REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10241012131830
Renildo Carlos Ferreira
RESUMO
Neste artigo, realizo uma análise de dois filmes, Matrix (1999) e Barbie (2023), buscando identificar as diferentes formas e possibilidades para a exposição do Mito da Caverna, de Platão, e de conceitos em torno do patriarcalismo e suas referências atuais. A pesquisa utiliza os referenciais teóricos no contexto da aprendizagem via Cinema. Esses campos teóricos nos possibilitam analisar a produção cinematográfica enquanto artefatos culturais e, como tal, ajuda no processo de produção e reprodução de conhecimento filosófico no ato de construir ou definir conceitos.
Pensando no futuro mais técnico para a cinematografia, Ricciotto Canudo, teórico e crítico italiano do século XX, propôs que o Cinema deveria ser considerado uma arte[1] como a pintura, arquitetura, escultura, música e a poesia eram listadas à época. Tal indagação resultou no Manifesto das Sete Artes (1923), aumentando a lista Hegeliana[2] e incluindo-a como a Sétima Arte.
Desde então, com o passar do tempo, as produções cinematográficas de Hollywood vêm colocando em discussão pautas pós-modernas que continuam em aprofundamento tanto em ambiente acadêmico – a partir de dissertações, artigos e livros – quanto em nosso cotidiano. Não é novidade que os filmes tem grande potência de influenciar o nosso pensar, ao tocar em discussões antigas e trazer novas perspectivas a problemas já conhecidos. É inevitável falar da junção entre cinema e filosofia sem, por exemplo, citar a trilogia de ficção científica “Matrix” que, além de ser um clássico do cinema mundial, é uma peça que virou o novo milênio relevante e indagatório “Como saber o que é real?”.
Dos três primeiros filmes, Matrix (1999) traz em seu âmago um problema da filosofia clássica, através de diversos simbolismos modernos, reintroduzindo a discussão de Platão e sua alegoria (mito) da caverna. Thomas A. Anderson, interpretado por Keanu Reeves, vive em uma realidade artificial: Durante o dia, é um programador para uma companhia de software. À noite torna-se um hacker, invadindo sistemas de computador ilegalmente e roubando informações, sob o apelido de Neo. Fica a cargo de Morfeu (Laurence Fishburne) o questionamento sobre a veracidade do mundo em que Thomas/Neo vive. Ao escolher conhecer a verdade, na icônica cena das pílulas vermelha e azul, é transportado para o mundo real, onde descobre ser um tipo de bateria que alimenta a Matrix, um sistema de computador que simula uma realidade artificial.
Apesar da problemática clara, o desenrolar da trilogia Matrix se propõe a ser uma alegoria vaga. Sua história pode ser interpretada/reinterpretada, ano após ano, onde seus símbolos podem ser críticas ao modelo de produção capitalista em conjunto com o cybermundo que mantém o proletariado produtivo mesmo em tempo de ócio ou uma crítica de gênero, assumindo a trama como uma alegoria ao processo de transição e levando em consideração a própria declaração da transexualidade das diretoras, por exemplo. A interpretação de Matrix é dependente do contexto de quem o interpreta ou dos símbolos e significados atribuídos à trilogia, a partir da linha lógica que o espectador segue.
Independente da verdade por trás da ficção científica ou da mera intenção criativa- representativa das diretoras, o fato é que os problemas colocados em pauta são relevantes e podem ser tratados filosoficamente por diferentes vieses. Vinte anos depois da conclusão da trilogia original de Matrix, outro filme, de forma amplificada e pulverizada nas redes sociais afora, deu às salas de exibição um ovo debate para o mesmo problema demonstrado na Matrix, ainda que de forma mais direcionada para um problema real e atualíssimo. Com críticas divididas e múltiplas, o mundo de Barbie faz uma nova alegoria ao debate iniciado na Grécia antiga, elencando noções sobre o matriarcal, o patriarcal e a busca feminina por si mesma.
O MITO DA CAVERNA EM BARBIE
Lançado em 2023 e estrelado por Margot Robbie e Ryan Gosling como Barbie e Ken, respectivamente, traz a aventura da boneca que foi expulsa da Barbielândia por ser uma boneca de aparência menos do que perfeita. Assim, Barbie parte para o mundo humano em busca da verdadeira felicidade e busca por sua verdade.
