MANIFESTAÇÕES BUCAIS DE PACIENTES ACOMETIDOS PELA COVID-19: REVISÃO DESCRITIVA

ORAL MANIFESTATIONS OF PATIENTS AFFECTED BY COVID-19: DESCRIPTIVE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12021890


Juliane Maria dos Santos Bastos 1
Gabryelle Maria da Silva Lira 2
Maria Luiza Rodrigues Alves 3
Maria Eduarda Cavalcanti Macêdo 4
Anna Gabriella Marins Miranda Salgueiro 5
Brendda Juliane dos Santos 6
Gabriela Laiza Candido da Silva 7
Mariana Barbosa da Luz de Santana 8
Michelly da Barra Lima 9
Profª Maria do Socorro Orestes Cardoso 10


Resumo

Objetivo: O presente estudo tratou-se de uma revisão descritiva que teve como intuito investigar as principais manifestações bucais e sua relação direta ou indireta em pacientes acometidos pela COVID-19. Metodologia: Consistiu na busca de livros e artigos sobre o tema, que foram pesquisados no mês de abril de 2020 a dezembro de 2022 através do acesso online a quatro bases de dados: Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE), Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Biblioteca Cochrane, e consulta ao Banco Digital de Teses (BDTD) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), utilizando-se às publicações dos últimos 4 anos, nas línguas: português, inglês e espanhol. Um total de 27 artigos entre os 96 foram selecionados correlacionados às variáveis COVID-19 e manifestações bucais. Conclusão: Os resultados desse estudo demonstraram que existe associação significativa entre pessoas acometidas pelo vírus SARS-CoV-2 e manifestações patológicas na cavidade bucal como: hipogeusia, disgeusia, ageusia, lesões ulcerativas, úlceras aftosas, língua geográfica, candidíase, petéquias, xerostomia, petéquias e paralisia de Bell entre outras. Contudo, não se pode atribuir esses achados diretamente ao vírus ou se fatores ligados ao próprio paciente, tratamentos e medicações induzem as manifestações bucais.

Palavras-chave: COVID-19. SARS-CoV-2. Manifestações bucais.

1 INTRODUÇÃO

A Covid-19 é uma infecção causada pelo Coronavírus que pode provocar a Síndrome Respiratória Aguda Grave (FURTADO, 2021). O vírus é transmitido de pessoa para pessoa, por gotículas de saliva, espirro, tosse, assim como pelo contato da boca, nariz ou olhos, ou até mesmo, por meio de objetos e superfícies contaminadas. Embora um quadro clínico grave seja mais provável em indivíduos com comorbidade, pessoas de todas as idades são susceptíveis à doença. A COVID-19 compromete principalmente o sistema respiratório e pode causar a síndrome respiratória aguda grave, a qual pode levar à morte dos pacientes acometidos. Dentre as manifestações clínicas, citam-se principalmente: dispneia, febre, mialgia e cefaleia (AMANCIO, SOUSA, SILVA et al 2021). 

Os impactos da pandemia da COVID-19, causada pelo SARS-CoV-2 foram e vem sendo sentidos nos últimos dois anos. A doença afetou as mais diversas faixas etárias com mortalidade considerável, várias sequelas nos sobreviventes e graves impactos socioeconômicos na sociedade. Individualmente, o acometimento de vários sistemas e órgãos do organismo humano, foi relatado em pacientes com Covid-19, incluindo o pulmão, trato gastrointestinal, fígado, vasos sanguíneos, sistema nervoso e rins (WHO, 2022; ZHOU; YANG; WANG et al., 2020). Febre, tosse seca, falta de ar, disosmia e disgeusia estão entre os sintomas mais comuns. A doença apresenta sinais e sintomas leves em 80% dos casos, em contrapartida 20% dos pacientes podem desenvolver a forma grave e 5% podem ficar gravemente doentes e desenvolver pneumonia ou síndrome do desconforto respiratório agudo, a qual necessita de ventilação mecânica e internação em unidade de terapia intensiva (CDC 2020). 

