REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412030862
Thayná Marques Siqueira
Orientador: Anna Maly de Leão e Neves Eduardo
RESUMO
O Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) continua sendo uma das principais causas de morte e morbidade no mundo, exigindo diagnóstico precoce e preciso para a implementação de terapias adequadas. Os biomarcadores bioquímicos desempenham um papel fundamental na detecção da lesão miocárdica e na diferenciação de condições clínicas, sendo determinantes na escolha do tratamento e na estratificação de risco. Este estudo é uma revisão de literatura sobre os biomarcadores utilizados no diagnóstico do IAM, com foco nos biomarcadores tradicionais, como as troponinas T e I e a CK-MB, e na perspectiva de novos marcadores emergentes. A pesquisa revisitou diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia, que recomendam as troponinas como o marcador de escolha devido à sua alta sensibilidade e especificidade, com a CK-MB sendo uma alternativa quando a troponina não está disponível. Além disso, explorou- se o potencial de biomarcadores emergentes, como miRNA e proteínas associadas ao estresse celular, que podem complementar ou até substituir os biomarcadores tradicionais no futuro. A análise mostrou que, apesar das limitações dos biomarcadores atuais em certas condições clínicas, a combinação de troponinas e CK-MB ainda é a estratégia mais eficaz para o diagnóstico do IAM. A pesquisa também destacou a importância do desenvolvimento de novas ferramentas diagnósticas mais rápidas e acessíveis, com o objetivo de melhorar a precisão do diagnóstico, especialmente em contextos com recursos limitados.
Palavras-chave: Biomarcadores, Troponina, CK-MB, Diagnóstico.
ABSTRACT
Acute Myocardial Infarction (AMI) remains one of the leading causes of death and morbidity worldwide, requiring early and accurate diagnosis for the implementation of appropriate therapies. Biochemical biomarkers play a key role in the detection of myocardial injury and in the differentiation of clinical conditions, being determinant in the choice of treatment and risk stratification. This study is a literature review on the biomarkers used in the diagnosis of AMI, focusing on traditional biomarkers, such as troponins T and I and CK-MB, and on the perspective of new emerging markers. The research revisited guidelines from the Brazilian Society of Cardiology, which recommend troponins as the marker of choice due to their high sensitivity and specificity, with CK-MB being an alternative when troponin is not available. In addition, the potential of emerging biomarkers, such as miRNA and proteins associated with cellular stress, which may complement or even replace traditional biomarkers in the future, was explored. The analysis showed that, despite the limitations of current biomarkers in certain clinical conditions, the combination of troponins and CK-MB remains the most effective strategy for the diagnosis of AMI. The research also highlighted the importance of developing new, faster and more accessible diagnostic tools, with the aim of improving diagnostic accuracy, especially in resource-limited settings.
Keywords: Biomarkers, Troponin, CK-MB, Diagnosis.
1 INTRODUÇÃO
O Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) é uma das principais causas de morbidade e mortalidade no mundo, representando um desafio contínuo para a medicina moderna, tanto em termos de diagnóstico quanto de manejo clínico. O diagnóstico precoce e preciso do IAM é essencial para a implementação de terapias adequadas, que podem salvar vidas e reduzir complicações a longo prazo. Nesse contexto, os biomarcadores bioquímicos desempenham um papel fundamental na identificação da lesão miocárdica e na diferenciação entre diversas condições clínicas. O uso de biomarcadores no diagnóstico do IAM tem se mostrado crucial para a definição do tratamento mais adequado, além de permitir a estratificação de risco e o monitoramento da evolução clínica dos pacientes. A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) recomenda, entre os principais biomarcadores, as troponinas T e I e a CK-MB (creatina quinase- fração MB), como os mais confiáveis na detecção de lesão miocárdica, sendo a troponina (T ou I) considerada o marcador de escolha devido à sua alta sensibilidade e especificidade quase absoluta para o diagnóstico de IAM. A CK-MB, por sua vez, é indicada quando os ensaios de troponina não estão disponíveis ou são inviáveis, mas a CK total não é recomendada devido à sua menor especificidade.