A primeira sequência das cenas do filme introduz ao público à relação da protagonista com o seu mundo. Na Barbielândia, as estereotipadas Barbies passam suas vidas rotineiras, ocupam cargos de relevância na sociedade que vão de bombeira, policial, médica ou presidente, etc. Consideradas impecáveis, fazem daquele mundo (rosa) um lugar à sua imagem e única semelhança. Assim sendo, a cor rosa toma conta de veículos, vestuários, cenários e habitações, refletindo a feminilidade das Barbies, que coordenam e fazem daquele mundo o seu lugar.
Burros, bonitos e úteis, os Kens, a representação masculina desse orbitam a vida das bonecas, passando seus dias em atividades recreativas na praia, participando da vida social e matriarcal das Barbies. Isso foi amplamente rotulado por porta-vozes da extrema-direita como peças de um filme “anti-homem”. A ironia desse argumento se baseia no fato de que os Ken foram retratados como qualquer outra mulher teria sido em filmes dos anos 70, 80 ou 90 como “quaisquer personagens burras, bonitas e úteis, que servem apenas para ser o par romântico dos protagonistas másculos e cativar o público masculino” (GRUBBA, 2023). Ao criticar o filme por tal, o esperado seria criticar as antigas obras dos brucutus bombados dos anos 90 como sendo anti-mulher[3] ou misóginos.
Voltando ao ponto filosófico, vale destacar é o apelo estético nos Kens, onde o não basta ser homem para sê-lo: O Ken de verdade deve seguir algumas normas de beleza, isto é, deve se adequar um padrão Ken de qualidade. Um contraponto nesse mundo é o personagem Alan, interpretado por Michael Cera, um ator que claramente foge da norma estética de Hollywood. Alan não é um Ken “original”: tem personalidade sensível e não é bem definido fisicamente como os outros bonecos Ken. É dentro desse contexto que a sociedade cor-de-rosa da Barbielândia serve de paralelo para a nossa discussão entre a realidade patriarcal e monocromática do mundo real.
A protagonista do filme, interpretada por Margott Robbie, carrega o senso-comum da Barbie estereotipada, existente na mulher perfeita da Barbielândia, no ideal do status quo.
Porém, as coisas começam a deixar de ser “perfeitas” no desenrolar da narrativa. A (des)construção dessa Barbie começa com suas indagações sobre coisas comuns no mundo real como o questionamento sobre a morte em uma festa, o aparecimento de celulites ou quando seu calcanhar, sempre elevado, encosta no chão pela primeira vez: Ou seja, reconhecendo sua própria finitude, convivendo com seus defeitos, evidenciando que estereótipos, mundos ou ideais podem morrer. Em seguida, ao ver o calcanhar tocar o chão, mostra que esse ideal de mulher está se aproximando da realidade, deixando de empinar os pés como uma bonecamodelo e andando com as solas no chão. O processo de transformação, de boneca imaginária em uma mulher realista, é o seu processo de humanização.
Ao ser confrontada por essas situações, a Barbie estereotipada decide visitar a Barbie estranha, uma boneca acredita que a Barbielândia não seria o mundo real, uma referência clara à cena das pílulas azul e vermelho de Morfeu em Matrix, mas substituindo-as por um salto alto rosa e uma sandália. Em primeiro momento, a Barbie recusa a sandália e o mundo real, preferindo viver no mundo “perfeito”, na caverna, o belo salto alto. Assim, a Barbie estranha conta que as razões da Barbie estereotipada estar deixando de ser “perfeita” estão relacionadas em uma criança que a possui como boneca no mundo real. Para ajudar a garota que está passando por problemas, a viagem ao mundo real da protagonista é iniciada. Junto com ela se infiltra um dos Ken, interpretado por Ryan Gosling, e ambos os personagens serão confrontados pelo patriarcado do mundo real.
AS SOMBRAS PRODUZIDAS NO PATRIARCADO
Segundo Morgante, o patriarcado é uma forma de organização social anterior ao desenvolvimento do sistema de produção capitalista que o serve tanto estrutural como paralelamente: “Uma organização que se baseia no domínio masculino e na exploração da mulher” (MORGANTE, 2014). Se aceitarmos a interpretação de que Barbie reimagina a platônica alegoria da caverna, podemos concluir que toda a cultura, estética e modo de viver em Barbielândia nada passam além das projeções nas paredes. As Barbies e Kens encaram as sombras nas paredes e nela veem a realidade. A alegoria mostra que o que pensamos ser verdadeiro podem ser apenas as projeções externas que são meramente aceitas como a realidade objetiva.