Além dos sintomas mais comuns, como tosse seca, pirexia, dispneia, fadiga e mialgia muscular, estudos têm evidenciado algumas manifestações orais em pacientes com COVID19. Ainda não se sabe se essas manifestações são resultantes da infecção viral direta ou mesmo da debilidade sistêmica, uma vez que são susceptíveis a infecções oportunistas e/ou também a reações adversas aos tratamentos medicamentosos (SANTOS-JÚNIOR; SOUZA; SANTOS et al. 2020). 

 A COVID-19 pode ter impactos na condição da saúde oral dos seres humanos, pois manifestações orais podem ficar sintomáticas mesmo o paciente livre do vírus por longo tempo. A cavidade oral é um sítio de manifestação de diferentes condições sistêmicas e a porta de entrada de inúmeras infecções. Na atualidade, pouco se conhece quanto à inter-relação da cavidade oral com o SARS-CoV-2. Devido ao inesperado desafio imposto pelo novo coronavírus, têm-se, em relação à cavidade bucal, inúmeras dúvidas sobre quais sítios expressam receptores ECA2, se existem alterações específicas da cavidade bucal frente ao vírus e se a chamada “tempestade” de citocinas pode modificar o curso de outras doenças da cavidade bucal (BEMQUERER et al., 2021). 

Como a cavidade oral dos pacientes com COVID-19 pode ser afetada, ainda há dúvidas se as manifestações poderiam ser um padrão típico resultante da infecção viral direta. Talvez lesões orais possam ser resultantes de debilidade sistêmica, dada à possibilidade de comprometimento do sistema imunológico e de reações adversas frente ao tratamento médico instituído. Assim, os pacientes podem apresentar infecções fúngicas, infecção recorrente pelo vírus herpes simplex (HSV-1), ulcerações orais inespecíficas, lesões vesícula bolhosas, erupções induzidas por medicamentos, xerostomia ligada à diminuição do fluxo salivar e gengivite descamativa (ORTIZ, 2020).

Diante do exposto, essa pesquisa tratou-se de uma revisão descritiva que teve como pergunta norteadora quais as principais manifestações bucais provocadas pela Covid e quais os impactos a curto e médio prazo na vida de pessoas acometidas pela doença.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

2.1. MANIFESTAÇÕES BUCAIS E O SARS-COV-2 

Existem evidências consistentes na literatura, de que também é possível haver manifestações orais decorrentes diretamente da Covid-19. O SARS-CoV-2 tem sido considerado um possível fator etiológico de algumas lesões bucais. Já se sabe que na saliva é encontrada alta carga do vírus, o que leva à exposição viral frequente nas estruturas da cavidade oral. Algumas células orais expressam o local de ligação do SARS-CoV-2, o chamado receptor de enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2). Estudos mostraram a expressão da proteína Spike de SARS-CoV-2 nos queratinócitos e células endoteliais da mucosa oral, bem como nas células das glândulas salivares, confirmando a presença de componentes virais nas células de mucosa oral. Esta é a evidência que sustenta a hipótese de que o vírus pode entrar em células de mucosa oral (BRANDINI; TAKAMIYA; THAKKAR et al 2021). As alterações gustativas e olfativas podem ser o único sintoma em casos leves de Covid-19 ou o sintoma inicial em pacientes que apresentar insuficiência respiratória mais grave. 

As alterações gustativas relatadas pelos pacientes com Covid-19 são hipogeusia (altera a capacidade de sentir o gosto da comida e outras nuances de sabor), disgeusia (alterações na percepção do paladar) e ageusia (perda completa ou severa da sensação subjetiva do paladar). Elas ocorrem em consequência aos danos diretos ao epitélio nasal e oral e natureza neuro invasiva do vírus SARS-CoV-2. Em 95% dos casos de Covid-19, os distúrbios do paladar são secundários à disfunção olfativa (WHO, 2022). 