O presente estudo tem como objetivo revisar a literatura atual sobre os biomarcadores bioquímicos no diagnóstico do Infarto Agudo do Miocárdio, destacando a relevância dos biomarcadores atuais, como as troponinas T e I e a CK-MB, além de explorar a perspectiva de novos marcadores que possam complementar ou substituir os biomarcadores tradicionais no futuro. A utilização de biomarcadores precisos e confiáveis é essencial para o diagnóstico precoce do IAM e para a tomada de decisões terapêuticas rápidas, contribuindo diretamente para a melhoria do prognóstico dos pacientes. A escolha adequada do biomarcador é um fator determinante na precisão do diagnóstico e na adequada stratificação de risco, evitando tanto diagnósticos falsos positivos quanto negativos. Embora as troponinas T e I e a CK-MB sejam amplamente reconhecidas e recomendadas pela SBC, há uma crescente busca por novos biomarcadores que possam oferecer vantagens adicionais, como maior rapidez, menor custo ou maior especificidade, especialmente em situações clínicas onde os marcadores tradicionais apresentam limitações. Além disso, a pesquisa sobre biomarcadores emergentes pode abrir novos horizontes para um diagnóstico ainda mais preciso e eficaz, melhorando a gestão do IAM e, consequentemente, os desfechos dos pacientes.
O objetivo geral é de revisar a literatura sobre os biomarcadores bioquímicos utilizados no diagnóstico do Infarto Agudo do Miocárdio, destacando os biomarcadores atuais recomendados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e explorando as perspectivas de novos biomarcadores em potencial.
Os objetivos específicos deste estudo são, primeiramente, discutir os biomarcadores bioquímicos mais utilizados no diagnóstico do Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), com foco especial nas troponinas T e I e na CK-MB. Em seguida, será realizada uma análise das vantagens e limitações dos biomarcadores tradicionais, considerando o contexto clínico do IAM. O estudo também se propõe a investigar as novas pesquisas e descobertas relacionadas a biomarcadores emergentes para o diagnóstico do IAM. Por fim, o trabalho avaliará a importância da escolha adequada do biomarcador no diagnóstico precoce do IAM e na estratificação de risco dos pacientes, visando otimizar as decisões terapêuticas e o prognóstico dos mesmos. A utilização dos biomarcadores atuais, especialmente as troponinas T e I e a CK-MB, continua sendo a estratégia mais eficaz para o diagnóstico do Infarto Agudo do Miocárdio, devido à sua alta sensibilidade e especificidade. Contudo, novos biomarcadores emergentes podem vir a complementar ou até substituir os marcadores tradicionais, proporcionando diagnósticos mais rápidos e precisos, além de possibilitar uma abordagem mais personalizada no tratamento do IAM.
2 METODOLOGIA
Este estudo trata-se de uma revisão de literatura sobre os biomarcadores bioquímicos no diagnóstico do Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), com foco nos biomarcadores atualmente recomendados e na perspectiva de novos marcadores emergentes. A revisão foi conduzida a partir de uma busca detalhada nas principais bases de dados científicas, incluindo PubMed, Google Scholar, e Lilacs, utilizando os seguintes critérios de pesquisa: “biomarcadores do infarto agudo do miocárdio”, “troponina I e T”, “CK-MB”, “biomarcadores emergentes”, “diagnóstico de IAM”, e “perspectivas de biomarcadores para infarto agudo do miocárdio”. A busca foi restrita a publicações entre 2016 e 2023 para garantir que a literatura revisada fosse atual e relevante. Os estudos incluídos na revisão foram artigos originais, revisões de literatura, guias clínicos e livros especializados que abordam os biomarcadores usados no diagnóstico do IAM. Para garantir a relevância e qualidade dos estudos incluídos, adotaram-se os seguintes critérios de inclusão: Artigos publicados entre 2016 e 2023; Estudos focados no diagnóstico do Infarto Agudo do Miocárdio (IAM); Artigos que abordam especificamente biomarcadores bioquímicos, como troponinas T e I, CK-MB, e outros biomarcadores emergentes; Estudos que tratam de análises clínicas, ensaios laboratoriais e diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) sobre biomarcadores; Livros e guias que tratam de exames bioquímicos no diagnóstico do IAM. Os seguintes critérios foram utilizados para excluir estudos irrelevantes ou de menor qualidade: Artigos que não abordam o diagnóstico do IAM ou os biomarcadores específicos para o IAM; Estudos que não apresentaram dados clínicos ou laboratoriais relevantes; Publicações que não eram revisões de literatura, artigos originais ou guias clínicos; trabalhos não disponíveis no idioma português, inglês ou espanhol.
