REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10249261438
Giovanna Cavalcante Vaz1
Weslley Wilker Oliveira da Costa2
Orientador ‐ Karla Kahena Rocha Nogueira3
Resumo: A área de tecnologia tem passado por transformações significativas ao longo dos anos, o que impacta diretamente tanto os estudantes quanto os profissionais que atuam nesse campo e em áreas correlatas. Essas mudanças afetam não apenas as competências técnicas, mas também as competências comportamentais, ambas fundamentais para o sucesso no mercado de trabalho moderno. Ao traçar um paralelo entre essas duas categorias de habilidades, podemos compreender melhor sua relevância e a forma como se complementam. As competências comportamentais, também conhecidas como soft skills, desempenham um papel crucial no ambiente de trabalho, especialmente em um setor tão dinâmico quanto o de tecnologia. Para entender como essas habilidades se relacionam com a atuação dos profissionais e estudantes de tecnologia, foi realizada uma pesquisa utilizando um questionário como ferramenta principal. O objetivo dessa pesquisa foi aprofundar o conhecimento sobre o nosso público-alvo, levantando informações detalhadas sobre o desenvolvimento e a aplicação de soft skills no contexto profissional. Nossa amostra incluiu profissionais em diversos estágios de carreira, estudantes e professores de tecnologia, oferecendo uma visão ampla e rica sobre o tema. As respostas obtidas nos permitiram identificar como as habilidades interpessoais, como comunicação, trabalho em equipe, resolução de conflitos e adaptabilidade, são essenciais não apenas para a convivência no ambiente de trabalho, mas também para o crescimento e desenvolvimento profissional. Os resultados da pesquisa reforçam a ideia de que o domínio técnico, embora fundamental, não é suficiente por si só para garantir o sucesso na carreira. As soft skills são decisivas na maneira como os profissionais lidam com desafios, interagem com colegas e clientes, e se destacam em situações de pressão e mudança constante, comuns em carreiras da área da tecnologia. Esse equilíbrio entre competências técnicas e comportamentais se mostra cada vez mais necessário para atender às demandas de um mercado que valoriza a versatilidade e a capacidade de adaptação de seus profissionais.
Palavras-Chave: Tecnologia da informação; Soft Skills; Competências.
1. Introdução
O crescente dinamismo do mercado tecnológico tem gerado demandas cada vez mais complexas para os profissionais da área. Neste contexto, as habilidades interpessoais e emocionais, conhecidas como soft skills, têm emergido como um diferencial crucial para o sucesso das carreiras na tecnologia.
As soft skills são um fator crucial e determinante para o desenvolvimento da carreira profissional de uma pessoa, tanto no momento da contratação pela empresa quanto no cotidiano do trabalho. Competências como comunicação eficaz e gestão de tempo são fundamentais para indivíduos em posições de liderança, como gestores e diretores. Além disso, a colaboração em equipe é vital para a eficácia de um grupo de funcionários.
Neste contexto os profissionais de tecnologia enfrentam desafios que transcendem as habilidades técnicas, exigindo proficiência em áreas como comunicação eficaz, colaboração, resolução de problemas e capacidade de adaptação.
No mercado de trabalho atual, o desenvolvimento de competências técnicas e, sobretudo, de competências socioemocionais, tornou-se essencial. Essas habilidades devem ser integradas com as competências comportamentais desde a formação inicial de qualquer profissional. A gestão por competências, alternativa aos modelos tradicionais, tem ganhado cada vez mais relevância nas discussões organizacionais (Furukawa & Cunha, 2010).
A competência é definida como a capacidade de articular valores, conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias para o desempenho eficaz de atividades requeridas pela natureza do trabalho, além do alcance dos objetivos estabelecidos. Sendo assim, o profissional deve buscar o aprimoramento contínuo de suas competências, para atender as necessidades atuais do mercado de trabalho. A busca incessante por conhecimento, aprendizado e desenvolvimento profissional é um requisito diferencial para qualquer profissional, principalmente no contexto das equipes de trabalho (Treviso et al., 2017).
Objetivou-se realizar o mapeamento do papel das soft skills no sucesso tanto individual quanto organizacional, na área de tecnologia.
