MAPEAMENTO DE TAMPÕES E GRELHAS: FOCO NO PROCEDIMENTO DE INSPEÇÃO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10440361


VIANA, Fernando Gonçalves1
MAGDALENA, Rafael Augusto Valentim da Cruz 2


Resumo. Vias públicas acessíveis e seguras são um direito assegurado, porém distante da realidade da maioria dos espaços públicos urbanos, as condições inadequadas das vias contam com significativa contribuição dos tampões, grelhas e suas instalações, onde nas falhas estruturais, desnível em relação ao piso adjacente, assentamento irregular de tampões ou grelhas entre outras irregularidades frequentes, reside a importância deste estudo. Este estudo através de inspeção visual com o auxílio do Google Street View, observações em campo, pesquisas bibliográficas e pesquisas documentais, mapeou os tampões e grelhas da Avenida das Amoreiras, em Campinas, identificando não conformidades em tampões, grelhas e suas instalações, fornecendo uma amostragem representativa da situação no município, dada a extensão da via e diversidade de bairros que percorre, e permitindo a construção de um procedimento de inspeção capaz de evitar as não conformidades observadas e potenciais obstáculos à eficiência das instalações, o estudo identificou quantidade elevada de não conformidades com potenciais riscos à segurança da população, constituindo um alerta sobre a necessidade de ações corretivas e preventivas.

Palavras-chave: Boca de lobo, Bueiro, Elementos Urbanos, Sumidouro, Tampa, Telar.

Introdução

À primeira vista, tampões e grelhas podem passar despercebidos pela paisagem urbana, justamente por isso são negligenciados com frequência, impedindo sua adequada aplicação e expondo os usuários da via a riscos, incluindo riscos de acidentes fatais.

Para efeito deste estudo definimos grelha como uma peça colocada em cima de um sumidouro, que permite o escoamento das águas pluviais, com estrutura adequada a sustentação do transito sobre sua superfície superior e adequada distribuição das tensões mecânicas nas estruturas na qual encontra-se engastada; nesse contexto “sumidouro é uma câmara destinada a receber e conduzir as águas pluviais para a rede coletora” (ABNT NBR 10160, 2005); já o tampão é o conjunto constituído por, no mínimo, tampa e aro (telar), destinado ao fechamento de poço de inspeção ou similar, sustentação do trânsito sobre sua superfície superior e adequada distribuição das tensões mecânicas nas estruturas na qual encontra-se engastado.

Tampões e grelhas, quando inseridos em espaços públicos, são utilizados com a finalidade de auxiliar na prestação de serviços, deste modo são elementos urbanos. Os elementos urbanos são todos os objetos em diferentes escalas, componentes da paisagem urbana, implantados no espaço público com a finalidade de auxiliar na prestação de serviços, na segurança, na orientação e no conforto dos usuários (JOHN, REIS, 2010 apud ECKER, 2020).

Como elementos urbanos, tampões e grelhas fazem parte da história da urbanização brasileira, que por vezes nos faz pensar em uma urbanização sem qualquer planejamento, contudo neste sentido, Azeredo (2019) apresenta a ideia de um planejamento incapaz de acompanhar o crescimento da população, podendo ser pensado em fases e, por vezes, sem foco no uso e ocupação do território urbano de forma eficiente e sustentável.

Em paralelo as falhas no planejamento urbano, as mudanças tecnológicas historicamente fizeram do planejamento urbano, no que tange as vias públicas, um desafio; com vias praticamente sem qualquer estrutura de microdrenagem, água, esgoto ou eletricidade a cerca de 200 anos, Campinas teve em 1880 um primeiro projeto de abastecimento de água e esgoto (CONTADOR, 2014), as linhas telefônicas chegam a Campinas em 1884 (PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS, 2006), e ainda por volta de 1930 os sistemas de águas pluviais e afastamento de esgotos de Campinas não eram separados (CONTADOR, 2014), fazendo do ambiente urbano pouco previsível frente as constantes mudanças.