Quando Barbie e Ken saem da cidade, eles saem da caverna implícita e recusam tais sombras como a única verdade. Confrontados pelo contato com outra realidade, novos diferentes ideais, costumes diversos, estéticas e esse conflito entre as realidades é o que dá continuidade para a narrativa. Talvez, o choque cultural mais perceptível a princípio é a diferença estética entre o mundo das bonecas e o mundo real: A cor-de-rosa predominante dá lugar para o cinza monocromático da cidade grande, carros conversíveis e femininos dão lugar a grandes 4×4 prateados, a potencialização da feminilidade na Barbielândia reflete a potencialização da masculinidade no mundo real, um detalhe este que nos passa despercebidos diariamente justamente por ser a nossa realidade.
Com isso, Ken sai de um mundo onde é considerado o “sexo frágil” para encarar um mundo no qual o homem é a figura máxima de poder. Os carros refletem a sua masculinidade reprimida, o mundo de negócios, as mercadorias, as casas e toda a cultura do mundo real que são construídas em cima da premissa de que o sexo masculino é o sexo naturalmente dominante.
Barbie, por outro lado, nota isso também, mas sua percepção é mais sensível. Em uma das cenas, a boneca está sentada em um ponto de ônibus e uma idosa senta do seu lado. Na Barbielândia, as pessoas não envelhecem, se tratando de um mundo imaginário e ideal, onde a beleza da juventude na fantasia é eterna. Barbie ao encarar a idosa, que já deixou o brilho da juventude muitos anos atrás, comenta: “Você é linda.”
Barbie rompe com o ideal de beleza que a própria personagem tem como proposta representar. A loira, alta e perfeita reconhece na idosa um padrão de beleza inexistente em seu mundo e desprezado no mundo real, confirmando que a beleza é também um valor perspectivo. Finalmente, ao encontrar a garota, Barbie afirma ser um reflexo de tudo que a mulher pode ser, enquanto a garota que foi criada no mundo real, masculinizado, rebate que Barbie é tudo que uma mulher não é. Como o ideal de mulher na Barbielândia é uma meta, a conclusão de um objetivo máximo, a boneca observa que o ideal da mulher no mundo real é uma violência, uma realidade construída em cima do machismo e do patriarcado. A pressão de se tornar uma Barbie é mais forte do que o desejo de se tornar a melhor versão de si mesma. Ao fim do enredo, Barbie e Ken desculpam-se, buscam suas individualidades e próprias liberdades na constante evolução e superação de suas raízes.
Tais conflitos ideológicos, estéticos e até epistemológicos se dão pelo condicionamento que a razão está submetida na sociedade. A razão é moldada pela superestrutura, pensamos, sentimos, gostamos a partir dos ideais absolutos e incontestáveis que somos forçados a aceitar no desenvolvimento humano em sociedade.A interpretação, importante ferramenta para o uso da razão no decifrar de um problema filosófico, está relacionada à própria identidade do pensador. Seria imprudente afirmar que “a razão está acima das influências culturais de nosso tempo e espaço e das estruturas filosóficas em que a contemporaneidade está sustentada” (CALVELLI, 2011).
Estamos sempre sujeitos às influências dogmáticas da ciência e da filosofia presentes na nossa racionalidade e, apesar da possibilidade de superar os dogmas, estamos sujeitos a pensar e repensar o mundo a partir do conhecimento estrutural que molda a nossa racionalidade, a não ser por um rompimento radical com a estrutura: no caso de Barbie, a viagem rumo ao mundo dos humanos. No caso de Matrix, a escolha da verdade em pílula.
A “CAVERNA” EM MATRIX (1999) E BARBIE (2023): O PODER DOS FILMES NO DIÁLOGO DE CONCEITOS FILOSÓFICOS.
A tal “caverna”, debatida nos livros V a VII de “A República”, talvez, a obra filosófica mais conhecida de Platão[4], chega no século XXI diluída em filmes, podcasts, alegorias culturais e múltiplas derivações de um dos propostos filosófico-argumentativos mais longínquos. Composto por dez livros, a obra dialoga sobre as múltiplas formas de governo para chegar ao modelo político “ideal”. No pensamento de sua teoria, o filósofo grego passeia nos conceitos da arte, da estética, da busca da verdade através do conhecimento (que é discutido no livro VII, o mesmo livro em que se encontra a Alegoria (ou mito) da Caverna[5]).