3 MARCADORES BIOQUÍMICOS ASSOCIADOS AO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO
Tempos atrás, observa-se que o diagnóstico do IAM era fundamentado, quase que exclusivamente, na análise de dois dos três parâmetros apresentados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como os sintomas clínicos sugestivos, alterações no eletrocardiograma (ECG), além de variações de enzimas cardíacas. Mas, cabe ressaltar que existem pacientes que sofrem com sintomas diferenciados e incomuns, podendo até mesmo não apresentar nenhum sintoma claro de IAM, onde os valores de ECG são normais. Dessa forma, realizar uma minuciosa análise dos biomarcadores cardíacos trata-se de uma ação fundamental para firmar um adequado diagnóstico do IAM (Melo; Silveira, 2019). No que diz respeito aos exames que são usados com o objetivo de diagnosticar o IAM, ressalta-se a Creatina Fosfoquinase (CK), Creatina Fosfoquinase fração MB (CKMB), Lactato Desidrogenase (LDH), Mioglobina e Troponina. Os referidos testes são capazes de detectar as substâncias bioquímicas que existem no meio extracelular que são liberadas no momento em que ocorre uma lesão nas células do coração (Lima, 2016).
É possível caracterizar a mioglobina como uma proteína citoplasmática, encontrada somente no tecido muscular (esqueléticos e cardíacos), se ligando ao ferro e ao oxigênio. Trata- se de um biomarcador capazes de apontar precocemente uma lesão miocárdica, sendo de extrema sensibilidade para o diagnóstico de um IAM, ressaltando ainda que a sua especificidade é baixa. Sendo ainda capaz de proporcionar uma adequada detecção ou exclusão de um dano miocárdico. É possível ainda que o uso da mioglobina afastar um diagnóstico de IAM em situações onde os valores de concentração variam entre 0 a 74 ng/mL no decorrer das primeiras horas, levando em consideração que esses valores se elevam depois de 1 ou 2 horas em que a lesão ocorreu, onde essa elevação ainda permanece ocorrendo entre 6 a 10 horas após a lesão, sendo possível que a concentração máxima ocorra em até 12 horas (Aydin et al., 2019).
A Creatinoquinase (CK) trata-se de uma enzima catalizadora que se responsabiliza pela fosforilação reversível da creatina. Cerca de 20% de CK que se encontra no miocárdio possui a forma da isoenzima CKMB, fazendo com que ela tenha maior sensibilidade e especificidade, sendo um importante marcador bioquímico do IAM (Aydin et al., 2019).
Quando ocorrem lesões cardiovasculares, observa-se que a CK-total apresenta uma baixa especificidade e a CK- MB uma elevada especificidade cardíaca. Ao se realizar o teste de CK-MB massa, o objetivo é o de fazer uma adequada identificação das enzimas ativas e inativas, que se encontram na amostra obtida, sendo elas liberadas no momento em que uma lesão cardíaca ocorre. Depois que o IAM ocorreu, ocorre a elevação dos níveis de CKMB em atividade, isso durante 4 a 9 horas pós, alcançando o seu nível máximo de concentração em até 24 horas depois do IAM. No decorrer das 6 horas iniciais do IAM ela apresenta uma baixa sensibilidade, entretanto, depois de passadas 12 horas, essa sensibilidade de CK-MB é capaz de variar entre 93 a 100% (Aydin et al., 2019; Naoum, 2021).
As troponinas são caracterizadas como proteínas musculares, sendo usadas como marcadores de lesão miocárdica, contando com três polipeptideos, que são: T, I e C. Tendo em mente que são apontadas como troponinas cardíacas, observa-se que a troponina T (cTnT) e a troponina I (cTnI) contam com uma especificidade e uma sensibilidade significativa com o tecido miocárdico, as diferenciando da troponina C (TnC), isso porque essa não apresenta especificidade cardíaca. Depois da ocorrência de uma lesão, observa-se que a concentração de cTn acaba se elevando entre 2 a 4 horas, alcançando seu nível máximo em até 24 horas. É possível que a referida elevação dure entre 2 a 3 semanas (Lima, 2016; Aydin et al., 2019).