Muitas lesões da mucosa oral são relatadas na Covid‐19 confirmados e indivíduos suspeitos, mas, assintomáticos e incluem úlceras, erosões, bolhas, placas, reativação do vírus herpes simples 1 (HSV1) e língua geográfica. As lesões aparecem antes ou junto com manifestações sistêmicas do Covid-19. Ainda não se tem uma relação clara entre a Covid-19 e as lesões da mucosa oral. Acredita-se que elas surgem como resultado da diminuição da imunidade devido a infecção viral, infecção oportunista ou secundária ou o próprio tratamento para Covid‐19. As lesões da mucosa oral tendem a desaparecer entre 6 dias a 2 semanas, ou regredir em tamanho com o tempo (IRANMANESH; KHALILI; AMIRI et al 2021).

Existem várias manifestações orais relacionadas à Covid-19, principalmente nos pacientes graves e em UTI. Os principais agravos bucais que o dentista pode observar em pacientes com Covid-19 são lesão traumática na cavidade oral, distúrbios vasculares/coagulação, infecções oportunistas, alteração do paladar e olfato, alterações salivares e Infecção na mucosa oral. Os quadros orais frequentemente observados são decorrentes dos impactos sistêmicos causados pelonovo coronavírus, pelo tempo prolongado  de intubação, pela frequente necessidade de deixar o paciente na posição de prona e pela medicação utilizada (ZHOU, YANG, WANG et al 2020)

Até o momento, os principais locais de aparecimento de lesões bucais descritos na literatura em paciente com Covid foram: língua, lábio, mucosa e gengiva (WHO. 2022). O comprometimento gustativo junto com as alterações olfativas é listado como um sintoma de Covid-19 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e os profissionais de odontologia podem se deparar com indivíduos com Covid-19 e serem chamados a identificar e tratar várias manifestações orais desta doença (FARID, KHAN, JAMAL et al 2022).

As lesões provenientes da Covid-19 aparecem concomitantes com a perda do olfato e do paladar. A análise dos trabalhos de Farid, Khan; Jamal et al (2022) mostrou a presença de úlceras, erosões, bolhas, vesículas, pústulas, língua fissurada, máculas, pápulas, halitose, candidíase, parotidite, petéquias, gengivite ulcerativa necrosante, xerostomia e hipossalivação. Além disso, disgeusia, ageusia, hipogeusia foram alterações comumente presentes. A localização mais frequente foi na língua, seguida do palato e lábio, gengiva, mucosa jugal e pôr fim a comissura. A cavidade oral provou ser a porta de entrada perfeita para a infecção por SARS-CoV-2. Uma vez instalada a doença, o vírus teria a capacidade de alterar o equilíbrio da microbiota oral e imunossuprimir o paciente, permitindo o possível aparecimento de infecções oportunistas. Isso, aliado à terapia medicamentosa e aos distúrbios das glândulas salivares, contribuiria para o desenvolvimento de manifestações orais e distúrbios sensoriais (FURTADO, 2021; SCHALLER; RAHAT 2021).

Segundo Santos; Normando; Carvalho et al (2020), eles selecionaram estudos observacionais e relatos de caso que analisaram a prevalência de manifestações orais nos pacientes com SARS-CoV-2. Lesões orais esbranquiçadas, úlceras, nódulos, língua geográfica, língua fissurada, saliva viscosa, superfícies eritematosas, gengivite e máculas foram algumas das lesões que apareceram nas pesquisas. Entretanto, desordens no paladar foram os sintomas bucais mais recorrentes entre os pacientes com Covid-19, sendo comumente encontradas nas fases mais brandas e moderadas da doença e em pacientes do sexo feminino, confirmando ser esse um sintoma específico dessa apresentação da referida patologia.

Nemeth, Matus, Carrasco (2020) descreveram que a cavidade oral é um habitat privilegiado para a instalação e permanência do COVID-19. Isso porque, existe uma compatibilidade com as células receptoras da enzima angiotensina convertida (ACE- 2) presente no trato respiratório, mucosa oral, língua e glândulas salivares, podendo assim afetar o funcionamento das glândulas salivares, as sensações de paladar, olfato e integridade da mucosa oral. Liz; Meng (2020) salientaram que a enzima ACE-2 foi identificada com maior vigor nas células epiteliais da língua quando comparada com mucosa oral e gengival.