Os debates entre Glauco e Sócrates elevam a teoria do conhecimento e a natureza da realidade (epistemologia e metafísica) recebendo o Mito como um produto indissolúvel na teoria platônica. A conversa entre Sócrates e Glauco permeiam a existência de uma caverna onde pessoas, como prisioneiros, vivessem desde o nascimento limitados de liberdades, amarrados em cotidiano imutável, avistando apenas as sombras projetadas por uma fogueira na parede situada à frente. De maneira distorcida, estas sombras dos movimentos distantes da visão direta dos prisioneiros. Aquela parede e seus vultos borrados e sem nitidez são o resumo de todo conhecimento que os prisioneiros possuem sobre o mundo e o cotidiano.
O ponto de partida para a quebra dessa rotina limitante ocorre quando um dos homens presos consegue se libertar, percebendo que a fogueira e as sombras das pessoas eram, erradamente, a totalidade do seu momentâneo mundo. Ao sair da caverna e encontrar a luz do sol, o agora ex-prisioneiro, não acostumado com tanta claridade, se assusta com o mundo exterior. A iluminação do sol ofusca sua visão e ele se sente desamparado e deslocado. Apesar do contato inicial, aos poucos, sua visão começa a perceber a infinidade do mundo exterior e a limitação do mundo da caverna, onde julgava as sombras como a absoluta verdade. Na realidade, entendeu que aquelas sombras eram meras cópias imperfeitas de uma pequena parcela de uma realidade limitante.
Tomado pela compreensão, Platão narra que ele poderia fazer duas coisas: retornar para a caverna – e libertar os companheiros – ou viver sua liberdade plena. Uma possível consequência da primeira possibilidade seriam os ataques que sofreria dos demais, que o julgariam como louco. Mas, poderia ser uma atitude necessária, por ser a coisa mais justa a se fazer.
Se fizermos uma expressão matemática buscando algum fator comum entre a Matrix de Neo, o mundo rosa da boneca mais vendida da história e o Mito da Caverna, temos um denominador/multiplicador que comungam do significado em torno do “mundo ideal”, permeiam o entendimento sobre verdade do conhecimento e chegam até as modernas consequências da disseminação de fake News, das sombras das páginas pessoais criadas nas redes sociais que vislumbram um “like” naquela foto em momento de felicidade ou aquele engajamento para não ser cancelado na comunidade virtual já aborrecida por alguma opinião digitada num comentário qualquer.
Dos filmes anteriormente referenciados, ambos de estrondoso sucesso, Barbie atraiu diversos públicos, desde o infanto-juvenil aos adultos de todas as idades. A versatilidade capitalista do produto rendeu a Mattel bilhões de dólares, entre royalties de licenciamento de produtos da empresa, lucro amplificado pelas bilheterias do longa-metragem de 2023. O grande diferencial de filmes anteriores que abordavam a vida da boneca Barbie está na sátira e crítica social ao universo cor-de-rosa da boneca. Do patriarcado e feminismo, o papel do brinquedo e da imagem da boneca adentrou, principalmente, em relação desse fenômeno cultural que, há 64 anos, interage, de alguma forma, com o desenvolvimento das crianças.
Em Barbie[6], de Greta Gerwig, o filme adaptou animações, atores reais e estereótipos clássicos na narrativa da boneca mais famosa da Mattel. Não é segredo que algumas produções cinematográficas mexem com a gente – emocionam, tocam, mudam percepções. As implicações cognitivas e perceptivas das películas fazem parte da nossa construção. A arte e a ciência caminham de mãos dadas, mesmo que às vezes não se deem conta disso.
Os avanços no campo da neurociência têm possibilitado a compreensão dos mecanismos cerebrais envolvidos na aprendizagem e já existe um conjunto sólido de evidências científicas que podem contribuir para o campo da educação. Essas descobertas colocam em relevo como práticas pedagógicas adequadas podem levar ao melhor desenvolvimento de conhecimentos, habilidades, atitudes.
Os estudos de neurociência nos ajudam a responder algumas perguntas que fazemos ao lidarmos com adolescentes. Barbie, por exemplo, com idade indicativa de 12 anos, elenca assuntos como os fatores que afetam o bem-estar, intensidade das emoções, reações, sensibilidades, busca incessante por novos dilemas, impulsos e procura por uma identidade compõem as contradições de um adolescente e de um cérebro em desenvolvimento.
Segundo,Helena Corso, professora da Faculdade de Educação da UFRGS:
A capacidade do Sistema Nervoso (SN) de sofrer modificações, adaptandose a novas experiências, está na base da formação de memórias e da aprendizagem (CORSO, 2018, p. 148).
