MASTITE EM VACAS LEITEIRAS NO AMAZONAS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10420530


Ana Beatriz da Silva Lopes
Samantha Magalhães de Melo
Orientador: Prof. Dr. Marcimar Silva Sousa


RESUMO

A mastite, enfermidade infecciosa que afeta predominantemente o úbere de vacas leiteiras, pode manifestar-se de maneira aguda ou crônica. Causada por diversos microorganismos, caracteriza-se por um processo inflamatório e alterações físicas, químicas e bacteriológicas no leite, resultando em redução na produção láctea. A mastite bovina pode apresentar-se de forma clínica, com sintomas visíveis, ou subclínica. Esta revisão de literatura focaliza a mastite em vacas leiteiras, concentrando-se nas particularidades dessa condição no contexto do Amazonas. Exploramos os desafios únicos enfrentados pelas vacas leiteiras na região amazônica, considerando fatores ambientais e práticas agrícolas locais, e suas possíveis influências na prevalência e manejo da mastite. O objetivo é contribuir para uma compreensão aprimorada da mastite em vacas leiteiras na região amazônica. Ao destacar fatores distintivos, almejamos promover estratégias de prevenção e gestão mais eficazes, fortalecendo a saúde dos rebanhos leiteiros na Amazônia. Essa análise crítica e integração de dados específicos são cruciais para avanços no conhecimento e práticas relacionadas à mastite nesse contexto singular da região amazônica.

Palavas – Chave:Mastitre. Amazonas. Vacas leiteiras. Processo inflamatório.

ABSTRACT

Mastitis, an infectious disease predominantly affecting the udder of dairy cows, can manifest acutely or chronically. Caused by various microorganisms, it is characterized by an inflammatory process and physical, chemical, and bacteriological changes in milk, resulting in a reduction in milk production. Bovine mastitis can appear clinically, with visible symptoms, or subclinically. This literature review focuses on mastitis in dairy cows, emphasizing the specificities of this condition in the context of the Amazon. We explore the unique challenges faced by dairy cows in the Amazon region, considering environmental factors and local agricultural practices, and their potential influences on the prevalence and management of mastitis. The goal is to contribute to an enhanced understanding of mastitis in dairy cows in the Amazon region. By highlighting distinctive factors, we aim to promote more effective strategies for prevention and management, strengthening the health of dairy herds in the Amazon. This critical analysis and integration of specific data are crucial for advancements in knowledge and practices related to mastitis in this unique context of the Amazon region.

Keywords:Mastitis. Amazon. Dairy cows. Inflammatory process.

1. INTRODUÇÃO

A bovinocultura brasileira tem grande destaque na produção láctea mundial, gerando alta lucratividade e emprego. Entretanto, algumas patologias como a mastite podem gerar perdas de produção e gastos onerosos ao produtor. A mastite trata-se de um processo inflamatório da glândula mamária, podendo ser de origem fisiológica, traumática, alérgica, metabólica e/ou infecciosa. A mastite é uma condição caracterizada por agressões ao tecido da glândula mamária, resultando em resposta imunológica e inflamação (MASSOTE et al., 2019). Esta doença pode ser multifatorial, sendo as principais causas micotoxinas, traumas físicos, agentes químicos e infecciosos com invasão de microrganismos patogênicos através do canal do teto (RODRIGUES et al., 2018).

A mastite em vacas leiteiras representa uma das doenças mais importantes para a indústria leiteira devido às suas implicações na produção, qualidade do leite e saúde animal, (LEITE et al., 2016). Especialmente no contexto amazônico, está problemática ganha contornos únicos, tornando-se imperativo um entendimento aprofundado das características epidemiológicas, etiológicas e de manejo da doença na região. A vasta biodiversidade e a variedade climática da Amazônia oferecem um cenário distinto na produção animais, especialmente relacionado a sanidade. É que a prevalência e os possíveis agentes causadores de mastite em áreas de clima temperado ou tropical seco sejam diferentes dos encontrados no Amazonas(SILVA et al.,2018). Assim, é fundamental uma revisão minuciosa focada no contexto amazônico para capturar a totalidade da situação da mastite nas vacas leiteiras da região.

A mastite, especialmente no Amazonas, merece destaque não apenas pela sua relevância econômica, mas também pelos seus impactos ambientais, sociais e de saúde pública. Os produtores locais enfrentam perdas econômicas significativas devido à mastite, e os consumidores podem ficar expostos a produtos de menor qualidade ou até contaminado (MOTA, et al,. 2019). Além disso, não podemos esquecer o bem-estar animal. Vacas com mastite apresentam sensibilidade, dor e desconforto, o que comprometem sua qualidade de vida (SANTOS, 2004).