Mudanças em tecnologias, como os tipos de tubulações disponíveis, mudanças nos sistemas de distribuição de água, energia, afastamento de esgoto, telefonia ou drenagem, trazem novos fatores a se pensar no planejamento urbano, e na forma de uso dos tampões e grelhas.

Avançando aos dias atuais, no Brasil tampões e grelhas são predominantemente utilizados na microdrenagem, coleta e afastamento de esgoto, redes de distribuição de água para abastecimento público e em menor número em caixas de passagem elétricas, instalações elétricas subterrâneas, galerias técnicas, gás e na telefonia.

Com instalações frequentemente inadequadas, com tampões e grelhas rebaixados devido a camadas de recapeamento, instalações incorretas, produtos construídos sem a observância à requisitos normativos e até mesmo o furto de tampões e grelhas, acidentes são comuns, ferindo pedestres e danificando veículos, como no caso de um ônibus danificado ao passar por uma grelha na Avenida João Jorge em Campinas (CBN CAMPINAS, 2023), causando acidentes fatais, como no caso ocorrido em Goiânia, onde uma motociclista faleceu após um acidente envolvendo um tampão desnivelado (CAVALCANTI, 2020), entre diversos outros acidentes, que infelizmente são frequentemente pauta dos noticiários, evidenciado os perigos a população.

Quanto aos tipos de tampões, a nível mundial existem tampões circulares, quadrados ou retangulares, entre diversas formas possíveis, com tampas removíveis ou articuladas, estanques ou com orifícios de ventilação, com ou sem sistemas de travas – dispositivo utilizado para manter a tampa fechada, com sistema de fechamento por massa inercial – a própria massa da tampa mantém a peça no alojamento, com ou sem apoio elástico, modulares, com ou sem sistemas de bloqueio de acesso, com ou sem sistemas antifurto, a prova de explosões e tampões que podem acompanhar a pavimentação asfáltica nos casos de elevação da superfície da via por recapeamento; já as grelhas podem ter os mesmo tipos dos tampões citados exceto pelos sistemas a prova de explosão, não aplicáveis a grelhas, e podem ter cestos de retenção destinados a reter resíduos que entram através das grelhas, contudo as soluções disponíveis no mercado nacional são bem menos diversificadas.

Figura 1 – Tipos de Tampões e Grelhas: (a) Tampão que pode acompanhar a superfície com a repavimentação (Fonte: ACO). (b) Tampão quadrado (Fonte: ACO). (c) Tampão de concreto (Fonte: Exporters India). (d) Tampão à prova de explosão (Fonte: EJ). (e) Grelha circular (Fonte: Hidrotec). (f) Grelha para canaleta central de escoamento (Fonte: Saint-Gobain). (g) Grelha para boca de lobo (Fonte: Saint-Gobain). (h) Grelha de concreto (Fonte: Art Traço). (i) Tampão modular (Fonte: Saint-Gobain).

Quanto aos materiais de construção de tampões e grelhas, o mais usual é o ferro fundido, mas podem ser produzidos com os mais diversos materiais, como o aço, ligas de alumínio, materiais compósitos como o concreto com fibra de polipropileno, polietileno, polipropileno e PVC-U, com a observação de que tampões plásticos de acordo com a maioria das normas internacionais são limitados a aplicações com menores solicitações mecânicas, como áreas de passagem exclusiva de pedestres, calçadas ou estacionamentos devido principalmente à baixa resistência a abrasão e impacto do envelhecimento nas propriedades mecânicas dos polímeros.

Assim, os tampões e grelhas são elementos recentes na paisagem urbana nacional, elementos pertencentes a infraestrutura das cidades e que auxiliam na prestação de serviços fundamentais; conectam-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), à medida que são parte indivisível do saneamento, também são importantes para a acessibilidade das cidades, sendo o tema conectado a cidadania e direitos do cidadão, e diante do cenário nacional, com pouca oferta de soluções pelos fabricantes, produtos inadequados e inseguros no mercado, instalações incorretas e falta de manutenção, trata-se de temática altamente relevante, que impacta no dia a dia da população, justificando os esforços neste estudo.

