ORAL MASTOCYTOMA LOCATED ON THE TONGUE IN A TURQUOISE-FRONTED PARROT (AMAZONA AESTIVA) – CASE REPORT
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10249080647
José Luíz P. Lopes1
Luíz César S. Lopes2
Rafael Nudellman3
Rodrigo L. Vieira4
Wilson Carvalho5
Resumo
A crescente população dos Pets não convencionais, muitas vezes chamados de animais exóticos, vêm sendo uma realidade no Brasil nos últimos anos. Além do crescente número de brasileiros que tem interesse por esses animais, os cuidados com os mesmos também aumentaram. Consequentemente, a rotina de idas ao veterinário também vem aumentando no mesmo período, sendo possível o diagnóstico de doenças que antes eram subdiagnosticadas. Com isso se torna necessário, cada vez mais, o avanço da medicina para esses animais. Foi atendido uma ave silvestre, da espécie Amazona aestiva, com quadro de anorexia, disfagia e perda da vocalização. A ave em questão também apresentava grande nódulo na língua, cujo foi submetido a cirurgia de exérese tumoral e glossectomia parcial. O nódulo foi diagnóstico como mastocitoma. Após 90 dias a ave voltou a falar normalmente. A neoplasia em questão é considerada excepcionalmente rara em aves e devido a isso se fazem necessários mais estudos acerca do tema.
Palavras–chave: mastocitoma, neoplasma, silvestre, oncologia, cirurgia, glossectomia parcial.
Introdução
A crescente população e domesticação dos animais silvestres, muitas vezes chamados de PNC (pets não convencionais), vêm sendo uma realidade no Brasil. Despertando um aumento no número de brasileiros interessados por esses animais e consequentemente gerando uma maior procura. Isso faz com que a rotina de idas ao veterinário também cresça em grande proporção, sendo possível o diagnóstico de doenças que antes eram subdiagnosticadas. Devido a diversidade e peculiaridades de cada espécie é fundamental a implementação do manejo particular adequado e cuidados específicos. Tornando-se essencial, cada vez mais a capacitação e aperfeiçoamento na medicina veterinária dos pets não convencionais.
Os psitacídeos da espécie Amazona aestiva, conhecidos como papagaio verdadeiro, é uma espécie muito comum na fauna brasileira. Chega a medir de 35 a 37 cm de comprimento e pesa cerca de 400g. Vive em média 60 anos e se diferencia principalmente pela cabeça amarelada com azul-esverdeado na fronte (1).
O avanço na medicina dos PNC tem aumentado a sobrevida e contribuído para a identificação, estadiamento e tratamento das neoplasias in vivo. Tornando bem mais significativa em relação a identificação pós-morte. Uma grande variedade de neoplasias pode acometer as aves não convencionais em geral, sendo comum nos psitacídeos. Os papilomas, lipomas, linfomas e fibrossarcomas são as neoplasias usualmente identificadas nas aves do gênero Amazona, na maioria dos casos a intervenção cirúrgica é o tratamento de eleição (2).
O Mastocitoma é um tipo de neoplasia extremamente rara em aves, sobretudo em cavidade oral, sendo carente de relatos literários. O mastocitoma cutâneo já foi descrito em agapornis de máscara negra (Agapornis personata) em 2012 (3). Os estudos acerca de oncologia em pets não convencionais ainda são escassos, quando comparados aos pequenos animais, apresentando poucos trabalhos e consensos sobre a melhor conduta terapêutica e diagnóstica a serem tomadas (2).
O presente trabalho tem por objetivo, relatar o caso de um papagaio- verdadeiro (Amazona aestiva) que apresentava um tumor raro na língua e foi submetido ao procedimento cirúrgico de exérese tumoral.
Materiais e métodos
Foi atendido na CVCN (Clínica veterinária Coelho Neto), uma ave silvestre, da espécie Amazona aestiva, macho, inteiro, com 40 anos de idade, com aproximadamente 400g e domiciliado. O paciente apresentava histórico de anorexia, disfagia e perda da fala. Apresentava também, um grande nódulo na língua que ocupava metade do órgão. O paciente foi encaminhado para avaliação cirúrgica e consequentemente a realização da glossectomia parcial.
Foi usado como medicação pré-anestésica: ketamina 1mg/kg, morfina 1mg/kg, midazolam 1mg/kg. Após ser devidamente intubado, foi mantido em anestesia com isoflurano 2%. Não houve e alteração hemodinâmica ambulante o procedimento.