As manifestações bucais da COVID-19 têm sido relatadas em diversos sítios anatômicos da cavidade bucal e se apresentam de forma bastante heterogênea. A COVID-19 é uma doença que apresenta uma miríade de sinais e sintomas. Na cavidade bucal, o principal sintoma diretamente relacionado ao SARS-CoV-2 é a disgeusia, que aparece desde os primeiros dias de infecção. O desenvolvimento de úlceras e lesões induzidas pelo Candida albicans são alterações relacionadas à COVID-19 moderada a grave (CARVALHO, SILVA, OLIVEIRA et al 2021).

Têm sido relatadas em vários estudos da literatura, as manifestações bucais da doença COVID-19. No estágio pré-sintomático, os sintomas exibidos são: ageusia (perda do paladar), anosmia inespecífica (perda do olfato) e hipossalivação (Vaira et al., 2020). Ademais, os sinais bucais frequentemente relatados incluem lesões ulcerativas, lesões vesicolobolhosas/maculares, gengivite descamativa, petéquias e coinfecções como Candidose.

Palato e língua são os subsítios bucais mais acometidos, seguidos por gengiva e lábios (SANTOS, NORMANDO, CARVALHO et al 2020).

Dominguez‐Santas et al., (2020) relataram em quatro pacientes diagnosticados com a COVID-19 a presença de aftas menores no meio oral foram os sintomas bucais apresentados. As aftas ou úlceras aftosas (Fig. 1 e 2) são muito prevalentes em pacientes com Covid-19 porque o vírus pode atuar como um antígeno endógeno e essas lesões perduram mesmo no indivíduo curado por vários meses, fato esse que afeta a qualidade de vida porque, essas lesões são dolorosas e impede um padrão alimentar eficaz.

Figura 1 ( Aftas ou úlceras aftosas)
FONTE: Ricardo Gomez. patologiabucal.com.br/portfólio-úlcera-aftosa/

Figura 2 ( Aftas ou úlceras aftosas)}
FONTE: delanomaia.com.br/Del/artigo/a-afta/

Foram descritos distúrbios como disgeusia, parotidite, alterações na mucosa oral, úlceras, cândida (Fig. 3), lesões eritematosas, petéquias, bolhas. Também foi descrita a presença de gengivite ulcerativa necrosante, xerostomia, papilas linguais proeminentes e lesões labiais. Entretanto, não se pode concluir que há relação direta entre tais patologias e a Covid19. Todas estavam possivelmente relacionadas à infecção viral ou reinfecção, aos fármacos utilizados no tratamento, à posição durante a intubação e à própria intubação.

Figura 3 ( Candidíase oral)
FONTE: https://ianarapinho.odo.br/candidiase-oral-quais-as-causas-e-cuidados/

2.2 IMPACTO DAS SEQUELAS PELOS PACIENTES  ACOMETIDOS PELA COVID-19.

Para Chaux-Bodard et al. (2020) a COVID-19 pode provocar impactos severos na condição oral dos seres humanos. Os autores, após estudos em pacientes, asseveram que, a úlcera oral irregular é uma possível manifestação inaugural do novo coronavírus. Porém, é necessário pegar uma maior amostra de pacientes para avaliar a significância e comprovar com clareza esta possibilidade. Xu et al. (2020) e Martin Carreras-Presas et al 2020 mostraram que a cavidade oral tem a capacidade de manter a viabilidade viral, visto que as glândulas salivares estão sempre secretando saliva para a boca.