Este estudo, através do mapeamento dos tampões e grelhas de uma via específica, a Avenida das Amoreiras em Campinas-SP, que devido à importância no transito da cidade foi escolhida como objeto de estudo, através de inspeção visual com o uso do Google Street View, observações em campo, pesquisas bibliográficas e pesquisas documentais, visa montar um panorama da atual situação dos elementos na via quanto ao atendimento a normas e legislação vigentes e produzir um procedimento de inspeção  capaz de garantir a seleção, especificação, projeto e instalação de tampões e grelhas em vias públicas de maneira a atingir os melhores resultados, com especial atenção a segurança das instalações, permitindo que empreendedores, prefeituras e órgãos das administrações tenham uma referência para composição de seus procedimentos.

Material e Métodos

No presente estudo o mapeamento dos tampões e grelhas na Avenida das Amoreiras ocorre pela representatividade da via como uma amostragem da situação no município. A avenida, que tem a origem de seu nome em uma plantação de pés de amora para a produção do bicho-da-seda em propriedade na via (EMDEC, 2011?), com aproximadamente 13 km, é a segunda maior avenida de Campinas, começando na Avenida João Jorge, no Centro, e terminando próximo à Rodovia dos Bandeirantes, passando por diversos bairros da cidade, como Parque Industrial, São Bernardo, Jardim do Lago, Vila Mimosa, Jardim Novo Campos Elíseos, Parque Itália e Jardim Paraíso Viracopos. Toda esta extensão faz com que a Amoreiras tenha situações muitos distintas em uma única via, no início com instalações típicas de grandes centros urbanos, com muitas instalações com tampões e grelhas e principalmente trânsito intenso, em seu final apresenta-se como uma via típica de bairros mais afastados, sem semáforos, com menos tampões e grelhas e com trânsito de baixa intensidade.

A inspeção das condições dos tampões e grelhas da Avenida das Amoreiras foi realizada por meio do Google Maps e Google Street View, com a utilização de visualização 360º, visualização em diferentes datas, através do recurso “ver em mais datas”, e zoom para identificar e classificar as condições das instalações, onde o método apresenta as seguintes vantagens:

  • Acessibilidade, pois a ferramenta está disponível a qualquer dispositivo com conexão à internet;
  • Rapidez, devido a inspeção poder ser realizada em tempo reduzido se comparado a visita em campo com deslocamentos, necessidade de sinalização e apoio da EMDEC;
  • Redução de custos com os deslocamentos e sinalização;
  • Segurança, pois as inspeções em campo, em via arterial movimentada como a Avenida das Amoreiras, demanda prudente sinalização, o que não está disponível com facilidade;
  • Possibilidade de estimativas de tempo devido ao registro fotográfico 360º estar disponível em diferentes datas, em alguns trechos da Avenida das Amoreiras o registro fotográfico foi atualizado duas vezes somente em 2023.

Em paralelo, observações em campo, transitando pela via e inspecionando in loco pontos críticos identificados através do Street View, observações mais precisas foram realizadas, permitindo a visualização de detalhes impossíveis de serem vistos através da resolução das imagens e pontos de vista disponibilizados no Street View, como soldas danificadas ou marcações do tampão ou grelha.

A inspeção remota limita as observações a variáveis qualitativas, contudo as inspeções em campo e revisão documental podem trazer parâmetros quantitativos, por tanto o estudo trata variáveis qualitativas e quantitativas.

Para suporte as inspeções, uma extensa pesquisa bibliográfica e documental foi necessária. Tampões e grelhas frequentemente possuem padronizações e exigências locais ou conforme aplicação, assim a pesquisa documental precisou avançar sobre legislação, manual de apresentação de projetos de microdrenagem, projetos técnicos e até mesmo editais de aquisição de tampões e grelhas para manutenção da Prefeitura Municipal de Campinas. O tema possui pouca literatura nacional e inclusive parâmetros normativos para tampões e grelhas de determinados materiais como aço, ligas de alumínio, concreto, PP, PE e PVC são encontrados apenas em normas internacionais, como a CE EN 124 e suas harmonizações, assim pesquisas à normas internacionais foram necessárias. Frente as ocorrências encontradas, mostrou-se relevante a pesquisa de notícias sobre ocorrências de acidentes com tampões e grelhas.