A mastite infecciosa pode ser classificada em duas formas, mastite contagiosa por agentes de pele e mucosa altamente adaptados as Glândulas mamárias, como por exemplo Staphylococcus aureus e Mycoplasma spp. e mastite ambiental que o agente infeccioso está presente no local de convívio dos animais, sendo o mais importante os agentes do gênero Streptococcus (MENEZES et al., 2023; CONRAD, 2014).

Esta enfermidade pode se manifestar na forma subclínica, clínica ou clínica crônica, podendo ainda progredir para uma infecção sistêmica, principalmente na forma subclínica, onde os sinais clínicos muitas vezes são imperceptíveis, podendo se agravar de forma aguda e se não forem tratadas adequadamente e em seu estado inicial (COSER et al.., 2012)

O diagnóstico da mastite clínica é realizado por meio do exame físico e criterioso das glândulas mamárias e de suas secreções com as glândulas mamárias vazias, o exame físico é realizado de maneira que se busca identificar alterações físicas como dor, rubor, mudança na consistência do tecido mamário, presença de nódulos, edema ou inchaço, por meio da inspeção e palpação (MASSOTE et al., 2019; MENIN, 2019).

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Definição e generalidades sobre mastite bovina

A mastite é definida como uma inflamação da glândula mamária, sendo uma das doenças mais comuns e custosas na produção de leite em nível global (BRITO et al., 2018). Ela compromete a quantidade e a qualidade do leite produzido, levando a perdas econômicas significativas.A doença pode ser classificada quanto à sua apresentação clínica em mastite clínica e subclínica. Na forma clínica, são observadas alterações visíveis no leite e/ou no úbere, enquanto na subclínica, apesar de não apresentar sinais clínicos evidentes, ocorrem alterações na composição do leite e aumento da concentração de células somáticas (CCS) (FAGUNDES; FONSECA, 2004; LANA et al., 2016).

Os agentes causadores da mastite podem ser classificados em contagiosos e ambientais. Os agentes contagiosos são transmitidos principalmente durante a ordem, incluindo patógenos como Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae. Já os agentes ambientais, como Escherichia coli e Enterococcus spp., estão presentes no ambiente e podem infectar o úbere quando há falhas no manejo (RIBEIRO et al., 2015).

A prevenção é a estratégia mais eficaz no controle da mastite, e a implementação de boas práticas de manejo e higiene na ordem são essenciais a utilização de pré-dipping(desinfecção previa) e pós-dipping (desinfecção pós ordenha), a manutenção de equipamentos de ordem em boas condições e a identificação e tratamento de animais infectados são práticas recomendadas (SILVA et al., 2010).

A mastite subclínica é particularmente preocupante devido à sua prevalência e dificuldade de detecção. Estudos apontam que o teste do CMT (California Mastite Test) e a análise do CCS são ferramentas úteis para sua identificação (OLIVEIRA et al., 2018). O controle e o monitoramento constante do CCS, além de serem indicativos da saúde do úbere, influenciam diretamente na qualidade do leite produzido (COSTA et al., 2017).

Além das perdas econômicas, a mastite bovina tem um impacto na saúde pública. O leite proveniente de vacas com mastite pode apresentar resíduos de medicamentos e uma maior presença de microrganismos patogênicos, que podem ser transmitidos ao consumidor caso o leite não seja especificamente processado (SANTOS; FONSECA, 2016).

O tratamento da mastite varia de acordo com o agente causador. Em muitos casos, utiliza-se antibioticoterapia, cuja escolha do antibiótico deve ser baseada em testes de sensibilidade. Vale ressaltar a importância da adoção de períodos de carência após o tratamento, garantindo que o leite produzido seja livre de resíduos de medicamentos (AZEVEDO et al., 2012).

O Brasil, com sua produção leiteira em ascensão, tem enfrentado desafios no controle da mastite, especialmente em propriedades agrícolas familiares. Estas, muitas vezes, carecem de infraestrutura adequada e informações sobre boas práticas de manejo (SOUZA et al., 2019).A integração entre pesquisadores, extensionistas e produtores é fundamental para o sucesso no controle da mastite. Iniciativas de capacitação, como cursos e dias de campo, têm se mostradas eficientes na transferência de conhecimento e tecnologias para os produtores (GOMES et al., 2020).