Manifestações orais da Covid-19 foram observadas durante o período agudo da doença, relacionadas à própria infecção ou às medidas terapêuticas adotadas, como alteração de paladar, ulcerações orais inespecíficas, descamação da gengiva, petéquias na mucosa oral e infecções oportunistas, como a candidíase. Hoje em dia, a preocupação dos profissionais de saúde tem se voltado para as consequências dos sintomas pós-Covid-19. Os estudos têm demonstrado uma maior prevalência de determinados sintomas, tais como xerostomia (sensação de boca seca), sialoadenites (inflamação das glândulas salivares), lesões na superfície da língua, dores crônicas e doenças periodontais (Fig. 4) (OLIVETO, 2022).

Figura 4 (Doenças periodontais)
FONTE: https://www.saudebemestar.pt/pt/medicina/dentaria/gengiva-inchada/

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Covid-19 também tem manifestações duradouras na cavidade oral. Sensação de boca seca, inflamação e lesões na língua e na mucosa, entre outros, foram alguns sinais detectados na fase pós-infecção e que podem aumentar a lista das sequelas associadas ao SARS-CoV-2. (GUERRA, 2022).

A xerostomia ou boca seca é uma alteração encontrada rotineiramente na prática clínica odontológica, esta alteração afeta diretamente a qualidade de vida do paciente, manifestando dificuldades na degustação, mastigação, fala, deglutição e causa muito desconforto na cavidade oral. Contudo, após o início da pandemia da COVID-19, foi notada pelos uma grande queixa de pacientes infectados relatando a sensação de boca seca, que perdurou após a infecção. A xerostomia possui alta incidência em pacientes que foram infectados pela COVID-19, o que impacta diretamente na qualidade de vida deles principalmente, por ser um sintoma que perdura em médio prazo (FERREIRA, GOMES, SOUSA et al. 2022).

Em um estudo realizado por Fidan; Koyuncu; Akin, (2021), de setenta e quatro pacientes com COVID-19, com faixa etária de dezenove a setenta e oito anos que se apresentaram em seu consultório, trinta e oito pacientes do sexo masculino apresentaram alguma lesão oral, entretanto apenas onze pacientes do gênero masculino não apresentaram nenhuma lesão se quer. Quanto aos pacientes do gênero feminino, vinte pacientes foram diagnosticadas com alguma lesão, enquanto apenas cinco não apresentaram nada. Dos pacientes diagnosticados com alguma manifestação, as mais comumente encontradas foram: úlcera aftosa (língua, mucosa bucal e gengiva), eritema (língua, mucosa bucal e gengiva), líquen plano (mucosa bucal e gengiva) e petéquias na região do palato (Fig. 5). Diante disso, concluíram que dos setenta e quatro pacientes analisados, cinquenta e oito foram diagnosticados com lesão oral, sendo a úlcera aftosa a lesão de maior prevalência, sendo diagnosticada em vinte e sete pacientes. Assim como a língua, a mucosa bucal e gengiva foram os locais de maior acometimento.

Figura 5 (Petéquias na região do palato)
FONTE:https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/multimedia/image/v26647338_ pt.peteq uias no palato.

Guerra, 2022, conta que esperava relatos de xerostomia (boca seca) e disfunções gustativas, mas se surpreendeu ao encontrar, também, ocorrências de paralisia de Bell — enfraquecimento muscular repentino de um dos lados da face — e de líquen plano oral, uma inflamação no interior da boca que provoca manchas brancas e vermelhas que podem ser dolorosas. No segundo caso, é possível atribuir o sintoma às alterações do sistema imunológico na pós-Covid, quando o organismo continua produzindo células de defesa contra o vírus mesmo quando ele não está mais presente. Isso desencadeia a reação autoimune, caracterizada pelo processo inflamatório (GUERRA, 2022).

Paralisia de Bell (Figura 6) pode ser consequência do tropismo viral, ou seja, a propensão que o patógeno tem de infectar alguns tipos celulares, nesse caso, células do sistema nervoso central. Um dos estudos avaliados pela equipe foi publicado na revista Jama, da Associação Médica Norte-Americana, e encontrou casos do tipo depois da vacinação para Covid-19, mas em um percentual menor, explica a cirurgiã-dentista Juliana Amorim dos Santos, doutoranda da Faculdade de Ciências da Saúde da UnB. “A incidência em pessoas que tiveram a Covid foi seis vezes maior, comparadas às que tomaram a vacina”, assim, é preciso novas pesquisas para verificar se a paralisia de Bell é uma manifestação tardia pela Covid-19 diz Guerra (2022).