A pesquisa bibliográfica e documental iniciou-se antes das análises das instalações, pois trata-se do suporte técnico para a definição dos conceitos de conformidade.

A localização dos tampões e grelhas foi registrada em mapa, com o uso da ferramenta Google My Maps, que permite indicar as coordenadas do tampão ou grelha no mapa, incluindo descrições, título e fotos em cada ponto, sendo exibidos ao clicar, conforme visto na Figura 2. Foram utilizados os ícones de cada ponto indicado no mapa, de acordo com o tipo e instalação, conforme legenda vista na Tabela 1, gerando um mapa de fácil manipulação para a fase posterior, de análise das estruturas.

Figura 2 – Exemplo de visualização dos dados de cada ponto (Fonte: O autor)

Tabela 1 – Descrição dos ícones utilizados no mapa

Resultados e Discussão

O primeiro resultado da pesquisa documental, foi elencar a legislação pertinente e normas técnicas, que em seu conjunto constituem as bases para o projeto e instalação eficiente e seguro de tampões e grelhas, sendo:

  • O Decreto Nº 5.296 de 2 de dezembro de 2004, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências, cita em mais de um ponto a obrigatoriedade de utilização das normas técnicas brasileiras vigentes sobre o tema;
  • A ABNT NBR 9050:2020, acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, estabelece requisitos para tampões e grelhas nos itens 6.3.5 e 6.3.6;
  • A ABNT NBR 10160:2005 – Tampões e grelhas ferro fundido dúctil;
  • Na ausência de normas nacionais para tampões e grelhas de outros materiais a norma internacional de maior relevância sobre o tema, a mais utilizada e nacionalizada no mundo é a CE EN 124, base para a ABNT NBR 10160, possui requisitos principais, especialmente quanto a desempenho mecânico, iguais para tampões e grelhas de materiais concorrentes ao ferro fundido dúctil, assim trata-se de isonomia a especificação da CE EN 124 para tampões ou grelhas de aço, a exemplo;
  • Quanto a espaços confinados, situação frequente em estruturas com tampões, a ABNT NBR 16577:2017 – Espaço Confinado – Prevenção, Procedimentos e Medidas de Proteção, define um único requisito para tampões, a dimensão da abertura mínima para tampões destinados ao acesso de pessoas, que é de Ø600 mm;
  • Por fim as estruturas de engaste devem seguir os requisitos da estrutura onde o tampão está instalado, a exemplo, a ABNT NBR 6118:2023 – Projeto de estruturas de concreto, indica requisitos para calçadas e lajes dos tampões com laje.

Os requisitos normativos não são passíveis de resumo, sendo cada requisito indicado em norma, necessário aos tampões, grelhas e suas estruturas, desse modo, apresentaremos os requisitos conforme o desenvolvimento do estudo e necessidade de citação. A principal informação sobre os requisitos normativos, e necessária a compreensão da aplicação dos tampões e grelhas, se refere à classe. As classes dos tampões e grelhas são idênticas na ABNT NBR 10160: 2005, CE EN 124 e diversas outras normas técnicas baseadas na CE EN 124. A classe de um tampão ou grelha é definida pela sua aplicação e está relacionada com sua resistência mecânica, são elas:

Grupo 1 – Classe A 15, destinada a aplicação em áreas de circulação restrita à pedestres, sem possibilidade de tráfego de veículos;

Grupo 2 – Classe B 125, destinada a aplicação em passeios (calçadas), locais de circulação de pedestres e áreas de estacionamento de carros de passeio;

Grupo 3 – Classe C 250, destinada ao uso em sarjetas e locais que se estendem desde a guia até 0,5 m na via de circulação de veículos e até 0,2 m na calçada;

Grupo 4 – Classe D 400, destinada as áreas de circulação de veículos, ruas, acostamentos e estacionamento de veículos de todos os tipos;

Grupo 5 – Classe E 600, destinada as áreas de aeroportos, docas e locais sujeitos a cargas elevadas. Desnecessário nas instalações da Avenida das Amoreiras;

Grupo 6 – Classe F 900, destinada as áreas de locais sujeitos a cargas muito elevadas, como por exemplo, pistas de aeroportos. Desnecessário nas instalações da Avenida das Amoreiras.