2. Fundamentação teórica
Os profissionais de TI enfrentam desafios significativos em seu cotidiano, como prazos apertados e escopos de trabalho desproporcionais ao tempo disponível para a realização dos projetos, o que resulta em altos níveis de estresse e pressão. Essas condições frequentemente levam à exaustão mental, aumentando o risco de que os profissionais desenvolvam a intenção de deixar a instituição ou, em casos mais extremos, considerem a possibilidade de mudar de carreira. Fatores adicionais, como a falta de autonomia, papéis organizacionais ambíguos e conflitos de responsabilidades, também contribuem para esse desejo de mudança (Moore, 2000).
A necessidade de habilidades interpessoais é evidenciada pela crescente demanda por profissionais que não apenas possuam conhecimentos técnicos, mas também a capacidade de se relacionar e colaborar eficazmente com outras pessoas (Hargreaves, 1994). As organizações têm reconhecido que a competência técnica, por mais importante que seja, não é suficiente para garantir o sucesso a longo prazo; a capacidade de interagir e colaborar é igualmente essencial (Miller et al., 2017).
O estudo sobre competência, foi uma construção multidisciplinar que ao longo dos anos vem sendo trabalhada por diversos autores. (Sant’ Anna et al., 2016) diz que não há um consenso sobre a conceituação do tema por conta desse fator. Mesmo sendo uma temática de estudo presente em pesquisas há muito tempo.
Competência pode ser entendida como sendo a junção de três princípios, o saber, a habilidade de saber fazer e o interesse em querer fazer. (Zarifian, 1999). É um conjunto de capacidades humanas que o indivíduo possui que justificam um alto desempenho, já que melhores desempenhos estão baseados em inteligência e personalidade. Assim, a competência é entendida como um estoque de recursos que o indivíduo possui (Fleury, 2001).
Segundo a autora (Silva, 2013) o debate sobre a noção de competências é amplo e é discutido tanto no meio acadêmico quanto no meio empresarial. Isso torna o assunto ainda em discussão e vem sendo pesquisado por autores que visam compreender seus desdobramentos no contexto atual. Nesse aspecto, a discussão sobre competência permeia duas dimensões: a da estratégia e a da gestão de pessoas. A dimensão da estratégia está relacionada ao desenvolvimento da competitividade. E a de gestão de pessoas tem o enfoque das práticas de gestão de pessoas. Dando uma visão maior para as competências individuais.
As soft skills são mais do que características interpessoais e sociais. Estas são qualidades pessoais dos indivíduos que fazem com que haja um resultado mais eficiente na realização das funções laborais. De acordo com (Sharma, 2018) as soft skills podem já ser características inerentes do indivíduo e/ou serem desenvolvidas através de formação e treino.
Nos últimos anos, a dinâmica do mercado de trabalho tem passado por transformações significativas, impulsionadas pela evolução tecnológica, globalização e mudanças nas expectativas das organizações e dos profissionais. Nesse contexto, as soft skills, ou habilidades interpessoais, têm ganhado crescente relevância. Essas habilidades englobam competências como comunicação eficaz, empatia, trabalho em equipe e resolução de problemas, que são cada vez mais valorizadas pelos empregadores (Goleman, 1995; Robles, 2012).
O conceito de soft skills é amplamente discutido na literatura acadêmica, destacandose como um fator crucial para o sucesso profissional. De acordo com Goleman (1995), as soft skills desempenham um papel essencial na capacidade de um indivíduo para se adaptar e prosperar em ambientes de trabalho complexos e em constante mudança. Robles (2012) também aponta que a integração dessas habilidades no ambiente de trabalho pode melhorar significativamente o desempenho organizacional e a satisfação dos funcionários.
3. Metodologia
A pesquisa possui uma abordagem qualitativa, que é um método investigativo que busca compreender fenômenos sociais a partir de uma interpretação subjetiva, enfatizando a profundidade e a riqueza dos dados coletados (Creswell, 2013). A metodologia de coleta de dados gera resultados qualitativos para uma análise sobre a importância das competências socioemocionais no ensino de cursos da área da tecnologia.