As troponinas são apontadas ainda como biomarcadores tardio definitivos e apontadas ainda como o padrão-ouro para a realização do diagnóstico de IAM. Em situações onde são usadas para o diagnóstico precoce, onde a sensibilidade dos referidos biomarcadores é apontada como baixa no caso de testes comuns. Observando ainda que a troponina ultrassensível é de extrema importância para os exames e para toda a prática clínica, entretanto, observa-se ainda que há ainda dificuldades para a diferenciação entre um infarto tipo 1 e tipo 2 (Moreira; Ticli, 2022). A creatinoquinase (CK) total trata-se de uma enzima de extrema relevância que contribui para a regulação da produção e do uso do fosfato de alta energia. Sendo ainda uma molécula que se constitui através de duas subunidades (M e B), resultando na formação de três isoenzimas, que são: creatinoquinase isoenzima MM (CK-MM), creatinoquinase isoenzima BB (CKMB) e creatinoquinase isoenzima MB (CK-MB). No caso da fração MB, essa é usada visando contribuir para o diagnóstico do IAM, sendo possível ainda ser encontrada com leve alteração em indivíduos saudáveis e, apresentando níveis mais altos quando a pessoa sofre algum dano no músculo esquelético, entretanto, a CK-MB é mais específica quando comparada com a mioglobina, levando em consideração que essa é encontrada em menor proporção nas células musculares esqueléticas do que nas células cardíacas (Moreira; Ticli, 2022).
Todos os marcadores bioquímicos anteriormente mencionados, seja para a inclusão ou para a exclusão, são de extrema relevância para um eficiente diagnóstico do IAM, salientando ainda que a Sociedade Brasileira de Cardiologia faz a sugestão do uso das troponinas T e I e da CK-MB como marcadores de lesão do miocárdio. Caso não seja possível a utilização dos ensaios de troponina, a opção mais indicada é a CK-MB, não sendo recomendado a CK total. Observando ainda que a troponina (T ou I) pode ser apontada como o marcador mais usado em casos de lesão do miocárdio, contando com uma especificidade quase absoluta e elevada sensibilidade. (Moreira; Ticli, 2022).
4 NOVOS MARCADORES
4.1 PROTEÍNA DE LIGAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS-CARDÍACA (H-FABP)
A proteína de ligação de ácidos graxos-cardíaca deve ser apontada ainda como uma das nove FABPs que podem se ligar aos ácidos graxos, se responsabilizando pelo processo de transporte dos mesmos. Ela não se responsabiliza somente por esse transporte, mas ainda proporciona proteção aos miócitos cardíacos dos ácidos graxos, e o“H” na sigla de definição faz referência ao coração, do inglês heart, órgão onde a proteína em questão é encontrada (Aydin et al., 2019). Os referidos autores ainda contribuem dizendo que a H-FABP apresenta significativo potencial como marcador bioquímico, possibilitando um precoce diagnóstico do IAM, levando em consideração que sua detecção torna-se possível somente cerca de 20 minutos depois da ocorrência da lesão miocárdica. A proteína em questão alcança seu nível máximo aproximadamente em 4 a 6 horas e retoma seus níveis normais de concentração, que pode variar entre 0-5,5 ng / mL, depois de 10 a 24 horas da ocorrência do IAM (Aydin et al., 2019).
4.2 PROTEÍNAS DA SALIVA
Observa-se que a saliva humana trata-se de um fluido biológico que exerce funções de grande relevância na cavidade oral. Podendo ser apontada como um procedimento não invasivo e de menor custo, onde as suas proteomas proporcionam um significativo potencial como marcador bioquímico, possibilitando a detecção de início de um ATM, levando em consideração que determinadas de suas proteínas apresentam certas semelhanças com as que são encontradas no plasma sanguíneo (Moreira; Ticli, 2022).