A mastite bovina é uma doença de grande importância econômica, sanitária e de bem-estar animal. Estratégias de prevenção, detecção precoce e tratamento adequado, aliadas à educação e capacitação dos produtores, são essenciais para a sustentabilidade da produção de leiteira (MARTINS et al., 2021).A conscientização do produtor sobre a importância de medidas profiláticas, incluindo programas de manejo adequados, é de suma importância no controle eficaz da mastite bovina (BARROS et al., 2013). Além das práticas de higienização e infecção, a nutrição adequada dos animais também é fundamental para manter o sistema imunológico dos bovinos fortalecidos, diminuindo, assim, a susceptibilidade à infecção (SOARES et al., 2015).

O diagnóstico preciso e rápido é uma das chaves para o controle eficaz da mastite. Nesse sentido, avanços tecnológicos na área de diagnóstico veterinário têm surgido no Brasil, como os sistemas automatizados de detecção de patógenos e a utilização de ferramentas moleculares, permitindo identificar o agente etiológico de forma mais rápida e precisa (LIMA et al., 2020).

Vale ressaltar, também, a relevância de práticas sustentáveis no combate à mastite. A utilização de fitoterápicos, por exemplo, tem sido estudada como alternativa ao uso excessivo de antibióticos, que podem gerar resistência bacteriana e resíduos no leite. Algumas plantas possuem propriedades antimicrobianas e anti-inflamatórias, tornando-se uma opção promissora no tratamento da mastite (FERREIRA et al., 2018).

Paralelamente, a genética também desempenha um papel importante na resistência à mastite. Estudos recentes têm apontado marcadores genéticos associados à resistência a determinados patógenos causadores de mastite. Essas descobertas têm o potencial de auxiliar em programas de melhoramento genético, resultando em animais menos suscetíveis à doença (MENEZES et al., 2019).

A mastite bovina, quando não controlada, pode comprometer a sustentabilidade da atividade leiteira, sobretudo em propriedades de pequeno e médio porte, que são predominantemente na região amazônica brasileira. Neste contexto, a extensão rural tem um papel primordial, participando na disseminação de conhecimentos e técnicas para prevenção e tratamento da mastite, contribuindo para o desenvolvimento da pecuária leiteira de forma sustentável (ANDRADE et al., 2021).

O controle da mastite bovina exige uma abordagem multifacetada, que abrange desde práticas de manejo até avanços em pesquisa e tecnologia. A cooperação entre produtores, veterinários, pesquisadores e extensionistas é fundamental para o enfrentamento dessa deficiência, garantindo a produção de um leite de qualidade e a sustentabilidade da atividade leiteira no Brasil.

2.2 A mastite bovina no contexto amazônico

A pecuária leiteira é uma atividade econômica de grande relevância para o Brasil, sendo o país um dos maiores produtores de leite do mundo (LEITE et al., 2018). No contexto amazônico, a pecuária assume particularidades, enfrentando desafios como o clima quente e úmido, que são potenciais facilitadores para o surgimento de doenças em rebanhos, como a mastite bovina (MOTA et al., 2016).

A mastite é uma inflamação da glândula mamária, definida em clínica ou subclínica. A mastite clínica é facilmente identificada por alterações no leite e no úbere, já na subclínica, apesar de não apresentar sintomas visíveis, pode ser detectada por exames como a contagem de células somáticas (CCS) (SILVA et al., 2019). No Amazonas, a prevalência de mastite, sobretudo a subclínica, é elevada, sendo influenciada por diversos fatores ambientais, manejo e práticas zootécnicas (MOTA et al., 2016).

O clima amazônico, caracterizado por altas temperaturas e umidade, fornece condições ideais para a multiplicação de microrganismos patogênicos causadores da mastite, como Staphylococcus aureus e Escherichia coli (MOTA et al., 2016). Além disso, a ocorrência de chuvas intensas e frequentes pode dificultar a higienização adequada dos animais e das instalações, aumentando o risco de contaminação do leite (SANTOS et al., 2015).A doença pode resultar em perdas financeiras diretas, devido à diminuição na produção e qualidade do leite, e indiretas, decorrentes de tratamentos, descarte de leite contaminado e eventualmente a necessidade de descartar animais (CARVALHO et al., 2017). 

