristics and treatment. Neurological Sciences, v. 42, n. 3, p. 1035–1042, 2021.

HABIB, U. et al. Neurochemical imbalance and maladaptive plasticity in oromandibular dystonia: pathophysiological insights. Frontiers in Neurology, v. 13, p. 842999, 2022.

QUINTILIANO, T. L. et al. Alterações sensório-motoras na distonia oromandibular: implicações clínicas. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, v. 78, n. 9, p. 563-570, 2020.

SILVA, A. M. et al. Multimodal management of oromandibular dystonia: pharmacologic and rehabilitative approaches. Brazilian Journal of Otorhinolaryngology, v. 89, n. 1, p. 112-119, 2023.

TINAZ, S. et al. Neural mechanisms of dystonia: the role of basal ganglia circuits in sensorimotor integration. The Lancet Neurology, v. 17, n. 1, p. 75-84, 2018.

WOOLF, C. J. Central sensitization: implications for the diagnosis and treatment of pain. Pain, v. 152, n. 3, p. S2-S15, 2011.


1Curso de Odontologia, União das Faculdades dos Grandes Lagos – UNILAGO