5 DISCUSSÃO E RESULTADOS
O Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) permanece como uma das principais causas de morbidade e mortalidade global, evidenciando a importância de métodos diagnósticos rápidos e precisos para a implementação de terapias eficazes. O diagnóstico precoce do IAM é crucial para a redução da mortalidade e para o controle das complicações a longo prazo. Neste contexto, os biomarcadores bioquímicos desempenham um papel central, não apenas no diagnóstico, mas também na estratificação de risco e no monitoramento da evolução do quadro clínico. As troponinas T e I, juntamente com a CK-MB, são os biomarcadores mais amplamente reconhecidos e recomendados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) devido à sua sensibilidade e especificidade na detecção de lesão miocárdica.
Biomarcadores Tradicionais: Troponinas e CK-MB: As troponinas T e I, marcadores altamente específicos e sensíveis para o tecido miocárdico, continuam sendo os biomarcadores de escolha no diagnóstico do IAM, conforme reforçado pela SBC. A principal vantagem das troponinas reside em sua capacidade de detectar lesões miocárdicas precoces e de monitorar a evolução do dano cardíaco com alta precisão. Estudos confirmam que as troponinas T e I apresentam uma especificidade quase absoluta para o miocárdio, permitindo um diagnóstico assertivo do IAM, mesmo em situações clínicas desafiadoras, como em pacientes com insuficiência renal ou em cenários de contaminação por outros processos inflamatórios.
A CK-MB, embora mais específica para o miocárdio do que a CK total, possui uma janela de detecção mais estreita em comparação com as troponinas, além de ser mais suscetível à influência de fatores extrínsecos, como a realização de exercício físico intenso ou a presença de distúrbios musculares. Apesar disso, continua sendo um marcador útil em situações nas quais os testes de troponina não estão disponíveis ou são inviáveis, especialmente em unidades de emergência ou em contextos de recursos limitados.
Entretanto, a dependência desses biomarcadores tradicionais tem limitações, como a possibilidade de falsos positivos e negativos, especialmente em situações como a presença de miocardites, insuficiência renal crônica ou após intervenções cirúrgicas cardíacas. Além disso, os biomarcadores tradicionais, embora eficazes, nem sempre são capazes de fornecer uma indicação imediata de gravidade ou prognóstico, o que destaca a necessidade de alternativas complementares.
Novos Biomarcadores Emergentes: A crescente busca por novos biomarcadores que possam complementar ou até mesmo substituir as troponinas e CK-MB reflete a necessidade de uma maior precisão no diagnóstico e na estratificação do risco do IAM. Em um cenário onde as terapias evoluíram significativamente, a rapidez no diagnóstico e a capacidade de prever desfechos clínicos se tornaram fatores-chave para a melhoria do prognóstico dos pacientes. Biomarcadores emergentes como o miRNA, a proteína C reativa (PCR), e o BNP (Peptídeo Natriurético Tipo B) estão sendo investigados como possíveis ferramentas auxiliares no diagnóstico do IAM, cada um com suas vantagens potenciais.
O miRNA, por exemplo, tem mostrado um grande potencial na detecção precoce de lesões miocárdicas, com estudos indicando que ele pode fornecer uma indicação precisa de danos cardíacos mesmo antes da elevação das troponinas. Por outro lado, o BNP, comumente utilizado para diagnóstico e monitoramento da insuficiência cardíaca, também tem se mostrado útil em cenários de IAM, especialmente para diferenciar entre condições de insuficiência cardíaca aguda e IAM. A proteína C reativa (PCR), embora mais comumente associada a inflamações sistêmicas, está sendo investigada no contexto do IAM por seu papel como marcador inflamatório, sendo um reflexo do processo patológico subjacente ao infarto.
Esses biomarcadores emergentes podem não só complementar os tradicionais, mas também proporcionar uma perspectiva mais holística sobre a fisiopatologia do IAM. A combinação de biomarcadores tradicionais com novas moléculas pode ajudar a oferecer uma melhor previsão sobre o risco de complicações e o prognóstico a longo prazo, além de possibilitar uma estratificação de risco mais refinada.
Embora os biomarcadores emergentes tragam promissores avanços, o processo de validação clínica e a implementação de novas tecnologias ainda enfrenta desafios significativos. A maioria dos biomarcadores emergentes precisa passar por mais estudos multicêntricos que confirmem sua aplicabilidade em larga escala, e sua incorporação nos protocolos clínicos deve ser cuidadosamente analisada, considerando os custos, a infraestrutura necessária para os testes e a padronização dos métodos. Além disso, a interpretação dos resultados dos biomarcadores deve ser contextualizada com o quadro clínico do paciente, uma vez que os biomarcadores sozinhos não são suficientes para o diagnóstico definitivo sem a confirmação clínica.