Segundo dados da Embrapa, os prejuízos econômicos da mastite no Brasil ultrapassaram 1 bilhão de reais por ano, e no Amazonas, esta realidade não é diferente, considerando-se as especificidades da região (SANTOS et al., 2015).Além do impacto econômico, a mastite tem implicações diretas no bemestar animal com significativas causas desconfortos e dor e pode compromete a saúde geral dos animais, levando, em casos mais graves, ao óbito (PEREIRA et al., 2014). É fundamental ressaltar também a questão da saúde pública. A mastite pode causar alterações no leite, comprometendo sua qualidade e representando riscos à saúde humana, principalmente quando há contaminação por microrganismos patogênicos (ALVES et al., 2016).

Os desafios de manejo em rebanhos leiteiros na Amazônia são intrínsecos à região, sem ou com pouco acesso a tecnologias avançadas de prevenção e controle de doenças.A extensão rural, que já atua em diversas partes do Amazonas, tem um papel crucial na educação e assistência técnica, promovendo práticas que reduzem a incidência de mastite e outras doenças (OLIVEIRA et al., 2019; BARBOSA et al., 2018).Assim, a mastite bovina no contexto amazônico é um desafio que exige uma abordagem multidimensional, considerando aspectos ambientais, socioeconômicos e culturais , de bem-estar animal e saúde pública. A adoção de práticas de manejo adequadas, aliadas à pesquisa e extensão rural, pode contribuir significativamente para a mitigação dos impactos desta doença na região, promovendo a sustentabilidade da pecuária leiteira no Amazonas (BARBOSA et al., 2018; FERREIRA et al., 2020).

De maneira paralela, é essencial que as políticas públicas estejam alinhadas às necessidades dos produtores rurais da Amazônia. Incentivos à pesquisa local, programas de capacitação e apoio financeiro são ferramentas que podem auxiliar na promoção de uma leiteira pecuária mais sustentável e resiliente.Um ponto crucial é o fortalecimento das cooperativas e associações locais. Quando os produtores seunem, têm maior poder de negociação, acesso facilitado a novas tecnologias e informações e, consequentemente, maior capacidade de enfrentar adversidades, como a mastite bovina (SOUZA et al., 2020; LIMA et al., 2021; MESQUITA et al., 2023).

Dentro deste contexto, surge a extensão rural como uma estratégia eficaz, mitigando os impactos desta doença. Ao longo da extensão, busca-se levar aos agricultores familiares informações técnicas, capacitações e práticas recomendadas, moldando o manejo para responder eficazmente ao desafio da mastite. Para avaliar a eficácia destas intervenções, realizou-se um estudo de multicasos em cinco propriedades da região amazônica, ao longo de 12 meses. Essas propriedades, sob acompanhamento, foram alvo de ações extensionistas que contemplaram visitas regulares, diagnósticos de saúde dos animais e treinamentos focados (SALERME; CALDEIRA, 2023; BRANDÃO; BISSI, 2023; DIONÍSIO et al., 2023).

2.3. A pecuária leiteira na região amazônica

A pecuária leiteira na região amazônica apresenta características singulares que diferenciam de outras regiões do Brasil, tanto em aspectos produtivos quanto socioambientais. Localizada em uma das regiões de maior biodiversidade do planeta, a atividade leiteira no bioma Amazônia enfrenta desafios relacionados ao manejo sustentável, à adaptação às condições climáticas e à infraestrutura deficitária (VEIGA et al., 2010; SANTOS et al., 2013).

Historicamente, a Amazônia foi palco de exploração madeireira e agropecuária extensiva, cujo avanço avançado trouxe consequências ambientais e sociais preocupantes, como o desmatamento e a expulsão de comunidades tradicionais de seus territórios. A pecuária leiteira, por sua vez, começou a ganhar espaço na região nas últimas décadas, especialmente em áreas de fronteira agropecuária, onde parte dos pastos para o gado de corte foram substituídos por pastagens para o gado leiteiro (ARIMA et al., 2014; CARVALHO et al., 2016).

A atividade leiteira na Amazônia, em sua grande parte, está ancorada em pequenas propriedades, que representam mais de 80% das unidades produtoras de leite da região. Essas propriedades caracterizam-se pelo manejo extensivo, baixo uso de tecnologia e pela policultura, sendo que muitas delas se associam à produção leiteira à agricultura familiar (SILVA et al., 2018).

Entretanto, essas pequenas propriedades enfrentam desafios significativos. Em primeiro lugar, as condições climáticas amazônicas, com altas temperaturas e umidade elevada, propiciam o surgimento de doenças, como a mastite, e indiretamente, como o carrapato, que afetam a produtividade e a qualidade do leite (LIMA et al., 2017; GOMES et al., 2019). Em segundo lugar, a falta de infraestrutura adequada, como estradas e armazenamento refrigerado, impacta na logística de transporte e conservação do leite, levando a perdas consideráveis (MENDES et al., 2015).