Figura 3 – Ilustração do local de aplicação das classes de produto utilizadas neste estudo (Fonte: Wrekin)

Avançando na pesquisa documental, com a constatação de diversas grelhas no padrão da prefeitura de Campinas com deformações plásticas, dois projetos com pequenas diferenças foram encontrados, um em documento intitulado como “Procedimentos Básicos Para Apresentação De Projetos De Drenagem”, da Secretaria Municipal de infraestrutura, e outro no edital mais recente da Prefeitura de Campinas para a aquisição de Grelhas para a manutenção, o edital do pregão 127/2023, em seu apêndice I.

Nas observações através de inspeção remota e posterior inspeção em campo, as lajes dos tampões com laje, utilizados em redes de águas pluviais, apresentaram danos estruturais evidentes em várias instalações, onde é possível notar a ausência de armadura nas lajes, situação em que as tensões de tração são significantes contudo, o projeto para a estrutura não foi encontrado nos documentos disponibilizados pela prefeitura.

O mapeamento resultante identificou 878 tampões e grelhas, este é um número mínimo, podendo existir mais tampões não identificados devido a prática de cobertura dos tampões em reformas de calçadas ou recapeamento da via. O mapa pode ser visto na Figura 4 abaixo.

Figura 4 – Visualização do mapa criado (fonte: O autor)

Quanto as não conformidades, o estudo focou em um conjunto limitado devido as restrições do método, onde se tem acesso a cada um dos tampões e impossibilidade de ensaios de produto e instalações, desse modo a não identificação de não conformidades não significa que o tampão, grelha ou instalação está conforme, apenas que com base no método utilizado não foi possível evidenciar não conformidades.

Segue abaixo tabela com as não conformidades encontradas no mapeamento.

Tabela 2 – Não conformidades evidenciadas nos tampões da Av. Das Amoreiras

Tabela 2 – Não conformidades evidenciadas nos tampões da Av. Das Amoreiras

Tabela 3 – Não conformidades evidenciadas nas grelhas da Av. Das Amoreiras

Tabela 3 – Não conformidades evidenciadas nas grelhas da Av. Das Amoreiras

A análise documental dos projetos de grelhas da Prefeitura Municipal de Campinas, revelou não conformidades quando confrontados com os requisitos da CE EN 124-1, a Figura 5, abaixo, apresenta o projeto e os principais pontos de não conformidade.

Figura 5 – Projeto de grelha da Prefeitura Municipal de Campinas, modelo com 2 m de comprimento total

               Na Figura 5, item 1, a estrutura não apresenta um sistema de trava contra a abertura acidental da grelha, item 2, o espaço entre as barras excede o máximo de 42 mm (CE EN 124-1, Tabela 3), já nos itens 3 e 4, apesar de não constituir não conformidades contribuem para a baixa resistência mecânica, no item 3, uma representação do calço utilizado para o ensaio de carga da grelha, a placa toca apenas 3 barras de cada vez e as barras são conectadas apenas nas extremidade, não distribuindo o carregamento por toda a superfície da grelha, e em item 4 o perfil com secção circular tem um baixo momento de inércia na direção do carregamento o que justifica a quantidade de grelhas com deformação plástica em campo.