Figura 6 (Paralisia de Bell)
Fonte: Cristiano D. Silveira Ramos1; Marcelo Wilson Rocha Almeida2; Leonardo Fernandes de Souza Aguiar2; Marcelo Chemin Cury3

A literatura ainda é inconclusiva sobre a relação direta da COVID-19 com as manifestações orais, visto que ainda não há terapia medicamentosa estabelecida, e desta forma, os pacientes podem apresentar manifestações bucais decorrentes dos efeitos colaterais dos diversos medicamentos relacionados a infecção por SARS-CoV-2, pelo trauma resultante da intubação, dentre outros, e não pela relação direta a COVID-19 com a cavidade oral et al. Assim, faz necessário o entendimento sobre as manifestações orais e a COVID-19, para dar suporte a tomada de decisão e na melhoria da prática clínica dos profissionais de saúde (AVELINO; LIMA, MOURA et al. 2022).

Dos Santos et al. selecionaram estudos observacionais e relatos de caso que analisaram a prevalência de manifestações orais nos pacientes com SARS-CoV- 2. Lesões orais esbranquiçadas, úlceras, nódulos, língua geográfica, língua fissurada, saliva viscosa, superfícies eritematosas, gengivite e máculas foram algumas das lesões que apareceram nas pesquisas. Entretanto, desordens no paladar foram os sintomas bucais mais recorrentes entre os pacientes com Covid-19, sendo comumente encontradas nas fases mais brandas e moderadas da doença

3 PROPOSIÇÃO
3.1 OBJETIVO GERAL

Analisar as principais manifestações na cavidade oral decorrente direta ou indiretamente da Covid-19.

3.2 OBJETIVO ESPECÍFICO

3.2.1. Identificar as principais lesões na cavidade bucal provenientes da Covid-19;

3.2.2. Analisar os impactos nos pacientes dessas lesões bucais a curto e médio prazo.

3.2.3 Verificar se as lesões bucais são provocadas pelo Sars CoV-19 ou por outros fatores.

4 METODOLOGIA 

Para a revisão de literatura foi realizada uma busca nas bases de dados BVS/Portal Bireme (Medline – Literatura Internacional em Ciência da Saúde, LILACS – Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde, Scielo – Scientific Eletronic Libary Online).Foi utilizado um conjunto de descritores preconizado pelo DeCS que, são os Descritores em Ciências da Saúde e seus similares, em inglês e português, no sentido de ser incluído o maior número de pesquisas referentes ao tema do estudo. Os termos de busca foram: pacientes acometidos pela COVID-19 e manifestações bucais; SARS-CoV-2 e manifestações bucais. Por se tratar de um estudo de revisão narrativa da literatura, não houve a necessidade de submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa. Os artigos foram selecionados com base na literatura dos resumos identificados com o tema Covid-19 e manifestações bucais, e como critério de inclusão optou-se por estudos em português e inglês, de coortes transversais, para contemplar o que foi proposto no presente estudo em seus objetivos, o um intervalo de tempo variou de 2019 a 2022. Entre os 96 artigos encontrados sobre o tema, foram selecionados 27. O critério de exclusão foram artigos que não contemplaram os objetivos do trabalho.

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

A COVID-19 é uma doença viral altamente contagiosa, que se alastrou por todos os continentes a partir de 2019, deixando até o momento milhões de contaminados e de óbitos. A doença provoca várias manifestações e também manifestações orais como: sialodenite, ageusia, úlcera aftosa, líquen plano, lesões ulcerativas, lesões vesículo bolhosas, petéquias gengivais e palatinas,lesões vesículo bolhosas/maculares, lesões eritematosas, eritema multiformes, aftas menores, parotidite aguda, além da estomatite aftosa e candidíase (SANTOS; NORMANDO, CARVALHO et al2020; NEMETH, MATUS, CARRASCO 2020; CARVALHO, SILVA; OLIVEIRA et al 2021; GUERRA, 2022).