A pesquisa científica também tem se debruçado sobre a realidade amazônica, buscando alternativas para aprimorar a produção láctea. Estudos sobre genética bovina têm raças identificadas mais adaptadas às condições climáticas e sanitárias da região, como o Girolando e o Gyr Leiteiro. Além disso, pesquisas focadas em alimentação e nutrição animal propõem dietas mais equilibradas e adaptadas ao bioma amazônico, contribuindo para a melhoria da produtividade e qualidade do leite (COSTA et al., 2020; SOUZA et al., 2021).

Outro ponto relevante é a valorização dos produtos oriundos da pecuária leiteira sustentável da Amazônia. Queijos, iogurtes e outros derivados produzidos de maneira artesanal e sustentável ganharam destaque em mercados nacionais e até internacionais, agregando valor à produção local e incentivando práticas agrícolas mais conscientes (OLIVEIRA et al., 2018).

O aspecto econômico também é um elemento central no desenvolvimento da pecuária leiteira na Amazônia. Historicamente, uma região tem enfrentado dificuldades em competir com outras áreas leiteiras do Brasil devido aos altos custos de produção e aos desafios logísticos. Por outro lado, a Amazônia possui um potencial significativo para a produção de leite orgânico e de sistemas agroflorestais integrados, que podem agregar valor ao produto e contribuir impacto ambiental reduzido (DINIZ et al., 2019; CASTRO et al., 2020).

A leiteira pecuária na Amazônia é uma atividade de grande relevância socioeconômica e ambiental. Apesar dos desafios, a região possui um potencial imenso para o desenvolvimento de sistemas produtivos que sejam ao mesmo tempo rentáveis, sustentáveis e socialmente justos. Com compromisso, investimento e cooperação, é possível consolidar a Amazônia como uma referência em leiteira pecuária sustentável no cenário nacional e internacional.

Conforme informações do site oficial da Prefeitura de Manaus, a capital amazonense tem incentivos projetos específicos para o fortalecimento do setor, mudando uma produção mais sustentável e competitiva (Prefeitura de Manaus, 2021).

A Prefeitura de Parintins destaca em seu portal a importância de práticas adaptativas, como o manejo adequado de pastagens, para garantir a produtividade do leite (Prefeitura de Parintins, 2020).

O site da Prefeitura de Itacoatiara aborda as ações realizadas para melhorar a infraestrutura de transporte e reduzir os custos para os produtores (Prefeitura de Itacoatiara, 2019).

Estes modelos produtivos, que buscam a harmonia entre a produção animal e vegetal, são promovidos não apenas por seus benefícios ambientais, mas também econômicos. A diversificação de produção aumenta a resiliência dos produtores em momentos de crise e abre novas possibilidades de mercado (Prefeitura de Manacapuru, 2022).

No que tange ao associativismo, a Prefeitura de Tefé, por meio de seu site institucional, destaca a formação de cooperativas leiteiras como uma estratégia eficaz para fortalecer a posição dos produtores no mercado, melhorando a qualidade da produção e garantindo preços mais justos (Prefeitura de Tefé, 2021).

A pecuária leiteira na Amazônia, com seus desafios inerentes, tem um potencial imenso de crescimento. O apoio institucional, a formação e capacitação dos produtores, e a adoção de práticas sustentáveis são caminhos que, quando trilhados conjuntamente, podem trazer benefícios duradouros para a região.

2.4. Bactérias causadoras da mastite bovina

Staphylococcus é um gênero de bactérias que engloba diversas espécies responsáveis por infecções em seres humanos.

Staphylococcusaureus, por exemplo, pode causar infecções cutâneas, como furúnculos e abscessos, mas também é responsável por infecções mais graves, como a pneumonia e endocardite (SILVA et al., 2018). Uma das maiores preocupações relacionadas a este patógeno é a emergência de cepas resistentes, como o Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA), que apresenta resistência a diversos antibióticos, tornando o tratamento mais complexo (BARROS et al., 2019).

Por outro lado, Escherichia é outro gênero bacteriano de relevância clínica. A espécie Escherichia coli é comumente encontrada no trato gastrointestinal dos seres humanos e animais, atuando como parte da microbiota normal (SANTOS; ANDRADE, 2017). No entanto, algumas cepas podem ser patogênicas, causando desde infecções intestinais, como a diarreia, até infecções urinárias e septicemia. A transmissão é frequentemente associada à ingestão de água ou alimentos contaminados, e a presença de cepas resistentes a múltiplos antibióticos também tem sido documentada, elevando as preocupações com o tratamento (COSTA; FERREIRA, 2020).