            Em uma simulação com simplificações, foi escolhida a parte móvel da grelha para análise, a parte móvel da grelha é comum a todos os tamanhos de grelhas e como foi identificado no projeto e em várias instalações em campo, as barras tendem a se deformar de maneira diferente, dada a característica do projeto que distribui de maneira ineficiente as solicitações mecânicas pela estrutura. Na simulação com o carregamento do ensaio de flecha residual, presente na ABNT NBR 10160:2005 e CE EN 124-1, de 167 kN, é esperado que a solicitação exceda o limite de escoamento, contudo para este caso as tensões excedem muito o limite de escoamento, assim simulações com valores cada vez menores para o carregamento foram realizadas, chegando ao resultado da Figura 6, com um carregamento de 4 kN. Nota-se que para um aço conforme ABNT NBR 7007:2022, grau BR190, usual entre os fabricantes de grelhas de aço, o carregamento de 4 kN não excede o limite de escoamento do BR190, mas não significa que possa resistir a fadiga com um carregamento cíclico de 4kN. Valores tão baixos para a capacidade de carga, indicam que para cargas de veículos leves o projeto pode suportar, mas para veículos de carga a estrutura não é adequada e pode colapsar.

Uma observação altamente relevante quanto a distribuição do carregamento nas simulações, refere-se a concentração de tensões na barra de secção retangular, entre as barras solicitadas, o que também justifica observações em campo de danos ao concreto de engaste e que converge para a possível causa dos acidentes ocorridos com uma grelha em 06/02/2017, na Av. John Boyd Dunlop envolvendo um ônibus, visto na Figura 8, (EPTV, 2017) e em 01/09/2023, na Av. João Jorge, envolvendo outro ônibus, visto na Figura 9 (CBN Campinas, 2023), a concentração de tensão transmitida a estrutura de engaste da grelha, promove a sua falha gradual, com o risco da grelha soltar-se da estrutura de engaste, causando acidentes com risco de danos potenciais aos veículos.

Figura 6 – Simulação da parte móvel da grelha – critério de falha de Von Mises, malha 0,3mm a 6mm, critério de convergência igual a 2%, carregamento 4 kN, superfície inferior dos perfis retangulares engastada (Fonte: O autor).

A rigidez estrutural é um parâmetro importante na distribuição das tensões mecânicas sobre a estrutura de engaste, a exemplo, na Figura 7, ao se aumentar a rigidez da estrutura, para um mesmo carregamento, as tensões na barra retangular diminuem sua amplitude e são distribuídas por uma região maior da barra, assim um projeto adequado deve distribuir as tensões de maneira a minimizara as solicitações sobre a estrutura de engaste através de rigidez adequada, pois mesmo que a grelha resista as solicitações mecânicas, a sua flexibilidade pode concentrar as tensões na estrutura de engaste (sempre de concreto) e gerar elevadas tensões de tração devido a flexão.

Figura 7 – Simulação da parte móvel da grelha – critério de falha de Von Mises, malha 0,3mm a 6mm, critério de convergência igual a 2%, carregamento 4 kN, superfície inferior dos perfis retangulares engastada (Fonte: O autor).

Figura 8 – Acidente acorrido na Av. John Boyd Dunlop (Fonte: EPTV)

Figura 9 – Acidente ocorrido na Av. João Jorge (Fonte: CBN)

Todos os tampões com laje das galerias de águas pluviais e um tampão de poço de visita em rede de afastamento de esgoto, apresentam danos estruturais evidentes, trincas, rachaduras e fragmentação, onde se observa a ausência de armadura, somente esta evidência já constitui o não atendimento a ABNT NBR 6118:2023, aplicável à estrutura, contudo é possível que a resistência a compressão não atenda as especificações normativas devido à pouca quantidade de agregado e facilidade com que a estrutura fragmenta, sendo evidente o progresso dos danos em imagens realizadas com 4 meses de diferença (Figuras 10 e 11).

Figura 10 – Laje danificada, 27/10/2023 – Av. Amoreiras com R. Dr. Cassiano Gonzaga (Fonte: O autor)

Figura 11 – Laje danificada, 07/2023 – Av. Amoreiras com R. Dr. Cassiano Gonzaga (Fonte: Google Street View)

Por fim, uma observação que depende de monitoramento em campo, não pode se estender a todos os tampões, o ruído. O ruído, em uma tampa de tampão ou parte móvel da grelha, indica instabilidade e possibilidade de abertura acidental, o que representa risco, contudo apenas a presença de ruído já constitui uma não conformidade de acordo com a ABNT NBR 10160:2005, item 5.2.5.1.