Entretanto, estudiosos ainda não concluíram se tais manifestações estão diretamente relacionadas ao vírus e/ou se estão ligadas ao uso de medicamentos, necessitando assim de mais estudos a respeito da origem das doenças bucais. (AMANCIO, SOUSA, SILVA et al 2021; ORTIZ, 2021).

Ficou evidenciado em alguns estudo que as manifestações bucais mais prevalentes em pacientes acometidos pelo SARS CoV -2 são a hipogeusia, disgeusia e ageusia (IRANMANESHI; KHALILI; AMIR et al 2021; FURTADO, 2021; SCHALLER; RAHAT, 2022). Contudo, muitas outras doenças na cavidade bucal se instalam, causando impacto a qualidade de vida do paciente infectado (CHAUX-BODARD et al 2020; FIDAN; KOYUNCO, AKIN 2021; GUERRA, 2022).

Em relação às doenças bucais serem provocadas diretamente pelo SARS CoV-2, a literatura consultada nesta revisão sugere que o vírus por si só não causa manifestações na cavidade bucal. Pacientes com coronavírus apresentaram algumas lesões orais, tais como gengivite, disgeusia, petéquias, candidíase oral e ulcerações. Entretanto, não se pode afirmar serem essas lesões são advindas da Covid-19 ou se são reações adversas causadas por fármacos utilizados no tratamento da doença ou se são originadas pela coinfecção e imunidade baixa (ZHOU; YANG; WANG et al 2020; IRAMANESH; KHALILI; AMIRI et al 2021; FARID; KHAN; JAMAL et al 2021). 

Os receptores da enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2), presentes em diversos sítios da cavidade bucal, representam um potencial via de entrada e propagação do SARS-coV2 para o organismo, assim, autores como Carvalho, Silva, Oliveira et al (2021) e Nemeth, Matus e Carrasco 2020, afirmaram em seus estudos que, as manifestações bucais apresentadas em portadores de Covid-19 são ocasionadas pela ação do vírus.

Ficou evidenciado nesta revisão, que não existem evidências consistentes na literatura, de que também é possível haver manifestações orais decorrentes diretamente da Covid-19. O SARS-CoV-2 tem sido considerado um possível fator etiológico de algumas lesões bucais. Já se sabe que na saliva é encontrada alta carga do vírus, o que leva à exposição viral frequente nas estruturas da cavidade oral. Algumas células orais expressam o local de ligação do SARSCoV-2, o chamado receptor de enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2). Estudos mostraram a expressão da proteína Spike de SARS-CoV-2 nos queratinócitos e células endoteliais da mucosa oral, bem como nas células das glândulas salivares, confirmando a presença de componentes virais nas células de mucosa oral. Esta é a evidência que sustenta a hipótese de que o vírus pode entrar em células de mucosa oral (BRANDINI; TAKAMIYA; THAKKAR et al 2021).

Outra manifestação bucal ligada, principalmente, à baixa imunidade e relatada em pacientes com infectados com Covid-19 é a estomatite aftosa recorrente e a literatura consultada nesse estudo aponta os receptores da ECA2 presentes na mucosa oral como principal fator para explicar a ocorrência de manifestações bucais, essas manifestações seriam, portanto, ação indireta do vírus da Covid-19(XU, H., ZHON, L., DENG, J. et al. 2020).

Os resultados do presente estudo demonstraram que foi possível associar o surgimento de manifestações bucais com a Covid-19. Mas, não se tem comprovação se são alterações secundárias ao tratamento ou se estão diretamente relacionadas ao coronavírus. Sendo assim, se tornam necessários mais estudos para concluir se as manifestações orais são secundárias ou se estão diretamente interligadas ao vírus.