Outro patógeno bacteriano que se destaca é o Mycobacterium tuberculosis, agente causador da tuberculose. A doença é uma das infecções bacterianas mais prevalentes em todo o mundo e representa um sério problema de saúde pública no Brasil, especialmente em populações vulneráveis (OLIVEIRA; RIBEIRO, 2019). A transmissão ocorre por gotículas respiratórias, e o tratamento é prolongado, o que pode resultar em abandono e surgimento de resistência.

A resistência antimicrobiana tem gerado inquietação entre a comunidade de saúde pública e líderes globais, dado o aumento nos custos do tratamento antibiótico e na taxa de mortalidade associada à resistência antimicrobiana em escala global. Essa preocupação não se restringe à medicina humana, pois quantidades significativas de antimicrobianos são igualmente empregadas na pecuária (LAXMINARAYAN et al., 2016).

No Brasil, para o tratamento da mastite, são empregadas diversas classes de antimicrobianos, como os beta-lactâmicos (penicilinas e cefalosporinas), aminoglicosídeos, macrolídeos, lincosaminas, polimixinas, sulfonamidas e tetraciclinas. Essas distintas categorias de antimicrobianos possuem mecanismos de ação variados, e os patógenos podem desenvolver diferentes mecanismos de resistência (COSTA, 2006).

Bactérias podem apresentar resistência a antibióticos por meio de diversos mecanismos, tais como a modificação enzimática da molécula do antibiótico, a alteração do sítio de ação do antibiótico, a modificação da permeabilidade da parede celular bacteriana e o desenvolvimento de vias alternativas para escapar da atividade antimicrobiana (VERRAES et al., 2013).

A resistência antimicrobiana pode manifestar-se de forma intrínseca ou adquirida. A resistência antimicrobiana intrínseca é uma característica inata de uma espécie bacteriana ou gênero em relação a um antibiótico específico. Por outro lado, a resistência é considerada adquirida quando uma cepa suscetível se torna resistente como resultado de uma evolução recente dessa cepa. Esse fenômeno pode ocorrer devido a uma mutação, que geralmente ocorre espontaneamente dentro de uma população bacteriana, ou à aquisição de um gene de resistência específico por meio da transferência horizontal de genes (STACY; TOM, 2006).

No estudo conduzido por Chagas et al. (2012), observou-se que o agente mais prevalente foi o Staphylococcus aureus, correspondendo a 45,0% das ocorrências, seguido pelo Staphylococcus epidermidis, que representou 10,0%. As estirpes de estafilococos coagulase-negativa totalizaram 15,0%, enquanto os estafilococos coagulase-positiva corresponderam a 10,0%.

Das 118 estirpes de estafilococos isoladas, evidenciou sensibilidade a maioria das drogas testadas. Contudo, foi observado um perfil de resistência de Staphylococcus sp de 61,8% à penicilina, 15,2% à oxalina e 9,3% à tetraciclina.

  Figura 1: Padrão de resistência de Staphylococcus sp. em amostras de leite.

Fonte: CHAGAS et al., 2012.

2.5. Impactos econômicos da mastite na produção leiteira

Em um cenário inicial, a manifestação clínica da mastite provoca uma redução direta na quantidade de leite produzido pela vaca acometida. Em casos mais graves, essa queda pode ser de até 50% da produção usual. Este impacto direto na produção é o mais facilmente percebido pelos produtores, mas a mastite também acarreta outros prejuízos menos visíveis, porém igualmente relevantes(MARTINS et al., 2016).

O leite de vacas com mastite possui alterações em sua composição, principalmente em relação à contagem de células somáticas e qualidade do leite. Esta situação leva a uma desvalorização do leite no mercado, uma vez que os laticínios pagam um prêmio por leite de melhor qualidade e impõem penalidades para leite que não atende aos padrões estabelecidos.Outro impacto econômico é o custo com tratamentos. Os protocolos de tratamento da mastite, em geral, envolvem a utilização de antibióticos, o que implica em custos diretos com a aquisição de medicamentos, além do descarte do leite durante e após o tratamento, uma vez que este não pode ser comercializado por conter resíduos do medicamento ((OLIVEIRA et al., 2017; REIS et al., 2018).