Em algumas décadas atrás, acreditava-se que o cérebro e seu desenvolvimento eram conjuntamente concluídos no fim da infância. Hoje, sabemos, por meio da neurociência, que tal complexo pode durar cerca de 30 anos aproximadamente, “quando o órgão começa a perder volume suavemente”[7][8]. E o cinema, como uma espécie de interpretador, demonstra-se uma ponte entre os nossos mecanismos cerebrais e o processo de aprendizagem e evidenciador de debates importantes.
PODE O CINEMA PODE SER UM ALIADO NO ENSINO DA FILOSOFIA?
Alguns filósofos dedicaram, em algum momento de suas produções, relações entre a sétima arte e a Filosofia. Deleuze (1985), Merleau-Ponty (1983) ou Zizek (2009) trouxeram raciocínios interessantes que aproximam o cinema como um aliado na resolução de um problema comum ou complexo. Achamos que o cinema é, sem dúvidas, uma experiência potencialmente filosófica e pedagógica, uma espécie de rizoma[9] de possibilidade de interpretações, parafraseando DELEUZE E GUATTARI (1995):
“Entre as coisas não designa uma correlação localizável que vai de uma para outra e reciprocamente, mas uma direção perpendicular, um movimento transversal que as carrega uma e outra […]” (DELEUZE; GUATTARI, 1995, p. 36).
A sociedade lida bem com seu expresso de pluralidades de etnias e biofísicos até a origem da repressão ficar nítida. No mundo real, Barbie recebe um tipo de atenção masculina que não conhecia em sua antiga estrutura social. O processo de amadurecimento é inevitável, permitindo à boneca uma nova forma de viver sua própria vida. Feminismo, a cooperação e o embate com o machismo do mundo real, trazem, uma a uma, de volta do transe do patriarcado e retomam suas autonomias.
Assim sendo, um filme pode ser um importante método de abordagem. Tal procedimento, aliado de uma referência-base, consegue abranger temas, problemas filosóficos e aprofundamentos sobre vários temas em uma só sessão. Educação e Cinema, juntas, tornam-se ferramentas relevantes, uma prática de existência social, uma forma de conhecimento que é construída na percepção dos sentidos expostos na narrativa exposta. É preciso pensar na sétima arte como uma aliada no exercício do ato de filosofar, da referência artística e, atualmente, do aprofundamento de assuntos acerca da neurociência como tema a ser discutido pela sociedade.
Sem manual de instruções, nosso cérebro está sempre em busca de inúmeros processos de aprendizagem, constantemente buscando estímulos e por ainda não terem pleno acesso ao córtex pré-frontal, não conseguem enviar para si mesmos as mensagens de “chega por hoje”, “preciso me concentrar”, “preciso prestar mais atenção à aula”. Sendo assim, ainda precisam da ajuda de pessoas mais experientes para lhes mostrar comportamentos que sejam mais produtivos, por exemplo.
Graças ao avanço de estudos no campo da neurociência, o ensino vem sendo apresentado às evidencias de descobertas que maximizam práticas pedagógicas e traduzem sistemáticas que produzem melhoras que vão desde políticas públicas até uma sala de aula Brasil afora. A união entre arte e filosofia, portanto, pluraliza a experiência que estremece convicções assentadas, às vezes, acríticas, estimulando o cognitivismo que reforça uma postura que pensa em novas soluções e revisa antigas respostas fechadas e pré-determinadas. Um filme, por exemplo, pode elencar certas análises de perguntas exercitando perguntas e buscas não é tão praticado na educação formal. Uma arte como o cinema, é um ajudante nas expectativas dos discentes e dos docentes, por ter o poder de construir novas consciências, desde o Ensino Fundamental até a pós-graduação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CALVELLI, Haudrey Germiniani; LOPES, Maria de Fátima (2011). A teoria do conhecimento e a epistemologia feminista. In: Livro de Anais do Congresso Scientiarum Historia IV, p. 347-353. Acesso em 22 de julho de 2013. Disponível em:<www.hcte.ufrj.br/downloads/sh/sh4/trabalhos/Haudrey.pdf>.
COSENZA, Ramon Moreira; GUERRA, Leonor Bezerra. Neurociência e Educação: Como o Cérebro Aprende. 1ª ed. Porto Alegre, RS: Artmed, 2011.