6 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a leitura de todos os artigos utilizados nesta revisão, torna-se lícito concluir que:

Pacientes acometidos pelo coronavírus podem apresentar algumas lesões orais tais como gengivite, disgeusia, hipogeusia, ageusia, úlceras aftosas, língua geográfica, petéquias, candidíase oral, ulcerações e paralisia de Bell.

As alterações bucais advindas do Coronavírus interferem a curto e meio prazo na qualidade de vida das pessoas infectadas.

Não se sabe ainda, se essas lesões bucais são advindas da Covid-19 ou se são reações adversas causadas por fármacos utilizados no tratamento da doença ou se são originadas pela coinfecção e/ou imunidade baixa

REFERÊNCIAS

AMANCIO, A.; SOUSA, L.C.; SILVA, G. C.; LIMA, K. Implicações maxilofaciais da Covid19. HOLOS, Ano 37, v 1, 2021. DOI: 10.15628/holos.2021.10926 Disponível em:https://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/HOLOS/article/download/10926/pdf/30911. Acessado em: 07/04/2023.

AVELINO, J.K.; LIMA, C. V.; MOURA, M. L. et al. Manifestações orais e COVID-19: uma revisão de literatura. Research, Society and Development, v. 11, n. 13, e42111334976, 2022 (CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409. DOI: 10.33448/rsd-v11i13.34976. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/download/34976/29456/389485. Acessado em: 07/04/2023.

BEM QUERER, L. M. et al. The oral cavity can not be forgotten in the COVID-19 era: Is there a connection between dermatologic and oral manifestations?. Journal of the American Academy of Dermatology, [s.l.], v.84, n.3, p.e143-e145. Mar. 2021. DOI:  10.1016/j.jaad.2020.11.034. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7691187/. Acessado em: 07/04/2023.

BRANDINI, D. A.; TAKAMIYA, A.S.; THAKKAR, P.; SCHALLER, S.; RAHAT, R. Covid19 and Oral Deseases. Ver. Med. Virol. N 31, v 6, Nov. 2021. DOI: 10.1002/rmv.2226. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33646645/. Acessado em: 07/04/2023. 

CARVALHO, T.; SILVA, D. L.; OLIVEIRA, L. C. et al. O Que a Cavidade Oral pode mostrar em pacientes com Covid-19? Revisão Integrativa de Literatura. Research, Society and Development, v 10, n 4, 2021. DOI: 10.33448/rsd-v10i4.14072. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/download/14072/12547/182241. Acessado em: 07/04/2023.

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1 Discente do Curso Superior de Odontologia da Universidade de Pernambuco Campus Recife e-mail:Juliane.bastos@upe.br

2 Discente do Curso Superior de Odontologia da Universidade Federal de Pernambuco Campus Recife e-mail:gabryellemaria@hotmail.com 

3 Discente do Curso Superior de Odontologia da Universidade Federal de Pernambuco Campus Recife e-mail:luiza.ralves@ufpe.br

4 Discente do Curso Superior de Odontologia da Universidade Federal de Pernambuco Campus Recife e-mail:drameduardamacedo@gmail.com 

5 Discente do Curso Superior de Odontologia da Universidade Federal de Pernambuco Campus Recife e-mail:gabriellamarinns@gmail.com 

6 Discente do Curso Superior de Odontologia da Universidade Federal de Pernambuco Campus Recife e-mail:brenddajuliane@gmail.com 

7 Discente do Curso Superior de Odontologia da Universidade de Pernambuco Campus Recife e-mail:Gabi.laaiza@gmail.com

8 Discente do Curso Superior de Odontologia da Universidade de Pernambuco Campus Recife e-mail:marianabarbosa.odonto@gmail.com

9 Discente do Curso Superior de Odontologia da Universidade Federal de Pernambuco Campus Recife e-mail: michelly.lima@ufpe.br

10 Docente do Curso Superior de Odontologia do Universidade de Pernambuco Campus Recife Mestre em Odontologia (UPE). e-mail: socorroorestes@yahoo.com.br