Os custos indiretos da mastite também são expressivos. Vacas acometidas pela enfermidade tendem a apresentar uma vida produtiva mais curta e podem ser descartadas precocemente do rebanho, representando uma perda de investimento para o produtor. Além disso, a necessidade de manter um monitoramento mais rigoroso e frequentes exames no rebanho também gera custos adicionais (LIMA; FONSECA, 2019).

No contexto brasileiro, a mastite também traz implicações econômicas associadas à imagem do produto no mercado. O Brasil busca ampliar sua participação no mercado internacional de lácteos e a qualidade do leite é um dos critérios mais observados pelos importadores. Portanto, surtos frequentes de mastite podem prejudicar a imagem da produção nacional, dificultando o acesso a mercados mais exigentes e rentáveis (BARROS et al., 2020).

Por fim, vale destacar que a prevenção ainda é o método mais econômico e eficaz de controle da mastite. Investir em manejo adequado, alimentação balanceada, treinamento de mão-de-obra e instalações que minimizem o estresse do animal são estratégias que, apesar de demandarem investimento inicial, trazem retorno a médio e longo prazo, reduzindo a incidência da doença e, consequentemente, seus impactos econômicos (SANTOS et al., 2021).

Em síntese, a mastite representa um desafio econômico significativo para a produção leiteira, impactando tanto a quantidade quanto a qualidade do leite produzido, além de acarretar custos adicionais com tratamento e prevenção. Portanto, estratégias eficazes de manejo e prevenção são essenciais para garantir a rentabilidade e sustentabilidade da atividade leiteira.

2.6. Estratégias de controle e prevenção adaptadas à realidade amazônica

A região amazônica, dada a sua vastidão e particularidades ambientais, apresenta desafios específicos para a pecuária leiteira, e, consequentemente, para o controle e prevenção de doenças como a mastite. Primeiramente, é fundamental entender que o clima úmido e quente da Amazônia pode favorecer a proliferação de micro-organismos causadores de mastite. Dessa forma, a adequação das instalações é essencial, buscando garantir ambientes frescos, secos e limpos para as vacas (OLIVEIRA et al., 2015; ALVES et al., 2016). 

Para isso, é fundamental que se adote uma abordagem participativa, envolvendo produtores, trabalhadores rurais, veterinários e pesquisadores no processo decisório e na implementação de ações.A capacitação e treinamento contínuo dos trabalhadores que lidam diretamente com os animais também se apresenta como uma estratégia-chave.Técnicas corretas de ordenha, identificação precoce de sintomas e manejo adequado de animais doentes são pontos que devem ser constantemente reforçados. potro ponto fundamental para a saúde do rebanho é o cuidado com o tratamento da mastite que deve ser feito com base em diagnósticos precisos e seguindo protocolos bem definidos, evitando o uso desnecessário de medicamentos (LOPES et al., 2017; SILVA; MARTINS, 2017; MACHADO et al., 2018).

Assim é sabido que Instituições de pesquisa localizadas na região, como a Embrapa Amazônia Ocidental, oferece valiosos sobre técnicas e estratégias adaptadas à realidade local, além de proporcionar o desenvolvimento de soluções inovadoras em termos de prevenção e controle da doença (EMBRAPA, 2019).

A buscam pelo equilíbrio entre produção e preservação, podem ser aliadas no controle de mastite, especialmente ao promover a saúde geral do rebanho e reduzir a pressão de patógenos no ambiente.A promoção de programas de melhoramento genético, adaptados à realidade amazônica, também é uma estratégia válida. Selecionar animais mais resistentes a doenças e adaptados ao clima tropical úmido pode reduzir a incidência de mastite e outros problemas de saúde no rebanho (CARVALHO et al., 2020; FREITAS et al., 2021).

2.7. Medidas preventivas e boas práticas de manejo

As boas práticas de manejo e as medidas preventivas são essenciais para a saúde do rebanho, a qualidade do leite produzido e a viabilidade econômica da atividade leiteira. Através da adoção dessas práticas e da capacitação contínua, é possível otimizar a produção e garantir a sustentabilidade da atividade a longo prazo.

O manejo inadequado pode não apenas comprometer a produção, mas também acarretar prejuízos econômicos e riscos à saúde pública (FERREIRA et al., 2016).

O primeiro passo é garantir a saúde do rebanho, o que começa pela seleção de animais saudáveis, evitando a introdução de doenças na propriedade. É fundamental que os animais novos passem por um período de quarentena e sejam submetidos a exames clínicos e laboratoriais antes de serem integrados ao rebanho (OLIVEIRA et al., 2018).