CORSO, Helena. Plasticidade cognitiva e cerebral no desenvolvimento da leitura e na intervenção psicopedagógica da dislexia. In: PLASTICIDADE CEREBRAL E APRENDIZAGEM: abordagem multidisciplinar. Orgs. ROTTA, Newra Tellechea; BRIDI FILHO, César Augusto; BRIDI FILHO, Fabiane Romano de Souza. Porto Alegre: Artmed, 2018.
GRUBBA, Leilane Serratine. A representação da mulher no cinema: um estudo a partir da pesquisa em estado do conhecimento. Sequência Estudos Jurídicos e Políticos, Florianópolis, v. 43, n. 92, p. 1–26, 2023. DOI: 10.5007/2177-7055. 2022.e77652. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/sequencia/article/view/77652>. Acesso em: 18 jul.2024.
HEGEL, G. W F. (2001). Cursos de estética. Vol. I. Tradução de Marco Aurélio Werle. São Paulo: EDUSP.
MORGANTE, Mirela Marin; NADER, Maria Beatriz. O Patriarcado nos estudos feministas: um debate teórico. In: Encontro Regional de História do ANPUH-Rio: Saberes e práticas científicas. Rio de Janeiro, 28 de julho a 01 de agosto de 2014. Anais do XVI Encontro Regional de História do ANPUH-Rio: saberes e práticas científicas. RJ, 2014, p. 1-10.
PLATÃO. A República. Rio de Janeiro: Editora Best Seller, 2002. Tradução de Enrico Corvisieri.Filmes:
BARBIE. Direção: Greta Gerwig. Produção de Margot Robbie; Tom Ackerley; Robbie Brenner; David Heyman; Laurence Mark; Amy Pascal. Estados Unidos: Warner Bros, 2023.Cinema.
MATRIX. Direção: Lilly e Lana Wachowski. Produção: Silver Pictures. EUA: Warner Bros, 1999. DVD (136 min).
MATRIX RELOADED. Direção: Lilly e Lana Wachowski. Produção: Silver Pictures. EUA: Warner Bros, 2003. DVD (138 min)
MATRIX REVOLUTIONS. Direção: Lilly e Lana Wachowski. Produção: Village & Silver Pictures. EUA: Warner Bros, 2003. DVD (129 min).
[1] HEGEL, G. W F. (2001). Cursos de estética. Vol. I. São Paulo: EDUSP. p. 91.
[2] Hegel apresentou as cinco artes particulares como arquitetura, escultura, pintura, música e poesia. Ricciotto Canudo (Gioia del Colle (Itália), 1877 – Paris, 10 de novembro de 1923), teórico e crítico de cinema pertencente ao movimento do futurismo italiano, através do artigo “La Naissance d’un sixième art. Essai sur le cinematografe” (1911), incluiu o cinema como uma arte, até então “sexta arte”. Em 1923, no “Manifesto das Artes, com a adição da Dança, a listagem foi atualizada, colocando o Cinema como “a sétima arte”.
[3] Leilane Serratine Grubba é Doutora em Direito (UFSC/2015), com estágio de pós-doutoramento (UFSC/2017). Mestre em Direito (UFSC/2011). Mestre em Ciências Humanas na Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS/2020).
[4] Platão (428/427 – 348/347 a.C.) foi um filósofo e matemático do período clássico da Grécia Antiga, autor de diversos diálogos filosóficos e fundador da Academia em Atenas, a primeira instituição de educação superior do mundo ocidental. Ele é amplamente considerado a figura central na história do grego antigo e da filosofia ocidental, juntamente com seu mentor, Sócrates, e seu pupilo, Aristóteles.
[5] A Alegoria ou Mito da Caverna faz referência ao contraste parecer e ser, isto é, realidade e aparência, que marca o pensamento filosófico desde sua origem e que é assumido por Platão em sua famosa teoria das Ideias.
[6] Barbie é um filme estadunidense dos gêneros comédia e fantasia dirigido por Greta Gerwig, com o roteiro coescrito com Noah Baumbach, lançado em julho de 2023.
[7] BETHLEHEM, R. A. I.; et al. Brain charts for the human lifespan. Nature. v. 604, n. 7906, p. 525-33. 6 abr.
[8] .
[9] Rizoma é um modelo descritivo ou epistemológico na teoria filosófica de Gilles Deleuze e Félix Guattari. A noção de rizoma foi adotada da estrutura de algumas plantas cujos brotos podem ramificar-se em qualquer ponto, assim como engrossar e transformar-se em um bulbo ou tubérculo.