A área de coleta de dados da pesquisa foram os cursos da área de tecnologia existentes na grade de cursos da Escola do Futuro Sarah Luísa Lemos Kubitschek de Oliveira, localizada em Santo Antônio do Descoberto, em Goiás. Os pesquisados foram alunos e docentes, acima de 18 anos.
A coleta de dados ocorreu entre abril e julho de 2024 por meio de aplicação de questionário. Procurou-se apresentar os objetivos, conhecer dados gerais da população, e coletar dados sobre a percepção dos entrevistados quanto às competências socioemocionais.
Os dados foram organizados e analisados, com o objetivo de mapear as percepções da população amostral quanto às principais competências socioemocionais necessárias para o profissional da área de tecnologia. Por meio da aplicação da pesquisa, buscou-se explorar a visão e os valores dos pesquisados sobre o tema.
Foram coletadas 52 respostas de questionários. A partir dessa etapa, foi possível a análise de dados demonstrados nos gráficos construídos com as porcentagem de respostas de cada pergunta do questionário.
As ferramentas utilizadas foram questionários desenvolvidos na plataforma Google Forms.
4. Resultados
A Escola do Futuro Sarah Luísa Lemos Kubitschek de Oliveira, localizada em Santo Antônio do Descoberto de Goiás, foi a escolhida para realização da pesquisa, realizada com professores, alunos e ex-alunos, acima de 18 anos. Os questionários tiveram foco em cursos da área da tecnologia. As perguntas dos questionários tiveram o objetivo de mapear as percepções dos profissionais quanto aos impactos das soft skills, competências comportamentais, para a carreira profissional de estudantes e profissionais da área da tecnologia.
A pesquisa demonstrou que 60,7% das pessoas entrevistadas declararam-se do gênero masculino, e 39,3% do gênero feminino (gráfico 1).
Gráfico 1
A faixa etária com maior representatividade, tendo uma resposta de 64,3%, foi a margem de 18 a 35 anos de idade (gráfico 2). O dado obtido nos evidencia que a busca por carreiras da tecnologia tem despertado um interesse maior no público jovem.
Gráfico 2
Um número de 57,2% declara ter uma renda de até R$3.000,00 reais por mês (gráfico 3). Esse dado nos mostra que existe espaço para motivar estudantes e profissionais a se especializarem na área de tecnologia, já que estudos mostram um piso salarial maior que esse e vem cada dia mais crescendo no País.
Gráfico 3
Um dado importante obtido foi que 56,3% pretendem ingressar no mercado de carreiras de tecnologia, sendo que 38,3% já atuam no mercado de trabalho em carreiras que envolvam tecnologia (gráfico 4). Esse dado nos mostra a procura por esse campo de atuação.
Gráfico 4
Dentro da pesquisa, 53,6% das pessoas entrevistadas declaram terem a necessidade ou interesse de realizarem cursos na área de competências comportamentais para desenvolvimento pessoal e profissional (gráfico 5). Esse dado evidencia a importância de estudarmos técnicas de desenvolvimento de soft skills para carreiras da área de tecnologia.
Gráfico 5
Outros dados importantes a serem citados, foi que 64,2 % dos entrevistados, declararam terem alguma dificuldade, receio ou medo em relação às suas habilidades interpessoais (gráfico 6), nos evidenciando mais uma vez que profissionais inseridos na tecnologia, possuem uma alta demanda de desenvolvimento de soft skills.
Gráfico 6
Ainda com relação à habilidades comportamentais, 74% dos entrevistados afirmam que já passaram por situações no trabalho, onde as soft skills foram responsáveis por contribuir com a resolução de conflitos (gráfico 7). Segundo Ramos (2010), competências comportamentais nos auxiliam na gestão de problemas durante o desempenho das nossas atividades profissionais, e esse dado obtido, nos trouxe essa evidência.
Gráfico 7
5. Conclusões
Com base nos resultados obtidos na pesquisa realizada na Escola do Futuro Sarah Luísa Lemos Kubitschek de Oliveira, é possível concluir que o desenvolvimento de soft skills, ou competências comportamentais, é essencial para o sucesso profissional na área de tecnologia. A predominância de jovens entre 18 e 35 anos e a crescente busca por carreiras tecnológicas sugerem que o campo atrai principalmente o público mais jovem, que ainda está em fase de formação profissional e desenvolvimento de habilidades. Este fato nos leva a crer que escolas que tem por objetivo ensinar inovação e tecnologia, desde o público mais jovem até a idade adulta, tem bastante campo de atuação, podendo trazer muitos avanços para a sociedade.