Feito exérese de nódulo oral. Foi retirado metade da língua no animal, com bisturi eletrônico Vet 1 (Deltronix ®). Foi devidamente armazenado em formaldeído 10%. O nódulo já fixado em formol tinha dimensão de 3cm x 1,5cm x 1cm. O nódulo foi enviado a histopatológica.
Figura 1
Fonte: Arquivo pessoal.
Segue abaixo a transcrição do laudo enviado pela Idexx laboratórios:
Na descrição macroscópica, o nódulo, era de superfície multinodular, bege e firme. Já na descrição microscópica infiltrado de células redondas arranjadas em mantos com estroma fibrovascular. Células de núcleo redondo, central e com cromatina esparsa. Mitoses raras. Na coloração de toluidina algumas células apresentaram grânulos metacromáticos. A conclusão do laudo (por ordem de relevância clínica) foi compatível com Mastocitoma em cavidade oral.
Figura 2
Fonte: Arquivo pessoal.
Resultados e discussão
Com o êxito cirúrgico e tratamento adequado, o paciente apresentou ótima recuperação e mesmo sem metade do órgão, voltou a se alimentar normalmente 2 dias após a retirada do nódulo e a falar após 90 dias de pós- operatório. Já se passaram 4 anos e até o presente momento não houve recidiva ou presença de metástase.
A literatura sugere que o tratamento deve se basear na remoção cirúrgica sempre que possível. Afirma ainda, que quanto mais rostral a localização, melhor a remoção devido a possibilidade de margens (5). Porém temos que levar em consideração o tamanho da neoplasia no paciente e consequentemente sua língua, onde muitas das vezes impossibilita o respeito das margens amplas sugeridas pela OMS (organização mundial de saúde).
Mesmo na espécie canina, cujo o mastocitoma é o tumor de pele mais comum, sua aparição em cavidade oral é rara, sobretudo na língua. Sendo descrita como uma apresentação com maior grau de malignidade e risco metastático (4). Apesar de serem necessários mais estudos, a glossectomia parece ser bem tolerada em papagaios assim como em cães e coelhos (6) (5).
Conclusão
A glossectomia até metade da língua em papagaios são bem aceitas, se mantendo inclusive a capacidade de fala. Apesar de raros, mastocitomas também podem afetar as aves, inclusive em aparelho digestivo superior. Devido aos poucos relatos sobre casos parecidos, ainda não se tem um consenso sobre o melhor tratamento em casos de mastocitomas orais em papagaios.
Referências bibliográficas
- (de Piacentini, V. Q., Aleixo, A., Agne, C. E., Maurício, G. N., Pacheco, J.F., Bravo, G. A., … & Cesari, E. (2015). Annotated checklist of the birds of Brazil by the Brazilian Ornithological Records Committee/Lista comentada das aves do Brasil pelo Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos. Revista Brasileira de Ornitologia, 23, 91-298).
- (Lightfoot, T. L. (2006). Overview of tumors, section I: clinical avian neoplasia and oncology. Clinical avian medicine, 2, 560-571).
- Rebecca K. Dallwig , Julia K. Whittington , Karen Terio e AnnBarger “Cutaneous Mast Cell Tumor and Mastocytosis in a Black-masked Lovebird ( Agapornis personata )”, Journal of Avian Medicine and Surgery 26(1), 29-35, (1 de março de 2012).
- ELLIOTT, J.W.; CRIPPS, P.; BLACKWOOD, L. et al. Canine oral mucosal mast cell tumours. Vet. Comp. Oncol v.14, p.101-111, 2016.
- LIPTAK, J.; WITHROW, S.J. Cancer of gastrointestinal tract. In:WITHROW, S.J.; MacEWEN, E.G. Small animal clinical oncology . 5.ed. Philadelphia: Saunders, 2013. cap.22, p.381-431.
- Bulliot, C., Flenghi, L., & Levrier, C. (2019). Lingual Sarcoma and Its Treatment With Partial Glossectomy in a Pet Rabbit (Oryctolagus Cuniculus). Journal of Exotic Pet Medicine, 29, 70–75.
1 Coordenador e professor da Pós Graduação em Cirurgia Veterinária da Ufape Intercursos, professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense.
2 Lopes, médico veterinário anestesiologista e coordenador no Rio de Janeiro da Pós Graduação em Anestesiologia da Ufape Intercursos.
3 prof da Pós Graduação em anestesiologia da Ufape Intercursos.
4 médico veterinário cirurgião e pós graduado em cirurgia pela Ufape Intercursos.
5 médico veterinário cirurgião e pós graduado em cirurgia pela Ufape Intercursos.