Nos tampões da avenida nota-se, como no exemplo do tampão visto nas Figuras 10 e 11, a presença de solda no fechamento da tampa de vários tampões, que indica tentativa de eliminar os ruídos, contudo a tampa apresenta alta flexibilidade devido ao ferro fundido nodular e baixa rigidez da estrutura, somando a relativa complexidade da solda em ferro fundido dúctil, a solução não eliminou os ruídos e todas as soldas sofreram falha mecânica.

Conclusões

No desenvolvimento do estudo, a quantidade de tampões e grelhas na via surpreendeu, levando mais tempo que o esperado para a realização do mapeamento, mas a quantidade dos elementos aumenta a representatividade do estudo que mesmo diante das limitações no método pode identificar quantidade surpreendente de não conformidades.

A pesquisa documental pode contribuir com o CE 177:002.003 – Comissão de Estudo de Tubos e Conexões Metálicos – Tampões, com informações sobre o Decreto Nº 5.296 de 2 de dezembro de 2004 e ABNT NBR 9050:2020, possibilitando a harmonização da futura revisão da ABNT NBR 10160.

As não conformidades observadas são obstáculos a acessibilidade, mas principalmente representam um potencial risco de acidentes.

Uma situação mais grave, apresentada por um tampão localizado no cruzamento da Av. Das Amoreiras com a Rua Dr. Cassiano Gonzaga gerou um protocolo para o serviço de reparo à prefeitura de Campinas.

Demandas observadas no estudo sugerem temas de relevância para futuros estudos, como:

  • O estudo de ações corretivas para as instalações;
  • O estudo da cinética dos gases gerados em instalações de esgoto, apontando direções mais confiáveis para dimensionamento e posicionamento de orifícios de ventilação em tampões para redes de afastamento de esgoto;
  • Estudo do impacto de técnicas compensatórias em edifícios – tais como poços de absorção ou jardins de chuva em edifícios públicos – dimensionando a redução de carga sobre as grelhas;
  • Estudo da aplicação de tintas antiderrapantes em tampões e grelhas metálicos instalados em rota acessível;
  • Estudo de meios para se evitar a colmatação de galerias de águas pluviais.

O procedimento de inspeção gerado, disponibilizado no Apêndice A, propõe ser capaz de eliminar as não conformidades em futuras instalações, e atingido os objetivos definidos, o trabalho pode servir de referência para estudos voltados a instalações de tampões e grelhas e composição de planos de inspeção, mas principalmente, estimular a disseminação de informações sobre o tema, buscando impacto positivo em uma área relevante a segurança e acessibilidade das vias.

Agradecimentos

Ao professor orientador Mestre Rafael Augusto Valentim da Cruz Magdalena, que orientou o estudo de forma perspicaz e ajudou a garantir que seus resultados fossem significativos.

A professora Mestre Candida Maria Costa Baptista, por viabilizar a condução dos estudos em tempo reduzido.

A SANASA S/A, que trabalha em prol dos interesses públicos e, garantindo a liberdade de atuação de seus colaboradores, permitiu o desenvolvimento de conhecimento necessário ao estudo.

Aos membros da Comissão de Estudo de Tubos e Conexões Metálicos – Tampões, CE 177:002.003, em especial Gilberto Alves Martins, José Virgílio Gonçalves e João Carlos Pereira, por compartilharam seu conhecimento e experiência especializados e pelo estímulo e oportunidade de propor mudanças ao texto da ABNT NBR 10160.  

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PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS. Procedimentos básicos para apresentação de projetos de drenagem. Campinas, p. 18.

APÊNDICE A – Plano de inspeção sugerido

PROCEDIMENTOS
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O plano de inspeção é definido em linhas gerais, para cada projeto específico recomenda-se o detalhamento de cada etapa do plano e a elaboração de um registro de inspeção detalhado, com os respectivos desenhos técnicos.


1 Aluno do Curso de Engenharia Civil, Universidade São Francisco; Campus Itatiba;

2Professor Orientador Mestre, Curso de Engenharia Civil, Universidade São Francisco; Campus Bragança Paulista.

Universidade São Francisco
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