A pesquisa revela que, apesar do interesse significativo em ingressar e se desenvolver na área tecnológica, muitos entrevistados enfrentam desafios relacionados às suas habilidades interpessoais. Isso reforça a necessidade de promover cursos focados no desenvolvimento de soft skills, uma vez que um número expressivo de participantes expressaram interesse ou necessidade de aprimoramento dessas competências.
Além disso, a pesquisa destaca a relevância das soft skills na prática profissional, com a grande maioria da população amostral afirmando que já utilizaram essas habilidades para resolver conflitos no ambiente de trabalho. Esses dados corroboram a importância de integrar o desenvolvimento de soft skills na formação de profissionais de tecnologia, não apenas para facilitar a inserção no mercado, mas também para promover a eficácia no desempenho de suas funções e a gestão de problemas no ambiente corporativo.
Assim, fica evidente que, para os profissionais da área de tecnologia, o domínio das soft skills é um diferencial competitivo e uma necessidade crescente, exigindo um foco maior das instituições de ensino na integração dessas competências em seus currículos. Promover o desenvolvimento equilibrado entre competências técnicas e comportamentais pode, portanto, preparar melhor os estudantes e profissionais para os desafios do mercado de trabalho atual.
6. Referências
Creswell, J. W. (2013). Qualitative Inquiry and Research Design: Choosing Among Five Approaches.
FLEURY, A. C. C.; FLEURY, M. T. L. Construindo o conceito de competência. São Paulo: Atlas, 2001
FURUKAWA, Patrícia de Oliveira; CUNHA, Isabel Cristina Kowal Olm. Da gestão por competências às competências gerenciais do enfermeiro. Revista brasileira de Enfermagem, v. 63, p. 1061-1066, 2010.
GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 1995.
HARGREAVES, Andy. Changing Teachers, Changing Times: Teachers’ Work and Culture in the Postmodern Age. London: Cassell, 1994.
MILLER, Randall; BRADSHAW, Michael; DUNKEL, Robert. The Importance of Soft Skills in the Modern Workplace. Journal of Workplace Learning, v. 29, n. 6, p. 440-456, 2017.
Moore, J. E. (2000). One road to turnover: An examination of work exhaustion in technology professionals. MIS Quarterly, 24(1), 141-168.
RAMOS, E., & BENTO, S. (2010). As competências: quando e como surgiram. Em M. Ceitil, Gestão e desenvolvimento de competências (pp. 87-118). Lisboa, Portugal: Edições Sílabo.
ROBLES, Marcelita. Executive Perceptions of the Top 10 Soft Skills Needed in Today’s Workplace. Business Communication Quarterly, v. 75, n. 4, p. 453-465, 2012.
SANT’ANNA, A. de S. et al. Competências individuais e modernidade organizacional: um estudo comparativo entre profissionais de organizações mineiras e baianas. In: Gestão e Produção São Carlos, v. 23, n. 2, pp. 308-319, 2016.
Sharma, V. (2018). Soft Skills: An Employability Enabler. IUP Journal of Soft Skills, 12(2),25–32.
SILVA, F. M. da. As práticas de gestão de recursos humanos e o processo de identificação de competências coletivas: um estudo de casos na área de gestão de pessoas do centro administrativo do Sicredi. 194 p. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2013.
Treviso, P., Peres, S. C., da Silva, A. D., & dos Santos, A. A. (2017). Competências do enfermeiro na gestão do cuidado. Revista de administração em saúde, 17(69).
ZARIFIAN, P. O modelo da competência: trajetória histórica e contribuições atuais. Paris: Liaisons, 1999.
1 Escola do Futuro de Goiás Sarah Luísa Lemos Kubitschek de Oliveira – EFG
2 Escola do Futuro de Goiás Sarah Luísa Lemos Kubitschek de Oliveira – EFG
3 Escola do Futuro de Goiás Sarah Luísa Lemos Kubitschek de Oliveira – EFG