O processo de ordenha deve ser realizado por profissionais capacitados, que devem lavar as mãos e utilizar equipamentos limpos e desinfetados. As tetas das vacas também devem ser limpas e desinfetadas antes e após a ordenha, evitando a contaminação do leite e a propagação de doenças como a mastite (SILVA et al., 2017).

As vacas leiteiras necessitam de uma dieta balanceada, rica em nutrientes e adequada às suas necessidades específicas. Um plano nutricional adequado não apenas promove a saúde do rebanho, mas também otimiza a produção leiteira. Além disso, a gestão adequada dos recursos hídricos, considerando o tratamento e reuso de águas residuais, é fundamental para a sustentabilidade da atividade leiteira, especialmente em regiões de clima mais seco ou com períodos de estiagem prolongados (SILVEIRA; MEDEIROS, 2020; ALMEIDA; SANTOS, 2019).

O controle de doenças reprodutivas, o acompanhamento de cios e a realização de exames regulares são essenciais para garantir uma reprodução saudável e eficiente. O uso de tecnologias, como a inseminação artificial, pode potencializar os resultados, desde que acompanhado de um manejo adequado (MARTINS et al., 2020).

Estudos têm mostrado que animais submetidos a estresse, seja por condições inadequadas de alojamento, manejo inadequado ou outros fatores, produzem menos e são mais suscetíveis a doenças. Portanto, garantir que as vacas tenham acesso a abrigos confortáveis, áreas de descanso adequadas e uma rotina estável é crucial para sua saúde e produtividade (LOPES; VIEIRA, 2021).

Por fim, a capacitação constante da equipe é fundamental. O manejo do rebanho leiteiro é uma atividade dinâmica, e novas técnicas, tecnologias e abordagens são desenvolvidas continuamente. Manter-se atualizado e investir em treinamento regular é a chave para garantir a adoção das melhores práticas (CARVALHO et al., 2022).

A observação atenta dos animais permite identificar precocemente quaisquer sinais de doença ou estresse, possibilitando intervenções rápidas e eficazes. Isso é particularmente importante quando se considera enfermidades como a mastite, cujo tratamento precoce pode evitar perdas significativas (CAMPOS et al., 2018).Um controle efetivo desses parasitas, aliado a práticas como a rotação de pastagens, pode reduzir drasticamente os riscos associados a eles (RODRIGUES; OLIVEIRA, 2019).

Equipamentos de ordenha mal conservados ou defeituosos podem não apenas reduzir a eficiência da produção, mas também representar um risco para a saúde dos animais e dos trabalhadores. Inspeções regulares e manutenções preventivas são a chave para garantir a segurança e eficácia do  processo de produção leiteira (MENDES; ARAÚJO, 2021).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo deste estudo, aprofundamos o conhecimento sobre diversos aspectos relacionados à pecuária leiteira, com ênfase especial nas condições da Região Amazônica. Discutimos a dinâmica da pecuária leiteira nesta região, os desafios associados, os principais agentes etiológicos, fatores ambientais que contribuem para a etiologia de doenças, e, sobretudo, abordamos as estratégias de controle, prevenção e boas práticas de manejo adaptadas à realidade local.

É evidente que a pecuária leiteira na Amazônia possui características distintas de outras regiões do Brasil, tanto no que se refere às práticas de manejo quanto às particularidades ambientais. A presença de patógenos específicos e a influência de fatores ambientais requerem uma atenção especial no desenvolvimento e implementação de estratégias de controle.

O manejo preventivo se apresenta como uma solução viável para a redução de problemas associados à saúde do rebanho. Estratégias adaptadas à realidade amazônica, tais como a melhoria da infraestrutura, adoção de boas práticas e um enfoque no bem-estar animal, são fundamentais para garantir uma produção leiteira sustentável, rentável e de qualidade.

Além disso, a integração de informações provenientes de fontes oficiais, como prefeituras de diferentes municípios da região, acrescentou uma perspectiva valiosa sobre as iniciativas e projetos locais. Estes, por sua vez, reforçam o compromisso das autoridades locais com o desenvolvimento sustentável da atividade leiteira na região.

Por fim, é essencial reconhecer que, apesar dos desafios, a pecuária leiteira na Amazônia tem um potencial significativo de contribuição para a economia local e nacional. Com a adoção de medidas preventivas, investimento em pesquisa e capacitação dos produtores, é possível alavancar a atividade leiteira na região, garantindo um produto de qualidade e, ao mesmo tempo, preservando a riqueza ambiental e cultural amazônica.

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