O diagnóstico precoce do Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) é essencial para a implementação de terapias eficazes, e a identificação de novos biomarcadores tem o potencial de melhorar significativamente a precisão e a rapidez do diagnóstico. Os biomarcadores emergentes discutidos neste estudo, como a proteína de ligação de ácidos graxos-cardíaca (H- FABP), as proteínas da saliva, as lipoproteínas e os elementos da matriz extracelular (MEC), oferecem perspectivas promissoras para a detecção precoce e a avaliação do risco do IAM, além de fornecerem informações valiosas sobre os processos patológicos subjacentes ao infarto.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O diagnóstico do Infarto Agudo do Miocárdio continua a evoluir com o avanço da pesquisa em biomarcadores. As troponinas T e I, juntamente com a CK-MB, continuam sendo os pilares do diagnóstico do IAM devido à sua alta sensibilidade e especificidade, mas a crescente pesquisa em biomarcadores emergentes pode aprimorar a precisão do diagnóstico e a estratificação de risco. Embora esses novos biomarcadores tragam promissores avanços, é essencial que sua implementação seja cuidadosamente analisada, levando em consideração as limitações, os custos e a validação clínica. Os novos biomarcadores emergentes discutidos, como amor H-FABP, as proteínas da saliva, oferecem oportunidades promissoras para o diagnóstico precoce, a avaliação de risco e o monitoramento do IAM. A utilização desses marcadores, sozinhos ou em combinação com os tradicionais, pode permitir uma abordagem mais personalizada no tratamento do IAM, ajudando a identificar pacientes de alto risco e a ajustar as terapias de maneira mais eficaz. No entanto, ainda é necessário realizar mais estudos clínicos para confirmar a aplicabilidade e a viabilidade desses biomarcadores na prática clínica cotidiana, com o objetivo de otimizar o cuidado aos pacientes e melhorar os desfechos a longo prazo. Além disso, o estudo das lipoproteínas, especialmente as lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e as lipoproteínas de alta densidade (HDL), tem se mostrado relevante para entender o risco de IAM. As lipoproteínas oxidadas (Ox-LDL), juntamente com marcadores inflamatórios como a proteína C-reativa, têm sido associadas a um risco aumentado de complicações cardíacas. As lipoproteínas remanescentes (RLPs), que se destacam como marcadores de risco cardiovascular precoce, também demonstram a importância de avaliar o perfil lipídico de maneira mais detalhada para prever eventos adversos, particularmente em pacientes jovens. A matriz extracelular (MEC) e os processos de fibrose miocárdica, que envolvem biomarcadores como galectina-3, cardiotrofina-1 (CT-1) e metaloproteinases de matriz (MMPs), revelam uma nova fronteira na avaliação da reparação pós-infarto e na monitorização de complicações a longo prazo, como a insuficiência cardíaca. A galectina-3, por exemplo, tem se mostrado uma ferramenta promissora na previsão da progressão da doença e no acompanhamento da fibrose cardíaca. Esses biomarcadores não apenas ajudam a identificar a gravidade da lesão miocárdica, mas também fornecem informações cruciais sobre o processo de remodelamento cardíaco após o infarto.
Em síntese, a busca por novos biomarcadores no diagnóstico do IAM é essencial para melhorar a acurácia do diagnóstico, a estratificação de risco e a personalização do tratamento. Embora os biomarcadores tradicionais como as troponinas e CK-MB continuem sendo fundamentais, os novos marcadores emergentes podem oferecer vantagens adicionais, como rapidez, não invasividade e maior especificidade para determinados processos patológicos. No entanto, a aplicação clínica desses biomarcadores depende de mais pesquisas e validações em larga escala, para garantir sua efetividade e integração com os métodos diagnósticos já estabelecidos. O futuro do diagnóstico e tratamento do IAM provavelmente envolverá uma combinação desses biomarcadores tradicionais e emergentes, o que possibilitará um cuidado mais preciso, eficaz e individualizado para os pacientes.
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